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Planejamento de ensino na educação

física - Uma contribuição ao coletivo


docente
*Fabiano Bossle

A reflexão crítica sobre â prática se torna uma exigência da relação Teoria/


Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo.
(Freire, 1997)

Resumo Keywords: Physical education; Teacher effèctiveness.

O presente texto pretende refletir sobre o


tema planejamento de ensino na educação fí-
Introdução
sica, inicialmente situando-o no contexto da
educação - didática, na acepção de um uso mais O planejamento, de um modo geral, diz respeito a
abrangente, para então deslocar o olhar espe- intencionalidade da ação humana em contrapartida
cificamente sobre o âmbito da educação física ao agir alatoriamente(Luckesi, 1992), ao "fazer de
e da particularidade desta como área de co- qualquer jeito", desconsiderando um fim, um
nhecimento e disciplina na escola. Minhas objetivo, e um agir de forma organizada (os meios)
considerações ao longo do trabalho apontam para construir/atingir o resultado desejado. O
no sentido de valorizar o estudo e a pesquisa, planejamento de ensino, portanto, é uma construção
de questões didáticas/pedagógicas, como o pla- orientadora da ação docente, que como processo,
nejamento de ensino enquanto elemento organiza e dá direção a prática coerente com os
constitutivo e a ação de planejar como indis- objetivos a que se propõe. Tem que responder às
pensável ao trabalho docente coerente e com- seguintes questões: -Ao como? Com quê ? O quê ?
prometido com a educação. Para quê ? Para quem ? na forma de plano. Para que
seja possível a concretização desta atividade docen-
Descritores: Planejamento; Educação física; te, há a necessidade de uma outra instância de
Ensino. planejamento que são, o projeto político-pedagógico
e o projeto curricular, que serão norteadores da ação
docente coerente e responsável, e antecedem ao
Abstract planejamento de ensino propriamente dito.

The following text intents to reflecton the physical Na área de conhecimento da educação física, pelo
education planning theme, inicially placing it in the menos nos periódicos mais expressivos, são muito
context of didatícs-education in a wider usage, then poucos os artigos sobre o tema planejamento de ensi-
focusing specifícally on the issue in its peculiarity as a no, como mostrarei a seguir em uma revisão biblio-
knowledge fíeld and discipline at school. My gráfica que realizei, bem como, são poucos os autores
consideration through this studygoes towards valuing que escrevem livros sobre a didática da educação físi-
study and research on didatic/pedagogical matters, such as ca, e conseqüentemente sobre o planejamento de ensi-
the teaching planning as a constitutive element and no. É possível afirmar que o assunto desperta pouco
the planning action as essential to the coherent-teaching interesse na academia, e que também seria o
staff work in volved with education. planejamento uma questão "polêmica" (Molina Neto,

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O planejamento pode 1996) para os professores de suas cidades, e da organização da sociedade.
ser visto pela ótica, de, de educação física, que Para introduzir a questão do planejamento no âmbi-
inicialmente atender ainda não estabeleceram to da educação escolar, faz-se necessário, a aborda-
uma discussão sobre o
as necessidades mais gem das diferentes concepções do processo de plane-
tema?
básicas do homem jamento, de acordo com cada contexto sócio-políti-
primitivo, ao se Essas e outras questões co-econômico-cultural ao longo da história da edu-
organizar para pautam este texto, não cação escolar. Nesse sentido, Ott (1984) faz referên-
sobreviver, ou quanto no sentido de encontrar cia a três fases do planejamento. A primeira fase é a
respostas acabadas, do princípio prático sem grande preocupação for-
da necessidade de mas sim na busca de mal e, tendo como objetivo atender as atividades de
organização das uma reflexão sobre o aula exclusivamente. A Segunda é a fase instrumen-
primeiras civilizações, tema proposto, em tal, que está relacionada à uma tendência tecnicista
de suas estruturas uma perspectiva dia- de educação, como solucionar os problemas de falta
funcionais, de suas lógica de entendimento de produtividade da educação escolar, sem conside-
cidades, e da desse elemento cons- rar contudo os fatores sócio-político-econômicos. A
organização da titutivo do trabalho terceira, e última é a fase do planejamento
docente do professor participativo, que buscou na resistência ao modelo
sociedade.
de educação física. de reprodução do sistema educacional, valorizar a
construção coletiva, a participação e a formação da
consciência crítica a partir da reflexão sobre a práti-
O planejamento ca transformadora.
de ensino
Segundo Veiga Neto (1993), ao se referir a acepção
Planejamento. S.m. 1. Ato ou efeito de planejar. micro1 do planejamento da educação no Brasil, po-
2. Trabalho de preparação para qualquer demos identificar duas vertentes, uma tecnicista e
empreendimento, segundo roteiro e métodos
outra participativa ou crítica. Sendo a primeira a
determinados; planificação: o planejamento de
um livro, de uma comemoração. que pressupõe uma dada importância ao método
positivista, ou que deram (ou ainda dão?) ênfase ao
Apresentei acima a conceituação do termo pelo Di-
produto, em detrimento do processo, sendo o pri-
cionário Aurélio para inicialmente esclarecer sobre
meiro (produto) de má qualidade (Balzán, 1996). Os
o que estou escrevendo, e para mostrar que o con-
exemplos referentes a essas tendências no Brasil, são
ceito supra citado se refere ao antecipar mentalmen-
encontrados em literaturas como: "Planejamento de
te uma ação, ou um conjunto de ações a ser realiza-
Ensino e Avaliação", de Turra, et ali., 1975-1998,
da (Vasconcellos, 1995), ou seja, uma ação que visa
"Didática. Uma Introdução", de Nérici, 1985,
um fim, referida a um dado contexto a ser transfor-
"Didática Geral", de Martins, 1986. Já a segunda,
mado, de forma que o sujeito esteja comprometido
mais recente, apresenta um "compromisso com um
com a concretização do que foi elaborado. Planejar
projeto político-pedagógico progressista para a escola
faz parte do ser humano, a partir da interação com a
e a sociedade brasileiras" (Veiga Neto, 1993), pres-
natureza e com os demais seres, de identificação das
supondo uma postura crítica e participativa, de com-
necessidades e concretização das mesmas, de forma
petência e engajamento.
racional. O planejamento pode ser visto pela ótica
de, inicialmente atender as necessidades mais bási- Em relação a postura crítica, que vai em sentido con-
cas do homem primitivo, ao se organizar para sobre- trário a burocratização e aos modelos sistêmicos, o
viver, ou quanto da necessidade de organização das planejamento não pode ser encarado como ação pu-
primeiras civilizações, de suas estruturas funcionais, ramente formal, mas como uma ação viva e decisi-

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va, pois é um ato político decisório, como bem colo- mestre; o plano de unidade, que é o planejamento de
ca Luckesi (1990): um item ou tópico de um programa (unidade de tra-
balho); e o plano de aula, que nada mais é do que um
detalhamento do plano de ensino para a prática da
" O planejamento, entendido como ato político, será sala de aula.
dinâmico e constante, pois estará afeito a uma cons-
tante tomada de decisão. Não necessariamente deverá O planejamento de ensino é processual, são todas as
ser registrado em documento escrito. Poderá tão so- decisões e ações do professor na interação com o
mente ser assumidocomoumadecisãoe permanecer contexto da comunidade escolar. Portanto desta for-
na memória viva como guia de ação. Aliás, só como ma, pode ser uma programação realizada pelo pro-
memória viva ele faz sentido.Papéis eformuláriossão fessor cotidianamente, constantemente avaliado
simplesmentemecanismosderegistroefixaçãográfica como processo, e não somente em reuniões e perío-
do decidido." dos previamente estabelecidos para tal. É baseado na
relação entre a teoria e a sua prática em um contexto
determinado, que se objetiva a concretização dos
Geralmente há dificuldades no âmbito escolar, com princípios e objetivos já elaborados pela instituição
a distinção entre plano e planejamento, como forma escolar, existentes em seu projeto político-pedagógi-
de esclarecimento dos termos aqui usados. Por co. Nesse sentido, Freire (1997:44) sobre a reflexão
planejamento entendo o processo de reflexão, racio- crítica sobre a prática coloca que:
nalização, organização e coordenação da ação do-
cente, que visa articular a atividade escolar e a pro-
blemática do contexto social. Já o plano é o produto, "(...) O próprio discurso teórico, necessário à reflexão
que pode ser explicitado na forma de registro, de crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se
documento ou não. confunda com a prática."

A didática, através de diferentes autores faz distin-


ção entre os tipos e/ou níveis de planejamento. Sen-
As ações planejadas são fruto de reflexões críticas
do que por planejamento do sistema de educação,
sobre o próprio trabalho docente, quando inserido
ou educacional o que se refere as grandes políticas
em uma comunidade com características e neces-
educacionais, em nível nacional, estadual e munici-
sidades próprias a serem atendidas de forma consci-
pal, o planejamento da escola, ou seja, o projeto
ente e objetiva, assumindo em sua prática pedagógi-
educativo (político-pedagógico) da instituição, o
ca o ato da educação em seu sentido mais pleno,
planejamento curricular, que segundo Gimeno
como aro ou efeito de educar (se), considerando o
Sacristán (1998), é a função de ir formando progressi-
envolvimento e a participação dos educandos e edu-
vamente o currículo em diferentes etapas, fases, ou atra-
cadores na construção do fazer educativo e de seus
vés das instâncias que o decidem e moldam, e finali-
processos.
zando, o planejamento de ensino (objeto de estudo
deste ensaio), de ensino-aprendizagem (Vasconcellos,
1995), ou planejamento escolar (Libâneo, 1994), que
é o mais próximo da prática do professor e da sala Planejamento de ensino
de aula. O planejamento de ensino propriamente dito, - Uma revisão nos periódicos
se expressa na organização intencional do professor nacionais da educação física
para atender as necessidades do cotidiano escolar,
Com o conhecimento de que o trabalho docente exi-
pode ser subdividido em plano de disciplina, ou de
ge do professor tempo e dedicação, em função de
curso, que é o plano que se faz para um ano ou se-
todas as atividades que o envolvem, sendo

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planejamentos, aulas, reuniões, avaliações e demais Revista da F.M.U. 1994-2000
atividades da escola que sobrecarregam os professo-
res em muitas situações, e mesmo no seu cotidiano, RevistaParanaensedeEducação Física 1996-1997
sempre há que se encontrar espaço para revisar, PerspectivasemEducaçãoFísicaEscolar 1996-1997
planejar, e organizar sua prática pedagógica. A
didática, seja na formação profissional, seja na qual
nos confrontamos em nosso cotidiano, dedica-se ao
Nesta revisão nos principais periódicos no âmbito
longo dos anos, ao estudo e aprofundamento do ele-
da educação física, foram encontrados 2 artigos ape-
mento ou ferramenta planejamento de ensino, como
nas sobre planejamento, sendo "Considerações
forma de orientação, cumprindo com o seu propósi-
Organizacionais para o Planejamento Efetivo de uma
to de dar suporte e respostas baseados nos referenciais
Aula", de Ruy Jornada Krebs, referente à um progra-
teóricos sobre a prática.
ma de educação física para crianças, sobre a aborda-
Por outro lado, o planejamento de ensino no âmbito gem construtivista, explicitando os passos recomen-
da educação física é uma questão que não vem me- dados na organização, considerando os elementos
recendo a atenção dos estudiosos e pesquisadores da necessários como agrade curricular, o plano anual,
área. Digo isso em função da revisão bibliográfica os planos periódicos, planos semanais e planos diári-
que realizei na biblioteca da Escola de Educação Fí- os, de forma bastante didática e explicativa. O se-
sica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul gundo artigo encontrado foi "Planejamento
sobre o tema planejamento de ensino. Procurei nos Participativo e o Ensino de Educação Física no 2o
periódicos de maior expressão no âmbito da produ- Grau", de Walter Roberto Correia, sendo este um
ção científica da pesquisa em educação física, do relato de experiência do autor na rede pública esta-
ano de 1994 até 2000, sendo eles: dual de São Paulo sobre a organização coletiva das
aulas de educação física com um determinado grupo
de alunos, sem entrar no assunto específico do
Revista Mineira de Educação Física 1994-1996 planejamento participativo, apenas um relato.
Revista Artus 1996-1999 Ainda sobre a revisão do tema planejamento de ensi-
Revista Perfil 1997-2000
no nos periódicos de educação física, encontrei 4
resumos de apresentações em grupos de trabalhos
RevistaPaulistade Educação Física 1994-1998 temáticos do X Combrace (1997), sendo que
todos tratavam a questão do planejamento
Revista Movimento 1994-2000
pedagógico na perspectiva democrática do
Revista Brasileira de Ciências do Esporte 1994-2000 planejamento participativo, considerando a
participação como exercida na colaboração, na
Revista Motus Corporis 1998-2000 decisão e na construção em conjunto (Gandim,
1994).
Revista Motriz 1995-2000
Sobre o planejamento participativo, em uma con-
Revista de Educação Física da U.E.M. 1994-2000
cepção de aulas abertas, Cardozo (1998), considera a
Revista Kinesis 1994-2000 possibilidade da co-decisão nos níveis de planejamen to,
objetivos, conteúdos e formas de transmissão e comuni-
Revista Motnvivência 1994-1999
cação no ensino, criticando o excesso de tecnicismo
Revista Conexões 1998-1999 na área de educação física e propondo a alternativa
da flexibilidade nas decisões e ações do fazer peda-
gógico, dedicando ao planejamento considerações
importantes como a construção coletiva. Este artigo

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está inserido no livro "Didática da Educação Física- ção física e a escola. De forma alguma classifico como
1", e como propõe o título, dedica-se à reflexão do mais importante esta ou aquela abordagem, apenas
fazer pedagógico na área da educação física, contri- faço referência a quase ausência, e a necessidade de
buição essa de extrema importância para o trabalho que se desenvolvam estudos que possam contemplar
docente do professor de educação física. a prática pedagógica e a didática de ensino do licen-
ciado em educação física, bem como, do plane-
O organizador do livro supra citado, Elenor Kunz
jamento de ensino.
creio que seja um dos poucos autores da área que
demonstra interesse, atualmente, em publicar e dis-
cutir questões didáticas da educação física, como o
planejamento de ensino, por exemplo. Este autor O planejamento dos professores
faz considerações importantes sobre o movimento de educação física como uma
humano e a escola, criticando a instrumentalização atribuição "polêmica"
e reafirmando o compromisso do professor e da O planejamento de ensino, ou planejamento peda-
disciplina enquanto prática pedagógica, percebe-se gógico - o que está mais próximo da prática pedagó-
isso claramente em seus livros "Educação Física: gica e para ela desenvolvido - tem na figura do pro-
ensino e mudanças" (1991), em que faz uma com- fessor um agente privilegiado de transformação da
paração entre o planejamento de ensino e o plano realidade, relacionada ao interesse e a complexidade2
anual de dois professores de educação física, um da ação a ser desenvolvida. Por ser o trabalho docen-
da escola pública e outro da escola privada, em uma te exigente - formador - exige planejamento à altu-
concepção micro, e em uma concepção macro de ra, para evitar o que alguns autores chamam de
ensino, quando discute as Diretrizes Curriculares "improvisação ou acaso" (Gandin, 1991 — Karling,
e o planejamento para a educação física de Io grau, 1991 - Libâneo, 1994 - Gandin e Cruz, 1995 -
mostrando a importância desta para o planejamento Vasconcellos, 1995). Ao mesmo tempo, surge o
do professor, das tomadas de decisões com base questionamento dos professores em geral sobre o por
nessas referências. Já em "Transformação Didático- quê do planejamento de ensino e da sua expressão
Pedagógica do Esporte" (1994), defende o esporte escrita na forma de planos, o "planejar para quê?"
como objeto/conteúdo de uma aprendizagem sig- (Fleuri, 1987), e "porquê?" (Corazza, 1997), sendo
nificativa pela educação física escolar, e importan- que muitos professores ainda associam o plane-
te, sem que desmereça outras objetivações culturais jamento e a realização de planos como um trabalho
que integram o amplo leque de opções utilizáveis burocrático desnecessário. Nesse sentido, para
pela educação física. MolinaNeto (1996), a realização de planos para os
Considero que a baixa produção de trabalhos, e a professores de educação física:
dedicação sobre o planejamento de ensino no âmbi-
to da educação física, como um fato que mereça aten-
ção da comunidade científica, em vista da presente "(...) é possivelmente uma das tarefas pelas quais os
produção científica da área, e principalmente pelo professores de educação física divergem da cultura das
escolas. De um lado a cultura escolar opera e da forma
pouco interesse que o assunto aparentemente tem
a sua estrutura com base na escritura, por outro lado o
despertado nesta comunidade. Visto que, grande parte
coletivo, como já demonstrei, opera com a palavra
da produção científica da área se desenvolve em te- oral e a linguagem corporal. O coletivo considera a
mas que abrangem o movimento humano por um tarefa de fazer planos escritos pouco necessária e uma
viés de estudo biomecânico, cinesiológico, fisiológi- tarefa feminina."
co, postural, em detrimento dos estudos que abor-
dem questões da relação entre o professor de educa-

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De acordo com este estudo3 fazer programação O planejamento de ensino dos professores de educa-
escrita é uma questão polêmica e ..., feminina, ção física considera um objeto de estudo baseado na
como aparece na citação acima. Não vou abordar cultura corporal, não raras vezes limitado às aulas
a questão da condição feminina a que o autor se práticas. Considero que é neste ponto que este
refere dentro da escola, sendo que ele próprio clas- coletivo se difere dos demais da escola na questão do
sifica como machista, porque não é o objetivo des- planejamento de ensino, há uma "liberdade"/flexibi-
te ensaio discutir esse processo sexista dentro da lidade maior para programar e organizar sua prática
escola, necessitando outros leituras e abordagens, pedagógica, baseando-me principalmente no plano
ficando este limitado a questão polêmica do de aula (produto), em que o professor pode estabele-
planejamento de ensino/planos de aula. cer o que vai realizar naquela aula. Fica aqui caracte-
rizado um movimento do professor no ato de planejar
É ressaltado no referido estudo que o trabalho
que considero importante destacar, que é a centrali-
Para que possa haver docente do professor de zação da decisão do o quê fazer, podendo estar vin-
participação nas educação física é baseado culado aos interesses únicos do professor, descon-
no fazer, desta forma jus-
tomados de decisões, é tificando a polêmica em siderando desta forma, a participação preciosa dos
necessário ter clara a torno do ato de alunos nas decisões.
visão de processo, da construção do plane- Para que possa haver participação nas tomadas de
caminhada para jamento e de escrever decisões, é necessário ter clara a visão de processo,
atingir os objetivos, planos de aula. Considero da caminhada para atingir os objetivos, sendo que
sendo que estes devem importante questionar, estes devem necessariamente ser coerentes com o
necessariamen te ser inicialmente, que projeto político - pedagógico da escola. O coletivo
orientações sobre o precisa da referência do projeto para construir a par-
coerentes com o planejamento de ensino o
ticipação de todos, e acima de tudo, vivenciar a par-
projeto político — professor de educação
ticipação nas decisões que estabelecem os pressu-
pedagógico da escola. física tem no seu curso postos dessa educação que a escola ou instituição
de graduação, enquanto quer. A partir dessa etapa, o coletivo constrói o seu
ainda estudante, seja nas disciplinas de planejamento de ensino, quer seja o plano de curso,
metodologia do ensino da educação física, seja na de unidade ou o plano de aula, este último individu-
importante didática da educação física, com suas al, e coerente com o projeto político - pedagógico e
orientações referidas à uma teoria didática espe- o contexto escolar.
cífica à prática pedagógica da área. Ao passo que
ao longo, ou pelo menos no final do curso de gra- Considero que há por parte dos professores de edu-
duação, terá que organizar suas aulas nas discipli- cação física, descrença no planejamento de ensino,
nas de prática de ensino, podendo se defrontar manifestada por uma resistência ao colocar no papel
com dificuldades comuns às aulas improvisadas, o que se deseja. Há que se considerar a prática nega-
o que certamente, não é uma experiência positi- tiva, ou equivocada de realizar planejamento, muito
va. Dessa forma, independentemente de ser pro- comum há pouco tempo atrás nas escolas, onde os
fessor de educação física formado há pouco ou planos eram uma tarefa mecânica, para cumprir um
mais tempo, consideraria a seguinte questão: ritual de formalidade, completamente sem sentido e
freqüentemente de controle de atividades ditas como
Que concepção de planejamento de
necessárias à escola, cobrados por coordenadores,
ensino tem os professores de
orientadores e supervisores. A resistência a este dis-
educação física?
curso burocrático, foi uma prática de negação ao
planejamento, não menos equivocada e baseada no

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discurso de que planos são entregues e engavetados, claras idéias de seus objetivos e da sua responsabili-
são copiados de livros, de colegas ou de um ano para dade para concretizá-los, deve planejar adequadamen-
outro, que a prática não leva em conta o que foi te suas tarefas (Alujas, 1980). Ter clareza em relação
colocado no plano..., considerando desta forma o ao processo de construção do planejamento, dos
planejamento como desnecessário. meios para atingir os fins, da coerência com o proje-
to político - pedagógico, do contexto sócio -
Penso que aconteça também o que chamaria de
econômico - cultural - político e da participação
"vício" do professor de educação física na ques-
coletiva nas tomadas de decisões.
tão do planejamento de ensino, que é o fato de
considerar que seu tempo de experiência como Considerar que o professor de educação física planeja
professor substitui o planejamento, e que o mes- sua ação docente diferente, porque não escreve, mas
mo é para quem está começando a dar aulas. Pen- mentaliza simplesmente o que vai fazer, é no meu
so que a experiência seja importante para qual- entender, uma das considerações sobre a possibili-
quer ação humana, na medida em que se já nos dade e a necessidade de estudo referente a particula-
defrontamos com aquela situação, já temos ele- ridade dessa programação, seja em nível de planos
mentos a considerar para reconstruir nossa ação de aula, sem desconsiderar os demais níveis de
e consequentemente, atingir os objetivos a que planejamento de ensino -plano de curso e de unida-
nos propusemos. Acrescentamos elementos, não des - que orientam a prática pedagógica desse coletivo
os consideramos como acabados na educação fí- docente.
sica, a prática do planejamento participativo é um
exemplo pertinente, pois a construção se dá no Penso que não seja necessário que o professor de
sentido da flexibilidade de discutir as idéias de educação física "preencha formulários" ao organizar
todos para a ação coletiva, a participação. sua prática pedagógica, pois estes servem apenas para
entregar para orientadores/coordenadores, para que
possam ter elementos de controle sobre o trabalho e
o coletivo docente. Menos ainda, que não haja um
registro do que se planeja, que aconteça simplesmente
Considerações finais uma organização mental das atividades, pois desta
forma, fica o dito pelo não escrito, a prática pela
Ao longo deste ensaio procurei refletir sobre ques- prática apenas, quando a sua justificativa (orga-
tões que considero importantes sobre o tema nização/previsão dos objetivos) se baseia em si pró-
planejamento de ensino, mais especificamente no pria, dificultando ao longo do processo de execução
âmbito da educação física. Esta reflexão, como colo- a sua avaliação e a do próprio processo.
co na introdução, é baseada no olhar de um profes-
sor de educação física preocupado com as questões Por fim, acrescento que a relevância do planejamento
didático - metodológicas que envolvem a ação do- de ensino resida no fato de ser necessário à ação
cente deste coletivo, que entendo no momento como docente do professor de educação física, e como tal
negligenciadas em detrimento de outros estudos deste ser merecedor de estudos e pesquisas que possibili-
amplo campo de pesquisa. Possibilitando desta tem não somente a reflexão sobre o tema, mas consi-
forma que, nos equivoquemos ainda hoje, com uma derar possibilidades de fazer planejamento diferen-
possível discussão sobre a necessidade do plane- temente do modelo burocrático e sem sentido. Esta
jamento de ensino na educação física. nova concepção deve necessariamente afirmar a sua
importância no cotidiano, do comprometimento do
Não é possível imaginar uma ação pedagógica sem
professor com a sua ação educativa crítica e reflexi-
planejamento, improvisada. O ato de planejar é in-
va, e a concretização dos objetivos existentes nas pro-
trínseco à educação (Padilha, 2001). O professor com

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postas pedagógicas construídas pelas escolas (Lei de Planejamento na Sala de Aula. Porto alegre:
Diretrizes e Bases da Educação - LDB - Lei n° 9394/ La Salle, 1995.
96, art. 12, parágrafo I). _____ . A Prática do Planejamento Participativo.
Petrópolis, RJ.:Vozes, 2000 - 8a ed.
Desta forma, espero que minhas considerações pos-
GIMENO SACRISTÁN, J. e PÉREZ GÓMEZ, A I.
sam contribuir com o debate sobre questões da prá- Compreender e Transformar o Ensino.
tica pedagógica dos professores de educação física, Porto Alegre: ArtMed, 1998.
as observações que fiz foram no sentido de defen-
KARLING. A A A Didática Necessária. São Paulo:
der um posicionamento pessoal referente à um as- IBRASA, 1991.
sunto que considero como pertinente e negligenci-
KREBS, RJ. Considerações Organizacionais para o
ado na produção científica da educação física até
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de Educação da AEC. Brasília, D.F.: ano 13,
n° 54, p. 30 - 40, 1984. 1 Para o autor a acepção macro do planejamento
educacional no Brasil, diz respeito a um modelo
PADILHA, P.R. Planejamento Dialógico: Como
sistêmico, governamental, e a acepção micro em
construir o projeto político-pedagógico da
nível escolar, ou mesmo de sala de aula.
escola. Ed. Cortez, São Paulo - S.P. 2001.
2 Vasconcellos (1995), coloca que esta com-
TURRA, C.M.J.; ENRICONE, D.; SANTANNA,
plexidade pode vir, basicamente, em função do
F.M.; ANDRÉ, L.C. Planejamento de Ensino
objeto - complexidade da atividade em si
e Avaliação. Porto Alegre: Sagra - Luzzato,
- e do processo - se o processo da atividade a
1998.11aed.
ser desenvolvida for coletivo, demanda maior
VASCONCELLOS.C.S. Planejamento. Plano de articulação, organização e registro.
Ensino — Aprendizagem e Projeto Educativo.
3 Tese de Doutorado de Vicente Molina Neto
Em: Cadernos Pedagógicos do Libertad - 1.
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1995.
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VEIGA NETO, A J. Planejamento e Avaliação Porto Alegre. Barcelona, 1996.
Educacionais: Uma Análise Menos Convencional.
Em: Cadernos do DEC. N° 5, p. 12 - 28,
UFRGS/FACED, dezembro, 1993.

*MestrandonoProgramadeDoutoradoeMestradoem
CiênciasdoMovimentoHumano,naEscoladeEducação
FísicadaUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul-
UFRGS, PortoAlegre, R.S.

Recebido em: 01.10.01


Revisadoem:25.02.02
Aceito em: 04.03.02

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