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Desenvolvimento
para o Vale do
Jequitinhonha
Estratégias e ações
1
Estratégias e ações
as diretrizes, as estratégias e as propostas de alcance territorial para e struturação do Plano
de Desenvolvimento para o Vale do J equitinhonha (PDVJ), no intuito de subsidiar a
atuação da Cemig GT na Usina Hidrelétrica de Irapé junto aos agentes sociais, privados e
públicos nos territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha.
Plano de
Desenvolvimento
para o Vale do
Jequitinhonha
Belo Horizonte
Fundação João Pinheiro
2017
2 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
GOVERNADOR
Fernando Damata Pimentel
PRESIDENTE
Roberto do Nascimento Rodrigues
VICE-PRESIDENTE
Daniel Lisbeni Marra Fonseca
DIRETOR-PRESIDENTE
Bernardo Afonso Salomão de Alvarenga
REPRESENTANTE TÉCNICO
Humberto Ribeiro Mendes Neto
Tarciana Lima Cirino
Introdução 3
Plano de
Desenvolvimento
para o Vale do
Jequitinhonha
VOLUME 2
Demografia e atividades econômicas principais:
estudos de base
VOLUME 3
Desenvolvimento produtivo e meio ambiente
VOLUME 4
Educação, saúde, assistência social, cultura
e segurança pública
VOLUME 5
Infraestrutura, logística e finanças municipais
VOLUME 6
Oficinas participativas: registro técnico e documental
ALMANAQUE
Obra de divulgação com a síntese das propostas e
do processo participativo de elaboração do Plano de
Desenvolvimento para o Vale do Jequitinhonha
Sinais convencionais
... Dado numérico não disponível.
.. Não se aplica dado numérico.
- Dado numérico igual a zero não resultante
de arredondamento.
ESTAGIÁRIOS
Andrei Gomes Santana Pereira
Arthur Braga Góes
Camila Costa Cardeal - bolsista/CNPq
Danielle Ribeiro Oliveira Diniz
Elise Hungaro da Cunha
Franciane Carla de Almeida (UFLA)
Isabela Prímola Magalhães Zenatelli Campos
Izabelle Maria Santos Cária
Joyce Ribeiro Colares
Larissa Pereira
Luca Gonzalez Pereira
Luiza Castellani
Mariana Marcatto do Carmo
Tania Mara de Faria Santos
Vinicius Eustáquio Evangelista
APOIO ADMINISTRATIVO
Clédia Barreto de almeida
Fernando Antônio Rodrigues de Paula
Graciela Teixeira Gonzalez
João Maria de Lima
Júlia Mara Perdigão Alves
Kellem Cristina Rodrigues
Thayna Guedes Nunes
8 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
Apresentação
Introdução 9
É com grande satisfação que a Fundação João Pinheiro (FJP), em parceria com a Companhia Energética
de Minas Gerais (CEMIG), torna pública esta obra, em seis volumes elaborados ao longo do processo de
construção do Plano de Desenvolvimento para o Vale do Jequitinhonha (PDVJ). O objetivo do PDVJ
é orientar e promover o desenvolvimento integrado e sustentável dos territórios do Alto e do Médio/Baixo
Jequitinhonha. Visa ainda contribuir enquanto instrumento técnico de planejamento, para a elaboração
de planos de desenvolvimento para os demais territórios do estado de Minas Gerais, criados em 2015.
Vencida, contudo, esta primeira etapa, cabe, agora, garantir que as ações aqui propostas sejam imple-
mentadas, o que só será possível a partir da criação de um arranjo de Governança para este PDJV, o que
pressupõe um protagonismo, ainda maior, do Governo Estadual, por meio da Secretaria Extraordinária
de Desenvolvimento Integrado e Fóruns Regionais (SEEDIF) e, no âmbito local, dos Colegiados Execu-
tivos dos Fóruns Regionais, com a participação efetiva dos gestores e atores locais.
Volume 1
Estratégias e
ações
Introdução 11
Este volume apresenta o Plano de Desenvolvimento para o Vale do Jequitinhonha (PDVJ), com as
estratégias e ações que poderão nortear a atuação do Governo do Estado de Minas Gerais com vistas ao
desenvolvimento dos territórios do Alto Jequitinhonha e do Médio/Baixo Jequitinhonha, constituídos
por 25 e 34 municípios, respectivamente.
O volume está organizado em cinco seções. A primeira constitui a introdução, na qual se define a con-
cepção de desenvolvimento que orientou o PDVJ. A segunda contém a metodologia adotada na cons-
trução do Plano. A terceira – caracterização do território – sintetiza os estudos detalhados nos volumes
3, 4 e 5, que apresentam o diagnóstico propositivo. A quarta seção destaca os eixos de intervenção,
definidos com base na análise das potencialidades e fragilidades dos dois territórios destacadas no
Diagnóstico Propositivo e contrapostas com as oportunidades e ameaças externas que podem alterar
o ambiente de sua implementação. Para cada eixo são apresentadas as estratégias e ações prioritárias,
que estão disponíveis de forma completa no apêndice deste volume. A quinta seção aborda a impor-
tância da definição de um arranjo institucional de governança capaz de propiciar a sustentabilidade
política do PDVJ.
12 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
Sumário
1. Introdução .............................................................................................................................................................................................................. 15
2. Considerações metodológicas ..................................................................................................................................................... 21
3. Caracterização dos territórios ...................................................................................................................................................... 25
3.1 Histórico ..................................................................................................................................................................................................................... 25
3.2 Recursos naturais ................................................................................................................................................................................................ 28
3.3 Demografia .............................................................................................................................................................................................................. 33
3.4 Desenvolvimento produtivo ..................................................................................................................................................................... 36
3.5 Desenvolvimento social ................................................................................................................................................................................ 40
3.5.1 Educação ...............................................................................................................................................................................................................40
3.5.2 Saúde .......................................................................................................................................................................................................................40
3.5.3 Assistência social ..............................................................................................................................................................................................42
3.5.4 Saneamento ........................................................................................................................................................................................................44
3.5.5 Habitação ..............................................................................................................................................................................................................45
3.5.6 Cultura ....................................................................................................................................................................................................................46
3.5.7 Segurança pública ..........................................................................................................................................................................................48
3.6 Infraestrutura econômica ............................................................................................................................................................................ 49
3.6.1 Rede de cidades ...............................................................................................................................................................................................49
3.6.2 Estrutura viária e de transportes .............................................................................................................................................................52
3.6.3 Energia ....................................................................................................................................................................................................................54
3.6.4 Tecnologias da informação e comunicação ����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������55
3.7 Gestão municipal ................................................................................................................................................................................................ 56
4. Eixos de intervenção, estratégias e ações ������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 61
4.1 Estratégias e ações prioritárias: eixo Recursos Hídricos ����������������������������������������������������������������������������������������������������� 64
4.2 Estratégias e ações prioritárias: eixo Desenvolvimento Produtivo ��������������������������������������������������������������������������� 65
4.3 Estratégias e ações prioritárias: eixo Desenvolvimento Social ������������������������������������������������������������������������������������ 71
4.4 Estratégias e ações prioritárias: eixo Infraestrutura Econômica ���������������������������������������������������������������������������������� 78
4.5 Estratégias e ações prioritárias: eixo Gestão Municipal ����������������������������������������������������������������������������������������������������� 82
5. Governança ........................................................................................................................................................................................................... 85
5.1 Base conceitual e trajetória política .................................................................................................................................................... 85
5.1.1 Trajetória da política de governança territorial ����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������86
5.2 Dimensão institucional do planejamento e da governança territorial .................................................................87
6. Referências ............................................................................................................................................................................................................. 91
7. Apêndice ................................................................................................................................................................................................................... 95
7.1 Eixo Recursos Hídricos .................................................................................................................................................................................... 95
7.2 Eixo Desenvolvimento Produtivo .......................................................................................................................................................... 97
7.3 Eixo Desenvolvimento Social ................................................................................................................................................................. 103
7.4 Eixo Infraestrutura Econômica .............................................................................................................................................................. 116
7.5 Eixo Gestão Municipal ................................................................................................................................................................................. 120
14 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
Introdução 15
1
Introdução
desigualdades regionais foram adotadas pelo sua sustentabilidade. Nesse sentido, reitera-se
Governo de Minas Gerais, nos anos 1970, em que as técnicas de planejamento em geral vêm
ações centradas em incentivos fiscais e obras de avançando na incorporação de práticas participa-
infraestrutura, visando atrair investimentos para tivas, com a incorporação de consultas, oficinas e
as regiões mais carentes. Acreditava-se que esses workshops. No tocante à descentralização, desta-
investimentos seriam capazes de desencadear ca-se o fortalecimento das concepções de desen-
a transformação econômica. Mostraram-se, no volvimento local, que enfatiza o papel dos atores
entanto, duplamente decepcionantes. Com rarís- locais na formação de redes e na identificação
simas exceções, falharam em atrair empresas. das potencialidades (BRANDÃO, 2007).
Nos casos em que os investimentos vieram,
geraram-se economias de enclave, marcadas Os avanços recentes das experiências de plane-
pela frágil integração com a economia local e jamento territorial no Brasil também devem ser
pela baixa capacidade de geração de renda e de registrados. Forma intermediária entre o plane-
induzir ao desenvolvimento. jamento estadual e o municipal, o planejamento
territorial tem dois objetivos principais: contribuir
Os dois territórios do Jequitinhonha foram objeto para a melhor articulação entre as políticas/pro-
de grandes projetos de transformação centrados gramas existentes, minimizando a sobreposição
na exploração de recursos naturais, incluindo de ações, e fortalecer a capacidade de elencar
eucaliptais, mineração e a construção de bar- projetos e ações em sintonia com as demandas e
ragens. Contaram com baixíssima (ou inexis- visões da sociedade.
tente) participação da população local e foram
incapazes de reverter os baixos indicadores eco- Tais avanços tiveram origem na inclusão, pelo
nômicos e sociais (Ribeiro et al., 2013b). A imple- Programa de Fortalecimento da Agricultura
mentação de grandes plantações de eucalipto Familiar (PRONAF) linha Infraestrutura e Ser-
merece menção. As terras comuns, de uso dos viços Municipais, no final dos anos 1990 e
camponeses, foram privatizadas e cedidas para início da década de 2000, de projetos e investi-
grandes empresas siderúrgicas e madeireiras. mentos intermunicipais, criando a necessidade
As comunidades perderam o acesso que tinham de instâncias que reunissem representantes
a lenha, frutos e áreas de pastagem. Ao baixo dos municípios. Na sequência, houve a criação
impacto econômico, em termos de emprego e da Secretaria de Desenvolvimento Territo-
renda, somaram-se os efeitos negativos sobre rial, dentro do Ministério de Desenvolvimento
o meio ambiente (CALIXTO; RIBEIRO; GALIZONI; Agrário, recentemente extinto. A partir dos
MACEDO, 2013). programas do Governo Federal, com destaque
para os Territórios da Cidadania, foram cons-
Diferentemente do planejamento dos anos 1970, tituídos colegiados voltados à discussão e ao
tecnocrático, centralizado, traçado de cima para apontamento de ações direcionadas ao desen-
baixo, o PDVJ busca se inserir em uma concepção volvimento dos territórios (FAVARETO, 2010;
de planejamento que enfatiza a importância da D ELGADO; GRISA, 2014).
participação da sociedade e da descentralização.
A participação é essencial para apontar direções A análise desses programas mostra que um resul-
que favoreçam um desenvolvimento inclusivo, tado muito positivo foi o maior engajamento e a
para que o plano deixe de ser do governo para se participação da sociedade civil nessas instâncias
tornar da e para a sociedade, favorecendo assim intermunicipais. Prioridades e desafios ligados
Introdução 17
2
Considerações
metodológicas
nenhuma alteração substantiva, o que demons- reça a articulação entre os diversos atores sociais
trou a validade delas. A forma de organização das e políticos envolvidos na sua implementação, de
oficinas e seus resultados constam do documento modo a possibilitar a construção de consensos e
Relatório Técnico sobre as oficinas participativas, a regulação de conflitos.
que constituiu um dos produtos entregues à
CEMIG, em março de 2017.
3
Caracterização
dos territórios
Esta seção apresenta uma síntese do diagnós- Destacavam-se a vigência de pequenas u nidades
tico propositivo (disponíveis nos volumes 3, 4 de produção, em geral de baixa produtividade, e
e 5), que fundamentou a definição das estraté- a relativamente pouco concentrada distribuição
gias e ações propostas pelo PDVJ (citar docu- das terras. As áreas de chapadas, ainda menos
mento – importante indicar para o leitor que férteis, tornaram-se áreas comuns de criação
há um documento mais detalhado à disposição de gado e coleta de frutas, lenha, plantas e
para consulta). Está organizada nos seguintes produtos medicinais. As regras comunitárias
temas: Histórico, Recursos Naturais; Demo- favoreciam o compartilhamento e o manejo e
grafia; Desenvolvimento Produtivo; Desenvol- evitavam o desperdício. Dessa forma, o acesso
vimento Social; Infraestrutura Econômica e às áreas em comum complementou por muito
Gestão Municipal. tempo a subsistência das famílias (RIBEIRO et
al., 2013). Em face à baixa fertilidade da terra,
a migração tornou-se importante caracterís-
3.1 tica da organização econômica: o trabalho em
HISTÓRICO outras regiões, principalmente em São Paulo,
foi essencial como fonte de renda, parte da qual
Os territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequiti- seria reinvestida na região.
nhonha têm características bem diferentes, rela-
cionadas a sua origem histórica. O Alto Jequiti- Já a história do Médio/Baixo Jequitinhonha tem
nhonha teve sua ocupação inicialmente motivada origem, como destacado, com o declínio das
pela mineração de ouro e diamante, cujo auge se lavras, no início do século XIX, e o deslocamento
deu no século XVIII. No século XIX, a mineração para as áreas de mata atlântica, recebendo
perdeu importância, levando proprietários e pro- inclusive incentivos por parte da Corte no Rio
dutores a descer o Rio Jequitinhonha na direção de Janeiro. Como apontam Souza e Nogueira
da mata atlântica. Desde então, a agropecuária (2011), a região da confluência entre os rios Ara-
ganhou proeminência no Alto Jequitinhonha, çuaí e Jequitinhonha foi partilhada em sesma-
com forte participação da agricultura de base rias; grande parte da ocupação se deu com a luta
familiar e de subsistência, praticada principal- contra os índios e na tentativa de controlar o con-
mente nas margens dos rios e córregos. trabando de diamantes: cidades como Almenara,
26 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
Jequitinhonha e Salto da Divisa tiveram origem A produção do eucalipto gerou empregos apenas
como destacamentos militares. em um primeiro momento, quando cresceu o tra-
balho de cata de raízes e formação de viveiros. Esses
A região especializou-se na pecuária, tendo sido empregos logo cessaram: segundo Calixto et al.
muito marcada pelo latifúndio e pelo mando- (2013), o número de empregos em 1995 voltava a
nismo. Ficou, por muito tempo, isolada, tendo a ati- ser similar ao de 1975; em 1996, eram necessários
vidade pecuária se beneficiado, ao final do século 89,44 hectares de plantação de eucalipto para gerar
XIX, pela expansão do mercado da Bahia, conquis- um emprego. Assim, ocupando 28,11% da área rural,
tando posteriormente os mercados do Recôncavo a silvicultura, concentrada na produção de eucalipto
Baiano, Norte de Minas Gerais e Rio de Janeiro respondia por apenas 3,78% do total das ocupa-
(RIBEIRO; GALIZONI, 2013). Apesar de predominar ções. Também baixo era o impacto sobre a renda e
a grande fazenda, havia também pequenos produ- a arrecadação, uma vez que apenas 3% do valor da
tores, que avançavam em direção à fronteira agrí- produção (em carvão ou toras de madeiras) era arre-
cola. A ocupação contava também com moradores cadado como ICMS e apenas 0,75% era revertido
agregados e por conta própria, incluindo meeiros. aos municípios de origem. Ao lado do pífio impacto
econômico, encontram-se resultados desastrosos
Ao longo do século XX, tanto o Alto como o sobre a paisagem e o meio ambiente: a paisagem
Médio/Baixo Jequitinhonha se estagnaram eco- foi homogeneizada, a biodiversidade, reduzida, e
nomicamente, pouco se integrando aos polos a pressão sobre os recursos hídricos, ampliada. Pro-
dinâmicos da economia brasileira. Na década vocaram-se erosão dos solos, danos nas áreas de
de 1960, o Governo Estadual criou a Comissão nascente e secagem de lagoas. Além disso, o trans-
de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha porte de madeira e carvão, em grandes carretas, vem
(Codevale), que, no entanto, não apresentou os provocando danos nas estradas. Em síntese, a intro-
resultados esperados. Posteriormente, a região dução da monocultura do eucalipto bem exempli-
foi objeto de grandes projetos de transformação fica os efeitos negativos que podem ser causados por
centrados na exploração de recursos naturais, processos de planejamento tecnocráticos, pouco ali-
incluindo eucaliptais, mineração e a construção nhados à realidade local. Normalmente, tem efeitos
de barragens. Contavam com pouca participação concentradores, favorecendo o grande capital em
da população local e foram incapazes de reverter prejuízo da população local (CALIXTO et al., 2013).
os baixos indicadores econômicos e sociais
(Ribeiro; GALIZONI, 2013). A década de 1970 foi também marcada pela
intensificação da migração, favorecida pelo
A implementação de grandes plantações de euca- rápido crescimento do país e pela ampla oferta
lipto merece destaque. As terras comuns, de uso de postos com carteira assinada na construção
dos camponeses, foram privatizadas e cedidas a civil e na indústria, principalmente em São
grandes empresas siderúrgicas e madeireiras. As Paulo (Ribeiro; Galizoni, 2013). Contudo, na
terras foram consideradas “sem uso”, pois desco- década de 1980, o país entrou em crise e os
nheciam-se a realidade local e a respectiva rele- empregos diminuíram. As pessoas voltaram
vância para a população camponesa. O resultado para o meio rural, com a expansão de pequenos
foi o efeito negativo sobre as comunidades, que estabelecimentos familiares. A crise econômica,
perderam o acesso a lenha, frutos e áreas de pas- segundo Ribeiro e Galizoni (2013), foi também
tagens, sofrendo também com a redução da área acompanhada pelo início do enfraquecimento
disponível para a lavoura (CALIXTO et al., 2013). das lideranças mais conservadoras.
Caracterização dos territórios 27
Os anos 1980 foram caracterizados pela busca de de renda para idosos e o Bolsa Família. Como
novas formas para desenvolver a região. Foi uma resultado da dinâmica demográfica, a popu-
década marcada pelo reordenamento político lação dos territórios do Jequitinhonha é mar-
no país, com o fortalecimento da sociedade civil cada por alta percentagem de idosos. Assim,
e a redemocratização. As comunidades rurais aproximadamente, 12,5% da população rural do
se fortaleceram e o campesinato se afirmou no Vale do Jequitinhonha recebe aposentadoria ou
cenário político. Aproximaram-se e aprenderam Benefício de Prestação Continuada, sendo que
com as Comunidades Eclesiais de Base e com um terço das famílias tem ao menos um apo-
outros movimentos sociais, ampliando a capa- sentado, números que bem ilustram impactos
cidade de dialogar e de participar de conse- dessas políticas sobre a economia local (Ribeiro
lhos e de outras instâncias. Intensificaram, nas et al., 2014). Por sua vez, o Bolsa Família tem
décadas seguintes, a capacidade de influenciar também grande abrangência. A percentagem
as políticas públicas e de se mobilizar e resistir a de população atendida pelo programa em
afrontas como aqueles ligadas à expropriação de 2010, por exemplo, foi de 44,2%; em Araçuaí,
terras (RIBEIRO; G
ALIZONI, 2013). 45,7% em Turmalina; e 41,6% em Minas Novas (a
média para MG foi de 23,5%). Na área rural, esti-
Nesse contexto, refletindo também o fortale- ma-se que 73% das famílias recebam o benefício
cimento da sociedade civil e outras mudanças (RIBEIRO et al., 2014).
políticas, inseriu-se o forte avanço em programas
públicos e nas políticas sociais, tão importantes Esses programas garantem um afluxo de
para as mudanças verificadas na região. Desta- renda monetária para as áreas rurais, sendo
cam-se inicialmente os programas de estímulo muito importantes para fortalecer a produção
à agricultura familiar, que ganham maior foco e estimular o consumo dos mercados locais,
a partir dos anos 1980, conduzindo à criação incluindo as feiras livres. Contribuem também
e à expansão do Programa de Fortalecimento para o fortalecimento do comércio de bens
da Agricultura Familiar (Pronaf ), em suas várias duráveis. Todo município de 5 mil a 10 mil
modalidades. Nos anos 2000, foram criados habitantes passou a ter uma loja de eletro-
o Programa Nacional de Alimentação Escolar domésticos; automóveis passam a estar pre-
(PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos sentes em 15% e motocicletas em 50% dos
(PAA), entre outros, aos quais se somaram os domicílios pesquisados (Ribeiro et al., 2014).
programas Luz para Todos, Brasil sem Miséria Em síntese, é impossível subestimar o impacto
e Um Milhão de Cisternas. Enfim, programas desses programas, que, ao mesmo tempo em
do Governo colocaram equipamentos e fabri- que aquecem o comércio, dão aos agricultores
quetas comunitárias à disposição das comuni- maior segurança e facilitam o acesso ao cré-
dades rurais, estimulando a produção de farinha dito e às condições para investir. Isso sem dizer
de milho e de mandioca, polvilho, mel, rapadura daquelas famílias que, em situação de seca,
e doces, entre outros produtos com capaci- têm no benefício a única fonte de renda e meio
dade de ampliar a renda do agricultor familiar de sobrevivência.
(RIBEIRO et al., 2013b).
As políticas sociais somam-se às condições de
As políticas públicas de maior impacto foram produção para o autoconsumo e contribuem
as de transferência de renda, principalmente para a melhoria de vida da população nas áreas
os programas de aposentadoria e transferência rurais. Essas melhorias se refletem na dieta
28 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
Gráfico 3.1: Precipitação média mensal (mm) – Gráfico 3.2: Precipitação média mensal (mm) –
Alto Jequitinhonha Médio/Baixo Jequitinhonha
Precipitação (mm)
Precipitação (mm)
Precipitação (mm)
150,0 150,0 150,0 150,0
Mapa 3.3: Municípios mineiros suscetíveis a processos de desertificação, com destaque para os
territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha
Semiárido
Subúmido seco
Áreas do entorno
Alto Jequitinhonha e
Médio/Baixo Jequitinhonha
A variação da distribuição de chuva e a diver- baixa fertilidade. Nas encostas íngremes das cha-
sidade do relevo na região, que vai da Serra padas, no entanto, predominam solos de maior
do Espinhaço às chapadas, fundo de vales fertilidade (SILVA, 2014). No território do Médio/
e planícies aluviais, levam a diferentes con- Baixo Jequitinhonha, há a combinação tanto de
dições climáticas e de solo e, consequente- solos de baixa como de alta fertilidade, os últimos
mente, a variadas formações vegetais. A cober- localizados geograficamente nas proximidades
tura vegetal dos territórios do Jequitinhonha de cursos hídricos.
pode ser classificada em três grandes grupos,
com suas respectivas fitofisionomias: cerrado O regime hídrico do solo nos territórios do Jequi-
(campo, campo cerrado, cerrado strictu sensu), tinhonha apresenta, em sua maior parte, a ocor-
mata atlântica (campo de altitude, floresta rência de menos de três meses secos por ano.
estacional semidecidual e floresta ombrófila) e
caatinga (mapa 3.4). A vulnerabilidade à degradação estrutural do
solo é alta, sendo mais perceptível no Médio/
Quanto aos solos, na região de chapadas do Alto Baixo e menor em partes do território do Alto
Jequitinhonha, predominam os solos de caráter Jequitinhonha, onde, no entanto, a vulnerabili-
ácido, o que os enquadra em classes de média e dade à erosão é maior.
Mapa 3.4: Fisionomias vegetais nos territórios do Alto Jequitinhonha e do Médio/Baixo Jequitinhonha
Caatinga
Cerrado
Campo
Campos de Altitude
Campo Cerrado
Floresta Estacional Semidecidual
Floresta Ombrófila
IBGE (1992).
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
32 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
Os territórios do Jequitinhonha, por serem terras comunais. Tais áreas costumavam ser uti-
regiões de contato e transição entre diferentes lizadas pelas famílias rurais para extração de
biomas, possuem grande diversidade de espé- plantas e frutos nativos, insumos e criação de
cies, mas a expansão do agronegócio, as pasta- gado. Sua ocupação pela monocultura impôs o
gens plantadas, a produção de carvão vegetal, uso mais intenso das áreas das grotas, afetando
a mineração e as crescentes monoculturas de a vegetação e as nascentes. As famílias expro-
eucalipto e pínus são ameaças a essa biodiver- priadas, como consequência, depararam com
sidade, em razão de desmatamentos, contami- a perda de biodiversidade, a contaminação dos
nação e assoreamento de nascentes, córregos e solos e águas por agrotóxicos e o rebaixamento
rios. Entre os territórios do estado, os do Jequiti- do nível do lençol freático, com o risco de seca de
nhonha lideram o desmatamento do bioma mata nascentes e assoreamento dos recursos hídricos
atlântica. No período 2000-2013, os municípios (FAVERO, 2013; CALIXTO, 2006).2
de Araçuaí, com 8.685 hectares desmatados, e
Ponto dos Volantes, com 5.398 hectares, destaca- No Alto Jequitinhonha, são 226.680 hectares de
ram-se entre os que mais desmataram. eucalipto, equivalentes a 10,9% da área do ter-
ritório, e, no Médio/Baixo, 41.520 hectares, cor-
A remoção da vegetação nativa do cerrado tem respondente a 1,3% do território. Parte dessa
também grande impacto na região, o que se deu monocultura foi desenvolvida em terras devo-
em boa parte devido à ocupação das chapadas lutas, com a vigência de contratos já espirados.
pelas monoculturas de eucalipto e pínus. As cascas Uma relevante direção é a verificação da situação
grossas, folhas coriáceas e raízes tuberosas da desses contratos e a possibilidade de canalização
vegetação do Cerrado lhe propiciam uma grande do uso dessas terras para outras atividades com
capacidade de economia de água, uma vez que a maior retorno social.
chuva pode infiltrar no solo e abastecer o lençol
freático (MAZZETTO; PORTO-GONÇALVES, 2006). O cultivo em grande escala de café e a mineração
O eucalipto, por sua vez, consome mais água e as empresarial têm também gerado impactos e con-
copas de suas árvores causam alta interceptação flitos relacionados ao meio ambiente, e afetado
das chuvas, provocando diminuição considerável os recursos hídricos. No caso do café, destaca-se
do total de chuva que atinge o solo. A evapotrans- a redução do volume de água nos córregos e rios
piração do eucalipto também é maior. Como con- provocada pelas barragens construídas para irri-
sequência, tais características, em face das grandes gação. No caso da mineração, há a contaminação
áreas de plantio, podem resultar em déficit hídrico, dos solos e das águas, a descaracterização dos
empobrecimento do solo e baixa diversidade eco- leitos e das margens dos rios, o assoreamento e o
lógica. As consideráveis perdas hídricas, por sua aumento de turbidez dos cursos de água e o rebai-
vez, comprometem a recarga dos aquíferos que xamento do lençol freático, entre outros efeitos.
abastecem as principais sub-bacias da região.
Além disso, as estradas que percorrem a área dos 2 Se, por um lado, a plantação do eucalipto provoca diversos
impactos sobre o meio ambiente, principalmente sobre o solo
eucaliptais acabam, após as chuvas, carreando
e os recursos hídricos, por outro lado, exerce efeitos benéficos
grande quantidade de material particulado e pro- quanto à fixação de carbono, pois plantas com potencial de
vocando assoreamento de nascentes e erosões. crescimento rápido, como o eucalipto, contribuem para fixar
e assimilar altas taxas de carbono em sua constituição. Dessa
maneira, atuam na regulação do clima local e regional. É pre-
A esses impactos, soma-se a restrição das áreas ciso considerar também que o cultivo do eucalipto e do pínus
de plantio e criação, fruto da expropriação das certamente evitou uma devastação maior de matas nativas.
Caracterização dos territórios 33
Embora os habitantes dos territórios do Jequiti- água, o despejo de resíduos e efluentes sem tra-
nhonha venham se mobilizando no sentido de tamento e o aumento do consumo humano.
evitar ou minimizar alguns desses impactos, o
avanço dessas atividades nas últimas décadas é A questão da água é, portanto, das mais graves
motivo de crescente preocupação em uma região e impacta a população em diferentes dimensões
marcada naturalmente pela baixa disponibilidade (mobilidade, saúde, educação, atividade econô-
e pela alta vulnerabilidade dos recursos hídricos. mica, renda, migração etc.), constituindo-se em
uma das questões mais críticas para o desenvol-
Segundo o Zoneamento Ecológico-econômico do vimento da região. Dessa forma, recursos hídricos
Estado de Minas Gerais (ZEE), publicado em 2008, constituem um eixo de intervenção no PDVJ.
a vulnerabilidade natural das águas superficiais
nos territórios do Jequitinhonha é muito alta ou
alta, à exceção da parte sul do Alto Jequitinhonha,
que apresenta vulnerabilidade média3. O estudo
3.3
DEMOGRAFIA
aponta também uma elevada vulnerabilidade
natural das águas subterrâneas. O risco de con- Em 2010, data do último Censo Demográfico do
taminação dessas águas é muito alto na região Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
que abrange o norte do território do Alto Jequi- 770 mil pessoas viviam nos dois territórios do
tinhonha e o sul do Médio/Baixo, onde há várias Jequitinhonha, representando 3,9% da população
fraturas no solo e alta condutividade elétrica da total de Minas Gerais. Quase dois terços delas
água subterrânea, às quais se somam os efeitos (61,3%) habitavam o Médio/Baixo Jequitinhonha.
das atividades da mineração e da silvicultura A proporção da população vivendo na área rural
era de 38% em ambos os territórios, mais do dobro
Os dados do Instituto Mineiro de Gestão das Águas da verificada para o estado, de 15% (tabela 3.1).
(IGAM) de 2011 classificam, no caso do Alto Jequi-
tinhonha, como boa a qualidade da água dos rios Entre 2000 e 2010, a população cresceu em todos
Jequitinhonha e Araçuaí e como média a do Rio os microterritórios do Jequitinhonha, à exceção de
Fanado. Já no território do Médio/Baixo, a quali- Jacinto. No entanto, dado que esse crescimento
dade da água do Rio Jequitinhonha cai para média, foi inferior ao observado para Minas Gerais, houve
voltando a boa à jusante da cidade de Almenara, perda de participação na população total do estado
enquanto a do Rio Araçuaí e a dos demais rios ao longo da década.4 Em todos os microterritórios
afluentes do Jequitinhonha pesquisados foram houve perda de população rural e crescimento
classificadas como de média qualidade. da população urbana. No Alto Jequitinhonha, a
população urbana cresceu mais que a do estado
Em síntese, são muitos os fatores de pressão sobre e a rural decresceu mais; no Médio/Baixo, ocorreu
a disponibilidade e a qualidade da água no Jequi- o inverso, ou seja, a população urbana cresceu
tinhonha, aos quais se somam aos já relatados a menos que a do estado e a rural decresceu menos.
poluição causada pela falta de saneamento, o
lançamento de esgoto sanitário nos cursos de 4 Somente nove dos 59 municípios dos territórios do Jequiti-
nhonha (3 do Alto e 6 do Médio/Baixo Jequitinhonha) apresen-
3 Alta vulnerabilidade natural de água superficial significa taram taxa de crescimento demográfico maior que a do estado
baixa disponibilidade natural, medida pela vazão por unidade nesse período. Em 21 municípios (33% dos municípios do Alto
de área de drenagem: alta corresponde a uma vazão de 1,5 a Jequitinhonha e 37% do Médio/Baixo Jequitinhonha), essa
2,5 l/s/km2 ; e muito alta, uma vazão inferior a 1,5 l/s/km2. taxa foi negativa, indicando perda absoluta de população.
34 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
Tabela 3.1: População total, urbana e rural Minas Gerais e territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha - 2000 e 2010
População 2000 (mil pessoas) População 2010 (mil pessoas) Tx. crescimento 2000-2010
Microterritório/
% Rural
% Rural
Urbana
Urbana
Urbana
Território
Rural
Rural
Rural
Total
Total
Total
Capelinha 107,0 48,5 58,5 54,6 113,9 63,2 50,8 44,6 6,5 30,1 -13,2
Diamantina 182,6 108,0 74,7 40,9 184,0 120,6 63,5 34,5 0,8 11,7 -15,0
Alto Jequitinhonha 289,6 156,5 133,1 46,0 298,0 183,7 114,2 38,3 2,9 17,4 -14,2
Almenara 67,3 50,4 16,9 25,1 71,9 55,4 16,4 22,9 6,8 10,0 -2,9
Araçuaí 106,9 46,9 60,0 56,1 107,4 54,6 52,8 49,2 0,5 16,5 -12,0
Felisburgo 58,0 38,2 19,7 34,0 58,1 39,6 18,5 31,8 0,3 3,7 -6,3
Itaobim 105,1 46,3 58,8 56,0 108,9 50,7 58,2 53,4 3,6 9,6 -1,1
Jacinto 36,4 24,1 12,4 34,0 36,1 25,1 11,0 30,5 -1,0 4,1 -11,1
Pedra Azul 87,1 58,7 28,4 32,6 89,7 65,2 24,6 27,4 3,0 10,9 -13,5
Médio/Baixo Jequit. 460,9 264,6 196,3 42,6 472,2 290,7 181,5 38,4 2,4 9,8 -7,5
MG 17.891,5 14.671,8 3.219,7 18,0 19.595,3 16.713,7 2.881,7 14,7 9,5 13,9 -10,5
A explicação para o baixo crescimento popu- das recorrentes migrações sazonais, em especial
lacional na região está nos fluxos migratórios para as lavouras de cana, laranja e café e para o
para fora dela, para municípios de Minas Gerais trabalho de ambulante nas praias no período de
e para outros estados limítrofes, principalmente alta temporada.
São Paulo. De fato, o crescimento vegetativo
da população em todos os microterritórios do Assim, a taxa de dependência5 nos territórios do
Jequitinhonha foi significativamente superior Jequitinhonha é significativamente superior à de
ao do estado, devido à conjugação de menores Minas Gerais, resultado de um maior peso, em sua
taxas brutas de mortalidade (para o que con- população, de idosos e, principalmente, de crianças
tribuiu a queda da mortalidade infantil) e de (tabela 3.3). Entre 2000 e 2010, contudo, essa taxa
maiores taxas brutas de natalidade (a despeito recuou substancialmente e mais do que no estado:
das expressivas quedas ocorridas nas últimas a população em idade ativa cresceu (menos que no
décadas) (tabela 3.2.) No entanto, enquanto no estado), enquanto a de crianças decresceu forte-
estado a taxa líquida migratória foi ligeiramente mente (mais que no estado), mais do que compen-
positiva, nos microterritórios do Jequitinhonha sando a elevada taxa de crescimento dos idosos
ela foi acentuadamente negativa. Fatores de (ainda que menor que a do estado). Esses dados
expulsão ligados à elevada participação da mostram que os territórios do Jequitinhonha atra-
população rural e à predominância de atividades vessam um período de transição demográfica (com
de baixa produtividade explicam esses elevados uma defasagem temporal em relação ao estado)
fluxos emigratórios, constituídos principalmente que, além da janela de oportunidade representada
de indivíduos em idade ativa e provenientes da
área rural. Esses mesmos fatores, conjugados ao
5 A taxa de dependência é a razão entre o somatório das popula-
regime pluviométrico da região, caracterizado ções de crianças (até 15 anos de idade) e de idosos (mais de 65
por longo período de seca, estão por trás também anos de idade) e a população em idade ativa (entre 15 e 65 anos).
Caracterização dos territórios 35
Tabela 3.2: Indicadores da dinâmica demográfica Minas Gerais, territórios do Alto e Médio/Baixo Jequitinhonha e seus
microterritórios - 2000-2010
Tabela 3.3: População por faixa etária e taxa de dependência Minas Gerais e territórios do Alto e do Médio/Baixo
Jequitinhonha – 2000 e 2010
Capelinha 32,4 74,4 7,1 28,5 65,3 6,2 -20,2 21,1 45,1 74,1 53,2 -21,0
Diamantina 49,4 119,4 15,2 26,8 64,9 8,3 -23,2 12,2 28,3 71,6 54,1 -17,5
Alto
81,8 193,8 22,3 27,5 65,0 7,5 -22,0 15,4 33,2 72,5 53,7 -18,8
Jequitinhonha
Almenara 17,8 46,9 7,1 24,8 65,3 9,9 -16,0 13,9 45,2 63,4 53,1 -10,3
Araçuaí 27,6 69,9 9,8 25,7 65,1 9,1 -24,3 11,0 32,7 69,7 53,5 -16,2
Felisburgo 15,8 36,1 6,1 27,3 62,2 10,5 -16,7 4,4 40,2 67,5 60,7 -6,8
Itaobim 32,5 66,6 9,8 29,8 61,2 9,0 -15,0 11,1 41,5 75,3 63,5 -11,8
Jacinto 9,3 23,0 3,8 25,7 63,7 10,6 -20,8 4,4 39,1 65,7 57,0 -8,7
Pedra Azul 24,4 57,3 8,0 27,2 63,8 9,0 -17,7 10,3 42,9 67,9 56,6 -11,3
Médio/Baixo
127,4 299,9 44,7 27,0 63,5 9,5 -18,5 10,0 39,9 69,0 57,4 -11,6
Jequit.
MG 4.394,0 13.606,1 1.595,2 22,4 69,4 8,1 -13,4 16,2 43,7 52,8 44,0 -8,8
desempenhar funções bem avaliadas, são inca- quando-se às possibilidades hídricas e sem sobre-
pazes de lidar com o grande número de demandas. carregar os recursos. Há também muito potencial
para o processamento dos produtos da bovino-
Um gargalo essencial diz respeito à comerciali- cultura e das culturas da cana-de-açúcar e da
zação. Apesar dos avanços verificados nas políticas mandioca, incluindo farinha, biscoitos, rapadura e
de compras institucionais, há muitas dificuldades cachaça. Isso aponta para a necessidade de forta-
para escoar a produção e é comum o perecimento lecer a agroindústria familiar, atividade que abre
dos produtos. Há dois eixos centrais para o for- oportunidades para a maior agregação de valor.
talecimento da comercialização: o aperfeiçoa- Um ponto importante para favorecer essas ativi-
mento das políticas de compras institucionais e dades é fortalecer a vigilância sanitária, adequan-
o fortalecimento das feiras, que desempenham do-a às particularidades da pequena produção.
importante papel na região (RIBEIRO et al., 2013b).
Outro eixo é a valorização e a certificação da pro- Outra característica e dificuldade relacionada à
dução agroecológica. Há um papel essencial a ser agricultura familiar diz respeito à estrutura e à
desempenhado pelas associações de agricultores concentração fundiária. No Alto Jequitinhonha,
familiares, que tendem a retirar o agricultor do iso- cerca de 90,3% das propriedades tinham menos
lamento e a facilitar o acesso às políticas públicas. de 100 hectares; as propriedades com menos de
10 hectares correspondiam a 62,3% das proprie-
Alguns produtos, como destacado, têm forte pre- dades e a 5,4% da área total enquanto as proprie-
sença e potencial para a geração de emprego e dades com mais de 200 hectares ocupavam 40,9%
renda. O mel tem importância significativa no da área. No Médio/Baixo Jequitinhonha, cerca de
Alto Jequitinhonha, que se mantém como uma 78,5% das propriedades tinham menos de 100
das principais regiões produtoras do estado (PPM hectares e ocupavam apenas 20,4% da área total;
2014/IBGE, 2015). O café, essencial para o desen- as propriedades com menos de 10 hectares cor-
volvimento do microterritório de Capelinha, tem respondiam a 38,6% das propriedades e a 1,7% da
potencial para se expandir em outros municípios. área total, enquanto as propriedades com mais de
A fruticultura tem condições para avançar, ade- 200 hectares ocupavam 63,3% da área (gráfico 3.4).
Gráfico 3.4: Distribuição da área dos estabelecimentos agropecuários por grupos de área – Minas
Gerais e territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha – 2006
Distribuição de áreas dos estabelecimentos
45,0
40,8
agropecuários por grupos de áreas (%)
40,0
35,0
31,2
30,0
22,5
22,3
22,1
25,0
20,7
19,1
18,8
20,0
16,3
13,0
12,8
15,0
9,0
10,0
4,6
3,6
2,8
5,0
2,6
2,4
1,7
1,0
1,0
0,7
0,0
de 0,1 a de 5 a menos de 10 a de 20 a menos de 100 a de 200 a menos de 1000 ha produtor
menos de 5 ha de 10 ha menos de 20 ha de 100 ha menos de 200 ha de 1000 ha e mais sem área
As ações da política nacional de reforma agrária parte das empresas e garantir que os impostos
estão concentradas em 15 dos 59 municípios gerados sejam aplicados na região.
dos territórios. No Alto Jequitinhonha, há quatro
assentamentos localizados em três municípios, No que diz respeito ao extrativismo vegetal,
totalizando 131 famílias assentadas e 4.911 hec- deve-se mencionar a importância que a extração
tares. No Médio/Baixo Jequitinhonha constam 20 da sempre-viva tem para a geração de renda em
assentamentos distribuídos em 12 municípios, muitas comunidades no microterritório de Dia-
com 699 famílias assentadas e 49.525 hectares. mantina. O produto, transformado em artesa-
Esses assentamentos enfrentam inúmeras dificul- nato, chegou a ser exportado em quantidades
dades e sofrem com a falta de recursos, principal- significativas. A atividade, no entanto, vem
mente recursos hídricos. sofrendo as limitações causadas pela criação de
Unidades de Conservação, que afeta negativa-
A indústria da transformação, como destacado, mente as condições de vida das comunidades
é pouco desenvolvida nos dois territórios, o que em questão. Em relação à mineração, a grafita, o
contribui com as deficiências da infraestrutura granito, as rochas ornamentais, o lítio e as pedras
de transporte, energia e telecomunicações e a preciosas/semipreciosas destacam-se como os
baixa qualificação da mão de obra. Trata-se, no principais minerais explorados. No entanto, boa
entanto, de uma atividade que tem potencial de parte dos minerais explorados é vendida em
demandar serviços de maior qualificação, que sua forma bruta, com pouco ou nenhum bene-
pode abrir oportunidades para a maior agre- ficiamento e, muitas vezes, para atravessadores
gação de valor e contribuir para a redução das e por preços aviltados. Além disso, como desta-
perdas na agricultura. Há particular potencial cado, os impactos ambientais e sociais são con-
para o desenvolvimento da indústria de móveis sideráveis e têm provocado inúmeros conflitos.
e madeiras, já bem estabelecida no Alto Jequi- Muitos empreendimentos não possuem licença
tinhonha, além de iniciativas para agregar mais ambiental e operam sem preocupação com o
valor na mineração e na agropecuária. controle e a recuperação ambiental.
municípios de ambos os territórios. Tendo em 85,21%) e Tríplice viral (de 98,59% para 89,53%)
vista a importância desse nível de atenção para na população de 1 ano.
resolver os problemas da população e por se
constituir a porta de entrada preferencial e orde- Situação análoga ocorreu no território do
nadora do cuidado no Sistema Único de Saúde Médio/Baixo Jequitinhonha, com diminuição
(SUS), cabe ao gestor estadual apoiar os municí- nos valores de cobertura vacinal da Tetravalente
pios na organização da atenção primária. (de 100,00% para 92,98%) e da Poliomielite (de
100,00% para 82,35%). Vale destacar ainda que
No que diz respeito ao atendimento de média no Alto Jequitinhonha, em 2014, os acidentes
complexidade, os problemas mais destacados por animais peçonhentos (612 casos), seguidos
foram: a) as dificuldades para fixar médicos, prin- pela Esquistossomose (421 casos), responderam
cipalmente os especialistas; b) o número insufi- pelos maiores números de notificações. Situação
ciente de procedimentos ofertados; c) a ausência semelhante foi observada no Médio/Baixo Jequi-
de classificação de prioridades para o encami- tinhonha quanto aos acidentes por animais
nhamento dos pacientes. De modo a enfrentar as peçonhentos (1.282 casos), tendo, em 2012,
dificuldades da atenção especializada de média os casos de Dengue (1.229) sobressaído como
complexidade, a Secretaria de Estado de Saúde segunda doença de maior notificação. Quanto
de Minas Gerais (SES-MG) propôs a criação do às infecções por Zika, houve confirmação de um
Centro de Especialidades Médicas (CEM). Garantir caso de gestante com a doença, entre 2015 e
a implantação dos CEMs previstos nos territórios 2016, no município de Pedra Azul, pertencente
do Jequitinhonha (um no Alto e dois no Médio/ ao território do Médio/Baixo Jequitinhonha, e
Baixo) deve constituir uma das prioridades do nenhum caso confirmado no território do Alto
PDVJ no âmbito da saúde. Jequitinhonha. Para as infecções por Chikun-
gunya não foi confirmado nenhum caso nos dois
No tocante ao atendimento de alta complexi- territórios até 2016.
dade, a situação mostra-se precária, na medida
em que faltam recursos humanos especializados, Por fim, constatou-se que é urgente melhorar
equipamentos e estrutura física. A análise do indi- a qualificação dos profissionais, inclusive dos
cador “proporção das internações de residentes secretários municipais de saúde, fundamental
encaminhados para outra macrorregião para a para o aperfeiçoamento do atendimento e da
assistência de alta complexidade” mostrou que gestão. De fato, o enfrentamento da questão do
os municípios do Alto Jequitinhonha e do Médio/ gerenciamento inadequado constitui um dos
Baixo Jequitinhonha estão em grande desvan- principais desafios do SUS, não apenas nos terri-
tagem relativamente ao conjunto dos municípios tórios do Jequitinhonha.
de Minas Gerais.
3.5.3 Assistência social
No que tange à vigilância em saúde, contraria-
mente ao ocorrido no conjunto dos municípios No tocante às vulnerabilidades sociais, os terri-
do estado, o Alto Jequitinhonha teve, entre 2008 tórios do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha
e 2014, reduções importantes de cobertura das apresentam quadro similar, embora a situação
vacinas Tetravalente (de 100,00% para 78,34%), do Médio/Baixo seja um pouco pior. No período
Febre Amarela (de 100,00% para 84,78%), Polio- 2000-2010, houve avanços importantes, como
mielite em menores de 1 ano (de 100,00% para a queda na pobreza. O percentual de pessoas
Caracterização dos territórios 43
Em 2010, de acordo com os dados do censo do Em relação à drenagem, 88,1% das sedes muni-
IBGE, menos de 80,0% da população do Médio/ cipais dos territórios do Jequitinhonha possuíam
Baixo Jequitinhonha residia em domicílios par- rede de drenagem em 2014, sendo o serviço
ticulares permanentes com canalização interna prestado pela prefeitura municipal; 86,5% dessas
de água, o pior resultado para Minas Gerais. Por redes eram do tipo separadora, o que implicava
sua vez, apenas 45,6% da população desse ter- somente o transporte de águas pluviais, e os
ritório residia em domicílios ligados à rede geral 13,5% restantes eram do tipo unitária ou mista,
de esgoto ou pluvial ou fossa séptica, a segunda transportando conjuntamente águas pluviais e
menor proporção do estado. No Alto Jequiti- esgotos sanitários.
nhonha, a situação foi ligeiramente melhor, com
86,2% de sua população abastecida por rede Em 77,9% das sedes municipais do Alto e do
geral de água e 49,8% com cobertura de serviço Médio/Baixo Jequitinhonha há cursos d’água
de esgotamento sanitário. Nota-se, portanto, que cortando a área urbana. Desse total, somente
ainda são precários os indicadores sobre a desti- 23,9% deles permanecem em estado natural,
nação final dos esgotos sanitários. sendo que a maioria tinha suas margens parcial-
mente ou totalmente ocupadas ou estão canali-
O panorama dos resíduos sólidos no Alto e no zados, indicando situações de risco e de compro-
Médio/Baixo Jequitinhonha também se mostra metimento ambiental.
preocupante. Em 2010, 40,0% da população resi-
dente em domicílios particulares permanentes 3.5.5 Habitação
nesses territórios não possuíam serviço de coleta
de resíduos sólidos domiciliares. Grande parte As carências habitacionais no Alto e no Médio/
dessa população queimava seus resíduos na Baixo Jequitinhonha revelam que o problema
propriedade, colocando em risco a saúde das da moradia possui uma dimensão quantitativa e
pessoas, o patrimônio alheio e o meio ambiente. uma dimensão qualitativa que demandam como
Quanto à disposição dos resíduos sólidos domi- resposta políticas públicas, programas e projetos
ciliares, ainda em 2015, a maioria dos municípios diferenciados e interligados à dimensão mais
valia-se de lixões e aterros controlados, soluções ampla da política urbana. A dimensão quanti-
ambientalmente inadequadas. tativa refere-se ao déficit habitacional propria-
mente dito. Em termos absolutos, é de 14.169 uni-
Vale ressaltar que, em consonância com os com- dades no Médio/Baixo Jequitinhonha e de 7.400
ponentes de abastecimento de água e de esgota- unidades no Alto Jequitinhonha. Em termos rela-
mento sanitário, o maior déficit de cobertura de tivos, é de 10,7% e de 9%, respectivamente.
coleta de resíduos sólidos domiciliares estava nas
áreas rurais. Esse fato evidencia a necessidade Esse déficit se concentra nas famílias com renda
de maior atenção para tais regiões, muitas vezes mais baixa, sobretudo naquelas que ganham
deixadas de lado devido à baixa densidade domi- entre zero e três salários mínimos. Essa concen-
ciliar, que impossibilita o ganho de escala dos tração foi de 74,4% no Alto e de 81,7% no Médio/
prestadores de serviços. Destacam-se os presta- Baixo Jequitinhonha, contra 66,7% para a média
dores de serviços de limpeza urbana e o manejo do estado (dados de 2010). Chama a atenção
de resíduos sólidos, pois estão todos no âmbito ainda o percentual de déficit habitacional na
da Gestão Municipal, embora existam serviços área rural: 37% no Alto Jequitinhonha e 35% no
concedidos ou terceirizados à iniciativa privada. Médio/Baixo. Isso implica a necessidade de polí-
46 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
ticas habitacionais que levem em consideração as c ontinua sendo o principal elemento de inade-
especificidades das habitações nas áreas rurais. quação habitacional, sendo mais acentuada no
Médio/Baixo Jequitinhonha.
Outra informação relevante refere-se aos dados
sobre os domicílios vagos, em número superior ao Partindo do entendimento de que a questão
déficit habitacional em ambos os territórios, sendo habitacional não se restringe apenas ao déficit
maior nas áreas rurais do que nas áreas urbanas. habitacional, mas engloba também a dimensão
Possivelmente, isso reflete o êxo do rural ou da inadequação domiciliar, as propostas que
mesmo o movimento de alternância na utilização visem promover condições de moradia digna
de imóvel urbano e rural pela mesma família. para a população residente no Alto e no
Médio/Baixo Jequitinhonha devem contemplar
Outro ponto importante a ser considerado diz diversos aspectos e ações. Devem, portanto,
respeito ao fato de que a política habitacional ir bem além da construção de novas unidades
não se restringe apenas à construção de casas habitacionais, descoladas de sua localização no
ou de apartamentos. Desde a década de 1960, espaço urbano. As propostas também devem
os estudiosos vêm apontando falhas graves de pensar na articulação com as demais políticas
uma política que se restringe à construção de setoriais de saneamento ambiental, mobili-
moradias em áreas periféricas, muitas vezes dade/logística e ordenamento territorial, regu-
desprovidas de infraestrutura, o que dificulta larização fundiária, entre outras.
o acesso da população aos serviços públicos
básicos e às áreas de emprego, bem como 3.5.6 Cultura
apresenta baixa qualidade construtiva, entre
outros problemas. Avaliações da experiência A estrutura institucional da cultura nos territó-
recente do principal programa de habitação rios analisados caracteriza-se por grande pre-
do Governo Federal – o Programa Minha Casa cariedade em termos de recursos humanos,
Minha Vida – reforçam esses pontos e revelam financeiros e materiais, o que tem gerado desor-
que a política habitacional e urbana deve levar ganização do setor, dificuldade de acesso às infor-
em consideração questões como: localização mações, insuficiência de equipamentos públicos
dos empreendimentos no contexto urbano, de cultura e desarticulação com relação à política
adequação da moradia aos diferentes tipos de estadual, incluindo os mecanismos de fomento à
arranjos familiares, qualidade da construção e cultura como lei de incentivo, fundo estadual de
uso misto da edificação, entre outras. A prá- cultura e editais públicos. Deve-se destacar a sen-
tica revela também que uma política habita- sível diferença sociocultural entre os dois territó-
cional bem-sucedida deve estar embasada rios e o maior isolamento do território do Médio/
em uma boa política social de preparação da Baixo Jequitinhonha.
mudança para a nova residência. Experiências
exitosas mostram a importância de políticas Os territórios do Alto e Médio/Baixo Jequiti-
sociais de acompanhamento dos mora dores nhonha caracterizam-se por extrema carência de
de baixa renda no novo domicílio, também equipamentos culturais (museus, centros cultu-
conhecidas como Pré-morar e Pós-morar. rais, teatros, cinemas), observando-se apenas um
Em relação à dimensão qualitativa, os dados maior número de bibliotecas públicas, presentes
revelam que a falta de ligação de rede geral em todos os municípios no ano de 2014. As
de esgoto ou fossa séptica nos domicílios informações disponíveis, contudo, não avaliam a
Caracterização dos territórios 47
qualidade desse equipamento público ou se res- duzem e, particularmente, pela produção fami-
pondem às demandas das comunidades. liar de pequena escala. Nesse campo, cingido
pelo termo patrimônio imaterial, encontram-se,
No que diz respeito aos gastos efetuados no setor, sobretudo, uma multiplicidade e diversidade
observou-se ainda uma tendência crescente de de expressões culturais nas quais se incluem as
apoio financeiro orientado para os eventos cultu- manifestações culturais populares, como festas
rais como festas religiosas ou comemorativas das religiosas, cantos, danças, congado, corais,
cidades, carnaval e festivais. As ações com carac- grupos teatrais e musicais.
terísticas mais duradouras e que apoiem o plane-
jamento de políticas focadas nas especificidades Os territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequiti-
regionais e nas carências da realidade local não nhonha constituem um dos principais centros de
têm tido apoio financeiro. produção de artesanato em cerâmica no Brasil.
Apesar de possuírem características identitárias
No tocante ao patrimônio cultural, observa-se semelhantes, as produções artesanais dos polos
o investimento institucional orientado para o de produção diferenciam-se em decorrência das
patrimônio material, com o tombamento muni- características das comunidades nas quais se
cipal de edificações religiosas e mais acentua- inserem, do nível de aprimoramento das peças,
damente da arquitetura civil (edifícios públicos, dos benefícios auferidos pela atuação gover-
residências). Nota-se ainda uma diferença acen- namental e por outras instituições e, particular-
tuada entre os dois territórios, uma vez que o mente, da estabilidade financeira alcançada pela
Alto Jequitinhonha tem sido alvo de políticas de comercialização das peças. Entre as tendências
proteção em âmbito federal e estadual, especial- observadas no artesanato em cerâmica nos ter-
mente na conservação de seus núcleos coloniais, ritórios em questão, encontram-se: a uniformi-
como Diamantina e Serro, mas também na pro- zação dos produtos, agora mais orientados para
teção de bens isolados em outros municípios, a demanda do mercado; a diferenciação dos
como Minas Novas e Chapada do Norte. O terri- artesãos em função de seu reconhecimento pelo
tório Médio/Baixo Jequitinhonha, por outro lado, mercado; e a quebra da tradição e da transmissão
não recebeu, até o momento, nenhuma medida dos saberes e ofícios, especialmente pela falta
legal de proteção dos órgãos federal ou estadual de interesse dos mais jovens e pela baixa renta-
em relação a seu patrimônio edificado. Nesse bilidade da atividade. Excluindo-se os ceramistas
território, as políticas municipais, incentivadas reconhecidos e com mercado garantido (nacional
pela adesão dos municípios ao mecanismo e internacional), a grande maioria dos artesãos
do ICMS Patrimônio Cultural, resultaram nas recorre aos atravessadores e às feiras para comer-
primeiras iniciativas para uma proteção legal dos cializar seus produtos.
bens culturais, concentradas quase exclusiva-
mente no patrimônio material. A observação dos resultados das ações imple-
mentadas na região na última década indica pro-
O diagnóstico realizado chamou ainda a atenção liferação e sobreposições de ações de diversos
para a existência nos territórios estudados de órgãos, sem a presença de uma coordenação
comunidades tradicionais, remanescentes de central. Essa descoordenação acaba por gerar
quilombolas e populações indígenas. Esses resultados insatisfatórios para os beneficiários
grupos caracterizam-se pelo envolvimento nas várias modalidades de artesanato presentes
acentuado com os lugares onde vivem e pro- na região. As associações de artesãos acabam se
48 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
tornando dependentes dos projetos desenvol- tintas. De um lado, abordou elementos concer-
vidos com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio nentes ao fenômeno da criminalidade, como
às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), de orga- a ocorrência de crimes violentos, homicídios,
nizações não governamentais e que têm objetivo furtos e roubos. De outro, analisou o que se con-
de fomentar o empreendedorismo e capacitá-los vencionou chamar de “densidade institucional”,
para o mercado. ou seja, a disponibilidade de instituições de segu-
rança pública e Justiça criminal nos territórios.
O dinamismo cultural dos territórios enfrenta,
assim, toda sorte de precariedades e ameaças, No que diz respeito às taxas de criminalidade
entre as quais, cabe destacar: a) o despreparo violenta, constataram-se acréscimos considerá-
e a desunião dos produtores e criadores cul- veis nos últimos anos em ambos os territórios.
turais frente a um mundo globalizado, digital Entre 2012 e 2015, a taxa anual de ocorrências de
e competitivo; b) a precariedade e, por vezes, crimes violentos registrada no Alto Jequitinhonha
a ausência de conectividade das populações, saltou de 132,9 para 157,7 casos para cada grupo
desde a simples questão do transporte físico até de 100 mil habitantes (crescimento de 18,7% no
o analfabetismo digital e a inexistência de redes período) e, no Médio/Baixo Jequitinhonha, de
digitais disponíveis; c) as migrações forçadas, os 93,8 para 216,2 (aumento de 130,5%). Contudo,
deslocamentos compulsórios e o esgarçamento essas taxas ainda são bastante inferiores à de
das relações familiares e comunitárias; d) a sepa- Minas Gerais, que passou, nesse mesmo período,
ração das comunidades de seus territórios origi- de 376,8 para 615,0 (aumento de 63,2%).
nais e dos recursos naturais a que tinham acesso
irrestrito, implicando abandono ou desequilí- Quanto à taxa de homicídios, destaca-se seu
brio de modos tradicionais de viver e de fazer elevado crescimento no Médio/Baixo Jequiti-
compatíveis com práticas culinárias, de artesa- nhonha, onde, entre 2009 e 2014, passou de 9,3
nato e de técnicas de construção, entre outros; para 18. No mesmo período, esta elevou-se de 10
e) as soluções descontinuadas que marcam as para 10,7 no Alto Jequitinhonha e de 18,5 para
políticas públicas de sustentação e promoção da 27,7 em Minas Gerais. O perfil das vítimas de
cultura (mudanças de governo que abandonam homicídios é o mesmo nos territórios do Alto e
e/ou alteram drasticamente programas em do Médio/Baixo Jequitinhonha e no estado, ou
curso, falta de sustentabilidade em termos de seja, preponderantemente homens, pretos ou
recursos orçamentários, desconhecimento dos pardos, jovens, com idades entre 15 e 29 anos e
agentes públicos quanto às particularidades das escolaridade de até sete anos de estudo.
populações); f ) a mesma descontinuidade rege
as iniciativas do setor privado orientadas para o No tocante aos crimes contra o patrimônio, a taxa
campo da cultura, promovidas por recursos de de furtos por 100 mil habitantes, ao contrário de
entidades internacionais, de fundo católico ou Minas Gerais, onde se manteve relativamente
assistencialista. constante entre 2012 e 2015 (quando passou de
1491,6 para 1493,6), elevou-se nos territórios do
3.5.7 Segurança pública Jequitinhonha, passando de 857,8 para 1040,8
no Alto e de 668,3 para 1056,9 no Médio/Baixo.
A análise da segurança pública nos territórios Cabe mencionar que o registro de furtos, isto é,
do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha buscou quando ocorre a subtração de objeto ou valor
conferir ênfase a duas dimensões analíticas dis- sem a ameaça ou o uso da força, sofre mais for-
Caracterização dos territórios 49
suem rede urbana pouco hierarquizada, sendo com oferta de três ou mais dos serviços dina-
que os municípios de maior centralidade da mizadores e que foram relacionados anterior-
região são considerados apenas centro de zona, mente.
ou seja, têm uma atuação vinculada apenas a
sua área imediata, exercendo funções elemen- De maneira geral, os dados do quadro con-
tares. As maiores polarizações estão fora dos firmam os municípios que exercem papel, de
territórios: a capital Belo Horizonte e Guanhães fato, polarizador. Dos municípios sedes de ter-
(MG) para o Alto Jequitinhonha e, para o Médio/ ritório, apenas Felisburgo e Jacinto não apre-
Baixo, Montes Claros, Teófilo Otoni (MG), Sal- sentaram uma variedade (mais de três) dos ser-
vador, Vitória da Conquista, Ilhéus/Itabuna e viços selecionados. Coluna e Joaíma também
Eunápolis (BA). apresentaram baixa capacidade de oferecer
serviços para outros municípios. Por outro lado,
Segundo REGIC (IBGE, 2008), apenas cinco municípios não classificados previamente pela
municípios no Alto Jequitinhonha são conside- REGIC (2007) apresentaram oferta relevante de
rados centros de zona: Diamantina, Capelinha, serviços selecionados, indicando avanços ocor-
Coluna, Serro e Turmalina. No Médio/Baixo ridos após 2007: Minas Novas e Itamarandiba,
Jequitinhonha, são quatro municípios: Alme- no Alto Jequitinhonha; e Itaobim, Padre Paraíso
nara, Araçuaí, Joaíma e Pedra Azul. As demais e Jequitinhonha, no Médio/Baixo.
cidades são apenas centros locais. Nas visitas a
campo, as centralidades se confirmaram, com O padrão de urbanização nos territórios é tra-
exceção de Coluna, no Alto, e de Joaíma, no dicional, na maior parte das cidades sem pro-
Médio/Baixo, que não apresentaram tal poten- cessos de verticalização acentuados, com áreas
cial polarizador. As observações de campo centrais razoavelmente dinâmicas quanto a ati-
também confirmam a estrutura da rede de vidades econômicas e institucionais, variando
cidades um pouco mais coesa no Alto Jequiti- em função do porte dos núcleos urbanos, e
nhonha e mais fragmentada no Médio/Baixo áreas residenciais no entorno dessas centrali-
Jequitinhonha. dades, com edificações bem conservadas de
modo geral. A qualidade do padrão de ocupação
O quadro 3.1 classifica alguns municípios sele- diminui em direção às áreas mais periféricas,
cionados dos dois territórios do Jequitinhonha, onde as edificações se apresentam mais pre-
de acordo com a oferta de uma série de ser- cárias tanto em termos de materiais utilizados
viços. Foram consideradas informações mais como da sua conservação, e com deficiências
recentes quanto à existência de equipamentos em termos da infraestrutura urbana ofertada.
regionais de educação, de assistência social e Diferem do padrão geral as cidades de Cape-
de saúde, e de instituições relacionadas à segu- linha e Diamantina, que apresentam dinâmicas
rança pública. Levou-se também em conside- urbanas mais acentuadas, em especial Diaman-
ração o papel dos centros como dinamizadores tina. Situações de ocupações de risco, áreas vul-
da economia, a existência de atrativos turísticos neráveis, irregularidade na ocupação do solo e
e os pontos de referência na cultura e artesa- áreas de expansão periféricas com deficiências
nato. Constam, ainda, no quadro, os municípios em infraestrutura apontam, a princípio, para a
classificados como centros de zona pela REGIC, incapacidade das administrações municipais em
os que são sede de microterritórios e aqueles lidar com a gestão dos seus territórios.
Caracterização dos territórios 51
QUADRO 3.1: Oferta de serviços atual em municípios dos territórios do Alto Jequitinhonha e do
Médio/Baixo Jequitinhonha
OFERTA DE SERVIÇOS
Secretarias Regionais de
Sedes de microterritório
do de Assistência Social
Cultura e Artesanato6
Centros Econômicos4
Atrativos Turísticos5
Unidades Policiais3
Educação
Total
Microterritório de Diamantina
Diamantina • • 7
Itamarandiba 4
ALTO JEQUITINHONHA
Serro • 3
Coluna • 1
Microterritório de Capelinha
Capelinha • • 6
Turmalina • 4
Minas Novas 4
Microterritório de Almenara
Almenara • • 7
Microterritório de Araçuaí
Araçuaí • • 7
Microterritório de Felisburgo
MÉDIO/BAIXO JEQUITINHONHA
Jequitinhonha 3
Felisburgo • 1
Joaíma • 1
Microterritório de Itaobim
Itaobim • 4
Padre Paraíso 3
Microterritório de Jacinto
Jacinto • 2
Microterritório de Pedra Azul
Pedra Azul • • 5
1. Região de Influência das Cidades. Os centros de zona correspondem às cidades que têm uma atuação vinculada à sua área imediata, exercendo
funções elementares, e são subdivididos em centro de zona A e centro de zona B, sendo que os centros de zona A têm uma abrangência um
pouco maior em termos de serviços ofertados e de relacionamento com o entorno.
2. Polo Macrorregional: Município de maior densidade populacional da macrorregião, com estrutura de equipamentos urbanos e de saúde, de
maior densidade tecnológica, o que requer escala para cerca de 1.500.000 de habitantes; Polo Microrregional: Município de maior densidade
populacional na microrregião, com estrutura de equipamentos urbanos e de saúde, de média densidade tecnológica, o que requer escala para
cerca de 150.000 habitantes; que exerce força de atração sobre outros municípios (Fonte: SES-MG. Plano Diretor de Regionalização).
4. Foram considerados centros econômicos aqueles municípios que apresentam maior dinamismo econômico, representado pela diversidade e/
ou intensidade de atividades econômicas, estudadas no primeiro produto deste Plano.
5. Foram considerados os atrativos de relevância turística com capacidade de atrair fluxos de turistas internacionais, nacionais e macrorregionais.
Não foram considerados os atrativos de pouca relevância turística, capazes de atrair apenas fluxo de municípios limítrofes.
6. Foram consideradas centros de relevância para a cultura e o artesanato aquelas localidades que apresentam um ou mais dos seguintes itens:
sítios arqueológicos, modo artesanal de fazer queijo, festas e expressões culturais, grupos culturais, comunidades quilombolas, artesanato e
patrimônio edificado.
52 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
Rodovias federais
Rodovias estaduais
Limite estadual
Alto Jequitinhonha
Médio/Baixo Jequitinhonha
Nesse sentido, podemos citar, tanto por sua tação de 92km da LMG-678 para ligação de Novo
importância para a região, como pelo seu estado Cruzeiro a Araçuaí; g) implantação de trecho de
de má conservação, a BR-367, a BR-261 e a 35km para ligação de Novo Cruzeiro a Ladainha,
rodovia estadual LMG-677. A BR-367 foi implan- entre a MG-211 e LMG-710; h) pavimentação de
tada para ligar Diamantina à Bahia, mas ainda há 65km da BR-342 para ligação de Caraí a Araçuaí;
vários trechos que não são asfaltados e outros i) pavimentação de 14km na MG-105 para ligação
que estão em más condições, acarretando aci- de Fronteira dos Vales a Joaíma; j) pavimentação
dentes. Segundo avaliação disponível, da Con- de 31km da MG-406 para ligação de Rubim a Rio
federação Nacional do Transporte (CNT, 2016), o do Prado; k) pavimentação de 52km na MG-105
estado geral dessa rodovia é considerado ruim. para ligação de Pedra Azul a Jequitinhonha;
l) pavimentação de 96km da LMG-610 para
Já a BR-261, que liga o sul da Bahia ao Centro-Oeste ligação de Pedra Azul a Mata Verde, passando por
brasileiro, possui ainda trechos sem pavimen- Araçagi e Divisópolis; m) implantação de trecho
tação ou em estado precário (seu trecho asfaltado da LMG-618 entre Águas Vermelhas e BR-251.
foi classificado como regular pela CNT, em 2016),
com destaque para a ligação entre os municípios 3.6.3 Energia
de Almenara e Pedra Azul. Já a LMG-677 é consi-
derada estratégica por ligar o Alto ao Médio/Baixo Nos últimos anos, importantes avanços ocor-
Jequitinhonha e permitir a integração dos terri- reram nos territórios do Alto e do Médio/Baixo
tórios entre si e com outras regiões, mas muitos Jequitinhonha em relação ao acesso à energia.
trechos estão em mau estado, com destaque para Entretanto, ainda permanecem desafios quanto
a demanda antiga de pavimentação do trecho à qualidade da energia em diversas localidades,
entre Ijicatu e Virgem da Lapa. Esse último trecho ao custo e às condições de acesso por parte de
possui obra prevista no Pacto pelo Cidadão, do algumas comunidades rurais.
Governo Estadual, instituído em 2016.
Em 2000, mais de um quarto da população em
As inúmeras demandas da população levam a 45,8% dos municípios do Alto Jequitinhonha e
uma lista mínima de intervenções na malha rodo- em 34,3% dos municípios do Médio/Baixo vivia
viária atual, de maneira a contemplar a mobili- em domicílios sem energia elétrica. Isso mudou
dade e o escoamento da produção e auxiliar no radicalmente na década seguinte, de forma que
desenvolvimento da região: a) implantação do em 2010, apenas um município em cada terri-
contorno de Minas Novas, na BR-367, concluindo tório apresentou o percentual de população sem
a obra da ponte sobre o Rio Fanado; b) implan- energia elétrica superior a 10%. Ressalta-se que o
tação de trecho de 23km para ligação de Coluna a pior acesso se dá na área rural.
Rio Vermelho e a Serra Azul de Minas pela MG-010;
c) pavimentação de 60km da BR-367 para ligação Programas como o Luz para Todos, do Governo
de Minas Novas a Virgem da Lapa, passando por Federal e em curso desde o final de 2003, e o Eletrifi-
Chapada do Norte e Berilo; d) implantação de cação Rural, do Governo Estadual e em andamento
trecho de 19km para ligação de Leme do Prado desde 2016, contribuíram fortemente para ampliar
a Chapada do Norte, entre os distritos de Boa o acesso à energia e alcançar sobretudo nas zonas
Vista, Cachoeira do Norte e Santa Rita do Araçuaí; rurais. Contudo, ainda há problemas com a quali-
e) implantação de trecho de 46km para ligação dade da energia, o que ocasiona um fornecimento
de Berilo a José Gonçalves de Minas; f ) pavimen- muitas vezes intermitente, e com a potência da
Caracterização dos territórios 55
energia que não é suficiente para suprir a demanda vimento tanto produtivo quanto social, ao facilitar
industrial. Isso é particularmente grave no caso da o acesso de pessoas e de empresas aos serviços
indústria moveleira, em Turmalina14. e à compra de produtos e ao permitir a troca de
informações em tempo real e entre lugares dis-
O perfil de consumo de energia nos territórios do tantes. Esse tipo de infraestrutura encontra-se em
Jequitinhonha tem a peculiaridade de ter grande situação mais precária nos territórios do Alto e do
participação do setor rural que, como se sabe, Médio/Baixo Jequitinhonha quando comparados
retém a maior parte dos domicílios que ainda não à média do estado. Isso é particularmente válido
possuem acesso à energia. Logo, faz-se necessária em relação ao acesso à Internet e à telefonia móvel.
ação direcionada a romper com a dificuldade do
fornecimento em baixa escala, para que a energia Grande parte das demandas dos Fóruns Regionais
chegue a tais lugares. Sugerem-se a manutenção (2015) relacionadas à telecomunicação dizia res-
e a ampliação do programa Eletrificação Rural, peito à Internet, incluindo pedidos de “aquisição
de forma a mirar a universalização da energia de sinal de Internet”, “melhoria da qualidade da
por meio do fornecimento às áreas rurais ainda Internet” e “extensão do sinal para comunidades
desprovidas dessa facilidade. Nesse processo, é vizinhas”. De todas as demandas relacionadas à
fundamental que a qualidade da energia e a con- Internet, mais de 30% referiam-se à ampliação
tinuidade do fornecimento sejam asseguradas. de acesso nas zonas rurais. Treinamentos, tele-
centros e equipamentos multimídia para escolas
Finalmente, os níveis elevados de insolação na também foram demandados.
região poderiam incentivar a produção própria de
energia, por meio da utilização de placas solares e No que diz respeito ao provimento da infraestru-
da construção de (micro) usinas solares. Também tura de telecomunicações, o programa do Governo
há potencial para a produção de energia eólica em Federal “Cidades Digitais”, criado em 2012, sele-
algumas áreas e de energia de biomassas. Devido cionou 29 municípios mineiros para receberem
aos altos custos, programas específicos devem infraestrutura de conexão de fibra ótica e de tec-
ser pensados e recursos devem ser direcionados. nologia Wi-fi nos órgãos e equipamentos públicos
Tais medidas se tornam urgentes para reduzir o locais. Desses municípios, cinco – Araçuaí, Fran-
custo da energia na região, em seus diversos usos, cisco Badaró, Itamarandiba, Itinga, Jequitinhonha
incluindo os domiciliares, industriais, o atendi- – estão nos territórios do Jequitinhonha. Esse pro-
mento às escolas e à administração pública. grama conta com a parceria estadual das Secre-
tarias de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior (SECTES) e a de Educação (SES) e está inse-
3.6.4 Tecnologias da informação rido também no programa estadual Minas Digital.
e comunicação
em 66,7% dos municípios do Alto Jequitinhonha Em uma situação de redução das receitas públi-
e em 68,6% dos municípios do Médio/Baixo e era cas, alta dependência de transferências inter
apenas médio-baixo no restante dos municípios governamentais e consequente compressão dos
desses territórios, à exceção de apenas dois (um gastos, a obtenção do equilíbrio fiscal implica no
deles com IDTE médio e o outro, médio-alto), mos- sacrifício de algumas despesas, principalmente
trando elevada dependência desses municípios investimentos e custeio da máquina. Deve-se
de transferências de outras esferas de governo. destacar que os municípios são pressionados em
Além disso, cabe notar que essa dependência direção ao limite estabelecido pela LRF para o
havia apresentado crescimento em relação a gasto com pessoal. Ao longo dos anos, os gas-
2010. Ou seja, esses territórios vêm reduzindo a tos com pessoal, que têm caráter obrigatório e
capacidade de financiar suas atividades governa- maior rigidez, vêm mantendo uma trajetória as-
mentais e de prestar serviços à população com cendente, tendo alguns municípios já ultrapas-
receitas geradas pela arrecadação de tributos sado, em 2013, o limite de alerta (57% da RCL)
cobrados sobre sua base econômica. Embora definido pela LRF. A Constituição define também
essa tendência tenha sido observada para o con- limites mínimos para o gasto com educação e
junto dos municípios do estado, foi maior para os com saúde.
territórios aqui em estudo.
A sustentabilidade fiscal do gasto passa pelo
No que diz respeito aos valores de Receita Cor- fortalecimento da base econômica, que tende a
rente Líquida16 per capita, observa-se que, em propiciar o incremento da arrecadação própria,
2013, os municípios no Alto Jequitinhonha apre- pela busca de outras fontes de financiamento
sentaram mediana de R$ 2.440,47, bem acima para as políticas públicas e pela criação ou o
da mediana dos municípios do Médio/Baixo, aperfeiçoamento dos mecanismos de gestão das
R$ 1.782,38, enquanto a dos municípios do contas públicas.
estado era de R$ 2.208,38.
Quanto à capacidade institucional dos muni-
Ainda no que se refere ao aspecto da capaci- cípios dos territórios do Jequitinhonha, são
dade financeira municipal, cabe destacar que, inúmeras as deficiências em todas as áreas de
em muitos municípios desses dois territórios, os atuação do poder público, o que se reflete na
valores de transferências monetárias diretas às relativa baixa qualidade dos bens e serviços
famílias são superiores às receitas municipais, ou prestados nas várias políticas públicas setoriais.
seja, no dizer de Tupy e Toyoshima (2013), são
“economias sem produção”, o que está direta- Foram constatados problemas de organização e
mente relacionado com a alta dependência que as articulação dos órgãos que compõem o aparato
economias de muitos municípios têm da adminis- estatal, sendo as principais dificuldades relacio-
tração pública, como enfatizado anteriormente. nadas ao planejamento, direção e controle das
ações estatais. Essa realidade é um reflexo direto
da insuficiente qualificação profissional de parte
16 Corresponde ao somatório das receitas de impostos, taxas, contri-
buições, receitas com as eventuais atividades econômicas desen- dos servidores, somada à inexistência de polí-
volvidas pelos municípios e transferências constitucionais e legais, ticas de profissionalização e capacitação para
além de outras receitas correntes. Desse valor são deduzidos os o desempenho da função pública municipal.
valores transferidos ao FUNDEB, as contribuições dos servidores
municipais para o custeio do sistema de previdência e assistência
Isso é verdade também para a área política, ou
social e as receitas provenientes da compensação financeira. seja, prefeitos e vereadores são em geral des-
58 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
4
Eixos de intervenção,
estratégias e ações
Esta seção apresenta as proposições que consti- ções da sociedade civil, muitas voltadas a projetos
tuem o núcleo do PDVJ, expressas em estratégias sociais. Há iniciativas bem-sucedidas, envolvendo
e ações e norteadas por eixos de intervenção, que formação de jovens, escolas profissionalizantes e
apontam para as questões centrais que devem ser apoio às atividades agrícolas, entre outras. Um
tratadas visando ao desenvolvimento sustentável. bom exemplo é a exitosa experiência do Centro
Os eixos de intervenção foram definidos com de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV), no
base na análise das potencialidades e fragilidades Alto Jequitinhonha, no trabalho com recursos
dos dois territórios do Jequitinhonha, extraídas hídricos, assistência técnica, extensão rural, sis-
do Diagnóstico Propositivo e contrapostas com temas agroflorestais e atividades de suporte ao
as oportunidades e ameaças externas que podem agricultor familiar.
alterar o ambiente de sua implementação.
Nas últimas décadas, muitos avanços ocorreram
na área social, fortalecida pela institucionali-
POTENCIALIDADES zação dos sistemas de saúde (SUS), assistência
social (SUAS) e educação. Na educação superior,
Vale destacar, em primeiro lugar, a riqueza do os destaques foram a recente instalação da Uni-
patrimônio e das manifestações culturais, que se versidade Federal do Vale do Jequitinhonha e
expressam nas festas culturais e religiosas, nos Mucuri (UFVJM) e dos institutos técnicos fede-
grupos folclóricos e no rico artesanato em cerâ- rais. O aumento da oferta educacional e das
mica, tecelagem e couro, entre outros. Essa cultura, atividades de pesquisa abrem a possibilidade
aliada aos aspectos naturais, como a riqueza pai- de diversificação produtiva, incluindo a conso-
sagística, concede aos territórios um potencial de lidação de um polo intensivo de conhecimento.
desenvolvimento do turismo e qualifica a região Para tanto, é necessário não perder de vista a
para nichos relacionados à economia criativa. necessidade de aproximação das instituições
com a realidade local por meio da extensão e
Soma-se a isso a existência de uma população da pesquisa.
engajada e participativa, com forte senso de per-
tencimento e potencial para a mobilização social, Destaca-se também a relevância da pequena
que se materializa na intensa atuação de institui- produção agropecuária, incluindo aquela para o
62 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
autoconsumo, mas que requer ações para forta- impactos da monocultura do eucalipto e com a
lecer a comercialização de seus produtos. Des- degradação ambiental causada pelo desmata-
taca-se o papel das feiras municipais, nas quais mento e pelas queimadas.
muitas famílias obtêm sua fonte principal de
renda e muitas outras têm acesso a alimentos A estrutura fundiária nos territórios é muito con-
de qualidade. As feiras fazem parte da rotina centrada e há um alto percentual de pequenas
dos municípios e têm grande significado social e propriedades de agricultores familiares. Em
cultural, com potencial para a expansão de ativi- muitas situações, a área dessas propriedades é
dades culturais e turísticas. menor que o módulo fiscal, que constitui a área
mínima para que uma unidade produtiva seja
Há, como indicado, muitos produtos na agro- economicamente viável.
pecuária com potencial de fortalecer a geração
de emprego e renda. A fruticultura, incluindo Os indicadores de escolarização dos territórios
a produção de banana, manga, abacaxi, uva e do Alto e Médio/Baixo Jequitinhonha expõem
morango, entre outras, está bastante dissemi- uma situação precária na educação, manifestada
nada. O café pode ser disseminado para outros na baixa escolaridade da população adulta, no
municípios e ser objeto de estratégias para atraso escolar e nas deficiências de aprendizagem
agregar valor. A apicultura vem se desenvol- dos jovens de 15 a 17 anos. A oferta de educação
vendo rapidamente no Alto Jequitinhonha. A superior, concentrada em algumas cidades, difi-
pecuária, atividade tradicional na região, abre culta o acesso das populações que vivem em
muitas possibilidades. E há o enorme potencial municípios mais distantes. As atividades de pes-
representado pela agroindústria familiar. quisa e extensão têm também alcance limitado
ao longo dos dois territórios.
A mineração também é fonte de oportunidades,
incluindo a extração de pedras ornamentais, de Problemas de execução e gestão de políticas
gemas e do lítio, cujo potencial de produção públicas ocorrem nas diversas áreas, incluindo
se mostrou bem maior com base em estudos educação, saúde, saneamento, assistência social,
recentes. A indústria, pouco desenvolvida, tem cultura, habitação e segurança pública. Na segu-
nichos promissores, como a produção de móveis rança pública, essas dificuldades, combi nadas
e madeira, a agregação de valor na mineração e o com a baixa densidade das instituições, reper
processamento de frutas. cutem no aumento do número dos crimes vio-
lentos e de crimes em geral. Uso e tráfico de
drogas, consumo de álcool, violência doméstica
FRAGILIDADES e de gênero e desestruturação familiar refletem
também esses problemas.
Uma das principais fragilidades dos territórios
do Jequitinhonha diz respeito à escassez de Para essas dificuldades relacionadas às políticas
água e à pressão sobre os recursos hídricos. A públicas contribuem as deficiências da adminis-
região tem várias áreas susceptíveis à desertifi- tração pública e da capacidade estatal. Faltam
cação. Além da seca, sofre com a contaminação recursos humanos em vários segmentos da
das águas e o assoreamento dos rios pela mine- administração estadual. A situação é ainda mais
ração, com o lançamento de esgoto sanitário e séria no que diz respeito à administração muni-
despejo de resíduos sem tratamento, com os cipal, na qual falta, por exemplo, uma equipe
Eixos de intervenção, estratégias e ações 63
rios da Lei Robin Hood (MINAS GERAIS, 2009)17 nômico (e sustentável) da biodiversidade. Abre
constitui uma oportunidade para o incremento também oportunidade para políticas de paga-
das receitas dos municípios pobres. Outra opor- mento por serviços ambientais.
tunidade vem com a possibilidade de realo-
cação das terras anteriormente destinadas à Por fim, grande oportunidade passa pelas prio-
plantação de eucalipto. Parcela dessas terras ridades escolhidas pelo atual Governo de Minas
é fruto de contratos de cessão de terras devo- Gerais, como a redução da pobreza rural e das
lutas por parte do Governo do Estado. Em face desigualdades regionais. Alguns passos foram
do término do prazo de cessão, parte dessas dados nesse sentido, potencializados pela criação
terras podem ser alocadas para programas com dos Fóruns Regionais e pela ênfase em práticas
maiores retornos sociais. participativas. Destaca-se também a criação da
Secretaria de Desenvolvimento Agrário, que
Outra fonte de oportunidades surge com as novas reflete uma decisão política de priorização da
tecnologias e a Internet, que se consolidaram no temática da agricultura familiar. Deve-se consi-
mundo globalizado e atuam na integração de derar também que os Fóruns dialogam direta-
pessoas, culturas e países. Esses novos meca- mente com a anterior política de Territórios da
nismos de comunicação abrem novas possibili- Cidadania, sugerindo um formato institucional
dades de integração dos territórios em questão, que pode contribuir para melhorar a coorde-
além de abrir mercados (nacionais e internacio- nação e priorizar ações adequadas ao desenvol-
nais) para os produtos locais e para o turismo. vimento territorial.
Nos territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequi- Em face a esse cenário geral, as propostas de
tinhonha encontram-se dois biomas conside- desenvolvimento para a região foram organi-
rados hot spots, o cerrado e a mata atlântica, zadas em cinco eixos de intervenção: (1) Recursos
classificados em função da alta biodiversidade e Hídricos, (2) Desenvolvimento Produtivo, (3)
da ameaça de extinção a que estão expostos. A Desenvolvimento Social, (4) Infraestrutura Eco-
atenção internacional que isso suscita pode for- nômica e (5) Gestão Municipal. Para cada um
talecer a mobilização de estratégias em torno da desses eixos, foram definidas as estratégias e
preservação ambiental, potencializando a cap- as ações correspondentes. Aquelas prioritárias
tação de recursos internacionais, a instalação de serão apresentadas na próxima seção, enquanto
Unidades de Conservação e o desenvolvimento a lista completa das estratégias e ações propostas
de atividades de pesquisa buscando o uso eco- encontra-se no Apêndice.
A maior parte das pessoas que vivem no meio 3. Fortalecer as funções orientadoras dos órgãos
rural no Jequitinhonha não tem a titulação da ambientais em detrimento das punitivas.
terra, o que causa insegurança jurídica, deses-
timula investimentos e pode limitar o acesso a Estratégia 3: Fortalecimento e promoção
políticas públicas. Assentamentos da reforma da pesquisa agropecuária e da assistência
agrária e terras indígenas e quilombolas merecem técnica e extensão rural (ATER)
atenção diferenciada.
As atividades ligadas à ATER são essenciais para
Ações prioritárias: o pequeno e médio produtor, ao gerarem e dis-
seminarem conhecimentos de natureza técnica,
1. Ampliar e agilizar o processo de regularização econômica, ambiental e sócia e apoiarem o uso
fundiária, simplificando e reduzindo os custos de tecnologias sociais e dos saberes tradicionais.
dos trâmites judiciais e extrajudiciais, apoian- O quadro hoje é que os órgãos responsáveis não
do mutirões e criando uma instância de con- têm técnicos em número suficientes, sendo inca-
trole social; pazes de lidar com a ampla demanda. Há também
espaço para maior participação de ONGs e univer-
2. Ampliar e agilizar os processos de titulação de sidades. Especial atenção deve ser concedida aos
territórios quilombolas e de delimitação e de- assentamentos e a terras indígenas e quilombolas.
marcação das terras indígenas;
Ações prioritárias:
3. Desburocratizar o acesso ao crédito fundiário,
sobretudo para o público jovem. 1. Aumentar o número de técnicos da Emater e da
Epamig e fortalecer os programas de capacitação;
Estratégia 2: Fortalecimento da fiscalização
do meio ambiente e agilidade na obtenção de 2. Fortalecer a pesquisa agropecuária e aproxi-
licenças ambientais má-la dos agricultores;
Faz-se essencial agilizar o processo de licencia- 3. Fortalecer os órgãos municipais ligados à as-
mento ambiental, evitando a morosidade que sistência técnica e à extensão rural;
atrasa os investimentos/empreendimentos. Isso
deve ser feito sem comprometer a capacidade de 4. Estimular a formação de parcerias com univer-
fiscalização do meio ambiente. sidades e ONGs.
Eixos de intervenção, estratégias e ações 67
3. Fortalecer as políticas voltadas para os centros 3. Garantir a aplicação dos impostos gerados na
de comercialização, beneficiamento e classifi- atividade em projetos sociais, culturais e eco-
cação do café; nômicos da própria região.
4. Garantir infraestrutura, serviços públicos para o 5. Apoiar municípios, circuitos turísticos e recep-
turismo e para instrumentos de gestão urbana. tivos turísticos a desenvolver competência
em marketing digital para utilizar a Internet
Estratégia 2: Estimulo à demanda e ao e as mídias sociais como canais de promoção
fortalecimento da comercialização turística e comunicação, de modo a atingir os turistas
potenciais;
De modo geral, identifica-se um desconheci-
mento dos potenciais turísticos dos territórios do 6. Encontrar soluções práticas em conjunto com
Jequitinhonha. Os atrativos e destinos turísticos entidades representativas do setor para ade-
são pouco divulgados e a grande maioria não é quar o portfólio de produtos turísticos oferta-
comercializada. Diamantina e Serro recebem o dos às necessidades das operadoras (escala) e
maior fluxo de turistas, mas também são identi- ao perfil predominante dos turistas;
ficados fluxos relevantes de turistas que apenas
pernoitam em cidades da região a caminho de 7. Fomentar parcerias com meios de comuni-
Porto Seguro (BA). cação (tradicionais e de mídias sociais) para
ampliar a divulgação dos atrativos, eventos e
Ações prioritárias: manifestações culturais da região.
6. Estimular que os quatro circuitos turísticos pre- 2. Criar programa de acompanhamento e refor-
sentes na região se articulem e desenvolvam ço nas escolas para os alunos com dificuldade
um planejamento e gestão de forma integrada. de aprendizagem, principalmente nos anos
iniciais do ensino fundamental.
pectivas áreas de atuação, conforme os níveis mular a sua permanência no sistema de ensino.
e modalidades de ensino, principalmente nas Ademais, a necessidade de implantação e
modalidades do campo, alfabetização e Edu- expansão dos cursos técnicos esteve fortemente
cação de Jovens e Adultos (EJA). presente entre as demandas apresentadas nos
Fóruns Regionais em ambos os territórios, o que
se explica pela reduzida oferta dessa modali-
Estratégia 3: Melhoria da gestão da educação
dade de cursos na região.
1. Rever o sistema de nucleação das escolas, com Este subeixo foi dividido nas seguintes estraté-
vistas à alteração do modelo atual e como es- gias: 1) ampliação do acesso à atenção à saúde
tratégia para o atendimento das crianças de 4 de qualidade; 2) melhoria da gestão do SUS.
e 5 anos;
Estratégia 1: Ampliação do acesso à atenção à
2. Ampliar a metodologia da educação do saúde de qualidade
campo nas escolas públicas, com adequa-
ção dos currículos e calendários à demanda No que diz respeito à atenção primária, reite-
do meio rural, avaliando a possibilidade de ra-se que nas áreas urbanas, onde a cobertura
adotar em algumas escolas metodologias se encontra praticamente universalizada, o
similares às adotadas nas Escolas Família principal desafio consiste em aumentar a sua
Agrícolas (EFA). resolutividade. No meio rural, entretanto, é
necessário também ampliar a cobertura nas
Estratégia 4: Implantação e expansão da comunidades mais afastadas e de difícil acesso.
educação profissional e de nível superior No tocante à atenção secundária e terciária,
são inúmeros os problemas, podendo-se des-
O ensino profissionalizante é importante não tacar a oferta insuficiente de procedimentos,
apenas como forma de qualificar os jovens para as dificuldades para fixar médicos e as deficiên-
o mercado de trabalho, mas também para esti- cias na gestão.
Eixos de intervenção, estratégias e ações 73
São vários os problemas de gestão do SUS, que 2. Promover ações de esclarecimento da socie-
envolvem desde o desconhecimento de suas dade e da população idosa em relação aos
regras até o registro inadequado das informações. seus direitos, associadas a intervenções que
coíbam a intermediação de terceiros para o
requerimento de benefícios.
Ação prioritária:
uma das principais demandas feitas pela popu- 4.3.7 Subeixo Segurança Pública
lação e autoridade técnicas e políticas dos ter-
ritórios. As demandas referem-se tanto à trans- Este subeixo é constituído pela seguinte estratégia:
missão de saberes tradicionais para as novas
gerações quanto aos conhecimentos técnicos Estratégia: Incremento da densidade
em gestão cultural, contabilidade e tecnologia institucional de segurança pública
digital. No que tange à educação patrimonial, nos territórios do Alto e Médio/Baixo
demanda prioritária dos municípios do Jequi- Jequitinhonha
tinhonha, deve-se sublinhar a importância da
conscientização e do envolvimento das comu- Os territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequiti-
nidades na percepção dos valores relativos nhonha apresentam os piores indicadores de
ao seu patrimônio, que resultaria em maior densidade institucional do estado, sobretudo
apropriação e fruição dos bens culturais, fator no que diz respeito à presença rarefeita das ins-
indispensável ao processo de preservação sus- tituições de segurança pública. Somado ao efe-
tentável. Deve-se ressaltar ainda que a edu- tivo precário das organizações de força (polícias
cação patrimonial faz parte do conjunto de exi- Civil e Militar e Guardas Municipais), os territórios
gências feita pelo IEPHA-MG para comprovar a também enfrentam graves carências relacionadas
adesão dos municípios ao Programa ICMS Patri- à baixa presença de instituições como o Minis-
mônio Cultural. tério Público, a Defensoria Pública, as comarcas
do Judiciário, as unidades prisionais e os centros
socioeducativos para cumprimento de medidas
Ações prioritárias: de internação. Cabe mencionar, ainda, os baixos
níveis de articulação entre tais órgãos, aspecto
1. Promover ações articuladas entre a Univer- que vem dificultando sensivelmente a imple-
sidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e mentação de políticas de segurança pública em
Mucuri (UFVJM), a Universidade Federal de nível local.
Minas Gerais (UFMG), a Universidade do Es-
tado de Minas Gerais (Uemg), Unimontes e
Instituto Federal do Norte de Minas (IFNMG), Ações prioritárias:
visando à criação de cursos de graduação em
áreas específicas como arquitetura, arquivolo- 1. Incrementar a infraestrutura, os recursos lo-
gia, música e teatro; gísticos e os efetivos da Polícia Civil (todas as
carreiras);
2. Criar cursos de nível médio ou outros treina-
mentos para a formação de técnicos na área 2. Incrementar a infraestrutura, os recursos lo-
de patrimônio (restauração e técnicas cons- gísticos e os efetivos da Polícia Militar (com
trutivas tradicionais) e da cultura em geral ênfase em implementação de unidades de Pa-
(produção e gestão cultural); trulhas Rurais);
Ação prioritária:
rodoviária densa e de boa qualidade, apesar das a pavimentação do trecho entre Andrequi-
intervenções recentes na recuperação de pontes e cé e Diamantina, passando por Corinto, na
na pavimentação de alguns trechos importantes. MG-220;
Qualitativamente, as principais demandas dizem
respeito à necessidade de pavimentação e de f. recuperação e manutenção do pavimento
duplicação de algumas estradas e à melhoria das nas rodovias BR-251 e BR-367, com a im-
condições de várias pontes. A relevância da recu- plantação de terceira faixa nos aclives de
peração e da ampliação dessa infraestrutura viária subidas de serras.
se deve ao seu forte impacto transversal, incluindo
a promoção do desenvolvimento econômico e o 2. Fomentar programa de melhorias nas rodo-
atendimento às demandas sociais. vias para o fortalecimento da rede de cidades
por meio das seguintes intervenções:
Ações prioritárias:
do Imposto sobre Serviços (ISS) e da legisla- 2. Incentivar a capacitação do corpo técnico das
ção tributária municipal; administrações municipais para a elaboração
de planos orçamentários (Plano Plurianual -
2. Incentivar a implementação de políticas de PPA, Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO e
combate à sonegação e evasão fiscal e mini- Lei Orçamentária Anual - LOA), tendo como
mizar as práticas de elisão fiscal; base a realidade local; bem como o acompa-
nhamento e monitoramento dos programas
3. Incentivar a observância dos limites estabeleci- governamentais definidos nos planos orça-
dos na legislação para o gasto com pessoal, reali- mentários e, de maneira especial, os progra-
zação de operações de crédito, nível de endivida- mas e/ou projetos estratégicos do município.
mento e comprometimento da Receita Corrente
Líquida (RCL) com o pagamento da dívida;
Ações prioritárias:
5
Governança
Esta seção explora alguns aspectos da agenda, Ao conceito clássico de governança, qual seja, a
em construção, da governança do PDVJ. Na pri- capacidade de execução de políticas públicas,
meira parte, bases conceituais e a trajetória de outras dimensões são, frequentemente, agre-
esforços de implementação de políticas e estra- gadas, tais como a capacidade de resposta a pro-
tégias de governança em Minas Gerais são revisi- blemas complexos, o fortalecimento dos níveis
tadas. A segunda apresenta o modelo de gover- locais de governo, flexibilidade e transversalidade.
nança territorial implementada pelo Governo
atual e chama a atenção para a importância da Segundo o Banco Mundial, são características da
definição de um arranjo institucional capaz de boa governança: participação, Estado de direito,
propiciar a sustentabilidade política do PDVJ. transparência, responsabilidade, orientação por
consenso, equidade e inclusividade, efetividade
e eficiência e prestação de contas (Naritza, 2010).
Deve-se destacar não apenas a capacidade de se
5.1
BASE CONCEITUAL E alcançar objetivos e resultados, mas também a
TRAJETÓRIA POLÍTICA forma pela qual governos exercitam essa capaci-
dade, ou seja, as bases democráticas sobre as quais
Definida como a capacidade do Estado de exe- determinado modelo de governo deve se assentar.
cução das políticas públicas, governança pode
ser abordada em pelo menos quatro dimensões: Finalmente, argumenta-se que as bases demo-
capacidade de comando e direção, capacidade cráticas dos processos de governança não se
de coordenação, capacidade de agregar inte- esgotam nas suas dimensões de participação e
resses diversos e capacidade de implementação inclusividade, mas exigem a definição de meca-
(DINIZ, 2003). nismos de accountability que ampliem o escopo
do controle público sobre a ação governamental.
Santos (1997) destaca a capacidade de articu- Enquanto em regimes políticos autoritários
lação e coordenação de ações, a cooperação com modelos de natureza tecnocrática dispensam da
atores políticos e sociais diversos e a forma orga- interlocução com a sociedade civil, em estados
nizacional como determinantes da governança democráticos sua inclusão se torna imperiosa.
do estado. Dessa forma, participação, transparência e con-
86 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
vador, com claros resultados positivos. Persis ações setoriais tanto da administração direta
tiam, no entanto, grandes obstáculos à maior como da indireta. No entanto, o processo de defi-
integração e descentralização de po líti
cas nição das regiões e cidades que receberiam as
públicas. A enorme heterogeneidade de mo administrações regionais enfrentou percalços e
delos de regionalização adotados pelos diversos dificuldades políticas, que terminaram por invia-
órgãos públicos e secretarias estaduais dificul- bilizar o novo modelo. Desdobramentos futuros,
tavam ações regionalizadas multi-institucionais. já na década de 1990, resultaram no esgotamento
Essa deficiência apontou para a necessidade da então mais sistematizada tentativa de instau-
de maior atuação coordenadora por parte do ração de um modelo de governança territorial.
Governo, o que levou, posteriormente, à agre-
gação da função de coordenação à atividade de Nos anos seguintes, as tentativas de definição
planejamento da antiga Seplan. de um modelo de governança territorial foram
substituídas pela interlocução direta com os
Ao longo do tempo, esforços de compatibi- municípios e, no plano institucional, pela criação
lização espacial de intervenções setoriais do da Secretaria de Estado do Desenvolvimento
poder público se mostraram muito aquém do Regional e Urbano (SEDRU), das agências de
que se demandava. Acresceu-se certa resistência desenvolvimento da Região Metropolitana de
à adoção de novos padrões de regionalização, o Belo Horizonte e do Vale do Aço e da Secretaria
enfraquecimento dos sistemas operacionais de Extraordinária de Desenvolvimento do Norte de
gestão e planejamento e, finalmente, a fragili- Minas (SEDINOR).
zação da própria função de coordenação geral da
Seplan, que perde protagonismo em decorrência Reformas institucionais com vistas a uma política
da maior ênfase nos processos de gestão pública. de governança territorial foram então retomadas
a partir de 2015, com a substituição da Sedru pela
Com a Constituição mineira de 1989, uma estru- Secretaria de Estado de Cidades e de Integração
tura institucional inovadora ganhou amparo Regional (Secir) e pela instituição da Secretaria
constitucional. Foi criado o Conselho Estadual Extraordinária de Estado de Desenvolvimento
de Desenvolvimento Econômico Social (CDES), a Integrado e Fóruns Regionais (SEEDIF), que coor-
quem compete comandar a elaboração, de forma dena as ações relacionadas aos 17 territórios de
participativa e colegiada, do Plano Mineiro de desenvolvimento instituídos, bem como coor-
Desenvolvimento Integrado (PMDI), definindo dena a realização e acompanhamento dos Fóruns
diretrizes e princípios a nortear os demais planos de Regionais.
e programas do estado. A Constituição mineira
normatizou a elaboração do plano plurianual de
ação governamental, inovando ao submetê-lo,
técnica e legalmente, ao PMDI.
5.2
DIMENSÃO INSTITUCIONAL
DO PLANEJAMENTO E DA
No que diz respeito à regionalização da gestão GOVERNANÇA TERRITORIAL
pública, a Constituição do Estado de 1989 deter-
minou a criação das “administrações regionais”, A Constituição Federal de 1988 inaugura um
instituídas pelo Executivo em cidades polo de novo pacto federativo no país, em que compe-
regiões de planejamento. Ao administrador tências no processo de formulação e execução
regional caberia a função de coordenação das das políticas públicas são redistribuídas entre as
88 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
6
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Referências 93
7
Apêndice
Neste apêndice estão arrolados os cinco eixos 7. Criar um Corredor Ecológico desde a nascente
de intervenção propostos com suas estratégias e do Rio Jequitinhonha até o limite com o esta-
ações na íntegra. do da Bahia, com ramificações para as princi-
pais sub-bacias hidrográficas;
4. Intensificar a fiscalização das áreas vulnerá- Ações para a ampliação das áreas de cobertura
veis a incêndios criminosos por meio do mo- vegetal:
nitoramento espacial;
1. Implementar os programas e ações previstos
5. Intensificar a aplicação da Lei de Crimes Am- no Plano de Energia e Mudanças Climáticas
bientais (9.605/88); (PEMC) de Minas Gerais;
4. Dar apoio aos assentamentos da reforma 3. Adotar ações visando fortalecer os órgãos
agrária, provendo infraestrutura necessária, municipais ligados à assistência técnica e à
agilizando o acesso à propriedade e dando extensão rural.
98 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
2. Conferir assistência ao agricultor para prepara- Ações para fortalecer outras formas de
ção e entrega dos produtos nas condições exi- comercialização:
gidas pelos editais e instituições envolvidas;
1. Certificar e tornar mais barato o processo de
3. Mobilizar as prefeituras, secretarias munici- certificação dos produtos orgânicos e agroe-
pais de educação e diretores de escola para cológicos. Ampliar a participação das univer-
ampliar a participação da agricultura familiar sidades no processo de certificação, por meio
nas compras da alimentação escolar; da adoção de editais específicos;
4. Trabalhar para que as políticas públicas en- 3. Introduzir a palma, o sorgo e outros produtos
volvam no seu processo de implementação as para favorecer as pastagens nos períodos de seca;
associações comunitárias rurais.
4. Negociar ações para baratear o preço dos in-
Estratégia 6: Fortalecimento de produtos sumos;
estratégicos para a região (mel, café,
fruticultura e pecuária) 5. Estimular a cadeia do leite, com incentivo a as-
sociações, cooperativas, quando apropriado,
Ações para o fortalecimento da produção e e laticínios.
comercialização do mel:
são de terras para a plantação de eucalipto que miliar não comprometa o direito à aposenta-
já expiraram ou estão próximos dessa situação; doria rural;
4. Melhorar a fiscalização para reduzir os danos 2. Permitir e/ou fortalecer a venda pelas associa-
sobre o meio ambiente; ções comunitárias para os mercados institu-
cionais;
5. Fiscalizar a atuação de atravessadores e trans-
portadores, reduzindo os danos sobre as es- 3. Simplificar as exigências sanitárias, adequan-
tradas e sobre o meio ambiente. do-as às especificidades da pequena produção.
SUBEIXO 2: AGROINDÚSTRIA
Ações para o fortalecimento da indústria de
madeiras e móveis (Alto Jequitinhonha):
Estratégia 9: Fortalecimento da agroindústria
familiar, agregando valor à produção e
ampliando a renda 1. Fomentar empresas de beneficiamento da
madeira;
região, com destaque para as manifestações 7. Estimular que os quatro circuitos turísticos
culturais e o artesanato local. presentes na região se articulem e desenvol-
vam um planejamento e gestão do turismo
em todo o Vale do Jequitinhonha de forma
Estratégia 15: Fortalecimento do sistema de
integrada;
gestão do turismo e suas instituições
Ações:
Estratégia 2: Formação e capacitação dos
docentes e gestores 1. Apoiar as Escolas Família Agrícola (EFAs) garan-
tindo o cumprimento da Resolução SEE Nº 2.774,
Ações: de 19 de maio de 2015 (MINAS GERAIS, 2015b),
e ampliando os recursos destinados a implanta-
1. Capacitar os professores alfabetizadores da ção dos projetos profissionalizantes dos alunos;
rede estadual e municipal dos três primeiros
anos do ensino fundamental, com metodolo- 2. Rever o sistema de nucleação das escolas, com
gia específica para aqueles que lecionam em vistas à alteração do modelo atual e como es-
turmas multisseriadas; tratégia para o atendimento das crianças de 4
e 5 anos;
Apêndice 105
6. Alinhar com a Secretaria de Estado de Traba- 4. Apoiar o acesso às universidades, com trans-
lho e Desenvolvimento Social o repasse de porte gratuito partindo das cidades que não
recursos e a oferta das oficinas de qualificação possuem a oferta de ensino superior.
dos programas da assistência social (Ação in-
tersetorial com o subeixo Assistência Social);
SUBEIXO: SAÚDE
7. Articular com a Secretaria de Estado de Saú-
Este subeixo foi dividido nas seguintes estraté-
de (SES) ações preventivas de tratamento e
gias: ampliação do acesso à atenção à saúde de
curativas nas escolas (Ação intersetorial com
qualidade e melhoria da gestão do SUS.
subeixo Saúde);
3. Incentivar a atuação integrada das equipes de 2. Concluir o Hospital Regional de Teófilo Otoni
Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) e e construir o segundo hospital regional pre-
das ESF; visto para a região;
4. Garantir a universalização da cobertura vaci- 3. Atuar junto ao hospital regional Santa Rosália,
nal nas crianças com até um ano de idade; localizado em Teófilo Otoni, de modo a garan-
tir o atendimento da população do Médio/
5. Incentivar a implementação de ações de modo Baixo Jequitinhonha;
a reduzir os óbitos evitáveis a partir da implan-
tação da Política Nacional de Atenção Integral 4. Implementar ações com vistas a favorecer a
à Saúde da Criança, instituída pela Portaria nº integração dos hospitais de pequeno porte
1.130, de 5 de agosto de 2015 (BRASIL, 2015); na rede de serviços;
6. Incentivar a implementação dos diversos pro- 5. Reavaliar a capacidade instalada dos hospitais
gramas federais e estaduais de promoção da localizados nas sedes das microrregiões com
saúde da mulher, da gestante, do homem, do vistas a elevar o número de procedimentos de
idoso etc.; média e alta complexidade;
7. Realizar esforços para aumentar o número de 6. Garantir o acesso regulado de acordo com o
médicos nos territórios; estabelecido na Política Estadual e Nacional
de Regulação do SUS;
8. Promover a educação permanente dos profissio-
nais da atenção primária em saúde com ênfase 7. Expandir a Rede SAMU (Serviço de Atendimen-
no aperfeiçoamento das práticas clínicas e apri- to Móvel de Urgência) com a criação de polos
moramento do processo de trabalho em saúde; do SAMU nas cidades de referência e unidades
de suporte básico nos municípios vizinhos;
9. Aperfeiçoar a articulação entre as Secretarias
de Saúde e Educação, municipais e estaduais, 8. Concluir/implantar as UTIs de Almenara e Itaobim;
no acompanhamento da saúde da criança e
do adolescente em idade escolar; 9. Implantar um centro de reabilitação físico, au-
ditivo e visual;
10. Apoiar os municípios na organização dos sis-
temas locais de Vigilância em Saúde; 10. Melhorar o sistema de transporte a partir da
renovação da frota segundo a Resolução SES/
11. Ampliar a participação estadual no financia- MG nº 3.638/2013 (MINAS GERAIS, 2013).
mento da atenção primária.
1. Promover ações visando ao cumprimento das 5. Qualificar o cadastro das entidades socioassis-
legislações e convenções vigentes; tenciais junto à SEDESE, e incentivar o cadas-
tramento das organizações socioassistenciais
2. Desenvolver ações permanentes visando in- ainda não cadastradas;
formar a sociedade sobre os direitos do idoso;
6. Prover suporte para a regularização das enti-
3. Fortalecer o controle social tanto dos proces- dades representativas de populações e bair-
sos de intermediação de benefícios e outros ros urbanos e rurais.
tipos de violação de direitos dos idosos;
Estratégia 3: Qualificação permanente da
4. Elaborar materiais (cartilhas) visando ampliar gestão da Assistência Social
(melhorar) as informações sobre os serviços
socioassistenciais ofertados aos idosos; Ações para promover a integração intersetorial
na execução da política de assistência social:
5. Criar programas educativos voltados à melho-
ria da qualidade de vida no envelhecimento. 1. Promover a integração das ações de assistên-
cia social que demandam intervenções inter-
setoriais envolvendo a educação, saúde, cul-
Estratégia 2: Articulação entre as entidades
tura e direitos humanos;
socioassistenciais existentes nos territórios
Ações para a integração da atuação das ONGs 2. Promover ações visando o desenvolvimento
com a política de Assistência Social: agrário, a geração de trabalho e renda e a pro-
teção ao meio ambiente, de forma a garantir
1. Promover seminários e encontros visando maior efetividade dos projetos destinados ao
à troca de experiências entre os órgãos da público vulnerável;
Apêndice 109
Ações que visam assegurar a atenção 3. Constituir equipe exclusiva para a vigilância
socioassistencial rotineira e de qualidade ao socioassistencial nos municípios;
público das zonas urbana e rural:
3. Definir padrões de qualidade dos serviços so- 1. Apoiar e assessorar os municípios, valendo-se
cioassistenciais, em atendimento às diretrizes de instrumentos de monitoramento e avaliação
nacionais e estaduais; da execução da política de assistência social.
110 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
2. Criar equipes regionais compostas por soció- 2. Dar apoio técnico e financeiro à elaboração
logos, estatísticos e demais profissionais liga- dos Planos Regionais de Gerenciamento Inte-
dos à gestão e análise da informação; grado de Resíduos Sólidos (PRGIRS);
dos com relação a módulos sanitários, refor- públicas de cultura e do patrimônio cultural,
mas, energia elétrica, abastecimento de água, garantindo seu caráter deliberativo e sua
esgotamento sanitário e coleta de lixo, com participação nas decisões quanto à alocação
especial atenção à redução dos déficits nas de recursos;
zonas rurais;
3. Capacitar, periodicamente, os membros dos
5. Incentivar a melhoria nas condições do entorno conselhos de política cultural e de patrimônio;
dos domicílios quanto a arborização de ruas, pa-
vimentação, inclusão de rampa para cadeirante 4. Aperfeiçoar a articulação entre a Secretaria de
e iluminação pública, entre outros aspectos; Estado de Cultura e os órgãos executivos mu-
nicipais, para o planejamento das ações em
6. Incentivar a capacitação dos municípios para âmbito municipal e acompanhamento das
os programas Pré-morar e Pós-morar; ações desenvolvidas.
tão organizacional que responda às necessi- Instituto Federal do Norte de Minas (IFNMG),
dades burocráticas e fiscais de sua atividade; visando à criação de cursos de graduação em
áreas específicas como arquitetura, arquivolo-
2. Incentivar a desburocratização da regulamen- gia, música e teatro;
tação exigida dos artesãos;
2. Promover ações articuladas entre as institui-
3. Incentivar a implementação de programas e ções de ensino, as redes estaduais de educação
parcerias institucionais de longo prazo entre e assistência social, ONGs, prefeituras e órgãos
as associações de artesãos e órgãos como o públicos (Fundação de Arte de Ouro Preto,
Sebrae, Centros de Referência da Assistência Iphan, Iepha), para a criação de cursos de nível
Social (CRAS), ONGs, entre outros; médio ou outros treinamentos para formação
de técnicos na área de patrimônio (restauração,
4. Estimular e reforçar os vínculos e práticas cola- técnicas construtivas tradicionais) e da cultura
borativas entre artesãos, artistas e mestres de em geral (produção e gestão cultural);
ofícios;
3. Promover residências artísticas e oficinas li-
5. Criar uma certificação (selo cultural) para os vres de criação nas áreas de música, teatro,
artesãos do Jequitinhonha de modo a valori- dança, artes visuais etc.
zar seu trabalho;
São ações de fortalecimento comunitário para o para a elaboração e/ou revisão de planos di-
enfrentamento de crimes contra a pessoa: retores e das legislações urbana e municipal
relativas ao parcelamento, uso do solo, edifi-
1. Incentivar projetos focalizados de associativis- cações e posturas;
mo juvenil, com a criação de grupos de jovens
em parcerias com instituições locais (igrejas, 2. Planejar um sistema de informações terri-
escolas, associações de bairros etc.); toriais georreferenciadas (contando com a
parceira de órgãos públicos, concessionárias
2. Implementar projetos com atividades focalizadas de serviços públicos, universidades e outras
para o público jovem, incluindo oficinas esporti- instituições) que possibilite aos municípios o
vas, artísticas e profissionalizantes e projetos de acesso a imagens e bases cartográficas corre-
reconfiguração de espaços públicos via interven- lativas às suas áreas urbanas e seus espaços
ções artísticas (grafite, pinturas, esculturas etc.); territoriais administrativos;
3. Implementar projetos focalizados de fortale- 3. Usar esse sistema para suporte ao planeja-
cimento das estruturas familiares, com o di- mento urbano e territorial, assim como ao pla-
recionamento de ações de assistência social, nejamento intersetorial das políticas públicas.
educação, empregabilidade e saúde para fa-
mílias em situação de risco social e para mora-
dores de áreas com altos índices de violência; SUBEIXO: ESTRUTURA VIÁRIA E DE
TRANSPORTE
4. Ofertar capacitação em metodologias e técni-
Estratégia 1: Superação dos principais
cas de mediação de conflitos para associações
gargalos da infraestrutura rodoviária
comunitárias e lideranças locais.
Ações:
7.4
EIXO INFRAESTRUTURA
1. Fomentar programas de melhorias nas rodo-
ECONÔMICA
vias estratégicas para o desenvolvimento eco-
Este eixo de intervenção contempla os seguintes nômico da região, priorizando as seguintes
subeixos: Rede de Cidades, Estrutura viária e de intervenções:
transporte, Energia e Tecnologias da informação
e da telecomunicação. a. ligação da BR-367 ao estado da Bahia, pavi-
mentando os trechos de Almenara a Salto
da Divisa, passando por Jacinto;
SUBEIXO: REDE DE CIDADES
b. ligação da BR-251 ao estado da Bahia, pa-
Estratégia 1: Fortalecimento das
centralidades vimentando os trechos de Pedra Azul a Al-
menara, passando por Pedra Grande;
Ações:
c. pavimentação de 9km da rodovia LMG-
1. Incrementar programas de apoio técnico e 633 que passa em Cachoeira do Pajeú,
institucional às administrações municipais ligando-a à BR-251;
Apêndice 117
e. implantação de trecho de 46km para liga- b. construir ponte sobre o Rio Jequitinhonha
ção de Berilo a José Gonçalves de Minas; em Jacinto, ligando a BR-367 e LMG-634;
118 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
Ações:
SUBEIXO: ENERGIA
1. Promover a implantação e/ou a renovação de
concessões das empresas de transporte de Estratégia 1: Universalização do acesso
passageiros, apoiando a gestão e a fiscaliza- à energia, sobretudo nas zonas rurais, e
ção de concessões comuns, patrocinadas ou melhoria da qualidade da energia fornecida
administrativas, permissões e autorizações;
Ações:
2. Prever no edital para concessões de empresas
de transporte intermunicipal a sua flexibiliza- 1. Investir na continuação do Programa Eletrifica-
ção para que empresas de pequeno porte te- ção Rural para o atendimento total da demanda;
nham a oportunidade de participar;
2. Aumentar a potência das linhas de transmis-
3. Dar prosseguimento à ampliação da oferta em são, principalmente daquelas próximas às
transporte aeroviário, à conservação do patri- cidades de Turmalina, devido à demanda in-
mônio aeroportuário implantado e à maior re- dustrial, e de Araçuaí e Pedra Azul, grandes
gularidade das operações aéreas, assim como a consumidores de energia elétrica que apre-
regularização dos aeroportos, quando for o caso; sentam constantes reclamações sobre a qua-
lidade da energia disponível;
4. Promover a realização de melhoramentos
nos aeroportos previstos no Programa de In- 3. Fornecer subsídios às distribuidoras de ener-
vestimento Aeroviário, incluindo Pedra Azul, gia e/ou elaborar contratos de parceria para
Jequitinhonha, Virgem da Lapa, Minas Novas, levar energia a unidades de agricultura fami-
Capelinha e Serro; liar isoladas;
Apêndice 119
São ações para o fortalecimento e a ampliação 1. Incentivar a capacitação do corpo técnico das
da arrecadação própria: administrações municipais na criação de pla-
nos orçamentários (PPA, LDO e LOA), tendo
1. Adotar as ações recomendadas nos subeixos como base a realidade local as corresponden-
de desenvolvimento produtivo para promo- tes necessidades da população;
ver o desenvolvimento econômico, que visam
ampliar a base produtiva local; 2. Estimular a definição de níveis de priorização
para programas e projetos desenvolvidos em
2. Incentivar a atualização do cadastro imobiliário, âmbito municipal e constantes nos instru-
verificação e eventual atualização da legislação mentos orçamentários;
que trata do IPTU, com a finalidade de buscar
adequá-lo ao princípio da tributação progressiva; 3. Incentivar a criação e o acompanhamento de
metas para a execução do gasto público;
3. Incentivar a atualização do cadastro das em-
presas contribuintes do Imposto sobre Servi- 4. Estimular a priorização dos gastos constitu-
ços de Qualquer Natureza (ISS), bem como a cionais para as áreas de saúde e educação;
eventual atualização da legislação municipal
que trata desse imposto; 5. Incentivar a observância dos limites estabele-
cidos na legislação para o gasto com pessoal,
4. Incentivar a realização de convênios com a União realização de operações de crédito, nível de
para a cobrança do Imposto Territorial Rural; endividamento e comprometimento da Re-
ceita Corrente Líquida (RCL) com o pagamen-
5. Estimular a atualização das legislações que to da dívida;
constituem as taxas municipais;
6. Incentivar a execução dos gastos dentro dos
6. Incentivar a implementação de políticas de parâmetros das metas de receitas bimestrais
combate à sonegação e evasão fiscal, além de para a eventual adequação e o consequente
minimizar as práticas de elisão fiscal; equilíbrio fiscal.
São ações para conferir aos instrumentos 2. Incentivar a capacitação dos servidores para
de planejamento orçamentário papel mais acompanhar e monitorar a execução de proje-
efetivo, como mecanismos de gestão e de tos estratégicos do município, inclusive aque-
responsabilidade fiscal: les que recebem recursos externos e que, por-
tanto, são objetos de prestação de contas, com
1. Promover cursos de capacitação de gestão regras específicas e previamente definidas.
pública municipal para novos prefeitos e ve-
readores eleitos;
Ação para estimular parcerias com a iniciativa
privada e organizações não governamentais
2. Promover cursos de capacitação para os ser-
situadas no Jequitinhonha:
vidores públicos municipais alocados no se-
tor de planejamento orçamentário das várias 1. Incentivar a criação de mecanismos voltados
secretarias nas áreas de administração finan- para a gestão participativa, de forma a viabi-
ceira e orçamentária e gestão de programas/ lizar ou permitir a participação direta de re-
projetos públicos; presentantes da sociedade civil, por meio de
conselhos de gestão política, comitês e comis-
3. Incentivar os municípios a usarem sistemas sões, orçamento participativo, entre outros.
informatizados para a construção dos instru-
mentos de planejamento financeiro-orça-
mentário, com o intuito de otimizar os proces-
sos de formulação, execução e avaliação;
EQUIPE EDITORIAL
Produção executiva
Gaia Cultural [cultura e meio ambiente]
Produção editorial
Roseli Raquel de Aguiar
Preparação de originais
Lílian de Oliveira
Revisão de provas
Helen Rose
Lílian de Oliveira
Capa
Aquarela de Wagner Bottaro
Plano de
Desenvolvimento
para o Vale do
Jequitinhonha
Estratégias e ações
1
Estratégias e ações
as diretrizes, as estratégias e as propostas de alcance territorial para e struturação do Plano
de Desenvolvimento para o Vale do J equitinhonha (PDVJ), no intuito de subsidiar a
atuação da Cemig GT na Usina Hidrelétrica de Irapé junto aos agentes sociais, privados e
públicos nos territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha.