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PRESENÇA DE CIANOBACTÉRIAS EM FONTES DE ÁGUA PARA

ABASTECIMENTO PÚBLICO

Carlos André Silva da Cruz


Técnico em Controle Ambiental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do
Norte (IFRN). Engenheiro Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Mestrando
no Programa de Pós-Graduação em Uso Sustentável de Recursos Naturais do IFRN. Técnico de Engenharia em
Controle Ambiental na Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande d Norte (CAERN)

André Luís Calado Araújo


Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em Engenharia Sanitária pela
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Doutor em Engenharia Civil pela University of Leeds.
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) e do
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Sanitária da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN).

Resumo: O crescimento da população, a intensificação dos processos industriais e o decorrente uso


descontrolado dos recursos naturais têm causado a poluição do meio ambiente, especialmente dos corpos
aquáticos. Um dos problemas causados é a eutrofização, propiciando a proliferação de cianobactérias
potencialmente tóxicas em mananciais utilizados para abastecimento humano. Devido à importância desse tema,
este trabalho se propôs a realizar uma revisão da literatura científica com o objetivo de identificar quais são os
principais tópicos discutidos mais recentemente, para se ter uma visão geral sobre o avanço na tecnologia de
tratamento de águas eutrofizadas como também apontar possíveis lacunas onde uma investigação mais profunda
seja necessária. A busca por artigos foi feita nas bases de dados SCOPUS, Web of Science, Science Direct e
SciELO, limitando o período de publicação entre o ano de 2012 e o atual. Inicialmente foram selecionadas 37
publicações, sendo três delas descartadas após uma análise mais minuciosa dos resumos. Os resultados dessa
pesquisa mostraram uma grande variedade nas técnicas disponíveis para remoção das algas e suas toxinas.
Restam ainda, entretanto, algumas lacunas no tocante ao controle da liberação de tais metabólitos na água ou no
lodo durante o processo de tratamento.
Palavras-chave: Poluição. Eutrofização. Tratamento.

PRESENCE OF CYANOBACTERIA IN PUBLIC WATER SUPPLY SOURCES

Abstract: Population growth, intensification of industrial processes and the resulting uncontrolled use of natural
resources have caused pollution of the environment, especially of aquatic bodies. One of the problems caused is
eutrophication, causing the proliferation of potentially toxic cyanobacteria in waterbodies that are used for
human supply. Due to the importance of this theme, this work proposed to do a literature review with the aim of
identifying which are the main topics recently discussed, in order to have an overview of the advances in
eutrophic water treatment technology as well as to point out possible gaps where further investigation is needed.
The search for articles was done in the databases SCOPUS, Web of Science, Science Direct and SciELO,
limiting the period of publication between the year 2012 and the current one. Initially, 37 publications were
selected, but three of them were discarded after a more detailed analysis of the abstracts. The results of this
research showed a great variety in the techniques available for the removal of algae and their toxins. There are
still, however, some gaps related to the control of the release of such metabolites into the water or the sludge
during the treatment process.
Keywords: Pollution. Eutrophication. Treatment.
Introdução
O crescimento populacional mundial a taxas geométricas, aliado ao intenso
desenvolvimento das atividades industriais ao longo desse último século, tem ocasionado uma
busca incessante e descontrolada pelos recursos naturais disponíveis no planeta a fim de
satisfazer as necessidades humanas. Decorrente desse cenário desfavorável, tem-se um
vertiginoso aumento na geração de resíduos sólidos, líquidos, gasosos e também na forma de
energia. O resultado não é outro senão a poluição do meio ambiente, nos compartimentos ar,
solo e água.
Dentre os impactos sobre os mananciais superficiais causados por atividades
antrópicas, um dos mais conhecidos é o processo de eutrofização, que nada mais é que o
enriquecimento do corpo aquático com nutrientes como nitrogênio e fósforo. Tais nutrientes
geralmente são oriundos do descarte de águas residuárias domésticas e industriais sem o
devido tratamento, além de outras formas de uso e ocupação do solo na área em torno dos
corpos hídricos.
Corpos d’água ricos em nutrientes, aliados a outros fatores abióticos como radiação
solar, temperatura elevada da água, salinidade, movimento da água e tempo de residência, são
um ambiente propício para a proliferação de algas e cianobactérias, que são organismos
bastante resistentes e altamente prejudiciais à saúde dos seres humanos (GARCIA et al., 2015;
MEREL et al., 2013; SWANEPOEL; DU PREEZ; CLOETE, 2017). As mudanças climáticas
também são apontadas como responsáveis pela ocorrência de florações cada vez mais
frequentes em diversos locais do planeta (HAAKONSSON et al., 2017).
As florações de algas são um problema global devido aos vários efeitos negativos que
podem comprometer a qualidade da água, como a produção de metabólitos que são
responsáveis por odor, cor, sabor e toxinas (ALMEIDA et al., 2016; CHINYAMA et al.,
2016; LEE et al., 2017). Dentre as toxinas sintetizadas por essas bactérias, encontra-se uma
ampla variedade de hepatotoxinas, neurotoxinas e dermatotoxinas, constituindo uma
preocupação de saúde pública e ambiental crescente (MEREL et al., 2013). Assim, faz-se
necessária uma abordagem de barreiras múltiplas (prevenção, controle na fonte, otimização do
tratamento e monitoramento) para reduzir os riscos de florações de cianobactérias tóxicas (HE
et al., 2016).
Diante da problemática relacionada a esse tipo de poluição do meio aquático cada vez
mais frequente e intenso, este trabalho tem como escopo fazer um levantamento das
publicações científicas relacionada ao tema. Espera-se, após uma análise dos artigos
encontrados e selecionados, obter uma visão geral do conhecimento teórico até então
construído e do desenvolvimento de tecnologias que tenham como função essencial a
minimização dos impactos ambientais adversos causados pela eutrofização e consequente
proliferação de cianobactérias.

Método
O presente trabalho consistiu na busca, entre os dias 30 de outubro e 7 de novembro
deste ano, por artigos científicos em algumas bases de dados, como a SCOPUS, Web of
Science, Science Direct e SciELO. Desses portais, a SCOPUS foi a menos utilizada pelo fato
de ela retornar pouquíssimos resultados de busca dentro do tema desse estudo.
Durante a busca, optou-se por filtrar apenas resultados de pesquisa publicados nos
últimos cinco anos (2012 – presente), de forma a obter dados mais recentes acerca dos
avanços e dificuldades encontradas na área do tratamento de águas eutrofizadas para remoção
de cianobactérias e cianotoxinas.
Além disso, foram selecionados artigos que trouxessem uma visão geral sobre causas e
consequências do processo de eutrofização, que abordassem técnicas de controle da
proliferação de algas in situ ou que se tratassem de resultados de experimentos com a
finalidade de tratar águas eutrofizadas para o abastecimento humano. A seleção inicial foi
realizada através de uma avaliação superficial dos títulos e resumos de cada artigo.

Resultados e discussão
Como resultado das buscas nas bases de dados SCOPUS, Web of Science, Science
Direct e SciELO foram inicialmente selecionados 37 artigos científicos. No entanto, após uma
análise mais aprofundada dos resumos desses artigos, três deles foram descartados porque
fugiam ao tema dessa pesquisa ou porque eram demasiadamente específicos em alguma
particularidade do tratamento de águas que não caberia aqui fazer menção.
Os 34 artigos selecionados foram encontrados em 15 revistas diferentes (Tabela 1). A
Water Research foi a que apresentou o maior número de artigos (10), seguida da Science of
the Total Environmental (4), Chemosphere (3), Water AS (3), Environmental Pollution (2),
Harmful Algae (2) e Journal of Hazardous Materials (2). Das demais revistas, só um artigo
foi selecionado. Os autores, ano de publicação e o tema abordado de cada artigo são
apresentados no Quadro 1.
Tabela 1- Número de artigos em periódicos ou revistas
Nº de
Artigos do
Título do Periódico ou Revista Periódico
ou Revista
Brazilian Journal of Biology 1
Chemosphere 3
Desalination 1
Desalination and Water Research 1
Engenharia Sanitária e Ambiental 1
Environmental International 1
Environmental Pollution 2
Harmful Algae 2
Interciencia 1
Journal of Hazardous Materials 2
Revista Ambiente e Água 1
Science of the Total Environment 4
Water Research 10
Water SA 3
Water, Air & Soil Pollution 1
TOTAL 34
Fonte: Autoria própria (2017)

De uma forma geral, todos os artigos selecionados trazem, de início, uma introdução
acerca das causas do processo de eutrofização dos corpos aquáticos e também as possíveis
consequências seja para o ecossistema aquático ou para a saúde humana, através da
contaminação da água destinada ao abastecimento público. A partir desse ponto, cada grupo
de autores segue uma linha de raciocínio e de argumentação de acordo com o seu objeto de
pesquisa. Fica claro que todos concordam com o fato de as cianobactérias e cianotoxinas
obrigam à melhoria contínua das estações de tratamento de água.
Tais características tornam os processos de tratamento de água extremamente caros
devido à complexidade das reações envolvidas. Uma alternativa a ser analisada seria o estudo
do perfil de profundidade dos mananciais superficiais de forma a identificar uma
profundidade ótima – baixa densidade de células de cianobactérias – para a tomada de água e,
com isso, minimizar os problemas de odor e sabor nas estações de tratamento de água para
abastecimento (CHINYAMA et al., 2016). Isso poderia, temporariamente, reduzir os custos
de operação e manutenção bem como melhorar a qualidade da água tratada entregue à
população.
Quadro 1 – Lista dos artigos selecionados com nome dos autores, ano de publicação e tema abordado
Autor Ano Tema
Destino de cianobactérias e seus metabólitos durante gestão do
Ho et al. 2012
lodo de tratamento de água
Opções de tratamento biológico para remoção de metabólitos de
Ho et al. 2012
cianobactérias
Fouling em membranas de ultrafiltração
Qu et al. 2012
causado por cianobactérias
Wang et al. 2012 Remoção de cianobactérias tóxicas em lagos eutrofizados
Acumulação de cianobactérias tóxicas em uma instalação de
Zamyadi et al. 2012
água para abastecimento
Panorama do conhecimento sobre floração de cianobactérias e
Merel et al. 2013
cianotoxinas
Pavagadhi et al. 2013 Remoção de microcistinas por óxido de grafeno
Remoção de cianobactérias e cianotoxinas através de filtração
Sens et al. 2013
induzida
Eficiência na remoção de cianobactérias através de diferentes
Zamyadi et al. 2013
processos de tratamento
Efeito do pH na liberação de metabólitos pelas cianobactérias no
Qian et al. 2014
tratamento convencional de água

Garcia et al. 2015 Degradação de cianotoxinas usando fotoeletro-oxidação

Remoção de microcistina-LR por clarificação e filtração


Guerra et al. 2015
seguidas de adsorção em carvão ativado granular
Zamyadi et al. 2015 Destino de cianobactérias tóxicas durante ozonização
Efetividade de tratamento convencional de água na remoção de
Almeida et al. 2016
cianobactérias e cianotoxinas
Ocorrência de cianobactérias em reservatórios e implicações na
Chinyama et al. 2016
produção de água potável
Cianobactérias tóxicas e água potável: impactos, detecção e
He et al. 2016
tratamento
Fatores ambientais relacionados à ocorrência de cianobactérias
Machado et al. 2016
tóxicas em reservatórios

Pestana et al. 2016 Destino de cianobactérias em instalação de tratamento de água

Gerenciamento de eutrofização por combinado de bentonita


Waajen et al. 2016
modificada e floculante
Remoção simultânea de células de algas e cianotoxinas para
Deng et al. 2017
tratamento de água
Influência da temperatura e precipitação na distribuição de
Haakonsson et al. 2017
cianobactérias em ecossistemas subtropicais
Eliminação de microcistina-LR usando permanganato e carvão
Jeong et al. 2017
ativado em pó
O papel das algas e cianobactérias na produção e liberação de
Lee et al. 2017
odorantes na água
Remoção de microcistina-LR de água para abastecimento
Lopes et al. 2017
utilizando oxidação e adsorção
Adsorção de microcistina-LR em carbonos mesoporosos e seu
Park et al. 2017
potencial no tratamento de água
Souza, Tratamento de águas eutrofizadas por sistemas de filtração lenta
2017
Mondardo e Sens em areia
Remoção de cianobactérias e cianotoxinas por compósitos de
Sukenik et al. 2017
bentonita
Swanepoel, du Remoção de algas por métodos convencionais e avançados de
2017
Preez e Cloete tratamento de água
Wang et al. 2017 Controle de eutrofização por agentes inativantes
Efeito da dose de oxidante na liberação e degradação de
Zhang et al. 2017
microcistina-LR durante oxidação
Inativação eletroquímica de cianobactérias e remoção de
Bakheet et al. 2018
cianotoxinas
Avaliação da qualidade da água em florações de cianobactérias
Kurobe et al. 2018
durante sucessivos anos de seca severa
Şengül, Ersan e Remoção de microcistina por ultrafiltração, coagulação,
2018
Tüfekçi floculação e carvão ativado em pó
Remoção de cianobactérias com controle liberado de
Wang et al. 2018
metabólitos através de coagulante
Fonte: Autoria própria (2017)

Geralmente se recorre a processos de remediação da eutrofização in situ como a


aplicação de agentes inativadores no sedimento dos mananciais para proporcionar a
imobilidade dos nutrientes na coluna d’água, como o fósforo. Dessa forma, obtém-se a
redução dos efeitos da eutrofização, como a floração de cianobactérias (WANG et al., 2017).
Resultados satisfatórios foram obtidos por Waajen et al. (2016) ao utilizarem uma baixa dose
de cloreto férrico e bentonita modificada a base de lantânio para interromper o fluxo interno
de fósforo no Lago De Kuil, nos Países Baixos.
Na área de estudos de qualidade da água de mananciais utilizados para abastecimento
humano, também é muito importante conhecer quais fatores influenciam a proliferação das
cianobactérias ou inibem o seu desenvolvimento. A investigação dessas características muitas
vezes previne transtornos futuros maiores e ainda geram economia de recursos financeiros no
que diz respeito à implantação de tecnologias avançadas para o tratamento de águas
eutrofizadas.
Machado et al. (2016), ao estudarem a ocorrência e dominância de espécies tóxicas de
cianobactérias em um reservatório em São Paulo, chegaram à conclusão de que tanto a
biomassa algal como a dominância de tais espécies tóxicas variam de acordo com as
características ambientais de cada zona do reservatório. Constataram também uma correlação
entre altos níveis de amônia, baixa zona fótica e pH neutroalcalino com a biomassa de
Cylindrospermopsis raciborskii na estação chuvosa e de Planktolyngbya limnetica nos
períodos secos.
Chinyama et al. (2016) estudaram a relação entre a ocorrência de cianobactérias e as
características físico-químicas da água em um reservatório na África do Sul. Foi observado
que a dominância dos gêneros de cianobactérias está significativamente correlacionada com a
temperatura do ar e água e com a concentração de nitrogênio nas formas de nitrito e de
nitrato.
Ao analisar dados de campo coletados por um período de 18 anos, Haakonsson et al.
(2017) relacionaram a biomassa e distribuição de cianobactérias com a temperatura da água e
precipitação. Os gêneros Dolichospermum (Anabaena) e Microcystis foram os mais
amplamente distribuídos e suas ocorrências foram explicadas, através de modelos
matemáticos, respectivamente em 19 e 28% pela temperatura e precipitação. A temperatura
sozinha explicou 64% da variação da biomassa de Microcystis.
Um trabalho desenvolvido por Kurobe et al. (2018) mostrou os efeitos de longos
períodos de seca na liberação de toxinas pelas cianobactérias do gênero Microcystis e,
consequentemente, na qualidade da água. Foram utilizados embriões de peixe para avaliar o
grau de toxicidade da água nos períodos de intensa proliferação algal. A taxa de mortalidade
dos embriões foi superior a 77% e, estatisticamente, diretamente relacionada à temperatura da
água, ao teor de carbono orgânico dissolvido e total e à concentração de clorofila-α. Além
disso, foi observado que a lise celular da Microcystis favoreceu o crescimento de bactérias do
grupo Aeromonas, contribuindo para a deterioração do corpo aquático.
Há estudos sobre o controle da eutrofização in situ na tentativa de melhorar as
características físico-químicas e microbiológicas do corpo d’água. Wang et al. (2012)
propuseram um método integrado para a remoção de proliferação de cianobactérias, que
consiste em duas etapas. A primeira é a inativação das cianobactérias através da oxidação por
peróxido de hidrogênio enquanto que a segunda etapa diz respeito à floculação e
sedimentação, pela adição de argila e de sulfato férrico polimérico, das cianobactérias
inativadas.
Com uma proposta semelhante, Deng et al. (2017) investigaram a remoção simultânea
de algas e toxinas utilizando o ânion ferrato – (FeO4)2-. O ferrato atuou tanto como um agente
oxidante inativando as células das cianobactérias e degradando as toxinas como também,
através de sua forma reduzida Fe3+, promovendo a coagulação in situ pela agregação das
células. Nos ensaios, os pesquisadores obtiveram uma significativa redução na densidade de
células algais e na turbidez da água tratada.
Apesar dos bons resultados obtidos na remoção de cianobactérias e toxinas através de
coagulação/floculação e sedimentação, poucos trabalhos avaliaram esse “lodo” gerado no
tocante à posterior liberação de metabólitos. Em uma pesquisa envolvendo as cianobactérias
Anabaena circinalis e Cylindrospermopsis raciborskii, Ho et al. (2012) chegaram à conclusão
de que houve liberação de metabólitos intracelulares para a fase líquida após três dias mesmo
quando as células permaneceram viáveis por até sete dias. De acordo com Pestana et al.
(2016), cianobactérias podem sobreviver e produzir metabólitos no lodo por até dez dias,
provocando um incremento de até 500% na concentração desses compostos no meio.
A remoção de cianobactérias requer que os sistemas de tratamento de água previnam o
rompimento das células, de modo a evitar um provável aumento da concentração de
cianotoxinas e de outros metabólitos dissolvidos, o que constitui um dos maiores desafios
atualmente. Além disso, a remoção efetiva de cianobactérias e de cianotoxinas normalmente
requer sistemas com vários estágios (ALMEIDA et al., 2016; SENS et al., 2013).
Com base nessa preocupação relacionada à liberação de metabólitos, Wang et al.
(2018) utilizaram um coagulante de xerogel à base de titânio que, ao mesmo tempo em que
remove satisfatoriamente células de cianobactérias (99% de eficiência), controla a lise dessas
células. Além disso, esse produto conseguiu degradar as microcistinas que foram liberadas no
meio aquoso, demonstrando sua potencialidade no tratamento de águas eutrofizadas para
abastecimento humano.
A remoção de células de cianobactérias se dá geralmente através de processos físicos
como sedimentação/flotação ou filtração por membranas. As cianotoxinas, no entanto, são
removidas por retenção física, através de adsorção em carvão ativado e nanocompósitos de
bentonita ou osmose reversa, e oxidação química, por meio de ozonização ou cloração
(GUERRA et al., 2015; MEREL et al., 2013; SUKENIK et al., 2017). Há estudos, porém, que
demonstram o uso de tratamento biológico, como processos de filtração biológica, na
degradação de alguns metabólitos (cianotoxinas) graças aos avanços na microbiologia
molecular (HO; SAWADE; NEWCOMBE, 2012).
Também é importante destacar que a eficiência de determinado processo de tratamento
pode depender da espécie de cianobactéria alvo da remoção. Zamyadi et al. (2013), avaliando
uma estação de tratamento de água em escala real, constataram que células de cianobactérias
da espécie Aphanizomenon foram fracamente coaguladas e, por isso, não ficaram retidas no
lodo nem nos filtros. Por outro lado, células das espécies Microcystis, Anabaena e
Pseudanabaena foram satisfatoriamente removidas pelos processos de clarificação e filtração.
Guerra et al. (2015) realizaram uma pesquisa, em escala de bancada, sobre a remoção
da toxina microcistina utilizando colunas de carvão ativado granular de casca de coco após as
etapas de clarificação e filtração em areia. Como resultado, obtiveram água tratada de acordo
com a Portaria nº 2914/2011 do Ministério da Saúde no tocante à concentração de
microcistina.
Em um estudo que também investigou a remoção da toxina microcistina, Jeong et al.
(2017) inicialmente promoveram a oxidação desse metabólito com permanganato de potássio
(KMnO4) e depois adicionaram carvão ativado em pó antes e durante o processo de
coagulação. Concluíram que um tempo de contato em torno de 60 minutos entre a
microcistina e o permanganato de potássio seguido da adsorção foram suficientes para
remover quase toda a toxina da água.
Também foram obtidos resultados satisfatórios no que se refere à remoção de
microcistina em um estudo realizado por Lopes et al. (2017), onde água com elevado teor
dessa toxina foi submetida a um tratamento composto por oxidação por processo Fenton
seguida de adsorção em carvão ativado granular.
Park et al. (2017) utilizaram carbono mesoporoso como material adsorvente na
remoção da toxina microcistina em águas para abastecimento humano. Nesse processo,
conseguiram reduzir a concentração da toxina para 1 µg/L de forma rápida e eficiente. Além
disso, a adsorção utilizando esse material tem a vantagem de não ter sua eficiência afetada
pela variação do pH na água ou pela existência de matéria orgânica.
Com o objetivo de comparar dois materiais adsorventes diferentes, Pavagadhi et al.
(2013) avaliaram a eficiência do óxido de grafeno e de carvão ativado comercial na remoção
de microcistina. A capacidade de adsorção do óxido de grafeno foi de 1700 µg de
microcistina por g de material enquanto que o carvão ativado comercial apresentou uma
capacidade igual a 1481,7 µg/g.
Şengül, Ersan e Tüfekçi (2018) compararam dois sistemas para remover microcistina.
O primeiro era do tipo convencional e consistia em coagulação/floculação seguido de
adsorção em carvão ativado em pó. O sistema avançado adicionava uma terceira etapa de
ultrafiltração. Foi observado que a maior eficiência de remoção da toxina (94%) foi alcançada
pelo sistema de tratamento avançado enquanto que o convencional obteve somente 84%.
No campo de aplicação de membranas de separação para remoção de cianobactérias,
Qu et al. (2012) investigaram a ocorrência de fouling (colmatação dos poros de membranas)
causada pela presença de cianobactérias. Após vários ensaios, os autores apontaram que tanto
células vivas como fragmentos de células são capazes de diminuir o fluxo do líquido através
da membrana de ultrafiltração e também de causar fouling reversível e até irreversível nos
poros.
No que se refere à oxidação através do cloro de águas eutrofizadas contendo
Microcystis aeruginosa, atenção especial deve ser dirigida à operação desse processo, pois
doses baixas de cloro e baixo tempo de contato provocam uma rápida liberação de
microcistina na água sem que esta toxina seja completamente degradada (ZHANG et al.,
2017). Outro fator importante em relação à liberação de metabólitos é a faixa do pH durante o
processo de tratamento, pois abaixo de 5 ocorre um aumento considerável na taxa de lise
celular de espécies como Microcystis aeruginosa, Anabaena circinalis e Cylindrospermopsis
raciborskii (QIAN et al., 2014).
É importante salientar que células de cianobactérias e suas toxinas coletadas de
florações naturais são mais resistentes à cloração do que as células cultivadas em laboratório e
toxinas obtidas a partir de soluções-padrão (ZAMYADI et al., 2012). Sendo assim, a
extrapolação dos resultados obtidos com variáveis geradas em laboratório para as situações
em escala real torna-se bastante imprecisa.
O processo de pré-ozonização na etapa de pré-tratamento é considerado uma prática
eficiente para a inativação e remoção de células de cianobactérias. No entanto, ainda pouco se
sabe sobre a demanda certa de ozônio a ser aplicada, a potencial liberação de toxinas e de
matéria orgânica para o meio líquido e o impacto desses compostos nas etapas seguintes do
tratamento (ZAMYADI et al., 2015).
A filtração induzida se apresenta como uma alternativa efetiva para eliminar ou
reduzir tais poluentes e consiste em bombear água de poços ou galerias de infiltração situados
nas margens dos mananciais superficiais. A remoção de cianotoxinas pode ocorrer por
mecanismos de adsorção e biodegradação, ambos dependendo do tipo de fundo do corpo
d’água e materiais do aquífero e também das características físico-químicas das cianotoxinas
(SENS et al., 2013).
Almeida et al. (2016) estudaram um sistema convencional de tratamento de água e
obtiveram uma remoção em torno de 98% de clorofila-α, Ceratium furcoides, Microcystis sp.
e microcistina, sendo esta última satisfatoriamente removida apenas na última etapa do
tratamento (desinfecção).
A filtração lenta em areia apresenta uma boa capacidade para remoção de
cianobactérias e é uma alternativa simples quando comparada a outras tecnologias de
tratamento mais caras. No entanto, em altas concentrações de algas, o tempo de carreira dos
filtros diminui consideravelmente (SOUZA; MONDARDO; SENS, 2017). Souza, Mondardo
e Sens (2017) obtiveram uma alta remoção de C. raciborskii (cerca de 99%) sem
comprometer o tempo de carreira de filtração por quase 80 dias.
Bakheet et al. (2018) utilizaram eletrólise para inativar células de Cylindrospermopsis
raciborskii e remover a toxina cilindrospermopsina. A uma corrente ótima, obtiveram uma
remoção de 87 a 93% da densidade celular com 60 e 180 minutos de aplicação e de 72 a 90%
de clorofila-α. Também constataram que as células foram totalmente inativadas em 45
minutos e que mais de 97% da cilindrospermopsina inicialmente presente foi degradada em
30 minutos.
Garcia et al. (2015) investigaram a degradação de microcistinas através de processos
oxidativos avançados como a fotoeletro-oxidação e perceberam que a potência da radiação
UV e da corrente elétrica estão diretamente ligados com a taxa de degradação, obtendo
eficiência de remoção de até 99%.

Considerações finais
Diante do que foi exposto ao longo da seção de Resultados e discussão, percebe-se que
a temática da eutrofização e da proliferação de cianobactérias com consequente liberação de
cianotoxinas no meio aquático tem ganhado grande destaque de uma forma geral. Isso é
devido à grande preocupação com a saúde humana, que se encontrada ameaçada pela ingestão
de água contaminada com diversos tipos de toxinas. Há, no entanto, algumas lacunas
principalmente no que diz respeito à remoção das células de cianobactérias sem que haja a
ruptura da parede celular e consequente liberação dos metabólitos na água ou no lodo
derivado do tratamento por coagulação e sedimentação. Pensando na causa do problema,
muitos pesquisadores investiram em estudos que identificassem o comportamento desses
microrganismos nos ambientes naturais bem como os fatores bióticos e/ou abióticos que
possam ter ação inibidora sobre esse fenômeno desastroso para o ecossistema aquático.
Referências
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