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Da Amizade em Montaigne

Carlos Eduardo de Lima Rodrigues1

Resumo: Este resumo visa a temática da amizade no pensamento de Montaigne. Trata-se, mais
especificamente do capítulo 28 do livro I dos Essais. O autor enaltece e narra o sentimento da
amizade associado ao ensaiar. Deste modo, ele utiliza a figura de um pintor para manter os seus
ensaios presentes na história. Ele apresenta a amizade não como uma forma de satisfação de
interesses, tal como a sociedade apresenta, pois não pode existir uma amizade imposta. O
pensador narra, onde na sua “visão”, não pode haver amizade, a fim de demonstrar que a família
e a hierarquia não são berços de amizade, pois nos momentos em que a amizade tem
“obrigação” de corrigir ou apontar erros, o respeito se sobressai nos familiares. Com isso, a
amizade não atinge uma livre comunicação. Por essa razão, a amizade implica no maior
sentimento ao qual pode existir e que supera, inclusive, o amor de um casal. A vivência de uma
virtuosa amizade se desenvolve fortemente, de modo que as almas se unem no desejo de
comunhão, até o ponto de procurarem ser uma só alma em dois corpos.

Palavras-chave: Amizade. Ensaiar. Interesse. Respeito. Comunhão.

Abstract: This summary discusses the thematic of the friendship in Montaigne’s tought. It is
especifically about the 28th chapter of the Book # I of Essais. The author discusses the feeling
of friendship associated with writing. Thus, he takes use of the character of a painter to keep his
essays present in history. He presents the friendship not as a form of satisfaction of interests - as
the society does, since there can be no imposed friendship. The thinker explains where in his
"vision" there can be no friendship, with the aim of explaining that the family and the hierarchy
are not sources of friendship, because at the times when the friendship has "obligation" to
correct or point out mistakes, the respect stands up among the member of the family. With this,
the friendship does not reach an open communication status. For this reason, friendship implies
in the greatest feeling that can exist, which surpasses even the love between a couple. The
experience of a virtuous friendship develops itself strongly, so that the souls are united in the
desire for communion, so far as to seek to be one soul in two bodies.

Keywords: Friendship. Essays. Interest. Respect. Communion.

Michel Eyquem de Montaigne nasceu na França na cidade de Périgod no ano


1533. Ele possuía um temperamento tolerante, devido à educação que recebera. Era uma
pessoa vigilante e metódica, mas aberto às novidades da época. Cursou direito e o
exerceu como conselheiro no tribunal de Périgueux e posteriormente no parlamento de
Bordéus. Neste período conhece outro magistrado de nome La Boétie, com quem
formou grande amizade. Anos mais tarde, em 1563, seu grande amigo vem a morte,
pondo fim ao brilhante período de sua mocidade. No ano de 1592, aos 59 anos,
Montaigne falece em Périgod.

1
Graduando da Faculdade João Paulo II. Orientador: Prof. Ms. Marcos Fernandes Gonçalves. Email:
carlosedu91@bol.com.br.

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O pensador escreveu apenas uma obra a qual ele intitula: Essais (francês) ou
Ensaio. Sua obra esta dividida em três partes, onde ele retrata suas experiências,
abordando vários temas. Seus dois primeiros Ensaios foram publicados em 1580 na
cidade de Bordéus, mas seu terceiro Ensaio fora publicado após sua morte no ano de
1595. Vale bem observar que o filósofo utiliza a palavra ensaiar em francês, essai, que
significa prova, experiência e tentativa. Acrescenta-se que ensaiar implica o contato
com o constante e a diversidade. Trata-se da fragmentação do eu, que se encontra num
jogo, ou seja, num movimento, no qual não existe um eu único e tampouco abstrato.
Isso acontece porque, ao ensaiar, o autor se põe fora do tempo na tentativa de trazer à
tona suas experiências e escrevê-las. Assim Montaigne descreve a amizade como um
pintor que não pinta o ser, mas pinta a passagem, na qual representa cada instante sem
que se perca nada. Desta forma, filósofo presentifica a amizade no tempo. Os ensaios
são, portanto, quadros do vivido, que podem ser perdidos com o tempo através do
esquecimento. Ensaiar é manter vivo o laço amistoso da amizade.
O objetivo desse trabalho é compreender a amizade expressa pelo Filósofo
Montaigne, que a viveu em plenitude com seu amigo La Boétie. E assim alguns pontos
específicos com: Constatar se amizade, dentro da sociedade, está correlacionado às
satisfações e aos prazeres. Observar se existe verdadeira amizade entre pais e filhos.
Compreender se através da amizade pode existir uma só alma em dois corpos.
O pensador aponta a amizade não com uma forma de satisfação de interesses
como a sociedade apresenta, mas como ponto de perfeição, sendo que somente quem
tem amigo pode experimentar tal sentimento. Ao expressar isso, o filósofo quer mostrar
a forma como a sociedade vê a amizade, onde na sua grande maioria são meros
interesses, tendo a amizade com outros fins, aproveitando da necessidade de um amigo,
em outros termos, usufruindo do maior sentimento que pode existir, ponto de “perfeição
na sociedade”, segundo Montaigne.

A natureza parece muito particularmente interessada em implantar em


nós a necessidade das relações de amizade e Aristóteles afirma que os
bons legisladores se preocupam mais com essas relações do que com a
justiça. É verdade que amizade assinala o mais alto ponto de perfeição
na sociedade. Em geral sentimentos a que damos o nome de amizade,
nascidos da satisfação de nossos prazeres, das vantagens que
usufruímos, ou de associações formadas em vista de interesses
públicos ou privados, são menos belos, menos generosos, e participam
tanto menos da amizade, a qual tem outras causas, visa a outros fins.
(MONTAIGNE, 1984, p. 92).

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Pode se observar que logo no início da citação o pensador destaca que alguns
legisladores dão tamanho valor as “relações”, nestas a amizade ou a pseudo amizade são
estabelecidas por meros interesses, o que leva Montaigne afirmar que os legisladores
dão mais importância as relações, pois estas podem beneficiá-los. A justiça por sua vez
não colabora, porque ao julgar, segundo a Justiça, as relações de “trocas” ficam
comprometidas criando inimizades. A amizade não é uma forma de satisfazer os
interesses, como a sociedade tem concepção, mas é muito mais, onde só quem tem um
amigo pode experimentar.
Montaigne mostra outra forma de pensar as relações familiares, que alguns
chamam de amizade. Para ele não há amizade dentro da família, isso de pais para filhos
de irmão para irmãos, pois dentro de uma amizade os questionamentos e as repreensões
são indispensáveis, mas isso em família é difícil, porque nestes momentos o respeito
sobressaí, ou algum outro sentimento de não ouvir. Isso pode ser exemplificado quando
se pensa que um filho tem que chamar a atenção de seus pais, mas o “respeito” é algo
que o inibe de tomar tal decisão, é maior o “medo” quando se trata de apontar alguns
pensamentos ou atos íntimos:

Nas relações entre pais e filhos é mais o respeito que domina. A


amizade nutre-se de comunicação, a qual não pode estabelecer-se
nesse domínio em virtude da grande diferença que entre eles existe, de
todos os pontos de vista; e esse intercâmbio de idéias a emoções
poderia por vezes chocar os deveres recíprocos que a natureza lhes
impôs, pois, se todos os pensamentos íntimos dos pais se
comunicassem aos filhos, ocorreriam entre eles familiaridades
inconvenientes. Mas ainda: Não podem os filhos dar conselhos ou
formular censuras a seus pais, o que é entretanto uma das primeiras
obrigações da amizade. (MONTAIGNE,1984, p. 92).

A amizade entre pais e filhos é um ponto muito importante, pois a mesma


ultrapassa vários limites, porém é uma amizade utópica, pois sobressai o respeito dos
filhos para os pais, o que impede a exigência da amizade. O fato pode ser bem notado
dentro de nossas famílias. Pois quantas vezes, pais se tornam opressores de idéias, não
permitindo que os filhos expressem o que pensam dos atos por eles cometidos? Nesta
perspectiva a amizade familiar é utópica, pois a dimensão do respeito e da liberdade não
é rompida dentro das relações de pais para filhos.

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Montaigne expressa, por um lado, a sua amizade com La Boétie ligada ao
conceito de irmão. Por outro lado, vemos que ela é diferente daquelas que são
desenvolvidas entre pai e filho ou, entre irmãos biológicos. Nesta, não há
correspondência dos gostos o que diferencia de uma virtuosa amizade.

É, em verdade, um belo nome e digo da maior afeição o nome de


irmão; e por isso La Boétie e eu o empregamos quando nos tornamos
amigos; mas na realidade, a comunidade de interesses, a partilha dos
bens, a pobreza de um como conseqüência da riqueza de outro,
destemperam consideravelmente a união formal. Em devendo os
irmãos, para vencer neste mundo, seguir o mesmo caminho, andar
com passo igual, inevitável se torna que se choquem amiúde. Mais
ainda: é a correspondência dos gostos que engendra essas verdadeiras
e perfeitas amizades e não para que ela se verifique, entre pai e filho,
ou entre irmãos os quais podem ter gostos totalmente diferentes.
(MONTAIGNE, 1984, p.92).

O filósofo mostra que é muito difícil haver uma verdadeira e perfeita amizade
dentro de “casa”, pois dentro da convivência entre pais e filho e entre irmãos são muitas
as diferenças existentes, uma vez que essas relações são permeadas pelo respeito. Desse
modo, a categoria assinalada impede o nascimento da amizade.
O mesmo acontece dentro de uma hierarquia, em vínculos empregatícios, pois
nestes já se tem uma concepção, segundo a qual, quem tem mais poder é quem manda,
não precisa ouvir e muito menos receber questionamentos sobre seus sentimentos ou
emoções. Segundo Montaigne, dentro de uma amizade é fundamental saber questionar,
mas primordial saber ouvir questionamentos.
Segundo Montaigne, quando a amizade é imposta segundo as leis e as
obrigações não é exercida livremente, pois dentro de uma virtuosa amizade não pode
haver condições ou restrições para se formar este sentimento. Isso pode ser bem
esclarecido quando se pensa em crianças que vivem juntas, porém não tendo a
concepção de amizade formada. Quando porventura brigam e são “forçadas” à
reconciliação, pode-se perceber que muitas vezes elas estabelecem condições como:
“Ah! Eu só volto a ser amiguinho dele, se ele não fizer mais tal coisa”. Este ato infantil
pode ser pensado em outras realidades e diferentes relacionamentos, que mal
direcionados, corroboram para formação de um “indivíduo” imprevisível e insociável,
de modo que estabelece restrições e condições na amizade. Conforme ressalta
Montaigne:

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É meu filho, meu parente, mas isso não impede que se trate de um
indivíduo pouco sociável, um mau, um tolo. Nas amizades que nos
impõem a lei e as obrigações naturais, nossa vontade não se exerce
livremente; elas não resultam de uma escolha, e nada depende mais de
nosso livre arbítrio que a amizade e a afeição. E não digo isso porque
tenha tido a oportunidade de conhecer o que de melhor pode haver
como amizade familiar, porquanto meu pai foi melhor dos pais, o mais
indulgente, e assim permaneceu até a mais avançada velhice. Nossa
família era reputada pela excelência das relações entre pais e filhos, e
a concórdia entre irmãos era nela exemplar: “conhecimento eu mesmo
pelo amor paternal que dediquei a meus irmãos”. (MONTAIGNE,
1984, p.93).

Como pontuamos, amizade e a afeição correspondem ao livre arbítrio, o que por


sua vez não existe na dimensão “frater”. Assim também o pensador mostra que as
relações familiares podem ser grandes, tal como ele apresenta a sua, mas não ao ponto
de chegar a uma livre comunicação. Uma vez que as amizades familiares são impostas,
não conseguindo ultrapassar a dimensão do respeito.
O filósofo apresenta que a amizade é tamanha que as almas se unem no desejo
da comunhão, até o ponto de procurar ser uma só alma em dois corpos. A vivência da
amizade permite que aja tal comunhão de ideias, e bens, que se tornam uma só alma em
dois corpos, capazes de viver o ápice da amizade. Neste sentido, a amizade exige muito
de ambos, é “sentir” e viver os mesmos pensamentos ao ponto de ser capaz de viverem
juntos em pensamento e separados em corpos, segundo Montaigne:

Efetivamente, em tudo lhes sendo comum, vontade, pensamento,


maneira de ver, bens, mulheres, filhos, honra e até a vida, e em
procurando ser apenas uma alma em dois corpos, na expressão muito
certa de Aristóteles, nada se podem pedir ou dar. (MONTAIGNE,
1984, p.95).

Segundo Montaigne, um amigo deve ocupar um local de destaque em nossa


vida, em que se é desobrigado de tudo, pois é único. Ele também apresenta as
dificuldades de multiplicar os amigos, porque tendo “vários” somos obrigados em
certos momentos a optar mais por um do que por outro, o que é um grande empecilho,
pois amigo não abandona:

Com um amigo único que ocupe em nossa vida lugar preponderante


estamos desobrigados de tudo. O segredo que jurei não comunicara
ninguém, posso, sem ser perjuro, comunica-lo a quem não é outro

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senão eu mesmo. Já é grande milagre dobrar-se assim. Os que falam
de triplicar se não lhe percebem a grandeza. Nada que possui seu
semelhante é extremo. Quem supõe que, tendo dois amigos ama tanto
um quanto o outro, e tanto quanto se amam entre si e quanto o amam
igualmente, imagina ser possível multiplicar e transformar em
confraria essa coisa única e homogênea tão difícil de encontrar no
mundo. (MONTAIGNE, 1984, p.95).

Como podemos perceber, Montaigne destaca que tendo dois amigos que se
amam igualmente e assim multiplicam e transformam esse sentimento em uma
confraria, algo tão raro de se encontrar no mundo que ocorre de forma homogênea e
única. Os que julgam ser possível ter mais que um amigo não compreendem o que é a
amizade. Sendo assim, para o pensador, o amigo é único, não tendo a possibilidade se
multiplicar porque o amigo não é indivisível.
A amizade vai se formando, aos poucos e, para isso, é fundamental empreender
a correção fraterna por meio de críticas que são indispensáveis. Ao atingir uma virtuosa
amizade, como a de Montaigne e La Boétie, as correções não deixam de estarem
presentes. Os ensinamentos permanecem sempre presentes, o que corrobora para o
crescimento mútuo e fortificando mais a amizade, conforme Montaigne:

Alguns amigos empreenderam por vez corrigir-me e criticar-me, ou


espontaneamente ou a pedido meu, porque é um serviço, esse, que só
a amizade verdadeira pode prestar. Acolhendo, embora, essas críticas
com cortesia e gratidão, posso garantir que encontrei tão pouca
verdade em seus reparos quanto em seus louvores; e, em os ouvindo,
por certo me houvera prejudicado mais do que benefícios. Nós, que
vivemos uma existência pública, temos necessidade de um juiz
interior que julgue nossos atos e nos anime ou castigue. Para julgar os
meus, tenho leis e tribunal próprio, a que recorro. Acontece-me
modificar meus atos de acordo com o julgamento alheio, mas só
atendo na realidade meu próprio juízo. Só nós mesmos sabemos se
somos covardes e cruéis, ou leais e religiosos; não nos vêem os outros,
tão-somente nos adivinham de acordo com conjeturas duvidosas.
(MONTAIGNE, 1984, p.369).

Montaigne quer nos levar a acreditar que a vivência de uma virtuosa amizade deve
ser norteada pela busca de uma unidade, em que as pessoas precisam vivenciar a
reciprocidade, esta que pode ocorrer a através das correções, conversas, que tenham por
objetivo real um “crescimento”, pois corrigir também é “serviço” ou mais “imposição”
que a amizade exige. Isso não visando um mero interesse, ou satisfações de desejos,
mas sim para uma fortificação e boa estruturação de uma aliança de “carinho” e amor

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fraterno. Contudo, para que isso aconteça, é primordial que tenhamos um juiz interior, a
fim de julgar nossos atos, ações, de forma que seja possível nos animar ou nos castigar
por alguma falta cometida.
Em, suma, Montaigne apresenta o que foi sua amizade com La Boétie, esta que
não foi fato idealizado, mas que é oriunda de sua experiência. A reciprocidade é fato
que exige de ambas as partes, pois atingir o estágio de uma virtuosa amizade é sair do
egocentrismo estabelecido pela sociedade e que muitos vivem. O pensador não propõe
uma líquida ou ingênua amizade, mas estabelece um vínculo de amor, que só pode
experimentar aquele que encontrar um verdadeiro amigo.

Referência
MONTAIGNE, M. Ensaios. São Paulo: Victor Civita, 1984.

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