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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2017.0000972003

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº


1126330-60.2016.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante PAULO
ALBERTO FACHIN, é apelada EDITORA ABRIL S.A..

ACORDAM, em 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São


Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso, com observação. V.U.
Sustentou oralmente a advogada Dra. Karen Motta.", de conformidade com o voto do Relator,
que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


A.C.MATHIAS COLTRO (Presidente) e ERICKSON GAVAZZA MARQUES.

São Paulo, 13 de dezembro de 2017.

FERNANDA GOMES CAMACHO


RELATORA
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Apelação nº 1126330-60.2016.8.26.0100
Relatora: Fernanda Gomes Camacho
Órgão Julgador: 5ª Câmara de Direito Privado
Apelante: Paulo Alberto Fachin
Apelado: Editora Abril S.A.
Comarca: São Paulo - 43ª Vara CÍvel
Processo de Origem: 1126330-60.2016.8.26.0100
Juiz Prolator: Miguel Ferrari Junior

VOTO nº 5989

RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS. MATÉRIA


JORNALÍSTICA. Notícia publicada na revista Exame sobre suposto
ilícito praticado por empresas em recuperação judicial, indicando o
autor como sócio de uma delas. Autor que é proprietário de empresa
com nome similar. Posterior retratação, através do mesmo meio de
informação. Não cabimento de indenização. Acolhida a
fundamentação da sentença nos termos do art.252, RITJSP. Sentença
mantida. Honorários advocatícios majorados. Recurso não provido,
com observação.

Vistos.
Trata-se de ação relativa a reparação por danos morais
julgada improcedente pela r. sentença de fls.220/232, cujo relatório fica adotado,
com fundamento no artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil. Pela
sucumbência, o autor foi condenado a arcar com o pagamento das despesas
processuais e honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor atualizado da
causa.
Inconformado, apela o autor, sustentando, em síntese,
que sua moral foi atingida em razão de publicação veiculada pela revista Exame, de
responsabilidade da apelada, na qual seu nome foi erroneamente vinculado a uma
empresa em recuperação judicial, causando-lhe inúmeros prejuízos e dissabores.
Ademais, o dever de cuidado na divulgação de dados foi negligenciado pela
apelada, considerando que a reportagem foi veiculada em revista de grande
circulação, especializada no setor de negócios e finanças. Além disso, a apelada se
limitou a publicar uma errata na versão online, que sequer foi repetida na edição
posterior da revista impressa, inexistindo, portanto, qualquer retratação efetiva.
Considerando o dano moral causado ao apelante, bem como a circulação quinzenal

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da revista, com uma tiragem de 150 mil exemplares, pleiteia a reforma da sentença
com a condenação da ré ao pagamento de indenização por danos morais no valor
de R$1.000.000,00 (fls.234/240).
A parte contrária apresentou contrarrazões (fls.245/266).
Regularmente processado e preparado o recurso
(fls.241/242 e fls.275/276).
É o relatório.
O recurso não comporta provimento.
Consta dos autos que na revista “Exame”, de publicidade
da editora ré, foram veiculadas notícias com o seguinte teor:
“ENTRA RUIM, SAI PIOR. Fraudes, brigas entre empresas e
credores, decisões judiciais controversas. Na teoria a recuperação judicial é uma
ótima forma de salva empresas. Já na prática...
(...)
De acordo com credores ouvidos por EXAME, os casos mais
complexos são aqueles em que é quase impossível dizer onde está o dinheiro
da empresa ou de seus donos. Paulo Fachin, dono da produtora e
comercializadora de soja e milho Ceagro, que fatura 800 milhões de reais,
levantou 1,5 bilhão com grandes bancos. A garantia era uma série de
contratos de venda de soja os investidores ficavam com os pagamentos da
venda em garantia e, em caso de inadimplência ou rompimento dos contratos,
ficavam com a soja. Parecia uma garantia reforçada. Mas não existia tanta soja
assim em julho de 2015, os compradores não receberam as encomendas e,
claro, não pagaram as faturas. Os credores alegam, desde então, que a soma
de ativos da Ceagro é menor do que os financiamentos que a empresa tomou, e
os bancos agora querem saber onde foi parar o dinheiro que emprestaram. O
banco Indusval chegou a gastar alguns milhares de dólares numa investigação
para desvendar se o dono mandou dinheiro para o exterior mas, por enquanto,
só encontrou uma conta nos Estados Unidos com U$40.000,00 (o banco nega a
investigação)” (fls.72/73) (g.n.).

Em edição posterior, a revisa Exame publicou:


“CORREÇÕES. O dono da Ceagro Agrícola é Antônio Carlos
Gonçalves (Entra ruim, sai pior, 30 de março)” (fls.75).

O autor, em sua petição inicial, alega que é um dos


sócios fundadores da empresa Ceagro Central Agroquímica de Balsas Ltda., a qual
passou a integrar o “Grupo Los Grobo”. Posteriormente, no ano de 2013, a empresa
Mitsubishi Corporation adquiriu 80% das cotas sociais, sendo que a denominação
social da companhia passou a ser “Agrex do Brasil S/A”, sediada em Goiás,
permanecendo o autor com 20% das ações. Ressalta que a alteração da

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denominação social ocorreu em razão da existência de outras empresas com nomes


similares.
Em 30/03/2016, a revista Exame, de publicação da
editora ré, em sua edição 110, trouxe uma matéria sobre recuperação judicial, na
qual uma das empresas citadas era a “Ceagro Agrícola”, sediada em Campinas,
sendo o nome do autor indevidamente citado, como dono da empresa, à qual não
possui nenhum vínculo, e que supostamente havia cometido uma fraude, com
desvio de dinheiro para o exterior.
Afirma que a falsa notícia causou-lhe enorme prejuízo
moral, por se tratar de revista específica da área econômica e de grande circulação
nacional, e em razão da posição que ocupa junto a empresa Agrex do Brasil S.A.
Requer, assim, a condenação da ré ao pagamento de
indenização por danos morais no valor de R$1.000.000,00.
Os direitos de personalidade são expressamente
protegidos pelo ordenamento jurídico brasileiro. De acordo com o artigo 5º, inciso X,
da Constituição Federal, a honra e a imagem da pessoa são invioláveis, assegurado
o direito à indenização por dano material ou moral decorrente de sua violação.
No caso dos autos, contudo, em que pesem os
argumentos da recorrente, não se vislumbra conduta da requerida capaz de violar
os direitos da personalidade do autor.
Em que pese a argumentação do apelante, acertada a r.
sentença diante da fundamentação, aqui também adotada como razão de decidir,
como permite o artigo 252 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça de São
Paulo, que possibilita ao Relator, nos recursos em geral, “limitar-se a ratificar os
fundamentos da decisão recorrida, quando suficientemente motivada, houver de
mantê-la”.

Conforme constou da sentença:

“O autor sustenta que a reportagem era desabonadora à sua


pessoa e que por esta razão lhe causou danos morais.

Não obstante, no mesmo dia em que a matéria foi veiculada, a


ré providenciou a correção da informação em sua plataforma digital e a retificou
para que dela constasse o nome correto do sócio da empresa Ceagro Agrícola e
esclarecendo que o autor - citado no texto original - não tem qualquer relação

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com a empresa Ceagro Agrícola, em recuperação judicial.

O mesmo se deu na edição impressa seguinte, na qual a ré


promoveu a correção do nome do sócio da empresa Ceagro Agrícola.

Compreende-se a insurgência do autor, não obstante as


asserções da ré no sentido de que a matéria, a despeito de sua incorreção, não
continha qualquer informação desabonadora. Com efeito, o texto originalmente
publicado, muito embora tratasse de um tema de Direito Empresarial, associava
o nome do autor à uma empresa que teria dado em garantia uma quantidade de
soja menor que a existente, aludindo, portanto, à prática de um ato ilícito. Além
disso, a matéria contém a informação segundo a qual um banco credor teria
encetado uma investigação para saber se o "dono" da empresa teria enviado
dinheiro para o exterior e que teria logrado identificar uma conta nos Estados
Unidos com o saldo de 40.000 dólares.

Nessa quadra, é inegável que o conteúdo da matéria atinge a


boa fama do autor, não só pela suspeita que sugere a respeito da outorga de
garantia a menor, mas também porque aponta para a existência de uma
situação empresarial deficitária, a qual não existe, dado que o autor não é sócio
daquela empresa mencionada. Esta associação do nome do autor a uma
empresa em recuperação judicial inegavelmente pode causar-lhe prejuízos no
segmento de mercado em que atua, dado que seus parceiros comerciais
poderiam criar embaraços para novas transações negociais, temendo a
inadimplência.

Diversamente do sustentado pela ré, a reportagem em testilha


não contém apenas uma incorreção. A reportagem em si mesma considerada,
embora não seja ilícita, trata de um tema delicado à comunidade empresarial,
dado que é cediço que a empresa em recuperação judicial enfrenta sérias
dificuldades para se manter em atividade. Por conseguinte, a divulgação
equivocada da notícia de que um empresário individual ou coletivo está em
recuperação judicial é potencialmente danosa à sua reputação mercadológica.

Sem prejuízo do quanto acima foi exposto, é preciso perquirir


se a correção-retratação realizada pela ré em duas ocasiões, sendo uma no
mesmo dia em sua plataforma digital e outra na edição impressa seguinte, é
suficiente para afastar a reparação pecuniária.

É o que passaremos a examinar.


A Constituição Federal preconiza em seu artigo 5º, inciso V,
que "é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem;". A respeito da disposição
constitucional, trago à colação os valiosos ensinamento do emérito professor
JOSÉ AFONSO DA SILVA: "O direito de resposta é conatural à liberdade de
imprensa. Como o exercício desta pode ofender alguém, ou atribuir fatos ou
atos incorretos a alguém, surge para este o direito de retificação." (...) "Isso quer
dizer que a regra constitucional que o alberga é de eficácia plena - o que vale
dizer: independe de lei para que incida e seja aplicada." (...) "No nosso sistema
ele é uma garantia constitucional da inviolabilidade da intimidade, da vida
privada, da honra e da imagem das pessoas, assegurada no inciso X do art. 5º.
É, portanto, um meio de defesa dessa inviolabilidade - e, pois, um meio de
defesa da honra, da verdade e da identidade da pessoa, como reconhece De
Cupis na passagem supramencionada de Balester." (...) "O exercício do direito

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de resposta tem como pressuposto a divulgação, por qualquer meio de


comunicação, de fato inverídico pu errôneo referido a alguém." (...) "Consiste,
pois, o direito de resposta na faculdade de ver divulgada, da mesma maneira,
pronta e gratuitamente, a contestação ou a retificação de afirmativas inverídicas
ou errôneas atribuídas ao seu titular por qualquer meio de divulgação do
pensamento." (Comentário Contextual à Constituição, 4ª. Edição, Malheiros,
página 92).
No caso em tela, consoante visto alhures, embora não
concorde o autor, houve de fato a reparação in natura do dano decorrente do
ato ilícito perpetrado pela ré que prontamente e no mesmo dia encarregou-se de
veicular em sua plataforma digital a correção da informação, bem como
esclarecendo quantum satis que o autor nada tinha que ver com a empresa em
recuperação judicial citada na matéria em debate. Para além disso, na edição
impressa seguinte, a ré informou o nome correto do sócio da empresa citada na
reportagem em questão.
Voltamos, agora, à indagação acima formulada, qual seja, se a
retratação imediata e eficaz é suficiente para afastar o direito à indenização
pelos danos materiais e morais. O inclíto professor JOSÉ AFONSO DA SILVA
obtempera que: "O direito de resposta, como vimos, não exclui o direito à
indenização por dano material, moral ou à imagem. "Dano material" é o que
resulta na diminuição patrimonial do ofendido. "Dano moral", o que atinge a
reputação do ofendido resolvendo a Constituição, nesta passagem, a
controvérsia sob re a indenizabilidade ou não do dano moral: decide-se pela
afirmativa. "Dano à imagem" - que a Constituição, aqui, distingue do dano moral,
mas que no inciso X, infra, confunde com ele - é aquele que prejudica a boa
figura pública do ofendido, o conceito que dele fazem as pessoas em geral." (op.
cit., página 92)
Como regra, portanto, o exercício do direito de resposta ou
mesmo a retratação espontânea do órgão de comunicação, por si só, não tem o
condão de excluir o direito ao recebimento de indenização por danos materiais e
morais.
E há logicidade na assertiva. Isso porque, o exercício do direito
de resposta ou a retratação espontânea pode não ser suficiente para a
reparabilidade integral dos danos experimentados pela vítima. Essas figuras
jurídicas podem apenas em parte remediar o mal causado pela reportagem
inverídica, podendo não ser suficientes para apagar ou evitar a propagação dos
danos morais e materiais.
Nessa quadra, saber se a retratação espontânea ou mesmo
provocada é suficiente para afastar o direito ao recebimento de indenização por
danos materiais e morais depende da análise do caso concreto. Em outras
palavras, é preciso perquirir se a retratação espontânea ou provocada do
veículo de comunicação constituiu no caso concreto um ato jurídico eficaz, ou
seja, suficiente para estancar os efeitos deletérios da reportagem acoimada de
inverídica.
Consoante visto, a Constituição Federal garante à vítima o
exercício de diversas pretensões cumulativas e não excludentes entre si. A
vítima de uma reportagem ofensiva ou incorreta tem direito à retratação da
matéria e o recebimento de indenização por danos materiais e morais. Ocorre
que retratação e indenização por dano moral ou à imagem são formas de
reparação do dano que podem ou não ser cumuladas, dependendo do caso
concreto. E a questão ganha relevo, sobretudo para, de um lado, atender ao
mandamento da reparação integral contemplado em nosso ordenamento
jurídico, e, de outro, evitar o enriquecimento indevido da vítima (non bis in idem).

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Uma vez que o ordenamento jurídico pátrio contempla o


princípio da reparação integral do dano (Código Civil, artigo 944), há que
desvendar no caso concreto o que significa esta reparação integral. Na espécie
vertente, há que se perscrutar se a retratação foi suficiente para indenizar o
dano moral experimentado pelo autor ou se há necessidade de complementação
desta indenização por um valor monetário. Tudo depende, consoante apontado,
da eficácia da retratação.
O dano moral pode ser conceituado como aquele que atinge os
mais elementares direitos da personalidade humana. Consoante obtempera
Sérgio Cavalieri Filho: "Os direitos à honra, ao nome, à intimidade, à privacidade
e à liberdade estão englobados no direito à dignidade, verdadeiro fundamento e
essência de cada preceito constitucional relativo aos direitos da pessoa humana.
Assim, à luz da Constituição vigente podemos conceituar o dano moral por dois
aspectos distintos: em sentido estrito e em sentido amplo. Em sentido estrito
dano moral é a violação do direito à dignidade. E foi justamente por considerar a
inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem corolário do
direito à dignidade que a Constituição inseriu em seu art. 5º, V e X, a plena
reparação do dano moral. Este é, pois, o novo enfoque constitucional pelo qual
deve ser examinado o dano moral: "Qualquer agressão à dignidade pessoal
lesiona a honra, constitui dano moral e é por isso indenizável." Valores como a
liberdade, a inteligência, o trabalho, a honestidade, aceitos pelo homem comum,
formam a realidade axiológica a que todos estamos sujeitos. Ofensa a tais
postulados exige compensação indenizatória (Ap. Cível, 40.541, rel. Des. Xavier
Vieira, in ADCOAS 144.179). Atribui-se a Kant a seguinte lição: "A dignidade é o
valor de que se reveste tudo aquilo que não tem preço, ou seja, que não é
passível de ser substituído por um equivalente. É uma qualidade inerente aos
seres humanos enquanto entes morais. Na medida em que exercem de forma
autônoma a sua razão prática, os seres humanos constroem distintas
personalidades humanas, cada uma delas absolutamente individual e
insubstituível. A dignidade é totalmente inseparável da autonomia para o
exercício da razão prática. A vida só vale a pena se digna." Nessa perspectiva, o
dano moral não está necessariamente vinculado a alguma reação psíquica das
vítima. Pode haver ofensa à dignidade da pessoa humana sem dor, vexame,
sofrimento, assim como pode haver dor, vexame e sofrimento sem violaçãod a
dignidade. Dor, vexame, sofrimento e humilhação podem ser consequências, e
não causas. Assim como a febre é o efeito de uma agressão orgânica, a reação
psíquica da vítima só pode ser considerada dano moral quando tiver por causa
uma agressão à sua dignidade." (...) "Os direitos da personalidade, entretanto,
englobam outros aspectos da pessoa humana que não estão diretamente
vinculados à sua dignidade. Nessa categoria incluem-se também os chamados
novos direitos da personalidade: a imagem, o bom nome, a reputação,
sentimentos, relações afetivas, aspirações, hábitos, gostos, convicções políticas,
religiosas, filosóficas, direitos autorais. Em suma, os direitos da personalidade
podem ser realizados em diferentes dimensões e também podem ser violados
em diferentes níveis. Resulta daí que o dano moral, em sentido amplo, envolve
esses diversos graus de violação dos direitos da personalidade, abrange todas
as ofensas à pessoa, considerada esta em suas dimensões individual e social,
ainda que sua dignidade não seja arranhada. Como se vê, hoje o dano moral
não mais se restringe à dor, tristeza e sofrimento, estendendo a sua tutela a
todos os bens personalíssimos - os complexos de ordem ética -, razão pela qual
podemos defini-lo, de forma abrangente, como sendo uma agressão a um bem
ou atributo da personalidade." (Programa de Responsabilidade Civil, 10ª edição,
Atlas, páginas 88/90 - grifei).

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No caso em voga, segundo visto alhures, a veiculação da


matéria em debate, em razão de todo o seu contexto, foi suficiente para causar
dano à honra do autor. Não fosse assim, nem haveríamos de discutir a questão
da reparação in natura ou em pecúnia. Com efeito, o debate que ora se trava só
faz sentido porque a matéria em si mesma considerada causou dano moral ao
autor.
Acerca da indenizabilidade do dano moral, vaticina PONTES
DE MIRANDA: "O dano moral ou se repara pelo ato que o apague (e.g.,
retratação do caluniador ou do injuriante, casamento da mulher deflorada), ou
pela prestação do que foi considerado como reparador. Por isso, o Código Civil,
no art. 1.547, parágrafo único, a respeito do dano resultante da calúnia ou da
injúria, diz que, se não puder ser provado prejuízo material, o ofensor há de
pagar o dobro da multa no grau máximo da pena criminal respectiva." (...) "A
reparação moral pode ser específica; e.g., retificação, reconhecimento de
honorabilidade. O preceito cominatório pode ser conforme o art. 302, XII, do
Código de Processo Civil, ou, se for o caso, conforme a lei de imprensa. Se foi
pedida a indenização em ação de condenação, a sentença pode ser com
alternativa (e.g., retificar ou prestar x), ou cumulativa (e.g., retificar e prestar y),
ou, ainda, cumulativa e alternativa (e.g., retificar ou prestar x e prestar y)."
(Tratado de Direito Privado, Parte Especial, Tomo XXII, obra atualizada por
Nelson Nery Jr. E Rosa Maria de Andrade Nery, Revista dos Tribunais, página
304).
ORLANDO GOMES vaticina que: "Os princípios gerais a que
se subordina a obrigação de indenizar dizem respeito: a) à extensão; b) ao
modo de cumprimento. A reparação deve ser completa, abrangendo todas as
consequências do dano. Por outras palavras, a indenização há de ser total. Mas
não pode ir além dos prejuízos efetivamente sofridos em consequência do fato
danoso. Exige-se a adequação expressa dos efeitos à causa, delimitando-se,
assim, a extensão do ressarcimento. Excluem-se, portanto, as consequências
remotas do evento produtor do dano, especialmente se o prejudicado concorreu
para sua agravação. Não se admite, demais disso, que este consiga situação
mais favorável do que teria se o acontecimento danoso não houvesse ocorrido."
(...) "A obrigação de indenizar cumpre-se por dois modos: a) reposição natural;
b) prestação pecuniária. Há reposição natural quando o bem é restituído ao
estado em que se encontrava antes do fato danoso. Constitui a mais adequada
forma de reparação, mas nem sempre é possível, e muito pelo contrário.
Substitui-se por uma prestação pecuniária, de caráter compensatório. Se o autor
do dano não pode restabelecer o estado efetivo da coisa que danificou, paga a
quantia correspondente a seu valor. É rara a possibilidade da reposição natural.
Ordinariamente, pois, a prestação de indenização se apresenta sob a forma de
prestação pecuniária, e, às vezes, como objeto de uma dívida de valor. Se bem
que a reposição natural seja o modo próprio de reparação do dano, não pode
ser imposta ao titular do direito à indenização. Admite-se que prefira receber
dinheiro. Compreende-se. Uma coisa danificada, por mais perfeito que seja o
conserto, dificilmente voltará ao estado primitivo. A indenização pecuniária
poderá ser exigida, concomitantemente com a reposição natural, se esta não
satisfizer suficientemente o interesse do credor." (Obrigações, 17ª edição, obra
atualizada por Edvaldo Brito, Editora Forense, páginas 63/65).
Acerca das formas de reparação do dano moral, obtempera o
ínsigne mestre YUSSEF SAID CAHALI: "Anota Carlos Bittar que "admitemse,
nesse campo, conforme a natureza da demanda e a repercussão dos fatos,
várias fôrmas de reparação, algumas expressamente contempladas em lei,
outras implícitas no ordenamento jurídico positivo, como: a realização de certa

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ação, como a de retratação que, acolhida, pode satisfazer o interesse lesado


(Lei 5.250/67, arts. 29 e 30); o desmentido, ou retificação de notícia injuriosa,
nos mesmos termos (idem); a divulgação imediata de resposta (idem); a
republicação de material com a indicação do nome do autor (Lei 5.988/73, art.
126) [art. 108, Lei 9.610/98]; a contrapropaganda, em casos de publicidade
enganosa ou abusiva (Lei 8.078/90, art. 60); a publicação gratuita da sentença
condenatória (lei 5.250/67, art. 68), ou sob expensas do infrator (Lei 8.078/90,
art. 78); a divulgação de reclamações fundamentadas contra fornecedores de
produtos e serviços (idem, art. 44). Descartados os casos previstos na Lei de
Imprensa, os demais indicados - previstos na Lei de Direitos Autorais (Lei
9.610/98; art. 108) e no Código de Defesa do Consumidor - revelam-se
proveitosos, ainda que insuficiente a indicação. Efetivamente, "un daño
inmaterial puede ser resarcido en cuanto ello seea posible por medio de la
restitución in natura: esto tiene lugar sobre todo en caso de pública retractación
de declaraciones públicamente manifestadas, idóneas para lesionar el honor de
otro o perjudicar su crédito (§ 824 del BGB)"." (Dano Moral, 3ª edição, Editora
Revista dos Tribunais, páginas 811/812).
No plano processual, vale a transcrição da laboriosa doutrina
de LUIZ GUILHERME MARINONI, SÉRGIO CRUZ ARENHART e DANIEL
MITIDIERO a respeito da tutela ressarcitória na forma específica: Entretanto,
mesmo no caso de dano patrimonial ou não patrimonial, é possível a tutela
específica. A tutela que confere ao lesado a reparação do dano patrimonial in
natura, ou a tutela dirigida a reparar o dano não patrimonial na forma específica,
como aquela que repara in natura o dano estético ou a que se expressa na
publicação de comunicado que retifica anterior notícia lesiva à honra, constituem
tutelas específicas. Como se vê, tutela ressarcitória não é sinônimo de tutela
pelo equivalente (sentença condenatória): há tutela ressarcitória na forma
específica quando é possível, ainda que parcialmente, reparar o dano
independentemente da outorga ao lesado de um montante em pecúnia,
correspondente ao valor da lesão. Como está claro, tutela pelo equivalente ao
valor do dano é o contrário de tutela ressarcitória na forma específica. Discute-
se, entretanto, se a tutela que concede ao autor o equivalente em pecúnia para
a reparação in natura pode ser classificada como específica. Não há dúvida de
que a tutela que obriga o demandando a reparar o dano na forma específica, ou
a tutela que confere ao autor a reparação específica, mediante a atividade de
um terceiro custeada pelo demandado, constituem formas de tutela na forma
específica. Contudo, se o autor postula soma a necessária para a reparação in
natura, ou se o dano é reparado e é pedida a soma correspondente ao valor que
foi gasto para a reparação in natura, não há tutela específica. Ainda que o dano
seja reparável na forma específica, a entrega da soma em dinheiro para a
reparação na forma específica não constitui tutela ressarcitória na forma
específica, mas sim tutela ressarcitória pelo equivalente ao valor do custo
necessário para a reparação na forma específica. (Luiz Guilherme Marinoni,
Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero, O Novo Processo Civil, Thomson
Reuters Revista dos Tribunais, página 348). E mais adiante, dissertam: Não há
dúvida de que a tutela específica protege de modo mais adequado o direito
material. A tutela dirigida a evitar o ilícito é, evidentemente, muito mais
importante do que a tutela ressarcitória. Por outro lado, no caso de dano não
patrimonial, o ressarcimento na forma específica é o único remédio que permite
que o dano não seja monetizado e que o direito, assim, encontre uma forma
efetiva de reparação. Na realidade, o direito à tutela jurisdicional efetiva tem
como corolário a regra de que, quando possível, a tutela deve ser prestada na
forma específica. Isso porque, o direito do credor à obtenção de uma utilidade

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específica prevalece sobre a eventualidade da conversão do direito em um


equivalente.” (Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero,
O Novo Processo Civil, Thomson Reuters Revista dos Tribunais, página 350). E
por fim, vaticinam: Tutela específica é o contrário de tutela pelo equivalente ao
valor da lesão ou da obrigação inadimplida. A tutela específica preocupa-se com
a integridade do direito, impedindo a sua degradação em pecúnia. A tutela pelo
equivalente implica a monetizaçãodos direitos ou na aceitação de que os
direitos são iguais e podem ser convertidos em pecúnia. Assim, era ideal a um
Estado que não podia tratar os bens e as proposições sociais de forma
diferenciada. Acontece que o Estado contemporâneo não só tem o dever de
permitir a justa inserção do homem na comunidade em que vive, mas também, e
para tanto, o dever de tutelar os direitos na forma específica, impedindo a sua
violação e permitindo a sua recomposição ou a sua reparação na forma mais
perto possível da anterior à violação ou á prática do dano. (Luiz Guilherme
Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero, O Novo Processo Civil,
Thomson Reuters Revista dos Tribunais, página 419).
E o mestre PONTES DE MIRANDA enfatiza que: No
restabelecimento do estado anterior, tal como era, concretamente, o devedor
tem de restaurar e dar conta do tempo que decorreu entre o fato ilícito e a
restauração. (...) Em nenhum lugar do Código Civil ou do Código Comercial se
diz que a indenização há de ser precipuamente em dinheiro. Pelo contrário: no
art. 1.543 do Código Civil, que se refere à restituição, põe-se a restituição em
natura antes da indenização em dinheiro. No Decreto n. 24.776, de 14 de julho
de 1934, art. 35, foi dito: Toda pessoa, natural ou jurídica, que for atingida em
sua reputação e boa fama por publicação feita em jornal ou periódico, contendo
ofensas ou referência de fato inverídico ou errôneo, tem o direito de exigir do
respectivo gerente que retifique a aludida publicação. Embora por inserção de
resposta, há aí, indenização em natura, se houve ofensa à reputação e boa
fama. Tal retificação, de que é autor o ofendido, não se confunde com a
retratação, feita pelo ofensor, quando o ofendido exerce a pretensão à
indenização em natura (= pretensão à retratação de manifestações públicas que
ofendam a honra de outrem ou lhe diminuam o crédito). A pretensão à
indenização, se a restauração em natura não pode ser feita, ou não seria
satisfatória, exerce-se para se haver a quantia em dinheiro que valha o dano
sofrido, material ou imaterial. (...) Lê-se no Código Civil, art. 1.534: “Se o
devedor não puder cumprir a prestação na espécie ajustada, substituir-se-á pelo
seu valor, em moeda corrente, no lugar onde se execute a obrigação . Portanto,
o que se há de pedir é a espécie ajustada; se o devedor não pode prestá-la, é
que se dá a substituição pelo valor, em moeda corrente, no lugar da execução.
O valor do objeto prometido, entenda-se, no lugar da execução. Não se referiu o
tempo em que se aprecia o valor, porque só há a exceção do art. 1.536 do
Código Civil à incidência dos princípios gerais. O devedor pode ser condenado a
prestar a espécie prometida, se pode prestá-la; por isso mesmo, a execução
pode recair em tal espécie que esteja no patrimônio do devedor. Aqui, convém
que frisemos alguns pontos descurados pela doutrina: 1) Quem promete coisa
certa tem, precipuamente, de prestar coisa certa. A propositura da ação é para
que se preste o que se prometeu. Não só as ações reais têm a
reipersecutoriedade; nem só as ações reais têm por finalidade o adimplemento
primário, que é pela prestação do devido. 2) Nas próprias ações por fatos ilícitos
(fatos stricto sensu ilícitos, atos-fatos ilícitos, atos ilícitos), absolutos ou relativos,
ou por fatos lícitos, de que se irradie pretensão à restauração do status quo
ante, o pedido pode dirigir-se a restauração em natura, e somente quando haja
dificuldade extrema ou impossibilidade de se restaurar em natura é que, em

Apelação nº 1126330-60.2016.8.26.0100 - Voto nº 5989 VAN 10


TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

lugar disso, se há de exigir a indenização em dinheiro. (Pontes de Miranda,


Tratado de Direito Privado, Tomo XXVI, obra atualizada por Ruy Rosado de
Aguiar Júnior e Nelson Nery Jr. Revista dos Tribunais, páginas 96/97).
É imperioso destacar que no caso concreto o autor não alegou
tampouco demonstrou que houve repercussão negativa do fato para além de
sua esfera jurídica subjetiva (honra subjetiva), ou seja, que houve lesão à sua
honra objetiva.
Nessa quadra jurídica, os elementos de prova constantes dos
autos aliados aos ensinamentos acima reproduzidos lobrigam a conclusão de
que a retratação formulada pela ré em duas ocasiões, sendo uma delas no
mesmo dia da publicação original, satisfizeram na plenitude o interesse do autor
em ver repostas as coisas no estado imediatamente anterior à prática do ilícito,
sem que seja necessária a complementação por meio de uma indenização em
pecúnia.
Em outras palavras, conclui-se pela suficiência das publicações
realizadas pela ré para a reparação in natura e integral do dano experimentado
pelo autor.” (fls.221/232)

Portanto, ante a suficiência da retratação realizada pela


ré, não há que se falar em dever de indenizar.
Assim, a sentença deve ser mantida.
Diante do trabalho desenvolvido pelos causídicos e a data
da interposição do recurso, na vigência do atual Código de Processo Civil, majoro os
honorários advocatícios para 15% do valor atribuído à causa, nos termos do
disposto no artigo 85, § 11, do Código de Processo Civil de 2015.

Para fins de prequestionamento, consideram-se incluídas


no acórdão todas as matérias suscitadas pelas partes, objeto do presente recurso.

Diante do exposto, nega-se provimento ao recurso, com


observação.

FERNANDA GOMES CAMACHO


Relatora

Apelação nº 1126330-60.2016.8.26.0100 - Voto nº 5989 VAN 11

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