A veneração a mártires e relíquias já era praticada no segundo século.
A morte dos mártires era comemorada com ofícios públicos. No IV
século, Constantino construiu uma Igreja em honra a Pedro em Roma. Helena, sua mãe empreendeu uma peregrinação a Jerusalém em busca da verdadeira cruz. Esta se tornaria a grande relíquia e prova da existência de Cristo. Antes do fim do século IV já se afirmava que se devia orar aos mártires na qualidade de intercessores diante de Deus, e de tê-los por capazes de proteger, curar e auxiliar aos que os honrassem. Aos mártires eram acrescentados os ascetas, líderes eclesiásticos e opositores das heresias. Não havia um método para se avaliar a pretensa santidade. Era uma questão de consenso. Eram as guardiãs das cidades, patronos de várias profissões, curadores de doenças. Para o povo em geral, os mártires ocupavam o lugar dos antigos deuses e heróis. Assim se expressou Jerônimo: “eles seguem o Cordeiro aonde quer que ele vá. Se o Cordeiro está presente em toda parte, o mesmo se deve crer com respeito aos que estão com o Cordeiro”. Eram venerados mediante o uso de círios acesos. O principal entre esses personagens sagrados era a Virgem Maria. Tertuliano e Clemente de Alexandria, no início do século III, proclamavam-na eternamente virgem. Na luta contra o Nestorianismo (5º século) consagrou-se a expressão “Mãe de Deus” (Theotokos). Embora a discussão do Concílio de Éfeso (431 d.C.) não se concentrasse em Maria, para o povo em geral, a manutenção da expressão “Mãe de Deus” foi uma vitória para a devoção das massas. A ela transferiu-se muito do sentimento que se expressara nos cultos das deusas-mães do Egito, da Síria e da Ásia Menor. As origens do culto dos anjos encontram-se nos tempos apostólicos (Cl 2:18). Contudo, somente em fins do IV século tornaram-se objeto de reverência cristã. A obra mística cristã neoplatônica escrita em fins do V século e início do VI, sob o nome de Dionísio, o Areopagita (Pseudo-Dionísio), deu grande incremento à reverência aos anjos. Na Obra “Da Hierarquia Celeste” encontramos a tradicional hierarquia dos anjos: anjos, arcanjos, poderes, principados, potestades, virtudes, tronos, querubins e serafins. Dentre todos os seres angélicos, o arcanjo Miguel era o mais reverenciado. Constantino erigiu uma igreja em comemoração a ele perto de Constantinopla e existia outra em Roma, com começo do século V. A celebração de sua festa a 29 de setembro, era uma das festas medievais mais populares. A veneração de imagens começara no século III, seguindo-se imediatamente protestos contra ela. Com a era Constantiniana, esta prática estendeu-se cada vez mais mediante a assimilação de alguns traços característicos do culto imperial por parte do culto cristão. Cria- se que o ícone participava na natureza daquilo que retratava. Basílio Magno disse com respeito ao próprio retrato do Imperador: “a honra prestada à imagem transfere-se ao protótipo”. Inicialmente dizia-se que só deviam ser permitidas, ao menos no interior das igrejas, representações em superfície plana – pinturas e mosaicos, mas não estátuas. Esse é o costume que ainda prevalece na Igreja Grega até os nossos dias. Esse Cristianismo popular afetou profundamente a vida do povo. Até certo ponto facilitou a conversão de milhares de pagãos ao cristianismo, mas corria o risco de paganizar a própria Igreja. Foi esta percepção que provocou a Controvérsia Iconoclasta no século VIII. Várias foram as influências orientais: desprezo pelo mundo material e ênfase numa religião espiritualista; a crítica de judeus e islâmicos para quem a veneração dos ícones equivalia à idolatria; a visão dos monofisistas do Egito e da Siria, os quais consideravam que o divino não pode ser circunscrito, e que o humano em Cristo é um mero instrumento passivo do Logos, a verdadeira realidade de Jesus Cristo não pode ser retratada pelo ícone. O Império Romano Oriental experimentou um ressurgimento de seu poder sob o governo de Leão III, o Isáurio (717-740 d.C.). Leão III quis purificar a igreja de suas superstições acabando com a veneração de pinturas e ícones religiosos. Para alcançar seu intento, o Imperador sabia que seria preciso destruir o poderio dos monges que eram os grandes defensores da veneração aos ícones. Em 725 d.C., Leão III proibiu oficialmente o uso dos ícones no culto. O resultado foi a revolta religiosa dos monges e do povo em geral. Leão III lançou mão do exército e impôs sua vontade pela força. Mas a Itália estava geograficamente muito longe. O Papa Gregório III, em 731 d.C., excomungou o Imperador e todos que se opunham às imagens. Leão III em represália subtraiu à jurisdição do Papa a Sicília e o que pode da Itália. Seu filho, Constantino V, continuou sua política. Um Sínodo convocado por Constantino em 754 d.C. condenou as figuras e aprovou a extensão da autoridade imperial sobre toda a igreja. Com isto, o papado em Roma se aproxima dos Francos para obter retaguarda militar contra Constantinopla. A mudança na política veio com a entronização de Constantino VI, sob a influência de sua mãe, Irene, partidária do uso das imagens. Em 787 d.C., reuniu-se em Nicéia o Sétimo Concílio Geral da Igreja. O resultado final deste Concílio, está transcrito a seguir: "Caminhando pela estrada real e seguindo a doutrina divinamente inspirada de nossos santos padres e a tradição da Igreja Católica (porque sabemos que sua tradição é a do Espírito Santo que habita na Igreja) definimos, com todo o cuidado e exatidão, que as veneráveis e santas imagens são erigidas da mesma forma como a figura da preciosa e vivificante cruz; imagens pintadas, feitas em mosaico ou de outro material conveniente, nas santas igrejas de Deus, sobre vasos e vestimentas sagradas, em paredes e quadros, em casas e ao lado das estradas; imagens de nosso Senhor e Deus e Salvador Jesus Cristo e de nossa imaculada Senhora, a santa Genitora de Deus, dos veneráveis anjos e todos os homens santos. Com efeito, quanto mais são contemplados por meio de tais representações tanto mais os que os contemplam são incitados a refletir nos seus originais, a suspirar por eles e a tributar às imagens o tributo de uma saudação e a reverência da honra, sem tributar-lhes verdadeira adoração que está de acordo com nossa fé e que é devida somente à natureza divina; mas assim como às figuras da venerável e vivificante cruz, ao santo Evangelho e aos outros monumentos sagrados, assim também a essas imagens devemos conceder a honra do incenso, o oferecimento de luzes, como piedoso costume que foi da Antigüidade. Pois as honras tributadas às imagens passam aos seus originais, e aquele que adora uma imagem adora a pessoa nela pintada."