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Romeu Gomes
Fundação Oswaldo Cruz
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They belong to a permantent investigation about qualitative approach in health, I have since 1993.
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Romeu Gomes 1
1 Instituto Fernandes Abstract This article discusses the concept of social representations on health and illness from
Figueira, Fundação
a social/historical point of view, to provide the means for developing research in the public
Oswaldo Cruz.
Av. Rui Barbosa 716, health care domain. To situate this discussion, the analysis was based on field research health is-
4 o andar, Rio de Janeiro, RJ sues, attempting to demarcate a theoretical frame of reference with the help of reference litera-
22250-020, Brasil.
ture in sociology and cultural history, while also contemplating cultural anthropological studies
oscarmc@unisys.com.br
romeu@iff.fiocruz.br conducted in the medical field.
Key words Social Representations; Theoretical Models; History; Public Health
Resumo O presente artigo tem por objetivo discutir as representações sociais de saúde e doença
a partir de uma abordagem histórico-social, com vistas a subsidiar o desenvolvimento de pes-
quisas no terreno da saúde coletiva. Para situar essa discussão, parte-se da análise no campo da
pesquisa social em saúde, como também busca-se delinear, com base na literatura, marcos teóri-
co-conceituais de referência relacionados sobretudo à sociologia e à história cultural, embora
contemplando, além disso, estudos específicos da chamada antropologia cultural relativa à área
médica.
Palavras-chave Representações Sociais; Modelos Teóricos; História; Saúde Pública
O que todavia importa é apontar que as ca- tais práticas’ e a ‘ordem do discurso’ que as ca-
tegorias teóricas fundamentais da produção racteriza” (Falcon, 1997:95).
dos autores ligados à História das Idéias reme- No entanto, existe um movimento no senti-
tiam-se prioritariamente ao papel da consciên- do de não reduzir as idéias a sua concepção
cia e do inconsciente, do tempo e da duração, meramente representacional, que encontra um
das particularidades das ciências humanas e postulante em historiadores como Véron (1977).
dos problemas que elas traziam para a teoria Na abordagem que ele propõe, as idéias devem
geral das ciências e, por cabo, à introdução de ser estudadas como sistema de relações, me-
noções tais como: “representações coletivas”; diante a operação de descolar a noção de re-
“visões de mundo”; “espírito de época”, dentre presentação para a de operação de significa-
outras. Tais conceitos obviamente agenciam a ção, a qual, basicamente, quer dizer um siste-
noção tradicional de “idéia” como “representa- ma de operações semânticas definidoras da re-
ção mental de uma coisa concreta ou abstrata; cepção da mensagem pelos destinatários. Pas-
imagem” (Ferreira, 1986:1220), encontrada em sar-se-ia, então, da noção de idéia àquela de
qualquer dicionário. signo, pois a idéia concebida como signo pode-
Rorty (1980) aponta que a instituição do ria sempre desempenhar várias funções.
Olho da Mente distinto daquele do corpo, sig- De qualquer modo, no território da “histó-
nificando o pensamento, o intelecto e a percep- ria das idéias”, o conceito de representação li-
ção, marca a separação entre os homens e as ga-se à definição mais vulgarizada de represen-
bestas, tal como assinala que esta metáfora ocu- tação. Tal fato, todavia, não é de causar estra-
lar grega foi de tal maneira incorporada pelo nheza porque, como bem assinala Veyne (1983),
imaginário moderno que, até hoje, é objeto de de há muito tempo que os historiadores, de
análise por parte dos filósofos preocupados modo geral, utilizam um grupo de conceitos
com suas conseqüências, isto é, com os proble- que tanto se articula ao senso comum quanto
mas que ela criou e com as possíveis maneiras às teorizações, sem se preocupar muito em do-
de alterá-la. Um desses problemas é, sem dúvi- tá-los de contornos nítidos ou em discutir suas
da, o questionamento intelectual quanto à pos- imprecisões, dificuldades e implicações.
sibilidade de conhecer o que de fato existe, to- Na verdade é o caráter incerto advindo do
mando-se por base os dados sensíveis, instau- misto de ser estrutural e fatual, de querer ser
rado por Descartes, a partir do qual a existên- objetiva e não poder sê-lo, de almejar reviver o
cia de dois “reais” entrou definitivamente em passado e só poder reconstruí-lo, de olhar do
cena. Um “real” seria aquele percebido senso- aqui e agora para o pretérito longínquo, que
rialmente e que, por sua vez, seria somente um tornam a História tão peculiar. Em quaisquer
índice do outro “real”, este, o verdadeiro, por- dos campos componentes do ofício de histo-
que somente acessível ao olhar de um intérpre- riógrafo, essas clivagens e angústias permane-
te que conhece, que é o sujeito pensante dota- cem, e, no seio delas, a abordagem das repre-
do de mente e, mais importante ainda, de cons- sentações sociais acarreta o mesmo tipo de di-
ciência. ficuldades, mesclando-se, por vezes, com uma
Tal dicotomia, traduzível na super conheci- gama de proposições nascidas exatamente do
da dualidade corpo/mente, dominou todas as desejo de ultrapassar as ambigüidades que
formas de raciocínio, cabendo sempre à mente fundamentam a metodologia histórica.
o reconhecimento da veracidade ou não das Por exemplo, ao contrário da história das
idéias enquanto representações reais dos fenô- idéias, vista como historicista, a história das
menos universais. Contudo, essa tradição de mentalidades teve ampla recepção por parte
sempre se conceber, conforme assinala Falcon dos historiadores franceses que defendiam o
(1997:55): “significantes que remetem a signifi- que chamavam o “espírito dos Annales”. E o
cados fixos e precisos” vem sendo combatida que era esse espírito? Era exatamente a reunião
diante dos avanços nos campos da lingüistica, de esforços em torno da concepção da história
da semiótica e da teoria da comunicação, den- como ciência, pensando e nomeando suas exi-
tre outros. Na historiografia, como muito bem gências metodológicas e seu objeto, assim co-
demonstra o autor, após a contribuição dessas mo sua articulação com outras ciências do ho-
disciplinas, os questionamentos voltam-se pa- mem, tais como a economia, a sociologia, a an-
ra o texto e/ou discurso, para as mensagens ne- tropologia, a psicanálise, enfim, o desenvolvi-
les contidas, mas atentos à “intertextualidade” mento do que havia sido inaugurado por Marc
e à “contextualidade” (Falcon, 1997:95) e, em Bloch, Lucien Febvre e seus discípulos desde a
pesquisadores que seguem os passos de Michel fundação da revista Annales d’Histoire Écono-
Foucault para “as formações discursivas possí- mique et Sociale em 1929. Após a instituciona-
veis no âmbito de cada ‘episteme’, o ‘regime de lização do grupo, em especial, na década de
sessenta com Fernand Braudel e, na de seten- Jacques Le Goff assumido a 6a Seção da École e
ta, sob a direção de Jacques Le Goff e Emma- André Burguière e Jacques Revel a direção da
nuel Le Roy Ladurie, já na concepção de uma revista, o conceito de “utensilagem mental” é
Nouvelle Histoire, uma “história historicizan- retomado. O inconsciente coletivo de Jung, to-
te” – a tradicional história fatual ou événemen- mando por base os métodos da etnografia e da
tielle – pretendeu-se opor uma história nova, psicologia, também é instrumentalizado, e a
cujo cerne das preocupações eram “as massas longa duração proposta por Braudel (1986) pas-
anônimas, seus modos de viver, sentir, pensar” sa a ser o tempo central da análise histórica, re-
(Vainfas, 1997:130). velando a tendência de buscar-se a permanên-
Não resta dúvidas de que essa perspectiva cia mais do que a mudança. A unidade, a parti-
seguia os passos dos fundadores. Febvre, em cularidade, o cotidiano, entretanto, só ganham
particular, opunha, a uma história que se ati- significação quando inseridos em totalidades
nha somente às idéias e aceitava as obras cultu- explicativas que passam a ser entendidas como
rais por elas mesmas – satisfazendo-se em pen- sistemas históricos.
sar apenas em termos de suas criações, filiações Poder-se-ia, para fins meramente explicati-
e influências de estilo e corrente –, um outro vos, dizer que, nesse momento, a história das
programa, no qual as idéias, as obras e os com- mentalidades sublinha o superestrutural, to-
portamentos seriam recolocados no seio das mando-o como eixo de investigação das dife-
condições sociais dentro das quais se haviam rentes ordens sociais que se engendraram ao
formatado. Sua preocupação era compreen- longo do tempo. Não se trata, portanto, de pro-
der o conjunto dos fatos culturais de uma épo- posta focal e restrita a segmentos sociais pe-
ca enquanto componentes de um reservatório quenos, mas sim limitada às manifestações do
complexo e dinâmico de outros fatos sociais “espírito” que informam o “modo de vida glo-
em constante interação uns com os outros. Pa- bal de um povo”. Às representações sociais –
ra ele era preciso dar conta de como, no seio da como vêm sendo utilizadas pela Psicologia, pe-
mesma cultura, havia coerência que unia a obra la Sociologia e pela Antropologia voltadas ao
mais elaborada e o comportamento mais co- estudo da saúde e da doença – a história das
mum. Por isso, para ele, o conceito central é o mentalidades contrapõe um volume abundan-
de “utensilagem mental” (“outillade mental”), te de objetos e abordagens. A questão das re-
ou seja, o conjunto de categorias de percepção, presentações sociais, em caráter qualitativo ou
concepção, expressão e ação que estruturam a conceitual, só ganharia contornos mais preci-
experiência tanto individual como coletiva. sos a partir da “erupção” da chamada história
Embora fosse apressado e anacrônico, po- cultural.
der-se-ia ver nesse conceito, ainda parcamente O que caracteriza essa nova corrente de
explorado pela disciplina da História, uma de- produção historiográfica é o repúdio ao con-
limitação sinônima ao que atualmente é deno- ceito de mentalidade, considerado vago, amol-
minado representações sociais, sobretudo na dável e parco para dar conta das interações en-
área dos estudos ligados à história das doen- tre o social e o mental. Porém, a aceitação de
ças. Como acentua Revel (1986), para os histo- temas caros às mentalidades, tais como, o coti-
riadores da história das mentalidades, ele pos- diano, o popular, o repúdio sistemático à histó-
sui conteúdo manifestamente empírico e aber- ria das idéias, o recurso à micro-história desde
to, “mas, que em todo caso vai além do que cha- que articulada a uma história global, são ele-
maríamos hoje em dia de sistemas de represen- mentos componentes de ambas, levando cor-
tações visto que inclui a língua, os afetos ou retamente autores como Vainfas (1997) a dizer
também as técnicas” (Revel, 1986:451). E não só que, em certo sentido, a história cultural nada
por isso, porém, outrossim, pelo fato de Febvre mais é que novo nome para aquilo que era co-
nunca haver manifestado preocupação com nhecido como história das mentalidades na
um real passível de apreensão via representa- década de setenta.
ção e, sim, com a compreensão deste por meio Uma diferença, todavia, faz-se presente e é
da ciência histórica, cuja tarefa seria a de arti- importante ressaltá-la para os fins aqui pro-
cular as manifestações de uma cultura às con- postos, porque talvez seja a que mais traz, para
dições de sua possibilidade, como acesso à a historiografia, a problemática da representa-
compreensão da unidade e da particularidade. ção social, dotando-a, desta vez, de contornos
A força que a história das mentalidade iria mais precisos. Essa diferença é a preocupação
adquirir a partir da década de 70, influencian- em pensar as classes sociais, o conflito, a hie-
do toda uma geração de historiadores, em que rarquização e a estratificação, não aceitando
pese as diferenças de enfoque e propostas, que as mentalidades diluam as diferenças, pois
marca uma espécie de retorno a Febvre. Tendo unem o conjunto social.
Se, por um lado, o postulado da diluição é Certeau (1988), que instiga o historiador a cen-
refutado, em autores como Ginzburg (1987), trar-se na análise precisa e cuidadosa das prá-
por intermédio da noção de “circularidade de ticas pelas quais os homens e as mulheres do
idéias”, baseada em Mikhail Baktin, por outro, passado apropriaram-se, cada um de sua ma-
em outros historiadores, como Chartier (1990), neira, dos códigos e lugares sociais a eles im-
esta dicotomia é uma falácia, uma vez que as postos, ou subverteram-se a eles, para criar no-
classes só poderiam ser delimitadas no âmbi- vas formalizações.
to interno da produção e consumo culturais Através da implementação, na pesquisa his-
(Vainfas, 1997). tórica, destes dois conceitos, sobressaltando a
Inventariando as contribuições de autores prática em ambos, é que Chartier (1990) pro-
como Febvre e seu contemporâneo Panofsky pugna pelo que chama de História Cultural,
(1967), acrescidas da sociologia de Elias (1994) definindo seu objeto como “identificar o modo
– em especial, as reflexões apresentadas em como em diferentes lugares e momentos uma
seu livro A sociedade dos indivíduos – e do pen- determinada realidade social é construída, pen-
samento de De Certeau (1988) acerca do ofício sada, dada a ler” (Chartier, 1990:16-17).
de escrever a História, Chartier defende a pro-
cura do social ligada às diferentes utilizações
do equipamento intelectual disponível. Seu A história cultural de Chartier e os
conceito de cultura é plural e ele a entende co- estudos relativos à saúde e doença
mo prática, sugerindo que, para estudá-la,
duas categorias são importantes: representação Agora já se pode traçar algum paralelo, no âm-
e apropriação. bito do campo da saúde e da doença, entre tais
A noção de representação defendida por proposições e aquelas de Herzlich (1992), uma
Chartier (1990, 1997), conforme suas próprias vez que ambas objetivam a identificação das
palavras, relaciona-se aos trabalhos de Marin noções e valores mediante os quais os homens
(1993) a respeito das representações de poder, formam e dão sentido às suas experiências or-
articulando-se a três níveis da realidade: pri- gânicas individuais, da mesma forma que, so-
meiro, ao nível das representações coletivas, bre essa base, elaboram uma realidade social
que incorporam, nos indivíduos, as divisões do coletivamente compartilhada.
mundo social e organizam os esquemas de per- Em que pese as diferenças de concepção,
cepção pelos quais esses indivíduos classifi- com Herzlich (1992), assumindo mais estrita-
cam, julgam e agem; segundo, ao nível das for- mente o preceito durkheimiano de “pensamen-
mas de expressão e de estilo de identidade que to social” e/ou “representação coletiva” e Char-
os indivíduos ou grupos esperam sejam reco- tier (1990), conferindo maior importância às
nhecidas e, ao cabo, ao nível da delegação a re- noções de “configuração” (instrumentalizada
presentantes – indivíduos singulares, institui- também por Herlizch) e de “hábito social” aos
ções ou instâncias abstratas – da coerência e da moldes desenvolvidos por Elias (1994) (com
estabilidade das identidades assim afirmadas base em Durkheim, mas tingido pelo pensa-
(Chartier, 1997). mento freudiano), para melhor tentar equacio-
Quanto à problemática da apropriação, nar a relação indivíduo/sociedade, o inegável,
dentro do entendimento do autor, ela tem por em ambos, é que o conceito de representação
escopo uma história social das representações, social opõe-se àquele de mentalidades exata-
remetidas as suas determinações fundamen- mente por partir da diversidade, do embate e
tais que são sempre sociais, institucionais e do conflito, em suma, da “epistemologia da di-
culturais, tal como inscritas nas práticas espe- ferença”, conforme já foi apontado.
cíficas que as produzem. Na realidade, trata-se Retomando, entretanto, o viajar pela escrita
de prestar atenção às condições e aos proces- da história e a utilização das representações
sos concretos determinantes das operações de sociais dentro de parâmetros conceituais explí-
produção de sentido, reconhecendo que as in- citos, cabe registrar que a proposta de Chartier
teligências, em oposição ao que pensava a his- (1990) encontra resistências e críticas, pois, co-
tória das idéias, não são descarnadas, e que, ao mo aponta Vainfas (1997), da maneira como é
contrário das formar de pensar postulantes de formulada, permite uma leitura que só dá sen-
um sujeito universal, há um processo de indi- tido ao social no terreno das práticas culturais,
viduação não homogêneo através dos tempos, na medida em que os grupos e as classes só ad-
portanto, não redutível a um eu ou a um nós quirem identidade por via das configurações
contemporâneos (Chartier, 1990). Como pode intelectuais que constróem, a partir de uma
ser constatado trata-se de uma epistemologia realidade sempre entendida como passível de
da diferença, aos moldes propostos por De ser analisada, pois sempre representada.
Mas, esse tipo de crítica não é novidade presentações, agora adjetivadas de sociais,
nem apanágio das clivagens nos domínios da conteúdo de conceito metodológico novo.
História. No terreno da Sociologia, autores do
porte de Bourdieu, Paseron & Chamboredom
(1968) já assinalavam o risco de recair em um Concluindo
relativismo pouco producente em função de
aceitar-se, sem questionamento, a validade do No sentido de oferecer elementos que possam
conceito de representações sociais, pois isso funcionar como sinais de alerta ao uso crítico
implicaria tacitamente em crer-se na transpa- e direcionado das representações sociais, vi-
rência absoluta dos sujeitos sociais. Assim, a sando, sobretudo, às pesquisas na área da his-
uma sociologia reflexiva opor-se-ia uma “so- tória, sociologia e antropologia interessadas
ciologia espontânea”, a qual, baseada na apre- no estudo das manifestações socioculturais a
ensão imediata dos discursos individuais, so- respeito da saúde e da doença, elencou-se – à
breporia atitudes, opiniões, aspirações aos prin- guisa de conclusão –, tendo por base os auto-
cípios explicativos do funcionamento de uma res citados ao longo desse estudo que apresen-
ordem/organização, quando o movimento con- tam conceituação precisa de representação
trário seria o mais producente em termos de social, aspectos a serem tomados como prin-
produção sociológica. cípios metódicos a qualquer trabalho que pre-
A questão das representações sociais é bas- tenda usar essa noção.
tante controversa e seu uso diversificado. Con- Os primeiros princípios a serem pontuados
tudo, a recorrência a ela não pode ser ignora- referem-se a considerações gerais e resgatam
da, tendo em vista seu emprego já estabelecido os fundamentos à instrumentalização das re-
por autores da psicologia social, como Mosco- presentações sociais em qualquer campo de
vici (1972), da antropologia ligada ao campo da estudo que se queira aplicá-las. De acordo com
saúde (Williams, 1990; Good & Good, 1993), da a revisão bibliográfica realizada, são eles:
sociologia voltada às questões contemporâ- 1) as representações sociais não são o soma-
neas do adoecer (Herzlich, 1992; Adam & Herz- tório das representações individuais, da mesma
lich, 1994; Morris, 1998) e, no que tange à his- maneira que a representação individual não se
toriografia, de autores como Chartier que, já reduz à atividade cerebral que a fundamenta. As
nas últimas duas décadas deste século, lhe au- representações sociais constituem uma realida-
fere contornos precisos. Tanto a controvérsia de que se impõe ao indivíduo (Herzlich, 1991);
quanto a diferenciação não são motivos sufi- 2) as dependências recíprocas que unem os
cientes para abandoná-las como princípio nor- indivíduos uns aos outros são a matriz formati-
teador das pesquisas na área das ciências so- va da sociedade, devendo o mundo social ser
ciais, mormente aquelas articuladas ao estudo pensado como uma rede de relações. Este con-
das visões acerca de saúde e doença, construí- ceito de configuração, agregado ao de habitus,
das pelos homens e mulheres que vivem em pode ser definido como “grafia social” que ca-
um mundo cada vez mais medicalizado e, em da indivíduo, por mais diferente que seja do
conseqüência, no qual as biotecnociências ten- outro, compartilha com os demais membros
dem a ser valorizadas na qualidade de meio ex- de sua sociedade (Elias, 1994:150-151) e são
cepcional de acesso a verdade. O que cabe é chaves para não se incorrer em ligação mecâ-
proceder de maneira crítica, refletindo quanto nica entre uma representação coletiva e uma
ao conteúdo que está se dando a elas e de que conduta individual específica;
maneira estão sendo instrumentalizadas. 3) não reduzir as práticas que constróem o
Assim, há distinção entre as especialidades mundo social à racionalidade que governa os
dentro da História, aqui rascunhadas, que a discursos. A lógica que comanda as operações
partir da década de sessenta referem-se às “re- que constituem as instituições, dominações e
presentações” e aquela que explicita uma no- relações não é a mesma lógica hermenêutica,
ção precisa, como a de História Cultural, de- logocêntrica e escritural que produz os discur-
fendida por Chartier, em que pese as críticas sos, não podendo a eles ser reduzida (Chartier,
que lhe possam ser feitas. A segunda, tal qual 1997);
as primeiras remete-se, sem dúvida, à mesma 4) as representações sociais não são apenas
episteme que emerge no século XVII, ou seja, à esforço de formulações mais ou menos coeren-
noção de representação como meio de conhe- tes de uma específica forma de saber, mas tam-
cimento (Foucault, 1999), só que, com base ne- bém são interpretação e questão de sentido
la e em nome dela, nomeia e reivindica explici- (Herzlich, 1991);
tamente os elementos e fatores específicos a 5) os processos pelos quais os discursos
serem considerados na análise, dando às re- soerguem interesses ou fatos são socialmente
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