Вы находитесь на странице: 1из 11

COMPARAÇÃO DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DE MISTURAS SOLO-CAL

EM RELAÇÃO AO CRITÉRIO DE DOSAGEM DO ADITIVO

Matheus Francisco da Silva


Alisson Alberto de Lima Medeiros
Eric Paolo Borelli
Ana Paula Furlan
Universidade de São Paulo
Escola de Engenharia de São Carlos

RESUMO
Este artigo apresenta um estudo comparativo do comportamento mecânico de dois solos de mesma classificação
(HRB, USCS e MCT) estabilizados com porcentagens de cal determinadas por critérios distintos (normalizado e
arbitrário). Um solo argiloso laterítico foi coletado na cidade de Dois Córregos/SP. Para este solo, a dosagem de
cal foi feita de acordo com as recomendações do método do pH (ASTM D6276). Foi realizado o ensaio de
resistência à compressão simples e os resultados foram comparados com os obtidos por outra pesquisa, para um
solo com a mesma classificação, estabilizado com teores de cal escolhidos arbitrariamente. A comparação
indicou valores de resistência consideravelmente inferiores para o solo de Dois Córregos em relação ao outro
solo. Esse solo também demonstrou baixo acréscimo de resistência quando estabilizado com cal. Pôde-se
concluir que o método do pH não representa corretamente o teor ótimo de cal para solos característicos de
regiões tropicais.

ABSTRACT
This paper presents a comparative study of the mechanical behavior of two soils with the same classification
(HRB, USCS and MCT). They were stabilized with percentages of lime determined by different criteria
(standardized and arbitrary). A clayey lateritic soil was collected in the town of Dois Córregos/SP. The
percentage of lime to be added to this soil was determined by the pH method (ASTM D6276). The unconfined
compressive strain tests were performed and the results were compared with the finds of another research, for a
soil with the same classification stabilized with amounts of lime arbitrarily chosen. The comparison has shown
considerably lower strength values for Dois Córregos’ soil in relation to the other soil. This soil has also
demonstrated a low increase in strength when lime was added. It could be concluded that pH method does not
represent correctly the optimum amount of lime for tropical soils.

1. INTRODUÇÃO
A pavimentação caracteriza-se por ser uma atividade que utiliza recursos naturais não
renováveis como solos e agregados. Com o objetivo de promover uma economia nos gastos
relativos ao transporte de materiais e uma redução na exploração de novas jazidas, adota-se o
consumo dos materiais marginais à obra. No entanto, as características dos solos podem variar
muito ao longo do traçado de uma rodovia e, não raro, apresentar qualidades técnicas
indesejáveis para ser utilizado como material nos pavimentos.

Para viabilizar a utilização desse material, aplicam-se técnicas de estabilização de solos. Tais
técnicas consistem na alteração das propriedades de resistência e compressibilidade do solo
original a partir de um processo físico ou químico. As modificações conduzem à formação de
um novo material capaz de atender melhor aos requisitos de projeto (INGLES & METCALF,
1972; SANTANA, 1983).

Entre as técnicas de estabilização química de solos, pode-se citar a adição de cal hidratada
como uma das mais utilizadas na pavimentação. Quando a cal é adicionada ao solo, dá-se
início a uma sequência de reações químicas, que resultam em alterações imediatas. Outras
reações são processadas de forma lenta, o que atribui à estabilização de solos com cal uma
parcela de ganho de resistência imediato e outra ao longo do tempo. As reações podem ser
divididas em quatro grupos de mecanismos de atuação da cal no solo: trocas catiônicas,
floculação e aglomeração, carbonatação e reações pozolânicas (THOMPSON, 1966).

As reações de trocas catiônicas e de floculação e aglomeração constituem a parcela de reações


imediatas do solo-cal. A primeira é resultado de uma concentração de cátions Ca++ criada pela
adição de cal ao solo, promovendo uma aproximação das partículas de argila. As reações de
floculação e aglomeração ocasionam a aglutinação das partículas finas do solo. Essas duas
reações imediatas são responsáveis por mudanças na textura dos solos, bem como melhorias
de plasticidade, trabalhabilidade e resistência (THOMPSON, 1966; TRB, 1987; MALLELA
et al., 2004).

Além disso, as reações imediatas conduzem a um aumento da umidade ótima (wo) e a uma
redução da massa específica seca (ρd) das misturas. Este é um comportamento típico em solos
estabilizados com cal, confirmado em trabalhos como os de Maior et al. (1983), Silva Júnior
(2010) e Talluri et al. (2013).

Nas misturas solo-cal existem duas reações que são processadas de forma lenta: as reações
pozolânicas e a carbonatação. As reações pozolânicas são descritas como reações que ocorrem
entre a cal, água e a sílica e/ou alumina dos solos em meio alcalino, formando compostos
cimentantes. Esses compostos consolidam-se e promovem a cimentação das partículas de
argila vizinhas, aumentando a resistência e a durabilidade da mistura. Por último, a
carbonatação é a reação em que o dióxido de carbono presente no ar reage com a cal,
formando um carbonato inerte, que pode ser danoso às reações pozolânicas no solo (TRB,
1987; LITTLE, 1995; GUIMARÃES, 1997; MALLELA et al., 2004).

Estudos realizados com misturas solo-cal possibilitaram a elaboração de diversos métodos de


dosagem para a determinação do teor ótimo de cal. Segundo Little (1995), essa variedade
reflete uma necessidade de adequação das propriedades buscadas na mistura solo-cal às
especificidades de projeto de regiões diferentes. No entanto, pela inviabilidade técnica em
elaborar um método de dosagem adequado ao solo regional, muitos projetos adotam métodos
de dosagem populares, ainda que haja a possibilidade de algumas discrepâncias na resposta
mecânica das misturas.

No Brasil, os métodos de maior utilização no processo de dosagem da cal no solo são: método
de Thompson (1966), método de Eades e Grim (1966) e método do ICL (Initial Consumption
of Lime). Uma prática que também deve ser ressaltada é a adoção arbitrária do valor da
porcentagem de cal. Essa escolha baseia-se em experiências anteriores com solos
semelhantes, normalmente de mesma classificação.

O método de Thompson é um procedimento de dosagem baseado no ganho de resistência da


mistura solo-cal em relação ao solo natural. As misturas são compactadas nos parâmetros
ótimos (wo e ρdmáx), variando-se as porcentagens de cal. Após um período de 28 dias de cura a
21°C (cura em condições normais, não acelerada), as amostras são submetidas ao ensaio de
resistência à compressão simples (RCS). O menor teor de cal que conduzir a amostra a um
ganho de 345 kPa de RCS em relação ao solo natural será o teor ótimo (TRB, 1987; LITTLE,
1995).

O método de Eades e Grim tem como objetivo encontrar a porcentagem de cal suficiente para
que o solo satisfaça a capacidade de troca catiônica da mistura solo-cal e mantenha o pH
alcalino e concentração livre de Ca++ para as reações pozolânicas. Para isso, são realizados
testes de pH em soluções contendo solo com teores de cal variando de 2 a 6%. O menor teor
de cal que resultar em um pH de 12,4 é o teor ótimo (LIMA, 1981; TRB, 1987; LITTLE,
1995). O método do ICL, proposto por Rogers et al. (1997), é uma variação do método de
Eades e Grim. O teor ótimo de cal obtido nesse método é a mínima porcentagem do aditivo
que resulta em um valor de pH máximo e constante.

Existem algumas vantagens e desvantagens relacionadas aos métodos descritos. Por ser um
procedimento baseado no ganho de resistência da mistura, a vantagem do método de
Thompson está em ser um bom indicador da possibilidade de reação da cal com o solo. A
desvantagem da aplicação deste método encontra-se no tempo gasto com a cura da mistura
solo-cal para determinar o teor ótimo. Os métodos baseados na avaliação do pH das misturas
(Eades e Grim e ICL) apresentam a vantagem de rápida determinação do teor ótimo de cal. A
desvantagem, está na ausência da avaliação do ganho de resistência (TRB, 1987).

Métodos de dosagem baseados na avaliação do pH das misturas possuem uma desvantagem


específica para solos de regiões tropicais e subtropicais. De acordo com Hardy (1970) apud
Little (1995), os teste de pH podem não representar o teor ótimo de cal. Segundo o mesmo
autor, solos dessas regiões demandam maiores teores de cal para que ocorra uma
maximização da resistência da mistura que os solos de regiões temperadas. A ausência de
normas que padronizem a dosagem de cal para solos tropicais pode conduzir a um
desempenho mecânico insatisfatório de misturas solo-cal.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
Apresentam-se os procedimentos laboratoriais utilizados para alcançar os objetivos da
pesquisa, que estuda a variação do comportamento mecânico de misturas solo-cal dosadas por
critérios diferentes.

Para o desenvolvimento da pesquisa, buscou-se selecionar um material com características


típicas de solo tropical, com jazidas próximas a São Carlos. A partir de uma busca no banco
de dados de Takeda (2006), foi selecionado um solo de comportamento laterítico, com
características semelhantes às do solo utilizado por Silva Júnior (2010). A coleta foi realizada
no km 6 da rodovia SP-225, na cidade de Dois Córregos, São Paulo. Depois de coletado, o
solo foi seco ao ar até atingir a umidade higroscópica, passado na peneira nº 4 (4,8 mm),
homogeneizado e quarteado.

Foi utilizada uma cal hidratada do tipo CH-III, que possui uma concentração de hidróxidos de
cálcio na faixa de 65 a 78%. A escolha desse tipo de cal é justificada pela sua disponibilidade
no mercado e aplicação em obras rodoviárias. Na pesquisa, foram utilizados equipamentos
como: prensa hidráulica, cilindros metálicos para moldagem dos corpos de prova, pHmetro e
prensa com anel dinamométrico para os ensaios mecânicos.

O programa experimental foi dividido em três fases: caracterização e classificação do solo,


dosagem da cal e execução dos ensaios de compressão simples (RCS). Adicionalmente,
realizou-se a comparação dos resultados obtidos nos ensaios mecânicos com os apresentados
em Silva Júnior (2010).
2.1. Caracterização e classificação do solo
Foram realizados os ensaios de determinação da massa específica dos sólidos segundo a
norma NBR 6508. A análise granulométrica conjunta foi realizada segundo a norma NBR
7181, e a determinação dos limites de consistência segundo a norma NBR 6459. Os resultados
desses ensaios permitiram a classificação segundo o Sistema Unificado e HRB (Highway
Research Board).

Para a identificação do caráter laterítico do solo, aplicou-se a metodologia MCT segundo os


procedimentos da norma DER/SP M196-89. Na determinação da umidade ótima (wo) e da
massa específica seca máxima (ρdmax), foram realizados ensaios de compactação. Estes
ensaios foram feitos na energia Proctor normal de acordo com a norma DER/SP M13-71.

2.2. Dosagem da cal e compactação Proctor da mistura


A quantidade de cal a ser adicionada ao solo foi obtida através da norma ASTM D6276 Using
pH to estimate the Soil-Lime Proportion Requirement for Soil Stabilization. Essa norma é
baseada no método do pH de Eades e Grim e tem como objetivo definir o teor ótimo de cal no
solo que resulte em um pH de 12,4. Se a mistura apresentar valores de pH acima de 12,4, o
teor ótimo será a porcentagem mínima de cal a partir da qual os valores de pH se estabilizam.

Definido o teor ótimo de cal, realizou-se o ensaio de compactação Proctor na energia normal
para definir os parâmetros de compactação (wo e ρdmáx) da mistura solo-cal, necessários na
moldagem dos corpos de prova.

2.3. Moldagem dos corpos de prova


Os solos foram inicialmente manuseados na umidade higroscópica, para as amostras a serem
estabilizadas, foi adicionada uma porcentagem de cal referente ao teor ótimo obtido pelo
método do pH. Tanto o solo natural quanto o solo-cal receberam água suficiente para atingir o
teor de umidade desejado, no caso o wo com uma margem de erro de ± 0,5%. Os materiais
foram homogeneizados e logo em seguida a moldagem dos corpos de prova foi realizada.

As dimensões dos corpos de prova foram estabelecidas de acordo com o ensaio de


compressão simples, respeitando a relação 2:1. Foram produzidos corpos de prova com 10 cm
de altura e 5 cm de diâmetro, moldados em três camadas. A compactação foi realizada de
forma estática, produzindo três corpos de prova para cada condição.

Após a compactação, os corpos de prova foram desmoldados e suas massas e dimensões


foram determinadas. O controle de compactação adotado respeitou um desvio de ± 1% em
torno de um grau de compactação de 100%. Os corpos de prova foram embalados com filme
plástico e armazenados em câmara úmida, a fim de preservar a umidade até que fossem
ensaiados.

A fim de verificar a variação da resistência das misturas solo-cal ao longo do tempo,


moldaram-se corpos de prova para períodos de 0, 7 e 28 dias de cura. No total, foram
compactados 18 corpos de prova (9 imersos e 9 não imersos). A Figura 1 mostra as etapas da
moldagem na seguinte sequência: prensa hidráulica, cilindros metálicos, corpo de prova e
ensaio de resistência à compressão simples (RCS).
Figura 1: Moldagem dos corpos de prova e ensaio RCS

2.4. Ensaios mecânicos


O ensaio de RCS dos corpos de prova foi realizado à deformação controlada numa velocidade
de 1,27 mm/min. A resistência à compressão simples foi calculada a partir da Equação 1.

(1)

Onde,
RCS = Resistência à compressão simples [MPa];
F = Força máxima de compressão [N];
g = Aceleração da gravidade, adotada 9,81m/s²;
D = Diâmetro do corpo de prova.

O ensaio de RCS também foi realizado para corpos de prova que passaram por um período de
imersão de 4 horas. Esse período de imersão prévia foi adotado em conformidade com outras
pesquisas realizadas no Departamento de Transportes da EESC/USP como os trabalhos de
Silvestre Júnior (2002) e Oliveira (2005).

A análise estatística dos resultados dos ensaios de RCS foi realizada de acordo com o teste de
Grubbs (1969) para identificação de outliers. O teste consiste na aplicação da média
aritmética e do desvio padrão dos resultados no cálculo de um valor estatístico (G) para
detectar os outliers. Quando a identificação é feita, o valor considerado como outlier é
eliminado e o teste é aplicado novamente, até que não existam mais outliers na amostra.

2.5. Comparação com resultados de Silva Júnior (2010)


Os resultados dos ensaios mecânicos foram comparados com os de Silva Júnior (2010), que
estudou um solo argiloso laterítico de granulometria com predominância de partículas finas,
estabilizado com teores de cal adotados com base em experiências de pesquisas anteriores. O
autor utilizou uma cal do tipo CH-III para a estabilização. No controle de compactação,
considerou uma variação de ±0,5% na umidade ótima e ±1% no grau de compactação. A
análise estatística foi realizada em conformidade com o teste de Grubbs (1969).

A Tabela 1 mostra as características do solo utilizado por Silva Júnior (2010), como o limite
de liquidez (LL), o limite de plasticidade (LP), o índice de plasticidade (IP) e sua classificação
pelos sistemas HRB, USCS e MCT. A utilização de um solo de mesma classificação e de
procedimentos laboratoriais semelhantes tornam a utilização dos resultados de Silva Júnior
(2010) uma escolha viável na realização da comparação do comportamento mecânico das
misturas.
Tabela 1: Caracterização e classificação do solo utilizado por Silva Júnior (2010)
LL [%] LP [%] IP [%] wo [%] ρdmáx [g/cm³] HRB USCS MCT
49 30 19 23,5 1,549 A-7-5 ML LG'

3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1. Caracterização e classificação do solo


O solo coletado na cidade de Dois Córregos (SP-225) apresentou uma granulometria com
predominância de partículas finas. A análise dos índices de plasticidade (LL = 49% e LP =
32%) indicou que o solo é altamente plástico (IP > 15%). A partir dos resultados dos ensaios
de massa específica dos sólidos, análise granulométrica conjunta e limites de consistência, foi
possível classificar o solo de acordo com os sistemas HRB e USCS. Segundo o sistema HRB,
o solo foi classificado como A-7-5 (grupo dos solos argilosos); e de acordo com o sistema
USCS, foi classificado como ML (Silte).

Os ensaios para a classificação MCT conduziram aos coeficientes c’ igual a 2,03 e e’ igual a
0,70, o que classifica o solo como LG’, solo argiloso laterítico. Os ensaios de compactação
Proctor na energia normal resultaram em uma umidade ótima de 21,1% e uma massa
específica seca máxima de 1,662 g/cm³. A Tabela 2 apresenta os resultados para o solo da
SP-225.

Tabela 2: Caracterização e classificação do solo de Dois Córregos (SP-225)


LL [%] LP [%] IP [%] wo [%] ρdmáx [g/cm³] HRB USCS MCT
49 32 17 21,1 1,662 A-7-5 ML LG'

Os resultados da caracterização e classificação dos solos indicam que, apesar da pequena


diferença entre os parâmetros de compactação (wo e ρdmáx) entre o solo da SP-225 e o solo
utilizado por Silva Júnior (2010), ambos são altamente plásticos (IP > 15%) e possuem a
mesma classificação nos sistemas HRB, USCS e MCT. Esta constatação contribui para a
representatividade da comparação realizada neste estudo, pois se os solos possuem as mesmas
classificações, há uma tendência maior em apresentar comportamentos mecânicos
semelhantes.

3.2. Dosagem da cal e compactação Proctor da mistura


O solo LG’ da SP-225 foi dosado através do método do pH (ASTM D6276-99a). A curva pH
versus porcentagem de cal são apresentadas na Figura 2.
Figura 2: Dosagem da cal no solo SP-225

Pode-se notar, na Figura 2, que o teor ótimo de cal é 4%, uma vez que a partir desse valor o
pH se estabiliza. A mistura de solo LG’ com 4% de cal foi submetida ao ensaio de
compactação Proctor na energia normal. A umidade ótima (wo) obtida foi de 22,8% e a massa
específica seca máxima (ρdmáx) foi de 1,585 g/cm³. Em concordância com os registros da
literatura técnica, ocorreu um acréscimo da wo e o decréscimo da ρdmáx em relação ao solo
natural.

3.3. Ensaios mecânicos


Realizaram-se os ensaios de RCS no solo LG’ da SP-225 com e sem a adição de cal, nas
condições imersa e não imersa. Os resultados foram comparados com os obtidos por Silva
Júnior (2010) para um solo de mesma classificação.

3.3.1. Resistência à compressão simples


Os resultados do ensaio de RCS para o solo da SP-225 com 4% de cal nos períodos de cura
imediata e 7 dias são apresentados na Figura 3 a). Para o mesmo período de cura, a Figura
3 b) apresenta os valores obtidos por Silva Junior (2010) para um solo LG’ estabilizado com 5
e 10% de cal.

Figura 3: RCS para (a) misturas com solo da SP-225 e (b) solo LG’ de Silva Junior (2010)

Analisando as figuras, é possível notar que, para o solo estabilizado com 4% de cal houve um
decréscimo de resistência em relação ao solo sem aditivo. No entanto, esse fato não é
observado para as misturas da Figura 3 (b), onde se verifica um acréscimo imediato de RCS
em relação ao solo natural. Pode-se notar também, aos 7 dias de cura, que uma maior
porcentagem do aditivo levou a um maior valor de RCS. O solo LG’ com 10% de cal
apresentou, aos 7 dias, uma RCS em torno de 77% maior que a RCS do solo natural; enquanto
o solo com 5% de cal apresentou um valor 68% maior que o solo natural. Teores crescentes
de cal fornecem maiores concentrações de cátions Ca++, possibilitando a continuidade das
reações na mistura. Portanto, ao realizar essa comparação entre as porcentagens de cal e os
respectivos valores de RCS apresentados pelas misturas, levanta-se a hipótese de que o teor de
cal obtido pelo método do pH seja insuficiente na manutenção dessas reações.

A Figura 4 apresenta o efeito do período de cura nas misturas de solo LG’ da SP-225 com 4%
de cal e de solo LG’ com 10% de cal. Verifica-se, no período inicial de cura (0 a 7 dias), que
houve um acréscimo de 64% e 16% no valor de RCS para as misturas LG’+10% e LG’+4%,
respectivamente.

Figura 4: RCS ao longo do período de cura

Para o período de 7 a 28 dias, o acréscimo no valor de RCS foi de 3% para a LG’+10% de cal
e de 18% para a LG’+4% de cal. Ainda que haja uma taxa crescente na mistura com 4% de
cal, nota-se que o desenvolvimento do acréscimo de RCS é consideravelmente inferior
quando comparado aos resultados de Silva Júnior (2010). Ao final dos 28 dias de cura, a
mistura de solo LG’ com 10% de cal apresenta seu valor máximo de RCS, sendo 78% maior
quando comparado ao valor máximo da propriedade na mistura LG’ + 4% (28 dias de cura).
Esses fatos ajudam a corroborar a hipótese anteriormente levantada de que o teor de cal obtido
pelo método do pH não é suficiente para o desenvolvimento adequado das reações no solo-
cal.

Os baixos incrementos de RCS na mistura LG’ + 4% (SP-225) evidenciados pelo ganho de


resistência apresentado em Silva Júnior (2010) para um solo análogo, estabilizado com 10%
de cal, concordam com as afirmações de Hardy (1970) apud Little (1995) de que o método do
pH é pouco recomendado para solos tropicais e que estes nescessitam de teores altos de cal
para maximizar sua resistência.

Foram realizados os ensaios de RCS após imersão de 4 horas a fim de verificar se as amostras
da mistura de solo LG’ da SP-225 com 4% de cal apresentavam alguma parcela de
cimentação, dada a irreversibilidade das reações pozolânicas. A Figura 5 apresenta os valores
de RCS para corpos de prova com e sem imersão, para as seguintes condições: solo (LG’)
natural (sem adição de cal) e LG’ com 4% de cal em períodos de 0, 7 e 28 dias de cura.. O
solo natural e a mistura LG’+4% desintegraram-se durante a imersão, com isso, pode-se
inferir que a sucção do solo foi responsável pela sua resistência não imersa.

Figura 5: RCS imerso e não imerso da mistura com solo LG’ (SP-225)

Analisando a Figura 5, pode-se verificar que a imersão conduziu a uma redução de 50% no
valor de RCS para os períodos de 7 e 28 dias de cura. Mesmo que a redução tenha sido
considerável, o resultado indica que metade da resistência apresentada pela mistura é oriunda
da cimentação promovida pelas reações pozolânicas. Essa constatação apoia-se no fato de que
para o período de cura imedata, onde não ocorrem reações pozolânicas, a resistência da
mistura à imersão é nula.

Outra observação importante é que no solo natural, onde não há reações cimentantes, pode-se
dizer que sua resistência é composta basicamente de parcelas coesivas e de sucção. A coesão
é afetada na presença excessiva de água, assim como a parcela de resistência ligada à sucção
matricial. A presença da parcela de resistência ligada à sucção matricial pode ser responsável
pelos valores superiores de RCS do solo natural comparado ao solo estabilizado com cal. No
entanto, para comprovar essa suposição seriam necessários ensaios de sucção para determinar
a intensidade desta componente da resistência.

4. CONCLUSÕES
Este artigo teve por objetivo comparar o comportamento mecânico de misturas solo-cal frente
a diferentes critérios para escolha do teor ótimo, no caso, dosagem através do método do pH e
determinação arbitrária baseada em experiências anteriores.

Pode-se concluir que as misturas que tiveram seus teores de cal determinados de acordo com
experiências anteriores demonstraram um comportamento mecânico consideravelmente
superior ao da mistura com teor de cal obtido pelo método do pH. Os valores de RCS
apresentados por Silva Júnior (2010) também aumentaram conforme o acréscimo de cal (5 a
10%).

Na variação do período de cura, ao comparar as misturas LG’ + 10% e LG’ + 4% (SP-225),


foi possível notar acréscimos de RCS ao longo do tempo. No entanto, para a mistura LG’ +
10%, o aumento foi maior. Aos 28 dias de cura, o solo estabilizado com 10% de cal
demonstrou um valor de RCS 78% maior que o estabilizado com 4% de cal.

Os resultados da imersão dos corpos de prova da mistura LG’ + 4% indicam a ocorrência de


reações pozolânicas, porém com baixa intensidade. A desintegração do solo natural quando
imerso levanta a hipótese de que uma parcela de sua resistência está ligada à sucção matricial,
o que poderia explicar os valores superiores de RCS do solo sem aditivo.

De uma forma geral, o estudo evidenciou que a porcentagem de cal obtida no método do pH
não foi suficiente para suprir a necessidade de cátions Ca++ do solo, prejudicando o
desenvolvimento das reações por falta de cátions e ambiente alcalino. Portanto, o estudo está
em concordância com as afirmações de Hardy (1970) apud Little (1995) de que o método do
pH pode não retornar o teor ótimo de cal em solos tropicais e que esses mesmos solos
necessitam de maiores teores de cal para maximizar suas resistências.

É possível também concluir que, em regiões com solos tropicais, a aplicação de métodos de
dosagem que não são baseados no ganho de resistência da mistura deve ser feita
cautelosamente, pois existe a possibilidade de que o teor de cal obtido não represente a
porcentagem de cal que maximizará a resistência da mistura.

Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e
à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo auxílio financeiro concedido, e ao
programa de pós-graduação do Departamento de Transportes EESC/USP.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT (1984a) NBR 6508 – Grãos de Solo que Passam na Peneira de 4,8 mm – Determinação da Massa
Específica. Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
ABNT (1984b) NBR 6459 – Solo – Determinação do Limite de Liquidez. Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Rio de Janeiro.
ABNT (1984d) NBR 7181 – Solo – Análise Granulométrica. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
Janeiro.
ABNT (1986) NBR 7182 – Solo – Ensaio de Compactação. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
Janeiro.
ASTM (2006) D6276-99a – Standard Test Method for Using pH to Estimate the Soil-Lime Proportion
Requirement for Soil Stabilization, Philadelphia, USA.
DER/SP (1971) M13-71 – Ensaio de Compactação de Solos. Departamento de Estradas de Rodagem de São
Paulo, São Paulo.
DER/SP (1989) M196-89 – Classificação de Solos Tropicais Segundo a Metodologia MCT. Departamento de
Estradas de Rodagem de São Paulo, São Paulo.
Eades, J. L. e R. E. Grim (1966) A Quick Test to Determine Lime Requirements for Lime Stabilization.
Highway Research Record, n. 139, p. 61-72.
Guimarães, J. E. P. (1997) A Cal: Fundamentos e Aplicações na Engenharia Civil. Pini, São Paulo.
Grubbs, F. E. (1969) Procedures for Detecting Outlying Observations in Samples. Technometrics, v. 11, p. 1-21.
Ingles, O. G. e J. B. Metcalf (1972) Soil Stabilization: Principles and Practice. Butterworths, Melbourne,
Australia.
Lima, D. C. (1981) Algumas Considerações Relativas a Aspectos da Estabilização dos Solos, em Particular à
estabilização Solo-Cal (Dissertação – Mestrado em Geotecnia). Universidade de São Paulo, São Carlos.
Little, D. N. (1995) Handbook for Stabilization of Pavement Subgrades and Base Courses with Lime. Lime
Association of Texas, Austin, USA.
Maior, I. S.; H. C. Ferreira e F. B. Talluri (1983) Influência do Tipo de Cal (Calcítica ou Dolomítica) na
Estabilização de Solos Lateríticos. Anais da 18ª Reunião Anual de Pavimentação, ABPV, Porto Alegre,
v. 2, p. 519-532.
Mallela, J.; H. V. Quintus e K. L. Smith (2004) Considerations of Lime-Stabilized Layers in Mechanistic-
Empirical Pavement Design (Final Report). National Lime Association, Arlington, USA.
Oliveira, S. M. F. (2005) Estudo do Comportamento Mecânico de Misturas de Fosfogesso e Cal para Utilização
na Construção Rodoviária (Dissertação – Mestrado em Transportes). Universidade de São Paulo, São
Carlos.
Rogers, C. D. F.; S. Glendinning e T. E. J. Roff (1997) Lime Modification of Clay Soils for Construction
Expediency. Geotechnical Engineering, v. 125, p. 242-249.
Santana, H. (1983) Pontos Básicos e Elementares da Estabilização Granulométrica. Anais da 18ª Reunião Anual
de Pavimentação, ABPV, Porto Alegre, v. 2, p. 417-462.
Silva Júnior, W. S. (2010) Estudo para a Utilização de Resíduo da Fabricação de Papel na Construção
Rodoviária (Dissertação – Mestrado em Transportes). Universidade de São Paulo, São Carlos.
Silvestre Júnior, O. B. (2002) Fosfogesso Estabilizado com Cimento para Aplicação na Construção Rodoviária:
a Influência do Tipo de Cimento na Resistência e Deformabilidade da Mistura (Dissertação – Mestrado
em Transportes). Universidade de São Paulo, São Carlos.
Takeda, M. C. (2006) A Influência da Variação de Umidade Pós-Compactação no Comportamento Mecânico de
Solos de Rodovias do Interior Paulista (Tese – Doutorado em Transportes). Universidade de São Paulo,
São Carlos.
Talluri, N.; A. J. Puppala; B. C. S. Chittoori; A. H. Gaily; P. Harris (2013) Satbilization of High-Sulfate Soils by
Extended Mellowing. Transportation Research Record, v. 2363, p. 96-104.
Thompson, M. R. (1966) Lime Reactivity of Illinois Soils. Journal of the Soil Mechanics and Foundations
Division, v. 92, n. SM5, p. 67-92.
TRB (1987) Lime Stabilization: Reactions, Properties, Design and Construction (State of the Art Report 5).
Transportation Research Board, Washington, USA.

Вам также может понравиться