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Artigo recebido em: Protagonismo juvenil

04.12.2016
Aprovado em:
08.01.2017 em áudio e vídeo: o
Beatriz Becker
Jornalista e Professora
movimento Ocupa nas
Associada do PPGCOM/
ECO-UFRJ. Bolsista
de Produtividade em
telas do computador e da
Pesquisa do CNPq. Líder
do Grupo de Pesqui-
sa Mídia, Jornalismo
tevê 1
Audiovisual e Educação.
Atualmente, é coordena-
Beatriz Becker
dora do GT Estudos de
Jornalismo da COMPÓS. Igor Waltz
E-mail: beatrizbecker@ Rafael Pereira da Silva
uol.com.br. Giovanni Codeça
Igor Waltz
Doutorando do PPG-
Resumo
COM-UFRJ, Bolsista CA-
PES. E-mail: igor.waltz2@ Amparado pelas dimensões teórico-metodológicas da Análise Televisual e de
gmail.com. Mídia e Educação, este trabalho relete sobre a participação estudantil na pro-
dução informativa audiovisual a respeito do cenário educacional do Rio de Janei-
Rafael Pereira da Silva
ro, focalizando o protagonismo dos alunos da Escola Estadual Prefeito Mendes de
Doutorando do PPG-
Moraes no movimento Ocupa. A partir de um estudo comparativo de conteúdos
COM-UFRJ, Bolsista CA-
PES. E-mail: domrafasil@ e formatos audiovisuais publicados no canal do YouTube criado pelos estudantes
gmail.com. e de reportagens de telejornais locais disponibilizadas no GloboPlay sobre a ocu-
pação, este artigo discute como esse acontecimento foi construído no ambiente
Giovanni Codeça
midiático e identiica tendências atuais de enunciação de narrativas jornalísticas
Doutorando do Progra-
ma de Pós-Graduação
audiovisuais decorrentes da hibridização de linguagens e formatos nas telas do
em Letras Neolatinas computador e da televisão.
da UFRJ e professor da
rede Estadual de ensi- Palavra-chave:
no do Rio de Janeiro, protagonismo juvenil; movimento Ocupa; narrativas jornalísticas audiovisuais.
Bolsista CAPES. E-mail:
codecasilva@gmail.com. Abstract
Supported by the theoretical-methodological dimensions of Televisual Analysis
and Media and Education, this work relects on the student participation in in-
formative audiovisual production regarding the educational scenario in Rio de
Janeiro and focusing on the protagonism of the students of the Escola Estadual
Prefeito Mendes de Morais in the Occupy Movement. Based on a comparative
1
Trabalho atualizado
apresentado no 14º Encontro study of audiovisual formats and contents created by students published on the
Nacional dos Pesquisadores YouTube channel and on local news reports available at GloboPlay about the
em Jornalismo promovido pela occupation, this article discusses how this event was built in the media environ-
SBPJor em Palhoça, SC, em
novembro de 2016. ment and the current trends of enunciation of the audiovisual journalistic nar-
ratives arising from the hybridization of languages and formats on the computer
Estudos em Jornalismo e Mídia and television screens.
Vol. 13 Nº 2
Julho a Dezembro de 2016 Keywords:
ISSNe 1984-6924
Investigative journalism; policy agenda; asbestos.

08 DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1984-6924.2016v13n2p08
A
emergência de informa- manda desse acolhimento está ligada à
ções em diferentes telas e construção da identidade e a sua ausên-
dispositivos e os usos das cia pode promover tanto o ódio quanto
tecnologias digitais no a vitimação. Assim, a oportunidade de
cotidiano têm provocado interagir de maneira coletiva com a ló-
mudanças signiicativas nas interações gica de pensamento e de valores alheios
sociais, em processos de aprendizagem talvez seja a única maneira de esvaziar
e nos modos de contar e de se informar o sentido de ameaça que o Outro carre-
sobre experiências do cotidiano. As ma- ga, dissolvendo formas de opressão que
neiras como os jovens e as crianças uti- aprisionam alguém em um modo de ser
lizam as mídias abrem novas formas de distorcido e reduzido, favorecendo a in-
expressão, de inserções socioculturais, clusão social e condições de vida menos
de socialização e de intervenção na his- desiguais (TAYLOR, 1994). Mas nem
tória. Segundo pesquisadores de Mídia e sempre os princípios da objetividade e
Educação, a habilidade de produção de da imparcialidade que ancoram o Jorna-
conteúdos em áudio e vídeo pelos estu- lismo impedem julgamentos, distorções
dantes, a leitura crítica dos textos midi- e exageros. As coberturas jornalísticas
áticos e um engajamento consciente no de assuntos controversos, emocionais e
ambiente digital contribuem para o exer- sensíveis tendem a causar mais precon-
cício da cidadania em práticas formais e ceitos do que esclarecimentos devido à
informais de educação na sociedade mul- ausência de contextualização dos aconte-
titelas por ampliar os espaços do ver, do cimentos e de transparência dos critérios
agir e do viver social. A incorporação de de noticiabilidade. Porém, o Jornalismo
tecnologias digitais dentro e fora de sala não deixa de contribuir para entendi-
de aula ainda colabora para a realização mentos possíveis dos acontecimentos,
de experiências narrativas em lingua- fomentando o esclarecimento dos fatos
gens distintas que possibilitam a cons- e o debate público num momento em
trução de discursos mais plurais, bem que os meios digitais engendram novas
como para reduzir as restrições de aces- formas de ver, escutar e ler. As apropria-
so à informação e à comunicação, contri- ções de dispositivos digitais possibilitam
buindo para a democratização do saber maior poder de voz aos usuários da rede,
e para uma sociedade mais participativa na chamada “cultura da participação”
baseada na valorização das diversidades (SHIRKY, 2011), acelerando o compar-
culturais e identitárias (BECKER, 2016; tilhamento de conhecimentos, mesmo
LIVINGSTONE, 2009; RIVOLTELLA, que a maior parte dos luxos comunica-
2008; FANTIN, 2008; BELLONI, 2005). cionais ainda seja produzida pelas cor-
De fato, as imagens amadoras têm porações de mídia e que grandes seg-
conquistado centralidade nas práticas mentos da sociedade brasileira até hoje
audiovisuais e culturais e manifestado não disponham de acesso à Internet. A
subjetivações inseparáveis da visualidade produção das “mídias distribuídas” (Ma-
e da visibilidade. Essas imagens “domés- lini; Antoun, 2013) encontra seu poder
ticas” não seguem exatamente uma nar- na proximidade entre produtores e con-
rativa representativa do acontecimento, sumidores, ancorando valor afetivo à sua
mas manifestam um regime performati- coniabilidade como fonte de informa-
vo de experiências de ser e viver que cla- ção. Hoje, a intervenção das audiências
ma pela inclusão social e afetiva em suas não se dá apenas pela ressigniicação dos
mediações. As trajetórias dessas imagens conteúdos no momento da recepção,
e de seus criadores se coniguram como mas também no momento da produção,
espaços de deslocamento e de ressignii- fazendo-a circular em novos nichos mi-
cação de experiências individuais e cole- diáticos (BECKER; MACHADO, 2014).
tivas por meio do trabalho audiovisual Este artigo propõe uma leitura crí-
em busca do desejo do reconhecimen- tica de tensões discursivas estabelecidas
to do outro (FELDMAN, 2013). A de- nos textos telejornalísticos e nos vídeos

09
de estudantes que se engajam na produ- do canal “Ocupa Mendes” e da cobertura
ção de informações de caráter noticio- dos telejornais locais Bom Dia Rio, RJTV
so. Amparados nas dimensões teóricas 1ª e 2ª edição, disponíveis no YouTube e
e metodológicas da Mídia e Educação e no GloboPlay. A partir desta análise, pro-
da Análise Televisual (BECKER, 2016; curou-se identiicar potencialidades e
2012), este trabalho consiste em uma desaios do jornalismo audiovisual como
análise dos conteúdos e formatos au- forma de conhecimento na atualidade.
diovisuais produzidos por estudantes do
Ensino Médio que ocuparam escolas do Contextualizações
estado do Rio de Janeiro interessados em A Unesco faz recomendações con-
dar visibilidade às suas reivindicações tundentes sobre o relevante lugar da edu-
referentes à ausência da qualidade do en- cação na agenda global de desenvolvi-
sino na rede pública estadual. Para com- mento sustentável; airma que os jovens
preender as maneiras como esses alunos são uma força motriz para promover
utilizam as mídias e atribuem sentidos ao valores subjacentes à cidadania global
movimento Ocupa, realizou-se um estu- e para colocar essa agenda em prática;
do dos vídeos publicados pelos alunos e sugere ainda que eles devem ser reco-
do Colégio Estadual Prefeito Mendes de nhecidos e apoiados não apenas como 2
No Exame Nacional do
Moraes2, disponíveis no canal que eles alunos, mas também como educadores Ensino Médio (ENEM) de
criaram no YouTube. Escolheu-se rele- e líderes (Unesco, 2015a; 2015b). As- 2014, o Mendes de Moraes
tir sobre o material produzido pelos alu- sim, justiica a necessidade de estímulo e ocupou a 807ª posição no
nos dessa escola instalada no bairro da apoio ao engajamento e à participação de ranking do estado do Rio, em
um universo de 1,3 mil esco-
Freguesia, na Ilha do Governador, Zona jovens para que este envolvimento não las participantes, com média
Norte da cidade do Rio de Janeiro, por- seja apenas simbólico, uma vez que eles de 505,38 pontos nas provas
que foi a primeira instituição de ensino não são “futuros cidadãos”, mas cida- objetivas e 524,15 pontos na
do estado a ingressar no Ocupa. Inferiu- dãos ativos no momento atual4. A Unicef redação.
se sobre a relevância do protagonismo também defende o avanço no direito de 3
Esta metodologia é forma-
juvenil na construção de conteúdo e for- todas as crianças, priorizando a saúde, a da por três etapas: a con-
matos em áudio e vídeo informativos do proteção contra a violência, a redução da textualização do objeto de
#OcupaMendes, extraindo pistas e frag- pobreza e da exclusão social e a educa- estudo, a análise televisual e
mentos de formas emergentes de media- ção de qualidade (UNICEF apud IBGE, a interpretação dos resul-
ção, fruto da reorganização da experiên- 2013). Porém, segundo o IBGE (2013), tados. A análise televisual
é formada por uma análise
cia social dos estudantes, a partir de seus há diferentes critérios referentes à deini- quantitativa, na qual são
usos de aparatos eletrônicos. Decidiu-se ção da idade de crianças, adolescentes e aplicadas as categorias “Es-
analisar também reportagens disponí- jovens estabelecidos pela Convenção das trutura Narrativa”, “Edição”,
veis no GloboPlay sobre o movimento de Nações Unidas, pelo Estatuto da Criança “Temáticas”, “Enunciado-
ocupação para identiicar aproximações e do Adolescente e pelo Estatuto da Ju- res”, “Som” e “Visualidade”,
bem como por uma análise
e distanciamentos nos modos que a lin- ventude5. Ao considerar o limite etário qualitativa, na qual são
guagem audiovisual é usada tanto pelos estabelecido pelo Estatuto da Juventude, aplicados três princípios de
estudantes, como formas de expressão observa-se que crianças e jovens de até enunciação: “Fragmentação”
de suas aspirações e reivindicações polí- 29 anos de idade correspondem a 47,7% “Dramatização” e “Deinição
ticas, quanto nos telejornais, observando da população brasileira total, segundo a de Identidade e Valores”
(BECKER, 2012).
como a televisão constrói o movimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Do-
qualiica os atores sociais nele envolvidos, micílios (PNAD) 2012. Na análise de 4
Idem
legitima ou não suas identidades e confe- dados sobre educação, o IBGE busca uti-
5
re relevância ao Ocupa. Adotaram-se as lizar os limites etários relacionados aos Disponível em: <http://
categorias e princípios de enunciação da níveis de escolaridade, apontando que o biblioteca.ibge.gov.br/visu-
alizacao/livros/liv66777.pdf
análise televisual3 (BECKER, 2012) por ensino médio reúne pessoas de 15 a 17 >. Acesso em 15 de julho de
permitirem entender os modos como os anos de idade. E é justamente aos modos 2016.
códigos audiovisuais são combinados na de jovens desta faixa etária utilizarem as
atribuição de sentidos a este aconteci- tecnologias digitais em busca de visibili-
mento, em um estudo comparativo dos dade de seus direitos nas escolas públicas
conteúdos e formatos em áudio e vídeo que se faz referência neste trabalho, foca-

10
lizando o movimento Ocupa no estado março de 2016, respectivamente, tinham
do Rio de Janeiro. duas pautas comuns: eles se opunham
Contudo, o relevante conceito de à precarização da educação e apoiavam
protagonismo para esta análise também a greve dos professores. Mas cada uma
carece de deinições precisas. O relatório das escolas ocupadas possuía reivindica-
“Educação: Um Tesouro a Descobrir”, ções próprias elaboradas a partir de suas
liderado por Jacques Delors em 1990, condições socioambientais. Não se pode
estabeleceu postulados para a condução pensar o movimento Ocupa das escolas
da educação no século XXI marcados públicas do estado do Rio sem compre-
por três principais deslocamentos: da ender suas inspirações e relações com
comunidade local à sociedade mundial; movimentos similares em São Paulo e
da coesão social à participação demo- Goiás, com as Jornadas de Junho de 2013
crática; e do crescimento econômico ao por todo o Brasil, as manifestações ocor-
desenvolvimento humano. O relatório ridas na Primavera Árabe em 2011 e ou-
também sistematizou quatro pilares a tras mobilizações políticas em diversos
serem contemplados a partir do apren- países mediante usos de mídias sociais.
der: conhecer, fazer, conviver e ser, bem No Brasil e no mundo juventudes de
como o princípio de que a educação deve diferentes realidades socioeconômicas
ocorrer por toda a vida e ser um ato con- e culturais passaram a questionar suas
tínuo, o que implica ampliar a educação formas de participação na vida social, as
do ensino básico ao superior, ressignii- instituições e os meios de comunicação,
car o ofício do professor, integrar ações muitas vezes acusados de manipularem a
políticas às opções educativas e educar informação. A mobilização dos estudan-
cooperativamente por todo planeta. tes do Ensino Médio passa a ser chama-
Costa (2000) amplia a visão de “jovem” da pela União Brasileira dos Estudantes
do relatório Delors atribuindo a ele uma Secundaristas (UBES), e pelos meios de
posição de protagonista em relação à sua comunicação como “Primavera Secun-
própria vida, a partir da compreensão darista”.
do signiicado da expressão “protagonis- No Rio de Janeiro, o cenário de
mo” baseada na origem grega da palavra, perturbação sociopolítica e econômica
composta pelos radicais proto, que signi- vivida em 2016, nos meses que antece-
ica primeiro, e agon, que corresponde à deram à realização da Olimpíada, teve
luta. Entretanto, para Costa (2000), bem ramiicações em diversos setores sociais,
como para distintas instituições e em- sendo a Educação um dos mais ruidosos.
presas, o jovem deve se adaptar à ordem Desde fevereiro, professores da rede pú-
econômica global. Mas outros pesquisa- blica luminense cruzaram os braços em
dores, como Mészáros (2005), sinalizam greve por reposição de perdas salariais,
que só é possível pensar no protagonis- reivindicação negligenciada pelo Palácio
mo juvenil a partir de uma compreensão Guanabara. Nesse contexto, os alunos se
da educação como uma ação de trans- insurgiram para expor as carências da
formação social emancipadora capaz de educação pública do Rio e apoiar a para-
despertar uma “contraconsciência”, por lisação de professores. O ápice do movi-
meio do exercício da cidadania. Sob essa mento reuniu mais de 70 escolas ocupa-
perspectiva, reletiu-se sobre a relação das. Mas não houve um consenso entre
dos estudantes com as mídias e a produ- o Sindicato Estadual dos Proissionais
6
Disponível em: <http:// ção de informações, a partir de suas ex- de Educação do Rio de Janeiro (Sepe), a
seperj.org.br/ver_noticia.
php?cod_noticia=7009>.
periências no movimento de ocupação e Assembleia Nacional de Estudantes Li-
Acesso 18 de julho de 2016. desocupação nas Escolas Estaduais, bem vre (ANEL-RJ) e a Secretaria Estadual de
como seus usos no processo de pautar e Educação (Seeduc-RJ) sobre o número
circular informações sobre a qualidade preciso de escolas que participaram des-
da educação no estado do Rio de Janeiro. ta mobilização. O Sepe informou que 73
Os movimentos de ocupação e escolas tiveram as suas atividades para-
desocupação, iniciados em 21 e 22 de lisadas6, a ANEL-RJ registrou 76 escolas

11
e a Seeduc-RJ 67 instituições, totalizan- pos de ocupação. Estudantes que não
do 6% das escolas do estado do Rio de concordaram com as medidas tomadas
Janeiro. Em um primeiro momento esse pelos colegas se mobilizaram nessas re-
número pode não parecer representa- des por meio da página “Desocupa Já”.
tivo, considerando que o estado reúne Em 10 de maio de 2016, um confronto
1.218 escolas e as que foram ocupadas entre alunos pró e contra o movimento
deixaram 70 mil jovens sem aula7. Nem deixou vários feridos e interrompeu a
todas as escolas apoiavam o Ocupa, em ocupação da escola Mendes de Moraes,
algumas delas um movimento contrá- retomada no dia seguinte. No dia 16 de
rio à ocupação, nomeado Desocupa, maio de 2016, um novo enfrentamento,
reivindicava o retorno às aulas alegan- dessa vez envolvendo alunos, profes-
do prejuízos causados pela paralisação sores e o chefe de gabinete da Seeduc,
e a proximidade de realização de provas culminou na exoneração do secretário
como o Exame Nacional do Ensino Mé- de educação do estado, Antônio Neto.
dio (Enem). No dia seguinte, as principais deman- 7
A Seeduc-RJ abriga escolas
O movimento Ocupa teve início das dos integrantes do movimento - a distribuídas por 14 regionais
quando um grupo de cerca de 200 pes- eleição direta para escolha do diretor e em acordo com a divisão
soas, entre alunos, ex-alunos e integran- o im do Saerj (Sistema de Avaliação da geográica do estado. Porém,
tes de movimentos sociais ocuparam as Educação do Estado do Rio de Janeiro) sete destas regionais concen-
tram 645 escolas na região
dependências do Colégio Mendes de – foram atendidas nas negociações dos
metropolitana do Rio.
Moraes, que já se encontrava sem ati- estudantes com a Seeduc e a Defenso-
vidades desde o dia 02 do mesmo mês ria Pública, e a ocupação do colégio foi 8
Disponível em: <https://
por conta da paralisação de professores. encerrada após 57 dias. Apesar do im www.youtube.com/channel/
O movimento #OcupaMendes reivindi- do movimento #OcupaMendes, o seu UCu5hZ_kxVjUBaC9rl58r
-rQ>. Acesso em: 18 de julho
cou melhorias na qualidade do ensino canal no YouTube permaneceu ativo.
de 2016
e a retomada das negociações salariais No mesmo dia da desocupação do co-
com o sindicato dos professores, além légio, alunos e professores de diferentes
de melhorias na infraestrutura da escola, unidades escolares tomaram a sede da
recontratação de porteiros e inspetores Diretoria Regional Metropolitana III
demitidos por corte de gastos e maior da Seeduc, localizada em Engenho de
democratização e abertura no processo Dentro, Zona Norte da capital. A ação
de gestão escolar. Os estudantes se mo- foi registrada pelo “Ocupa Mendes” e
bilizaram em debates sobre temas so- pela mídia luminense, especialmen-
ciais, organizaram pré-vestibulares co- te após a ação violenta do Batalhão de
munitários e se revezaram na limpeza e Choque da Polícia Militar no dia 21 de
em pequenos consertos das instalações maio de 2016.
escolares. A Seeduc-RJ tentou agir rapi-
damente para a saída dos ocupantes e a Reivindicações políticas em áudio e ví-
retomada das atividades, via negociação deo
direta e ação judicial, ambas sem suces- O “Ocupa Mendes”, canal oicial
so. A ocupação desencadeou uma série da ocupação do Colégio Estadual Prefei-
de iniciativas semelhantes em outras es- to Mendes de Moraes na plataforma de
colas do estado. vídeos YouTube8, foi criado no dia 8 de
Um dos pontos de maior desta- abril de 2016, cerca de três semanas após
que dentro do movimento foi o uso de a delagração do movimento. Até a data
mídias digitais pelos jovens para expor de 30 de junho, três meses após a ocu-
o cotidiano das ocupações e disseminar pação, a página contava com 21 vídeos,
suas reivindicações, como a não distri- com durações que variam de 45 segun-
buição de livros escolares e constrangi- dos a 7 minutos, 91 inscritos e 3,8 mil vi-
mentos da direção à organização polí- sualizações, que correspondiam a um al-
tica estudantil. Por outro lado, houve cance limitado em comparação a outros
também nas redes sociais a consolida- canais no YouTube, mas bastante signii-
ção do movimento contrário aos gru- cativo para fazer circular as demandas e

12
propostas dos estudantes. Metade desses sociais e pautas em circulação no debate
vídeos foi produzida e veiculada após a sobre problemas da região e da educação
saída dos estudantes das instalações do no estado do Rio. Os enunciadores que
colégio, o que denota a continuidade do compõem a narrativa são os estudantes,
movimento por melhorias no ensino. com raras exceções, como nas ilmagens
Os vídeos são de curta duração e sem dos bastidores da entrevista concedida
narração em of, mas empregam trilha pelos alunos ao programa de rádio “En-
sonora ou som ambiente. Os primeiros contro com a Justiça”, apresentado pelo
conteúdos postados se caracterizam por Desembargador Siro Darlan e gravado
sequências de imagens de passeatas e na sede do Tribunal de Justiça do Rio, e
assembleias de alunos e professores ou a entrega das medalhas por professores
por gravações formadas por um mesmo aos alunos após o im da ocupação. Con-
plano que enquadra o palco, onde alunos tudo, em nenhum momento esses perso-
recitam poesias, apresentam números de nagens interpelam diretamente a câmera
dança e proclamam suas pautas. Após ou são convidados a falar, e sempre são
um mês de atividade do canal, os vídeos apresentados por meio da ótica dos alu-
passam a demonstrar uma estrutura mais nos. Fica evidente, portanto, que os es-
soisticada e variada. Há denúncias “não tudantes do movimento ocupam a cen-
editadas” com a estética “câmera tremi- tralidade da cena e não abrem um canal
da na mão”, consagrada na cobertura dos de diálogo explícito nem mesmo a atores
protestos de 2013 pelos Mídia NINJA; sociais que os apoiam ou são apoiados
formatos similares às reportagem de te- por eles. Em relação às instâncias cêni-
levisão, onde o “aluno-repórter” se po- co-visuais, há uma diversidade de estra-
siciona em primeiro plano para mostrar tégias empregadas nos textos. À exceção
o ambiente e destacar uma determinada do auditório do colégio, ambiente no
situação no referido contexto; e até um qual se desenrola parte expressiva das
curta de icção encenado pelos próprios ações do movimento, as salas de aula e o
alunos intitulado “Walking Mendes”. Um pátio são pouco focalizados. Os estudan-
dos vídeos que mais se destaca é “Um tes privilegiam imagens de corredores,
pouco da rotina dos estudantes”, de 11 de da cozinha, do almoxarifado e a fachada
maio de 2016. Após imagens do nascer da escola, bem como imagens de alunos
do sol na Ilha do Governador e da jane- com mãos cerradas para o alto em pas-
la de um ônibus, em uma familiaridade seatas, as quais enfatizam uma ideia de
com os recursos de passagem de tempo “luta”. Quando falam diretamente à câ-
da teledramaturgia, acompanha-se um mera, os alunos posicionam-se em pri-
dia da ocupação no Colégio Mendes de meiro plano, deixando expor um cenário
Moraes sob a perspectiva de um aluno. com enquadramentos em planos abertos
As imagens envolvem o espectador, que e médios, semelhantes aos das reporta-
se sente participando de atividades cor- gens de televisão. A sonoridade dos ví-
riqueiras como irrigação das plantas e deos do Ocupa Mendes é formada pelo
tratamento da piscina, o que indica um som ambiente, quando os integrantes
cuidado do corpo estudantil com a uni- do movimento falam à câmera ou dis-
dade escolar. Apesar de a temática geral cursam em assembleias; trilhas sonoras,
dos vídeos girar em torno das demandas compostas por músicas estrangeiras com
dos alunos e do apoio aos professores, batida rápida e cadenciada, transmitem
ao longo da série também são abordadas a ideia de um movimento social dinâ-
as represálias sofridas pelos estudantes, mico, o que é acentuado por uma edição
como um ataque com bombas à sede da rápida, com takes curtos, semelhantes à
escola durante a noite; uma recreativa estética dos videoclipes. Há também ví-
“caça aos ovos” durante a noite de Pás- deos “sem edição”, produzidos com um
coa; além da cobertura de uma série de único movimento de câmera, dedicados
protestos, indicando a aproximação do às apresentações musicais e de poesias,
#OcupaMendes com outros movimentos mas que também conferem velocidade e

13
tensão a essas narrativas. Rede Globo que reúne os conteúdos de
Ao aplicar-se o primeiro princípio gêneros televisivos distintos da progra-
da análise qualitativa, o da Fragmenta- mação da emissora. O percurso meto-
ção, veriicou-se que as atualizações do dológico da análise televisual (BECKER,
canal são apresentadas em um feed para 2012) também aqui aplicado reuniu um
os assinantes e competem pela atenção estudo quantitativo e qualitativo de um
com outros vídeos. Nota-se ainda que a corpus formado por 57 conteúdos tele-
produção do canal segue uma linha edi- jornalísticos, em diferentes formatos e
torial, mas não há uma preocupação dire- gêneros (matérias, lash ao vivo, notas,
ta em contextualizar o leitor em cada um reportagens, comentários e entrevistas
das unidades textuais. A dramatização no estúdio), reunindo quase três horas
da narrativa no Ocupa Mendes é acentu- de material audiovisual, distribuídos em
ada pelo uso de recursos audiovisuais na oito telejornais espalhados pela grade da
construção dos conteúdos, como o em- emissora e veiculados de 22 de março a
prego da trilha sonora e a interpelação 22 de junho de 2016. Esses conteúdos fo-
direta dos alunos à câmera, que é feita de ram encontrados por meio da utilização
forma a provocar a empatia da audiência de três palavras-chaves: ocupa; escolas;
com os ocupantes dos movimentos e a Rio de Janeiro. Focalizaram-se na análise
comoção em nome de sua causa. A cri- 18 conteúdos referente à cobertura dos
se econômica e a precarização do ensino noticiários regionais Bom dia Rio e RJTV
são sumarizadas nas iguras do governa- 1ª e 2ª edição, totalizando 31,5% do ma-
dor, do secretário estadual de educação terial total coletado. Nessas reportagens
exonerado e de seu substituto referidos e vídeos, o movimento Ocupa no Colé-
nas narrativas dos alunos. Inscrições gio Estadual Prefeito Mendes de Morais
nas paredes e em cartazes revelam os está presente de forma direta ou indireta,
modos como os estudantes atribuem a sendo citado em imagens de arquivo ou
essas autoridades valores e identidades. em entrevistas. A estrutura narrativa e
A indisposição contra esses três agentes os formatos audiovisuais se diferenciam
individualizados sintetiza um mal-estar nas coberturas dos distintos telejornais
com as elites políticas, o alvo primor- ao longo da programação. O noticiário
dial dos protestos. Outros antagonistas matutino Bom Dia Rio foi o que dedicou
são também trazidos aos discursos: en- maior tempo à cobertura da crise na edu-
quanto os agentes policiais aparecem no cação e produziu matérias com tempo
texto como excessivos no uso da força, médio de duração de três minutos, uti-
estudantes contrários ao movimento são lizando ainda lashs ao vivo das escolas
apresentados como “sem argumento” e ocupadas e participação de entrevistados
violentos, responsáveis por depredação no estúdio. Os telejornais da hora do al-
ao patrimônio do colégio, em oposição moço utilizaram matérias com um tem-
aos alunos da ocupação, que aparecem se po menor de duração, com pouco mais
esmerando na sua conservação. de dois minutos, acompanhadas de co-
mentários e atualizações no estúdio so-
O movimento estudantil na tela da tevê bre o desenvolvimento das ocupações ao
Neste estudo buscou-se também longo do período da manhã. Os noticiá-
compreender os processos de signiica- rios da noite reeditaram as matérias com
ção da cobertura televisiva sobre a crise um tempo de duração menor do que os
na rede pública de educação no estado demais telejornais, gravadas com a voz
do Rio de Janeiro e o movimento Ocu- do apresentador e por ele enunciadas
pa Escolas realizado de 21 de março no estúdio com informações atualizadas
a 22 de junho de 2016 no estado. O le- durante o dia, ilustradas ou não por ima-
vantamento da produção telejornalística gens, ou seja, notas secas e cobertas. Os
veiculada no período de ocupação das principais temas abordados foram: o iní-
escolas foi feito por meio do GloboPlay, cio das ocupações no Colégio Mendes de
plataforma digital de vídeos criada pela Morais e o desdobramento do movimen-

14
to que chegou a ocupar mais de 70 esco- e suas inserções no conjunto das maté-
las no estado. Mas os telejornais também rias sobre a crise da educação no estado,
izeram referência às reivindicações dos não permitiam a compreensão do dia a
estudantes; ao dia a dia das ocupações; à dia da ocupação no Colégio Mendes de
greve dos professores; à negociação en- Morais. A dramatização na cobertura se
tre a Seeduc-RJ e os alunos; e à mudança manifestou pelo destaque ao contínuo e
de calendário escolar, com a antecipação crescente número de escolas ocupadas,
das férias e as desocupações das escolas. uma vez que essas matérias foram apre-
Esses conteúdos em áudio e vídeo reuni- sentadas como capítulos de uma grande
ram distintos enunciadores: estudantes a crise na educação, que se iniciou com a
favor e contra as ocupações; membros da ocupação das escolas e que expôs, por
Seeduc-RJ, representantes do Sepe-RJ, meio da manifestação dos estudantes, as
professores, especialistas em educação, mazelas, os problemas gerenciais e o su-
pais de estudantes, representantes da cateamento do ensino público no estado.
Defensoria Pública do Estado do Rio de Neste estudo ainda conseguiu-se perce-
Janeiro, e a juíza titular da 2ª Vara da In- ber as identidades e os valores sociais
fância, da Juventude e do Idoso do Esta- dos dois grupos de atores sociais que
do do Rio de Janeiro. Percebeu-se que a protagonizam o movimento Ocupa na
utilização de recursos gráicos nas pro- tela da TV: os estudantes – jovens indig-
duções analisadas é inexpressiva, já que nados com a precarização do ensino, que
foram utilizados em apenas três maté- utilizam estratégias de “guerrilhas” ocu-
rias. Na grande maioria das reportagens pando as escolas como forma de serem
foram utilizadas imagens das fachadas ouvidos e ganharem visibilidade para te-
dos colégios para ambientar e localizar rem suas reivindicações solucionadas – e
o telespectador. Embora a entrada fosse o governo do estado do Rio de Janeiro
proibida em algumas escolas pelos mani- – personiicado pela Secretaria Estadual
festantes, as matérias buscaram mostrar de Educação e seu agentes, que demons-
a movimentação dos alunos na organiza- tram incapacidade de gerir e iscalizar as
ção das atividades dentro das escolas e os instituições de educação.
problemas com infraestrutura. A cober-
tura durou três meses e a utilização de Considerações Finais
imagens de arquivos foi recorrente. Ou- Os conteúdos e formatos audiovi-
tro aspecto que chama a atenção é a pou- suais publicados pelo movimento Ocupa
ca utilização de conteúdos colaborativos despertaram sentimentos de pertenci-
na produção dos telejornais, em apenas mento entre os jovens e a escola como
nove das 57 matérias estudadas, as quais espaço público, como bem comum, res-
foram reproduzidas em diferentes maté- signiicações da relação escola e comu-
rias e noticiários da emissora. nidade, convocaram a participação dos
Na análise qualitativa identii- responsáveis pelos estudantes e promo-
cou-se que a cobertura telejornalística veram debates sobre os limites da ação
da ocupação do Mendes de Morais é do Estado em espaço públicos. Observa-
fragmentada no corpo das edições dos se que a produção, a circulação e o con-
telejornais Bom dia Rio e RJTV 1ª e 2ª sumo de informações se expandem para
edição. Em março foram veiculadas nes- além das bordas das telas nas práticas
ses noticiários duas (2) matérias sobre o políticas e culturais e manifestam uma
movimento, em abril sete (7), em maio tendência maior de consumo da infor-
oito (8) e em junho uma (1). Essas repor- mação pelos jovens estudantes a partir
tagens buscavam dar conta do imediatis- das redes sociais do que a partir do aces-
mo dos acontecimentos gerado pela ocu- so a portais e sites jornalísticos das mí-
pação e da maneira como o movimento dias tradicionais (MOHERDAUI, 2016).
era disseminado para outras escolas, Identiicou-se que o desaio do
buscando contextualizar as informações. jornalismo audiovisual como forma de
Entretanto, a construção das notícias conhecimento é conseguir incorporar

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informações que circulam nas redes e ca- As reinvindicações dos secundaristas re-
nais que distribuem conteúdos e forma- ceberam apoio e adesão dos estudantes
tos em áudio e vídeo, como o YouTube, universitários. As manifestações contra
em suas narrativas, de modo que a diver- a medida provisória 746 e a Proposta
sidade e a pluralidade de pontos de vista de Emenda Constitucional 241/55, bem
possam emergir também das performan- como contra a “Escola sem Partido” que
ces dos cidadãos, mais especiicamente visam, respectivamente, determinar uma
dos estudantes neste estudo de caso, e reforma no Ensino Médio capaz de es- 9
Fonte: site da União Brasi-
não apenas dos modos que os jornalistas vaziar a formação humanista; impor um leira do Estudantes Secun-
organizam discursivamente os aconte- teto para os gastos públicos, congelando darias (UBES), relatório
cimentos. O trabalho de curadoria dos as despesas do Governo Federal por até disponível em http://ubes.
depoimentos e conteúdos postados pelas 20 anos baseada em orçamentos corrigi- org.br/2016/ubes-divulga
pessoas nas redes e de análise dos acon- dos apenas pela inlação e inibir a rele- -lista-de-escolas-ocupadas-e
-pautas-das-mobilizacoes/
tecimentos mediante a leitura das inter- xão crítica, contribuíram para a grande Acesso 1º dez.2016.
venções de vozes distintas passa a ser repercussão do movimento dos estudan-
cada vez mais necessário na prática de tes do EM. A estudante Ana Júlia Pires
um Jornalismo não apenas sensível aos Ribeiro, de 16 anos, tornou-se símbolo
debates das redes, mas interessado em se das manifestações, após discursar nas
reairmar como forma de conhecimento tribunas da Assembleia Legislativa do
relevante nas sociedades democráticas, o Paraná (ALEP), em Curitiba. O discurso
que implica rever determinados modelos da estudante em defesa da legitimidade
de interpretação da realidade e reconhe- do movimento de ocupação das escolas
cer a autonomia do leitor-espectador-u- públicas  no Brasil “viralizou” nas redes
suário em suas ações interpretativas e de sociais sendo partilhado e visualizado
engajamento no ambiente midiático di- por milhares de brasileiros. Mas o mo-
gital na construção das narrativas audio- vimento não sensibilizou o governo fe-
visuais sobre a experiência do cotidiano deral, nem mesmo para que o ENEM
na atualidade. pudesse ser realizado sem qualquer
Contudo, este estudo também re- transtorno para todos os inscritos.
vela que tanto os conteúdos e formatos Entretanto, o protagonismo juve-
em áudio e vídeo produzidos pelos cida- nil se manifestou por meio da apropria-
dãos quanto pelos jornalistas oferecem ção das tecnologias digitais, na criação
informações que ajudam os indivíduos a e disseminação de conteúdos e forma-
organizarem suas ideias e a vida social, tos audiovisuais pelos participantes do
mas também criam visibilidades e sub- Ocupa e na utilização das redes sociais.
jetividades em suas enunciações que se A cobertura jornalística nacional sobre
manifestam como verdades sobre a reali- o movimento também foi fator relevante
dade e nem sempre colaboram para con- para despertar nos estudantes sentimen-
cretizar as aspirações que impulsionam tos de pertencimento, integração e parti-
os movimentos sociais e, especialmente, cipação, ainda que manifestos em ações
as dos estudantes do Ensino Médio que de resistência a relatos das mídias tradi-
têm participado do Ocupa. cionais. Tanto as reportagens da grande
Quatro meses depois da conclu- mídia quanto os áudios e vídeos publica-
são deste estudo apresentado no 14º En- dos em ambientes virtuais criados pelos
contro da SBPJor, o relatório divulgado próprios estudantes, favoreceu a inclusão
pela UBBES9 em outubro de 2016, des- desses jovens nos processos de disputas
tacava que mais de mil escolas, além de políticas pela transformação da educa-
82 Universidades Federais estavam ocu- ção no Brasil.
padas em todo o país. De fato, o movi- Contudo, ao atualizarmos esse
mento dos estudantes do Ensino Médio estudo em dezembro de 2016, identi-
ganhou força e se espalhou para outros ficamos que o movimento Ocupa das
estados brasileiros, promovendo mobi- escolas secundaristas estaduais foi re-
lização e alcançando projeção nacional. dimensionado em movimento de ocu-

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pação de espaços públicos educacio- usos de mídias emergentes. Por outro
nais nacionais, sob ameaças de atuais lado, outra parte do movimento se es-
políticas públicas governamentais e, vaziou, abrindo espaço para a ascensão
inclusive, de ações violentas por parte de novos atores sociais que passaram
de algumas autoridades. A politização a disputar jogos políticos nem sempre
desses jovens na defesa de seus interes- próximos aos interesses e à essência do
ses, articulada aos seus usos de tecnolo- movimento dos estudantes do EM. Em
gias digitais, ofereceu pautas alternati- algumas escolas os estudantes conse-
vas à mídia tradicional e visibilidade às guiram algumas melhorias administra-
suas aspirações. Mas se as trocas reais e tivas e alguns recursos, em outras, seis
simbólicas com integrantes e discursos meses depois do início do movimento
de outros movimentos colaboraram Ocupa, não há qualquer sinalização de
para a projeção do movimento Ocupa recuperação do ambiente escolar, das
dos secundaristas, também deslocaram condições de ensino e do ano letivo,
a atenção da sociedade e dos próprios sob um forte enrijecimento da atuação
estudantes de suas reivindicações ini- das autoridades locais e nacionais e
ciais antes dedicados a pensar a “Escola uma diminuição do uso das redes so-
como local de uma Educação de Qua- ciais para mobilização dos alunos. No
lidade”. Assim, nas escolas estaduais de entanto, esta análise sobre os modos
todo o país, o movimento de ocupação de produção, circulação e consumo de
se ramificou em duas direções distin- notícias em áudio e vídeo como práti-
tas. Parte das escolas ainda segue o ide- ca sociocultural e política revela que os
al de empoderamento e diálogo com as secundaristas conseguiram intervir na
ocupações ocorridas na rede federal de construção de experiências individuais
ensino médio e de ensino superior, es- e coletivas e provocaram inquietações
tabelecidos, especialmente, através de sobre os rumos da Educação no país.

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