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Mas, de forma otimista, Lenine pensou que esta primeira crise longa
seria a última, estando a revolução socialista na agenda. A história,
mais tarde, provou que o capitalismo foi capaz de superar essa crise,
ao custo de duas guerras mundiais. Foi mesmo capaz de se adaptar
aos contratempos que lhe foram impostos pelas revoluções russa e
chinesa e pela libertação nacional na Ásia e na África. Todavia, após o
curto período de recuperação do capitalismo monopolista (1945-
1975), seguiu-se uma segunda longa crise estrutural do sistema, a
partir da década de 1970. O capital reagiu a este desafio renovado
por uma transformação qualitativa que tomou a forma do que eu
descrevi como "capitalismo monopolista generalizado".
No entanto, o capitalismo passou por uma segunda crise que começou em 1970,
exatamente cem anos após a primeira. As reações do capital a essa crise foram as
mesmas que tinha tido com a anterior: a concentração reforçada, que deu origem
ao capitalismo monopolista generalizado, à globalização ("liberal") e à
financeirização. Mas o momento de triunfo - a segunda "belle époque", de 1990 a
2008, repetindo a primeira "belle époque", de 1890 a 1914 - do novo imperialismo
colectivo da tríade (Estados Unidos, Europa e Japão) foi de fato muito breve. Uma
nova época de caos, guerras e revoluções emergiu. Nesta situação, a segunda onda
do despertar das nações da periferia (que já tinha começado), trouxe agora uma
recusa a permitir que o imperialismo colectivo da tríade mantivesse a sua posição
dominante, a não ser através do controle militar do planeta. O establishment de
Washington, dando prioridade a este objectivo estratégico, prova que está
perfeitamente consciente das verdadeiras questões em jogo nas lutas e conflitos
decisivos da nossa época, em oposição à visão ingênua das correntes maioritárias
no "altermundialismo" ocidental
Não vou voltar aqui à discussão sobre o que uma exegese dos textos
de Marx sobre esta questão nos pode sugerir. Marx, que é nada
menos que um gigante, com toda a sua capacidade crítica e a incrível
sutileza de seu pensamento, deve ter tido pelo menos uma intuição
de que estava aqui confrontado com uma séria questão. Isto é
sugerido pelas suas observações sobre os efeitos desastrosos do
alinhamento da classe operária inglesa com o chauvinismo associado
à exploração colonial da Irlanda. Marx, portanto, não ficou
surpreendido de que fosse na França - menos desenvolvida do que a
Inglaterra economicamente, mas mais avançada em consciência
política - que ocorreu a primeira revolução socialista. Tal como
Engels, também ele chegou a esperar que o "atraso" da Alemanha lhe
permitiria desenvolver uma forma original de avanço, com uma fusão
entre as revoluções burguesa e socialista.
(*) Samir Amin (n. 1931) é um economista de nacionalidade egípcia e um ensaísta marxista mundialmente
reconhecido, atualmente residente em Dakar (Senegal). Estudou em Paris de 1947 a 1957, onde participou na formação
intelectual da geração que dirigiu a luta anticolonial do pós-guerra, aderindo depois ao maoismo. Foi professor
universitário e desempenhou também funções de pesquisa e planeamento económico no Egipto, em diversos países