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Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Gestão de Águas
princípios e práticas
EDITORES
Nilson Campos
Ticiana Marinho de Carvalho Studart
AUTORES
Fortaleza, 2003
Copyright @ 2003, de .......
Nenhuma parte desse livro poderá ser reproduzida sejam quais forem os
meios empregados sem a permissão, por escrito, da Editora ..... Aos
infratores se aplicam as sanções previstas nos artigos 122 e130 da Lei
5.988 de 14 de dezembro de 1973.
CDU
“Vista de longe a Terra é pura água;
Mas não é água pura.
Essa é rara e cada vez mais cara.”
Ricardo Arnst
Agradecimentos
Os editores do livro agradecem à Financiadora de Estudos e Projetos –
FINEP, pelo patrocínio ao projeto de pesquisa Instrumentos de Gestão
dos Recursos Hídricos(RECOPE/REHIDRO/SUB-REDE 4). Ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –
CNPq, pelo suporte ao projeto de pesquisa Gerenciamento Integrado dos
Aspectos Qualitativos e Quantitativos dos Recursos Hídricos em Regiões
Semi-Áridas.(Processo 521169/97-6).
Ao Professor Alber Uchoa, pela valiosa revisão dos textos. A srta. Marisa
Lopes Freire, pelo seu trabalho de secretariado nos vários projetos de
pesquisa.
Prefácio
Suetônio Mota
2
1.3. RETROSPECTIVA HISTÓRICA NO MANEJO DAS ÁGUAS
3
Para gerenciar o sistema assim formado, os romanos foram
gradativamente formulando modelos de organização e estruturas
administrativas. No ano 97 d.C., Julius Frontinus VI foi nomeado
Comissário de Águas de Roma (Curator Aquarum) pelo Imperador
Augustus Nerva. Frontinus tinha sob sua responsabilidade um complexo
sistema de aquedutos que captava água em fontes afastadas e as conduzia
até reservatórios distribuídos ao longo da cidade.
“Os usos das águas eram divididos nas classes: nomine Caesari, privatis
e usus publici. A classe usus publici era subdividida em castra, opera
publica, munera e lacus. As águas nomine Caesari destinavam-se ao
palácio imperial e aos prédios diretamente sob o controle do Imperador.
As águas privati, eram concedidas aos particulares por ato do Imperador
(beneficio principis) e estavam sujeitas ao pagamento de uma taxa. As
águas usus publici, destinavam-se a prédios públicos, a balneários,
instalações militares e para-militares, fontes ornamentais e reservas de
emergência”.
Segundo Jean Piaget, o cientista que não passa pela filosofia permanece
portador de uma doença incurável. Considera Piaget a filosofia
indispensável a todo homem completo, “por mais cientista que ele seja.”
Nesse espírito, procurou-se desenvolver na presente seção uma rápida
abordagem histórico-filosófica da gestão da água e dos recursos naturais,
confrontando-se os paradigmas de hoje com o pensamento de filósofos
do passado. Assim, são abordados conceitos “modernos” como
desenvolvimento sustentável, visão holística e a cobrança de água bruta.
6
1.4.1. O desenvolvimento sustentável
7
Dentro dos novos paradigmas, a Agenda 21 recomendou para a década
de 90 e anos futuros, o manejo holístico da água doce, tratada como um
recurso finito e vulnerável, e a integração de planos e programas hídricos
setoriais aos planos econômicos e sociais nacionais.
8
ecossistemas e que, satisfeitas essas necessidades, o uso das águas
devem ser pagos com tarifas adequadas.
1.5. RESUMO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
9
GRIGG, NEIL. Water resources management: principles, regulations
and cases. New York: McGraw-Hill,, 1996, 540 p.
MOIGNE, G., SUBRAMANIAN, A., XIE, M., e GILNER, S. A guide
to the formulation of water resources strategy. Washington DC:
World Bank Technical Paper Number 263, 1994, 102 p.
JAPIASSU, Hilton. A revolução científica moderna. De Galileu a
Newton. São Paulo: Letras & Letras, 1997, 284 p.
.
10
2 Política de Águas
Nilson Campos
2.1. VISÃO GERAL DO TEMA
12
5. A unidade de gestão;
6. A gestão descentralizada.
Esses fundamentos ou princípios são apresentados e comentados nos
itens subsequentes.
13
Até a julho de 2000, todas as leis estaduais consideraram a água como
um bem econômico e estabeleceram mecanismos para viabilizar a sua
cobrança.
Pode-se dizer que, quanto a este aspecto, a Lei 9.433 é menos rigorosa
que o Código de Águas, pois este é enfático ao estabelecer a prioridade
em qualquer hipótese enquanto que a Lei 9.433 estabelece a condição
em situação de escassez, deixando margem para que se defina em que
situação fica caracterizada a escassez.
Nas leis estaduais, fica definido o uso prioritário pela Lei Federal.
Porém, a hierarquia para os outros usos pode ser definida nos próprios
14
estados ou, quiçá, nas próprias bacias hidrográficas, pelos Comitês de
Bacias. O estado do Ceará adotou em sua lei a seguinte ordem de
prioridade: 1) abastecimento doméstico; 2) abastecimentos coletivos
especiais, como em hospitais, colégios, etc. 3) abastecimentos coletivos
de cidades, inclusive em indústrias, 4) indústrias e comércios por
captação direta; 5) irrigação e 6) outros usos (Decreto 123.067, art. 15).
15
2.2.5. Fundamento V – Da unidade de gestão das águas
16
quase todos os segmentos da administração pública. O fundamento tem
por base a premissa de que não se deve levar a uma decisão superior o
que pode ser solucionado em uma hierarquia inferior.
19
Instituição integrante do Sistema Nacional de Gerenciamento dos
Recursos Hídricos, com o objetivo de implementar a Política Nacional
de Recursos Hídricos.1
1
Projeto de Lei Complementar n0 3 de 2.000, submetido à sanção Presidencial
em 28/06/2000.
20
quantitativo e qualitativo dos usos das águas e proporcionar o direito ao
acesso às águas (Ribeiro, 2000).
21
Outro modo de definir a vazão máxima outorgável é deixar que a área
técnica decida, após análises hidrológicas, decida se um determinado
pedido de outorga deve ser aceito ou não. Esse é o procedimento adotado
pela Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará.
22
em todos os locais. Alguma reflexão e visão local será sempre necessária
para se decidir o que colocar em Lei.
2.4. AS DIRETRIZES
costeiras.
25
deve ser o mais geral possível, contemplando as características comuns a
todo o País. Pode-se dizer também que essa diretriz está relacionada com
o Fundamento VI da gestão descentralizada.
Os elementos apresentados podem ser úteis para a análise crítica das leis
existentes, bem como, do ponto de vista técnico, para o estabelecimento
de novas leis, normas e regulamentos para a gestão de recursos hídricos.
27
PARA REFLETIR
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
29
O Modelo
3 Institucional
Nilson Campos
Formular um modelo com esses atributos não é algo que possa ser
executado isoladamente por um único profissional. Trata-se, em
essência, de um trabalho de equipe no qual a humildade e a sensibilidade
dos membros que a compõem são fundamentais para o sucesso da tarefa.
32
ETAPA 1 – Caracterização das funções no setor hídrico e
identificação das funções dos outros setores da administração
pública. O que é feito? O que deve ser feito?
33
3.4.1. Caracterização das funções hídricas
3.4.1.1. A gestão
34
Tabela 3.1 – Funções do sistema de gestão de água e demais sistemas,
consideradas no Plano de Recursos Hídricos do Ceará.
FUNÇÕES
Planejamento
GESTÃO Administração
Regulamentação
Nucleação artificial
Represamento
OFERTA Poços
Cisternas
Abastecimento
Irrigação
CONSUNTIVO Abastecimento industrial
U Aqüicultura
Abastecimento urbano
S Geração hidrelétrica
Navegação fluvial
O NÃO CONSUNTIVO Lazer
Pesca e piscicultura
extensiva
Assimilação de esgotos
PRESERVAÇÃO
Ciência e tecnologia
Meio ambiente
COMPLEMENTARES Planejamento global
Incentivos econômicos
Defesa civil
A administração constitui-se das ações que dão suporte técnico ao
planejamento e dos mecanismos de avaliação da efetividade dos planos
anteriores, tendo em mente uma realimentação dos futuros planos. A
administração engloba a coleta e a divulgação de dados hidro-
meteorológicos, as estatísticas do uso da água, o poder de política
administrativa e a programação executiva e econômico-financeira das
obras previstas nos planos.
35
A regulamentação é formada pelas ações desenvolvidas na formação de
um suporte legal para o desempenho da gestão das águas, a partir do
disciplinamento e normatização do funcionamento do Sistema Estadual
de Recursos Hídricos. A regulamentação se consolida através de
sugestões de leis, decretos, portarias, instruções e regulamentos.
3.4.1.2. A oferta
3.4.1.3. O uso
36
Os usos consuntivos envolvem: o abastecimento rural, a irrigação, a
aquicultura, o abastecimento industrial e o abastecimento humano.
Dentre os usos não-consuntivos, estão: a geração hidrelétrica, a
navegação fluvial, o lazer, a pesca e piscicultura extensiva, e a
assimilação de esgotos. Vale ressaltar que a assimilação de esgoto,
embora não implique em consumo real de água, pode tornar as águas
imprestáveis para os usos mais nobres.
3.4.1.4. A preservação
3.4.2. Os sistemas
A prática mostra que dificilmente esses sistemas podem ser puros. Isto é,
muitas vezes uma instituição do sistema de gestão desempenha funções
de outros sistemas, da mesma forma que instituições de outros sistemas
por vezes desempenham funções do sistema de gestão. Na formulação
conceitual, os sistemas devem ser agrupados por suas funções mais
importantes.
38
Órgão Gestor. Entende-se que o sistema de gestão deve ter as seguintes
atribuições:
Promover a articulação institucional e comunitária no âmbito
estadual;
Formular políticas de água, preservação e saneamento;
Promover a articulação com órgãos municipais;
Elaborar planos plurianuais de investimento (serviços,
equipamentos e obras hídricas);
Estabelecer critérios para a outorga de águas públicas estaduais;
Estabelecer normas e critérios para a construção de açudes em
rios de domínio estadual;
Executar as funções de planejamento, administração e
regulamentação;
Gerenciar as reservas hídricas, superficiais e subterrâneas.
39
Projetar e executar obras de transferência de água entre bacias
hidrográficas;
Desempenhar suas atribuições, no que couber, dentro dos
princípios e normas oriundos do Sistema de Gestão.
42
Fiscalização da qualidade das águas em rios, reservatórios e no
subsolo.
45
modelo e seus fundamentos. Se um fundamento, considerado essencial
na esfera técnica, não é aceito na esfera política, deve-se tentar excluir da
Lei todos os artigos justificados por aquele fundamento. Uma boa Lei
resultará sempre como produto de um bom projeto e uma sábia
negociação entre técnicos e políticos.
3.9. CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
47
Planos de Bacias
4 Hidrográficas
Nilson Campos e
Raimundo Oliveira de Sousa
4.1. VISÃO GERAL DO TEMA
O plano deve ter uma boa base técnica. Para que o plano possa definir
programas e projetos tecnicamente apropriados, é necessário que haja
uma boa base de dados e uma avaliação adequada dos planos anteriores.
Propõe-se iniciar o processo com a compilação e ordenação dos dados
existentes, caracterizando convenientemente o sistema físico, os recursos
hídricos e a qualidade ambiental. Um bom plano deve apresentar
considerações sobre a futura operação e um planejamento de um sistema
de gerenciamento e monitoramento de sua execução.
52
4.3. OS PLANOS DE BACIA NO MODELO AMERICANO
Por outro lado, em 1965, o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma
resolução que tratava, especificamente, do estabelecimento de normas
para o gerenciamento dos recursos hídricos naquele país, contidas no
Water Resources Planning Act, confeccionado nesse mesmo ano.965. A
resolução, dividida em três títulos, tinha como principais objetivos:
53
que os estados e o governo federal dividissem responsabilidades, na
busca de meios para a implementação de um plano;
54
Com a extinção do Conselho de Recursos Hídricos, nos anos 80, os
estados passaram a desenvolver suas próprias políticas de água, com a
participação de corporações privadas. Assim, estados como Califórnia,
Colorado, Arizona e Texas desenvolveram seus próprios departamentos
de recursos hídricos, responsáveis pelos planejamentos dos projetos
pertinentes a esta matéria. A título de exemplo, pode-se citar o caso da
Califórnia. Naquele estado, o Plano de Recursos Hídricos é um dos mais
significativos, dentro dos planos não-federais existentes nos Estados
Unidos. Este plano tem como metas a identificação das necessidades de
água; programas para transferência de água, em grande escala;
regionalização; construção de represas; construções de reservatórios;
construções de canais, e outras. Para ilustrar, os grandes mananciais da
Califórnia se encontram no norte do estado, enquanto que as grandes
populações se encontram concentradas no sul do estado. Este fato leva à
necessidade do desenvolvimento de planos de gerenciamento hídrico.
Outro exemplo de plano não federal que tem dado certo é o Projeto Big
Thompson, no estado do Colorado. Este Projeto, formado por um
conjunto de reservatórios e estruturas hidráulicas, transfere água da costa
Oeste para a costa Leste das Montanhas Rochosas, atendendo a uma
enorme parcela populacional, distribuída em 23 cidades. A
administração do Projeto Big Thompson envolve o Bureau of
Reclamation, no nível federal, agências estaduais de água e usuários de
água, além de grupos de interesses, o que mostra a participação de todos
os segmentos da Sociedade no gerenciamento do programa.
Hoje, pode-se dizer que o governo federal participa dos planos estaduais
de forma muito tímida. Sua participação é limitada em função da escala
de valores e comprometimento que cada projeto requer. As agências
nacionais têm como função prestar consultorias e o exercer o controle
direto da legislação nacional, ficando a tomada de decisão, quase
sempre, para os níveis estadual e municipal, através dos comitês locais.
55
4.4. OS PLANOS DE BACIA NO MODELO FRANCÊS
56
4.5. OS PLANOS DE GESTÃO DE ÁGUAS NO BRASIL
Cabe observar que a Lei 9433 define o Plano de Recursos Hídricos como
um dos instrumentos de gestão e estabelece que os planos devem ser
elaborados por bacia hidrográfica, por estado e para o País. O conteúdo
mínimo dos planos é especificado no art. 7o e consta de diagnóstico,
análise de alternativas, balanço, oferta demanda, metas de
57
racionalização, medidas e programas para atendimento às metas,
estabelecimento de prioridades para a cobrança e propostas de criação de
áreas de proteção. Como em muitos estados as leis estaduais foram
sancionadas bem anteriormente à Lei Federal, pode-se esperar que
muitos ajustes devam ser necessários.
Por sua vez, o art. 8o estabelece que os planos devem ser elaborados por
bacia hidrográfica, por estado e para o País.
59
4.6. CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
61
62
Gestão da
5 Demanda
Os incentivos podem ser dos mais variados tipos, desde cobrança pelo
uso da água, taxação da poluição e realocação para usos de maior valor
até campanhas educativas. A este conjunto de medidas, que influenciam
o comportamento do usuário, induzindo-o à redução do volume, dá-se a
denominação de Gestão da Demanda. A gestão da demanda foi relegada
a segundo plano por muitos anos, uma vez que se acreditava que sua
análise consistia, basicamente, em se traçar curvas representando o
consumo ao longo do tempo, como função de algumas variáveis
independentes, tais como o crescimento populacional. Hoje se tem
consciência de que o processo é muito mais complexo, uma vez que
envolve o comportamento humano e suas necessidades, os quais podem
mudar ao longo do tempo e do espaço (Brooks, 1997).
67
5.4. INSTRUMENTOS PARA A GESTÃO DA DEMANDA
São as regras básicas para o suprimento e uso da água, tais como direitos
de uso da água, propriedade de terra, instituições sociais e civis, e
legislações formais e informais. É neste contexto que o usuário é
motivado, ou não, a agir de forma mais racional quanto ao uso da água.
Elas envolvem elementos variados, como mudanças institucionais e
legais, privatização e medidas macroeconômicas.
68
Um exemplo clássico de dependência de trajetória é o do teclado
QWERTY, cujo layout permanece até hoje, embora alternativas mais
eficientes tenham sido desenvolvidas ao longo dos anos. David (1985)
explica que quando os condicionantes que forçaram a configuração deste
teclado deixaram de existir, o sistema já havia se adaptado ao layout
existente e os custos de transação se tornaram tão altos que, mesmo
hoje, com a substituição da máquina de escrever por computadores
potentes, o teclado usado é o mesmo de 100 anos atrás. Desta forma, o
teclado QWERTY se perpetuou e os avanços posteriores tiveram que
levar em consideração o caminho já trilhado.
5.4.1.2. Privatização
5.4.2. Incentivos
71
uso da água ou da propriedade da água. Os incentivos não-econômicos
abrangem restrições e sanções, o estabelecimento de quotas de consumo
e normas de utilização da água, além de campanhas educativas.
72
Entretanto há que existir uma forma de prover água para necessidades
básicas de populações carentes. Obviamente, é pressuposto básico que
haja um sistema eficiente de medição dos volumes de água consumidos.
Tarifa de água
73
Estudos efetuados em países desenvolvidos – Austrália, Canadá,
Inglaterra, Israel e Estados Unidos – mostram que a elasticidade da
demanda no setor de abastecimento doméstico tende a cair à razão de –
0,3 a –0,7, ou seja, a demanda decresce entre 3 e 7 % a um aumento de
10% no preço da tarifa (Winpenny, 1994).
74
No setor de irrigação, a elasticidade da demanda é função da existência
de alternativas quanto ao tipo de cultura e ao método de irrigação.
75
pela OECD (1987). Neste estudo, realizado entre 1980 e 1982, em 3
indústrias no estado de São Paulo, a redução entre 40 e 60% no consumo
de água em apenas 2 anos aparece como um “efeito colateral” positivo
da medida adotada pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de
São Paulo – SABESP. Esta, na realidade, via na cobrança pela poluição
apenas um instrumento para a minimização dos custos de tratamento dos
efluentes industriais e a otimização de suas estações de tratamento de
esgoto. O estudo da OECED relata ainda reduções de consumo da
mesma ordem – 30% – nos seis anos que se seguiram à implantação da
cobrança pela poluição na Holanda, em 1969.
Incentivos fiscais
76
Na China, onde o setor secundário responde por aproximadamente 75%
da demanda urbana, consumindo de 3 a 10 vezes o volume de água
necessário para a produção do bem (comparando com indústrias
similares em países desenvolvidos) uma das medidas adotadas foi a
estipulação de cotas de água por indústria, em função das características
da indústria e do bem produzido. Recentemente foi introduzida uma
recompensa, sob a forma de desconto na conta de água, para aqueles
usuários que consumissem um volume inferior àquele estipulado em sua
cota (Bhatia et. al., 1993).
Realocação de água
78
A literatura aponta basicamente 4 modalidades para a realocação intra e
intersetorial: mercado de água, leilões de água, banco de água e
transferência da outorga pelo direito de seu uso.
80
Alguns bancos de água funcionam em caráter permanente, como o
Idaho Water Bank Supply, enquanto outros são temporários, atuando
apenas em períodos críticos, como os criados na Califórnia durante as
secas de 1976-1977 e 1987-1991.
Segundo Bhatia et. al. (1993), podem-se tirar algumas lições valiosas da
experiência californiana, especialmente no que diz respeito ao banco de
águas como um meio de transferência de água em longo prazo e como
um mecanismo eficiente de realocação de água para usos de maior valor.
Durante a seca de 1991, o preço oferecido aos potenciais vendedores de
água era alto o suficiente para compensar o lucro que teriam ao cultivar
culturas de menor valor como arroz, milho e tomate. Como resultado
desta ação, 80% do total da água vendida foi realocada para o setor
urbano, enquanto que os 20% restantes foram realocados para culturas
permanentes e vinícolas, as quais embutiam um alto capital investido.
81
5.4.2.2. Incentivos não- econômicos
Restrições e sanções
Quotas e Normas
Campanhas educativas
83
Apesar de não se dispor de números que traduzam a eficácia desta
medida no que diz respeito à redução efetiva da demanda de água em
longo prazo, é patente a importância das campanhas educativas na
redução dos impactos negativos de medidas mais duras, como
racionamento e cobrança pelo uso da água.
5.5. RESUMO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
85
Sistemas de
6 Suporte às
Decisões
88
Geralmente, o tomador de decisões, por força de suas atribuições, possui
uma visão abrangente de seu campo de atuação e dos programas de ação,
com os quais almeja a realização de seus objetivos. Para isso se
articulam políticas, programas e projetos, os quais se transformarão em
instrumentais no cumprimento de suas metas. No entanto, ao passar à
fase de implementação, os dirigentes ressentem-se de ferramentas
prospectivas apropriadas, que permitam resolver os problemas práticos
encontrados na implementação de suas metas.
89
6.3. O SSDE COMO PARTE DE UM SISTEMA DE
INFORMAÇÕES DE RECURSOS HÍDRICOS
90
Tomada de
Decisão
Disponibilização da
informação
Geração da Informação
91
Dados resultantes da operação dos hidrossistemas;
Dados oriundos da participação popular e pública na gestão dos
recursos hídricos;
Monitoramento hidroambiental (medida de parâmetros
fluviométricos, estoques de água, pluviométricos, de aqüíferos,
dados sobre qualidade da água superficial e subterrânea e
parâmetros climáticos).
92
Para as decisões táticas: podemos citar, como exemplo, a outorga de
caráter anual, a definição da regra de operação anual dos hidrossistemas.
Por sua vez, as decisões estratégicas podem ser exemplificadas pela
definição da hierarquia de construção de obras hídricas e pelos planos de
recursos hídricos que definem as outorgas de longo prazo.
6.4. OS DECISORES
94
Análise comportamental, votação e outros conceitos adidos às
ciências políticas.
95
sistematizados por equacionamento matemático ou por não possuírem
estrutura conceitual lógica, Porto (1997)2.
2
Porto, R.L. Comunicação pessoal
96
São direcionados a problemas não-estruturados ou parcialmente
estruturados;
Possuem componentes modulares, integrando a interface do
usuário, modelos e banco de dados.
97
Banco de Dados Espaciais e de Atributos: Constituído por espaço
devidamente organizado no computador, no qual estão armazenadas as
informações geográficas descritivas dos elementos da superfície
terrestre, forma e posição, (banco de dados espaciais) e as qualidades ou
atributos relativos a tais elementos, (banco de dados de atributos). O
núcleo central do SGI é a base de dados espaciais e de atributos. A base
de dados espaciais refere-se à localização e posição relativa dos objetos.
Estes, no formato vector, são pontos, linhas e polígonos e no formato
raster são células de uma grade. Os atributos, por sua vez, são as
características não espaciais, associadas aos objetos, como por exemplo:
volume do reservatório, curvas cota/área/volume.
98
Sistema de Processamento de Imagens: Adiciona ao SIG a capacidade
de trabalhar com imagens de satélite, fornecendo os meios necessários ao
tratamento e à análise deste tipo de informação;
6.5.5. Modelos
101
processador, que produz interface amigável (exemplo interfaces
Windows dos modelos HEC2, QUAL2E).
102
Fontane (1997) desenvolveu modelagem do planejamento da operação
de reservatórios, utilizando lógica Fuzzy na definição da função objetivo.
Esta linha de pesquisa é compartilhada por Russell et al (1996), e Huang
(1996).
Em rios:
103
simulando processos de eutrofização, DBO e OD, bem como o
lançamento de uma substância tóxica no corpo d’água.
Em reservatórios:
104
O CE-QUAL-R1 (USACE, 1986) é um modelo unidimensional, sendo a
direção considerada a vertical, para simulação transiente em
reservatórios. Os parâmetros de qualidade da água são temperatura e
salinidade, considerando a possibilidade de estratificação, condições
aeróbias e anaeróbias, alcalinidade-pH-CO2, estado trófico, coliforme e
carga orgânica, entre outros parâmetros.
Hidrodinâmicos:
105
Falconer (1980 e 1991), Yu & Righetto (1998) e Jin et al (1993), Souza
Filho (1995), Souza Filho e Araújo (1998) para citar apenas alguns,
apresentaram modelagem hidrodinâmica que possibilitam análise de
problemas de qualidade da água localizados de forma multidimensional.
6.7. RESUMO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
110
A Cobrança pelo
7 Uso da Água
Nilson Campos e
Ticiana M. Carvalho Studart
7.1. VISÃO GERAL DO TEMA
O dia, a água, o sol, a lua, a noite - são coisas que eu não tenho que
comprar com dinheiro. Assim escreveu Titus Muccius Plautus,
dramaturgo romano, há muitos séculos passados. A analogia de Plautus
entre os cinco entes provavelmente baseava-se no caráter cíclico de
eventos que aconteciam independentemente das vontades das pessoas.
Esses cinco entes são conseqüências dos ciclos de rotação dos astros -
Sol, Terra e Lua. Contudo, a água tem particularidades não evidentes
naquela época e, por isso, não percebidas por Plautus: a limitação
quantitativa e a vulnerabilidade à poluição.
Até cerca de 440 anos após a fundação de Roma, a demanda por água era
satisfeita através da adução do rio Tiber, de poços e fontes. Com o
crescimento da cidade eterna, os romanos desenvolveram o primeiro
sistema de distribuição de água da História, ainda no início da era Cristã.
A água passa, assim, a vir ao encontro da população – e não mais o
inverso – através de longos aquedutos como Appio, Anio Vetus, Acqua
Marcia, Tepula, Virgo e Alsietina. Na Roma Antiga a administração das
112
águas era competência da Comissão de Águas (Statio Aquarum),
liderada pelo Comissário de Águas (Curator Aquarum) - cargo vitalício,
nomeado pelo Imperador, com aprovação do Senado - auxiliado por dois
Pretorianos.
Tentando organizar sua gestão, Frontinus escreve dois livros, nos quais
registra fatos e descreve o sistema de distribuição de Roma àquela época.
Seus livros constituem a principal fonte de informação da gestão das
águas no passado.
114
7.2.3. Razões para a cobrança da água
Por outro lado, a cobrança da água bruta na China antiga certamente não
tinha os mesmos objetivos que se pretende hoje. A palavra taxa poderia
ter um significado diferente. O certo é que havia situações onde a água
era cobrada. Na Roma Antiga, por sua vez, a cobrança das águas aos que
tinham o privilégio de recebê-las em casa, muito se assemelha aos
sistemas atuais de abastecimento de água.
115
7.3. A ATITUDE PERANTE A ÁGUA PÓS IDADE MÉDIA
116
7.5. A COBRANÇA PELA ÁGUA BRUTA NO BRASIL
117
Cada um desses “Brasis” apresenta uma cultura e uma maneira própria
de tratar o problema da água. Pensar em cobrar água bruta, hoje, na
Amazônia seria um absurdo equivalente a cobrar areia no deserto de
Saara. Portanto, no que se refere à cobrança de água bruta, o Brasil 1 se
insere em um futuro muito distante. No Brasil 2, ao contrário, a cobrança
por água bruta já está em processo de ampla discussão e, em muitos
estados, inserida nas leis estaduais. No Estado do Ceará, no Brasil 3, o
processo de cobrança já está em vigor.
119
Uso dos recursos hídricos para a satisfação das necessidades de
pequenos núcleos populacionais distribuídos no meio rural;
As derivações, captações e lançamentos considerados
insignificantes;
As acumulações de volumes de água consideradas
insignificantes.
Não fica claro, todavia, se nessas situações a retirada fica, ou não, sujeita
a pagamento. Não há ênfase, também, ao papel social da água.
120
7.6.1.1. A cobrança da água para irrigação no início do século
Essa política foi praticada durante muito tempo. Todavia com os tempos
de alta inflação os valores cobrados tornaram-se irrisórios e a máquina
burocrática não conseguiam reajustar com a devida velocidade.
121
Todavia, a CHESF continuou usando a geração de energia nas turbinas
do açude Araras nos horários de pico. Dessa forma, pode-se dizer que
mesmo na antiga política de águas do estado já havia cobrança de água
bruta no estado do Ceará para geração de energia elétrica, setor este que,
muitas vezes, usa o argumento de não consumir água para não pagar pelo
uso da mesma.
122
que a CAGECE pagaria um centavo de real por metro cúbico de água
captada nos reservatórios.
O acesso dos produtos ao mercado é outro fator que pode tornar sem
efeito o estímulo ao cultivo de culturas de maior valor, através da
cobrança. Os obstáculos à venda do produto são fatores decisivos na
escolha do tipo de plantação, sendo assim, as lavouras de subsistência
são, na maioria das vezes, a opção mais segura, já que podem ser
consumidas pela família caso não sejam comercializadas.
3
Os nomes dos personagens são fictícios. O fato é real
124
Sociedade e muitas vezes o assunto – em suas diferentes facetas – era
analisado e debatido na imprensa do Estado.
7.7. RESUMO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
126
Gestão
8 Ambiental
Suetônio Mota e
Marisete Dantas de Aquino
8.1. VISÃO GERAL DO TEMA
128
regional, que possam orientar os planos diretores municipais, sobretudo
no que concerne ao crescimento urbano, localização industrial, proteção
dos mananciais, exploração mineral, irrigação e saneamento, de acordo
com as necessidades de recuperação, proteção e conservação dos
recursos hídricos das bacias hidrográficas correspondentes.
129
Aprovar a proposta de programas anuais e plurianuais de
aplicação de recursos financeiros;
Promover entendimentos, cooperação e eventual conciliação
entre usuários dos recursos hídricos;
Proceder a estudos, divulgar e debater, na região, programas
prioritários de serviços e obras, a serem realizadas no interesse
da coletividade, definindo objetivos, metas, benefícios, custos e
riscos sociais, ambientais e financeiros;
Fornecer subsídios para elaboração do relatório anual sobre a
situação dos recursos hídricos na bacia hidrográfica;
Elaborar calendários anuais de demanda e enviar ao órgão
gestor;
Executar as ações de controle no âmbito de bacias hidrográficas;
Solicitar apoio do órgão gestor, quando necessário.
131
A avaliação de impactos ambientais;
O licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou
potencialmente poluidoras.
132
diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações
preventivas permanentes. Este mecanismo permite fazer a ligação entre a
gestão da qualidade e a gestão de quantidade da água. Em outras
palavras, fortalece a relação entre a gestão dos recursos hídricos e a
gestão do meio ambiente.
133
O Plano de Conservação Ambiental deve ser desenvolvido a partir do
diagnóstico ambiental da área da bacia, observando as etapas indicadas
na Figura 8.1.
134
DIAGNÓSTICO AMBIENTAL
Meio Físico
Meio Biótico
Meio Antrópico
IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS FRÁGEIS E DE ÁREAS CRÍTICAS
DISCIPLINAMENTO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
Zoneamento Ambiental
Proteção de Áreas Frágeis
Unidades de Conservação
Manejo do Solo, Água e Vegetação
RECUPERAÇÃO E CONTROLE DE ÁREAS CRÍTICAS
AÇÕES LEGAIS E INSTITUCIONAIS
Enquadramento dos recursos hídricos
Legislação ambiental e de uso do solo
Sistema de Informações / Monitoramento
Gerenciamento participativo / Comitês
Educação ambiental
AVALIAÇÃO PERMANENTE
Figura 8.1 - Etapas de um plano de conservação ambiental de uma bacia
hidrográfica
136
Este disciplinamento deve ser feito considerando os condicionantes
naturais do meio físico, tais como: cobertura vegetal, topografia, tipos de
solos, características geológicas e geomorfológicas; sistema de drenagem
natural das águas, incluindo reservatórios e cursos d'água, recarga de
aquíferos subterrâneos.
8.7.1. Macrozoneamento
São exemplos de zonas que podem ser definidas para uma bacia
hidrográfica:
Urbana e de expansão urbana
Agrícola
Agrícola e de pecuária
Pecuária e de reflorestamento
Reflorestamento e preservação
De preservação permanente
137
Unidades de conservação
Áreas de ocupação restrita, tais como terrenos adjacentes à mata
ciliar, de encostas, de recarga de aquíferos.
Áreas industriais
Áreas institucionais.
138
medidas especiais de controle do uso/ocupação do solo (Governo do
Estado do Ceará, 1999):
Nascentes de rios
Áreas marginais aos recursos hídricos, incluindo a mata ciliar
Áreas com relevo acidentado
Áreas com solo ou cobertura vegetal que recomendem práticas
de conservação
Unidades de Conservação
Áreas de recarga de aquíferos
Zona costeira
Áreas de caatinga
139
Nas encostas ou parte destas, com declividade superior a 45º,
equivalente a 100 % na linha de maior declive;
Em altitude superior a 1.800 metros, qualquer que seja a
vegetação;
Nas restingas, em faixa mínima de 300 metros, a contar da linha
de preamar máxima;
Nos manguezais, em toda a sua extensão;
Nas dunas, como vegetação fixadora.
140
8.7.3. Áreas marginais aos recursos hídricos
A Figura 8.2 mostra um esquema de como deve ser o uso do solo nas
margens de recursos hídricos.
141
100 metros, para cursos d’água que tenham de 50 a 200 metros
de largura;
200 metros, para cursos d’água que tenham de 200 a 600 metros
de largura;
500 metros, para cursos d’água que tenham largura superior a
600 metros.
142
pesticidas e fertilizantes deve ser proibido ou ter controle rigoroso dos
órgãos competentes; atividades geradoras de grandes volumes de esgoto
só poderão instalar-se nessas áreas se contarem com adequados sistemas
de tratamento, a critério do órgão competente.
Área de Inundação
Planície de Inundação
143
Sítios Ecológicos de Relevância Cultural, criadas por atos do poder
público:
Estações Ecológicas;
Reservas Ecológicas;
Áreas de Proteção Ambiental, especialmente zonas de vida
silvestre e os Corredores Ecológicos;
Parques Nacionais, Estaduais e Municipais;
Reservas Biológicas;
Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais;
Monumentos Naturais;
Jardins Botânicos;
Jardins Zoológicos;
Hortos Florestais.
144
Controle da poluição resultante de resíduos líquidos de cidades e
indústrias, através da execução de sistemas coletores e estações
de tratamento de esgotos.
Recuperação dos depósitos inadequados de resíduos sólidos,
implantação de aterros sanitários e de outras formas corretas de
destinação final do lixo.
Manejo correto do solo e da água e controle do uso de
fertilizantes e pesticidas, nas áreas de irrigação, com incentivo à
utilização de adubos orgânicos e tomada de medidas ecológicas
de controle de pragas e doenças.
Recuperação das áreas de mineração, adoção de medidas
visando a minimizar impactos ambientais decorrentes dessa
atividade.
Programas específicos para recuperação e controle de outras
áreas degradadas, em função das características das atividades
causadoras.
145
A partir do enquadramento, são adotadas medidas visando a garantir que
os corpos d'água alcancem os requisitos das classes definidas para eles.
146
permitindo a interveniência de representantes dos diversos segmentos da
sociedade.
147
A educação ambiental é um processo participativo, através do qual o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, adquirem
conhecimentos, tomam atitudes, exercem competência e habilidades
voltadas para a conquista e manutenção do meio ambiente
ecologicamente equilibrado (Ministério da Educação e Desporto, 1997).
RESUMO DO CAPÍTULO
148
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
149
9 Análise de Risco
Vicente Vieira
9.1. VISÃO GERAL DO TEMA
152
Reconheça-se, portanto, que uma gestão hídrica bem conduzida é
questão de absoluta prioridade para o País, cabendo aos governos
federal, estadual e municipal, em articulação com a iniciativa privada e
organizações não governamentais, unirem esforços nesse sentido.
154
Na área de recursos hídricos, a fortiori, a aleatoriedade dos eventos
hidrológicos, a adoção de modelos imprecisos, as hipóteses
simplificadoras, a relatividade dos princípios adotados e, ainda, a forte
interconexão com componentes ambientais e socioeconômicos
extremamente variados, fazem com que a gestão hídrica, em todas as
suas funções, atividades e instrumentos, conviva com uma vasta gama de
incertezas, tanto endógenas quanto exógenas aos sistemas hídricos de
que se ocupa.
156
9.8. A PRÁTICA DA ANÁLISE DE RISCO
157
Risco de transbordamento de um vertedouro de barragem. Foi
determinada a função-desempenho do vertedouro, bem como as
distribuições das variáveis básicas e, com a utilização do método
AFOSM, a probabilidade de as vazões excederem à capacidade do
vertedouro, o que se constitui, então, no risco físico de transbordamento
(Vieira, 1992).
158
9.9. O CASO DA GESTÃO DE BACIA
9.10. RESUMO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
161
Tabela 9.1. Atribuições e riscos de uma agência de bacia prevista na Lei 9.433/97
ATRIBUIÇÕES INCERTEZAS RISCOS MEDIDAS
Balanço atualizado das disponibilidades de Dados e modelos hidrológicos/ Conceito Superestimação das disponibilidades/ Aprimorar base de dados e modelos/ Quantificar o
recursos hídricos de disponibilidade Déficit de suprimento risco de demanda insatisfeita
Cadastro de usuários de recursos hídricos Qualificação dos usuários/ Subestimação dos usuários e das Melhorar o sistema de cadastro/ Quantificar o
Quantificação dos usuários demandas / Déficit na arrecadação risco de deficit financeiro
Cobrança pelo uso dos recursos hídricos Sistema de cobrança/ Capacitação dos Receita insuficiente/ Corrupção Treinamento adequado/ Controle rígido/
agentes/ Eficiência dos fiscais Quantificação do risco financeiro
Análise de projetos e obras financiados com Quant. De custos e benefícios/ Estimativa Custos subestimados/ Benefícios Melhorar sistema de apropriação de custos e de
recursos gerados pela cobrança da eficiência econômica e financeira superestimados / Ineficiência econ. e estimativa de benefícios/ Quantificar riscos
financeira econômicos e financeiros
Acompanhamento da administração Controle contábil / Qualificação dos Desorganização contábil/ Corrupção Aprimorar a organização contábil/ Aumentar o
financeira dos recursos arrecadados com agentes administrativos Déficit financeiro nível de controle/ Quantificar o risco financeiro
cobrança
Gerenciamento do Sistema de Informações Coleta, processamento e transmissão de Falta de comunicação/ Informações Aperfeiçoamento do sistema de informações/
sobre recursos hídricos em sua área de dados/ Níveis de informação necessários errôneas Treinamento de pessoal/ Quant. o risco de falhas e
atuação erros de informação
Celebração de convênios e contratação de Ident. Das cláusulas essenciais / Inadimplência/ Perdas financeiras Melhorar o setor jurídico/ Quantificar os riscos
financiamentos e serviços Cumprimento dos termos contratuais/ Base financeiros
legal
Elaboração de proposta orçamentária Previsão de custos / Previsão de receitas Custos subestimados / Receitas Aprimorar sistema de orçamentação/ Quantificar o
superestimadas/ Déficit orçamentário risco de déficit orçamentário
Promoção dos estudos necessários para a Identif. Dos estudos necessários/ Qualidade Estudos incorretos/ Decisões Melhorar as metodologias de estudo/ Qualificar os
gestão dos estudos realizados inadequadas vários tipos de risco
Elaboração do Plano de Recursos Hídricos Definições de objetivos/ Estratégias e Objetivos conflitantes/ Estratégias Melhorar o setor de planejamento/ Qualificar
da Bacia instrumentos/ Metas e produtos inexequíveis/ Metas e produtos possíveis riscos/ Quant. riscos de não cumprir os
superestimados objetivos
Proposta de: a)enquadramento dos corpos Levantamento e análises nos corpos de Enquadramento Inadequado/ Falta de Melhorar análises/ Avaliar o poder aquisitivo dos
de água; b)valores a serem cobrados; água/ Enquadramento conforme os usos capacidade de pagamento dos usuários/ Adotar sistema de rateio simples
c)planos de aplicação de recursos/ d)rateio previstos/ Estimativa dos valores a serem usuários Qualificar, e se possível quantificar os riscos de
de custos das obras de uso múltiplo cobrados/ Rateio de custos justo e Rateio de custos inaceitável mau enquadramento, de inadimplência e de
negociável rompimento de parcerias
Tabela 9.2. Fases e riscos no processo de cobrança
FASES INCERTEZAS RISCOS MEDIDAS
Enquadramento do corpo de água Adequação do enquadramento Enquadramento incorreto Melhoria do processo de enquadramento
Avaliação da disponibilidade local Quant.e qualidade disponíveis Erros na avaliação qualitativa e quantitativa Aperf. do método de avaliação/ Quant. do erro
Identificação do grau de regulariz. de Vazão regularizada Falta de água Quantificação do risco de falha no suprimento
obras hidráulicas
Determinação da vazão captada Valor da vazão captada Vazão subestimada/ Déficit de receita Quantificação do déficit provável
Det. do regime de variação Coeficiente de variação Erro no valor do coeficiente Quantificação do erro provável
Estimativa do consumo efetivo Água consumida Consumo subestimado Quantificação do déficit provável
Identificação da finalidade Uso da água Uso inadequado Quantif. do risco de poluição e de perda financeira
Determinação da carga poluente lançada Quantificação e qualificação das Quantificação subestimada e qualificação Melhoria dos métodos de análise/ Quantificação
cargas poluidoras inadequada dos erros e de perdas financeiras
Identificação da natureza da atividade Fontes poluidoras e forma de Subestimação da capacidade poluiodora Melhoria dos levantamentos/ Quantificação de
poluidora poluição erros prováveis
Escolha da metodologia de cálculo Adequação à realidade local Impraticabilidade da metodologia Qualificação dos riscos ou Subst. de método
Cálculo do valor a cobrar Estimativa de receita Perdas financeiras Quantificação do risco de déficit
Negociação do valor a cobrar Êxito da negociação Inaceitabilidade ou impasses Qualificação dos riscos
Registro do débito Contabilidade Falha contábil Melhoria do sistema
Execução da cobrança Capacidade de pagamento Falta de pagamento Quantificar o risco financeiro
Recebimento do valor cobrado Eficiência do sistema de Falta de controle Quantificar o risco financeiro
cobrança
Registro da quitação Contabilidade Falha contábil Melhoria do sistema
164
Gestão da
10 Qualidade
José Carlos de Araújo e
Sandra Tédde Santaella
10.1. VISÃO GERAL DO TEMA
Embora nosso planeta seja praticamente coberto por água e, por isso,
muitas vezes chamado de Planeta Água, só uma parcela diminuta se
encontra disponível para suprir nossas necessidades. Segundo dados
apresentados por Mota (1997), a quantidade de água na Terra chega à
ordem de 1.370.000.000 Km3 , sendo que somente 8.200.000 Km3
apresentam-se na forma de água doce e, destes, apenas 98.400 Km3
apresentam-se como rios e lagos e 4.050.800 Km3 como água
subterrânea acessível, pois a outra metade da água subterrânea encontra-
se confinada a profundidades superiores a 800m, ainda inatingíveis.
166
O consumo médio de água, para uma cidade industrializada, é de
aproximadamente 300L/pessoa.dia; se considerarmos que a população
mundial no século XXI atingirá valores aproximados de 7.000.000.000
hab, o consumo diário de água seria equivalente a 1/4 do total disponível
e esgotaria em 4 dias, caso não houvesse renovação através do ciclo da
água que, principalmente por influência de fatores físicos retorna à terra
toda água que dela foi extraída. Sendo assim, a quantidade de água
disponível é muito superior à quantidade consumida, porém, dois fatores
são preocupantes: o primeiro é a distribuição não eqüitativa da água na
Terra, havendo regiões com grande escassez e outras com excesso de
água e, o segundo é que, mesmo nas regiões em que há fartura de água,
sua qualidade está sendo deteriorada em função da grande demanda que
não permite que a própria natureza se incumba de purificar a água, para
que a tenhamos com qualidade adequada às nossas necessidades.
169
10.4. POLUIÇÃO
Compostos biodegradáveis;
Compostos recalcitrantes;
Metais pesados;
Compostos radioativos.
171
As substâncias radioativas têm propriedades degenerativas e
cancerígenas, apresentando-se também como muito nocivas aos seres
vivos.
Eutrofização;
Salinização;
Acidificação;
172
Transmissão de compostos nocivos através da cadeia trófica,
atingindo o homem;
Proliferação de doenças.
10.5. EUTROFIZAÇÃO
10.6. SEDIMENTOS
177
onde “Cpc” representa a contribuição difusa per capita de sedimentos;
“Pop” a população de contribuição; “Qi” a vazão afluente ao reservatório
e “Csed” a concentração de sedimentos correspondente. Para o
reservatório em estudo (Santo Anastácio), verifica-se alta correlação
entre o aporte de sedimentos e o intenso processo de eutrofização.
C
D 2 C U C (10.5)
t
179
( C( t ); U( t ) ) são a soma de seus valores médios temporais ( C; U ), com
suas respectivas flutuações ( c' ( t ); u ' ( t ) ), de modo que, em
C(t ) C c' (t ) ; U(t ) U u' (t ) , seja o coeficiente de difusão
turbulenta. Então,
C
t
U C D 2 C ( u c) ( D ) C (10.7)
180
métodos como os da viscosidade turbulenta de Boussinesq ou o modelo
k-, por exemplo.
Nos rios, estas equações devem ser utilizadas, podendo ser simplificadas
à medida em que as dimensões secundárias possuam baixos gradientes.
Nos estuários, há que se considerar as diferenças de massa específica
causadas pela presença de sal em teores diferenciados, no tempo e no
espaço. Assim, o sistema anteriormente mencionado apresenta mais uma
incógnita, a massa específica = (x, y, z, t), necessitando de mais uma
equação para que possa apresentar solução única.
181
afastar muito da realidade, fazendo-se necessário modelar e/ou monitorar
valores de concentração do poluente na entrada do reservatório.
Suponha que um corpo hídrico (um rio, por exemplo) com saturação
total de oxigênio dissolvido (OD) receba poluentes orgânicos ou
inorgânicos que demandem oxigênio, causando sua depleção. Caso não
houvesse reaeração do rio, o teor de OD decairia exponencialmente.
Acontece que, devido à sua capacidade autodepuradora, o corpo d’água
recupera o oxigênio a partir da troca com a atmosfera (tão mais intensa
quanto maior for a turbulência do escoamento) e do processo
fotossintético. A evolução do teor de OD, com o tempo, considerando-se
um despejo pontual no curso d’água, pode ser caracterizada pela equação
de Streeter-Phelps (Equação 10.11) e pela Figura 10.1, onde se vê o
impacto inicial do lançamento do poluente e a posterior recuperação do
curso d’água.
182
10,00
8,00
OD (mg/L)
6,00
4,00
2,00
0,00
0 2 4 6 8 10
tempo (dias)
kd DBO 0 kd t
e e krt D0 e krt
(10.11)
D(t )
kr kd
183
O cálculo estimado do coeficiente de desoxigenação a 20 oC (dia-1),
segundo Bosko, (1966, apud Davis e Cornwell, 1991), pode ser feito
com base na Equação 10.12.
k d (20 0 C) k DBO U x (10.12)
H
em que “ kDBO” é a taxa de decaimento da DBO, obtida em laboratório, a
20oC; “Ux” a velocidade principal média do curso d’água; “” o
coeficiente de atividades do leito, que varia de 0,1 para águas estagnadas
e até em 0,6 para águas velozes; e “H” a profundidade média do curso
d’água. Para estimar o valor do coeficiente a outras temperaturas, Davis
e Cornwell sugerem a seguinte regra de correção (Equação 10.13), para
temperaturas entre 20oC e 30oC.
3,9 U x
0, 5
k r (20 C)
0
(10.14)
H 1,5
Caso se deseje fazer a correção de temperatura, pode-se, por analogia,
utilizar a Equação 10.13. Observe, na Figura 10.1, o ponto crítico na
curva de depleção de OD, ou seja, aquele em que o OD é mínimo.
Derivando-se a Equação 10.11 e igualando-a a zero, pode-se calcular o
tempo crítico (tc) para o qual o efeito de um lançamento é mais intenso.
1 k k kd
tc ln r 1 D0 r (10.15)
kr kd k d k d DBO 0
Araújo, Oliveira e Mota (1998) aplicaram a metodologia acima
apresentada para trecho de 15 km de um rio poluído (Cocó, Ceará). Os
184
resultados, de acordo com as equações 10.11 a 10.14, distanciaram-se
dos dados medidos em 10%, enquanto que a aplicação da Equação 10.11
com a calibração dos parâmetros kd e kr distanciou-se dos dados medidos
em 8,5%. Isso indica uma boa capacidade, da formulação apresentada, de
prever os parâmetros da equação de Streeter-Phelps, mesmo
considerando sua aplicação a um curso d’água em condições tropicais.
A poluição das águas pode ser evitada, controlada ou até mesmo extinta,
se diversas medidas forem adotadas com compromisso e seriedade, tanto
pelos órgãos governamentais, quanto pelas empresas privadas e pela
população. Destacam-se a seguir, algumas destas medidas, de caráter
preventivo e corretivo, que podem atenuar ou solucionar definitivamente
a poluição da água. Deve-se lembrar, entretanto que, geralmente, as
medidas preventivas são mais simples e menos onerosas que as
corretivas e que, nenhuma dessas medidas tem efeito isoladamente ou se
adotadas momentaneamente. é necessário que um conjunto muito
abrangente de medidas seja adotado, por um longo tempo, muitas vezes
por décadas ou séculos.
10.9.1. Preventivas
185
Preservação, proteção e monitoramento dos mananciais;
Planejamento territorial;
Sistemas adequados de coleta de águas resíduárias;
Pré-tratamento e tratamento de águas residuárias industriais e
domésticas;
Reutilização e reciclagem de águas residuárias tratadas;
Disposição e tratamento adequados de resíduos sólidos;
Controle da poluição atmosférica;
Controle da poluição do solo;
Educação ambiental;
Aplicação da legislação pertinente.
10.9.2. Corretivas
186
10.10. RESUMO
PARA REFLETIR:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
187
BRANCO, S.M. e ROCHA, A .A. Elementos de ciências do ambiente.
CESTESB, São Paulo, 2ª Edição, 206 p, 1982.
CARVALHO, N. Hidrossedimentologia prática. CPRM, Rio de Janeiro,
1995.
CHAPRA, S.C. Surface water-quality modeling. McGraw-Hill Int.
Editions, Civil Eng. Series, New York, 844p, 1997.
DATSENKO, I.S. Estudo da qualidade da água dos reservatórios do
estado do Ceará. Relatório Técnico, CNPq/UFC, Fortaleza, 2000.
DAVIS, M.L. e CORNWELL, D. A. Introduction to environmental
engineering. McGraw-Hill, Chemical Eng. Series, 2nd. Edition,
822 p, 1991.
EIGER, S. Qualidade da água em rios e estuários. In: Hidrologia
Ambiental. ABRH, EDUSP, São Paulo, 1991.
ESTEVES, F. A . Fundamentos de limnologia. 2a. Ed., Interciência, Rio
de Janeiro, 602p, 1998.
FERNANDES, L. Avaliação do processo hidrosedimentológico na bacia
do açude Acarape do Meio, Ceará. Dissertação de mestrado.
Departamento de Eng. Hidráulica e Ambiental, UFC, Fortaleza,
2000.
MOTA, S. Introdução à engenharia ambiental. 1ª Ed. ABES, 280p,
1997.
PRINGLE, L. Ecologia e ciência da sobrevivência. Biblioteca do
Exército Editora, Rio de Janeiro, 1977.
SEWELL, G.H. Administração e controle da qualidade ambiental. EPU-
EDUSP- CETESB, São Paulo, 295p, 1978.
VOLLENWEIDER, R.A. Input-output models with special reference to
phosphorus loading concept in limnology. Schweiz. Z. Hydrol.
(37), p.53-84, 1975.
188
Mercado
11 de Águas
Nilson Campos e
Larry Simpson
11.1. VISÃO GERAL DO TEMA
Simpson (op.cit.) não coloca o atendimento rigoroso e total dos seis pré-
requisitos como condição indispensável ao estabelecimento do Mercado.
Todavia, argumenta que o atendimento mais completo aos pré-requisitos
implica em um melhor funcionamento dos mecanismos do mercado.
191
comprometidos. Dificilmente teríamos um clima social que entendesse e
aceitasse a transformação da água em um bem de mercado.
A própria cobrança de uma taxa pelo uso das águas brutas, bem
entendida por técnicos da área de recursos hídricos, enfrenta e deve
continuar enfrentando sérias dificuldades, no que tange à aceitação pela
Sociedade e pela Lei. Vários exemplos destas dificuldades foram
observados no estado do Ceará, nos últimos anos. Uma análise da
evolução do processo de gestão de água no Ceará leva à conclusão do
comprometimento dos pré-requisitos.
A água que deixa de ser ofertada ao Usuário Vendedor pode ser entregue
ao usuário comprador, através da infra-estrutura hidráulica existente.
Nestas circunstâncias, o produto, a água, tem suficiente mobilidade para
ser transferida do local de excesso (onde deixou de ser necessária por
venda do direito de uso) para o local de escassez. Fica atendido, deste
modo, o pré-requisito 4.
197
11.5.1. Aspectos hidrológicos da Região
198
Figura 11.1 - Representação esquemática da vazão passando através de
uma parede com tubos para medidas das vazões liberadas em telhas ( 1
telha = 64,8 m3/hora). Fonte: (Kemper et.al., 1999 )
199
Em cem anos, o processo evoluiu pacificamente, sem grandes conflitos,
permanecendo assim ainda hoje.
200
11.6. RESUMO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
201
KEMPER, K., GONÇALVES, J.Y.B. e BEZERRA, F.W.B. Water
allocation and trading in the Cariri region – Ceará, Brazil. World
bank technical paper n. 427. Washington D.C., 1999.
LANNA, A.E.L. Cobrança e mercados de água como instrumentos de
gerenciamento dos recursos hídricos no semi-árido do nordeste
brasileiro. In: II Simpósio de recursos hídricos do Nordeste.
Fortaleza, Ceará, 1994.
SIMPSON, L. Factors pre-requisite to market-based transfers of water.
Trabalho não publicado. Banco Mundial, 1993.
202
Águas
12 Subterrâneas
203
VA (12.2)
VT
r n
Sy
p
204
e pode ser interpretado como o conteúdo volumétrico de água de um
aqüífero efetivamente disponível para o uso.
205
Superfície do terreno
h
Q
p1/
p2/
h1 .1
.2 h2
x
Q
z1
z2
Referencial
207
Ao definirmos q = Q/A como a vazão específica ou velocidade de Darcy
e considerarmos x infinitesimal, nós podemos chegar à lei de Darcy em
uma dimensão (Equação 12.7).
dh (12.7)
q K
dx
É importante observar que a velocidade de Darcy não é igual à
velocidade real da água no aqüífero e que esta é sempre superior à
velocidade de Darcy. O coeficiente de permeabilidade é a característica
hidrogeológica mais importante e, é necessária a sua determinação com
uma precisão compatível com a precisão do modelo de simulação de
exploração do aqüífero. Existem vários métodos para determinação do
coeficiente de permeabilidade. Os testes de bombeamento estão entre os
mais precisos, porque eles são feitos no campo (sem extração de
amostras) e os valores de permeabilidade fornecidos por eles são válidos
para uma vasta área em torno dos poços. Entretanto, tais testes são
também os mais demorados, complexos e caros. Entre outros testes de
campo, bastante eficientes, estão os chamados testes de recuperação,
“Slug Tests”, os quais são bem mais rápidos, simples e baratos que os
testes de bombeamento. Entretanto, abrangem uma área bem menor em
torno do poço de teste e sua principal desvantagem em relação aos testes
de bombeamento é que só podem ser feitos em poços cujo nível d’água
se encontre razoavelmente próximo à superfície do terreno (máximo de
cinco metros). Finalmente, o coeficiente de permeabilidade pode ser
determinado em laboratório, através de aparelhos chamados
permeâmetros, os quais podem ser de dois tipos: de carga constante e de
carga variável. Contudo, existem três grandes desvantagens no uso dos
permeâmetros em relação aos dois tipos de testes anteriores: a primeira é
que eles requerem amostras retiradas do aqüífero, o que pode implicar
numa excessiva deformação dessas amostras, como resultado do
manuseio. Em segundo lugar, o fato dessa amostra ter sido retirada de
um ponto arbitrário do aqüífero, a uma profundidade arbitrária, pode
208
levar a resultados enganosos, visto que este ponto e esta profundidade
podem não representar a média das características do aqüífero.
Finalmente, o fato dos permeâmetros imporem uma direção arbitrária ao
fluxo pode também levar a erros, pois se o aqüífero for fortemente
anisotrópico, esta pode não ser a direção natural do fluxo (geralmente
horizontal). A norma que trata da determinação da permeabilidade,
usando permeâmetros, é a NBR13292 da ABNT.
q x K xx 0 0 h / x
0 h / y
(12.9)
q y 0 K yy
q 0 K zz
z 0 h / z
ou, como é mais encontrada na literatura:
q x K x 0 0 h / x
0 h / y
(12.10)
q y 0 Ky
q 0 K z
z 0 h / z
209
As direções x, y e z, que tornam a matriz de permeabilidade diagonal,
são chamadas de direções principais e, nessas direções e somente nelas,
Kij atinge seus valores máximos e mínimos.
2 h 2 h 2 h h (12.11)
Kx K K F( x , y, z) SS
x y z t
2 y 2 z 2
2 h 2 h 2 h S h (12.12)
F( x , y, z) S
x 2
y 2
z 2
K t
2 h 2 h 2 h (12.13)
F( x , y, z) 0
x 2 y2 z2
a qual é conhecida como equação de Laplace, quando F (x,y,z) = 0.
Piezômetro
A
Piezômetro
Poço A
RIO
y
de Bombeamento
x
z
Piezômetro
Poço de
corte A-A
Bombeamento
F(x,y)
h(x,y,t)
z
(x,y)
Referencial
x
213
Devido à complexidade da geometria e da heterogeneidade das
características hidrogeológicas dos aqüíferos reais, o passo seguinte para
a simulação computacional da exploração seria a discretização da
geometria ou domínio em subdomínios mais simples, nos quais a
equação diferencial do fluxo pode ser solucionada de maneira
aproximada. O passo final seria a junção das soluções dos subdomínios,
para a obtenção da solução global para o aqüífero. Estes passos são a
base dos diversos métodos computacionais, disponíveis para a obtenção
da solução das equações de fluxo.
Elemento
Nós
RIO
y
x
z
214
12.5. RESUMO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
215
O Direito e a
13 Gestão de Águas
216
acalentavam, de forma piedosa e impressionante, o ‘leitmotiv’
dos nossos romancistas. ”
217
A visão atual considera a água como um bem integrante do patrimônio
ambiental e por isso um bem de uso comum de todos. É o que consagra a
regra do artigo 225 da Constituição Federal, que também reparte, nos
artigos 20 e 26, o domínio entre a União e os Estados. O novo regime
jurídico, instituído com a Constituição e pela Lei nº 9.433, de 8 de
janeiro de 1997, impõe o domínio público sobre as águas, e, portanto,
extingue a apropriação privada exclusiva, ficando revogadas as
disposições sobre águas particulares (Machado, 1998: p.354).
218
A Carta de 1934, no título sobre a ordem econômica, já enfocava a água
como elemento importante no processo econômico, sobretudo como
fonte de energia elétrica, e disciplinava a distinção entre a propriedade
do solo e a das riquezas do subsolo (art. 118). O aproveitamento
industrial das águas e da energia hidráulica dependida de autorização ou
concessão federal (art. 119).
220
contudo, as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em
depósito, que sejam decorrentes de obras da União.
222
sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir
critérios de outorga de direitos de uso (art. 21, XIX)".
4
No sentido da competência dos estados para legislar sobre os seus bens, vale
conferir o trabalho de Macedo (1993).
223
"a água é um bem de domínio público; a água é um recurso
natural limitado, dotado de valor econômico; em situações
de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o
consumo humano e a dessedentação de animais; a gestão
de recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso
múltiplo das águas".
224
A água passa a ser considerada um bem limitado e de valor econômico,
sendo cobrados seus usos sujeitos a outorga (art. 20). Porém como
adverte Machado (1998, p.354) a gestão das águas, como bem de uso
comum do povo, pelo Poder Público, não o transforma em comerciante
desse bem. Como já dissemos, as águas não são bens dominicais que se
caracterizam pela alienabilidade. A propósito, a regra do art. 18 da Lei nº
9.433/97 estabelece que a outorga não implica a alienação parcial das
águas que são inalienáveis, mas o simples direito de seu uso.
226
efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido e a coisa julgada".
228
constitucionais supervenientes deriva da supremacia, formal e material,
de que se revestem os preceitos de uma Constituição.”5
5
Decisões referidas por Barroso (1999, p.64).
229
Descabe alegar a existência de direito adquirido ou de ato jurídico
perfeito contra as transformações no regime dominial e de
gerenciamento dos recursos hídricos, surgidas com a Constituição
Federal de 1988 e disciplinadas na Lei nº 9.433/97.
230
A competência legislativa sobre a proteção ao patrimônio histórico,
cultural, artístico, turístico e paisagístico, bem como sobre a defesa do
solo e dos recursos naturais é concorrente à União, aos Estados e Distrito
Federal, nos termos do art. 24, VII, da Constituição Federal. À União
cabe estabelecer normas gerais, que não excluem a competência
suplementar dos Estados (§§ 2º e 3º). O Município pode também
suplementar a legislação federal e a estadual, com força no art. 30, II, da
Constituição da República.
6
Neste sentido o acórdão do STF, no RE 90581/RJ, Rel. Min. Décio Miranda,
DJ 24.08.1979.
7
Sobre o tema conferir acórdãos do STJ: RESP 30519/RJ, Rel. Min. Torreão
Brás, DJ 20/06/1994; RESP 25371/RJ, Rel. Min. Demócrito Reinaldo, DJ
24.05.1993.
232
impondo-se ao Município e à comunidade o dever de
preservá-lo e defendê-lo.
.........................................
Cabe indagar, neste passo, se, mesmo pertencendo as águas das fontes da
Chapada do Araripe ao Estado, poderia o Município efetuar o
tombamento. Ainda que seja positiva a resposta, a verdade é que,
considerando-se a natureza do tombamento, que apenas impõe restrição
ao exercício normal dos poderes inerentes à propriedade, a utilização do
233
instrumento não seria o caminho mais adequado á proteção, diante de
outros instrumentos jurídicos criados para a proteção e gestão dos
recursos hídricos. A preservação do meio ambiente e de dos recursos
hídricos deve ser implementada pela criação de unidades de conservação,
no termos da legislação ambiental, e pelo gerenciamento de que trata a
nova Lei n° 9.433/97.8
8
Neste sentido o pensamento de Meirelles (1989, p.484), a respeito da
utilização do tombamento para preservação de florestas.
9
O STF ( RE 172.816, Rel. o Min. Paulo Brossard, DJ 13.05.94, RDA
195/197), considerou ilegítima a desapropriação promovida pelo Estado do Rio
de Janeiro sobre bens da Cia. Docas do Rio de Janeiro, sociedade de economia
mista federal que executa serviço reservado à União. O fundamento é a
gradação de poder entre os sujeitos ativos da desapropriação, vale dizer a
estruturação hierárquica do Estado Federal.
234
propriedade do solo com a propriedade das águas que já integram o
domínio público por força da Constituição Federal.
13. 8. CONCLUSÕES
A Lei nº 9.433/97, art. 1º, impõe o uso prioritário dos recursos hídricos
para consumo humano e dessedentação de animais, em situações de
escassez, autorizando inclusive a suspensão da outorga (art. 15, V). No
consumo humano somente se compreende as necessidades primárias de
cada pessoa, não incluindo o uso para o lazer, como piscinas, tampouco
para a jardinagem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
236
DANTAS, Ivo. Direito adquirido, emendas constitucionais e controle da
constitucionalidade. Revista de Direito Administrativa, p. 109-
134, out/dez, 1996.
MACEDO, Dimas. Os recursos hídricos e a Constituição. Revista da
Procuradoria Geral do Estado. Fortaleza, n.12, 1993. p.191-198.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 7. ed.,
Rio de Janeiro, Malheiros. 1998. 894p.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 14ª ed.:
Editora Revista dos Tribunais, 1989. 701p.
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de Direito
Administrativo, 9ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 1990.
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Poder concedente para
abastecimento de água. Revista de Direito Administrativo. n. 213,
p.23-33, jul/set. 1998.
POMPEU, Cid Tomanik. Aspectos jurídicos da cobrança pela utilização
dos recursos hídricos. Revista de Direito Administrativo, n. 196,
p. 56-84, abr/jun, 1994.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 12ª
ed. São Paulo, Malheiros, 1996. 818p.
SILVA, José Afonso da. Reforma constitucional e direito adquirido.
Revista de Direito Administrativo, n. 213, p.121-131, jul./set.
1998.
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. São Paulo:
Malheiros, 1999.
237
Conflitos em
14 Gestão de Águas
Nilson Campos
Nos anos atuais, quando as águas passaram a ser tratadas com maior
abrangência, no âmbito da gestão de recursos hídricos, ou na gestão de
bacias hidrográficas, o tema conflito também ganhou maior abrangência.
Os estudos dos conflitos em gestão de águas, ou de bacias hidrográficas,
passaram a ser analisados em suas consequências sobre a sociedade e
sobre os indivíduos, em vez de restringir-se às consequências nas
disponibilidades hídricas.
238
No presente capítulo, a questão dos conflitos é apresentada em sua visão
mais abrangente e multidisciplinar. Inicialmente, apresentam-se
conceitos e definições relacionados ao tema. Em seguida, apresenta-se
uma análise de diversas causas que dão origem a conflitos. Apresentam-
se também exemplos de conflitos internacionais, nacionais e locais
registrados na História.
14.2.1.Necessidades
14.2.2 Percepções
14.2.3 Poder
240
quais os governantes de um país valorizam mais a hegemonia do que a
harmonia, há tendência de aumentar os conflitos reais ou potenciais.
14.2.4 Valores
241
14.3 ESTRATÉGIAS PARA NEGOCIAÇÃO DE CONFLITOS
242
Tabela 14.1 Análise de conflitos em bacias hidrográficas (CTIC
2003)
14.3.3 A pré-negociação
14.3.4 A negociação
246
alternativas não devem ser imediatamente julgadas. As opções sugeridas
devem ser listadas para discussão em um outro momento.
1) A obra hídrica usada como arma: são conflitos que, por razões
diferentes do domínio das águas, evoluíram para confronto armado e
uma das partes ou ambas, destroem, ou danificam, obras hídricas com
objetivos militares.
249
1200 pessoas, e arrombou todas as barragens de jusante em um trecho de
50 km.
250
acordo de uma comissão Brasil — Paraguai para o desenvolvimento da
região.
252
Grant arrombaram os diques para provocar cheias direcionadas aos
exércitos confederados que se encontravam na área.
14.6 CONLUSOES
254
Em conclusão, o estudo dos conflitos das águas em seus aspectos
multidisciplinares, além do lado didático, pode ser visto como a busca de
compreensão histórica do fenômeno. Assim de tudo, essa abordagem
pode permitir aos cidadãos ver a águas e a gestão de bacias hidrográficas
como um processo de aprendizado da cooperação entre pessoas. Enfim,
como repartir um bem escasso sem recorrer a meios belicosos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
255