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Do Justificando
Segundo Bauman (2008, p. 8), medo é o nome que damos a nossa incerteza:
nossa ignorância da ameaça e do que deve ser feito. Vivemos numa era onde o
medo é sentimento conhecido de toda criatura viva.
O medo pode surgir das mais variadas maneiras e nascer de qualquer canto de
onde vivemos, inclusive, em nossos próprios lares. Temos medo de comida
envenenada, de perder o emprego, de utilizar transporte público, de pessoas
desconhecidas que encontramos na rua, de pessoas conhecidas também, de
inundações, de terremotos, de furacões, de deslizamento de terras, da seca.
Temos medo de atrocidades terroristas, de crimes violentos, de agressões
sexuais, de água ou ar poluído, de entrar na própria casa e de sair dela, de
parar no semáforo. Temos medo da velhice e de ficarmos doentes, de sermos
ameaçados, furtados ou roubados. Temos medo da bolsa de valores e da crise
econômica. Temos medo de voar de avião. São tantos os nossos medos que
não caberia aqui relatarmos todos.
Para Bauman (2008, p.18), riscos são perigos calculáveis. Uma vez definidos
dessa maneira, são o que há de mais próximo da certeza. Ou seja, o futuro é
nebuloso e as pessoas não deveriam se preocupar em vencer ou não qualquer
situação de risco porque, talvez, nunca se chegue a enfrentá-la. Mas, deve
prever e tentar evitar oferecendo a si mesmo um grau de confiança e
segurança, ainda que sem garantia de sucesso.
Schecaira (apud BAYER, 2013) entende que a mídia é uma fábrica ideológica
condicionadora, pois não hesitam em alterar a realidade dos fatos criando um
processo permanente de indução criminalizante. Assim, os meios de
comunicação desvirtuam o senso comum através da dominação e manipulação
popular, através de informações que, nem sempre, são totalmente verdadeiras.
Com isso, propagando o medo do criminoso (identificado como pobre), os
meios de comunicação aprofundam as desigualdades e exclusão dessa parcela
da sociedade, aumentando as intolerâncias e os preconceitos. Utiliza-se do
medo como estratégia de controle, criminalização e brutalização dos pobres, de
forma que seja legitimo as demandas de pedidos por segurança, tudo em
virtude do espetáculo penal criado pela imprensa.
Desta forma, mesmo que estejamos mais seguros do que em toda história da
humanidade, mesmo assim, as pessoas continuam a se sentir ameaçadas,
inseguras e apaixonadas por tudo aquilo que se refira à segurança e à
proteção. Isso se dá através do que Silveira (2013) chama de “cultura do
medo”, ou seja, o que tem levado as pessoas a intensificarem suas próprias
medidas visando uma suposta diminuição de vulnerabilidade, como a
construção de muros e barreiras, assim como a se isolarem dentro de suas
próprias casas, evitando sair a eventos e espaços públicos por medo da
violência, o que configura uma mudança radical de comportamento, algo que
beira a paranoia.
Esta forma de isolamento dos conflitos ocasiona uma espécie de divisão social,
onde as pessoas economicamente privilegiadas passam a ocupar bairros
considerados “nobres” e condomínios vigiados continuamente, restando para a
camada mais pobre da população, territórios completamente negligenciados
pelo Estado, locais em que a “elite” busca o distanciamento, diz Silveira (2013).
E complementa ainda Silveira (2013, p. 300) que “O homem enfrenta grandes
dificuldades em conseguir ver o outro como um semelhante e não como um
concorrente a ser eliminado”.
Toda essa realidade que se forma na “cultura do medo” acaba por contribuir
para o reforço dos preconceitos na esteira da ignorância e da insegurança. Com
isso, cria-se a “Sociedade do Medo” aqui abordada que, além de cruel e
preconceituosa, passa a ser ignorante e submissa a tudo que lhe é apresentado
como verdade absoluta.
César Vinícius Kogut e Wânia Rezende Silva expõe que o medo é fenômeno de
paralisação do senso normal da vida, altera relações de formas e espaços, traz
à tona uma imagem duvidosa, reflete insegurança, tristeza e dá noção de
fragilidade. Por isso, uma das missões fundamentais do Estado deveria ser
realizar ações para minimizar problemas e reduzir o medo proporcionando à
população uma melhor qualidade de vida, libertando os indivíduos desse
sentimento para que vivam em segurança.
Saber que este mundo é assustador não significa viver com medo. Nossa vida
está longe de ser livre do medo, assim como, livre de ser livre de perigos e
ameaças, porém, não podemos permitir que o que vimos na TV influencie nossa
vida a ponto de pararmos de viver, a ponto de guardarmos sonhos que
gostaríamos de realizar ou de nos impedir de promover uma mudança. Não
devemos nos preocupar com o que ainda não aconteceu, mas procurar sim
evitar situações que possam nos colocar em risco e, até mesmo, nos proteger
do perigo. Tudo, porém, sem permitir que o medo e a insegurança tome conta
de nosso ser e do que somos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAYER, Diego Augusto. A Mídia, a reprodução do medo e a influência da política criminal. In. Controvérsias
Criminais: Estudos de Direito Penal, Processo Penal e Criminologia. Jaraguá do Sul. Letras e Conceitos. 2013.
BAUMAN, Zygmunt. Medo Líquido. Tradução, Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; Ed. 2008.
BOLDT, Raphael. Criminologia midiática: Do discurso punitivo à corrosão simbólica do Garantismo. Curitiba:
Juruá, 2013.
KOGUT, César Vinícius & SILVA, Wânia Rezende. A Mídia e seus Efeitos sobre o Medo Social. SESP– UEM.
MORAES, Cristiano Luis de Oliveira & SPANIO, Marlene Inês. Punição e mídia: análise de alguns aspectos que
influenciam na violência e na criminalidade.
PELUZO, Vinicius de Toledo Pisa. Sociedade, mass media e Direito Penal: uma reflexão. Revista da Escola
Paulista da Magistratura, 2003.
SILVEIRA, Felipe Lazzari da. A cultura do medo e sua contribuição para a proliferação da criminalidade. 2º
Congresso Internacional de Direito e Contemporaneidade. Santa Maria / RS UFSM – Universidade Federal de
Santa Maria, 2013.
WACQUANT, Loïc. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. Trad. Nilo Batista. Rio de
Janeiro: Revan, 2001.
https://jornalggn.com.br/noticia/a-formacao-de-uma-sociedade-do-medo-atraves-da-
influencia-da-midia
"Como expõe Loïc Wacquant: “tranque-os e jogue fora a chave’ torna-se o leitmotiv
dos políticos de última moda, dos criminólogos da corte e das mídias prontas a
explorar o medo do crime violento (e a maldição do criminoso) a fim de alargar
seus mercados”. Afinal, é esta política que ultimamente tem ganho voto e feito os
políticos se elegerem".
Aqui na minha cidade quem se elege com muita frequência são os próprios
radialistas e tele-locutores que apresentam os programas policiais. Vários deles são
vereadores e deputados estaduais. Um ou outro consegue se eleger deputado
federal. E as promessas de campanha são as mesmas: se eleitos, eles vão lutar
contra a violência, pelo direito do cidadão andar armado ou pelo menos ter uma
arma em casa. Esse tipo de promessa faz o maior sucesso entre os trabalhadores
dos bairros periféricos do município onde moro. O que os apresentadores estão a
nos dizer é que para acabar com a violência é preciso que todos os brasileiros
adquiram o direito de se tornarem violentos.
E ironicamente eu vou mais longe ao perguntar: por que não acabar com as forças
de segurança (a polícia) e entregar a cada "cidadão" uma arma carregada? Quem
for mais ágil que sobreviva!
Péssimo texto
qui, 01/01/2015 - 09:07
Reflete bem o nivel e a qualidade daquelas teses de mestrado e doutorado que são
produzidas em nossas universidades.
- Vivemos uma crise política : e como vivemos ! Ao menos desde que eu nasci eu
escuto que vivemos uma crise política - Há quarenta anos.