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Resumo
Este trabalho pretende aprofundar os conhecimentos sobre a atividade
dos educadores da educação profissional (EP) de curta duração. Recorre
à metodologia da Psicologia do trabalho de Yves Clot, conhecida como
clínica da atividade, que tem inspiração vygotskiana, e usa técnicas
qualitativas de investigação (registro em vídeo, autoconfrontação direta
e cruzada). Foram observados cinco programas de educação profissional
dos setores público e privado em Belo Horizonte. Os resultados indicaram
a prevalência de aspectos subjetivos na construção do gênero profissional
formado pelos educadores de EP, confirmando Clot (2006): o gênero
é fortemente influenciado pelo estilo profissional. A análise dos dados
obtidos também sugere a convergência entre Psicologia do trabalho e
Pedagogia crítica, recomendando o aprofundamento das investigações
qualitativas sobre as iniciativas de EP de nível básico. Finalmente este
trabalho recomenda que as políticas públicas no campo da EP de nível
inicial ofereçam maior atenção às contribuições dos trabalhadores que
as executam.
Palavras-chave: Psicologia do trabalho; clínica da atividade; educação
profissional.
Abstract
This work intends to deepen the knowledge on the activity of short-term
Educators of Professional Education (PE). It is based on the methodology
of Yves Clot’s Work Psychology, known as activity clinic, of Vygotskian
* Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da UFMG, professor adjunto e coordenador do Laboratório de
Psicologia Organizacional e do Trabalho (LaPOT) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, PUC Minas,
e-mail: joaocesar.fonseca@yahoo.com.br
Resumen
Este trabajo se prepone profundizar el conocimiento en la actividad de
los educadores de la Educación Profesional (EP) de duración corta. Apela
a la metodología de la psicología del trabajo de Yves Clot, conocida
como clínica de la actividad, que tiene inspiración vygotskiana y usa
las técnicas cualitativas de investigación (registro en vídeo, la auto-
confrontación directa y cruzada). Cinco programas de educación
profesional en Belo Horizonte fueron observados, de los sectores público
y privado. Los resultados indicaron el predominio de aspectos subjetivos
en la construcción de la clase profesional formada por los educadores
de EP, lo que confirma Clot (2006): la clase está influenciada por el
estilo profesional. El análisis de los datos conseguidos también sugiere la
convergencia entre la psicología del trabajo y la pedagogía crítica, por lo
que se recomienda la profundización de las investigaciones cualitativas
en las iniciativas de EP del nivel básico. Finalmente, este trabajo
recomienda que las políticas públicas en el campo de EP del nivel inicial
ofrezcan una atención mayor a las contribuciones de los trabajadores que
las ejecutan.
Palabras clave: Psicología del trabajo. Clínica de la actividad. Educación
Profesional.
Introdução
Formadores, professores, instrutores... Identidade(s) e gênero profissional
A
formação de educadores e professores é tema constante nas produções
do campo da Educação, perpassando pelos diferentes níveis de ensino
(Bicudo & Junior, 1996; Perrenoud, 2002; Tardif, 2002; Nóvoa, 1992,
1995). De forma geral, o que se observa, porém, é uma menor atenção
americana por direcionar sua atenção para as relações de trabalho, enquanto esta
última privilegia as condições de trabalho como objeto de estudo e intervenção.
Essa diferenciação é relevante, uma vez que já sinaliza possibilidades de
vinculação com matrizes teóricas mais críticas e menos adaptativas.
Em obra recentemente publicada no Brasil, Clot (2006a, p. 11) deixa clara
a sua afinidade com a visão marxiana, ao afirmar que “a análise do trabalho visa
sempre, de todo modo, a compreender para transformar”, bastante próximo
da orientação de Marx na Tese XI sobre Feuerbach, a respeito da crítica aos
filósofos que interpretam o mundo sem se preocupar com sua transformação.
Além disso, há uma clara inspiração nos estudos da Psicologia sócio-histórica
de Lev Vygotsky, assumida de forma clara e inequívoca, quando afirma que
“trabalho não é uma atividade entre outras. Exerce na vida pessoal uma função
psicológica específica que se deve chegar a definir” (Clot, 2006a, p. 12).
Também baseada em Vygotsky está a proposição de que, para Clot, a
atividade psicológica é, ao mesmo tempo, mediatizada (pela linguagem, pelos
instrumentos) e mediatizante (produz elo entre objetos, pessoas e sujeito)
(Clot, 2006b, p. 25). As derivações dialéticas desse raciocínio servirão para
estudar, por exemplo, a questão da ferramenta nas situações de trabalho:
Em situações de trabalho, certas ferramentas não entram nunca
na atividade do sujeito. Entram somente se elas podem servir aos
objetivos a que esse sujeito se deu, não somente aos objetivos que
se lhe deram, mas aos objetivos que ele se deu. Por uma razão
evidente, bem simples e forte: é que o artefato/ferramenta não é a
origem do instrumento. Ele não é a fonte (la source), a ferramenta
é apenas o recurso (la ressource) da atividade. Faço uma diferença
muito importante, porque acredito que esta exista no coração da
obra de Vygotsky (Clot, 2006b, p. 24) (grifos no original).
É assim que Clot vai defender a ideia de que Vygotsky teria proposto não
uma teoria da internalização, mas sim uma teoria da apropriação, pois, no
exemplo da ferramenta acima citado, o sujeito impõe sua marca na situação
de trabalho, de maneira inevitável e inequívoca. Esse processo de subjetivação
do uso do artefato / instrumento de trabalho (ou, como ele mesmo diz, “um
desvio visando à subjetividade”) é o que constitui a ideia de apropriação.
Para Clot, a dimensão social do trabalho se faz presente na própria realização
da atividade de trabalho, executada, que é bem diferente da tarefa prescrita.
Ou, como ele mesmo diz:
[A atividade de trabalho] é triplamente dirigida e não de modo
metafórico. Na situação vivida, ela é dirigida não só pelo
ele chama de real da atividade. A atividade real diz respeito ao que efetivamente
é feito, mas seria uma parte relativamente pequena em relação ao que é possível.
Esse raciocínio, que se origina dos estudos da Ergonomia e segue para além deles,
permite a Clot apresentar a seguinte ideia: há um potencial risco de desgaste
do trabalhador no controle da atividade que ele, muitas vezes, não chega a
realizar, pois a configuração da atividade a partir do desenho proposto pela
tarefa é que se torna cansativa. Como consequência, surge a constatação de que
a programação de tarefas a serem realizadas – ou seja, a prescrição – seria tanto
melhor (há realmente por Clot uma afirmação valorativa nesse sentido) quanto
mais permitisse o sujeito se desenvolver enquanto realiza suas atividades.
É importante lembrar também que essas supostas “transgressões” em
relação às tarefas prescritas, para se tornarem instrumentos de trabalho, devem
ser compartilhadas e ratificadas no espaço coletivo dos trabalhadores, em
determinado lugar e duração, assumindo, assim, uma configuração histórica e,
ao mesmo tempo, transitória. Estaria assim se constituindo o que Clot chama
de gênero profissional:
Chamamos aqui gênero ao que foi referido anteriormente como
um corpo intermediário entre os sujeitos, um intercalar social
situado entre eles por um lado e entre eles e o objeto de trabalho,
por outro lado. De fato, um gênero une sempre eles, aqueles que
participam numa mesma situação, como coautores que conhecem,
compreendem e avaliam uma situação da mesma maneira (Clot,
2006a, p. 41).
Clot considera também que o gênero profissional não deve ser visto apenas
como pertencimento social, mas também como um recurso para a ação, uma vez
que os trabalhadores, muitas vezes, servem-se deles para evitar erros. Esse gênero
também poderia ser denominado como trabalho da organização (conjunto de
obrigações partilhadas por um grupo em determinado meio profissional) e se
articularia, complementarmente, à organização do trabalho (que corresponde à
tarefa). Mesmo porque o gênero profissional não está restrito ao sujeito, pois
remete sempre ao coletivo, ao grupal e aos registros que são compartilhados
por esse grupo ao longo do tempo em situações de atividade, extrapolando em
muito a prescrição original (ou tarefa). A função psicológica do trabalho estaria
vinculada, portanto, à possibilidade de construção e manutenção de um gênero
profissional e sua não efetivação poderia implicar, entre outras consequências,
aumento do número de acidentes e sofrimento psicológico.
Clot também incorpora a dimensão individual ao considerar que, muitas
vezes, o trabalhador é chamado, ao improviso, a lidar com situações não
previstas. Aí surgirá o estilo profissional, vinculado ao gênero:
Note-se que essas ideias mostram-se bem articuladas com o piso vygotskiano,
em que o psicólogo francês assenta sua teoria, pois a emergência dos estilos
certamente trará desdobramentos sobre os gêneros, criando condições inclusive
para a renovação destes últimos. Basicamente, está sendo recuperada aqui a
articulação entre significação social e sentido pessoal, cujos fundamentos se
encontram em Vygotsky (1993).
Para Clot, seria fundamental a emergência das discordâncias em torno
do gênero profissional, uma vez que esse se constitui de muitas variantes.
Convidando a Psicologia a estimular o debate e a discussão, o autor entende
que é premissa básica ouvir os trabalhadores a respeito de seu próprio trabalho,
por meio do que ele chama de autoconfrontação, que seria uma reflexão
sobre a atividade de trabalho rotineira. Nesse sentido, seria legítimo dizer
que essa proposta de metodologia investigativa de Clot caracteriza-se como
uma coanálise do trabalho, uma vez que o objeto focalizado, a atividade, será
analisado conjuntamente, quer seja por um analista, quer seja por um dos
pares do trabalhador, quer seja pelo próprio trabalhador.
Essa formatação metodológica – segundo o próprio Yves Clot, ainda em
construção – teria, pelo menos, dois desdobramentos mais próximos. O
primeiro deles seria a constatação de que a análise do trabalho teria um forte
efeito sobre a transformação do trabalho, principalmente no que diz respeito
à formação.
A análise do trabalho revela-se um bom instrumento de formação
para o sujeito na condição de se tornar um instrumento de
transformação da experiência. O que é formador para o sujeito,
quer dizer, o que aumenta o seu raio de ação e o seu poder de
agir, é conseguir mudar o estatuto do vivido: de objeto de análise,
o vivido deve tornar-se meio para viver outras vidas (grifo nosso)
(Clot apud Santos, 2006, p. 38).
é aquilo que se faz (trabalho real), Clot avança e afirma: “atividade realizada
e atividade real também não correspondem uma à outra” (Clot, 2006a, p.
115).
A atividade realizada se aproxima da noção de tarefa (portanto claramente
visível e passível de observação direta) e constitui apenas uma ínfima parte do
que é possível. Já a atividade real ou real da atividade não está claramente visível
e inclui a chamada atividade impossível, não manifesta e, portanto, fora da
possibilidade de observação de qualquer analista. É importante dizer, porém:
de forma alguma a atividade real está em segundo plano, pois é na realização
que se encontram os “novos possíveis”. Assim, a análise da atividade deverá
considerar “o trabalho psíquico e prático que o trabalhador precisa fazer para
transformar o real da atividade em atividade realizada” (Clot, 2007, p. 17).
Buscando fundamentação em Vygotsky (“o homem está a cada minuto pleno
de possibilidades não realizadas”) e recuperando a ideia de real da atividade, já
mencionado anteriormente, Clot organiza seu conceito de clínica da atividade,
que buscaria basicamente compreender a dinâmica da ação dos sujeitos (Clot
et alii, 2000), sempre lembrando que essa atividade tem três direções: a si
próprio, ao objeto de trabalho e aos outros.
Clot também alerta que a clínica da atividade não deve ser confundida com a
Psicologia clínica, uma vez que adota tal nomenclatura devido às proximidades
que o recurso da análise de trabalho guarda com o método clínico (Clot,
1995). Para ele, o uso do termo clínica não tem a ver somente com a noção
de doença ou dos signos/sinais que a definem, mas está ligado à perspectiva
de mobilização de ação para modificar as situações vividas pelos sujeitos, onde
quer que estes se encontrem (Clot, 2007, p. 15).
No campo da Educação, a análise psicológica do trabalho vem trazendo
contribuições importantes. Ao investigar a atividade de um professor de
Filosofia, Clot observa o que ele mesmo denomina de uma “metamorfose
dos gêneros” profissionais, a partir da construção de um estilo profissional, o
qual, por sua vez, “depende da relação do sujeito com sua própria memória
operatória e subjetiva” (Clot, 2006, p. 196).
Uma das ideias mais relevantes de Clot para a nossa investigação neste
trabalho é a noção de que algumas das atividades desenvolvidas pelo professor
observado por ele se efetivavam numa bipertinência genérica, pois o sujeito relatava
simultaneamente o pertencimento a dois gêneros: o pedagógico e o sindical.
A atividade relatada e comentada acima pode ser descrita como
pertinente a vários gêneros ao mesmo tempo, como uma atividade
Referências
Aranha, A. V. S. (2000). A formação profissional na Fiat Automóveis e a padronização
internacional de trabalhadores da empresa. Tese de Doutorado em História e Filosofia
da Educação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
Charlot, B. (2000). Da relação com o saber. Porto Alegre: Artes Médicas Sul.