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G EO U SP - Espaço e Tempo, São Paulo, M° 11, pp.

35-50, 2002

REFLETINDO SO BRE O PAPEL DAS


REPRESENTAÇÕES NAS TERRITORIALIDADES
URBANAS: O EXEMPLO DA ÁREA
CENTRAL DO RECIFE
Heleniza Ávila Cam pos*

RESUMO:
E s te a rtig o p ro c u r a re s s a lta r a im p o rtâ n c ia do e s tu d o d as te r rito r ia lid a d e s u rb a n a s com o fo n te de
in fo r m a ç õ e s s ig n ific a tiv a s p a ra o e n te n d im e n to das d in â m ic a s s ó c io - e s p a c ia is d as c id a d e s co n te m ­
p o râ n e a s , in c lu s iv e p o s s ib ilita n d o d ia g n ó s tic o s a lte rn a tiv o s a re s p e ito de in te r v e n ç õ e s u rb a n ís tic a s . Parte-
se do s u p o s to q u e a in v e s tig a ç ã o a c e r c a d as r e p r e s e n ta ç õ e s d e s sa s te rrito ria lid a d e s p e lo s d iv e rs o s g ru p o s
s o c ia is re v e la as p rin c ip a is m a triz e s d as c o n tín u a s re e la b o ra ç õ e s d o s te rritó rio s . C o n s id e ra n d o as d i­
m e n s õ e s te m p o e e s p a ç o , e s s a a s s e rtiv a a s s u m e m a io r c o n s is tê n c ia q u a n d o da a n á lis e d as á re a s c e n tra is
de c id a d e s co m d e n s id a d e h istó rico - cu ltu ra l. A lg u n s a p o rte s te ó ric o s q u e c o m p õ e m a p rim e ira p arte d e s te
artigo fo ra m , no p la n o e m p íric o , r e a b a s te c id o s p or re fle x õ e s q u e se m a te ria liz a ra m em p e s q u is a s o b re a
c id a d e do R e c ife e s u a á re a c e n tra l.
PA LA V R A S-C H A V E:
T e rrito ria lid a d e s u rb a n a s , r e p r e s e n ta ç õ e s s o c ia is , á re a c e n tra l, c o n s u m o , r e v ita liz a ç ã o .

A B ST R A C T :
T h is p a p e r try to fo c u s the im p o rta n c e o f u rb an te rrito ria litie s as s ig n ific a n t s o u rc e s o f in fo rm a tio n a b o u t
s o cia l and s p a tia l d y n a m ic s in c o n te m p o ra ry B ra z ilia n c itie s , as w ell as a lte rn a tiv e in d ic a tio n to m a n y so rts
of d ia g n o sis a b o u t u rb an in te rv e n tio n . In p a rtic u la r, w e u n d e rsta n d th at re s e a rc h a b o u t s o c ia l g ro u p s
re p ré s e n ta tio n s c a n re v e a l th e m ain s o u rc e a b o u t the c o n tin u o u s re -elab o ratio n o f th e s e te rrito rie s in th e ir
day to d ay p ra c tic e s . T h is h y p o th e s is b e c o m e s m o re c o n s is te n t if w e c o n s id e r th e h is to rie and c u ltu ra l
r e le v a n c e o f c e n tra l a re a s , in d iffé re n t s p a tia l and tim e d im e n s io n s . T h e o re tic a l a p p o in tm e n ts in th e first
part o f th is a rtic le find go o d e x a m p le s in s o m e a s p e c ts o f R e c ife 's c e n tra l a re a (P E ).
REY WORDS:
U rban te rrito ria litie s , s o c ia l re p ré s e n ta tio n s , c e n tra l a re a , c o n s u m p tio n , re v ita lis a tio n .

* Doutora em Geografia Hum ana pela U F R J e, atualm ente, Professora do Curso de


Arquitetura e Urbanism o na U niversidade de Santa Cruz do Sul - U H ISC (RS)
E-mail: heleniza@ dhgeo.unisc.br
36 — G EO U SP - Espaço e Tempo, São Paulo, M° 11, 2002 Cam pos, M.Á.

In tro d u çã o Messe sentido, optou-se por ilu strar as


reflex õ es com asp e cto s p resen tes na área ce n ­
O artigo visa co n trib u ir para a reflex ão tral do R ecife e com um a d iversas outras rea li­
sob re as sig n ifica ç õ e s a trib u íd as aos esp a ço s dades brasileiras: a p rostitu ição, os cam elôs, os
urb an os territo rializad o s, tendo co m o ponto de religiosos, por ex em p lo , tendo co te ja d as suas
partida um a c o n stru çã o teó rica a c e rc a das re­ a n á lise s segundo registros d o cu m en tais, literá­
p re se n ta ç õ e s so cia is, referen te a um dos e n fo ­ rios, bem com o, re ce n te m e n te valorizad a pelos
ques co n tid o s na tese de douto rado re c e n te ­ Plano de R evitalização .
m ente c o n c lu íd a 1 O estud o da e v o lu çã o histó­ O trabalho se divide em três partes: a
rica e o q u ad ro de fo rm ação cultural das áreas prim eira trata de um a breve revisão bibliográfica
cen trais das m e tró p o le s no Brasil sugerem a e ap resen tação de pontos para reflexão a res­
tram a co m p le x a dos seus territórios e a c o n tí­ peito das rep resen taçõ es e das territorialidades;
nua e e sp e s sa d in â m ica das suas territoriali- a segunda parte, expõe alguns asp ectos relativos
dades. S ã o m a rcan te s as co e x istê n cia s culturais a aspectos recorren tes da d im en são am biental
e sócio-econ õ m icas que se m esclam no tem p o e área central do Recife que historicam ente têm
no esp aço . com posto a im agem da cid ad e; a terceira, apre­
A riqueza das ex p ressõ es culturais que senta aspectos das in flu ên cias culturais estran­
se altern am na co n fig u ração sócio-espacial das geiras, reais e im aginárias, que potencializam os
cid ad es, co n tra d ito ria m e n te , extingue a p o ssib i­ distintos discursos so b re a cidade, seja pela po­
lid ad e do re c o n h e c im e n to da h e g e m o n ia de pulação que freqüenta a área central, seja pelo
traços cu ltu rais g e n u in am en te próprios e e sp e ­ planejam ento.
cífico s em si, se n ã o co m b in ad o s, altern ad o s e
articu la d o s. Em o utras p alavras, tais c o m p o ­ 1. B rev es c o m e n tá r io s s o b r e territo ria lid a d e s
siçõ es, no re b a tim e n to de suas p ráticas sobre u rb a n a s e r e p r e s e n t a ç õ e s s o c ia is
as cid ad es os legados culturais e valo res atri­
buídos, vão a ssu m in d o d im en sõ es próprias ao a) T e rrito ria lid a d e s u rb a n a s : um a breve
longo do tem p o, restringindo q u alq u er ten tativa re visã o b ib lio g rá fica
de m e n su raçã o ao plano qu alitativo da c o m b in a ­ T errito rialid ad e urb an a é aqui entendida
ção das in flu ê n cia s sócio-culturais recíp ro cas. com o co n ju n to de a çõ es, co m p o rtam e n to s de
Só nesse contex to , entende-se as distin tas m a­ in d ivíd u o s ou grupos que tend em a afetar, in­
neiras de a p ro p ria çã o , utilização e sig n ificad o s flu e n cia r ou co n tro la r p esso as, fen ô m en o s e re­
dos m esm o s e le m e n to s de um e sp a ço urbano la çõ e s; a tivid ad es que e sta b e le c e m territórios,
comum. tendo com o e le m e n to s fu n d am en tais as rep re­
Por outro lado, essas co m b in a çõ e s c u ltu ­ se n ta çõ e s so cia is (v isõ e s de m un do dos dife­
rais q u an d o re co rre n te s d efinem ou redefinem re n te s a g en tes s o c ia is , a trib u iç õ e s de sig n i­
re p re se n ta çõ e s que se cristalizam nos d iscu rso s ficad os e in te rp re ta çõ es da re alid ad e ) e as prá­
so b re as c id a d e s em d ive rso s m o m e n to s ao ticas e sp aciais (açõ es e sp a c ia lm e n te lo ca liz a ­
longo de su as re sp e c tiv a s histórias. É nesse das, m aterialização cotidiana da identificação dos
âm b ito que se in se re este artigo, acenando grupos com o espaço às ações do planejam ento).
sobre o a sp e cto e m b le m á tic o que essas re p re ­ Os territórios no e sp a ço urban o, s o b re ­
se n ta çõ e s têm na co m p re e n sã o das c id a d e s e tu d o a q u e le s e n c o n tra d o s no c o tid ia n o de
c o n se q ü e n te m e n te com o incidem , quer co n te m ­ praças e ruas em m etró p o les brasileiras, po­
pladas ou não, no êxito das in te rve n çõ e s ur­ dem variar ao longo do dia ou, ainda, alternar-
banas p reco n izad as. se com outros tipos de territórios, send o, por­
Refletindo sobre o papel das representações nas territorialidades urbanas: o
exem plo da área central do Recife, pp.35-50 37

tanto, d in â m ic o e m u tá ve l a tra vé s do tem po. As afirm a çã o do po der de d e te rm in ad o grupo sob re


te rrito ria lid a d e s, entre o utro s a sp e cto s, podem o te rritó rio 4, trazendo im p lícito um forte signi­
m in im iz a r co n flito s, e s ta b e le c e n d o form as de ficad o de p e rtin ê n cia do grupo a um a p o rção de
diálogo, lim ite s e regras sócio -esp aciais entre os espaço, que m u ita s vezes se e x p re s s a por
d ive rso s grup o s s o c ia is , por m eio de seus "c a m ­ m odos e sp e c ífic o s de co m p o rtam en to . Trata-se
pos de fo rç a " re p re se n ta tiv o s das re la çõ e s dos de um c o n stru to s o c ia l com um s ig n ific a d o
d ive rso s grupos s o c ia is com um d e te rm in ad o e sp e c ífic o (su b sistê n cia, id eo lo g ia p o lítica, po­
espaço - os quais passam a se constituir em terri­ der e co n ô m ico , entre outros) para os m em b ro s
tórios. E ssa s re la ç õ e s p od em ser o b se rv a d a s de cad a grupo e n q u an to um a id e n tid a d e parti­
tanto em seu in t e r io r - na d e fin iç ã o da id e n ­ cular. Ao m esm o tem po, essas re la ç õ e s indiví-
tidad e en tre m e m b ro s de grupos so c ia is - ou duo-território servem com o form a de c o m u n ic a ­
com o seu e x te rio r, em re la ç ã o a outros territó ­ ção de lim ites e códigos co m p o rtam en tais aos
rios - re la ç õ e s en tre grupos -, ou se ja , na tro­ indivíduos que não co m partilham dos m esm os
ca, d ife re n c ia ç ã o e d o m in a ç ã o perante a ex is­ interesses e expectativas. Ao longo desse trab a­
tên cia de o u tro s g ru p o s2 Tais c o m u n ic a ç õ e s e lho serão d iscu tid as as d iversas m icroterrito-
form as de co n tro le expressam a d in âm ica sócio- rialidades do cotidiano com uns às áreas centrais.
espacial - desigual e hetero g ênea - do esp aço A id e n tifica çã o s im b ó lic a refere-se aos
urbano, so b re tu d o qu an d o são o b servad as áreas d iferen tes sig n ificad o s e v a lo re s que o esp aço
tão co m plex as, so cia l e cu ltu ralm en te, com o as a s su m e para os d iv e rs o s g ru p o s s o c ia is na
áreas centrais. b usca de id e n tific a çã o ; essa re la çã o s im b ó lic a
As te rrito ria lid a d e s caracterizam -se in ­ está m uito d iretam en te asso c ia d a às re p re s e n ­
tern a m en te p ela c o m p o s iç ã o de três e le m e n to s taçõ e s so ciais, fo rm adoras de um a tram a c o m ­
básicos fu n d a m e n ta is: as form as de ex p ressão plexa de d iferen tes sig n ifica çõ e s que vão in­
de poder, a s s o c ia d o s a o b je tiv o s co m u n s dos fluenciar, m o tivar e m esm o ju s tific a r atitu d es de
p articip antes do grupo; a id e n tific a çã o sim b ó lica re s is tê n c ia , d e fe sa , a n im o s id a d e dos grupos
do território para seu s c o m p o n e n te s; e os m eios so cia is em re lação ao m eio onde se e n co n tra m ;
de c o m u n ic a ç ã o com o exterior. As fo rm as de do m esm o m odo, as re p re se n ta çõ e s co n stru íd as
expressão de p o d e r dizem resp e ito ao co n tro le so cia l e e sp a cia lm e n te podem p ro m o ver c o n d i­
sobre o acesso a áreas esp ecíficas, sobre as rela­ çõ es de atrativid ad e. As m o tiv a ç õ e s para a d e­
ções, sobre co m p o rta m e n to s; essas relaçõ es de fin ição de territo ria lid a d es estão re la cio n a d a s
poder podem se d ar nos m ais d ive rso s níveis, com as d iferen tes form as de re la çã o de grupos
a p resen ta n d o ou não sin a is c o n cre ta m e n te e sta­ so cia is com "s e u " território (form a de uso; orga­
b e lecid o s no e sp a ço . Portanto, as te rrito ria lid a ­ nização; significado que ele pode a ssu m ir em
des hu m an as seg u em fins e s p e c ífic o s , co m o so ­ d ife re n te s m o m e n to s), trad u zin d o ao m esm o
b re v iv ê n cia m a te ria l, m e lh o re s c o n d içõ e s de v i­ tem po ex p e cta tiva s p articu la res in terio res aos
da, a sso c ia d o s id e o lo g ic a m e n te , de form a m ais grupos - prazer, necessidade, contingência, obriga­
ou m en os c o n s c ie n te , a co n te x to s sócio-econô- ção, ideologia -, co m o tam bém exteriores a eles
m icos, p o lítico s e c u ltu ra is m ais a m p lo s 5 - fu n cio n ais, sim b ó lica s, so ciais, físico-ambien-
As re la ç õ e s s o c ia is dos seres h u m ano s tais, sócio-econôm icas.
sem pre re p re s e n ta ra m e x p re ssõ e s de força e Q u an to às form as de c o m u n ic a ç ã o com
poder para alé m dos a trib u to s físico s e a m b ie n ­ o exterior, estas podem o c o rre r não a p e n a s no
tais, nos q u ais se e s ta b e le c e m . A te rrito ria li­ nível do co m p o rta m e n to , m as tam b ém por m eio
dade é, portanto , a e x p re ssã o g eo g ráfica p rim á­ de a çõ e s c o rre sp o n d e n te s à m a te ria liz a çã o no
ria de p o d er s o c ia l, por m e io da d e lim ita çã o e e sp a ço d essas re la çõ e s ab stratas e s u b je tiva s,
38 — G EO U SP - Espaço e Tem po, São Paulo, M° 11, 2002 C am pos, H.A.

co n stitu in d o assim em p ráticas sócio-espaciais. s e x u a lid a d e " ou os "g ê n e ro s " (g e n d e r ), com


Estas a ssu m e m , ao m esm o tem po, um papel de ênfase para as form as com o se e sta b e le c e m as
in t e r a ç ã o , na m e d id a em que une os in d ivíd u o s d ife re n ça s e sp aciais das a tiv id a d e s e as m ani­
em grupos que po ssu em m o tiva çõ e s co m u n s; e fe sta çõ e s de grupos com práticas sócio-espa­
d ife re n c ia ç ã o , e sta b e le c e n d o lim ites e ex p res­ ciais e sp e cífica s, co m o as m in o rias ou grupos
sando d esig u ald ad es por m eio de co m p o rta m e n ­ m arginalizados na s o c ie d a d e que se vêem em
tos, form as de usar/transform ar o espaço. SMITH c o n d içõ e s de seg reg ação sócio-espacial (vo lu n ­
(1990) lem bra que esses grupos são, em sua pró­ tária ou in vo lu n ta ria m e n te ), em razão de com ­
pria estrutu ra, h etero g ên eo s. p ortam entos e sp e c ífic o s, co m o h o m o ssex u ali­
Os co n flito s de in te resse s e a hegem on ia dade e pro stituição (am b as m a scu lin a e fem ini­
de d eterm in a d o s grupos so cia is sobre outros n a )5. Ou, ainda, valorizam o papel de m ulheres,
d en u n ciam a c o m p le x id a d e que se traduz nas crianças, ou idosos nos grupos sócio-econòm icos
m ais caren tes e tam b ém m arginalizados, com o
re sistê n cia s e tra n sfo rm a çõ e s, nas novas in co r­
po raçõ es das tra d içõ e s, do novo, da m oda. O c o m e rcia n te s inform ais, sem -teto6.
Um a form a re cen te de ab o rd a r as terri­
p ro cesso in stau rad o de revitaliz ação traz c o n si­
to rialid ad es tem sido por m eio do consum o, o
go m uitas in fe rê n c ia s so b re a cultura urbana
qual perm ite a id e n tifica çã o de com p ortam en to s
registrada nos e sp a ço s trad icio n ais da cid ad e:
de grupos e e sp a cia liz açõ e s. O cad a vez mais
m arcas do passado, co n te ú d o s a serem poten­
intenso estím ulo ao co n su m o nas cid ad es con ­
cializad o s e a urgên cia de in vestig açõ es m ais
tem p o rân eas tem in c e n tiv a d o a estetização do
vo ltad as às e sp e c ific id a d e s do urbano e das "le ­
esp aço com o form a de ex p ressão de poder, na
g e n d a s" h is tó ric a s d e s c rita s nas p rá tica s de
m edida em que o co n su m id o r passa a ser ins­
te rrito rialid a d e s atuais, de form a a co n trib u ir
trum ento de ação e d e s e n v o lv im e n to de pode­
para um a reflex ão crítica a respeito do atual
res h eg em ôn icos m ais am p lo s, co m o as corp o ­
p ro cesso de o rg an ização so cial das cid ad es e
raçõ es; em presas m u ltin a cio n a is; e m esm o go­
su b sid ia r a gestão dos seus espaços, e n v o lv e n ­
vern am en tais. C om o ex em p lo , destaca-se o es­
do de form a p a rticu la r d iverso s grupos so cia is
tudo sobre co nsum o a lim e n ta r d e se n vo lv id o por
da p o p u laçã o a partir da re co d ifica çã o de im a­
B E L L e VALENT1NE (1 9 9 7 ), no qual a an álise de
gens, sím b o lo s e re p re se n ta çõ e s. As re iv in d ic a ­
práticas asso cia d a s à e s p a c ia lid a d e da a lim e n ­
ções dos grupos, se ja por m anifestos exp ressos
tação podem co nd uzir à reflex ão so b re ques­
seja por práticas co m p o rta m e n ta is, constituem -
tões m ais am p las da so c ie d a d e , com o n acio n a­
se em um in stru m en to b ásico e coexistem com
lism o , e s té tic a e e c o n o m ia , d e sd e asp ecto s
a o c u p a ç ã o e sp a c ia l. A própria d e n o m in a çã o
m ais lo cais (hábitos trad icio n ais) até níveis m ais
dos territó rio s j á e s ta b e le c e um a relação de po­
am plo s e in te rn a cio n a is (co m o , por ex em plo, os
der sobre d e te rm in a d o espaço. efeito s de redes a lim e n ta re s in tern a cio n a is e
Os m odos co m o as territo rialid ad es po­ c o rp o ra çõ e s tra n sn a cio n a is, co m o a M cD onalds,
dem ser p e rc e b id a s não se ap resentam ap enas Pizza Hut, entre outras, nas práticas de co n su ­
fisicam en te com a d e fin iç ã o de lim ites c o n c re ­ m o). O utros autores valorizam p articu larid ad es
tos. A c o m p le x id a d e da vid a urbana, com suas urbanas de um ponto de vista político, e n v o lv e n ­
m ú ltip la s te m p o ra lid a d e s e te rrito ria lid a d e s , do d iferen ças étnicas, só cio - eco n ô m icas e ou­
tem estim u la d o a re a liz a çã o de estudos geográ­ tros asp ecto s co n trastan tes. São , por exem plo,
fico s so b re c o m p o rta m e n to e p ráticas sócio- p esquisas ligadas aos p ro b lem as raciais e c u ltu ­
esp a ciais, valo rizan d o , direta ou in d iretam en te, rais de m igrantes, co n stitu in d o a seg reg ação de
as t e r r it o r ia lid a d e s u rb a n a s . No â m b ito da grupos pobres ou a g u e tiz a ç ã o nas áreas c e n ­
produ ção anglo-saxõnica, destacam-se os grupos trais de grandes m etróp oles, n o tad am en te nos
que a b o rd a m as "G e o g ra fia s do co rp o e da Estad o s Unidos e países eu ro p eu s.
Refletindo sobre o papel das representações nas territorialidades urbanas: o
exem plo da área central do Recife, pp.35-50 39

Os p ro c e ss o s de g e n trifica çã o - e tem as afro-brasileiras e sua in flu ê n cia na cu ltu ra e na


co rre la to s, co m o a "p ó s-g en trificação " e "des- org anização sócio-espacial das m e tró p o le s b ra­
g e n trific a ç ã o " - tam b ém têm se co n stitu íd o em s ile ira s 8. Essas re fe rê n cia s co n trib u e m para a
um fe n ô m e n o rico em n u a n ce s - p ro ce sso pelo re fle x ã o so b re o p o d e r de re s is tê n c ia e de
qu al c la s s e s de b aix o p o d e r a q u is itiv o são o cu p a ç ã o territorial das cid a d e s p elo s d ive rso s
tran sferid as de á re a s ce n tra is, g e ra lm e n te em grupos s o c ia is não-dom inantes, por m e io de
a v a n ç a d o esta d o de d eg rad ação , para in v e sti­ suas e x p e riê n cia s e de seu s traço s cu ltu ra is
m ento, re a b ilita ç ã o e e s ta b e le c im e n to de novos p articu lares; as q u estõ es re la tiva s à c o n d içã o
resid en tes, de m é d io e alto po der aq u isitivo , fem inina, vo ltad as para o papel da m u lh e r na
com o os y u p p ie s 7. E m b o ra a g e n trifica çã o se ja so cie d a d e b ra sile ira 9; outro tem a diz re sp e ito às
m a is r e c o r r e n t e em m e t r ó p o le s d e p a ís e s te rrito ria lid a d e s de p ráticas ilegais ou s o c ia l­
d e se n vo lv id o s , in te re s sa a esta p esq u isa co n si­ m ente não a ceitas, com o a p ro stitu ição, o jo g o
derar, e n q u a n to p ro ce sso s e le tiv o e ex clu d e n te , do bicho e o tráfico de d ro g as10; alguns d esses
d ireta m en te a s s o c ia d o aos planos de re vita liz a ­ tem as vêm asso cia d o s a form as de a p ro p ria çã o
ção e regeneração urbana. BEA U R EG A R D (1990) de e sp aço s p ú blico s e sp e c ífic a s pelo s d iverso s
lem bra que, para o co rre r a gentrificação, seguin­ agentes, co m o ruas e p ra ç a s 11.
do a lógica e c o n ô m ic a da oferta e da procura, Estu d o s sobre religião e e sp a ç o têm re­
são n ecessá ria s, pelo m enos, duas pré-condi- v e la d o territo rializaçõ es tão c o m p lex as e v a ria ­
ções: prim eiro é n ece ssário haver um a oferta de das q uantas são as d istin çõ es cu ltu rais e sócio-
propriedades fa vo rá ve is à o cu p a çã o dos novos e c o n ô m ica s das cid ad es c o n te m p o râ n e a s o c i­
residentes; e, segundo, tem de haver um a d e­ dentais. No caso das c id a d e s b rasileiras, os sis­
m anda de po tenciais gentrificadores, estim ulados tem as relig io so s além de se re m im p o rta n te s
p elas n o va s fa c ilid a d e s o fe re c id a s em áreas agentes estrutu rad o res do e sp a ço urban o, são
revitalizad as. N esse sen tid o , co m o será visto tam bém in stitu içõ es com forte p od er p o lítico e
m ais a d ia n te , nas m e tró p o le s b ra sile ira s um e c o n ô m ico sobre a cid ad e. En tre os estud os
processo de ex clu sã o sim ilar ocorre, porém sem geográficos so b re religião realizad o s no Brasil,
a fixação de novos resid entes, ap enas a trans­ destaca-se a co n trib u ição de M ACHAD O (1 9 9 2)
ferência de grupos de baixa renda para áreas à co m p re e n sã o da re laçã o entre pentecostalis-
periféricas da cid ad e. mo e territo rialid ad e. O utro tem a in te ressa n te é
A p ro d u ção cien tífica francesa, de reco ­ o relativo às territo ria lid a d es do tráfico de dro­
nhecida trad ição nos deb ates sobre território, gas nas m etró p o les b rasileiras, com d estaq u e
tem co n trib u íd o pela revisão do co nceito , ap re­ para o caso do Rio de Ja n e ir o , d iscu tid o por
sentando propostas m eto do ló g icas m ais ad e q u a ­ SO U ZA (1 9 9 5), à luz de algum as q u estõ es teo-
das à realid ad e co n te m p o râ n e a e ressaltan do a rico m e to d o ló g ica s que procuram a p ro x im a r o
relevân cia do tem a. A asso ciação com outros co n ­ o b se rva d o r da co m p le x id ad e que e n v o lv e a or­
ceitos e problem as sociais é recorrente, com o g anização do tráfico de drogas no B rasil, d is­
form a de m e lh o r in te rp re ta r as a r tic u la ç õ e s cute, de um lado, o ca rá te r p u lverizad o que as
espaciais dos territórios, valorizando a construção favelas assum em e, de outro lado, a re la tiva
de identidades territoriais particulares. au to n o m ia p erm itida a in d ivíd u o s não n e c e s s a ­
No B ra sil, tra b a lh o s b rasileiro s re ce n te s riam ente v in cu la d o s a essas favelas.
que têm v a lo riz a d o as d e sig u a ld a d e s territo riais
b) Representações sociais e territorialidades
- ain d a que de fo rm a não d e c la ra d a - e as
práticas c o tid ia n a s podem ser su b d ivid id o s, de C om o foi dito, as re p re se n ta çõ e s so ciais
form a geral, em alguns tem as, co m o as q u es­ são fen ô m e n o s e sp e c ífic o s, re la c io n a d o s a m o­
tões é tn ic a s , co m ê n fa s e nas m a n ife s ta ç õ e s dos particu lares de c o m p re e n sã o e de c o m u ­
40 — G EO U SP - Espaço e Tempo, São Paulo, n° 11, 2002 Cam pos, H.Á,

n icação do grupo entre si com outros grupos e Se g u n d o G O T T D IE N E R (1 9 9 5 ) há d ife­


com o esp aço do qual se apropria, cujo propó­ rentes níveis de sig n ificação in terd e p e n d en tes e
sito é dar sig n ificad o a asp e cto s e even to s da c o m p le m e n t a r e s que são q u a lit a t iv a m e n t e
vid a s o c ia l12, constituem -se na base su b je tiva im p o rta n te s para a c o m p re e n s ã o da re la ção
para a d efin içã o das territo rialid ad es urbanas. entre am b ie n te co nstru íd o e a rep resen tação
As re p re se n ta çõ e s so ciais da cidad e não s im b ó lica no esp aço urbano: o e s p a ç o p ro d u ­
são construíd as por ind ivíd u o s isolados, m as por zido, referindo-se à pro d u ção de significados
grupos e, um a vez criad as, in flu en ciam o co m ­ a sso cia d a à co n stru çã o m aterial e sim b ó lica do
portam ento d esses grupos em relação ao e sp a ­ e sp aço e as re la çõ e s entre as form as con stru í­
ço, atraind o ou não outros m em bros entre si das aos estím u lo s para co n su m o ; a co n ce p ção
(cam p o de atra çã o ), fazendo n ascer novas re­ de e s p a ç o c o n s u m id o , referindo-se à leitura do
p resen tações. D essa form a, a co n sciê n cia c o le ­ e sp aço ou à im agem do am b ien te, cu jo s alvos
tiva é estim u lad a, dando significad o a coisas e são os in d ivíd u o s e grupos c o n h e c id o s ou não
eventos. As atitud es e a trib u içõ e s de valores por aq u ele que consom e.
são c o n se q ü ê n cia s da p articip ação na vida so ­ Nas cid ad es, d iferen tes rep resen taçõ es
cial, uma vez que são ponto de partida para que de d iverso s grupos ou agentes so cia is ocorrem
os in d ivíd u o s possam d em o n strar seus laços de em relação a um m esm o e sp aço ; pontos de vis­
id e n tifica çã o com d eterm in ad o s estilos de vida, ta ap aren tem en te opostos ou co n trário s retroali-
regras so cia is e m o d elo s de co m portam ento. A mentam-se de form a que geram ex p ectativas
d iversid ad e de atitud es, ideologias e fenôm enos em torno de um m esm o esp aço , tend o com o
da so cie d a d e - e de form a m ais co m plex a nas eixo o espaço-m ercadoria. Um a das co n trib u i­
cid ad es - ocorre, portanto, a partir das rep re­ ções inspiradoras à reflexão sob re o conteú do
sen ta çõ es, criad o ras de um a ordem im plícita filo só fico da relação entre so cie d a d e m od erna e
capaz de definir e o rie n ta r co m po rtam en to s de esp aço urbano é o trab alh o de W A LTER B E N JA ­
in d ivíd u o s e grupos. Ao m esm o tem po, as re­ MIN d e se n vo lvid o no início do sé c u lo X X , desta­
p resen taçõ es p erm item a co m u n ica çã o entre os cando-se o cham ad o Projeto A rcad as, que per­
grupos sociais, os quais co nstro em códigos so­ mitiu a id en tificação de alguns e lem en to s signifi­
ciais p articu lare s d ife re n c ia d o re s de d iverso s ca tivo s da rep resen tação so cial de Paris e de
asp ecto s de seus m un d o s e de sua história, os outras grandes cid ad es eu ro p éia s n aq u ele m o­
quais m aterializam -se a partir de suas práticas m e n to 15, co nstru in do ao final um a grade c o n c e i­
sócio-espaciais. tuai sobre a d ialética das re p re se n ta çõ e s, tendo
No âm bito das territorialidades, portanto, co m o e le m e n to de r e fe rê n c ia a m e rc a d o ria
as rep resentaçõ es não se m antêm apenas em (Figura 1).
um nível abstrato, m as caracterizam -se com o No co n ju n to , a categ o ria "M e rc a d o ria "
form ações com plexas de m ateriais e técnicas, d estaca-se co m o sig no e s tru tu ra d o r, ag ind o
aos q u ais as p rá tic a s s o c ia is estão indisso- co m o um fetiche no im aginário so cia l, sob a
luvelm en te a s so c ia d a s 13, para além das divisões fo rm a de d iv e rs o s p e rs o n a g e n s u rb a n o s : o
culturais e eco n ô m icas do conhecim ento, sendo Flâneur, a Prostituta, o Dandy, entre outros, os
pontos de conexão essenciais entre pensam ento q u a is a s su m e m , na s e q ü ê n c ia d os e v e n to s
e p rá tic a . S H IE L D S (1 9 9 6 ) le m b ra q u e as históricos, papéis que interligam n aturezas e
cidades são tanto sujeito de representação com o d im en sõ es d istin ta s16 B en ja m in , por m eio de
tam bém objeto, pois inspiram práticas, com por­ fragm entos da realidade, definiu um a d ia lé tica
tam entos e atitudes ao m esm o tem po em que da im agem urbana, extraindo frag m en to s de
são interpretadas e valorizad as segundo seus seu contexto usual e confrontando-os com signi­
códigos e sím b o lo s g e ra d o s14 ficad os a eles asso ciad os em d iferen tes m o m e n ­
Refletindo sobre o papel das representações nas territorialidades urbanas: o
exem plo da área central do Recife, pp.35-50 41

tos. O p ro ced im e n to não -co n ven cio nal de B e n ja ­ cursos se ja do p la n e ja m en to , se ja dos d iverso s
min visa va ex p o r o p e n sa m e n to das p esso as tipos de atores so ciais que atuam na p ro d u ção
sobre suas pró prias a tiv id a d e s em term o s de de seus territórios.
"figuras u rban as típicas-id eais", em um a te n ta ­ No co m plex o e so fistica d o co tid ia n o ur­
tiva de re v e la r c o n te ú d o s h istó rico s, filo só fico s, bano, no qual coexistem m últip lo s tipos de terri­
sócio-políticos, para além das a p a rê n c ia s p re via ­ tórios, estes ap a re ce m tanto co m o form a de ex­
m ente d eterm in a d a s. A vid a co tid ia n a não se pressão de do m ínio e poder, co m o tam b ém na
form a de re sistê n cia às tra n sfo rm a çõ e s im p o s­
contrapõe à "h ip e r- re a lid a d e ", m as c o m p le m e n ­
tas por grupos d o m in an tes, às d e sig u ald ad es e
tam-se, justificam -se. O p e n sa m e n to de B e n ja ­
co n flito s só cio-econ ôm icos e cu ltu rais. No dia-a-
min inspira um o lh a r m ais aten to a certas parti­
dia da cid ad e, recu rso s de a p ro p ria çã o de e s p a ­
cularidad es dos fe n ô m e n o s u rb an o s em d im e n ­
ços re co n h e c ív e is , m esm o em s o c ie d a d e s prim i­
sões até então p o u co valo rizad as.
tivas, assum em c a ra c te rístic a s m uito m ais d ife ­
C o n sid e ra n d o m e rc a d o ria co m o o pró­
re n ciad a s e co m p lex as, alternando-se com m u i­
prio esp aço u rb an o - ou suas fra çõ e s e toda
to m ais rapidez no espaço-tem po. É o caso do
carga de tra d iç õ e s a ele p e rte n ce n te s, enfim , c o m é rcio de rua, sejam a m b u la n te s ou c a m e ­
qualquer e le m e n to ou a sp e cto da re a lid a d e ur­ lôs, por exem plo, que a d esp eito de a s s e m e lh a ­
bana capaz de g erar te rrito ria lid a d e s por m eio rem-se, num prim eiro m o m en to às form as de
de suas form as, c o n te ú d o s e s ig n ifica d o s a ele territo rialização dos antigos m ascates, a p re s e n ­
vin cu lados, reais ou p o te n c ia is -, os va lo re s a tam form as de a rtic u la çã o e p a rtic ip a çã o na ló ­
ele a s s o c ia d o s flu tu a m e n tre as d ife r e n te s gica de o rg anização do e sp a ço u rb an o m uito
formas de in te rp re ta ç ã o da s o c ie d a d e , alguns m ais co m p lex as e d in â m ica s que no p assado.
dos quais ex p o sto s na grade de B e n ja m in , e O utro ex em p lo é o caso das te rrito ria lid a d e s do
que atu alm en te encontram -se p re se n te s em d is­ sexo e de grupos re lig io s o s 17.
4-2 — G EO U SP - Espaço e Tempo, São Paulo, n° 11, 2002 Cam pos, li.Á.

Na ex p e riê n cia de R ecife, a exem p lo de cidad e. G ran d e parte das terras ao lado oriental
tantas cid ad es p ortuárias brasileiras, os territó­ do Bairro do Recife, co nsiderada im produtiva,
rios assum em form as variad as, de aco rd o com era lo tead a em sesm arias e d oada a p opu la­
o espírito do tem p o corren te. No item a seguir, re s 19 E sse s lotes estreitos em terren o alagadi-
serão ap re se n ta d o s alguns dos asp e cto s que ços não perm itiam grandes co n stru çõ e s, mas
m ais têm in flu e n cia d o a idéia de cid ad e recifen- serviam para co n stru ção de so b rad o s (ch a m a ­
se, desde de sua fo rm ação . dos "m ag ro s") nos quais fu n cio n avam pensões,
e sta b e le cim e n to s co m e rcia is ou pro stíb ulos pa­
ra trab alh ad o res do porto, co m e rcia n te s e via­
2 . A d im e n s ã o a m b ie n ta l: o dom ínio d a s ja n te s . A ssim , o Bairro do R ecife, j á ap resen ta­
á g u a s e a c o n q u i s t a d a t e r r a firme na va esse caráte r m últiplo de usos e ativid ad es
h is tó ria do Recife que rep ercutiam , com o até hoje, em d ife re n cia ­
das territo rialidad es.
"C o ch im p a re c e um R e cife com rios A travessand o o rio C apibaribe, o Bairro
m ais largos, porém a m esm a topogra­ de Santo Antônio caracteriza-se com o espaço de
fia : um rio m a io r que desce p a ra re­ transição entre a ilha do Bairro do Recife e o
ceb er (...) da fo z seu ú ltim o afluen te, continente, concentrando basicam ente atividades
dão v o lta s em torn o de um a ilha e em presariais e com erciais. O bairro encontrava-
uma p e n ín su la diante do continente e se no início de sua form ação, em grande parte
ju n to s se lançam ao m ar entre p ra ia s coberto pelos m angues, transform ados por fre­
de coqueiros ao longe dos dois lados."16 q ü en te s ate rro s em d iv e rs o s m o m e n to s his­
tóricos, potencialm ente viáveis às atividades co­
A d e scriçã o a cim a se refere à se m e lh a n ­ m erciais, dando a co nform ação da cidad e hoje
ça entre o R ecife e a cid ad e ind iana de coloniza­ existente. Outro fator que m uito contribu iu para
ção portuguesa visitada por CHACON (1995), na a fixação do sítio de localização da cidade na
qual a p resen ça e a im p o rtân cia dos rios d esta­ Ilha de Antônio Vaz foi a presença, em seu sub­
cam-se com o e le m e n to s referen ciais. Com e fe i­ solo, de água para o seu abastecim ento. No en­
to, a cidad e do R e cife sem pre e steve, se m e lh a n ­ tanto, dos 94 mil m 2 de área construída, aproxi­
te a C ochim , a ss o c ia d a à im agem dos rios e m adam ente 3 0 % estão o cio so s20.
pontes, daí as fre q ü e n te s c o m p a ra çõ e s com J á o Bairro de São Jo s é , ju n ta m e n te com
Veneza, A m sterd ã, A n tu érp ia. A d istin çã o no os b a irro s de Jo a n a B e z e rra e C a b a n g a , é
papel do rio por vezes segregador, outras vezes contornado pelos braços do Rio C apibaribe ao
agregador, vai estar re la cio n a d a à própria e v o lu ­ Norte e a O este; esses bairros são lim itados ao
ção histórica da cid a d e e às v a ria çõ e s na gestão Sul e a Leste pela Bacia do Pina. A sua o cupação
e dom ínio de territórios. As difíceis co nd içõ es fí­ foi feita a partir de seguidos aterros iniciados no
sicas de ocu p ação territorial sem pre fizeram do século X V II, para expansão da cidade na Ilha de
p la n e ja m e n to um in s tru m e n to n e c e s s á rio e A ntônio Vaz, por meio de ações plan ejad as ou
con stan tem en te presente na história dos bairros. pela o cu p ação espontânea de casario - em áreas
O B airro do R e cife distingue-se dos d e­ firm es - e m ocam b os - em áreas su je ita s a
m ais bairros da área central por diverso s a sp e c ­ alagam entos. O bairro hoje co n cen tra grande
tos (m o rfo ló g ic o s , fu n c io n a is , en tre o u tro s), núm ero de estabelecim entos com erciais voltados
m as, so b retu d o , porque foi um dos po uco s que para classes sociais de baixo e m édio poder
não surgiu em c o n s e q ü ê n c ia da fu n d ação de um aquisitivo. FR E Y R E (1961), referindo-se as suas
engenho, m as da p ro d u ção de açúcar, que deu ruas estreitas e ao seu m ovim entad o co m ercial
origem à grande parte dos princip ais bairros da de rua, já assinalava:
Refletindo sobre o papel das representações nas territorialidades urbanas: o
exem plo da área central do Recife, pp.35-50 43

" J á p a r a o s la d o s de S ã o Jo s é , o R e ­ G u ia , ch e g o u a c la s s e m éd ia p a r a se e n c a n t a r
c ife c o m o q u e se o r ie n ta liz a ; (...) É o com um c h a rm e q u e j á fo i le g ítim o e h o je é
b a irro do c o m é rc io m a is b a ra to . D as m ulticolorido"25.
lo ja s e a rm a rin h o s com n o m e s s e n ti­
b) O s m a n g u e s (t r a n s iç ã o e n tre s e c o e
m e n ta is (...). "2l
m olhado)
Muitas dessas práticas e ca racterísticas
Por m angue, Jo s u é de C astro referia-se
sócio-espaciais a in d a podem ser en co n trad as no
a um tipo e sp ecial de veg eta çã o a n fíb ia , "q ue
bairro. Um a das ca ra cte rística s de áreas centrais
p r o life r a n o s s o lo s fro u x o s e m o v e d iç o s d os
diz respeito às d ife re n cia d a s form as de interp re­
e stu á rio s , dos deltas, das la g u n a s lito r â n e a s " 24,
tar a d im en são am b ie n ta l, m uitas vezes aliada,
so bre o qual havia o reco rren te ponto de vista
m uitas vezes co n trária às n e ce ssid a d e s - e p o ssi­
higienista, que c o n d e n a v a a sua p rese n ça , por
bilidades - de a p ro p ria çã o do esp aço urbano.
confundi-lo com am b ie n tes de c o n d iç õ e s in s a lu ­
Destaca-se no R ecife a p re se n ça dos rios, m an ­ bres. G O M E S (1 9 9 7) d estaca que as id é ia s so ­
gues e arrecifes.
bre a veg etação an fíb ia e a c o n d içã o in te rm e ­

a) O s rio s d iária e in d efin id a entre am b ien te "s e c o " e "m o ­


lh a d o ", típ ica dos m anguezais u rb an o s recifen-
A in te rlig a çã o entre os b airros cen trais e ses, d esp ertaram as m ais d iversas re a çõ e s do
os dem ais b airro s da cid a d e , m ais co m um no m eio técn ico , a c a d ê m ic o e p o p u la r25. É im p o r­
período co lo n ia l, se fazia p ela utilização dos rios tante lem b rar a valo rização do m angue, c o n s i­
C ap ib arib e e B e b e rib e , co m o p rincip al m eio de d erad a por alguns co m o ro m ân tica e "e x c e s s i­
acesso e tra n sp o rte aos se to re s co m e rcia is da vam en te eco ló g ica", m as co m p artilh ad a por poe­
cidade, pela p ro d u çã o dos se n h o re s de engenho tas, e scrito res locais, com o Jo s u é de Castro,
- os quais em geral eram ta m b é m pro p rietário s Jo ã o Cabral de Melo Meto, M auro Mota, C arlos
da m aior parte das terras do n ú cle o central. Pena Filho e outros; há ainda as re ce n te s m a n i­
Portanto, a c o n flu ê n c ia dos rios fa v o re c ia a festaçõ es culturais que fazem alu são ao m angue
ocup ação das te rra s da c id a d e desd e sua ori­ com form as e co n teú d o s bem distintos, através
gem. Os rios eram v a lo riz a d o s não só co m o via do m o vim en to M a n g u e B e a t 26. Há, co n tu d o um
de p en etração para os en g e n h o s na hinterlân- paradoxo particular entre a sim patia po pular por
dia, mas tam b ém co m o lo ca is de banho, co n fo r­ essas expressões críticas e as diversas práticas
me d estaca M ano el B a n d e ira em seus poem as, so ciais na cidade: surge, de um lado, a lo u va ção
assim com o o u tro s e sc rito re s e in te le ctu a is. De co n tid a nos d iscu rso s, p o em as e re la to s; de
fato, a ex ig ü id ad e de e sp a ç o u rb an iz ável em outro lado, récid ivas práticas que negam esse
seu núcleo ce n tra l, exigiu um e sfo rço de e la b o ­ valor.
ração p la n e ja d a de o c u p a ç ã o de áreas alagadas
c) Os a rre c ife s
e alagáveis por m e io de aterro s, m uito antes
das reform as u rb a n a s que o co rre ra m em outras O termo - que deu origem ao nom e da
capitais b rasileiras. A tu a lm e n te , há um a re v a lo ­ cidade - de origem árabe significa dique, calçada,
rização do rio p elo seu p o te n cia l tu rís tic o 22. O cais, referindo-se ao rochedo na faixa litorânea de
rio C ap ib arib e , e n q u a n to p arte da cid a d e e de origem arenítica ou coralígena que funciona com o
cada recifen se "te s te m u n h a em s ilê n c io o re s ­ quebra-mar27. Os 6 mil m etros de arrecifes na
su rg im en to do R e c ife A n tig o . E le p ró p rio , que j á costa da cidade justificaram não apenas a desig­
esteve q u ase m o rto co m o a te rro de se u s e s tu á ­ nação do nom e da cidade, m as a sua vo caçã o
rios, sab e q u e a v id a v o lta de o u tra fo rm a . S a í ­ m ais antiga, a portuária, além de outras posterior­
ram as p r o s t it u t a s do C h a n te c le r, da R u a da m ente desenvolvid as, com o defesa e lazer.
44 — G EO U SP - Espaço e Tempo, São Paulo, M° 11, 2002 Cam pos, H.Á.

No próxim o item , serão a p re se n ta d o s a l­ ciais. Ao m esm o tem po, as co n d içõ e s políticas e


guns pontos referen tes à va lo riza çã o da in flu ê n ­ e co n ô m ica s na Euro p a do sécu lo X V II exigiam
cia da cu ltu ra estran geira - em p articu lar a e u ­ fr e q ü e n t e s a t u a liz a ç õ e s de c o n h e c im e n to s
ro p éia - na re p re se n ta çã o de cid ad e, d esde o m ilitares, a partir da c o n ce p çã o bélica italiana,
p erío do co lo n ia l aos tem pos recen tes. aplicando-a na defesa de novas terras d om ina­
das, com o era o caso do Recife. A planificação
dos bairros centrais e a im p lantação de infra-
3 . A d im e n s ã o c u ltu r a l. O e s t r a n g e i r o no estrutura, sob retudo nos bairros de San to Antô­
im a g in á rio do r e c if e n s e nio e São Jo s é , foram fundam entais para a atual
co nfo rm ação da área central.
Ao longo do processo de form ação da
Para cam ad as m ais p op u lares da cidad e,
cidade do Recife, as contribuições de diferentes o p eríodo h o lan d ês representou um a form a de
culturas estrangeiras predom inantes - em par­ re sistê n cia p o lítica de um povo rico e altam en te
ticular a européia e a norte-americana - têm sido
d e se n vo lv id o à co ro a portuguesa, m aterializada
citadas ou lem bradas pelas diferentes formas de na e la b o ra çã o de engen h o so s planos u rb an ís­
influência na construção da identidade urbana ticos, ch eg an d o m esm o aos lim ites da im agi­
local, em m om entos distintos do desenvolvim ento nação len d ária e so b re n a tu ra l30. Não são poucos
da cidade. Tais aspectos refletem m uitas vezes a os e q u ívo co s a c e rc a de re fe rê n cias cu ltu rais e
condição "co lo n ial" na qual foram m ontadas suas patrim ônios arquitetô n icos atribu íd os ao período
cidades, ou seja, a partir de referenciais de ou­ h o la n d ê s , em e s p e c ia l re fle tin d o a e s c o lh a
tros valores trazidos de fora. É, no entanto, ine­ "fo rça d a " dos an ce strais d e sejad o s, visto que,
gável a presença de aspectos culturais de outros em m uitos casos, a o pção de vir e estabelecer-
povos, com o será destacado a seguir. se no R ecife - co m o em tantas outras cid ad es
brasileiras - re p re se n tava a fuga de co n d içõ es
a) A c o n trib u iç ã o h o la n d e s a
p olítica e e co n ô m ica s in d e se já v e is ou in to le­
A m aio r ên fase na a tu a lid a d e é dada rantes na Eu ro p a e não a in te n ção e o desejo
p elas in stitu içõ es e pela s o cie d a d e à presença dos m igrantes ho land eses. C on tud o, R E Z E N D E
h o la n d esa na cid ad e. M ELLO (1 9 9 7) aponta que (1999) lem b ra a p erm anen te d ú vid a no im agi­
tal p resen ça rep resen to u sig nificad o s d iferen ­ nário po pu lar so b re as p o ssíveis d ife re n ça s e
ciad o s para classes so cia is distintas: os grupos vantagen s, caso R e cife se m a n tive sse sob o
n o b iliárq u ico s e co rp o rativo s, assim com o as dom ínio h o la n d ê s31 Essa dú vid a traz em si um a
o rd en s religiosas e o Estad o, enfatizavam a R es­ crítica à c o n te m p o ra n eid ad e, a través da im agi­
tau ração com o resgate h eró ico das terras da nação cria tiva so bre um passado estrutu rad or
C o ro a 28 De fato, o orgulho pela d e sce n d ê n cia de um presente talvez m ais prom issor, o que
portuguesa na p o p u lação re cife n se só ap arece faz do pseudocolonizador, no caso o "h o la n d ê s"
de form a m ais d e c is iv a a partir do sécu lo X V III. um a d e s c e n d ê n cia da qual d eve se orgulhar a
Até re cen tem e n te , a im agem do holandês en ­ p o p u lação local. O legado cultural dos "c o lo n i­
quanto inim igo p erverso foi p re d o m in a n te 29. zadores" perm ite, assim, um vislum brar m elan­
A grande co n trib u ição holandesa para a cólico do colonizado, em um conflito interior entre
cid ad e foi na sua o rg anização e sp acial e no sua cond ição atual e "o que poderia ter sido"
planejam ento . Devido à ex p eriência em sítios de
b) A "p r e s e n ç a " fra n c e s a
difícil tratam ento, m uito sem elhantes aos e n co n ­
trados em Recife, os holandeses tinham a habi­ A exem plo de tantas outras ca p itais bra­
lidade de reelab o rar os esp aço s alagados, ad ap ­ sileiras, os fran ceses exerceram forte in flu ê n cia
tando-os às n e ce ssid a d e s portuárias e co m er­ atrelad a a alguns dos prim eiros sin ais de in te ­
Refletindo sobre o papel das representações nas territorialidades urbanas: o
exem plo da área central do Recife, pp.35-50 45

gração b rasileira à c u ltu ra in te rn a cio n a lm e n te c) A in flu ê n c ia a fric a n a


glo balizada, por m eio dos m o d ism o s, co stu m es
Não se pode deixar de m e n cio n a r a in­
e co m p o rtam e n to s, a partir de m ead o s do sé­
flu ê n c ia a frica n a na fo rm a çã o da c id a d e do
culo X IX 32. De fato, a co n tín u a su b stitu içã o e/ou
R ecife, cu jas m a n ife staçõ es religiosas, fo lc ló ­
a ssim ila çã o de m a n e ira s e hábito s herdad o s da
ricas, além de hábitos alim entares, entre outros,
trad ição patriarcal luso-brasileira p elos m o d is­
preservam um caráter restrito a esp aço s de pou­
m os do ex terio r a partir do sé c u lo X IX , em par­
ca visibilid ade, m as profundam ente p resentes no
ticu lar dos fra n ce se s, foram fa c ilm e n te a ssim ilá ­
cotidiano. Tais atitudes justificam -se pelo am plo
veis pela s o c ie d a d e lo ca l, m as não sem duras
controle, sobretudo de m an ifestaçõ es pú blicas
críticas de d iverso s grupos in te le ctu a is, religio­
sociais, políticas ou religiosas, ao qual estiveram
sos, entre outros. É o ca so do Padre Lopes
subm etidos os escravos negros.
Gam a, o cro n ista do Jo r n a l O C a ra p u c e iro , na
Um a das referências m ais diretas asso ­
prim eira m etad e do s é c u lo X IX . G a m a a p re se n ­
ciadas à presença africana é quanto à p o p u lação
tava na d écad a de 1830 um a figura p ito resca e
escrava urbana, a m aioria residente nos bairros
caricatu ral, "v e rs ã o re c ife n s e " do flâ n e u r pari­
centrais. Os registros de Henry K oster e Louis-
siense - o "g a m e n h o "33- bem co m o outras, com o
François Tollenare, para citar alguns dos m ais
o "p e lin tra s "34 e as "c o q u e te s " GAM A (1996)
conhecid os, relatam aspectos curiosos - em bora
co n sid erava tais "p re s s õ e s m o d e rn iz a n te s" da
algum as vezes em tom preconceituoso -, so b re
vida urbana v in c u la d a s a p o siçõ e s sócio-econô-
a co n d içã o da escra vid ão em Pe rn a m b u co e sua
m icas e po líticas que a m e a ç a v a m a ordem já
in te rp re ta ç ã o d eix ad a pela lite ra tu ra . O que
estab elecid a, im p o n d o n o vas regras para o qual
m ais im p ressio n a é a referên cia à origem , o que
o recifen se, não esta ria p rep arad o , daí a sua
im p licava um co n ce ito prévio quanto ao caráter
ridicularização da im ita çã o à cu ltu ra e u ro p é ia 35.
e p o tencial dos negros escravo s, com o se pode
A influên cia da cultura francesa a partir
p e rce b e r no co m en tário de T O L L E N A R E (1 8 1 7 ):
do final do século X IX inspirou no Recife desde
o vocabulário e v e stim e n ta até partidos arquite- "O s m ais h áb eis e m ais c o n v e n ie n te s
tônico-urbanísticos. No início do sé cu lo XX, a re­ p a ra o s e rv iç o n as c id a d e s s ã o os
forma de Saturnino de Brito foi a prim eira form a n e g ro s de A n g o la ; os C a b in d a s e
acab ad a de intervir, c u jo s p rin c íp io s ex p res­ B e n g u e la s s ã o m a is d ó c e is e ex ce­
sam ente apoiavam -se na R eform a de Paris. É a le n te s p a ra o tra b a lh o a g r íc o la ; os
relação com a cid ad e o e le m e n to apontado na G a b õ e s s ã o fe ro z e s e m a u s ; injuria-
literatura com o o m ais influen te. A partir de se um n e g ro cham ando-o de G a b ã o .
1920, os cafés o cu p a n d o as ca lça d a s no centro Os de M o ça m b iq u e sã o fra c o s e p o u ­
co inteligentes; todos os c a rre g a m e n ­
da cidade, os e sp a ço s livres, as grandes vias
tos qu e deles vi c h e g a r a q u i eram
abertas eram c o n v ite s para o passeio de um
m iseráveis."56
grande núm ero de pessoas, fam iliares. Poi co ­
mum até a década de 1940 o a p arecim en to de As territo rialid ad es que p erm an ecem são
cafés, lojas com nom es franceses, roupas e eti­ m ais p e rce p tíve is e v isíveis em áreas do cen tro
quetas em estilo francês. Hoje, as influências em que co n ce n tram grupos so ciais de m en o r poder
termos de co m p o rtam e n to s são ainda en co n tra­ a q u isitivo , p ro m o ven d o ao m esm o tem p o um
das, confundindo-se, co ntu d o , com outras ex­ intenso m o vim en to e vigor c o m e rcia l, cu ltu ral,
pressões m uito m ais presentes, com o a forte m uito sing ular da cid ad e. Em geral, as re s is tê n ­
im agem n o rte - a m e ric a n a g lo b a lm e n te re p ro ­ cias a s so c ia d a s a tais grupos, e m b o ra re fo r­
duzida. çad as por grupos in te lectu ais e e lites cu ltu rais
46 — G EO U SP - Espaço e Tem po, São Paulo, I i ° 11, 2002 C am pos, H.Á.

lo ca is, en co n tra m por parte da p o p u la çã o da lim ites m uito estreitos entre as territo-
c id a d e um a re v e rê n cia - para alguns, sa u d o sis­ rialid ad es - rep resen tativo s talvez da
m o, para outros, fan tasias e m itifica çã o , m as n e ce ssid a d e histórica de c o n v iv ê n c ia
qu ase sem p re com resp eito e orgulho dos e sp a ­ entre grupos ou in d ivíd u o s que p reci­
ço s c e n tra is , co m o no c a so dos b airro s do sam co m p a rtilh ar esp aço e tem po e
R e cife, San to A ntônio e Sã o Jo s é . O b se rva n d o que, m uitas vezes, são in co m p re e n sí­
m ais de perto, percebe-se que cada um desses veis para os visitan tes -, m esm o a q u e ­
b a irro s p assa a se r a lv o de re p re s e n ta ç õ e s les da própria cidad e. Há, no entanto,
e sp e c ífic a s - da so cie d a d e e do p la n e ja m e n to um lento e gradual en fraq u ecim en to
urbano. Destacam -se algum as d ife re n ça s m ais d e ssas fo rças te rrito ria is do bairro,
extrem as, com o: ten d en d o a um a degradação cada vez
- O Bairro do R ecife, por exem plo, a p a­ m aio r dessas áreas.
rece co n sta n te m e n te em tran sfo rm a­
ção, segundo interesses de distintos
4 . C o n c lu s ã o
m om entos da e vo lu çã o urbana: na sua
estru tu ra fís ic a ; nas p rá tica s sócio-
A a b o rd a g e m te ó ric a in ic ia l p erm itiu
esp aciais, rep resentand o a "v itrin e " de
e s ta b e le c e r alguns m arcos co n ce itu ais de refe­
um a Recife em diálogo com as ten d ên ­ rência, bem com o ap ro x im açõ es com algum as
cias co n tem p o rân eas. Essa co nstan te categorias que re a b a ste ceram con tín u a e dialo-
m oldagem de sua organização e sp a ­ gicam en te o estud o teó rico e em p írico das práti­
cial assum e ca ra cte rística s do espírito cas sócio-espaciais e territo rialid ad es nos bair­
do tem po da s o cie d a d e no m om ento e ros centrais. Evidencia-se assim , a im p ortân cia
das ideo lo gias d o m in an tes (lo cais e da p esq u isa a c e rc a de território, te rrito rialid a­
internacio nais): m odism os, cam panhas des e rep re se n taçõ e s, entre outros c o n ce ito s e
p o lític a s , e d iv u lg a ç õ e s c o n s ta n te s categorias, para c o m p reen são desse processo
pela m ídia, que reconstroem as "p o ssí­ de refu n cio n alização , revitaliz ação , recu p eraçã o
veis h istó rias" da cid ad e, segundo ten­ e todo o co njunto de in terven çõ es efetu ad as nos
d ên cias correntes. bairros cen trais das grandes cid ad es. A assim i­
- O Bairro de São Jo s é , ao contrário, é lação dessas im agens e in flu ê n cia s pelos d ive r­
um m arco de resistên cias territoriais e sos agentes so cia is m anifesta-se por m eio das
de p a rtic u la rid a d e s só cio - e sp a cia is, d iferen tes form as de ap ro p riação do discurso,
p reservan d o suas ca ra cte rística s mais se ja no sentid o de resistir às m u d an ças im p o s­
p rim itivas, a sso cia d a s a um a p o p u la­ tas, se ja pela in co rp o ra ção dos novos sig n ifica­
ção caren te, com forte re lação com o dos co rren tes, a p re se n tan d o um co n te ú d o sim ­
interio r do estado e códigos de co n d u ­ b ólico m utável. Os e sfo rço s de in terp retação,
ta m uito claros: quem m ora, co nso m e utilizando o caso do R ecife com o exem plo, pro­
ou trab alh a no bairro, tem seus pró­ curaram re a lça r esses elem en to s, recorren tes
prios ritm os, sem p re de form a a c o n ­ em suas re e d içõ e s, e v o ca n d o novas h ip óteses e
v iv e r com a d ive rsid ad e do lo cal; há aguçam novos q u estio nam ento s.
Refletindo sobre o papel das representações nas territorialidades urbanas: o
exem plo da área central do Recife, pp.35-50 47

N otas

1 A te s e , d e fe n d id a em 1999, intitula-se: Pe rm a ­ 1 2 M O S C O V IC I, S. T h e p h e n o m e n o n o f s o c ia l r e p ­
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10Ver: SO ARES, S .S .P (1 9 9 3 ); SO U ZA , M. L o p e s
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26Destacou-se, por exemplo, nos anos 1990 a Francesa e a Insurreição de 1817 In: ANDRADE,
figura do grupo liderado por Chico Science. M.C. de; FERNANDES, E.M. (orgs.). O Hordeste
27 FRANCA, Rubem. A rab ism o s: uma mini-enciclo- b rasileiro e a R evo lu ção Fran cesa, 1992, p.93.
pédia do mundo árabe, 1994, p.72 e 154. 33GAMA descreve o gamenho como "(.■■) p a sse a ­
2 8 MELLO, Evaldo C. de. Rubro Veio: o im ag in ário dor incessante e quase inquilino das esquinas e
da restau ração pernam b ucana, 1997. pp.35-4. botequins, levando m anhãs e tardes j á numa
29FRANCA, Rubem. M onum entos do Recife, 1977 botica, j á numa loja, porque defronte moram
p .80. um as m eninas je ito s a s e caro á veis de namoro,
30M ELLO, Evaldo C. de. Op. cit., 1997. p.35. Ver a í tendes um gam enh o às d ire ita s" GAMA,
tam bém FREYRE, Gilberto. A sso m b raçõ es do Lopes. O que é ser gamenho. In: GAMA Lopes
Recife Velho, 1970. (org: MELLO, E.C. de). O Carapuceiro, 1996,
31REZEMDE, Antônio P. O Recife: os espelhos do pp.55-6.
passado e os labirintos do presente, ou as 34Tipo m asculino de comportamento e costumes
tentações da memória e as inscrições do de­ grosseiros e de mau gosto em bora sem pre
sejo. In: Projeto H istó ria: revista do Program a inspirados na moda da época, o qual igual­
de Estu d o s Pós-Graduados em H istó ria e do mente ao gamenho, encontrava-se associado às
D epartam ento de H istó ria da Po n tifícia U n iver­ ativid ad es urbanas, com o teatros, passeios
sidade Católica de São Paulo, 1999, pp. 155-66. públicos, bares, lojas, entre outros. Ver: GAMA,
32É preciso m encionar a influência política da Lopes. O que é ser p elintra. In: op. cit., 1996,
Revolução Francesa no Ocidente, colonizado ou pp. 377-83.
não, no século X V II1. Em Pernambuco, MELO 35MELLO, E. Introdução. In: GAMA Lopes/organi-
(1992) aponta o então estudante de Medicina e zação: MELLO, Evaldo C. de. Op. Cit, 1996.
discípulo de Lavoisier, Manoel Arruda Câmara 36Ver: TOLLENARE, Louis-François. Notas Domi­
como o apregoador dos ideais burgueses e da nicais. In: KOSTER, Henry; TOLLENARE, Louis-
"Grande Revolução" Ver: MELO, C. A Revolução François. A E s c ra v id ã o no B ra sil, p.29.

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Concluído em: 08/2001

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