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QUESTÃO SOCIAL: AFINAL, DO QUE SE TRATA?

QUESTÃO SOCIAL
afinal, do que se trata?

VERA DA SILVA TELLES


Professora do Departamento de Sociologia da USP, Pesquisadora do Núcleo de Estudos dos Direitos da Cidadania

A pergunta do título não é retórica. Tampouco, tri- tralidade, como se diz correntemente) na dinâmica socie-
vial. Pois a questão social não se reduz ao reco- tária, afetando sociabilidades, identidades, modos de exis-
nhecimento da realidade bruta da pobreza e da tência e também formas de representação.
miséria. Para colocar nos termos de Castel (1995), a ques- Seria possível dizer que, nessa encruzilhada de alter-
tão social é a aporia das sociedades modernas que põe nativas incertas em que estamos colocados, as mudanças
em foco a disjunção, sempre renovada, entre a lógica do em curso (no Brasil e no mundo) fazem vir à tona a di-
mercado e a dinâmica societária, entre a exigência ética mensão dilemática envolvida na questão social. Com o
dos direitos e os imperativos de eficácia da economia, entre esgotamento dos modelos conhecidos de proteção social
a ordem legal que promete igualdade e a realidade das e regulação do trabalho, é como se estivessem sendo
desigualdades e exclusões tramada na dinâmica das rela- reativados os sentidos das aporias, contradições, tensões
ções de poder e dominação. Aporia que, nos tempos que e conflitos que estiveram nas origens dessa história. Essa
correm, diz respeito também à disjunção entre as espe- é uma primeira questão que gostaríamos de enfatizar. Nes-
ranças de um mundo que valha a pena ser vivido inscritas ses tempos em que um determinismo econômico e tecno-
nas reivindicações por direitos e o bloqueio de perspecti- lógico está mais do que nunca revigorado, ganhando es-
vas de futuro para maiorias atingidas por uma moderni- paço até mesmo entre os analistas mais críticos, seria
zação selvagem que desestrutura formas de vida e faz da preciso se desvencilhar do fetiche dos modelos e reativar
vulnerabilidade e da precariedade formas de existência o sentido político corporificado em armaduras institucio-
que tendem a se cristalizar como único destino possível. nais nas quais se estabeleceram as mediações entre o
Vista dessa perspectiva, a questão social é o ângulo pelo mundo do trabalho e a cidadania. Sentido político anco-
qual as sociedades podem ser descritas, lidas, problemati- rado na temporalidade própria dos conflitos através dos
zadas em sua história, seus dilemas e suas perspectivas de quais os trabalhadores se destacaram e, ao mesmo tempo,
futuro. Discutir a questão social significa um modo de se dissolveram o mundo indiferenciado da pobreza na qual
problematizar alguns dos dilemas cruciais do cenário con- estavam mergulhados, constituíram-se como atores cole-
temporâneo: a crise dos modelos conhecidos de welfare tivos, ganharam a cena pública e disputaram, negociaram,
state (que nunca se realizou, é bom lembrar), que reabre o arbitraram os termos de sua participação na vida social.
problema da justiça social, redefine o papel do Estado e o Sabemos que os tempos agora são outros, que as con-
sentido mesmo da responsabilidade pública; as novas cli- quistas sociais alcançadas estão sendo devastadas pela
vagens e diferenciações produzidas pela reestruturação avalanche neoliberal no mundo inteiro, que a destituição
produtiva e que desafiam a agenda clássica de universali- dos direitos também significa a erosão das mediações
zação de direitos; o esgotamento do chamado modo for- políticas entre o mundo do trabalho e as esferas públicas
dista de regulação do mercado de trabalho e que, nas figu- e que estas, por isso mesmo, se descaracterizam como
ras atuais do desemprego e trabalho precário, indica uma esferas de explicitação de conflitos e dissensos, de repre-
redefinição do lugar do trabalho (não a perda de sua cen- sentação e negociação (coisa, aliás, que não acontece

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assim de repente, mas que carrega as complicações histó- É por referência a essas questões que a pergunta ini-
ricas dos últimos tempos); e que é por via dessa destitui- cial pode ser recolocada na indagação sobre qual seria o
ção e dessa erosão dos direitos e das esferas de represen- lugar da questão social no cenário político brasileiro. Se
tação que se constrói esse consenso – que nos dias que a pobreza brasileira é (e sempre foi) espantosa e continua
correm, ganha corações e mentes – de que o mercado é o aumentando sob o efeito conjugado de recessão econô-
único e exclusivo princípio estruturador da sociedade e mica, reestruturação produtiva e desmantelamento dos
da política, que diante de seus imperativos nada há a fa- serviços públicos, o que impressiona é o modo como é
zer a não ser administrar tecnicamente suas exigências, figurada – como problema que não diz respeito aos parâ-
que a sociedade deve a ele se ajustar e que os indivíduos, metros que regem a vida em sociedade e que não coloca
agora desvencilhados das proteções tutelares dos direi- em questão as regras de eqüidade e justiça nas relações
tos, podem finalmente provar suas energias e capacida- sociais. Hoje, no Brasil, nossa velha e persistente pobre-
des empreendedoras. za ganha contemporaneidade e ares de modernidade por
Sabemos também que, no caso brasileiro, os caminhos conta dos novos excluídos pela reestruturação produtiva.
historicamente percorridos estão a mil anos luz de dis- Mas não só por isso: lançando mão dessa ficção regressi-
tância disso que se convencionou chamar, nos países eu- va do mercado auto-regulável que Polanyi (1980) tão bem
ropeus, de “Trinta Gloriosos Anos”; que a reestruturação criticou, nossas elites podem ficar satisfeitas com sua “mo-
produtiva em curso e os arranjos neoliberais hoje propostos dernidade” e dizer, candidamente, que a pobreza é lamen-
incidem sobre uma base histórica muito distinta da societé tável, porém inevitável dados os imperativos da moder-
salariale de que fala Castel ao descrever as dimensões nização tecnológica em uma economia globalizada. Entre
societárias e políticas do chamado modo de regulação os “resíduos” do atraso de tempos passados e as determi-
fordista ou, em outras formulações teóricas, modo de re- nações da moderna economia integrada nos circuitos glo-
gulação social-democrata. Mas se a história passada im- balizados da economia, a pobreza é projetada para fora
porta, não é tanto para comparar modelos e lamentar (mais de uma esfera propriamente política de deliberação, já que
uma vez) a nossa tragédia social. Se essa história pode pertinente às supostas leis inescapáveis da economia.
nos ensinar algo é porque nos permite ver que, em torno Se a questão social é a aporia das sociedades moder-
da questão social, essa aporia das sociedades modernas nas, é ela que nos dá uma chave para compreender essa
arma (ou melhor, armou historicamente) uma cena polí- espécie de esquizofrenia de que padece a sociedade bra-
tica na qual atores coletivos em conflito negociaram os sileira, nas imagens fraturadas de si própria, entre uma
termos do contrato social. “sociedade organizada” que promete modernidade e seu
Como diz Ewald (1985), mais do que uma ficção jurí- retrato em negativo feito de anomia, violência e atraso;
dica e um constructo teórico, o contrato é a metáfora pela entre a celebração das virtudes modernizadoras do mer-
qual, na nossa tradição política (ocidental), se pensa a cado e dessa espécie de ethos empreendedor que promete
natureza e o conteúdo das obrigações sociais. E se o di- nos tirar para sempre da tacanhice própria dos países pe-
reito é a linguagem pela qual a metáfora do contrato se riféricos e o “social” projetado em uma esfera que escapa
expressa, o que está em jogo na sua formulação é um cer- à ação responsável porque inteiramente dependente des-
to modo de problematizar e julgar os dramas da existên- sa versão moderna das leis da natureza hoje associadas à
cia nas suas exigências de eqüidade e justiça, de tipificar economia e seus imperativos de crescimento. Essa fratu-
a ordem de suas causalidades e definir as responsabilida- ra traduz na verdade os aspectos mais dilemáticos da ex-
des envolvidas. E é isso propriamente que arma uma cena clusão na sociedade brasileira. E é o que vem se expres-
política na qual os critérios universais da cidadania se sin- sando, sem ambivalências, nas propostas em pauta de
gularizam, no registro do conflito e do dissenso, em tor- reforma da Previdência Social. Além de fragilizar a si-
no de uma negociação sempre difícil e sempre renovada tuação social (já precária) dos trabalhadores do mercado
quanto à medida de igualdade e à regra de justiça que formal de trabalho, não promete mais do que sacramen-
devem prevalecer nas relações sociais. É nessa chave que, tar a exclusão de uma maioria que, desde sempre, esteve
talvez, possamos, para além da denúncia indignada da fora de qualquer sistema de proteção social – em 1990,
barbárie atual, avaliar o sentido devastador da desmonta- estimava-se que entre o desemprego e o trabalho precá-
gem das esferas públicas de ação e representação, pela rio no mercado informal, cerca de 52% da população ati-
obstrução que isso significa da elaboração das desigual- va estavam desprovidas de qualquer garantia e proteção
dades e diferenças nas formas de alteridades políticas, de social (PNAD, 1990), formidável contingente de traba-
“sujeitos falantes”, como define Rancière (1995), que se lhadores que vem sido acrescido, nos últimos anos, dos
pronunciam sobre o justo e o injusto, e negociam as re- novos excluídos do mercado de trabalho por conta do efei-
gras da vida em sociedade. to conjugado de crise econômica e reestruturação produ-

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tiva. Fora dessa espécie de direito contratual que articula legal e institucional se organiza. Instituição que articula
trabalho e proteção social, é uma população excluída não o mundo do trabalho com o universo público da cidada-
apenas dos benefícios sociais, mas também da cena polí- nia. Os termos pelos quais essa articulação se faz é que
tica. A controvérsia sobre a questão que tanto agitou o podem nos fornecer uma chave para elucidar algo da ló-
início de 1996 é emblemática nesse sentido. As contur- gica das exclusões.
badas negociações entre centrais sindicais e governo em De um lado, às avessas dos critérios universalistas da
torno da reforma da Previdência tiveram ao menos o mé- cidadania, trata-se de direitos que, indexados ao trabalho
rito de encenar o (não)lugar da questão social no cenário regular, contêm em sua própria definição o princípio que
público brasileiro. Entre os argumentos cruzados a pro- exclui um formidável e hoje crescente contingente de tra-
pósito dos critérios de acesso aos benefícios sociais (tempo balhadores que transitam entre o desemprego e as várias
de serviço versus tempo de contribuição) armou-se uma formas de trabalho precário no assim chamado mercado
cena política na qual os termos da negociação explicitavam informal, que não têm acesso às garantias sociais e que
exatamente essa fratura entre o que conta e é levado em estão fora das arenas de representação sindical. De outro
conta como questão que diz respeito à deliberação e à ação, lado, e no que diz respeito ao mercado formal, os direitos
e o que está fora de um campo possível de intervenção. trabalhistas se institucionalizaram como peça de um or-
Fora das arenas organizadas da economia e da vida so- denamento jurídico, mas não se instituíram como valor,
cial, o destino dessa gente parece, de uma vez por todas, prática e referência normativa nas relações sociais, de tal
estar na dependência das promessas redentoras de um modo que puderam conviver tão bem, ao longo da histó-
mercado capaz de absorver os que para tanto tiverem com- ria, com um padrão autoritário e despótico de organiza-
petência e habilidade. Ou então das práticas (renovadas) ção do processo produtivo e o uso espoliativo da força de
da filantropia pública e privada para atender aqueles que, trabalho. Nesse caso, o que se especifica é um modo de
deserdados da sorte e incompetentes para exercer suas vir- regulação das relações de trabalho subtraídas das formas
tudes empreendedoras no mercado, estão fora do contra- de representação (fabril e sindical), obstruindo o proces-
to social. so que Le Goff (1985) descreve – “do silêncio à palavra”
Tudo isso respira os ares desses tempos de neolibera- – de constituição dos grupos operários como atores cole-
lismo vitorioso, traduz a “ambiência social conservado- tivos portadores de uma palavra que desprivatiza a reali-
ra” (Oliveira, 1995) na qual as mudanças em curso estão dade fabril e titulares de direitos reconhecidos (e conquis-
sendo conduzidas e reatualiza uma pesada tradição de tados) como parâmetros de uma regulação democrática
desigualdades e exclusões. Mas ainda precisamos enten- das relações de trabalho, mediada pelas categorias uni-
der melhor a dinâmica societária a partir da qual se esta- versais da cidadania. Se isso significa muito concretamente
belecem os parâmetros em torno dos quais a cena política condições espoliativas de trabalho e a burla rotineira das
se arma. É uma cena política que expressa e ao mesmo normas contratuais, é nas práticas recorrentes de demis-
tempo duplica uma gramática social muito excludente que são que essa esfera organizada do trabalho se encontra
joga muitos fora do poder de interpelação de sindicatos, com a outra ponta pela qual se faz presente, ainda viva,
partidos e associações de classe. E esse é, poderíamos uma tradição regulatória, autoritária e excludente, mais
dizer, o ponto cego da recente democracia brasileira: uma de 50 anos após sua implementação.
sociedade civil restrita ou truncada, na qual as práticas Talvez aqui se aloje o aparente paradoxo de uma tra-
de representação e negociação se generalizam com difi- dição de organização do trabalho, burocrática e monoló-
culdades para além dos grupos mais organizados, jogan- gica, regida por uma espécie de fúria regulatória sobre a
do muitos, definitiva ou intermitentemente, numa situa- realidade fabril (Paoli, 1994), mas que desorganiza o tem-
ção em que não há medidas através das quais necessidades po todo o mundo do trabalho, por via de reiterada obstru-
e interesses possam ser formulados em termos de direi- ção das mediações pelas quais o vínculo do trabalho pode
tos, tornando factível a representação, a negociação e a se estabelecer – mediações que não estão na ordem de
interlocução em espaços legitimados de conflito. uma suposta compulsão cega das leis do mercado, mas
Essa é uma situação que parece corresponder ao que que são construções e artifícios civis, jurídicos, políticos
Wanderley Guilherme dos Santos (1993) define como que definem os limites sem os quais o mercado segue
“confinamento regulatório da cidadania”. Mas, ao con- implacável na sua lógica predatória e espoliativa. Para
trário da suposição corrente de uma sociedade dualizada retomar os termos da discussão do início desse artigo, é
entre “organizados” e “não-organizados”, essa fratura não aqui que se abrem as aporias das sociedades modernas.
corresponde a dois mundos dicotômicos, um avesso do E para colocar de modo menos metafórico e mais colado
outro. É algo que se instaura no interior mesmo da socie- na dura realidade da lógica do mercado capitalista, é aqui
dade organizada, por conta do modo como esse universo que se definem as dimensões societárias e políticas do

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mercado de trabalho – questão discutida por Polanyi quan- politana de São Paulo, considerando-se apenas o merca-
do desmonta a ficção de mercado auto-regulável e que é do privado, praticamente a metade da população ocupa-
retomada em outra chave teórica por Claus Offe (1989) da estava em seus empregos há menos de dois anos
ao mostrar que sem a mediação dos direitos (e das políti- (48,5%), dos quais expressivos 35% estavam há menos
cas sociais), o mercado de trabalho no limite não se cons- de um ano (Tabela 1). É preciso desde logo lembrar que
titui já que devorado pelas contradições da dinâmica ca- esses dados ocultam enormes diferenciações e clivagens
pitalista. O trabalhador, diz Offe, só se transforma em força internas ao mercado de trabalho: a precariedade intrínse-
de trabalho quando se constitui como cidadão. A situa- ca à própria atividade dos trabalhadores autônomos, muito
ção brasileira é o retrato em negativo do “mercado orga- freqüentemente montada em uma extraordinária impro-
nizado”. E as figuras da exclusão que aí se processa são visação para mobilizar recursos e aproveitar oportunida-
as “classes inacabadas”. des (sempre incertas, sempre descontínuas) no mercado;
É certo que esse padrão de regulação estatal do merca- a trama das várias ilegalidades em meio a qual se estrutu-
do de trabalho está perdendo vigência. É certo também – ram os segmentos do mercado no qual transitam os traba-
se bem que muitas vezes esquecido – que esse esgota- lhadores sem carteira de trabalho; as práticas recorrentes
mento se iniciou muito antes da atual avalanche neolibe- de demissão no núcleo organizado da economia atingin-
ral, por conta da presença de um sindicalismo atuante que, do sobretudo o pessoal mais desqualificado, que perma-
desde os anos 80, vem acenando com a possibilidade de nece, mesmo nas empresas mais modernas e hoje em pro-
uma regulação democrática das relações de trabalho, por cesso de reestruturação, sujeito às formas antigas ou
via de práticas de negociação que retiram do Estado o até renovadas do velho e conhecido fordismo. É certo tam-
então exclusivo poder de arbitragem e definição das nor- bém que esses dados não dão conta da precarização que
mas trabalhistas (Paoli, 1994). Mas também é verdade que hoje se instala no núcleo duro da economia por conta da
a tradição excludente na qual se ancora essa regulação crescente utilização de formas variadas de contrato tem-
estatal é hoje reatualizada e revigorada nas propostas em porário e subcontratação. Mas esses dados indicam a or-
pauta de desregulamentação do trabalho. E é uma tradi- dem de grandeza dessa instabilidade que atravessa todo o
ção que se mantém operante e que cobra seus tributos em mercado de trabalho e é nisso, precisamente, que dizem
um mercado que ao mesmo tempo em que gera desigual- alguma coisa quanto ao padrão de funcionamento de um
dades e pobreza crescentes, obstrui as possibilidades de mercado que opera e sempre operou com base nessa ex-
generalização de direitos – problema antigo e persistente traordinária fragilidade dos vínculos de trabalho.
e que hoje ganha configurações inéditas por conta das Pode parecer uma tautologia dizer que esses trabalha-
novas clivagens, diferenciações e segmentações produzi- dores instáveis, com pouco tempo de permanência em seus
das pela reestruturação produtiva em curso. empregos, são especialmente sujeitos ao desemprego.
Afinal, o desemprego periódico é constitutivo da trajetó-
MERCADO DE TRABALHO: EROSÃO DE ria errática desses trabalhadores no mercado de trabalho.
DIREITOS E FRAGMENTAÇÃO SOCIAL
TABELA 1
É sob esse ângulo das difíceis, e hoje em dia mais do Distribuição dos Ocupados, segundo Tempo de
que nunca dilemáticas, relações entre o mundo do traba- Permanência no Emprego Atual
lho e a cidadania, que gostaríamos de discutir algumas Região Metropolitana de São Paulo – 1990-94
Em porcentagem
questões pertinentes a um mercado que é e sempre foi,
para colocar nos termos correntes da discussão, um Tempo de Ocupados (1)
Permanência no
mercado flexível. O que se segue toma como referência Emprego Atual 1990 1991 1992 1993 1994
algumas evidências do que vem ocorrendo no mercado
de trabalho na Região Metropolitana de São Paulo, com Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
base em dados da Pesquisa Emprego e Desemprego do Até Menos de 2 Anos 48,9 50,1 49,7 48,9 48,5
Seade. Até 1 Ano 34,8 36,1 35,0 34,9 35,1
O que parece praticamente definidor da dinâmica de 1 a Menos de 2 Anos 14,1 14,0 14,7 14,0 13,4
2 a 4 Anos 22,8 21,3 21,3 22,4 21,9
um mercado no qual estão ausentes os direitos como pa-
5 a 9 Anos 13,1 13,8 14,4 14,6 15,4
râmetros reguladores das relações de trabalho – esse mer-
10 Anos e Mais 14,6 14,2 14,1 13,8 13,8
cado flexível transparece na espantosa instabilidade ocu- Sem Declaração 0,6 0,5 0,5 0,3 0,3
pacional que atinge parcelas majoritárias da população
ativa. O tempo de permanência no emprego pode ser to- Fonte: SEP. Convênio Seade-Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED. Tabula-
ções especiais da autora.
mado como indicador disso. Em 1994, na Região Metro- (1) Excluem os funcionários públicos.

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Mas isso deixa de ser uma trivialidade quando a referên- TABELA 2


cia é a ordem de grandeza que os dados indicam. Embora Distribuição dos Desempregados com Experiência Anterior
seja verdade que o desemprego dos últimos anos vem atin- de Trabalho e Taxas de Desemprego, segundo o Tempo de Permanência
no Emprego Anterior
gindo trabalhadores antes mais preservados em seus em- Região Metropolitana de São Paulo – 1990-1994
pregos, mais experientes e qualificados, e por mais que o Em porcentagem
perfil da população desempregada tenha também se alte- Desempregados
rado ultimamente, o fato é que esses trabalhadores instá- Tempo de Permanência
1990 1994
veis compõem as parcelas majoritárias da população de- no Emprego Anterior
Distribuição Taxas Distribuição Taxas
sempregada: em 1994, a taxa de desemprego entre o
pessoal com menos de dois anos de emprego chegava a Total 100,0 9,1 100,0 12,4
consideráveis 18,2% contra a média de 12,2% no con- Até Menos de 2 Anos 73,9 13,9 71,0 18,2
junto dos desempregados com experiência anterior de tra- Até 1 Ano 57,5 15,1 53,5 18,9
balho. Representavam, em 1994, 71% dos desemprega- 1 a Menos de 2 Anos 16,4 10,8 17,4 16,2
2 a 4 Anos 16,4 6,7 17,9 10,6
dos, sendo que 57% não chegaram a ficar um ano em seus 5 a 9 Anos 5,5 3,8 6,8 5,6
empregos anteriores (Tabela 2). 10 Anos e Mais 3,0 1,8 3,8 3,1
É essa transitividade entre o trabalho instável e o de- Sem Declaração 1,3 18,7 0,5 17,5
semprego que dá a medida da tragédia social engendrada Fonte: SEP. Convênio Seade-Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED. Tabula-
no mercado de trabalho: entre o desemprego e o trabalho ções especiais da autora.
instável, a vulnerabilidade no mercado de trabalho atin-
gia, em 1994, cerca da metade da população economica- TABELA 3

mente ativa. Como era de se esperar, essa é a situação Distribuição dos Desempregados e do Total de Ocupados, por Faixa
Etária, segundo Tempo de Permanência no Emprego Atual
que praticamente tipifica os trabalhadores com menos de Região Metropolitana de São Paulo – 1994
18 anos. E chega a atingir 70% dos trabalhadores jovens, Em porcentagem
entre 18 e 24 anos, e expressivos 45% dos trabalhadores Faixa Etária
PEA e Tempo de
na faixa de 25 a 39 anos (Tabela 3). Essa vulnerabilidade Permanência no 10 a 14 15 a 17 18 a 24 25 a 39 40 ou Total
atravessa todo o mercado de trabalho, inclusive o núcleo Emprego Atual Anos Anos Anos Anos Mais
dinâmico da economia: na indústria, em 1994, entre o
desemprego e o trabalho instável, essa vulnerabilidade Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Desempregados 42,9 38,0 20,1 11,0 6,9 14,2
atingia metade da população ativa (49,9%), variando en- Ocupados
tre 43,4% nas indústrias químicas a 61,5% nas indústrias Menos de 2 Anos 48,7 52 52,3 37,1 27,8 38,9
têxteis (Tabela 4). 2 a 4 Anos 7,9 8,9 19,3 21,5 16,3 18,5
5 a 9 Anos 0,2 0,9 7,8 18,8 15,8 14,0
É essa vulnerabilidade que gostaríamos de enfatizar. 10 Anos ou Mais - - 0,4 11,4 32,7 14,1
Mais do que a oposição entre mercado formal e informal, Sem Declaração 0,2 0,2 0,1 0,3 0,5 0,3
parece que é essa vulnerabilidade que pode nos dar uma Fonte: SEP. Convênio Seade-Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED. Tabula-
chave para elucidar como esse mercado opera, por via de ções especiais da autora.

um permanente e contínuo curto-circuito no vínculo que


os trabalhadores chegam a estabelecer no mercado. Seria TABELA 4
possível dizer que nessa vulnerabilidade se aloja o “bura- Distribuição da PEA Industrial, por Ramos Industriais,
segundo Tempo de Permanência no Emprego Atual
co negro” que absorve, sorve e subtrai as energias políti- Região Metropolitana de São Paulo – 1994
cas mobilizadas pela reivindicação de direitos e pelas Em porcentagem
práticas de representação. Traduz trajetórias de trabalho
PEA Industrial Ramos Industriais
que escapam o tempo todo da trama de relações armada e Tempo de
entre a sociabilidade do cotidiano do trabalho, as práticas Permanência no Metal- Químicas, Farm. Têxteis, Outras Total
Emprego Atual Mecânica e Plásticos Vestuário Indústrias
da representação sindical e a armadura institucional e
também jurídica por onde circulam demandas de direi- Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Desempregados 13,6 13,7 16,4 15,7 14,8
tos, se expressam litígios e conflitos e se definem os ter-
Ocupados
mos de sua possível arbitragem. É como se houvesse, no Menos de 2 Anos 30,1 29,7 45,1 37,1 35,1
subsolo dessa institucionalidade que articula o mundo do 2 a 4 Anos 18,1 22,2 18,5 19,6 19,1
5 a 9 Anos 19,9 18,1 11,9 14,6 16,5
trabalho com o universo formal da cidadania, um movi-
10 Anos ou Mais 18,3 16,2 7,9 12,9 14,4
mento que subtrai permanentemente sua efetividade – Sem Declaração 0,1 0,1 0,2 0,2 0,1
efetividade que sempre foi muito restrita e limitada por
Fonte: SEP. Convênio Seade-Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED. Tabula-
conta do legado ainda vivo da tradição corporativa que ções especiais da autora.

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historicamente regeu a organização do trabalho. Mas se- balho redefine por inteiro o sentido da instabilidade ocu-
ria o caso de se perguntar até que ponto essa permanente pacional de que se tratou anteriormente.
e contínua erosão por baixo da sociabilidade do traba- É certo que nos últimos anos tem crescido relativamente
lho não termina por repor uma ordem institucional regida a presença de trabalhadores mais estáveis, com cinco a
por uma lógica que obstrui a universalização dos direitos nove anos em seus empregos (de 13%, em 1990, a 15,4%,
e a generalização das práticas de representação. Essa não em 1994). Mas também é certo que essa maior estabiliza-
é, bem o sabemos, uma questão nova. É um dilema que ção é muito seletiva e responde aos novos e excludentes
sempre desafiou o sindicalismo mais atuante, mesmo em critérios pelos quais vêm se dando a reestruturação pro-
suas fases mais gloriosas nos anos 80, mas que ganha dutiva, a redefinição dos modos de organização do traba-
novas configurações no cenário atual de reestruturação lho e de suas hierarquias internas. No limite, essa maior
produtiva. (e relativa) estabilização, longe de poder ser tomada em
Precarização das relações de trabalho, heterogeneida- si como um indicador positivo, tende a cristalizar segmen-
de ocupacional redefinida através de uma variedade iné- tações e desigualdades em meio a um mercado estrutura-
dita de formas de contrato e situações de trabalho (incluí- do entre enclaves de “modernidade” e uma maioria com
da a “volta” do trabalho familiar) e desemprego de longa chances cada vez mais reduzidas no mercado de traba-
duração, tudo isso vem sendo debatido, medido, analisa- lho, transitando entre o desemprego, o emprego instável,
do e não seria o caso aqui de discutir a ordem de suas e as velhas e novas formas de trabalho precário. Parece
causalidades ancoradas nas mudanças em curso, conju- claro que essa segmentação significa um aumento cres-
gando uma história de longa duração e os rumos de uma cente das desigualdades e disparidades salariais. Mas não
modernização selvagem que nos projeta no século XXI apenas isso: como vários analistas têm enfatizado, essas
sem que se tenha ainda resolvido as tarefas clássicas de segmentações se traduzem também em diferenças de pa-
uma “modernidade incompleta” (igualdade e justiça so- drões de consumo e estilos de vida, abrindo um fosso quase
cial). No entanto, gostaríamos de enfatizar algumas ques- intransponível entre o “universo da pobreza”, por onde
tões que nos parecem importantes e que dizem respeito a circulam e no qual estão fixados contingentes crescentes
um novo diagrama de desigualdades que desafia a agen- de trabalhadores, e os que se integram nos circuitos mo-
da clássica de universalização de direitos. dernizados do mercado e também da vida urbana, que
Os novos requerimentos tecnológicos e os novos pa- manipulam “essas coisas modernas, de computador” como
drões de organização do processo produtivo sobrepõem diz um jovem trabalhador ao relatar, desalentado, a difi-
às antigas e persistentes desigualdades uma segmentação culdade, para ele quase intransponível, de entrar nesse
cada vez maior entre setores crescentemente restritos de moderno mercado de trabalho.
trabalhadores mais qualificados, mais valorizados e pre- Essas diferenciações e segmentações não podem ser
servados em seus empregos, e uma maioria que não apre- tomadas como a tradução direta, sem mediações, das es-
senta as habilitações exigidas pelo novo padrão produti- truturas produtivas, mas antes como a contraface de uma
vo, transitando entre o desemprego, o mercado informal destituição de direitos que hoje avança por todo o merca-
e as velhas e novas formas de trabalho precário. O que do de trabalho, atingindo o núcleo dinâmico da econo-
está em jogo nesse processo é a quebra de uma estrutura mia. Trata-se de uma destituição – e isso talvez tenhamos
ocupacional que, mal ou bem, permitiu, durante décadas, que entender melhor – que, ao mesmo tempo em que gera
a integração de amplos contingentes de uma força de tra- fragmentação e exclusão, ocorre em um cenário de enco-
balho pouco ou nada qualificada, interrompendo um ci- lhimento do horizonte de legitimidade dos direitos sociais.1
clo histórico e de longa duração de mobilidade ocupacio- Ainda será preciso conhecer melhor até que ponto e por
nal e social (Medeiros e Salm, 1994). Ainda será preciso que vias essa extraordinária mutação dos significados dos
conhecer melhor as conseqüências societárias de mudan- direitos que vem nas trilhas da onda neoliberal (no Brasil
ças que estão retirando a eficácia de estratégias ocupa- e no mundo), agora apresentados como ônus, custos e
cionais (e de vida) ancoradas na experiência de trabalho anacronismos que entravam a suposta vocação moderni-
acumulada no correr dos anos e em uma teia de sociabili- zadora do mercado e as virtudes empreendedoras dos in-
dade que sempre operou como mecanismo informal de divíduos, afetam ou vem afetando a sociabilidade do tra-
entrada e circulação no mercado de trabalho, mobilizan- balho. Trata-se de uma mutação que se inscreve, em estado
do informações, oportunidades e chances de emprego. Não prático, no modo como a reestruturação produtiva vem
se está aqui querendo encontrar alguma virtude no padrão se dando e como as segmentações se cristalizam no mer-
anterior de funcionamento do mercado, mas chamar a aten- cado de trabalho.
ção para o fato de que o bloqueio dessa espécie de circu- Como bem descrevem Medeiros e Salm (1994), as novas
lação (circulação precária, por certo) no mercado de tra- segmentações e dualizações vêm se processando em um

90
QUESTÃO SOCIAL: AFINAL, DO QUE SE TRATA?

quadro marcado por um “hibridismo ocupacional” que re- Talvez o mais importante – e também o mais inquie-
mete às formas de regulação do mercado de trabalho e se tante – é que essas segmentações se instalam no interior
desdobra na fragmentação dos espaços de representação, dos processos produtivos através de uma teia de diferen-
introduzindo clivagens profundas entre parcelas cada vez ciações que minam os espaços operários tradicionais.
mais restritas e reduzidas de trabalhadores que conseguem Como as pesquisas vêm mostrando, há no interior de um
negociar garantias e prerrogativas nos espaços do traba- mesmo espaço produtivo a combinação de formas mo-
lho e trabalhadores submetidos a relações de trabalho sem dernas de gestão do trabalho regidas pelos critérios da
qualquer mediação representativa, sujeitos, por isso mes- “participação”, “envolvimento” e comprometimento ati-
mo, à gestão unilateral da força de trabalho. É um quadro vo com os imperativos de qualidade e produtividade, e a
social no qual a vida sindical e as relações formais de persistência, mesmo que renovada e redefinida no inte-
assalariamento convivem com um universo fragmentado rior das novas hierarquias ocupacionais, dos padrões for-
e desestruturado em situações de trabalho incomensurá- distas de trabalho em que prevalecem as más condições
veis nas suas especificidades, sem uma medida comum de trabalho, a insegurança dos empregos, os despotismos
que só poderia ser construída pela mediação dos direitos de sempre mesmo que temperados pelos novos ares “par-
e dos espaços de representação. É nesse universo que cres- ticipacionistas” e – esse é o ponto a ser enfatizado – a
ce a precarização. Para os trabalhadores nele inseridos, exclusão dos benefícios e garantias que os trabalhadores
“os sindicatos não existem, a lei funciona mal, a rotativi- integrados nos núcleos modernizados da produção nego-
dade é alta e a modernização é sinônimo de desempre- ciam como recompensa de seu próprio empenho na pro-
go”. Se isso aumenta o fosso entre segmentos diferenciados dução. Se é possível dizer, com Le Goff, que os direitos
do mercado de trabalho, o hibridismo institucional isola significam (ao menos em princípio, princípio nunca in-
os setores mais modernos e compromete o poder de inter- teiramente realizado e muito menos na experiência brasi-
pelação dos sindicatos para além das categorias profis- leira) uma regulação das relações de trabalho não sujeita
sionais mais organizadas e com maior tradição sindical. aos imperativos instrumentais da economia, mas regida
No interior desse hibridismo institucional, as segmen- pelo imperativo ético de justiça e igualdade, se é nesses
tações e diferenciações no mercado de trabalho se desdo- termos que a reivindicação por direitos atualiza, ao me-
bram e se duplicam nos dilemas atuais das políticas so- nos virtualmente, a vocação universalista da cidadania,
ciais. Parcelas ponderáveis da população trabalhadora estas práticas significam – ou podem significar – uma des-
integrada no mercado formal já estão vinculadas a siste- figuração da noção e da prática dos direitos através de
mas privados de saúde, educação e aposentadoria. No que sua instrumentalização pela racionalidade econômica do
diz respeito ao acesso aos serviços de saúde na Região mercado, submetendo-os aos seus imperativos de eficá-
Metropolitana de São Paulo, cerca de 45% da população cia e produtividade. Isso afeta as concepções e represen-
ocupada possuíam convênios médicos, proporção que, no tações sobre o social e os direitos a ele indexados, e tam-
entanto, oculta uma brutal e perversa diferenciação inter- bém a prática e as condições do exercício da cidadania.
na conforme níveis salariais e formas de integração no Para os que têm a sorte de se manter integrados e (relati-
mercado de trabalho, mostrando com isso a lógica regres- vamente) preservados em seus empregos, as garantias
siva do mercado, às avessas dos critérios universalizan- negociadas deixam de ser conjugadas na gramática da
tes e redistributivos que os serviços sociais, em princí- cidadania e passam a ser percebidas sob um modo deri-
pio, deveriam conter (Braglia, 1996). Como bem nota vado do crescimento das empresas e das competências
Wilnês Henrique (1993), esse é um mecanismo perverso individuais para o “envolvimento” e “comprometimen-
que solapa a construção de princípios de solidariedade to” com as exigências de qualidade e eficácia. Como
social efetiva por conta de diferenciações de interesse con- mostram pesquisas recentes, essa mutação de significa-
forme a qualidade dos serviços e benefícios. Nesse cená- dos dos direitos e essa erosão dos espaços operários tra-
rio, os arranjos neoliberais ganham terreno, acenando com dicionais é algo que vem se processando nos modos como
a perspectiva de uma privatização dos serviços públicos as novas tecnologias vêm sendo introduzidas, redefinin-
que, se efetivada, haverá de institucionalizar e sacramen- do o espaço e a sociabilidade operárias através da pro-
tar a segmentação da cidadania pela clivagem entre os que moção de relações individualizadas em hierarquias rede-
têm acesso aos serviços fornecidos pelo mercado e aque- finidas na organização do trabalho, com ênfase nos
les que são destinados aos precários serviços públicos critérios do desempenho individual. Para os demais, su-
estatais, vistos cada vez mais como “coisa de pobre”, sig- jeitos à insegurança nos seus empregos, a noção de direi-
no da incompetência ou fracasso daqueles que golpeados tos perde qualquer sentido pela impossibilidade prática
pelos azares do destino não puderam ou não souberam de seu exercício e por conta dessa espécie de descreden-
provar suas virtudes empreendedoras no mercado. ciamento que a própria condição de trabalho implica para

91
SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 10(4) 1996

a barganha de garantias transfiguradas no registro de re- sentação, aqui a questão está nas relações de direito no
compensas, e não como direitos que devem valer para interior mesmo do processo produtivo.
todos. Essas questões estão longe de se reduzirem a uma es-
Essa erosão dos espaços operários tradicionais se des- peculação abstrata. É algo que vem se colocando muito
dobra nas práticas hoje cada vez mais freqüentes de ter- concretamente nessa teia de fragmentações em que seg-
ceirização, subcontratação e trabalho temporário. Nesse mentos crescentes de trabalhadores, integrados na estru-
caso, a realidade operária se fragmenta e se pulveriza ao tura multifacetada por onde as cadeias produtivas se or-
longo dos circuitos de cadeias produtivas que transbor- ganizam, “desaparecem” das categorias profissionais e dos
dam as definições formais de categorias e jurisdição sin- quadros da representação sindical (Rizek e Silva, 1996).
dical, subvertendo por inteiro as relações entre trabalho e E também dos dados que medem o perfil e a composição
representação e estendendo como nunca esse enorme e das categorias profissionais, o que inclui a nós, pesquisa-
multifacetado universo das “classes inacabadas”, por meio dores, que lançam mão de definições e categorias e esta-
da mobilização de diversas formas de trabalho precário, tísticas que, assim parece, já não correspondem inteira-
incluindo na sua ponta até mesmo o antigo e hoje cres- mente às novas realidades.
cente trabalho familiar. E isso coloca várias questões. É por esse ângulo que talvez se possa avaliar o sentido
Por um lado, a chamada flexibilização das normas con- da precarização e da fragmentação em curso na indústria.
tratuais – é disso que se trata – está significando, além da Para voltar à objetividade (que nesses tempos perdeu muito
degradação das condições de trabalho e deterioração de de sua anterior certeza) dos dados, pode-se ter ao menos
padrões salariais, uma segmentação jurídica que joga uma medida do que pode estar acontecendo:
muitos no pior dos mundos – um mundo no qual não exis- - ao mesmo tempo em que, de 1990 a 1994, há um enco-
tem garantias (por definição precárias) do contrato de tra- lhimento do número de postos de trabalho, crescem em
balho regular, que se estrutura às margens das normas toda a indústria os indicadores de precarização: assala-
pactuadas e dos benefícios conquistados em acordos tra- riados sem carteira de trabalho e trabalhadores autôno-
balhistas e que se fragmenta na ausência de mecanismos mos, e também os pequenos empreendimentos, de um a
estáveis de representação. Se é essa situação que fragmenta 49 empregados, que chegavam a ocupar cerca de 26,3%
o espaço operário tradicional, solapa referências identi- dos trabalhadores industriais (versus 19,7% em 1994); se
tárias, quebra a trama de solidariedades construídas em considerarmos os empreendimentos com 50 a 99 empre-
espaços de conflitos e representação, essa flexibilização gados, essa proporção sobe para 33,8% contra 25,7% em
elide a própria questão da justiça, ao menos tal como foi 1990 (Tabela 5);
formulada na concepção moderna de direitos, mediante
- embora a presença dos assalariados sem carteira e dos
uma regulamentação do trabalho inteiramente subsumi-
autônomos seja particularmente importante nas indústrias
da aos critérios da racionalidade instrumental do mercado.
têxteis, foi no ramo metal-mecânico que se pôde verifi-
Por outro lado, essas situações também colocam ques-
car as mudanças mais significativas nos vínculos de tra-
tões inteiramente novas. De um ponto de vista formal,
balho: proporcionalmente, foi nessas indústrias que hou-
podemos dizer que os direitos não significam apenas ga-
ve um maior aumento relativo tanto do assalariamento sem
rantias. Estruturam um campo de relações pela definição
carteira (de 3,8% para 7,5% em 1994) quanto dos autôno-
– e tipificação – de responsabilidades e obrigações; e ar-
mos (de 2,1% para 3,1%). É certo que esses trabalhadores
ticulam (ou se articulam com) uma esfera institucional na
representam uma proporção relativamente pequena nes-
qual e pela qual é sempre possível, nos casos de litígios,
sas indústrias e que o vínculo formal de trabalho (ainda?)
de burla de normas contratuais ou de problemas referen-
predomina amplamente. Mas não é irrelevante notar que
tes às condições de trabalho (acidentes de trabalho, por
esse aumento da precariedade dos vínculos de trabalho é
exemplo) proceder à imputação de responsabilidades,
acompanhada por um igualmente expressivo aumento dos
apelar às instâncias da Justiça e definir os termos de uma
empreendimentos com até 99 empregados (de 18,1% em
possível arbitragem. Se é assim, então a questão que se
1990 para 27,5% em 1994) também mais acentuado, em
coloca é a erosão prática dos direitos em circunstâncias
termos relativos, do que nos outros ramos industriais;
nas quais não está claro quem são os protagonistas, em
que as responsabilidades não são definidas claramente e - mas é no comportamento claramente diferenciado das
em que as esferas de deliberação estão descentradas e frag- indústrias químicas que se pode ter, paradoxalmente, uma
mentadas numa rede produtiva que tende, ademais, se- medida do que anda acontecendo com o mercado de tra-
guindo os fluxos da globalização, a ser cada vez mais balho: em relação às indústrias metal-mecânicas, o cres-
desterritorializada. Se a questão comentada anteriormen- cimento relativo da precarização é nitidamente menor –
te coloca o problema das relações entre trabalho e repre- no caso dos trabalhadores autônomos, apesar de terem uma

92
QUESTÃO SOCIAL: AFINAL, DO QUE SE TRATA?

TABELA 5
Ocupados na Indústria, por Ramos Industriais, segundo Posição na Ocupação, Tamanho da Empresa e Números de Empregados
Região Metropolitana de São Paulo – 1990-1994
Em porcentagem
Ocupados na Indústria
Posição na Ocupação, Tamanho da
Empresa e Números de Empregados Metal-Mecânica Químicas, Farm. Têxteis, Outras Total
e Plásticos Vestuário Indústrias

1990
TOTAL 37,8 44,2 88,8 70,6 56,4
Posição na Ocupação 5,9 10,3 26,2 18,9 13,6
Assalariados sem Carteira 3,8 4,5 11,4 9,5 6,8
Autônomos para o Público 0,5 0,3 2,1 3,8 1,7
Autônomos para Empresa 1,6 5,5 12,7 5,6 5,1
Tamanho da Empresa 0,8 0,8 4,0 5,1 2,5
Trabalha Sozinho 0,5 0,4 1,9 2,6 1,3
Com Família e Sócios 0,3 0,4 2,1 2,5 1,2
Número de Empregados 18,1 21,3 40,4 30,2 25,7
1 a 9 Empregados 3,5 4,2 15,2 11,3 7,8
10 a 49 Empregados 8,7 10,2 18,0 13,7 11,9
50 a 99 Empregados 5,9 6,9 7,2 5,2 6,0

1994
TOTAL 28,8 20,4 57,4 41,9 37,4
Posição na Ocupação 10,6 12,7 32,3 23,0 18,8
Assalariados sem Carteira 7,5 5,8 14,8 12,3 10,2
Autônomos para o Público 0,8 0,6 4,2 4,5 2,6
Autônomos para Empresa 2,3 6,3 13,3 6,2 6,0
Tamanho da Empresa 1,3 0,7 6,4 5,9 3,6
Trabalha Sozinho 0,6 0,2 2,3 3,2 1,7
Com Família e Sócios 0,7 0,5 4,1 2,7 1,9
Número de Empregados 27,5 19,7 51,0 36,0 33,8
1 a 9 Empregados 6,0 4,5 20,6 12,6 10,7
10 a 49 Empregados 13,4 9,2 21,9 16,7 15,6
50 a 99 Empregados 8,1 6,0 8,5 6,7 7,5

Fonte: SEP. Convênio Seade-Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED. Tabulações especiais da autora.

maior participação nas indústrias químicas, esse cresci- para 9% em 1994, e também dos empreendimentos de 50
mento relativo foi menor do que nas metalúrgicas; quan- a 99 empregados, de 7,1% para 5,9% em 1994 (Tabela
to aos trabalhadores sem carteira, o crescimento também 7). E mais notável de tudo: ao contrário do que se verifi-
foi menor e, em 1994, sua presença nas indústrias quími- ca no conjunto do mercado, os trabalhadores emprega-
cas chegava a ser menor do que nas metalúrgicas (5,8% dos nesse setor foram os únicos que tiveram, entre 1990 e
versus 7,5%), invertendo-se a situação que existia em 1990 1993, um ganho relativo em termos de salários, inverten-
– 3,8% nas metalúrgicas e 4,5% nas indústrias químicas do-se com isso o padrão que existia em 1990, quando então
(Tabela 5); os salários médios dos trabalhadores químicos eram li-
- quando se toma como referência apenas os trabalhado- geiramente inferiores aos dos metalúrgicos – em 1993, a
res com carteira de trabalho, as diferenças são ainda mais média salarial dos químicos chegava a ser 10% mais alta
acentuadas: se há, no conjunto da indústria, uma tendên- que a dos metalúrgicos (Tabela 8).
cia nítida à maior estabilização dos trabalhadores com Como interpretar esses dados? Quanto aos ganhos sala-
carteira, essa tendência é ainda mais acentuada nas indús- riais relativos dos químicos em relação ao conjunto do mer-
trias químicas – a presença de trabalhadores com cinco a cado, não é tão evidente, na verdade é pouco provável
nove anos no mesmo emprego salta de 14,7% em 1990 que isso decorra de uma maior organização e combativida-
para 23% em 1994 – diferença de mais de 50%, bem maior de sindical.2 A explicação parece estar em outro lugar, em
do que a acorrida entre as metalúrgicas – de 18,1% em um processo de reestruturação que, ao mesmo tempo em
1990 para 24,9% em 1994, um diferença de um pouco que leva a uma diminuição do número de postos de tra-
mais de 1/3 (Tabela 6); ao contrário do que ocorre no con- balho, mantém em seu núcleo duro os trabalhadores mais
junto do mercado industrial formal e de forma ainda mais estáveis, mais qualificados e mais protegidos, enquanto
acentuada entre as metalúrgicas, há uma espantosa dimi- contingentes crescentes são “externalizados” para outros
nuição das empresas de um a 49 empregados, de 12,3% setores e outros ramos de atividade que, assim, “somem”

93
SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 10(4) 1996

TABELA 6
Distribuição dos Assalariados com Carteira Assinada na Indústria, por Ramos Industriais,
segundo Tempo de Permanência no Emprego Atual
Região Metropolitana de São Paulo – 1990-1994
Em porcentagem
Assalariados com Carteira Assinada na Indústria
Tempo de Permanência
no Emprego Atual Metal-Mecânica Químicas, Farm. Têxteis, Outras Total
e Plásticos Vestuário Indústrias

1990
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Até 2 Anos 35,8 40,1 50,5 44,0 40,4
2 a 4 Anos 25,8 27,8 24,4 24,8 25,6
5 a 9 Anos 18,1 14,7 13,9 15,2 16,3
10 Anos e Mais 20,1 17,3 11,2 15,8 17,4
Sem Declaração 0,2 0,1 - 0,2 0,2

1994
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Até 2 Anos 31,0 30,0 46,4 37,0 34,9
2 a 4 Anos 21,9 27,9 25 26,3 24,3
5 a 9 Anos 24,9 23,0 18,3 20,2 22,3
10 Anos e Mais 22,1 19,0 10,1 16,3 18,3
Sem Declaração 0,1 0,1 0,2 0,2 0,2

Fonte: SEP. Convênio Seade-Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED. Tabulações especiais da autora.

TABELA 7
Distribuição dos Assalariados com Carteira Assinada na Indústria,
por Ramos Industriais, segundo Tamanho do Empreendimento
Região Metropolitana de São Paulo – 1990-1994
Em porcentagem
Assalariados com Carteira Assinada na Indústria

Tamanho do Empreendimento
Metal-Mecânica Químicas, Farm. Têxteis, Outras Total
e Plásticos Vestuário Indústrias

1990
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Até 99 Empregados 15,3 19,4 32,7 23,7 20,4
1 a 9 Empregados 1,8 3,0 6,9 5,6 3,6
10 a 49 Empregados 7,8 9,3 17,0 12,2 10,4
50 a 99 Empregados 5,7 7,1 8,8 5,9 6,4
100 a 499 Empregados 18,9 21,8 19,4 15,3 18,4
500 ou Mais 51,3 44,7 30,6 44,1 45,7
Sem Declaração 14,4 14,1 17,3 16,9 15,4

1994
Total 100,0 100,0 99,9 100,0 100,0
Até 99 Empregados 21,8 14,9 42,4 28,3 25,9
1 a 9 Empregados 2,4 2,1 7,2 4,9 3,8
10 a 49 Empregados 11,2 6,9 23,3 15,3 13,7
50 a 99 Empregados 8,2 5,9 11,9 8,1 8,4
100 a 499 Empregados 24,1 23,6 23,3 21,7 23,2
500 ou Mais 46,2 53,5 25,3 39,7 42,0
Sem Declaração 8,1 8,0 8,9 10,3 8,9

Fonte: SEP. Convênio Seade-Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED. Tabulações especiais da autora.

94
QUESTÃO SOCIAL: AFINAL, DO QUE SE TRATA?

da categoria. Ao descrever, por exemplo, os serviços sub- TABELA 8


contratados de embalagem em uma indústria química, Rendimento Médio de Assalariados com Carteira Assinada na Indústria,
Risek e Silva mostram uma terceirização suja e predató- segundo Ramos Industriais
Região Metropolitana de São Paulo – 1990-1993
ria na ponta da cadeia produtiva da empresa, que incor-
Em R$
pora trabalhadores, na maioria mulheres, com base em
contratos temporários, submetidos a péssimas condições Rendimento Médio do Trabalho (1)
Ramos Industriais
de trabalho, sem os benefícios dos trabalhadores contra- 1990 1993
tados (convênio médico, cesta básica, transporte) e, pior
Total 890,39 861,24
de tudo, fora da área de atuação do sindicato, pois não
Metal-Mecânica 1.009,73 1.003,79
mantêm vínculo contratual estável, são computados como
Química, Farm. e Plásticos 993,34 1.105,14
trabalhadores autônomos em serviços e desaparecem dos Têxtil, Vestuário 538,22 503,86
dados relativos ao perfil da força de trabalho do comple- Outras Indústrias 823,83 753,31
xo químico. É aqui que talvez mais se explicite o sentido
Fonte: SEP. Convênio Seade-Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED. Tabula-
mesmo da exclusão. Não se trata de uma gente que está ções especiais da autora.
“fora” do mercado e da vida social organizada, como se (1) Rendimento atualizado para valores de abril de 1995.
Nota: No momento de elaboração dessas tabelas, os dados referentes a 1994 não estavam
diz muito freqüentemente, mas nesse lugar que, sem a ainda disponíveis.
mediação pública dos direitos e da representação, se per-
de na invisibilidade social. Isso sempre aconteceu no do jogo do mercado. Nesses tempos incertos, em que o
mercado de trabalho. É o cenário das “classes inacaba- consenso conservador que tomou conta da cena pública
das”. O peculiar aos tempos que correm é algo como uma tenta fazer crer que estamos diante de processos inelutá-
disjunção entre a palavra e as coisas (sem referência, aqui, veis e inescapáveis, fazer essa aposta não é pouca coisa.
ao livro famoso de Foucault), uma realidade que escapa
às referências identificatórias, às representações (no du-
plo sentido, de representação sindical e representação sim- NOTAS
bólica) e se pulveriza na indiferenciação própria dos que 1. Devemos a Cibele Saliba Risek essa mais do que apropriada expressão – en-
não têm nome – as trabalhadoras pesquisadas por Rizek e colhimento dos horizontes de legitimidade dos direitos sociais – para avaliar o
sentido político das mudanças em curso. Agradecemos a cuidadosa leitura e dis-
Silva não sabem ao certo como se identificar, não se re- cussão da primeira versão desse artigo.
conhecem como químicas e, quanto aos dirigentes sindi- 2. Agradecemos a Leonardo Mello e Silva essa avaliação, e também a discussão
dos dados e da primeira versão desse artigo.
cais, tampouco sabem ao certo seu lugar – se não são
químicas e tampouco são trabalhadoras “de verdade” (são
autônomas ou então assalariadas com contrato temporá- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
rio), então onde estão, quem são? Somem dos dados e
muito provavelmente reaparecem nesse universo tão gran- BRAGLIA, M.A. “A proteção social pelo trabalho: entre o óbvio e o exótico”.
São Paulo em Perspectiva. São Paulo, Fundação Seade, v.10, n.1, jan./mar.
de quanto nebuloso que são os “serviços”. Ou então, como 1996, p.46-52.
bem notam os autores, nessa caixa-preta que são as “ou- CASTEL, R. Les métamorphoses de la question sociale. Une chronique du
salariat. Paris, Fayard, 1995.
tras atividades” – lugar dos não-classificáveis. EWALD, F. L'Etat Previdence. Paris, Grasset, 1985.
Difícil propor alguma conclusão que não sejam ape- HENRIQUE, W. “As políticas sociais na crise”. In: APPY, B. et alii (orgs.). Crise brasi-
nas inquietações. Se diante da avalanche neoliberal, a leira: anos oitenta e o governo Collor. São Paulo, Desep/Inca, 1993, p.275-307.
LE GOFF, J. Du silence à la parole. Droit du travail, societé, État (1830-1989).
questão que se apresenta hoje é de refundar o horizonte Paris, Calligrammes, 1985.
de legitimidade dos direitos, também é verdade que as MEDEIROS, C.A. e SALM, C. “O mercado de trabalho em debate”. Novos Es-
tudos. São Paulo, Cebrap, n.39, julho 1994, p.49-66.
mudanças em curso na economia (e na sociedade) estão
OFFE, C. “A democracia contra o Estado do Bem-Estar?”. O capitalismo desor-
nos colocando em uma fronteira de dilemas que escapam ganizado. São Paulo, Brasiliense, 1989.
a conceitos, categorias e fórmulas políticas conhecidas e OLIVEIRA, F. de “Quem tem medo da governabilidade?”. Novos Estudos. São
Paulo, Cebrap, n.41, março 1995, p.61-77.
que estão a exigir uma reinvenção dos termos para se
PAOLI, M.C. “Os direitos do trabalho e sua justiça: em busca das referências
pensar as relações entre trabalho, direitos e cidadania. E democráticas”. Revista da USP, Dossiê Judiciário. São Paulo, Universida-
isso não depende de fórmulas teóricas, por mais bem cons- de de São Paulo, n.21, mar./maio 1994, p.100-115.
PNAD. Trabalho – Brasil. 1990.
truídas que possam ser. Está na ordem da “invenção de-
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