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UnB- Universidade de Brasília

DEX – Decanato de Extensão

Pensamento Negro Contemporâneo

Professora: Ana Luísa Flauzina

Aluna: Laiana Rodrigues de Oliveira Lima

Matrícula: 12.0124173

Olhos azuis: Estética e miscigenação

A obra “O olho mais azul”, de Toni Morrison se ambienta nos Estados Unidos, mais
precisamente, no estado de Ohio; em meados da década de 30. Época essa em que ainda
vigoravam as Leis de Jim Crow que solidificaram o processo de segregação racial no país: as
escolas eram separadas entre negros e brancos, assim como os sistemas de saúde e lazer. Tais
serviços, em adição, eram inferiores para a clientela negra, não sendo capazes de respeitar a
hipócrita filosofia do “separados mais iguais” instituída pelo governo Norte Americano.

Apesar desse conjunto de normas existirem em todo território estadunidense, no Norte


do país as condições eram melhores para a população negra, tendo em vista protagonização da
região na corrida abolicionista. Quanto mais ao norte do país, mais as oportunidades cresciam,
desta forma, a partir de 1910, iniciou-se o grande movimento de migração Sul-Norte,
persistindo até meados de 1940. Em 19201 os negros compunham cerca de 3% da população de
Ohio, e na década seguinte esse número foi para 5%. Tal estado foi um território no qual muitas
negras e negros depositaram seus sonhos de um futuro melhor. No livro, essa situação pode ser
percebida a partir da história do jovem casal Pauline e Cholly, que deixaram o sul para que
Cholly trabalhasse nas indústrias de siderurgia. O decorrer da história, entretanto, mostra que
nada foi tão bom quanto se almejou: o racismo ainda era latente no local, o preconceito em

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[S.A] African Americans. Disponível em: <http://www.ohiohistorycentral.org/w/African_Americans>
relação a origem existia e os padrões de beleza eram diferentes e mais opressores. Inclusive,
este último ponto se mostrou muito importante para a construção da trama.

A autora Toni Morrison traz como centro de sua narrativa a história a jovem Pecola
Breedlove (filha mais nova de Pauline e Cholly) transitando virtuosamente pelos detalhes da
vida das pessoas que a cercam. Apesar de contar com algumas figuras masculinas
emblemáticas, tais quais Cholly, Soaphead Church e Henry; a narrativa foca nos dilemas
vividos por mulheres negra: Pecola, Cláudia (por vezes narradora), Frieda e Pauline tem suas
vidas e pensamentos expostos, diante de um cotidiano de opressões. Essas personagens são
singulares e bastante distintas, mas possuem como ponto comum: uma notável baixa auto-
estima - cada uma em sua particularidade, entretanto.

A estética é o tema estruturante para a trama. Tanto que a família Breedlove era vista
como a mais feia da cidade, situação essa que originou diversas questões problemáticas. “A
gente olhava para eles e ficava se perguntando por que eram tão feios; olhava com atenção e
não conseguia encontrar a fonte. Depois percebia que ela vinha da convicção, da convicção
deles” (2003,p.43)2.

A supracitada família tem suas raízes no Sul do país, Pauline é de Kentucky e Cholly é
da Georgia, migrando para Ohio na tentativa de melhorar suas condições de vida. O interessante
é que antes de alcançarem o Norte, estética não era um problema relatado na trama. A única
insegurança da matriarca era em relação ao seu pé torto, em decorrência de uma fratura mal
cuidada. E quanto ao homem, critérios de beleza não pareceram ser uma questão preponderante
até a fase adulta. Contudo, em Ohio, a feiura lhes fora imposta, absorvida e naturalizada. Eles
acreditavam nesse título e carregavam-no para a vida.

Os critérios de feio e bonito estavam intensamente ligados aos padrões brancos


hegemônicos e à efervescente cultura do capitalismo. Nesse novo ambiente urbano, as
personagens sulistas tiveram de lidar com mais brancos do que estavam acostumadas, assim
como afirma Pauline:

Mudou tudo. Era difícil conhecer gente ali e eu sentia saudade do meu
pessoal. Eu não tava acostumada com tanto branco. Os que eu tinha visto antes eram
horrível, mas eles não chegava muito perto. Quero dizer, a gente não lidava muito
com eles. Só de vez em quando, no campo ou no armazém. Mas no norte eles estava
em todo lugar, na casa do lado, lá embaixo, pelas rua, e tinha uns mulato no deles. Os
mulato do norte também era diferente. Metido a besta. Não eram melhor do que os

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MORRISON, TONI. O olho mais azul. Tradução: Manoel Paulo Ferreira. São Paulo: Companhia das letrinhas,
2003.
branco em maldade. Faziam a gente sentir que não valia nada, igualzinho, só que eu
não esperava isso deles. (2003,pp.119)3

Inclusive, a construção da identidade feminina estaria vinculada aos parâmetros de


beleza da classe média branca: usar salto alto, se maquiar, vestir determinadas roupas e alisar o
cabelo era sinais de asseio e de prestígio social.

Pauline, mesmo tendo tentado, não conseguiu atender a esses critérios estéticos.
Perdendo, gradativamente o gosto por si. Essa autodepreciação relatada no romance, está
relacionada à pigmentocracia de acordo com José Jorge de Carvalho (pp.5)4:

Quanto mais se intensificou o colonialismo europeu nos demais continentes


do mundo, mais intenso foi ficando o racismo dos brancos contra os não-brancos. O
imaginário racista que nos interpela terminou por estabilizar uma hierarquia dos seres
humanos que colocou no topo da pirâmide os homens brancos, de pele clara, olhos
preferencialmente claros e cabelos preferencialmente loiros. Em cada região do
mundo dominada pelos europeus (e, no século XX, também pelos Estados Unidos) foi
gerada uma pigmentocracia entre os não-brancos: quanto mais claros (ou menos
escuros) de pele, menos discriminados; e, quanto mais escuros, mais facilmente
situados na parte inferior da hierarquia dos seres humanos e, portanto, mais
discriminados, excluídos e passíveis de serem eliminados da face da terra.

Por falir no processo de embraquecimento, Pauline sofreu com ausência de identidade


feminina, fator esse que a desagregou dos meios de socialização entre mulheres negras, o único
local em que ela poderia se sentir acolhida, e em que talvez tivesse uma chance de vivenciar
momentoss de sororidade. À Pauline só restou solidão e desilusão, tanto que adquiriu apego ao
seu trabalho a partir da transferência de expectativas frustradas que tinha em relação a seu lar.
Passou a sentir asco de sua casa e filhos; ao passo que começou amar a casa dos outros e a seus
filhos brancos.

Pecola, por outro lado, conseguiu, através da vivência com Cláudia e Frieda, viver uma
experiência de irmandade, mesmo que por tempo limitado. Contudo, isso não se mostrou
suficiente para que essa atingisse a felicidade. Pecola a “preta retinta”, menina cuja mãe
negligenciava, pai abusava e a sociedade maltratava não tinha a menor segurança de si: foi
ensinada a ser subserviente a temer o mundo, posto que o sofrimento parecia ser a sina de sua
família.

3
MORRISON, TONI. O olho mais azul. Tradução: Manoel Paulo Ferreira. São Paulo: Companhia das letrinhas,
2003.
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CARVALHO, José Jorge. Racismo fenotípico e estéticas da segunda pele. Disponívem em: <
http://www.revistacinetica.com.br/cep/jose_jorge.pdf>
O patriarcado, assim como o racismo, foi responsável pela realidade vivida pela menina
de 12 anos. Mas a garota associava suas desventuras ao fato de ser preta, estampando a feiura
por onde quer que fosse:

Tinha ocorrido a Pecola, havia algum tempo, que, se os seus olhos, aqueles
olhos que retinham as imagens e conheciam as cenas, fossem diferentes, ou seja,
bonitos, ela seria diferente. Tinha bons dentes, e o nariz, pelo menos, não era grande
e chato como o de algumas garotas que eram consideradas tão bonitinhas. Se tivesse
outra aparência, se fosse bonita, talvez Cholly fosse diferente e a srta. Breedlove
também. Talvez eles dissessem: “Ora vejam que olhos bonitos os de Pecola. Não
devemos fazer coisas ruins na frente desses olhos bonitos. (2003, pp.50)5

A todo momento do livro, Pecola deseja ter olhos azuis, para que enfim sua realidade
mude. Para atingir tal intento, talvez fosse mais “lógico” que ela pedisse para ser igual a Shirley
Temple, a quem tanto admirava, para assim gozar dos privilégios inerentes raça da pequena
atriz. Contudo, pode-se inferir que, talvez, em seu desejo houvesse algo mais complexo: ser
negra dos olhos azuis representaria o alcance do status social que tem os miscigenados dentro
das comunidades negras. Pecola queria sentir o mesmo apresso e o respeito que era reservado
a Maureen, sua colega mulata, sem se desvincular necessariamente de seu cosmos negro.

Maureen é descrita como a menina mais bonita de toda a escola, e uma das mais
abastadas também. Com sua pele “mulata claríssima” e cabelos longos, ela conquistou a todos,
desde meninos – que não lhe agrediam- até professoras, que não hesitavam em estimulá-la como
aluna. Na visão da narradora Cláudia, até os defeitos dela, como o dente encavalado, eram
charmosos; entretanto esses defeitos faziam-na se sentir melhor em relação a tanta perfeição.
O sentimento que Pecola, Frieda e Cláudia tinham em relação a Maureen era um misto de
apreciação e inveja. As meninas não queriam ser, de fato, sua amiga, sobretudo por quererem
ser iguais a ela e não poderem alcançar esse sonho.

A regra do “one-drop” foi, e ainda é em grande parte, determinante para a formação dos
conceitos de raça nos E.U.A. Resumidamente, essa regra dita que toda e qualquer gota de
sangue negro é suficiente para qualificar uma pessoa como negra.

Ainda que esse ditame tenha sido incorporado às políticas segregacionistas de Estado,
com a leitura do livro “O olho mais azul”, pode-se constatar que o quantitativo de branquitude
no sangue (em especial quando sua manifestação é física) é algo determinante aos níveis de
aceitação social dentro e fora de comunidades negras. De acordo coma narrativa, mulheres

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MORRISON, TONI. O olho mais azul. Tradução: Manoel Paulo Ferreira. São Paulo: Companhia das letrinhas,
2003.
mulatas, tinham uma maior possibilidade de ascender do que mulheres pretas, mas obviamente
que dentro das possibilidades dos negos na sociedade racista da década de 1930. De acordo
com o livro, as mulheres pardas tinham uma gama de privilégios:

Estudam em faculdades subvencionadas pelo governo federal, cursam a escola normal


e aprendem a fazer o trabalho do branco com refinamento: economia doméstica para
preparar a comida dele; pedagogia para ensinar crianças negras a obedecer; música
para aliviar o cansaço do patrão e entreter-lhe a alguma embotada. (2003, pp.86)6

Além disso viviam em bairros melhores e mais tranquilos e ainda tinham condições
melhores de alimentação e higiene.

Os olhos azuis, na visão de Pecola, seriam a porta de entrada para essa distinta realidade
vivida pelas miscigenadas. Sua vida melhoraria, sem que fosse necessário de dissociar da
vivência familiar tampouco de sua experiência escolar. Desta forma, os olhos azuis seriam a
chave da libertação, atravéS da aprovação social almejada pela jovem.

Bibliografia e Referências bibliográficas

[S.A] African Americans. Disponível em:


<http://www.ohiohistorycentral.org/w/African_Americans>

MORRISON, TONI. O olho mais azul. Tradução: Manoel Paulo Ferreira. São Paulo:
Companhia das letrinhas, 2003.

CARVALHO, José Jorge. Racismo fenotípico e estéticas da segunda pele. Disponívem em: <
http://www.revistacinetica.com.br/cep/jose_jorge.pdf>

PILGRIM, David. What was Jim Crow¿ Ferris State University: 2000 Disponível em <
http://www.ferris.edu/Jimcrow/what.htm>

DAVIS, F. James Disponível em: < http://www.pbs.org/wgbh/ pages/frontline/shows/

jefferson/mixed/onedrop.html>

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MORRISON, TONI. O olho mais azul. Tradução: Manoel Paulo Ferreira. São Paulo: Companhia das letrinhas,
2003.

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