Вы находитесь на странице: 1из 4

Para Nora, a historia “contemporânea” se baseia em duas imagens contraditórias:

“filha degenerada de uma história mais nobre” (antiga, medieval e moderna), mas
“condenada a ir vivendo à sua sombra”; e também inspiradora de questionamentos sobre
o passado, uma vez que “depositária dos segredos do presente”. Conforme o autor,
nenhuma dessas “imagens” seria completamente falsa. De qualquer forma, porém,
observa o autor, a historia contemporânea ainda não teria encontrado sua identidade e
autonomia, alem disso, também seria resultado de uma história puramente francesa.
Nora também ressalta que nenhuma outra época viveu seu presente como já
possuindo um “sentido histórico”. Da mesmo forma, aponta que isso já configuraria a
identidade da história contemporânea. A chamada “mundialização”, que inclui as
guerras totais, revoluções, difusão das comunicações, transformações das economias
modernas, que teriam penetrado nas sociedades tradicionais, possibilitou uma
mobilização geral das massas. Da mesma forma, os processos de colonização e
descolonização trouxeram à “historicidade” de tipo ocidental sociedades antes
consideradas “sem história”. Essa “democratização da história”, que configura a
especificidade do presente, apresenta lógicas e leis peculiares. Diante disso, o autor
pretende “isolar” o seguinte: o fenômeno novo do “acontecimento”, resultado da
atualidade e da “circulação generalizada de percepção histórica”.
O autor coloca que os historiadores positivistas procuraram fundamentar a
historia no estudo do passado, cautelosamente apartado do presente, bem como
pretenderam movimentar esse passado por um encadeamento contínuo de
“acontecimentos”. Dessa forma, a partir do métodos das ciências experimentais
aplicados às ciências sociais, esses historiadores pretendiam comprovar cientificamente
um fato, através de sua reconstituição, a fim de retomar todo o passado por meio de uma
serie de acontecimentos constituídos por uma junção de fatos. Ainda, procuraram
colocar a descontinuidade de fatos únicos em uma cadeia de causalidade contínua.
Assim, condicionaram o presente à “tirania do acontecimento”, proibindo-o de “residir
na história”. A partir disso, ficou convencionado que a história seria feita sobre o
acontecimento, e o historiador se tornou o “grande ordenador do acontecimento”.
Nora atribui aos mass media (meios de comunicação em massa) o
“reaparecimento do monopólio da história” e observa que nas sociedades
contemporâneas o acontecimento marca sua presença por meio deles. Assim, os mass
media não agiriam somente enquanto “meios”, em relação aos quais o acontecimento
teria sua independência relativa, mas funcionam como a própria condição de existência
do acontecimento. O autor também observa que o fato de terem acontecido não os torna
históricos. A condição necessária para o acontecimento é que este seja conhecido.
O autor também aponta as relações entre o tipo de acontecimento e o tipo de
meio de comunicação, salientando sua intensidade e sua aparência de aspectos
inseparáveis. Como exemplo, relaciona a propagação da imprensa e o surgimento, a
partir da educação obrigatória, de um maior número de leitores aos escândalos do
começo da III República francesa e de outros casos, como comentários sobre a vida
parlamentar, questões sobre a secularização, rivalidades nacionais na Europa, o caso
Dreyfus entre outros. Ressaltando a função do rádio, Nora coloca que os “media”
transformam em atos aquilo que, de outra forma, não passaria de “palavra no ar”. Dessa
forma, dão as palavras ditas a “eficácia do gesto irreversível”. Também cita o exemplo
do Maio de 68, em que os incidentes transmitidos tornavam-se acontecimentos.
Em relação à televisão, Nora aponta que a esta se deve um grande passo na
“democracia do acontecimento”. Como exemplo, cita os Jogos Olímpicos, com poucas
formas possíveis de serem mostrados, mas com várias maneira através da quais podem
ser comentados. Diante disso, as imagens transmitidas são sempre escolhas, montagens.
Da mesma forma, a televisão se constitui como uma “mistura exata de distancia e
intimidade”, que é a forma mais moderna, muitas vezes única, para as massas viverem a
história contemporânea.
Nora coloca que para o historiador o acontecimento moderno se mostra
vantajoso, uma vez que este permaneceria privilégio de sua função, em um sistema
tradicional. Assim, o historiador que forneceria ao acontecimento seu lugar e seu valor,
e nada seria incluído na história sem seu consentimento. Agora, o acontecimento vem
do exterior, com a força de um dado, antes de sua elaboração e do trabalho do tempo.
Os meios de comunicação impõem, de imediato, o vivido como história, enquanto o
presente impõe em maior grau o vivido. Assim, a transição do imediato ao histórico e
do vivido ao lendário ocorre no momento em que o historiador se vê confuso em seus
hábitos e ameaçado em relação a seus poderes.
Diante disso, Nora questiona: trata-se do mesmo acontecimento¿ Para o autor,
conforme o acontecimento liga-se intimamente a sua expressão, sua significação
intelectual, próxima de uma forma inicial de elaboração histórica, esvazia-se em prol de
suas virtualidades emocionais. “A realidade propõe, o imaginário dispõe”, sugere o
autor.
Nora observa que o acontecimento, por natureza, faz parte de uma categoria bem
catalogada da razão histórica: acontecimento político, social, científico, local, nacional.
Mas dentro de sua categoria bem definida, o acontecimento aparece por sua
importância, a novidade da mensagem. Por outro lado, o fato cotidiano faz parte de um
lugar simetricamente inverso, uma vez que está espalhado, fora de categoria, mas
remete a um conteúdo estranho a um contexto de convenções sociais. Isso não significa,
pondera o autor, que não exista diferença entre o acontecimento e o fato cotidiano, no
entanto, em relação a qualquer acontecimento, no sentido moderno do termo, o
imaginário de massa deseja a possibilidade de acrescentar qualquer aspecto do fato
cotidiano, como o drama, o mistério, a estranheza, um poder de compensação e de
identificação, entre outros.
O autor afirma que “o acontecimento é o maravilhoso das sociedades
democráticas”. Os elementos do “fantástico”, tradicionalmente fornecidos pelo
“extramundo”, agora são oferecidos pela própria sociedade industrial. Como exemplo,
cita a aterrissagem do homem na Lua - e suas demonstrações de poderio técnico, de
criação de heróis, estética futurista, etc. -, que constitui o modelo do acontecimento
moderno. Alem disso, também deve-se levar em conta o papel da transmissão direta,
que coloca a ação incerta sob os olhares, tirando do acontecimento seu caráter histórico
e projetando-o no vivido das massas. Dessa forma, a peculiaridade do acontecimento
moderno é seu desenvolvimento numa cena imediatamente pública, e do qual todo
mundo e ninguém faz parte, uma vez que todos compõem a massa da qual ninguém
pertence. É um acontecimento sem historiador, que conta com participação afetiva das
massas, única forma de participação delas na vida pública.

Nora coloca que a modernidade segrega o acontecimento, diferentemente das


sociedades tradicionais, que tendiam a torná-lo raro. As instituições de poder e a
religião procuravam eliminar a novidade e digeri-la por meio do rito. Assim, o
equilíbrio era mantido através da negação do acontecimento, que representaria a
ruptura. Já nas sociedades contemporâneas, existem, ao mesmo tempo, a
superinformação contínua e a subinformação crônica. [TALVEZ NÃO USAR]

Retomando a discussão inicial, Nora coloca que o historiador do presente acaba


repetindo os métodos do passado, para conseguir significações, mas com a diferença de
finalidade: buscar culminar no acontecimento em vez de procurar reduzi-lo. Assim, o
historiador faz com que o passado surja conscientemente no presente, em lugar de fazer
com que o presente surja inconscientemente do passado.
Para o autor, a historia contemporânea, enquanto exploração da atualidade, “não
consiste em aplicar ao presente métodos históricos testados pelo passado”, mas é o
“exorcismo supremo” do acontecimento. Ainda que contestada pela história, isso não
impede que, tal como o acontecimento, ela tenha existido. Conforme Nora, é o nosso
presente por completo que busca sua própria consciência por meio do novo estatuto que
o acontecimento passou a ter nas sociedades industriais.

Вам также может понравиться