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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 2
CONCLUSÃO...................................................................................................................... 9
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 10
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INTRODUÇÃO
Portanto será analisado o desejo do homem do barco sobre a ótica de Lacan, desde
o início do conto ao encerramento, sempre enfatizando a importância do desejo como
peça essencial para a construção do eu no indivíduo.
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O conto retrata a história de um homem do povo que foi à porta do rei fazer-lhe um
pedido inusitado que movimenta todas as esferas burocráticas vigentes no palácio, queria
um barco, e não um qualquer, o seu tinha que ser capaz de navegar mar afora para achar
ilhas desconhecidas (desejo). O rei a princípio não atendeu à solicitação (primeiro dava
ordem ao primeiro-secretário para ir saber o que queria o impetrante, este chamava o
segundo-secretário, que chamava o terceiro, que mandava o primeiro ajudante, que por
sua vez mandava o segundo, e assim até chegar à mulher da limpeza, a qual não tinha
ninguém para mandar), mas dessa vez foi diferente, o autor do pedido insistiu em
permanecer na soleira da porta das petições por três dias seguidos, então o rei achou
melhor sair da porta dos obséquios e ir pessoalmente resolver o assunto.
O objetivo era ter um barco para viajar em busca da ilha desconhecida e o homem
estava determinado em alcançar e foi convicto em responder ao rei o que queria.
Aspirantes à liberalidade do trono que por ali andavam e a mulher da limpeza do palácio,
espiavam este corajoso homem que deixara o rei desconcertado fazendo-o sentar-se na
cadeira de palhinha da mulher da limpeza. Ninguém acreditava que havia alguma ilha
desconhecida, visto que todas já estavam nos mapas e pertenciam ao rei, no entanto,
resolveram intervir a favor do homem, mais para se verem livres dele do que por
solidariedade. O rei preocupado com o tempo que estava perdendo, concordou em dar-
lhe o barco, mas sem a tripulação. Assim que o homem partiu, a mulher da limpeza
resolveu sair pela porta das decisões, que é raro ser usada (quebra), e seguir o homem até
o porto. Ele nem desconfiava que já levava atrás de si uma tripulante. Chegando ao porto
pediu que o capitão lhe desse um barco que ele respeitasse e pudesse respeitá-lo para levá-
lo em busca de sua ilha desconhecida, onde nunca ninguém já tenha desembarcado e que
ele reconhecerá e saberá qual é quando lá chegar. O capitão deu-lhe um barco com
experiência, ainda do tempo em que toda a gente andava a procura de ilhas desconhecidas.
sossego dos seus lares e da boa vida para se meterem em aventuras oceânicas, à procura
de um impossível. Mas o homem insistia em alcançar seu objetivo, desejava encontrar
esta ilha, sabia que ela existia, assim como sabe que o mar é tenebroso, apenas não a
conhecia, e quando nela estivesse sairia de si e saberia quem realmente era, porque às
vezes, é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não sairmos de nós
mesmos.
Tinha-lhe desejado felizes sonhos, mas foi ele quem levou toda a noite a sonhar.
Sonhou que a sua caravela ia ao mar alto, abrindo caminho sobre as ondas, enquanto ele
manejava a roda do leme e a tripulação descansava à sombra. Buscou com os olhos a
mulher da limpeza e não a viu, e ele bem sabia, embora não entendesse como, que ela a
última hora não quis embarcar, porque pensava que ele só tinha olhos para a ilha
desconhecida, e não era verdade, agora mesmo os olhos dele estavam a procurá-la e não
a encontravam. Os marinheiros resolveram descer na primeira terra povoada que lhes
apareceu, o homem do leme assistiu a debanda em silêncio, não fez nada para reter os que
o abandonavam. Acordou abraçado à mulher da limpeza, e ela a ele, confundidos os
corpos, e ao nascer do sol o homem e a mulher foram pintar na proa do barco, em letras
brancas, o nome que ainda faltava dar a caravela. Pela hora do meio-dia, com a maré, A
Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma.
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O ser humano é desejo de desejos para Lacan. Esta é a sua natureza ontológica
essencial, o desejo não é apenas uma propriedade imaterial importante, porém
contingente, que o ser humano pode ter ou não. O ser de desejo é um fato proveniente de
achar-se o sujeito como indivíduo-em-relação, como um dos nós de uma grande rede, co-
partícipe de uma “sociedade de desejos se desejando mutuamente como desejos”. Ser “ser
humano” é ser mediatizado pelo desejo de um outro que se refere ao mesmo objeto.
Portanto, a propriedade imaterial que define o humano não se acha, segundo o raciocínio,
no seu interior, guardado na sua cabeça, como parte da sua mente, mas no lado de fora,
no encontro com o outro.
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E para ilustrar a busca pela completude, pelo desejo, pelo outro na qual o homem
vive até o suspiro final. Saramago cria a metáfora O Conto da Ilha Desconhecida (1998),
no conto há momentos de profundidade que aparentam superficialidade. Os personagens
são muito mais um retrato de suas funções sociais do que de suas características físicas.
Assim, o personagem principal, o desbravador de ilhas, é caracterizado apenas como o
homem que queria um barco, o homem que tinha um barco ou o homem do leme, e a sua
companheira como a mulher da limpeza, mas no decorrer da história, a aparente
simplicidade dos personagens se contrasta com a profundidade de seus pensamentos
(desejos), o homem sem nome vai à porta das petições do palácio, persistentemente,
requerer do rei, um barco para ir à procura de uma ilha desconhecida, Quando o rei
desconcertado por causa do “atrevimento” do homem, senta na cadeira de palhinha usada
pela mulher da limpeza, que era muito mais baixa e desconfortável que o trono, passa a
haver uma igualação do rei com um homem do povo, representado aí pelo homem do
barco. O homem estava diante de uma ordem social pronta para dizer não, mas ele
apresentou bons argumentos e no momento em que o rei disse que não daria o barco, ele
com firmeza e convicção falou: “Darás”.
dirigido a outro desejo: o desejo não deseja por si só, senão como “desejo do desejo do
outro”. Este desejo, tomado em si mesmo, antes de sua satisfação, conforme vemos
abaixo:
Talvez não seja possível completar o seu desejo, mas devemos ter o desejo vivo,
mesmo diante de um naufrago, porque chegar sempre se chegar, Segundo Saramago, é
preciso acreditar que ainda existem ilhas a serem descobertas, ainda que só se consiga
chegar nela em sonho (ou seja, uma ilusão romântica). É cómodo viver o conhecido, o
novo é assustador (a busca e/ou concretização do desejo), é preciso ousadia para encarar
o desconhecido, que às vezes somos nós mesmos… O livro mostra que talvez não
tenhamos tanta certeza sobre quem somos e que, por esse motivo, é importante tomar uma
atitude rumo ao autoconhecimento, mesmo que para a busca e/ou concretização do desejo
seja necessário dar um primeiro passo num sonho que parece impossível.
“Pensou ela que já bastava de uma vida a limpar e a lavar palácios, que tinha
chegado à hora de mudar de ofício, que lavar e limpar barcos é que era sua
vocação verdadeira, no mar, ao menos a água nunca lhe faltaria”
(SARAMAGO, 1998, p.24).
facto de mais ninguém, além da mulher da limpeza, ter concordado em fazer parte da
tripulação na busca da ilha desconhecida.
Assim no conto as adversidades são necessárias para que nos tornemos aptos para
obter a concretização deste sonho e possamos ancorar em porto seguro. Todos estes
fatores que vão das adversidades até o “navegar para o além do real” permite a
aproximação entre o “homem do barco” e a “mulher da limpeza”, “Acordou abraçado à
mulher da limpeza, e ela a ele, confundidos os corpos” (SARAMAGO, 1998, p.62), pois
do sonho surge o amor, e do amor à força para enfrentar os pesadelos. A partir daí os dois
passaram não somente a fazer descobertas exteriores, mas foi o começo da descoberta de
si mesmo. Sabiam eles, agora, que um completaria o outro, que a compreensão das
verdades mais profundas, escondidas na alma (como uma ilha) seriam possíveis. Tanto
assim é, que eles nomearam o barco que o rei havia lhes dado de “Ilha Desconhecida”, e
está se lançou enfim ao mar, a procura de si mesma, mostrando que ainda havia muitas
descobertas a serem feitas.
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CONCLUSÃO
O desejo pelo desejo não pode findar-se pelo medo de arriscar, de lançar-se ao mar
para navegar, de sair da zona de conforto, é exatamente isso que é identificado no conto,
é necessário avançar para vida buscando alcançar seus objetivos e metas, às vezes tão
próximas, contudo, não enxergamos por nossa “incapacidade” pessoal de percepção do
desconhecido. Assim é possível assinalar no conto a formação de uma identidade aberta
que é percebida como possibilidade de criação de novas identidades, produzindo sujeitos
capazes de articular um processo coletivo, que reclama por transformações sociais num
futuro indefinido
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REFERÊNCIAS
NASIO, (1993) Cinco lições sobre a teoria de Jacques Lacan. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar