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NATAL/RN
2017
Introdução
a consciência histórica não é algo que os homens podem ter ou não – ela é algo
universalmente humano, dada necessariamente junto com a intencionalidade da vida
prática dos homens. […] A razão disso está no fato de que, nos atos da vida humana
prática, há permanentemente situações que deve ser processadas, com as quais não
se está satisfeito e com respeito às quais não se descansará enquanto não forem
modificadas. (RÜSEN, 2001, p. 78)
[…] a tipologia delineada lida com tipos “ideais”, em outras palavras, como um
construto teórico, que significa que a lógica afetando a significação histórica do
fenômeno empírico da consciência histórica pode ser tornada aparente, e essa lógica
é ainda uma (mais ou menos complexa) combinação dos quatro elementos. (RÜSEN
apud CERRI, 2011, p. 103)
Com efeito elucidativo empírico das duas dimensões da problemática aqui abordadas,
isto é, tanto a de sentido histórico quanto a questão identitária e significativa, relatamos e
analisamos a seguir uma experiência vivenciada na nossa prática profissional.
Ao fim do ano letivo de 2016, tive a oportunidade de propor que algumas de minhas
turmas avaliassem nossas aulas de história, na medida em que o tempo e o frenesi das
atividades de fins de ano nos permitiram. O questionário foi bastante simples – se tratava de
três questões abertas sobre o ano de aulas de história, com os seguintes descritores: que bom!
(no qual os alunos apontariam os pontos positivos das aulas), que pena... (para as críticas e
pontos negativos das aulas) e que tal? (destinado a sugestões para o ano letivo seguinte).
Conseguimos aplicar esta atividade em sete turmas de cerca de trinta alunos cada,
sendo três de 3ª série, três de 1ª série e uma de 2ª série do ensino médio, abarcando, portanto,
as três séries do ensino médio. De modo geral, mesmo admitindo-se a possibilidade de
manutenção do anonimato para o preenchimento do questionário, a maioria deles (mais da
metade), não teceram críticas substanciais sobre as aulas. Contudo, entre os questionários que
figuraram críticas às aulas de história, as mais recorrentes foram: problemas/dificuldades com
a “matéria” de história e o que nos referiremos como verbalismo do professor (“o professor
fala demais!”). Para esta seção de nosso texto, nos atentemos para o primeiro problema
elencado.
Dentre os questionários que apontaram como crítica às aulas de história a dificuldade
com a própria disciplina não podemos afirmar categoricamente que se tratam das dificuldades
conceituais em nível de consciência histórica exploradas na seção anterior – os limites
argumentativos dos alunos e a falta de direcionamento dos descritores do questionário nos
impedem de fazer tal inferência. Porém, esses mesmos questionários que apontavam em suas
respostas dificuldades com o conhecimento histórico em si também apontaram, ora como
elogio, ora como sugestão, os momentos das aulas nos quais o uso da palavra era
descentralizado da figura do professor e os conteúdos passavam a ser conduzidos articulados
às suas realidades concretas. Aqui sim, pode-se perceber a dimensão de orientação para a vida
prática que o amadurecimento da consciência histórica pode contribuir.
Além dessa faceta ruseninana, esses apontamentos dos alunos dialogam também com
a perspectiva apontada por Paulo Freire no decorrer de suas obras, marcadamente na
Pedagogia do Oprimido (1987) e na Pedagogia da Autonomia (1996). Segundo o autor,
Não é possível o diálogo entre os que negam aos demais o direito de dizer a palavra
e os que se acham negados deste direito. É preciso primeiro que os que assim se
encontram negados no direito primordial de dizer a palavra reconquistem esse
direito, proibindo que este assalto desumanizante continue. (FREIRE, 1987, p. 108)
Como educador, devo estar constantemente advertido com relação a este respeito
que implica igualmente o que devo ter por mim mesmo. Não faz mal repetir
afirmação várias vezes feita neste texto – o inacabamento de que nos tornamos
conscientes nos fez seres éticos. O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é
um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros.
(FREIRE, 1996, p. 25)
Juventude e Identidade
Há uma tendência entre nós, professores, de assumir uma posição estática diante do
ensino de conceitos, tratando-os como definições verbais prontas, que podem ser
encontradas nos dicionários e nos livros. Aí reside muito do verbalismo vazio que
permeia as aulas de História, resultando ora na passividade dos alunos, ora na sua
resistência ativa frente à disciplina. É preciso considerar que conceitos são
essencialmente esquemas de ações, não informações que se possam incorporar
externamente, somando-se dados da realidade. (CAIMI, 2006, p. 24)
Endente-se, portanto, que não se trata de delegar aos alunos a prática de produção do
conhecimento histórico tal qual se faz na academia – é evidente que o rigor e os objetivos do
trato com o método histórico nessas duas situações (sala de aula e academia) são diferentes.
No caso, trata-se de contribuir para o amadurecimento da consciência histórica dos alunos
através do movimento de debruçar-se sobre as experiências humanas passadas, investigando
seus indícios, interpretando suas intencionalidades e analisando suas interferências no tempo
presente, com os olhos na tomada de decisões futuras.
Do ponto de vista técnico, pretende-se aplicar um questionário inspirado no
levantamento promovido pelo projeto Jovens e a História (2007 - 2014), coordenado por Luis
Fernando Cerri. Esse levantamento fez uso de um amplo questionário baseado na escala
Likert envolvendo o grau de entendimento de alunos e professores sobre o que é História e
outros temas correlatos. Nossa proposta seria elaborar um questionário similar, em menores
proporções, a partir do qual se pudesse identificar os tipos de consciência histórica
predominante entre os alunos, bem como o entendimento que os mesmos teriam sobre outros
temas, como juventude e direitos humanos.
As finalidades desse questionário serão basicamente duas: servir de parâmetro para a
elaboração dos objetivos, metodologia e abordagem da sequência de aulas e verificar se
haverá alteração no quadro de tipos de consciência histórica manifestados pelos alunos –
nesse caso, dentro de nossos objetivos, se haverá mudança de consciências históricas
tradicionais e exemplares para críticas e genéticas. Para tanto, será necessária a aplicação de
um questionário similar posteriormente à execução da sequência de aulas.
Finalmente, a previsão da organização temática e metodológica da sequência de aulas
ainda está em fase de amadurecimento. Antecipamos que o recorte temático e temporal
(movimentos juvenis da segunda metade do século XX no Brasil e em outros países) está
consoante com o plano anual das turmas que leciono – todas na 3ª série do Ensino Médio. É
possível que as pressões consequentes do foco que a escola em questão se pauta em preparar
seus alunos para o Exame Nacional do Ensino Médio se configure em uma dificuldade na
aplicação dessa sequência de aulas. Contudo, essas e outras questões apenas a prática poderá,
se não responder, apontar novos rumos.
Mãos à obra!
Bibliografia