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Curso: Eng.

De Produção

Disciplina: Planejamento Estratégico

Prof. José R. Maia

DE ONDE VIRÁ O TRABALHO?

Por Prof. Silvio Meira FGV/RJ

o problema dos números de emprego de julho, 1.555.298 demitidos e


1.397.393 contratados, é muito mais grave do que a subtração dos dois,
que dá uma perda de 157.905 postos de trabalho no mês, o pior resultado
da história dos dados [coletados desde 1992]. é muito provável que a
intersecção entre os conjuntos de demissões e contratações, comparando
os CPF, seja pequena. inclusive quando se considera múltiplos meses na
equação… o que pode significar que vai haver muita gente desempregada
por muito tempo.
No ano, até julho, o país perdeu 494.386 empregos. em 12 meses,
perdemos 778.731 vagas. e isso quando o brasil precisa criar cerca de
1.500.000 novas vagas líquidas por ano, até 2020, só para absorver a
população que está atingindo a idade de trabalhar [segundo a OIT].
faça as contas: nos últimos 12 meses, não criamos, no total, perto de 2.3
milhões de empregos. se 2015 continuar como vai, será um deficit de 2.5
milhões de postos de trabalho no ano. e 2016 não aponta para nada
melhor. é muito provável que uma crise social de severas proporções
esteja batendo à porta. mesmo que eu e você estejamos empregados,
desemprego em larga escala afeta todos, inclusive os que estão
trabalhando. se vier a se tornar um problema crônico entre os mais
jovens, então… o caldo para tensões e crises sociais está formado. isso
sem falar de milhões de adolescentes desempregados, em situação de
risco, potencialmente à disposição para atividades de alto risco.
enquanto isso, depois de negar o problema por anos, pois que ele estava
se instalando desde a crise de 2008, artificialmente transformada numa
marolinha… o governo federal e os políticos no poder começam a descer
do altar e reconhecer que temos problemas. sim, temos problemas, e não
é de agora. e eles são muito mais graves do que os políticos de plantão
estão querendo reconhecer. e, sim, não há solução para o problema
dentro do arcabouço no qual ele foi criado.
o mito do desenvolvimento baseado quase só no mercado interno é parte
do nosso problema. se origina numa visão limitada de mundo, que desde a

ditadura vargas gera políticas


de substituição de importações ou de “conteúdo nacional”. os
negócios sustentados por tais esquemas estão fadados ao fracasso, como
agora, atrelados à sorte dos vôos de galinha do consumo interno. sem
investimento estrutural em educação -que é a infraestrutura das pessoas,
que são o substrato lógico dos negócios- energia, comunicações, vias
terrestres, marítimas, ferroviárias, aéreas… -que são a infraestrutura física
do país, e o substrato concreto dos negócios-, o nosso negócio, como país,
parece ser uma aposta eterna em que tudo vai dar certo, que todas as
estrelas hão de se alinhar e nós seremos os escolhidos para vencer. não é
bem assim que acontece. não é assim que tem acontecido, e vez por
outra, com essa linha de pensamento, rola um 7 a 1. até porque não há
como evitar: veja, ao lado, onde está a infraestrutura brasileira, entre 148
países analisados no global competitiveness report [2013/2014]. se não
acreditar, pegue uma rodovia federal por aí. e boa sorte.
ou nós trabalhamos para resolver muitos dos nossos problemas
estruturais ou não teremos tantos empregos como deveríamos ter no
curto, médio e longo prazos. e isso, como já se disse, terá consequências
não triviais. até porque podemos estar no ponto de partida de uma
revolução a mais, derivada das ondas de inovação em TICs, que já duram 5
décadas. depois de hardware [anos 70, medindo numa escala de
penetração econômica, e não de disponibilidade nos
laboratórios], software [anos 80, idem], redes [anos 90; a internet
comercial é de 1995], móvel [anos 2000, o iPhone é de 2007] e de internet
das coisas [esta década], há claras evidências de que podemos estar no
começo de uma revolução de robótica. se for verdade, isso quer dizer que
a indústria que sobreviverá será cada vez mais automatizada, porque terá
que ter mais qualidade e performance a custos mais baixos, porque
objetos produzidos pela indústria, quer ela queira ou não,
são commodities, hoje.
dados da inglaterra [entre 1871 e 2011] mostram que, no longo prazo, as
mudanças causadas por novas tecnologias criam mais trabalho do que

destroem. acontece que,


na maior parte deste período, os ingleses estavam à frente do processo
global de destruição criativa; desde o século 17, já tentavam estabelecer
um regime de ampla competição industrial interna, com variados graus de
sucesso. a revolução industrial não foi “só” uma mudança econômica, mas
uma transformação social radical, que levou dezenas de anos para se
estabelecer. seus resultados são tão dramáticos quanto: trabalhadores
braçais eram 23.7% da força de trabalho em 1871, contra 8.3% em 2011,
queda de quase 2/3, ao mesmo tempo em que professores, profissionais
de saúde e de cuidados pessoas saíram de 1.1% para 12.2%, um múltiplo
de 11 no período. houve muita gente que conseguiu, face ao período de
tempo em que o trabalho braçal foi se extinguindo, sair de um para outro
trabalho que exigia força física. mas é bem provável que as condições e a
remuneração relativa de tal trabalho tenha piorado mesmo no curto
prazo, de lá pra cá.
enquanto isso, aqui, a indústria enfrenta, primeiro, um problema de
conteúdo: a intensidade tecnológica do que a indústria brasileira
produz [o conhecimento embutido nos seus produtos] está caindo há duas
décadas, como mostra o gráfico abaixo.
esse é mais um daqueles índices que o governo de plantão, qualquer que
seja, costuma refutar, dizendo algo como “é claramente impossível que o
brasil esteja abaixo da jordânia em complexidade industrial”. claro que é.
em tese. mas a avaliação é independente e, mesmo com seus problemas,
se a gente aparecesse em sexto lugar, logo abaixo da suécia [dois milhões
de habitantes a menos do que a cidade de são paulo; gasto em educação,
como porcentagem do PIB, igual ao brasil;complexidade industrial 18
vezes maior], haveria fogos em brasília. país semi-desenvolvido tende a
rejeitar todas as avaliações em que sai mal na foto. fato.
o maior sucesso comercial do brasil, alardeado aos quatro ventos internos
e externos, é o agronegócio. sabe quanto é o agronegócio no PIB
brasileiro? olhe a foto abaixo, tirada em algum lugar do cerrado e se
pergunte quantos trabalhadores estão envolvidos nela. mais ou menos de
50? pois é. negócios de classe global, no campo, não geram emprego. não
é de lá que vai vir a solução para geração dos postos de trabalho que o
futuro do país precisa.
em números redondos, o agronegócio responde por cerca de 5.5% do PIB
nacional em 2014; era 7.5%, há dez anos. no mesmo período, a indústria
caiu de 30 para 23.5%; dentro do setor industrial, a parte de
transformação [fábricas, em oposição construção civil, por exemplo] caiu
de 18% para menos de 13%. e serviços cresceu quase 5% no período, para
71%. nos empregos formais do país, quem emprega quantos? dos cerca
de 50 milhões de empregos formais de 2013, o agronegócio empregava
3%, a indústria [incluindo construção civil], 24% e serviços, 73%.
considerando apenas transformação, a indústria representava 16% do
emprego formal em 2013.
é razoável assumir que, por mais que o agronegócio brasileiro cresça, não
é ele que vai gerar empregos de qualidade, formais ou não, na quantidade
que o país precisa; afinal de contas, só há cerca de 1.5 milhão de postos de
trabalho por lá, hoje, que é o que precisamos por ano, a mais. também é
razoável assumir que, em função de novos e melhores níveis de
automação no campo, tal número de empregos diminuirá, ao invés de
aumentar. nos EUA, a fração de empregos em agricultura é, hoje, 1.6% da
força de trabalho e a previsão é de 1.2% em 2022. vamos nos preparar,
então, para perder empregos no campo. e nas fábricas?… bem, nos EUA,
hoje, a indústria gera perto de 16% do emprego. aqui, são 8 pontos
percentuais a mais. mesmo se a gente olhar só as fábricas, são mais de 5
pontos a mais. e eles estão prevendo uma queda de 30% do trabalho fabril
por lá até 2022. má notícia pra quem, aqui, acha que vai gerar mais
emprego nas fábricas brasileiras, dentro das amarras de falta de
competitividade -estruturais, diga-se de passagem, que o país tem hoje e
que, se tudo correr como parece, podem piorar muito no futuro próximo.
onde é que o emprego vai aumentar nos EUA [e na inglaterra, e no
mundo]? no setor de serviços. nos EUA, vai chegar em 80.1% de todo o
trabalho em 2022.
o setor de serviços, nos EUA e inglaterra, fala inglês. é muito mais educado
e tem uma infraestrutura muito melhor do que o brasil. em parte, provê
serviços para o mundo. como, no caso dos EUA, de quase todo o software
que eu e você usamos. a apple não é uma empresa de hardware. ela não
fabrica nada. o mesmo vale para google. ambas são serviços que
desenham produtos e serviços; os abstratos eles mesmo implementam, os
concretos alguém -competitivo globalmente- faz para eles, para o mundo,
para nós. com a marca deles. o mesmo vale para facebook, salesforce,
microsoft, amazon… e quem mais você pensar. a inglaterra é a capital
dos serviços financeiros globais e o centro da revolução de serviços
financeiros inovadores baseados em TICs [procure por #fintech]. e, só pra
você ter uma ideia, cerca de seis bilhões de pounds [ou R$33B] foram
investidos em pesquisa e desenvolvimento no reino unido, em 2013, por
agentes externos ao país. pesquisa realizada para terceiros, mundo afora,
como serviço. funciona, lá. e emprega um monte de gente. compare tal
feito com esta entrevista da suzana herculano-houzel e as dificuldades de
manter um laboratório no brasil. eu conheço o problema de perto, vivi
décadas na academia, ainda estou lá. é um inferno.
a índia descobriu o setor de serviços de conhecimento há décadas. e criou
e implementou uma política de serviços globais de, e intensivos em
software que, hoje, representa 32% de todas as suas exportações. a índia
exporta mais serviços do que os EUA, em porcentagem do total de
negócios com o exterior. e mais que 3 vezes o total do brasil. e agora eles
decidiram que vão fabricar coisas. e que a indústria deles será tão
competitiva como a da china. pra começar, a foxconn [maior empregador
privado chinês] está prometendo investir US$5B em 12 fábricas que
empregariam até 1 milhão de pessoas até 2020. na índia, a indústria é
31% do PIB. hoje. imagina se o tal do make in india dá certo.
enquanto isso, o brasil tem uma política industrial de informática [tocada
no ministério de ciência e tecnologia, que nunca teve poderes de fato para
tal…] desde 1972 que, até aqui, gerou… déficits de dezenas de bilhões de
dólares anuais balança comercial. só nos últimos três anos foram mais de
US$100 bilhões. a razão? não há quase nenhum produto [no setor de TICs]
brasileiro competitivo globalmente. e não há quase nenhum “desenho”
brasileiro, pensado aqui, que possa ser feito da china [ou qualquer outro
lugar] para o mundo e gerar resultados para seus criadores brasileiros. e,
pra cereja do bolo, não há nada, desenhado no mundo, que possa ser
feito no brasil, para o mundo, a menos que situações cambiais altamente
favoráveis [?] depreciem o real de tal forma que se compense as múltiplas
fontes de falta de competitividade nacional.
somando tudo o que já foi dito… conclui-se que [a menos que alguém
tenha dados e provas em contrário] estamos numa grande enrascada.
deitados sobre o berço nada esplêndido de uma política industrial da
ditadura vargas [1937-1945], atrelada a uma legislação trabalhista da
mesma era, remendada até se tornar cada vez menos consistente e cada
vez mais um empecilho à competitividade do trabalho brasileiro, ela
mesma apenas uma pequena parte do imenso emaranhado legal nacional,
que ainda conta com o precioso auxílio de nossa histórica falta de
educação e infraestrutura, associadas a um estado sofre de problemas
estruturais de incompetência na formulação de políticas e estratégias, de
gestão, operação, governança, contratação, acompanhamento e
avaliação… e que ainda assim consome 40% do PIB… temos tudo para dar
errado.
só falta perdermos o resto da década lembrando o passado [e getúlio, e
outros populistas] e peronizando o país, deixando de gerar 10 milhões de
postos de trabalho, achando que o mundo inteiro está errado e, no fim,
todos vão entender que somos nós que estamos certos, e que todos
devem se alinhar ao nosso nível de ineficiência, ineficácia e
incompetência, em geral, para serem tão felizes como somos [quase
empatados com os EUA!… mas vá ver onde está o méxico, lá…]. e deixar
essa coisa de performance e competitividade pra lá. afinal, pra que tudo
isso?
sei não. em algum lugar, tem uma armadilha no parágrafo anterior. nossa
sorte é que o mercosul, este arranjo supostamente econômico é um corpo
sem espírito, segundo o ministro mangabeira unger, é uma espécie de
rede de zumbis. se uma argentina acordasse de seu pesadelo histórico,
resolvesse se tornar o que poderia ser, o que até já foi, iria passar a perna
na gente de uma hora pra outra. mas, como getúlio e perón pareciam
acreditar que “vencer não era superar os inimigos e sim adaptar-se ao
ambiente”… vai ver nosso negócio é se adaptar ao contexto que aí está. e
ver o que acontece. e quem não estiver afim que se mude. brasil, ame-0
[como é] ou deixe-o [como está]. não sei porque eu acho que isso
[também] não vai dar dar certo. nunca deu. principalmente para a galera
que verdadeiramente ama o lugar e sabe que deixá-lo como está não é
uma opção a ser considerada.

o desenvolvimento industrial liderado pelo estado, na ditadura vargas e


depois, quando o brasil talvez não tivesse outro meio para criar uma base
industrial, não pode ser considerado um erro. a china fez o mesmo. o erro
é insistir numa política que dá sinais de exaustão há décadas e que,
mesmo assim, é seguida como se tivesse sido trazida da montanha como
tábuas da lei, a nunca serem desobedecidas. tanto quanto negar o valor e
resultado de avaliações independentes, sejam quais forem, os países
semidesenvolvidos tendem a 1. não entender o que está acontecendo e o
que vai acontecer [como e ao mesmo tempo do que os desenvolvidos] e,
mesmo quando entendem, 2. começam a agir sobre o contexto que
deveriam ter visto em 1. tarde demais [ou nunca] e quase sempre na
forma de alguma lei e, por fim, 3. persistir na ação tardia e, aí, imutável
porque lei, quase impossível de mudar dentro de seus emaranhados
legais, mesmo quando os agentes que provocaram a ação já deixaram de
fazê-la há muito, porque descobriram outros objetivos e formas e meios
de chegar lá.
sob tal ótica, não foi um erro criar uma estatal de petróleo. erro, parece
claro, é a petrobrás 1. continuar estatal [sem qualquer mecanismo
acompanhamento, avaliação e responsabilização, como sabemos agora]
e 2. focada em petróleo e não em energia [do que petróleo é uma
pequena parte, com boa probabilidade de desaparecer nas próximas
décadas]. vargas acertou. quem errou foram todos os que tiveram a
oportunidade, desde então, de redefinir o modelo e o papel da petrobrás
e não o fizeram.
o mesmo vale para os correios: o nosso, estatal, teve um lucro de
R$9.9 milhões em 2014 [depois de uma manobra contábil para esconder
um provisionamento de R$1.08 bilhões]; seu fundo de pensão, aparelhado
por um partido político, tem um rombo de R$5.6 bilhões [que será pago
pela empresa e trabalhadores]; o correio inglês, privado, dá lucro [R$3,7
bilhões, o último], competindo até na entrega de cartas. faz o mesmo que
o correio estatal fazia, e mais. quem serve melhor à sociedade?…
os nossos correios ou o royal mail?
e por aí vai. não são estatais como os correios, petrobrás e eletrobrás que
hão de criar os empregos que precisamos. muito menos estatais focadas
no mercado interno. ou indústrias [privadas!…] de substituição de
importações. ou mesmo indústrias de classe global: estas, cada vez mais
automatizadas, tendem a gerar, como já vimos, menos, e não mais
empregos. para um ponto de vista interessante sobre o tema, leia Why
Are There Still So Many Jobs? The History and Future of Workplace
Automation.
pra terminar, que já se disse muito, parece que há uma saída, pelo menos:
tornarmo-nos muito competitivos em serviços de classe global. isso vai
levar tempo e depende de muitas mudanças por aqui, a começar por
educação. como é uma política e estratégia de longo prazo, não vai ser
resolvida no mandato de A, B ou C. não será política de partido ou de
governo; para funcionar, tem que ser de estado, de sociedade. e longo
prazo, aqui, é décadas. umas duas ou três, que é o tempo que se gasta
para montar e operar um sistema educacional de classe global. coisa que a
gente não está fazendo agora. e que, pra cada dia, mês e ano que a gente
atrasar… vai levar duas ou três décadas a partir do dia em que a gente
começar, a sério e de uma vez por todas. é daí que virá o trabalho e os
empregos do futuro.

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