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Plano de

Desenvolvimento
para o Vale do
Jequitinhonha
Estratégias e ações
1

Convênio 4020000680 – FJP/PROC nº 047/16, firmado entre Cemig Geração e ­Trans­missão


S. A. (Cemig GT) e Fundação João Pinheiro, em 13.04.2016, tendo como objeto a ­cooperação
técnica entre os Partícipes para o desenvolvimento de projeto de p ­ esquisa que c­ ontenha

Estratégias e ações
as diretrizes, as estratégias e as propostas de alcance ­territorial para e­ struturação do Plano
de Desenvolvimento para o Vale do J­ equitinhonha (PDVJ), no intuito de ­subsidiar a
atuação da Cemig GT na Usina Hidrelétrica de Irapé junto aos agentes sociais, privados e
públicos nos territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha.

Plano de Desenvolvimento para o Vale do Jequitinhonha


Introdução 1

Plano de
Desenvolvimento
para o Vale do
Jequitinhonha

Belo Horizonte
Fundação João Pinheiro
2017
2 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

GOVERNADOR
Fernando Damata Pimentel

SECRETÁRIO DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO


Helvécio Miranda Magalhães Júnior

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO

PRESIDENTE
Roberto do Nascimento Rodrigues

VICE-PRESIDENTE
Daniel Lisbeni Marra Fonseca

DIRETORIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS


Ana Paula Salej Gomes

DIRETORIA DE ESTATÍSTICA E INFORMAÇÕES


Júnia Maria Barroso Santa Rosa

DIRETORIA DE ESTUDOS EM CULTURA, TURISMO


E ECONOMIA CRIATIVA
Bernardo Novais da Mata Machado

DIRETORIA DE INFORMAÇÃO TERRITORIAL


E GEOPLATAFORMAS
Daniel Lisbeni Marra Fonseca

ESCOLA DE GOVERNO PROFESSOR PAULO NEVES


DE CARVALHO
Letícia Godinho de Souza

DIRETORIA DE PLANEJAMENTO, GESTÃO


E FINANÇAS (DPGF)
Josiane Vidal Vimieiro

CEMIG GERAÇÃO E TRANSMISSÃO S. A.

DIRETOR-PRESIDENTE
Bernardo Afonso Salomão de Alvarenga 

DIRETOR DE GERAÇÃO E TRANSMISSÃO


Franklin Moreira Gonçalves

SUPERINTENDENTE DE GESTÃO AMBIENTAL DA GERAÇÃO


E TRANSMISSÃO
Enio Marcus Brandão Fonseca

GERENTE DE LICENCIAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL DA


GERAÇÃO E TRANSMISSÃO
Wilson Roberto Grossi

REPRESENTANTE TÉCNICO
Humberto Ribeiro Mendes Neto
Tarciana Lima Cirino
Introdução 3

Plano de
Desenvolvimento
para o Vale do
Jequitinhonha

Convênio 4020000680 – FJP/PROC nº 047/16, firmado entre Cemig Geração e


Transmissão S. A. (Cemig GT) e Fundação João Pinheiro, em 13.04.2016, tendo
como objeto a cooperação técnica entre os Partícipes para o desenvolvimento
de projeto de pesquisa que contenha as diretrizes, as estratégias e as propostas
de alcance territorial para estruturação do Plano de Desenvolvimento para
o Vale do Jequitinhonha (PDVJ), no intuito de subsidiar a atuação da Cemig
GT na Usina Hidrelétrica de Irapé junto aos agentes sociais, privados e públicos
nos territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha.
Plano de
Desenvolvimento
para o Vale do
Jequitinhonha
VOLUME 1
Estratégias e ações

VOLUME 2
Demografia e atividades econômicas principais:
estudos de base

VOLUME 3
Desenvolvimento produtivo e meio ambiente

VOLUME 4
Educação, saúde, assistência social, cultura
e segurança pública

VOLUME 5
Infraestrutura, logística e finanças municipais

VOLUME 6
Oficinas participativas: registro técnico e documental

ALMANAQUE
Obra de divulgação com a síntese das propostas e
do processo participativo de elaboração do Plano de
Desenvolvimento para o Vale do Jequitinhonha

Sinais convencionais
... Dado numérico não disponível.
.. Não se aplica dado numérico.
- Dado numérico igual a zero não resultante
de arredondamento.

Imagem da capa: Aquarela de Wagner Bottaro,


Belo Horizonte, 2017. Acervo Fundação João Pinheiro.

F981p Fundação João Pinheiro


Plano de desenvolvimento para o Vale do Jequitinhonha /
Fundação João Pinheiro. Belo Horizonte, 2017.
6 v.: il.

1. Planejamento regional – Vale do Jequitinhonha (MG). 2.


Desenvolvimento regional – Vale do Jequitinhonha (MG).
Alto Jequitinhonha – Médio/Baixo Jequitinhonha
I. Título.

CDU: 711.2 (815.1-0 Vale do Jequitinhonha)


Plano de
Desenvolvimento
para o Vale do
Jequitinhonha
Volume 1
Estratégias e ações
EQUIPE TÉCNICA

COORDENAÇÃO GERAL Segurança Pública


Maria Luiza de Aguiar Marques Amanda Matar de Figueiredo
Camila Costa Cardeal
COORDENAÇÃO TÉCNICA Eduardo Cerqueira Batitucci – Coordenador
Alexandre Queiroz Guimarães Karina Rabelo Leite Marinho
Fátima Beatriz Carneiro Teixeira P. Fortes Luís Felipe Zilli
Maria Izabel Marques do Valle Marcus Vinícius Gonçalves da Cruz
Raimundo de Sousa Leal Filho
INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA
COORDENAÇÃO EXECUTIVA Rede de cidades
Erika Gisselle Pessôa Santos da Paixão Altamir Abreu Fialho
Elaine Soares Rodrigues Carla Cristina Aguilar de Souza
Délio Araújo Cunha
MARCO CONCEITUAL Denise de Almada Horta Madsen
Maria Marta Martins Araújo Maria das Graças Duarte Lemos
Maria Izabel Marques do Valle – Coordenadora
PRINCIPAIS ATIVIDADES ECONÔMICAS: MODELO Patrícia Albano Mauricio da Rocha
PARA IDENTIFICAÇÃO Paulo Frederico Hald Madsen
Caio Cesar Soares Gonçalves Sálvio Ferreira de Lemos
Carla Cristina Aguilar de Souza
Raimundo de Sousa Leal Filho - Coordenador Habitação
Raquel de Mattos Viana
DEMOGRAFIA
Olinto José Oliveira Nogueira Saneamento
Denise Helena França Marques Maia
DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO E MEIO AMBIENTE
Alexandre Queiroz Guimarães – Coordenador Acessibilidade e mobilidade
Eduardo Teixeira Leite Altamir Abreu Fialho
Estevão de Almeida Vilela Elaine Soares Rodrigues – Coordenadora
Fernando Martins Prates
Juliana Minardi de Oliveira Energia
Marco Paulo Vianna Franco Elaine Soares Rodrigues
Maria Aparecida Sales Santos
Nelson Antônio Quadros Vieira Filho Informação e comunicação
Patrícia Albano Mauricio da Rocha Elaine Soares Rodrigues – Coordenadora
Priscilla de Souza da Costa Pereira Marconi Martins Laia

DESENVOLVIMENTO SOCIAL FINANÇAS MUNICIPAIS


Educação Isabella Virginia Freire Biondini – Coordenadora
Ágnez de Lelis Saraiva João Batista Rezende
Helena Teixeira Magalhães Soares
Juliana de Lucena Ruas Riani – Coordenadora GOVERNANÇA
Silma de Souza Evangelista José Osvaldo Guimarães Lasmar

Saúde CONSULTORIA DE APOIO


Daniela Goes Paraiso Lacerda Arnaldo Freitas de Oliveira Júnior (CEFET/MG) -
Danielle Ramos de Miranda Pereira Meio Ambiente
Fátima Beatriz Carneiro Teixeira P. Fortes – Carlos Henrique de Melo (QVCS) - Saneamento
Coordenadora Clélio Campolina Diniz (PCRH/Fapemig) -
Luiza de Marilac Souza Marco Conceitual
Maria José Nogueira Daniela Tomich (Locale) - Acessibilidade e
Mobilidade
Assistência Social Eduardo Magalhães Ribeiro (UFMG/ICA/MOC) -
Maria de Fátima Almeida Barbosa Gomes – Agropecuária e Meio Ambiente
Coordenadora Fausto Weimar Acerbi Júnior (UFLA) - Silvicultura
Marly Canassa Flávia Maria Galizoni (UFMG/ICA/MOC) -
Vera Lígia Costa Westin Agropecuária e Meio Ambiente
João Antônio de Paula (Cedeplar/UFMG) -
Cultura Marco Conceitual
Graciela Teixeira Gonzalez João Valdir Alves de Souza (Polo Jequitinhonha/
Maria do Carmo de Andrade Gomes UFMG)
Marta Procópio de Oliveira José Euclides Alhadas Cavalcanti (pesquisador
Mônica Barros de Lima Starling – Coordenadora visitante/Fapemig) - Turismo
José Francisco Soares (pesquisador visitante/ REVISÃO DOS PRODUTOS INTERMEDIÁRIOS
Fapemig) - Educação Agda Mendonça
José Roberto Pereira (UFLA) - Capacidade Ana Paula da Silva
Institucional Heitor Vasconcelos Corrêa Dias
Lilian Valim (pesquisador visitante/Fapemig) - Saúde Marília Andrade Ayres Frade
Márcio Simeoni (Polo Jequitinhonha/UFMG)
Marco Aurélio Costa (Ipea) - Rede de Cidades COMUNICAÇÃO
Maria Clara Sousa Mendes - Assistência Social Bárbara Andrade Correia da Silva
Maria das Dores Pimentel Nogueira (Polo Débora Cristina de Oliveira Drumond e Souza
Jequitinhonha/UFMG) Fabricio Goulart dos Santos Silva
Mateus de Moraes Sevilha (UFVJM) - Cultura Leandro Augusto Neves
Osias Batista Neto (Locale) - Acessibilidade e Olívia Bittencourt – Coordenadora
Wagner Bottaro (aquarelas do Vale do Jequitinhonha)
Mobilidade
Roberto Luis Monte-Mor (Cedeplar/UFMG) -
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Rede de Cidades
Maria Luiza de Aguiar Marques
Vanessa Lima Caldeira Franceschini (pesquisador
Maria Marta Martins Araújo
visitante/Fapemig) - Educação
Vera Lúcia Voll (PCRH/Fapemig) - Agropecuária

ENTREVISTAS DE CAMPO E OFICINAS PARTICIPATIVAS


Equipe de Apoio da FJP
Alessandra Antônia Rodrigues de Almeida
Fernando Antônio Rodrigues
Júnia Alves de Lima
Lívia Cristina Rosa Cruz
Luzia Oliva Barros
Marco Antônio Peroni

Consultoria de apoio às oficinas


Associação Imagem Comunitária (AIC)
Maria Alice de Lima Gomes Nogueira
(Polo Jequitinhonha/UFMG)

Logística e realização dos eventos


Mundo das Ideias (MI3)

ESTAGIÁRIOS
Andrei Gomes Santana Pereira
Arthur Braga Góes
Camila Costa Cardeal - bolsista/CNPq
Danielle Ribeiro Oliveira Diniz
Elise Hungaro da Cunha
Franciane Carla de Almeida (UFLA)
Isabela Prímola Magalhães Zenatelli Campos
Izabelle Maria Santos Cária
Joyce Ribeiro Colares
Larissa Pereira
Luca Gonzalez Pereira
Luiza Castellani
Mariana Marcatto do Carmo
Tania Mara de Faria Santos
Vinicius Eustáquio Evangelista

APOIO ADMINISTRATIVO
Clédia Barreto de almeida
Fernando Antônio Rodrigues de Paula
Graciela Teixeira Gonzalez
João Maria de Lima
Júlia Mara Perdigão Alves
Kellem Cristina Rodrigues
Thayna Guedes Nunes
8 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

Apresentação
Introdução 9

É com grande satisfação que a Fundação João Pinheiro (FJP), em parceria com a Companhia Energética
de Minas Gerais (CEMIG), torna pública esta obra, em seis volumes elaborados ao longo do processo de
construção do Plano de Desenvolvimento para o Vale do Jequitinhonha (PDVJ). O objetivo do PDVJ
é orientar e promover o desenvolvimento integrado e sustentável dos territórios do Alto e do Médio/Baixo
Jequitinhonha. Visa ainda contribuir enquanto instrumento técnico de planejamento, para a elaboração
de planos de desenvolvimento para os demais territórios do estado de Minas Gerais, criados em 2015.

A informação e o conhecimento aprofundados da realidade são fundamentais para a efetividade das


políticas públicas, a transparência das intervenções, a inclusão e o controle social. E é a partir dessa
importante premissa que se decidiu pela publicação integral e cuidadosa dos estudos técnicos e docu-
mentos do PDVJ, facilitando, assim, a sua consulta e pesquisa por parte dos gestores públicos estaduais
e municipais, dos atores locais, dos pesquisadores e da população em geral.

A construção do PDVJ envolveu um grande número de pesquisadores da FJP e de especialistas externos


e contou com a participação da população, em consonância com o processo de mobilização empreen-
dido por meio dos Fóruns Regionais realizados pelo Governo do Estado em 2015. Foi elaborado com
base nas orientações elencadas no Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI 20I6-2017),
especialmente, no tocante à implantação de um novo modelo de desenvolvimento para Minas Gerais,
no qual o crescimento caminha juntamente com a redução das desigualdades sociais, maior equilíbrio
regional e no aprofundamento da democracia. (PMDI, 2015-2027).

Vencida, contudo, esta primeira etapa, cabe, agora, garantir que as ações aqui propostas sejam imple-
mentadas, o que só será possível a partir da criação de um arranjo de Governança para este PDJV, o que
pressupõe um protagonismo, ainda maior, do Governo Estadual, por meio da Secretaria Extraordinária
de Desenvolvimento Integrado e Fóruns Regionais (SEEDIF) e, no âmbito local, dos Colegiados Execu-
tivos dos Fóruns Regionais, com a participação efetiva dos gestores e atores locais.

Roberto do Nascimento Rodrigues


Presidente
Fundação João Pinheiro
10 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

Volume 1

Estratégias e
ações
Introdução 11

Este volume apresenta o Plano de Desenvolvimento para o Vale do Jequitinhonha (PDVJ), com as
estratégias e ações que poderão nortear a atuação do Governo do Estado de Minas Gerais com vistas ao
desenvolvimento dos territórios do Alto Jequitinhonha e do Médio/Baixo Jequitinhonha, constituídos
por 25 e 34 municípios, respectivamente.

O volume está organizado em cinco seções. A primeira constitui a introdução, na qual se define a con-
cepção de desenvolvimento que orientou o PDVJ. A segunda contém a metodologia adotada na cons-
trução do Plano. A terceira – caracterização do território – sintetiza os estudos detalhados nos volumes
3, 4 e 5, que apresentam o diagnóstico propositivo. A quarta seção destaca os eixos de intervenção,
definidos com base na análise das potencialidades e fragilidades dos dois territórios destacadas no
Diagnóstico Propositivo e contrapostas com as oportunidades e ameaças externas que podem alterar
o ambiente de sua implementação. Para cada eixo são apresentadas as estratégias e ações prioritárias,
que estão disponíveis de forma completa no apêndice deste volume. A quinta seção aborda a impor-
tância da definição de um arranjo institucional de governança capaz de propiciar a sustentabilidade
política do PDVJ.
12 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

Sumário
1. Introdução .............................................................................................................................................................................................................. 15
2. Considerações metodológicas ..................................................................................................................................................... 21
3. Caracterização dos territórios ...................................................................................................................................................... 25
3.1 Histórico ..................................................................................................................................................................................................................... 25
3.2 Recursos naturais ................................................................................................................................................................................................ 28
3.3 Demografia .............................................................................................................................................................................................................. 33
3.4 Desenvolvimento produtivo ..................................................................................................................................................................... 36
3.5 Desenvolvimento social ................................................................................................................................................................................ 40
3.5.1 Educação ...............................................................................................................................................................................................................40
3.5.2 Saúde .......................................................................................................................................................................................................................40
3.5.3 Assistência social ..............................................................................................................................................................................................42
3.5.4 Saneamento ........................................................................................................................................................................................................44
3.5.5 Habitação ..............................................................................................................................................................................................................45
3.5.6 Cultura ....................................................................................................................................................................................................................46
3.5.7 Segurança pública ..........................................................................................................................................................................................48
3.6 Infraestrutura econômica ............................................................................................................................................................................ 49
3.6.1 Rede de cidades ...............................................................................................................................................................................................49
3.6.2 Estrutura viária e de transportes .............................................................................................................................................................52
3.6.3 Energia ....................................................................................................................................................................................................................54
3.6.4 Tecnologias da informação e comunicação ����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������55
3.7 Gestão municipal ................................................................................................................................................................................................ 56
4. Eixos de intervenção, estratégias e ações ������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 61
4.1 Estratégias e ações prioritárias: eixo Recursos Hídricos ����������������������������������������������������������������������������������������������������� 64
4.2 Estratégias e ações prioritárias: eixo Desenvolvimento Produtivo ��������������������������������������������������������������������������� 65
4.3 Estratégias e ações prioritárias: eixo Desenvolvimento Social ������������������������������������������������������������������������������������ 71
4.4 Estratégias e ações prioritárias: eixo Infraestrutura Econômica ���������������������������������������������������������������������������������� 78
4.5 Estratégias e ações prioritárias: eixo Gestão Municipal ����������������������������������������������������������������������������������������������������� 82
5. Governança ........................................................................................................................................................................................................... 85
5.1 Base conceitual e trajetória política .................................................................................................................................................... 85
5.1.1 Trajetória da política de governança territorial ����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������86
5.2 Dimensão institucional do planejamento e da governança territorial .................................................................87
6. Referências ............................................................................................................................................................................................................. 91
7. Apêndice ................................................................................................................................................................................................................... 95
7.1 Eixo Recursos Hídricos .................................................................................................................................................................................... 95
7.2 Eixo Desenvolvimento Produtivo .......................................................................................................................................................... 97
7.3 Eixo Desenvolvimento Social ................................................................................................................................................................. 103
7.4 Eixo Infraestrutura Econômica .............................................................................................................................................................. 116
7.5 Eixo Gestão Municipal ................................................................................................................................................................................. 120
14 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
Introdução 15

1
Introdução

O objetivo deste Plano de Desenvolvimento caráter múlti e interdimensional, incluindo não


para o Vale do Jequitinhonha (PDVJ) é definir apenas o crescimento econômico, mas também
um conjunto de estratégias e ações que possa a melhoria das condições de vida, a preservação
nortear a atuação do Governo do Estado de do meio ambiente e a redução das desigual-
Minas Gerais com vistas ao desenvolvimento dades existentes.
dos territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequiti-
nhonha. Insere-se em um dos objetivos prioritá- A redução das desigualdades regionais constitui
rios do governo do Estado de Minas Gerais, o de um desafio importante. Devido a processos his-
reduzir as desigualdades regionais por meio de tóricos, algumas regiões passam a concentrar a
programas descentralizados e participativos. atividade econômica, enquanto outras sofrem
com a escassez de recursos e a falta de requisitos
Na medida em que estratégias distintas afetam mínimos, incluindo mão de obra qualificada,
diferentemente os diversos grupos sociais, foi infraestrutura e serviços essenciais. A questão se
necessário definir, em primeiro lugar, que tipo de agrava porque as diferenças tendem a se inten-
desenvolvimento se pretende promover nos ter- sificar, fortalecendo as vantagens e as desvanta-
ritórios do Jequitinhonha. Na linha de Amartya gens locacionais. As deficiências poderiam ser
Sen (2000), o desenvolvimento é visto como supridas por meio de investimentos em infraes-
um processo capaz de garantir aos indivíduos trutura econômica e social, mas isso tende a ser
certos direitos que são considerados indissociá- dificultado pelo fato de as regiões mais pobres
veis da condição de ser humano, entre os quais terem menos recursos e capital político.
o direito à alimentação, à moradia, à educação,
à saúde e ao trabalho. Nesse sentido, deve ser Planejar o desenvolvimento significa a priori-
capaz de assegurar aos indivíduos condições zação de estratégias, programas e ações, o que
para que façam as suas escolhas, propiciando as requer estudos capazes de identificar potencia-
capacidades que os qualifiquem para a obtenção lidades, fragilidades e ameaças. Exige também
daqueles direitos. Nesse processo, a renda é um um processo participativo, condição para um
meio; o fim é uma vida digna, em que o indivíduo planejamento que permita contemplar as neces-
é livre para fazer as escolhas e se realizar como sidades e demandas de diferentes grupos sociais.
ser humano. O desenvolvimento tem assim um Práticas de planejamento voltadas a reduzir as
16 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

desigualdades regionais foram adotadas pelo sua sustentabilidade. Nesse sentido, reitera-se
Governo de Minas Gerais, nos anos 1970, em que as técnicas de planejamento em geral vêm
ações centradas em incentivos fiscais e obras de avançando na incorporação de práticas participa-
infraestrutura, visando atrair investimentos para tivas, com a incorporação de consultas, oficinas e
as regiões mais carentes. Acreditava-se que esses workshops. No tocante à descentralização, desta-
investimentos seriam capazes de desencadear ca-se o fortalecimento das concepções de desen-
a transformação econômica. Mostraram-se, no volvimento local, que enfatiza o papel dos atores
entanto, duplamente decepcionantes. Com rarís- locais na formação de redes e na identificação
simas exceções, falharam em atrair empresas. das potencialidades (BRANDÃO, 2007).
Nos casos em que os investimentos vieram,
geraram-se economias de enclave, marcadas Os avanços recentes das experiências de plane-
pela frágil integração com a economia local e jamento territorial no Brasil também devem ser
pela baixa capacidade de geração de renda e de registrados. Forma intermediária entre o plane-
induzir ao desenvolvimento. jamento estadual e o municipal, o planejamento
territorial tem dois objetivos principais: contribuir
Os dois territórios do Jequitinhonha foram objeto para a melhor articulação entre as políticas/pro-
de grandes projetos de transformação centrados gramas existentes, minimizando a sobreposição
na exploração de recursos naturais, incluindo de ações, e fortalecer a capacidade de elencar
eucaliptais, mineração e a construção de bar- projetos e ações em sintonia com as demandas e
ragens. Contaram com baixíssima (ou inexis- visões da sociedade.
tente) participação da população local e foram
­incapazes de reverter os baixos indicadores eco- Tais avanços tiveram origem na inclusão, pelo
nômicos e sociais (Ribeiro et al., 2013b). A imple- Programa de Fortalecimento da Agricultura
mentação de grandes plantações de eucalipto Familiar (PRONAF) linha Infraestrutura e Ser-
merece menção. As terras comuns, de uso dos viços Municipais, no final dos anos 1990 e
camponeses, foram privatizadas e cedidas para início da década de 2000, de projetos e investi-
grandes empresas siderúrgicas e madeireiras. mentos intermunicipais, criando a necessidade
As comunidades perderam o acesso que tinham de instâncias que reunissem representantes
a lenha, frutos e áreas de pastagem. Ao baixo dos municípios. Na sequência, houve a criação
impacto econômico, em termos de emprego e da Secretaria de Desenvolvimento Territo-
renda, somaram-se os efeitos negativos sobre rial, dentro do Ministério de Desenvolvimento
o meio ambiente (CALIXTO; RIBEIRO; GALIZONI; Agrário, recentemente extinto. A partir dos
MACEDO, 2013). programas do Governo Federal, com destaque
para os Territórios da Cidadania, foram cons-
Diferentemente do planejamento dos anos 1970, tituídos colegiados voltados à discussão e ao
tecnocrático, centralizado, traçado de cima para apontamento de ações direcionadas ao desen-
baixo, o PDVJ busca se inserir em uma concepção volvimento dos territórios (FAVARETO, 2010;
de planejamento que enfatiza a importância da ­D ELGADO; GRISA, 2014).
participação da sociedade e da descentralização.
A participação é essencial para apontar direções A análise desses programas mostra que um resul-
que favoreçam um desenvolvimento inclusivo, tado muito positivo foi o maior engajamento e a
para que o plano deixe de ser do governo para se participação da sociedade civil nessas instâncias
tornar da e para a sociedade, favorecendo assim intermunicipais. Prioridades e desafios ligados
Introdução 17

ao território passaram a ser melhor debatidos, renda da população é dependente do emprego


indicando direções para o seu desenvolvimento público e dos programas de transferência de
(DELGADO; GRISA, 2014). Entre as limitações, renda. Por outro lado, destaca-se, em ambos os
destacam-se a composição dos colegiados, territórios, a relevância da agricultura familiar,
muito centrada em representantes da agricul- responsável por grande parte dos empregos
tura familiar, falhando em incluir representantes gerados na agropecuária. Caracteriza-se, no
do empresariado local, das comunidades indí- meio rural, uma sociedade marcada por forte
genas e quilombolas e dos grupos mais carentes. base comunitária, em que os costumes desem-
A composição refletiu-se no escopo das discus- penham papel vital dentro da vida comunal e
sões travadas nesses espaços, muito voltadas a para a organização da produção. Parcela sig-
projetos de infraestrutura e aos desafios da agro- nificativa da produção é para autoconsumo e
pecuária familiar, deixando de incorporar ques- garante uma dieta bem balanceada e diversifi-
tões relacionadas à educação, saúde, segurança cada, superior à da maioria da população urbana
pública, ciência, turismo, indústria e ao comércio. brasileira (RIBEIRO; GALIZONI, 2013).
Outra dificuldade relacionou-se à incapacidade
institucional para alocar recursos, dada a falta de A economia da região foi positivamente afetada
um marco jurídico que autorizasse a aprovação e pelos programas do Governo Federal. Programas
a execução dos projetos. como a Previdência Rural, o Benefício de Pres-
tação Continuada e o Bolsa Família monetizaram
A mencionada dificuldade em incorporar outros a economia e tiveram impacto na redução da
temas aponta para um ponto decisivo: a neces- pobreza extrema e no aumento da qualidade
sidade de uma nova concepção de desenvolvi- de vida. Esses programas são parte essencial
mento rural, crítica para o desenvolvimento que se da economia da região e precisam ser conser-
quer promover nos territórios do Jequitinhonha. vados e aperfeiçoados. O mesmo vale para a
O rural precisa ser repensado e dissociado do pequena agricultura e para a produção para o
agrícola, e, dessa forma, o planejamento de seu autoconsumo, componente essencial do tipo de
desenvolvimento deve envolver um número desenvolvimento a se promover nos territórios
maior de atores e incluir políticas complemen- do Jequitinhonha.
tares em outras áreas. São críticas nesse processo
tanto a oferta de serviços de qualidade como a Por fim, uma direção muito positiva a ser salien-
expansão da conectividade física e virtual, direções tada é a ênfase que vem sendo dada a estra-
que se encaixam em uma nova configuração do tégias participativas e descentralizadas, bem
espaço, caracterizada pela maior mobilidade e sintetizadas pelos Fóruns Regionais. Apontam
pelas mudanças no mundo do trabalho (FAVA- diretamente para a questão da governança do
RETO, 2010; DELGADO; GRISA, 2014). plano em questão. Acredita-se, nesse sentido,
que experiências de desenvolvimento territorial
As noções de planejamento territorial e desen- possam contribuir para se pensar em estruturas
volvimento rural constituíram um pano de fundo de governança que contribuam para a minimi-
para a definição do tipo de desenvolvimento a zação da sobreposição de ações e para a capa-
ser promovido nos territórios do Jequitinhonha. cidade de coordenação. Agências territoriais,
Esses territórios apresentam baixo Produto capazes de reunir representantes de agências
Interno Bruto (PIB) per capita e apresentam públicas e da sociedade civil, podem contribuir
precária infraestrutura. Parcela significativa da para esse esforço.
18 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

Tomando por base o conceito de desenvolvi-


mento adotado, as potencialidades e fragili-
dades do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha,
o PDVJ estabeleceu cinco eixos de intervenção
para esses territórios: Recursos Hídricos, Desen-
volvimento Produtivo, Desenvolvimento Social,
Infraestrutura Econômica e Gestão Municipal.
Esses eixos contemplam um conjunto de estra-
tégias e ações com potencial de desencadear as
mudanças necessárias para promover o desen-
volvimento dos territórios. Vale ressaltar que as
ações propostas incorporaram as contribuições
da população feitas nos Fóruns Regionais pro-
movidos pelo Governo do Estado e nas oficinas
que aconteceram nos territórios, já no âmbito
do PDVJ.

O PDVJ está organizado em mais quatro seções,


além desta introdução. A segunda especifica os
procedimentos metodológicos adotados para
a sua elaboração. A terceira faz uma caracte-
rização dos territórios em termos de sua evo-
lução histórica, dos recursos naturais e fatores
de pressão, do perfil demográfico, do desenvol-
vimento econômico e social, da infraestrutura
econômica e da Gestão Municipal, constituindo
uma síntese de dois produtos que compõem o
PDVJ e que já foram entregues à Cemig: a Matriz
das Atividades Econômicas Principais e o Diag-
nóstico Propositivo. A quarta seção apresenta os
eixos de intervenção propostos, suas estraté-
gias e ações prioritárias com vistas a promover
o desenvolvimento dos territórios do Jequiti-
nhonha. O conjunto completo das estratégias e
ações (prioritárias e complementares) consta do
Apêndice. Por fim, na quinta seção é abordada a
importância de se construir um arranjo institu-
cional de governança para o PDVJ.
Introdução 19
20 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
Considerações metodológicas 21

2
Considerações
metodológicas

O Plano de Desenvolvimento para o Vale do A construção desse diagnóstico envolveu: a) pes-


Jequitinhonha (PDVJ) foi desenvolvido em seis quisa bibliográfica e documental, que incluiu o
etapas não estanques, sendo a primeira a reali- levantamento das demandas dos Fóruns Regio-
zação de seminários com especialistas em plane- nais realizados pelo Governo Estadual em 2015,
jamento e desenvolvimento e atores com longa dos planos de intervenção mais recentes nos
experiência de trabalho na região. As discussões territórios do Jequitinhonha e de estudos sobre
realizadas contribuíram para a delimitação dos esses territórios; b) coleta de dados secundários;
conceitos e das diretrizes que deveriam orientar a c) entrevistas semiestruturadas com informantes-
elaboração do PDVJ, bem como da metodologia -chave em órgãos da administração direta e indi-
a ser adotada. reta estadual; d) pesquisa de campo na região,
que implicou a realização de entrevistas com
A segunda etapa foi o levantamento das ativi- atores governamentais e sociais locais e repre-
dades econômicas principais dos territórios do sentantes da sociedade civil organizada.
Jequitinhonha, aquelas com maiores vantagens
comparativas e que poderiam vir a se consti- A quarta etapa da elaboração do PDVJ foi a rea-
tuir nas forças motoras do desenvolvimento. lização de oficinas, de modo a apresentar e dis-
A terceira etapa foi a realização do Diagnóstico cutir com a população e com representantes dos
Propositivo, cujo objetivo foi levantar as poten- governos locais as ações propostas no Diagnóstico
cialidades e vulnerabilidades dos territórios nas Propositivo. Essas oficinas aconteceram em seis dos
seguintes grandes áreas, inspiradas nos eixos oito microterritórios do Jequitinhonha, e incluíram
do Plano Mineiro de Desenvolvimento Inte- reuniões por grupos temáticos e uma grande ple-
grado (PMDI) 2016-2027: Estrutura Produtiva e nária em que as propostas de todas as áreas foram
Meio Ambiente, Dimensão Social, Infraestrutura, apresentadas e discutidas em conjunto. Para a sen-
Logística e Finanças Municipais (MINAS GERAIS, sibilização e a mobilização das comunidades locais
2015c). Compôs esse diagnóstico um conjunto em torno do PDVJ, a FJP contou com o apoio de
de estratégias e ações que foram apresentadas e grupo especializado e com vasta experiência na
discutidas com atores governamentais e sociais região, a Associação Imagem Comunitária (AIC).
nos territórios do Jequitinhonha, no âmbito das As contribuições foram relevantes no sentido de
oficinas participativas. completar e afinar as propostas apresentadas, sem
22 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

nenhuma alteração substantiva, o que demons- reça a articulação entre os diversos atores sociais
trou a validade delas. A forma de organização das e políticos envolvidos na sua implementação, de
oficinas e seus resultados constam do documento modo a possibilitar a construção de consensos e
Relatório Técnico sobre as oficinas participativas, a regulação de conflitos.
que constituiu um dos produtos entregues à
CEMIG, em março de 2017.

Na quinta etapa foram definidos, a partir da con-


traposição das potencialidades, fragilidades e
oportunidades dos territórios, os cinco eixos de
intervenção, assim como os respectivos subeixos:

• Eixo (1): Recursos Hídricos;

• Eixo (2): Desenvolvimento Produtivo (subei-


xos: Agropecuária, Agroindústria, Indústria,
Mineração e Turismo);

• Eixo (3): Desenvolvimento Social (subeixos:


Educação, Saúde, Assistência Social, Saneamen-
to, Habitação, Cultura e Segurança Pública);

• Eixo (4): Infraestrutura Econômica (subeixos:


Rede de Cidades, Estrutura viária e de trans-
portes, Energia, Telecomunicações);

• Eixo (5): Gestão Municipal.

Para cada eixo, procurou-se elencar as ações prio-


ritárias, capazes de enfrentar as questões mais
urgentes dos territórios nas diversas áreas. Vale
destacar que muitas das ações propostas já estão
contempladas em programas dos Governos
Federal, Estadual e Municipal. Nesse caso, o
desafio é garantir sua implementação nos territó-
rios do Jequitinhonha.

Por fim, na medida em que o êxito de uma inter-


venção depende, entre outros fatores, da capa-
cidade de coordenação e das negociações que
aumentem sua eficácia, na sexta etapa do PDVJ
buscou-se salientar a importância de se construir
um arranjo institucional de governança que favo-
Considerações metodológicas 23
24 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
Caracterização dos territórios 25

3
Caracterização
dos territórios

Esta seção apresenta uma síntese do diagnós- Destacavam-se a vigência de pequenas u ­ nida­des
tico propositivo (disponíveis nos volumes 3, 4 de produção, em geral de baixa produtividade, e
e 5), que fundamentou a definição das estraté- a relativamente pouco concentrada distribuição
gias e ações propostas pelo PDVJ (citar docu- das terras. As áreas de chapadas, ainda menos
mento – importante indicar para o leitor que férteis, tornaram-se áreas comuns de criação
há um documento mais detalhado à disposição de gado e coleta de frutas, lenha, plantas e
para consulta). Está organizada nos seguintes produtos medicinais. As regras comunitárias
temas: Histórico, Recursos Naturais; Demo- favoreciam o compartilhamento e o manejo e
grafia; Desenvolvimento Produtivo; Desenvol- evitavam o desperdício. Dessa forma, o acesso
vimento Social; Infraestrutura Econômica e às áreas em comum complementou por muito
Gestão Municipal. tempo a subsistência das famílias (RIBEIRO et
al., 2013). Em face à baixa fertilidade da terra,
a migração tornou-se importante caracterís-
3.1 tica da organização econômica: o trabalho em
HISTÓRICO outras regiões, principalmente em São Paulo,
foi essencial como fonte de renda, parte da qual
Os territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequiti- seria reinvestida na região.
nhonha têm características bem diferentes, rela-
cionadas a sua origem histórica. O Alto Jequiti- Já a história do Médio/Baixo Jequitinhonha tem
nhonha teve sua ocupação inicialmente motivada origem, como destacado, com o declínio das
pela mineração de ouro e diamante, cujo auge se lavras, no início do século XIX, e o deslocamento
deu no século XVIII. No século XIX, a mineração para as áreas de mata atlântica, recebendo
perdeu importância, levando proprietários e pro- inclusive incentivos por parte da Corte no Rio
dutores a descer o Rio Jequitinhonha na direção de Janeiro. Como apontam Souza e Nogueira
da mata atlântica. Desde então, a agropecuária (2011), a região da confluência entre os rios Ara-
ganhou proeminência no Alto Jequitinhonha, çuaí e Jequitinhonha foi partilhada em sesma-
com forte participação da agricultura de base rias; grande parte da ocupação se deu com a luta
familiar e de subsistência, praticada principal- contra os índios e na tentativa de controlar o con-
mente nas margens dos rios e córregos. trabando de diamantes: cidades como Almenara,
26 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

Jequitinhonha e Salto da Divisa tiveram origem A produção do eucalipto gerou empregos apenas
como destacamentos militares. em um primeiro momento, quando cresceu o tra-
balho de cata de raízes e formação de viveiros. Esses
A região especializou-se na pecuária, tendo sido empregos logo cessaram: segundo Calixto et al.
muito marcada pelo latifúndio e pelo mando- (2013), o número de empregos em 1995 voltava a
nismo. Ficou, por muito tempo, isolada, tendo a ati- ser similar ao de 1975; em 1996, eram necessários
vidade pecuária se beneficiado, ao final do século 89,44 hectares de plantação de eucalipto para gerar
XIX, pela expansão do mercado da Bahia, conquis- um emprego. Assim, ocupando 28,11% da área rural,
tando posteriormente os mercados do Recôncavo a silvicultura, concentrada na produção de eucalipto
Baiano, Norte de Minas Gerais e Rio de Janeiro respondia por apenas 3,78% do total das ocupa-
(RIBEIRO; GALIZONI, 2013). Apesar de predominar ções. Também baixo era o impacto sobre a renda e
a grande fazenda, havia também pequenos produ- a arrecadação, uma vez que apenas 3% do valor da
tores, que avançavam em direção à fronteira agrí- produção (em carvão ou toras de madeiras) era arre-
cola. A ocupação contava também com moradores cadado como ICMS e apenas 0,75% era revertido
agregados e por conta própria, incluindo meeiros. aos municípios de origem. Ao lado do pífio impacto
econômico, encontram-se resultados desastrosos
Ao longo do século XX, tanto o Alto como o sobre a paisagem e o meio ambiente: a paisagem
Médio/Baixo Jequitinhonha se estagnaram eco- foi homogeneizada, a biodiversidade, reduzida, e
nomicamente, pouco se integrando aos polos a pressão sobre os recursos hídricos, ampliada. Pro-
dinâmicos da economia brasileira. Na década vocaram-se erosão dos solos, danos nas áreas de
de 1960, o Governo Estadual criou a Comissão nascente e secagem de lagoas. Além disso, o trans-
de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha porte de madeira e carvão, em grandes carretas, vem
(Codevale), que, no entanto, não apresentou os provocando danos nas estradas. Em síntese, a intro-
resultados esperados. Posteriormente, a região dução da monocultura do eucalipto bem exempli-
foi objeto de grandes projetos de transformação fica os efeitos negativos que podem ser causados por
centrados na exploração de recursos naturais, processos de planejamento tecnocráticos, pouco ali-
incluindo eucaliptais, mineração e a construção nhados à realidade local. Normalmente, tem efeitos
de barragens. Contavam com pouca participação concentradores, favorecendo o grande capital em
da população local e foram incapazes de reverter prejuízo da população local (CALIXTO et al., 2013).
os baixos indicadores econômicos e sociais
(Ribeiro; GALIZONI, 2013). A década de 1970 foi também marcada pela
intensificação da migração, favorecida pelo
A implementação de grandes plantações de euca- rápido crescimento do país e pela ampla oferta
lipto merece destaque. As terras comuns, de uso de postos com carteira assinada na construção
dos camponeses, foram privatizadas e cedidas a civil e na indústria, principalmente em São
grandes empresas siderúrgicas e madeireiras. As Paulo (Ribeiro; Galizoni, 2013). Contudo, na
terras foram consideradas “sem uso”, pois desco- década de 1980, o país entrou em crise e os
nheciam-se a realidade local e a respectiva rele- empregos diminuíram. As pessoas voltaram
vância para a população camponesa. O resultado para o meio rural, com a expansão de pequenos
foi o efeito negativo sobre as comunidades, que estabelecimentos familiares. A crise econômica,
perderam o acesso a lenha, frutos e áreas de pas- segundo Ribeiro e Galizoni (2013), foi também
tagens, sofrendo também com a redução da área acompanhada pelo início do enfraquecimento
disponível para a lavoura (CALIXTO et al., 2013). das lideranças mais conservadoras.
Caracterização dos territórios 27

Os anos 1980 foram caracterizados pela busca de de renda para idosos e o Bolsa Família. Como
novas formas para desenvolver a região. Foi uma resultado da dinâmica demográfica, a popu-
década marcada pelo reordenamento político lação dos territórios do Jequitinhonha é mar-
no país, com o fortalecimento da sociedade civil cada por alta percentagem de idosos. Assim,
e a redemocratização. As comunidades rurais aproximadamente, 12,5% da população rural do
se fortaleceram e o campesinato se afirmou no Vale do Jequitinhonha recebe aposentadoria ou
cenário político. Aproximaram-se e aprenderam Benefício de Prestação Continuada, sendo que
com as Comunidades Eclesiais de Base e com um terço das famílias tem ao menos um apo-
outros movimentos sociais, ampliando a capa- sentado, números que bem ilustram impactos
cidade de dialogar e de participar de conse- dessas políticas sobre a economia local (Ribeiro
lhos e de outras instâncias. Intensificaram, nas et al., 2014). Por sua vez, o Bolsa Família tem
décadas seguintes, a capacidade de influenciar também grande abrangência. A percentagem
as políticas públicas e de se mobilizar e resistir a de população atendida pelo programa em
afrontas como aqueles ligadas à expropriação de 2010, por exemplo, foi de 44,2%; em Araçuaí,
terras (RIBEIRO; G
­ ALIZONI, 2013). 45,7% em Turmalina; e 41,6% em Minas Novas (a
média para MG foi de 23,5%). Na área rural, esti-
Nesse contexto, refletindo também o fortale- ma-se que 73% das famílias recebam o benefício
cimento da sociedade civil e outras mudanças (RIBEIRO et al., 2014).
políticas, inseriu-se o forte avanço em programas
públicos e nas políticas sociais, tão importantes Esses programas garantem um afluxo de
para as mudanças verificadas na região. Desta- renda monetária para as áreas rurais, sendo
cam-se inicialmente os programas de estímulo muito importantes para fortalecer a produção
à agricultura familiar, que ganham maior foco e estimular o consumo dos mercados locais,
a partir dos anos 1980, conduzindo à criação incluindo as feiras livres. Contribuem também
e à expansão do Programa de Fortalecimento para o fortalecimento do comércio de bens
da Agricultura Familiar (Pronaf ), em suas várias duráveis. Todo município de 5 mil a 10 mil
modalidades. Nos anos 2000, foram criados habitantes passou a ter uma loja de eletro-
o Programa Nacional de Alimentação Escolar domésticos; automóveis passam a estar pre-
(PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos sentes em 15% e motocicletas em 50% dos
(PAA), entre outros, aos quais se somaram os domicílios pesquisados (Ribeiro et al., 2014).
programas Luz para Todos, Brasil sem Miséria Em síntese, é impossível subestimar o impacto
e Um Milhão de Cisternas. Enfim, programas desses programas, que, ao mesmo tempo em
do Governo colocaram equipamentos e fabri- que aquecem o comércio, dão aos agricultores
quetas comunitárias à disposição das comuni- maior segurança e facilitam o acesso ao cré-
dades rurais, estimulando a produção de farinha dito e às condições para investir. Isso sem dizer
de milho e de mandioca, polvilho, mel, rapadura daquelas famílias que, em situação de seca,
e doces, entre outros produtos com capaci- têm no benefício a única fonte de renda e meio
dade de ampliar a renda do agricultor familiar de sobrevivência.
(RIBEIRO et al., 2013b).
As políticas sociais somam-se às condições de
As políticas públicas de maior impacto foram produção para o autoconsumo e contribuem
as de transferência de renda, principalmente para a melhoria de vida da população nas áreas
os programas de aposentadoria e transferência rurais. Essas melhorias se refletem na dieta
28 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

mais balanceada, na aparência das crianças, 3.2


dos dentes dos adultos e na saúde da mulher RECURSOS NATURAIS
(Ribeiro et al., 2014). Há também melhorias
nas moradias e no conforto das famílias. Tudo O Vale do Jequitinhonha mineiro localiza-se na
isso aponta para a necessidade de preservar e região Nordeste de Minas Gerais e ocupa uma
aperfeiçoar esses programas, decisivos para área de 65.850 km². É composto por três bacias
a mudança social e econômica que marcou os hidrográficas: do Alto Rio Jequitinhonha, do Rio
dois territórios nas últimas décadas. É sob essa Araçuaí e do Médio e Baixo Rio Jequitinhonha,
realidade, com seus inúmeros desafios, que se conforme destacado no mapa 3.1. Os territórios
procura debruçar e priorizar estratégias para do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha com-
o desenvolvimento. Para isso é essencial não preendem uma parte desse vale, também desta-
perder de vista a trajetória histórica e as particu- cada no referido mapa.
laridades da região, críticas para se conceber o
modelo de desenvolvimento possível e factível O regime pluviométrico do Vale do Jequitinhonha
para os territórios em questão. é caracterizado pela concentração das ­chuvas en-

Mapa 3.1: Área de estudo e o Vale do Jequitinhonha

Bacia hidrográfica do Alto Rio Jequitinhonha


Bacia hidrográfica do Araçuaí
Bacia hidrográfica do Médio/Baixo Rio Jequitinhonha
Limite dos territórios Alto e Médio/Baixo Jequitinhonha

Fonte: IGAM (2013).


Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Caracterização dos territórios 29

Gráfico 3.1: Precipitação média mensal (mm) – Gráfico 3.2: Precipitação média mensal (mm) –
Alto Jequitinhonha Médio/Baixo Jequitinhonha

250,0 250,0 250,0 250,0

200,0 200,0 200,0 200,0


Precipitação (mm)

Precipitação (mm)

Precipitação (mm)

Precipitação (mm)
150,0 150,0 150,0 150,0

100,0 100,0 100,0 100,0

50,0 50,0 50,0 50,0

0,0 0,0 0,0 0,0


Jan Fev Mar
Jan Abr
Fev Mai
Mar Jun
Abr Jul
Mai Ago
Jun Set
Jul Out
Ago Nov
Set Dez
Out Nov Dez Jan Fev Mar
Jan Abr
Fev Mai
Mar Jun
Abr Jul
Mai Ago
Jun Set
Jul Out
Ago Nov
Set Dez
Out Nov Dez

Fonte: IGAM (2013). Fonte: IGAM (2013).


Elaboração: Fundação João Pinheiro. Elaboração: Fundação João Pinheiro.

tre os meses de outubro a março, o que distingue Diferentemente da distribuição de chuvas, a


duas estações climáticas bem definidas: a chuvo- variação espacial das temperaturas médias
sa (verão) e a seca (inverno). A variação sazonal anuais no Vale é pequena, entre 21°C e 24°C.
das chuvas no Alto e no Médio/Baixo Jequiti- O relevo também influencia a temperatura, regis-
nhonha se assemelha, mas o Alto Jequitinhonha trando os fundos de vales temperatura mais alta
apresenta um volume total de chuvas maior que que as regiões serranas (FERREIRA; SILVA, 2012).
o Médio/Baixo Jequitinhonha (gráficos 3.1 e 3.2 e
mapa 3.2). Com temperaturas médias anuais elevadas, favo-
recendo a alta evapotranspiração potencial e pre-
O relevo e a distância do litoral também influem
cipitação pluviométrica escassa na maior parte do
na distribuição espacial das chuvas. O Alto
ano, o clima do Vale do Jequitinhonha pode ser
Jequitinhonha, por estar situado na Serra do
caracterizado como subúmido seco, com índice
Espinhaço, possui altitudes mais elevadas que
de aridez entre 0,51 e 0,65 (­THORNTHWAITE,
contribuem para a maior ocorrência de chuvas
1948). Esse índice de aridez qualifica os territórios
orográficas. Sua pluviosidade média anual pode
estudados como áreas suscetíveis à desertificação
chegar a 1.400mm. A porção leste do Médio/
(mapa 3.3).1 Essas tendências à desertificação são
Baixo Jequitinhonha está mais próxima do litoral
intensificadas pelos impactos antrópicos, cau-
e o ar úmido que chega do Oceano Atlântico
sados, entre outros fatores, pela redução das
favorece a pluviosidade. A precipitação média
áreas de cobertura vegetal.
anual varia de 950mm a 1.200mm. Já a porção
oeste do Médio/Baixo Jequitinhonha, mais dis-
1
O Índice de Aridez, utilizado pela Convenção das Nações
tante do litoral e sem grandes altitudes, apre- Unidas de Combate à Desertificação, corresponde à relação
senta precipitação média anual entre 800mm e entre precipitação pluviométrica e evapotranspiração poten-
cial; estabelece classes climáticas e indica que as áreas com
950mm. É a região mais seca dos dois territórios
índices menores que 0,65 são afetadas ou suscetíveis a pro-
(mapa 3.2). cessos de desertificação.
30 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

Mapa 3.2: Precipitação média anual - Territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha

Precipitação média anual


1.400 mm
1.250 mm
1.100 mm
950 mm
800 mm

Fonte: MMA (1960-1990).


Elaboração: Fundação João Pinheiro.

Mapa 3.3: Municípios mineiros suscetíveis a processos de desertificação, com destaque para os
territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha

Semiárido
Subúmido seco
Áreas do entorno

Alto Jequitinhonha e
Médio/Baixo Jequitinhonha

Fonte: MMA (2007).


Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Caracterização dosIntrodução
territórios 31

A variação da distribuição de chuva e a diver- baixa fertilidade. Nas encostas íngremes das cha-
sidade do relevo na região, que vai da Serra padas, no entanto, predominam solos de maior
do Espinhaço às chapadas, fundo de vales fertilidade (SILVA, 2014). No território do Médio/
e planícies aluviais, levam a diferentes con- Baixo Jequitinhonha, há a combinação tanto de
dições climáticas e de solo e, consequente- solos de baixa como de alta fertilidade, os últimos
mente, a variadas formações vegetais. A cober- localizados geograficamente nas proximidades
tura vegetal dos territórios do Jequitinhonha de cursos hídricos.
pode ser classificada em três grandes grupos,
com suas respectivas fitofisionomias: cerrado O regime hídrico do solo nos territórios do Jequi-
(campo, campo cerrado, cerrado strictu sensu), tinhonha apresenta, em sua maior parte, a ocor-
mata atlântica (campo de altitude, floresta rência de menos de três meses secos por ano.
estacional semidecidual e floresta ombrófila) e
caatinga (mapa 3.4). A vulnerabilidade à degradação estrutural do
solo é alta, sendo mais perceptível no Médio/
Quanto aos solos, na região de chapadas do Alto Baixo e menor em partes do território do Alto
Jequitinhonha, predominam os solos de caráter Jequitinhonha, onde, no entanto, a vulnerabili-
ácido, o que os enquadra em classes de média e dade à erosão é maior.

Mapa 3.4: Fisionomias vegetais nos territórios do Alto Jequitinhonha e do Médio/Baixo Jequitinhonha

Caatinga
Cerrado
Campo
Campos de Altitude
Campo Cerrado
Floresta Estacional Semidecidual
Floresta Ombrófila

IBGE (1992).
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
32 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

Os territórios do Jequitinhonha, por serem terras comunais. Tais áreas costumavam ser uti-
regiões de contato e transição entre diferentes lizadas pelas famílias rurais para extração de
biomas, possuem grande diversidade de espé- plantas e frutos nativos, insumos e criação de
cies, mas a expansão do agronegócio, as pasta- gado. Sua ocupação pela monocultura impôs o
gens plantadas, a produção de carvão vegetal, uso mais intenso das áreas das grotas, afetando
a mineração e as crescentes monoculturas de a vegetação e as nascentes. As famílias expro-
eucalipto e pínus são ameaças a essa biodiver- priadas, como consequência, depararam com
sidade, em razão de desmatamentos, contami- a perda de biodiversidade, a contaminação dos
nação e assoreamento de nascentes, córregos e solos e águas por agrotóxicos e o rebaixamento
rios. Entre os territórios do estado, os do Jequiti- do nível do lençol freático, com o risco de seca de
nhonha lideram o desmatamento do bioma mata nascentes e assoreamento dos recursos hídricos
atlântica. No período 2000-2013, os municípios (FAVERO, 2013; CALIXTO, 2006).2
de Araçuaí, com 8.685 hectares desmatados, e
Ponto dos Volantes, com 5.398 hectares, destaca- No Alto Jequitinhonha, são 226.680 hectares de
ram-se entre os que mais desmataram. eucalipto, equivalentes a 10,9% da área do ter-
ritório, e, no Médio/Baixo, 41.520 hectares, cor-
A remoção da vegetação nativa do cerrado tem respondente a 1,3% do território. Parte dessa
também grande impacto na região, o que se deu monocultura foi desenvolvida em terras devo-
em boa parte devido à ocupação das chapadas lutas, com a vigência de contratos já espirados.
pelas monoculturas de eucalipto e pínus. As cascas Uma relevante direção é a verificação da situação
grossas, folhas coriáceas e raízes tuberosas da desses contratos e a possibilidade de canalização
vegetação do Cerrado lhe propiciam uma grande do uso dessas terras para outras atividades com
capacidade de economia de água, uma vez que a maior retorno social.
chuva pode infiltrar no solo e abastecer o lençol
freático (MAZZETTO; PORTO-GONÇALVES, 2006). O cultivo em grande escala de café e a mineração
O eucalipto, por sua vez, consome mais água e as empresarial têm também gerado impactos e con-
copas de suas árvores causam alta interceptação flitos relacionados ao meio ambiente, e afetado
das chuvas, provocando diminuição considerável os recursos hídricos. No caso do café, destaca-se
do total de chuva que atinge o solo. A evapotrans- a redução do volume de água nos córregos e rios
piração do eucalipto também é maior. Como con- provocada pelas barragens construídas para irri-
sequência, tais características, em face das grandes gação. No caso da mineração, há a contaminação
áreas de plantio, podem resultar em déficit hídrico, dos solos e das águas, a descaracterização dos
empobrecimento do solo e baixa diversidade eco- leitos e das margens dos rios, o assoreamento e o
lógica. As consideráveis perdas hídricas, por sua aumento de turbidez dos cursos de água e o rebai-
vez, comprometem a recarga dos aquíferos que xamento do lençol freático, entre outros efeitos.
abastecem as principais sub-bacias da região.
Além disso, as estradas que percorrem a área dos 2 Se, por um lado, a plantação do eucalipto provoca diversos
impactos sobre o meio ambiente, principalmente sobre o solo
eucaliptais acabam, após as chuvas, carreando
e os recursos hídricos, por outro lado, exerce efeitos benéficos
grande quantidade de material particulado e pro- quanto à fixação de carbono, pois plantas com potencial de
vocando assoreamento de nascentes e erosões. crescimento rápido, como o eucalipto, contribuem para fixar
e assimilar altas taxas de carbono em sua constituição. Dessa
maneira, atuam na regulação do clima local e regional. É pre-
A esses impactos, soma-se a restrição das áreas ciso considerar também que o cultivo do eucalipto e do pínus
de plantio e criação, fruto da expropriação das certamente evitou uma devastação maior de matas nativas.
Caracterização dos territórios 33

Embora os habitantes dos territórios do Jequiti- água, o despejo de resíduos e efluentes sem tra-
nhonha venham se mobilizando no sentido de tamento e o aumento do consumo humano.
evitar ou minimizar alguns desses impactos, o
avanço dessas atividades nas últimas décadas é A questão da água é, portanto, das mais graves
motivo de crescente preocupação em uma região e impacta a população em diferentes dimensões
marcada naturalmente pela baixa disponibilidade (mobilidade, saúde, educação, atividade econô-
e pela alta vulnerabilidade dos recursos hídricos. mica, renda, migração etc.), constituindo-se em
uma das questões mais críticas para o desenvol-
Segundo o Zoneamento Ecológico-econômico do vimento da região. Dessa forma, recursos hídricos
Estado de Minas Gerais (ZEE), publicado em 2008, constituem um eixo de intervenção no PDVJ.
a vulnerabilidade natural das águas superficiais
nos territórios do Jequitinhonha é muito alta ou
alta, à exceção da parte sul do Alto Jequitinhonha,
que apresenta vulnerabilidade média3. O estudo
3.3
DEMOGRAFIA
aponta também uma elevada vulnerabilidade
natural das águas subterrâneas. O risco de con- Em 2010, data do último Censo Demográfico do
taminação dessas águas é muito alto na região Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
que abrange o norte do território do Alto Jequi- 770 mil pessoas viviam nos dois territórios do
tinhonha e o sul do Médio/Baixo, onde há várias Jequitinhonha, representando 3,9% da população
fraturas no solo e alta condutividade elétrica da total de Minas Gerais. Quase dois terços delas
água subterrânea, às quais se somam os efeitos (61,3%) habitavam o Médio/Baixo Jequitinhonha.
das atividades da mineração e da silvicultura A proporção da população vivendo na área rural
era de 38% em ambos os territórios, mais do dobro
Os dados do Instituto Mineiro de Gestão das Águas da verificada para o estado, de 15% (tabela 3.1).
(IGAM) de 2011 classificam, no caso do Alto Jequi-
tinhonha, como boa a qualidade da água dos rios Entre 2000 e 2010, a população cresceu em todos
Jequitinhonha e Araçuaí e como média a do Rio os microterritórios do Jequitinhonha, à exceção de
Fanado. Já no território do Médio/Baixo, a quali- Jacinto. No entanto, dado que esse crescimento
dade da água do Rio Jequitinhonha cai para média, foi inferior ao observado para Minas Gerais, houve
voltando a boa à jusante da cidade de Almenara, perda de participação na população total do estado
enquanto a do Rio Araçuaí e a dos demais rios ao longo da década.4 Em todos os microterritórios
afluentes do Jequitinhonha pesquisados foram houve perda de população rural e crescimento
classificadas como de média qualidade. da população urbana. No Alto Jequitinhonha, a
população urbana cresceu mais que a do estado
Em síntese, são muitos os fatores de pressão sobre e a rural decresceu mais; no Médio/Baixo, ocorreu
a disponibilidade e a qualidade da água no Jequi- o inverso, ou seja, a população urbana cresceu
tinhonha, aos quais se somam aos já relatados a menos que a do estado e a rural decresceu menos.
poluição causada pela falta de saneamento, o
lançamento de esgoto sanitário nos cursos de 4 Somente nove dos 59 municípios dos territórios do Jequiti-
nhonha (3 do Alto e 6 do Médio/Baixo Jequitinhonha) apresen-
3 Alta vulnerabilidade natural de água superficial significa taram taxa de crescimento demográfico maior que a do estado
baixa disponibilidade natural, medida pela vazão por unidade nesse período. Em 21 municípios (33% dos municípios do Alto
de área de drenagem: alta corresponde a uma vazão de 1,5 a Jequitinhonha e 37% do Médio/Baixo Jequitinhonha), essa
2,5 l/s/km2 ; e muito alta, uma vazão inferior a 1,5 l/s/km2. taxa foi negativa, indicando perda absoluta de população.
34 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

Tabela 3.1: População total, urbana e rural Minas Gerais e territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha - 2000 e 2010

População 2000 (mil pessoas) População 2010 (mil pessoas) Tx. crescimento 2000-2010
Microterritório/

% Rural

% Rural
Urbana

Urbana

Urbana
Território

Rural

Rural

Rural
Total

Total

Total
Capelinha 107,0 48,5 58,5 54,6 113,9 63,2 50,8 44,6 6,5 30,1 -13,2

Diamantina 182,6 108,0 74,7 40,9 184,0 120,6 63,5 34,5 0,8 11,7 -15,0

Alto Jequitinhonha 289,6 156,5 133,1 46,0 298,0 183,7 114,2 38,3 2,9 17,4 -14,2

Almenara 67,3 50,4 16,9 25,1 71,9 55,4 16,4 22,9 6,8 10,0 -2,9

Araçuaí 106,9 46,9 60,0 56,1 107,4 54,6 52,8 49,2 0,5 16,5 -12,0

Felisburgo 58,0 38,2 19,7 34,0 58,1 39,6 18,5 31,8 0,3 3,7 -6,3

Itaobim 105,1 46,3 58,8 56,0 108,9 50,7 58,2 53,4 3,6 9,6 -1,1

Jacinto 36,4 24,1 12,4 34,0 36,1 25,1 11,0 30,5 -1,0 4,1 -11,1

Pedra Azul 87,1 58,7 28,4 32,6 89,7 65,2 24,6 27,4 3,0 10,9 -13,5

Médio/Baixo Jequit. 460,9 264,6 196,3 42,6 472,2 290,7 181,5 38,4 2,4 9,8 -7,5

MG 17.891,5 14.671,8 3.219,7 18,0 19.595,3 16.713,7 2.881,7 14,7 9,5 13,9 -10,5

Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010.

A explicação para o baixo crescimento popu- das recorrentes migrações sazonais, em especial
lacional na região está nos fluxos migratórios para as lavouras de cana, laranja e café e para o
para fora dela, para municípios de Minas Gerais trabalho de ambulante nas praias no período de
e para outros estados limítrofes, principalmente alta temporada.
São Paulo. De fato, o crescimento vegetativo
da população em todos os microterritórios do Assim, a taxa de dependência5 nos territórios do
Jequitinhonha foi significativamente superior Jequitinhonha é significativamente superior à de
ao do estado, devido à conjugação de menores Minas Gerais, resultado de um maior peso, em sua
taxas brutas de mortalidade (para o que con- população, de idosos e, principalmente, de crianças
tribuiu a queda da mortalidade infantil) e de (tabela 3.3). Entre 2000 e 2010, contudo, essa taxa
maiores taxas brutas de natalidade (a despeito recuou substancialmente e mais do que no estado:
das expressivas quedas ocorridas nas últimas a população em idade ativa cresceu (menos que no
décadas) (tabela 3.2.) No entanto, enquanto no estado), enquanto a de crianças decresceu forte-
estado a taxa líquida migratória foi ligeiramente mente (mais que no estado), mais do que compen-
positiva, nos microterritórios do Jequitinhonha sando a elevada taxa de crescimento dos idosos
ela foi acentuadamente negativa. Fatores de (ainda que menor que a do estado). Esses dados
expulsão ligados à elevada participação da mostram que os territórios do Jequitinhonha atra-
população rural e à predominância de atividades vessam um período de transição demográfica (com
de baixa produtividade explicam esses elevados uma defasagem temporal em relação ao estado)
fluxos emigratórios, constituídos principalmente que, além da janela de oportunidade representada
de indivíduos em idade ativa e provenientes da
área rural. Esses mesmos fatores, conjugados ao
5 A taxa de dependência é a razão entre o somatório das popula-
regime pluviométrico da região, caracterizado ções de crianças (até 15 anos de idade) e de idosos (mais de 65
por longo período de seca, estão por trás também anos de idade) e a população em idade ativa (entre 15 e 65 anos).
Caracterização dos territórios 35

Tabela 3.2: Indicadores da dinâmica demográfica Minas Gerais, territórios do Alto e Médio/Baixo Jequitinhonha e seus
microterritórios - 2000-2010

Taxa de crescimento demográfico (TCD) (média anual, por mil)

Taxa de crescimento vegetativo (TCV)


Microterritório/
Território Tx. bruta de
TCD TCV Tx. bruta de Taxa líquida Mi-
­Mortalidade
(=TCV+TLM) (= TBM-TBN) ­Natalidade (TBN) gratória (TLM)
(TBN)

Capelinha 6,32 15,32 19,79 4,47 -9,00

Diamantina 0,76 9,21 15,12 5,9 -8,45

Alto Jequitinhonha 2,85 11,72 17,05 5,33 -8,87

Almenara 6,58 13,4 19,1 5,7 -6,82

Araçuaí 0,45 9,62 15,15 5,54 -9,16

Felisburgo 0,21 10,52 16,15 5,63 -10,31

Itaobim 3,56 11,35 17,94 6,58 -7,8

Jacinto -1,09 10,55 16,55 6 -11,64

Pedra Azul 2,89 13,89 19,08 5,2 -10,99

Médio/Baixo Jequit. 2,39 11,49 17,27 5,77 -9,11

MG 9,15 8,77 14,79 6,02 0,38

Fonte: Dados básicos: IBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010.


Elaboração: Fundação João Pinheiro.

Tabela 3.3: População por faixa etária e taxa de dependência Minas Gerais e territórios do Alto e do Médio/Baixo
­Jequitinhonha – 2000 e 2010

Pop. por faixa etária % da pop. Tx. crescim. Tx. dependência


Microterritório/ 2010 (x mil) total 2010 2000-2010 (%) (%)
Território <15 de 15 a >64 <15 de 15 a >64 <15 de 15 a >64 2010-2000
2000 2010
anos 64 anos anos anos 64 anos anos anos 64 anos anos (p.p.)

Capelinha 32,4 74,4 7,1 28,5 65,3 6,2 -20,2 21,1 45,1 74,1 53,2 -21,0

Diamantina 49,4 119,4 15,2 26,8 64,9 8,3 -23,2 12,2 28,3 71,6 54,1 -17,5

Alto
81,8 193,8 22,3 27,5 65,0 7,5 -22,0 15,4 33,2 72,5 53,7 -18,8
­Jequitinhonha

Almenara 17,8 46,9 7,1 24,8 65,3 9,9 -16,0 13,9 45,2 63,4 53,1 -10,3

Araçuaí 27,6 69,9 9,8 25,7 65,1 9,1 -24,3 11,0 32,7 69,7 53,5 -16,2

Felisburgo 15,8 36,1 6,1 27,3 62,2 10,5 -16,7 4,4 40,2 67,5 60,7 -6,8

Itaobim 32,5 66,6 9,8 29,8 61,2 9,0 -15,0 11,1 41,5 75,3 63,5 -11,8

Jacinto 9,3 23,0 3,8 25,7 63,7 10,6 -20,8 4,4 39,1 65,7 57,0 -8,7

Pedra Azul 24,4 57,3 8,0 27,2 63,8 9,0 -17,7 10,3 42,9 67,9 56,6 -11,3

Médio/Baixo
127,4 299,9 44,7 27,0 63,5 9,5 -18,5 10,0 39,9 69,0 57,4 -11,6
Jequit.

MG 4.394,0 13.606,1 1.595,2 22,4 69,4 8,1 -13,4 16,2 43,7 52,8 44,0 -8,8

Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010.


36 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

pelo crescimento da população em idade ativa e importantes as produções de queijo, requeijão,


pela queda da taxa de dependência, tem implica- aguardente de cana, farinha de mandioca, rapa-
ções sobre o direcionamento das políticas públicas. dura e carne verde de bovinos, entre outros.
A participação da indústria é reduzida (10% do VAB
do território), destacando-se a construção civil.
A indústria de transformação, que tem baixa parti-
3.4 cipação, inclui principalmente a atividade têxtil, o
DESENVOLVIMENTO
PRODUTIVO beneficiamento de café, os laticínios, a fabricação
de rações, a cerâmica, a lapidação de gemas e a pro-
Os territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequi- dução de madeira e móveis. A indústria extrativa
tinhonha respondem por parcelas muito mineral é representada pela exploração de pedras
pequenas do PIB de Minas Gerais: em 2014, 0,6% ornamentais, minério de manganês e diamantes.
e 0,7%, respectivamente. Sendo essas parcelas
bem menores que as que detêm na população
Gráfico 3.3: Estrutura do Valor Adicionado
do estado, seu PIB per capita correspondia, no
Bruto dos territórios do Alto e do Médio/Baixo
referido ano, apenas a 43,3% e a 31,3% do PIB Jequitinhonha – 2014
per capita de Minas, percentuais inferiores ao de
todos os demais territórios. Essa situação não tem
ALTO JEQUITINHONHA
se alterado significativamente nos últimos anos.
VAB adm. pública
35,3%
No Alto Jequitinhonha, o setor de serviços res- VAB agropecuária
15,5%
ponde por aproximadamente 75% do Valor
Adicionado Bruto (VAB) total6. Quase a metade
dessa parcela está relacionada à administração VAB indústria
10,0%
pública (gráfico 3.3). No comércio, destacam-se
VAB serviços
os segmentos de alimentos e de combustíveis. Na exceto adm. pública
39,3%
agropecuária, destaca-se o cultivo do eucalipto,
transformado em carvão, lenha e madeira em
tora. Entre os produtos de origem animal, o que
agregou maior valor foi o leite, seguido pelo mel e
pelos ovos de galinha. Em 2014, 8,6% da produção MÉDIO / BAIXO JEQUITINHONHA
de mel de Minas Gerais foi gerada nesse território.
VAB adm. pública
43,0% VAB agropecuária
Na agricultura, destaca-se a lavoura do café, 9,1%

seguida pelas de cana-de-açúcar, milho, mandioca,


feijão, banana e abacaxi. Na agroindústria rural, são VAB indústria
11,1%

6 O Valor Adicionado Bruto (VAB) é uma proxy para o PIB, uma


VAB serviços
vez que esse não está disponível desagregadamente por setor
exceto adm. pública
de atividade. O PIB é a soma do Valor Adicionado Bruto (VAB) 36,8%
dos setores agropecuário, indústria e serviços e dos Impostos
líquidos. Como os impostos líquidos não estão disponíveis desa-
gregadamente por setor de atividade, mas apenas para o con- Fonte: PIB dos Municípios, CEI/FJP, CONAC/IBGE.
junto dos setores, não existe o dado do PIB por setor de atividade. Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Caracterização dos territórios 37

No Médio/Baixo Jequitinhonha, o setor de serviços dência Rural, o Benefício de Prestação Continuada


responde por 80% do total do VAB, com a adminis- e o Bolsa Família. Avanços significativos também se
tração pública, contribuindo com mais da metade deram com o Programa Nacional de Fortalecimento
do valor gerado nesse setor (gráfico 3.3). A pe­cuá­ria da Agricultura Familiar (PRONAF), o Programa
constituiu a principal fonte de geração de valor na Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o Pro-
agropecuária e o leite se sobressaiu entre os pro- grama Luz para Todos, o Programa Um milhão de
dutos de origem animal, que também incluíram a Cisternas, entre outros. Além de melhorar as condi-
produção de ovos e de mel. Na agricultura, as par- ções de vida e da atividade produtiva, acarretaram
ticipações mais expressivas foram provenientes estímulo ao comércio local, ampliando a demanda
das lavouras de café, mandioca, cana-de-açúcar, por alimentos, eletrodomésticos e outros produtos
feijão e milho, destacando-se também o cultivo de e estimularam a construção civil. Estima-se que na
frutas, principalmente banana, abacaxi e manga. A área rural um em cada 4,5 membros é pensionista
agroindústria rural inclui a produção de farinha de ou aposentado e que um terço das famílias rurais
mandioca, tapioca, queijo e requeijão, aguardente tinha pelo menos um aposentado ou pensionista
de cana, rapadura, manteiga, doces e geleias, fumo (RIBEIRO, GALIZONI, 2013). A proporção da popu-
em rolo ou corda e as carnes verdes de bovinos. lação atendida pelo Bolsa Família nos municípios
A indústria respondeu por apenas 11,1% do VAB, variava em torno de 40 a 50%, bem acima das
com destaque para a construção civil e a extração médias estadual (23,5%) e nacional (25%).
mineral, predominantemente de grafita, granito e
lítio. A indústria de transformação tem participação O impacto positivo desses programas bem ilustra
bastante reduzida e inclui principalmente a fabri- o papel central a ser desempenhado pelo Governo
cação de produtos químicos inorgânicos (carbo- do Estado para a promoção do desenvolvimento
nato e hidróxido de lítio), alimentos e rações. dos territórios. Um ponto essencial é o fortale-
cimento dos órgãos públicos e da capacidade
Destaca-se, em ambos os territórios, a relevância de desempenhar funções de responsabilidade
da agricultura familiar, com grande participação da genuinamente do estado. Um bom exemplo diz
produção para autoconsumo. Há alta proporção de respeito à regulação ambiental, em que é notória
agricultores que encontram na produção para auto- a incapacidade de fiscalizar e evitar a degradação
consumo, no acesso a terras comuns e na partici- do meio ambiente. As deficiências refletem-se
pação em redes comunitárias e familiares as condi- também na morosidade, no alto custo e tempo
ções para uma dieta de qualidade e para melhoria para emissão de licenças ambientais, atrasando
nas condições de vida (RIBEIRO; GALIZONI, 2013b). investimentos imprescindíveis para o sucesso da
O último Censo Agropecuário, realizado em 2006, atividade agropecuária.
mostrava que os estabelecimentos familiares cor-
respondiam a 84,6% do total de estabelecimentos Outro papel-chave é aquele desempenhado pelas
agropecuários desses territórios e respondiam por atividades de assistência técnica e extensão rural
cerca de três quartos do pessoal ocupado no setor. (ATER) e de pesquisa agropecuária, essenciais
Os estabelecimentos familiares ocupavam tão ao gerarem e disseminarem conhecimentos e
somente 31,5% da área total dos estabelecimentos, apoiarem o uso de tecnologias sociais e dos saberes
com área média de 19,1 hectares. tradicionais. São ­especialmente importantes em
face do grande número de agricultores carentes
Uma importante mudança, como apontado, foi o e da alta incidência de populações quilombolas
avanço dos programas sociais, incluindo a Previ- e indígenas. Os órgãos responsáveis, apesar de
38 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

desempenhar funções bem avaliadas, são inca- quando-se às possibilidades hídricas e sem sobre-
pazes de lidar com o grande número de demandas. carregar os recursos. Há também muito potencial
para o processamento dos produtos da bovino-
Um gargalo essencial diz respeito à comerciali- cultura e das culturas da cana-de-açúcar e da
zação. Apesar dos avanços verificados nas políticas mandioca, incluindo farinha, biscoitos, rapadura e
de compras institucionais, há muitas dificuldades cachaça. Isso aponta para a necessidade de forta-
para escoar a produção e é comum o perecimento lecer a agroindústria familiar, atividade que abre
dos produtos. Há dois eixos centrais para o for- oportunidades para a maior agregação de valor.
talecimento da comercialização: o aperfeiçoa- Um ponto importante para favorecer essas ativi-
mento das políticas de compras institucionais e dades é fortalecer a vigilância sanitária, adequan-
o fortalecimento das feiras, que desempenham do-a às particularidades da pequena produção.
importante papel na região (RIBEIRO et al., 2013b).
Outro eixo é a valorização e a certificação da pro- Outra característica e dificuldade relacionada à
dução agroecológica. Há um papel essencial a ser agricultura familiar diz respeito à estrutura e à
desempenhado pelas associações de agricultores concentração fundiária. No Alto Jequitinhonha,
familiares, que tendem a retirar o agricultor do iso- cerca de 90,3% das propriedades tinham menos
lamento e a facilitar o acesso às políticas públicas. de 100 hectares; as propriedades com menos de
10 hectares correspondiam a 62,3% das proprie-
Alguns produtos, como destacado, têm forte pre- dades e a 5,4% da área total enquanto as proprie-
sença e potencial para a geração de emprego e dades com mais de 200 hectares ocupavam 40,9%
renda. O mel tem importância significativa no da área. No Médio/Baixo Jequitinhonha, cerca de
Alto Jequitinhonha, que se mantém como uma 78,5% das propriedades tinham menos de 100
das principais regiões produtoras do estado (PPM hectares e ocupavam apenas 20,4% da área total;
2014/IBGE, 2015). O café, essencial para o desen- as propriedades com menos de 10 hectares cor-
volvimento do microterritório de Capelinha, tem respondiam a 38,6% das propriedades e a 1,7% da
potencial para se expandir em outros municípios. área total, enquanto as propriedades com mais de
A fruticultura tem condições para avançar, ade- 200 hectares ocupavam 63,3% da área (gráfico 3.4).

Gráfico 3.4: Distribuição da área dos estabelecimentos agropecuários por grupos de área – Minas
Gerais e territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha – 2006
Distribuição de áreas dos estabelecimentos

45,0
40,8
agropecuários por grupos de áreas (%)

40,0
35,0
31,2

30,0
22,5
22,3
22,1

25,0
20,7
19,1

18,8

20,0
16,3

13,0
12,8

15,0
9,0

10,0
4,6

3,6
2,8

5,0
2,6

2,4
1,7
1,0
1,0
0,7

0,0
de 0,1 a de 5 a menos de 10 a de 20 a menos de 100 a de 200 a menos de 1000 ha produtor
menos de 5 ha de 10 ha menos de 20 ha de 100 ha menos de 200 ha de 1000 ha e mais sem área

Alto Jequitinhonha Médio/Baixo Jequitinhonha Minas Gerais

Fonte: Censo Agropecuário, 2006/IBGE.


Elaboração Fundação João Pinheiro.
Caracterização dos territórios 39

As ações da política nacional de reforma agrária parte das empresas e garantir que os impostos
estão concentradas em 15 dos 59 municípios gerados sejam aplicados na região.
dos territórios. No Alto Jequitinhonha, há quatro
assentamentos localizados em três municípios, No que diz respeito ao extrativismo vegetal,
totalizando 131 famílias assentadas e 4.911 hec- deve-se mencionar a importância que a extração
tares. No Médio/Baixo Jequitinhonha constam 20 da sempre-viva tem para a geração de renda em
assentamentos distribuídos em 12 municípios, muitas comunidades no microterritório de Dia-
com 699 famílias assentadas e 49.525 hectares. mantina. O produto, transformado em artesa-
Esses assentamentos enfrentam inúmeras dificul- nato, chegou a ser exportado em quantidades
dades e sofrem com a falta de recursos, principal- significativas. A atividade, no entanto, vem
mente recursos hídricos. sofrendo as limitações causadas pela criação de
Unidades de Conservação, que afeta negativa-
A indústria da transformação, como destacado, mente as condições de vida das comunidades
é pouco desenvolvida nos dois territórios, o que em questão. Em relação à mineração, a grafita, o
contribui com as deficiências da infraestrutura granito, as rochas ornamentais, o lítio e as pedras
de transporte, energia e telecomunicações e a preciosas/semipreciosas destacam-se como os
baixa qualificação da mão de obra. Trata-se, no principais minerais explorados. No entanto, boa
entanto, de uma atividade que tem potencial de parte dos minerais explorados é vendida em
demandar serviços de maior qualificação, que sua forma bruta, com pouco ou nenhum bene-
pode abrir oportunidades para a maior agre- ficiamento e, muitas vezes, para atravessadores
gação de valor e contribuir para a redução das e por preços aviltados. Além disso, como desta-
perdas na agricultura. Há particular potencial cado, os impactos ambientais e sociais são con-
para o desenvolvimento da indústria de móveis sideráveis e têm provocado inúmeros conflitos.
e madeiras, já bem estabelecida no Alto Jequi- Muitos empreendimentos não possuem licença
tinhonha, além de iniciativas para agregar mais ambiental e operam sem preocupação com o
valor na mineração e na agropecuária. controle e a recuperação ambiental.

A implantação da silvicultura no Alto Jequiti- No tocante ao turismo, a oferta é diversificada e


nhonha foi uma aposta frustrante: deslocou apta ao avanço de vários segmentos. No entanto,
populações, teve fortes custos sociais e ambien- a grande maioria dos atrativos turísticos ainda não
tais e não cumpriu as promessas de promoção é estruturada e articulada para a formatação de
do desenvolvimento. Empregos foram gerados roteiros e produtos turísticos. Mesmo os 25 municí-
apenas em um primeiro momento e hoje são pios de maior atratividade encontram-se com res-
relativamente poucos. Além disso, gera poucos trições de infraestrutura que incluem deficiências
impostos e os produtos deixam a região em das estradas e situações de risco ambiental. Por
forma bruta, tendo baixo impacto na eco- sua vez, o grau de informalidade dos estabeleci-
nomia local. A isso somam-se os fortes impactos mentos turísticos é elevado, limitando o acesso às
ambientais antes mencionados. Todo esse linhas de crédito e de fomento. A maioria dos esta-
quadro demanda posição ativa por parte do belecimentos turísticos não tem gestão de qua-
Governo, incluindo a verificação dos contratos lidade, gestão ambiental e de responsabilidade
vencidos e a possibilidade de realocação das social. Enfim, é baixa a qualificação dos gestores e
terras para programas com maior retorno social. profissionais que atuam na região e há muitas limi-
Outra direção é fortalecer as contrapartidas por tações dos serviços de informação turística.
40 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

3.5 de atenção priorizada para aqueles alunos que


DESENVOLVIMENTO necessitam de maior acompanhamento, seja por
SOCIAL falta de pessoal ou por insuficiência de capaci-
tação, é apontada como a principal causa asso-
No âmbito do PDVJ, o desenvolvimento social foi ciada a essa deficiência.
analisado a partir das seguintes dimensões: Edu-
cação, Saúde, Assistência Social, Saneamento, Outro aspecto importante diz respeito à esco-
Habitação, Cultura e Segurança Pública. laridade dos docentes. Ainda há um percen-
tual de professores sem curso superior atuando
3.5.1 Educação principalmente na educação infantil e nos anos
iniciais do ensino fundamental. Nos anos finais
Em 2010, o Alto Jequitinhonha registrou uma do fundamental, ensino médio e Educação de
taxa de analfabetismo para a população de 15 Jovens Adultos (EJA), o problema é a significa-
anos ou mais de 17,5%, totalizando cerca de 38 tiva porcentagem de professores que possui for-
mil pessoas analfabetas, e o Médio/Baixo Jequi- mação superior de licenciatura em área diferente
tinhonha, uma taxa de 23,9%, correspondendo a daquela que leciona.
82 mil pessoas. Essas taxas são bem superiores à
de Minas Gerais, que ficou em 8,2%. A infraestrutura das escolas também aparece
como um problema crítico. A maioria das escolas
No que se refere ao nível de instrução da população, possui o básico, como água, energia e banheiro,
em ambos os territórios, mais de 70% das pessoas porém necessita de reformas e ampliações. Outro
de 25 anos ou mais não possuíam, em 2010, o ponto assinalado foi o processo de nucleação
ensino fundamental completo. Esse percentual é das escolas, que desarticulou as escolas rurais e
bem maior do que o verificado para Minas Gerais, aumentou o gasto com transporte escolar. Por
que foi de 54,6%. Mesmo entre a população de 18 fim, há falta de cooperação e apoio por parte
a 24 anos observa-se alta proporção de pessoas das instituições de ensino superior, inclusive as
sem fundamental completo – 34,2% no Alto Jequi- públicas, que oferecem poucos cursos de licen-
tinhonha e 41,8% no Médio/Baixo –, bem acima da ciatura, não apresentam muitos projetos voltados
proporção de 24% observada para o estado. para a região e disponibilizam poucos cursos de
capacitação continuada para os professores.
No que se refere ao acesso e à cobertura do sis-
tema educacional, os municípios estão longe de 3.5.2 Saúde
cumprir a meta do Plano Nacional de Educação
(PNE) de colocar 100% das crianças de 4 e 5 anos Para a análise da situação da saúde da população
na escola. Esses resultados devem, no entanto, residente nos territórios do Alto e do Médio/
levar em consideração as dificuldades no atendi- Baixo Jequitinhonha, foram consideradas as prin-
mento na área rural, já que não existem escolas cipais causas de morte e de internação, o acesso
em algumas localidades e o custo e os riscos do à atenção primária e aos serviços de média e alta
transporte são elevados. complexidade, bem como questões relacionadas
à vigilância em saúde.
Quanto ao nível de aprendizado, há alta pro-
porção de alunos que chegam ao 6º ano do As doenças do aparelho circulatório consti-
fundamental sem saber ler e escrever. A falta tuíram a principal causa de morte nos dois terri-
Caracterização dos territórios 41

tórios do Jequitinhonha, em 2014, respondendo no Alto Jequitinhonha (13,5%) e pela segunda


por cerca de um quarto delas, tendo registrado no Médio/Baixo (12,4%), onde a primeira são as
crescimento de sua participação no período doenças respiratórias (15,23%). Salienta-se que,
recente. A segunda causa de morte é decorrente nesse território, as doenças infecciosas e parasi-
das neoplasias. As causas externas, que apre- tárias constituíram a terceira causa de internação
sentaram crescimento absoluto e relativo nos (10,8%), cuja proporção é praticamente o dobro
últimos anos, ocupam a terceira posição entre as daquela observada no estado. As proporções de
causas mais frequentes de mortes nesses terri- internações por doenças relacionadas à veicu-
tórios. Cabe salientar que essas mortes assolam lação hídrica e por doenças relativas ao sanea-
principalmente a população adulta jovem do mento ambiental inadequado sofreram redução
sexo masculino, como resultado do aumento da no período recente em ambos os territórios, mas
violência. Dessa forma, ações com vistas à sua a situação dos municípios do Médio/Baixo con-
redução vão além daquelas restritas à saúde tinua pior relativamente ao conjunto dos municí-
pública, também demandando políticas no pios do estado.
âmbito da segurança pública.
Com relação à atenção primária, a cobertura nas
Esses resultados mostram que o perfil de mor- áreas urbanas encontra-se praticamente univer-
talidade desses territórios é semelhante ao do salizada e, dessa forma, o principal desafio con-
estado, o qual também tem, nesta ordem, como siste em aumentar a sua resolutividade. No meio
as principais causas de morte as doenças do rural, entretanto, ainda é necessário ampliar a
aparelho circulatório, as neoplasias e as causas cobertura nas comunidades mais afastadas e de
externas, que responderam, juntas, por pouco difícil acesso. Como evidências da inadequada
mais da metade delas tanto nos territórios do organização da atenção primária podem-se citar:
Jequitinhonha quanto em Minas Gerais. a) a não implantação de protocolos assistenciais
de atenção à saúde; b) a atenção orientada prin-
A despeito de sua expressiva redução, as causas cipalmente para o atendimento da demanda
mal definidas respondiam por cerca de 8% das espontânea, e não para o cumprimento de uma
mortes nos territórios do Jequitinhonha, patamar programação; c) a não priorização do atendi-
novamente bem próximo ao do estado. No mento, resultando em encaminhamento de
entanto, há microterritórios onde esse percentual pacientes de modo inadequado. A elevada rota-
é mais elevado, sinalizando problemas relacio- tividade dos profissionais, que compromete
nados ao acesso e à qualidade do atendimento o vínculo entre o paciente e o profissional de
médico, como também à qualidade do preenchi- saúde, e o acúmulo de trabalho por parte dos
mento dos registros por parte do responsável. enfermeiros da Estratégia de Saúde da Família
(ESF), que devem dar conta tanto das ativi-
Sobre as causas de internação, o atendimento dades de assistência quanto das administrativas,
ao parto, à gravidez e ao puerpério constitui a também devem ser salientados. As deficiências
principal, respondendo por 16%, 18% e 17% da atenção primária resultam em baixa resolu-
das internações nos territórios do Alto, Médio/ tividade, que pode ser identificada por meio do
Baixo Jequitinhonha e em Minas Gerais, respec- indicador “proporção de internações por con-
tivamente, em 2014. Excluindo-se esse grupo de dições sensíveis à atenção primária”. Apesar da
internações, as doenças do aparelho circulatório redução observada no período recente, essas
aparecem como principal causa de morbidade internações ainda são significativas em vários
42 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

municípios de ambos os territórios. Tendo em 85,21%) e Tríplice viral (de 98,59% para 89,53%)
vista a importância desse nível de atenção para na população de 1 ano.
resolver os problemas da população e por se
constituir a porta de entrada preferencial e orde- Situação análoga ocorreu no território do
nadora do cuidado no Sistema Único de Saúde Médio/Baixo Jequitinhonha, com diminuição
(SUS), cabe ao gestor estadual apoiar os municí- nos valores de cobertura vacinal da Tetravalente
pios na organização da atenção primária. (de 100,00% para 92,98%) e da Poliomielite (de
100,00% para 82,35%). Vale destacar ainda que
No que diz respeito ao atendimento de média no Alto Jequitinhonha, em 2014, os acidentes
complexidade, os problemas mais destacados por animais peçonhentos (612 casos), seguidos
foram: a) as dificuldades para fixar médicos, prin- pela Esquistossomose (421 casos), responderam
cipalmente os especialistas; b) o número insufi- pelos maiores números de notificações. Situação
ciente de procedimentos ofertados; c) a ausência semelhante foi observada no Médio/Baixo Jequi-
de classificação de prioridades para o encami- tinhonha quanto aos acidentes por animais
nhamento dos pacientes. De modo a enfrentar as peçonhentos (1.282 casos), tendo, em 2012,
dificuldades da atenção especializada de média os casos de Dengue (1.229) sobressaído como
complexidade, a Secretaria de Estado de Saúde segunda doença de maior notificação. Quanto
de Minas Gerais (SES-MG) propôs a criação do às infecções por Zika, houve confirmação de um
Centro de Especialidades Médicas (CEM). Garantir caso de gestante com a doença, entre 2015 e
a implantação dos CEMs previstos nos territórios 2016, no município de Pedra Azul, pertencente
do Jequitinhonha (um no Alto e dois no Médio/ ao território do Médio/Baixo Jequitinhonha, e
Baixo) deve constituir uma das prioridades do nenhum caso confirmado no território do Alto
PDVJ no âmbito da saúde. Jequitinhonha. Para as infecções por Chikun-
gunya não foi confirmado nenhum caso nos dois
No tocante ao atendimento de alta complexi- territórios até 2016.
dade, a situação mostra-se precária, na medida
em que faltam recursos humanos especializados, Por fim, constatou-se que é urgente melhorar
equipamentos e estrutura física. A análise do indi- a qualificação dos profissionais, inclusive dos
cador “proporção das internações de residentes secretários municipais de saúde, fundamental
encaminhados para outra macrorregião para a para o aperfeiçoamento do atendimento e da
assistência de alta complexidade” mostrou que gestão. De fato, o enfrentamento da questão do
os municípios do Alto Jequitinhonha e do Médio/ gerenciamento inadequado constitui um dos
Baixo Jequitinhonha estão em grande desvan- principais desafios do SUS, não apenas nos terri-
tagem relativamente ao conjunto dos municípios tórios do Jequitinhonha.
de Minas Gerais.
3.5.3 Assistência social
No que tange à vigilância em saúde, contraria-
mente ao ocorrido no conjunto dos municípios No tocante às vulnerabilidades sociais, os terri-
do estado, o Alto Jequitinhonha teve, entre 2008 tórios do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha
e 2014, reduções importantes de cobertura das apresentam quadro similar, embora a situação
vacinas Tetravalente (de 100,00% para 78,34%), do Médio/Baixo seja um pouco pior. No período
Febre Amarela (de 100,00% para 84,78%), Polio- 2000-2010, houve avanços importantes, como
mielite em menores de 1 ano (de 100,00% para a queda na pobreza. O percentual de pessoas
Caracterização dos territórios 43

extremamente pobres recuou de 32,3% para principalmente no incremento do uso e do trá-


12,4% no Alto Jequitinhonha e de 31% para fico de drogas, no consumo de álcool, nos furtos,
14,1% no Médio/Baixo, enquanto a proporção na violência sexual, na desestruturação familiar,
de pobres recuou de 60,5% para 29,7% no Alto na gravidez na adolescência, no trabalho infantil,
e de 61% para 33,3% no Médio/Baixo Jequiti- na negligência familiar e na exploração e na vio-
nhonha7. Houve também queda na desigual- lência contra idosos.
dade de renda, medida pelo Índice de Gini8, para
a grande maioria dos municípios. Para esses Dois sérios problemas na região são a taxa de
resultados, contaram decisivamente políticas atividade de crianças e adolescentes entre 10 e
como o Programa Bolsa Família (PBF), o Bene- 14 anos9 e a gravidez na adolescência. A primeira
fício de Prestação Continuada (BPC) e a valori- apresentou, ente 2000 e 2010, crescimento no
zação do salário mínimo. Apesar dos avanços, as Médio/Baixo e uma ligeira queda no Alto Jequi-
taxas de pobreza ainda são muito elevadas. Em tinhonha. A segunda, por sua vez, elevou-se no
2010, a renda per capita situava-se pouco acima Alto Jequitinhonha e teve pequena queda no
de R$ 300,00 nos dois territórios, bem abaixo, Médio/Baixo. A exploração sexual, em particular,
portanto, da estadual, de R$ 749,69. No entanto, é uma questão grave em alguns dos microterritó-
há, nos dois territórios, grande percentual de rios, com destaque para Itaobim, e especialmente
pessoas que vivem da agricultura familiar, em nas cidades situadas ao longo da BR-116. A des-
que grande parte da produção é destinada ao peito dos trabalhos preventivos realizados pelo
autoconsumo, não captada pelos Censos Demo- setor público, setor privado e terceiro setor, esse
gráficos. Dessa forma, os valores apresentados tipo de abuso e outras dificuldades relacionadas
podem estar subestimando a renda e superesti- à gravidez não planejada e à violência contra as
mando a pobreza nesses territórios. mulheres permanecem como problemas críticos
a serem enfrentados.
Além da renda, o conceito de vulnerabilidade
remete a várias dimensões relacionadas aos Outros dois indicadores de vulnerabilidade social
ciclos de vida, ao acesso a serviços e políticas, a que cresceram entre 2000 e 2010 foram: a) a pro-
contingências sociais e à capacidade de respostas porção de adolescentes e jovens (15 a 24 anos)
das famílias diante de situações de privações e de famílias de baixa renda fora da escola e sem
ameaças. De modo geral, as vulnerabilidades trabalho10; b) a proporção de indivíduos depen-
são complexas e multicausais. Nos territórios dentes de idosos em domicílios vulneráveis.
do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha, estão
associadas à baixa escolarização da população, à A Política Nacional de Assistência Social (PNAS)
escassez de empregos e serviços, à concentração alcançou, de modo geral, um grau de institucio-
fundiária, aos impactos da mineração e da pro- nalidade bastante avançado nos territórios. Na
dução de eucalipto e à seca, e se manifestam maioria dos municípios visitados, o órgão gestor
é a Secretaria Municipal de Assistência Social,
7 Definem-se como extremamente pobres e como pobres as
com autonomia para gestão do Fundo Municipal
pessoas que vivem em domicílios com renda per capita mensal
inferior a R$ 70,00 e a R$ 140,00, a preços de agosto de 2010. da Assistência Social. Os conselhos de Assistência
8 Esse índice mede o grau de desigualdade existente na distribuição
de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. Seu valor varia 9 Proporção de pessoas nessa faixa etária que estavam ocupadas ou,
de 0, quando não há desigualdade (a renda domiciliar per capita não estando ocupadas na semana de referência, procuraram tra-
de todos os indivíduos tem o mesmo valor), a 1, quando a desi- balho no mês anterior à pesquisa do Censo Demográfico de 2010.
gualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda). 10  Renda per capita inferior a 1/2 salário mínimo de agosto de 2010.
44 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

Social estão constituídos e em funcionamento; de Estado de Desenvolvimento Social de Minas


os equipamentos sociais estão implantados e Gerais (Sedese), sejam presenciais, mais fre-
oferecem os serviços socioassistenciais. Há pelo quentes e se destinem também aos conselheiros,
menos um Centro de Referência da Assistência monitores e educadores sociais, entre outros.
Social (Cras) em cada município, embora a cober- Outro traço que chama atenção é a rede de orga-
tura da proteção social básica seja insuficiente nizações não governamentais (ONGs) que desen-
em ambos os territórios, especialmente nas volvem projetos importantes em vários muni-
zonas rurais. Há Centros de Referência Especiali- cípios, especialmente nas comunidades rurais.
zada de Assistência Social (Creas), responsáveis Cabe à Assistência Social articular de maneira efe-
por serviços de média complexidade, em vários tiva os programas públicos com as ações dessas
municípios. As unidades de alta complexidade, organizações, assim como procurar integrá-las às
incluindo abrigos institucionais e filantrópicos e demais ações do poder público.
congêneres, estão concentradas em Diamantina
e em Medina, mas também se distribuem em 3.5.4 Saneamento
outros municípios, onde se presta atendimento
regional no âmbito das comarcas. Em cumprimento à Lei nº 11.445/2007 (BRASIL,
2007), a grande maioria (95,8%) dos municípios
Em 2014, a cobertura do Programa Bolsa Família do território do Alto Jequitinhonha tem formu-
(PBF)11 situava-se em 77,5% no Alto Jequiti- lado seus Planos Municipais de Saneamento
nhonha e em 80,7% no Médio/Baixo, acima, Básico (PMSB), sendo que 86,9% desses planos
portanto, do valor estadual (68,5%). O acompa- abordam os quatro componentes do sanea-
nhamento das condicionalidades da educação mento básico (esgotamento sanitário, limpeza
e da saúde também apresentou, em ambos os urbana e manejo de resíduos sólidos, infraes-
territórios, taxas acima da média do estado. No trutura de drenagem e manejo de águas flu-
entanto, a ausência de uma base de dados com viais). No Médio/Baixo Jequitinhonha, o percen-
os registros, prontuários e atendimentos da pro- tual dos municípios com PMSB é bem inferior:
teção social básica e especial tem dificultado os 48,5%, dos quais 70,5% incluíam os quatro com-
processos de gestão, monitoramento e avaliação ponentes do saneamento básico. Com relação
das ações do Sistema Único de Assistência Social ao controle social, em 2014, apenas 41,6% dos
(SUAS), assim como a estruturação da vigilância municípios do Alto Jequitinhonha e 20,0% do
social. Outra dificuldade é que as equipes de Médio/Baixo Jequitinhonha possuíam Conselho
assistência social nos municípios não são, na sua Municipal de Saneamento ou contavam com
maioria, efetivas, tendo sido explicitados, durante outro órgão similar.
visitas de campo, os riscos de descontinuidade
das ações e de reversão dos avanços verificados No que se refere aos serviços de abastecimento
na institucionalização do SUAS. de água e esgotamento sanitário, sua cobertura
nos territórios do Jequitinhonha é bem inferior
Há demanda nos municípios para que as capa- à média do estado de Minas Gerais. São ser-
citações sobre o Suas, oferecidas pela Secretaria viços que pressupõem economia de escala e
que estão muito relacionados à área urbana, o
11 Razão entre o número de famílias que receberam a transfe-
que ajuda a entender essa desvantagem, dado o
rência de renda do Programa Bolsa Família e o total de famí-
lias cadastradas no Cadastro Único com renda per capita de
maior peso relativo da população rural nos terri-
até R$140,00; em 2014, o valor foi atualizado para R$154,00. tórios do Jequitinhonha.
Caracterização dos territórios 45

Em 2010, de acordo com os dados do censo do Em relação à drenagem, 88,1% das sedes muni-
IBGE, menos de 80,0% da população do Médio/ cipais dos territórios do Jequitinhonha possuíam
Baixo Jequitinhonha residia em domicílios par- rede de drenagem em 2014, sendo o serviço
ticulares permanentes com canalização interna prestado pela prefeitura municipal; 86,5% dessas
de água, o pior resultado para Minas Gerais. Por redes eram do tipo separadora, o que implicava
sua vez, apenas 45,6% da população desse ter- somente o transporte de águas pluviais, e os
ritório residia em domicílios ligados à rede geral 13,5% restantes eram do tipo unitária ou mista,
de esgoto ou pluvial ou fossa séptica, a segunda transportando conjuntamente águas pluviais e
menor proporção do estado. No Alto Jequiti- esgotos sanitários.
nhonha, a situação foi ligeiramente melhor, com
86,2% de sua população abastecida por rede Em 77,9% das sedes municipais do Alto e do
geral de água e 49,8% com cobertura de serviço Médio/Baixo Jequitinhonha há cursos d’água
de esgotamento sanitário. Nota-se, portanto, que cortando a área urbana. Desse total, somente
ainda são precários os indicadores sobre a desti- 23,9% deles permanecem em estado natural,
nação final dos esgotos sanitários. sendo que a maioria tinha suas margens parcial-
mente ou totalmente ocupadas ou estão canali-
O panorama dos resíduos sólidos no Alto e no zados, indicando situações de risco e de compro-
Médio/Baixo Jequitinhonha também se mostra metimento ambiental.
preocupante. Em 2010, 40,0% da população resi-
dente em domicílios particulares permanentes 3.5.5 Habitação
nesses territórios não possuíam serviço de coleta
de resíduos sólidos domiciliares. Grande parte As carências habitacionais no Alto e no Médio/
dessa população queimava seus resíduos na Baixo Jequitinhonha revelam que o problema
propriedade, colocando em risco a saúde das da moradia possui uma dimensão quantitativa e
pessoas, o patrimônio alheio e o meio ambiente. uma dimensão qualitativa que demandam como
Quanto à disposição dos resíduos sólidos domi- resposta políticas públicas, programas e projetos
ciliares, ainda em 2015, a maioria dos municípios diferenciados e interligados à dimensão mais
valia-se de lixões e aterros controlados, soluções ampla da política urbana. A dimensão quanti-
ambientalmente inadequadas. tativa refere-se ao déficit habitacional propria-
mente dito. Em termos absolutos, é de 14.169 uni-
Vale ressaltar que, em consonância com os com- dades no Médio/Baixo Jequitinhonha e de 7.400
ponentes de abastecimento de água e de esgota- unidades no Alto Jequitinhonha. Em termos rela-
mento sanitário, o maior déficit de cobertura de tivos, é de 10,7% e de 9%, respectivamente.
coleta de resíduos sólidos domiciliares estava nas
áreas rurais. Esse fato evidencia a necessidade Esse déficit se concentra nas famílias com renda
de maior atenção para tais regiões, muitas vezes mais baixa, sobretudo naquelas que ganham
deixadas de lado devido à baixa densidade domi- entre zero e três salários mínimos. Essa concen-
ciliar, que impossibilita o ganho de escala dos tração foi de 74,4% no Alto e de 81,7% no Médio/
prestadores de serviços. Destacam-se os presta- Baixo Jequitinhonha, contra 66,7% para a média
dores de serviços de limpeza urbana e o manejo do estado (dados de 2010). Chama a atenção
de resíduos sólidos, pois estão todos no âmbito ainda o percentual de déficit habitacional na
da Gestão Municipal, embora existam serviços área rural: 37% no Alto Jequitinhonha e 35% no
concedidos ou terceirizados à iniciativa privada. Médio/Baixo. Isso implica a necessidade de polí-
46 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

ticas habitacionais que levem em consideração as c­ ontinua sendo o principal elemento de inade-
especificidades das habitações nas áreas rurais. quação habitacional, sendo mais acentuada no
Médio/Baixo Jequitinhonha.
Outra informação relevante refere-se aos dados
sobre os domicílios vagos, em número superior ao Partindo do entendimento de que a questão
déficit habitacional em ambos os territórios, sendo habitacional não se restringe apenas ao déficit
maior nas áreas rurais do que nas áreas urbanas. habitacional, mas engloba também a dimensão
Possivelmente, isso reflete o êxo­ do rural ou da inadequação domiciliar, as propostas que
mesmo o movimento de alternância na utilização visem promover condições de moradia digna
de imóvel urbano e rural pela mesma família. para a população residente no Alto e no
Médio/Baixo Jequitinhonha devem contemplar
Outro ponto importante a ser considerado diz diversos aspectos e ações. Devem, portanto,
respeito ao fato de que a política habitacional ir bem além da construção de novas unidades
não se restringe apenas à construção de casas habitacionais, descoladas de sua localização no
ou de apartamentos. Desde a década de 1960, espaço urbano. As propostas também devem
os estudiosos vêm apontando falhas graves de pensar na articulação com as demais políticas
uma política que se restringe à construção de setoriais de saneamento ambiental, mobili-
moradias em áreas periféricas, muitas vezes dade/logística e ordenamento territorial, regu-
desprovidas de infraestrutura, o que dificulta larização fundiária, entre outras.
o acesso da população aos serviços públicos
básicos e às áreas de emprego, bem como 3.5.6 Cultura
apresenta baixa qualidade construtiva, entre
outros problemas. Avaliações da experiência A estrutura institucional da cultura nos territó-
recente do principal programa de habitação rios analisados caracteriza-se por grande pre-
do Governo Federal – o Programa Minha Casa cariedade em termos de recursos humanos,
Minha Vida – reforçam esses pontos e revelam financeiros e materiais, o que tem gerado desor-
que a política habitacional e urbana deve levar ganização do setor, dificuldade de acesso às infor-
em consideração questões como: localização mações, insuficiência de equipamentos públicos
dos empreendimentos no contexto urbano, de cultura e desarticulação com relação à política
adequação da moradia aos diferentes tipos de estadual, incluindo os mecanismos de fomento à
arranjos familiares, qualidade da construção e cultura como lei de incentivo, fundo estadual de
uso misto da edificação, entre outras. A prá- cultura e editais públicos. Deve-se destacar a sen-
tica revela também que uma política habita- sível diferença sociocultural entre os dois territó-
cional bem-sucedida deve estar embasada rios e o maior isolamento do território do Médio/
em uma boa política social de preparação da Baixo Jequitinhonha.
mudança para a nova residência. Experiências
exitosas mostram a importância de políticas Os territórios do Alto e Médio/Baixo Jequiti-
sociais de acompanhamento dos mora­ dores nhonha caracterizam-se por extrema carência de
de baixa renda no novo domicílio, também equipamentos culturais (museus, centros cultu-
conhecidas como Pré-morar e Pós-morar. rais, teatros, cinemas), observando-se apenas um
Em relação à dimensão qualitativa, os dados maior número de bibliotecas públicas, presentes
revelam que a falta de ligação de rede geral em todos os municípios no ano de 2014. As
de esgoto ou fossa séptica nos domicílios informações disponíveis, contudo, não avaliam a
Caracterização dos territórios 47

qualidade desse equipamento público ou se res- duzem e, particularmente, pela produção fami-
pondem às demandas das comunidades. liar de pequena escala. Nesse campo, cingido
pelo termo patrimônio imaterial, encontram-se,
No que diz respeito aos gastos efetuados no setor, sobretudo, uma multiplicidade e diversidade
observou-se ainda uma tendência crescente de de expressões culturais nas quais se incluem as
apoio financeiro orientado para os eventos cultu- manifestações culturais populares, como festas
rais como festas religiosas ou comemorativas das religiosas, cantos, danças, congado, corais,
cidades, carnaval e festivais. As ações com carac- grupos teatrais e musicais.
terísticas mais duradouras e que apoiem o plane-
jamento de políticas focadas nas especificidades Os territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequiti-
regionais e nas carências da realidade local não nhonha constituem um dos principais centros de
têm tido apoio financeiro. produção de artesanato em cerâmica no Brasil.
Apesar de possuírem características identitárias
No tocante ao patrimônio cultural, observa-se semelhantes, as produções artesanais dos polos
o investimento institucional orientado para o de produção diferenciam-se em decorrência das
patrimônio material, com o tombamento muni- características das comunidades nas quais se
cipal de edificações religiosas e mais acentua- inserem, do nível de aprimoramento das peças,
damente da arquitetura civil (edifícios públicos, dos benefícios auferidos pela atuação gover-
residências). Nota-se ainda uma diferença acen- namental e por outras instituições e, particular-
tuada entre os dois territórios, uma vez que o mente, da estabilidade financeira alcançada pela
Alto Jequitinhonha tem sido alvo de políticas de comercialização das peças. Entre as tendências
proteção em âmbito federal e estadual, especial- observadas no artesanato em cerâmica nos ter-
mente na conservação de seus núcleos coloniais, ritórios em questão, encontram-se: a uniformi-
como Diamantina e Serro, mas também na pro- zação dos produtos, agora mais orientados para
teção de bens isolados em outros municípios, a demanda do mercado; a diferenciação dos
como Minas Novas e Chapada do Norte. O terri- artesãos em função de seu reconhecimento pelo
tório Médio/Baixo Jequitinhonha, por outro lado, mercado; e a quebra da tradição e da transmissão
não recebeu, até o momento, nenhuma medida dos saberes e ofícios, especialmente pela falta
legal de proteção dos órgãos federal ou estadual de interesse dos mais jovens e pela baixa renta-
em relação a seu patrimônio edificado. Nesse bilidade da atividade. Excluindo-se os ceramistas
território, as políticas municipais, incentivadas reconhecidos e com mercado garantido (nacional
pela adesão dos municípios ao mecanismo e internacional), a grande maioria dos artesãos
do ICMS Patrimônio Cultural, resultaram nas recorre aos atravessadores e às feiras para comer-
primeiras iniciativas para uma proteção legal dos cializar seus produtos.
bens culturais, concentradas quase exclusiva-
mente no patrimônio material. A observação dos resultados das ações imple-
mentadas na região na última década indica pro-
O diagnóstico realizado chamou ainda a atenção liferação e sobreposições de ações de diversos
para a existência nos territórios estudados de órgãos, sem a presença de uma coordenação
comunidades tradicionais, remanescentes de central. Essa descoordenação acaba por gerar
quilombolas e populações indígenas. Esses resultados insatisfatórios para os beneficiários
grupos caracterizam-se pelo envolvimento nas várias modalidades de artesanato presentes
acentuado com os lugares onde vivem e pro- na região. As associações de artesãos acabam se
48 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

tornando dependentes dos projetos desenvol- tintas. De um lado, abordou elementos concer-
vidos com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio nentes ao fenômeno da criminalidade, como
às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), de orga- a ocorrência de crimes violentos, homicídios,
nizações não governamentais e que têm objetivo furtos e roubos. De outro, analisou o que se con-
de fomentar o empreendedorismo e capacitá-los vencionou chamar de “densidade institucional”,
para o mercado. ou seja, a disponibilidade de instituições de segu-
rança pública e Justiça criminal nos territórios.
O dinamismo cultural dos territórios enfrenta,
assim, toda sorte de precariedades e ameaças, No que diz respeito às taxas de criminalidade
entre as quais, cabe destacar: a) o despreparo violenta, constataram-se acréscimos considerá-
e a desunião dos produtores e criadores cul- veis nos últimos anos em ambos os territórios.
turais frente a um mundo globalizado, digital Entre 2012 e 2015, a taxa anual de ocorrências de
e competitivo; b) a precariedade e, por vezes, crimes violentos registrada no Alto Jequitinhonha
a ausência de conectividade das populações, saltou de 132,9 para 157,7 casos para cada grupo
desde a simples questão do transporte físico até de 100 mil habitantes (crescimento de 18,7% no
o analfabetismo digital e a inexistência de redes período) e, no Médio/Baixo Jequitinhonha, de
digitais disponíveis; c) as migrações forçadas, os 93,8 para 216,2 (aumento de 130,5%). Contudo,
deslocamentos compulsórios e o esgarçamento essas taxas ainda são bastante inferiores à de
das relações familiares e comunitárias; d) a sepa- Minas Gerais, que passou, nesse mesmo período,
ração das comunidades de seus territórios origi- de 376,8 para 615,0 (aumento de 63,2%).
nais e dos recursos naturais a que tinham acesso
irrestrito, implicando abandono ou desequilí- Quanto à taxa de homicídios, destaca-se seu
brio de modos tradicionais de viver e de fazer elevado crescimento no Médio/Baixo Jequiti-
compatíveis com práticas culinárias, de artesa- nhonha, onde, entre 2009 e 2014, passou de 9,3
nato e de técnicas de construção, entre outros; para 18. No mesmo período, esta elevou-se de 10
e) as soluções descontinuadas que marcam as para 10,7 no Alto Jequitinhonha e de 18,5 para
políticas públicas de sustentação e promoção da 27,7 em Minas Gerais. O perfil das vítimas de
cultura (mudanças de governo que abandonam homicídios é o mesmo nos territórios do Alto e
e/ou alteram drasticamente programas em do Médio/Baixo Jequitinhonha e no estado, ou
curso, falta de sustentabilidade em termos de seja, preponderantemente homens, pretos ou
recursos orçamentários, desconhecimento dos pardos, jovens, com idades entre 15 e 29 anos e
agentes públicos quanto às particularidades das escolaridade de até sete anos de estudo.
populações); f ) a mesma descontinuidade rege
as iniciativas do setor privado orientadas para o No tocante aos crimes contra o patrimônio, a taxa
campo da cultura, promovidas por recursos de de furtos por 100 mil habitantes, ao contrário de
entidades internacionais, de fundo católico ou Minas Gerais, onde se manteve relativamente
assistencialista. constante entre 2012 e 2015 (quando passou de
1491,6 para 1493,6), elevou-se nos territórios do
3.5.7 Segurança pública Jequitinhonha, passando de 857,8 para 1040,8
no Alto e de 668,3 para 1056,9 no Médio/Baixo.
A análise da segurança pública nos territórios Cabe mencionar que o registro de furtos, isto é,
do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha buscou quando ocorre a subtração de objeto ou valor
conferir ênfase a duas dimensões analíticas dis- sem a ameaça ou o uso da força, sofre mais for-
Caracterização dos territórios 49

temente a influência de aspectos de subnotifi- Discussões sobre o controle da ocorrência de


cação, ou da chamada “cifra negra”. Ainda assim, crimes têm se deslocado em direção a tipos de
é possível perceber o comportamento atípico da medidas de natureza mais preventiva do que
microrregião de Almenara, cuja taxa é superior à reativa, sobretudo aquelas que enfatizam as
de Minas Gerais. características das comunidades e seus equipa-
mentos sociais. Em 2014, enquanto no conjunto
Ainda quanto aos crimes contra o patrimônio, dos municípios do estado 52% contavam com
observou-se crescimento significativo das taxas Conselhos Comunitários de Segurança, nos ter-
de roubos12, tanto nos territórios do Jequiti- ritórios do Jequitinhonha esse percentual cor-
nhonha, principalmente no Médio/Baixo, quanto respondia quase à metade (25% dos municípios
no estado. Entre 2012 e 2015, essa taxa passou do Alto e 25,7% do Médio/Baixo). A despeito da
de 45,8 para 82,4 por 100 mil habitantes no Alto existência dos CREAS, esses se mostram insufi-
Jequitinhonha, de 49,2 para 141,7 no Médio/ cientes para apoiar vítimas de violência domés-
Baixo, e de 302,4 para 546,6 em Minas Gerais. tica e de gênero e usuários de álcool e outras
drogas. São escassas ou inexistentes ações que
A densidade institucional permite inferir sobre visam à prevenção do uso de drogas e da vio-
as capacidades locais e institucionais de fazer lência entre jovens, por meio de práticas de cul-
frente aos problemas de criminalidade e vio- tura e lazer, nos moldes do programa Fica Vivo!.
lência, capacidades relativas também à confiança O atendimento a jovens autores de atos infra-
que se estabelece entre populações e órgãos de cionais também observa importantes lacunas,
combate à criminalidade. Os territórios do Jequi- o que torna necessária a criação de centros
tinhonha caracterizam-se pela presença rarefeita socioeducativos e de vagas para acautelamento
das instituições de segurança pública. Somado ao adequado e próximo às comunidades de origem
efetivo precário das organizações de força (polí- de jovens infratores. Não são frequentes, por
cias Civil e Militar e Guardas Municipais), também fim, ações de prevenção a crimes contra o patri-
enfrentam graves carências relacionadas à baixa mônio, como o Olho Vivo.
presença de instituições, como o Ministério
Público, a Defensoria Pública, comarcas do Judi-
ciário e centros socioeducativos para cumpri-
mento de medidas de internação. Apenas Dia- 3.6
INFRAESTRUTURA
mantina possui Guarda Municipal nos territórios
ECONÔMICA
do Jequitinhonha. Já com relação à existência de
Fundo Municipal de Segurança Pública (FMSP),
A infraestrutura econômica foi analisada segundo
apenas 4% dos municípios do Alto Jequitinhonha
quatro dimensões: Rede de Cidades; Estrutura
e 2,8% do Médio/Baixo possuíam essa estrutura.
Viária e de Transportes; Energia; e Tecnologia da
No entanto, em quase todos os municípios dos
Comunicação e Informação.
territórios analisados existiam Unidades Prisio-
nais, em 2014. As exceções são os municípios de
Materlândia (Alto Jequitinhonha), Comercinho, 3.6.1 Rede de cidades
Itaobim e Medina (Médio/Baixo Jequitinhonha).
De acordo com o estudo do IBGE Região de
Influência das Cidades (REGIC), de 2007, tanto o
12 O crime de “roubo” é definido como a subtração de bens com
utilização de violência ou grave ameaça. Alto quanto o Médio/Baixo Jequitinhonha pos-
50 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

suem rede urbana pouco hierarquizada, sendo com oferta de três ou mais dos serviços dina-
que os municípios de maior centralidade da mizadores e que foram relacionados anterior-
região são considerados apenas centro de zona, mente.
ou seja, têm uma atuação vinculada apenas a
sua área imediata, exercendo funções elemen- De maneira geral, os dados do quadro con-
tares. As maiores polarizações estão fora dos firmam os municípios que exercem papel, de
territórios: a capital Belo Horizonte e Guanhães fato, polarizador. Dos municípios sedes de ter-
(MG) para o Alto Jequitinhonha e, para o Médio/ ritório, apenas Felisburgo e Jacinto não apre-
Baixo, Montes Claros, Teófilo Otoni (MG), Sal- sentaram uma variedade (mais de três) dos ser-
vador, Vitória da Conquista, Ilhéus/Itabuna e viços selecionados. Coluna e Joaíma também
Eunápolis (BA). apresentaram baixa capacidade de oferecer
serviços para outros municípios. Por outro lado,
Segundo REGIC (IBGE, 2008), apenas cinco municípios não classificados previamente pela
municípios no Alto Jequitinhonha são conside- REGIC (2007) apresentaram oferta relevante de
rados centros de zona: Diamantina, Capelinha, serviços selecionados, indicando avanços ocor-
Coluna, Serro e Turmalina. No Médio/Baixo ridos após 2007: Minas Novas e Itamarandiba,
Jequitinhonha, são quatro municípios: Alme- no Alto Jequitinhonha; e Itaobim, Padre Paraíso
nara, Araçuaí, Joaíma e Pedra Azul. As demais e Jequitinhonha, no Médio/Baixo.
cidades são apenas centros locais. Nas visitas a
campo, as centralidades se confirmaram, com O padrão de urbanização nos territórios é tra-
exceção de Coluna, no Alto, e de Joaíma, no dicional, na maior parte das cidades sem pro-
Médio/Baixo, que não apresentaram tal poten- cessos de verticalização acentuados, com áreas
cial polarizador. As observações de campo centrais razoavelmente dinâmicas quanto a ati-
também confirmam a estrutura da rede de vidades econômicas e institucionais, variando
cidades um pouco mais coesa no Alto Jequiti- em função do porte dos núcleos urbanos, e
nhonha e mais fragmentada no Médio/Baixo áreas residenciais no entorno dessas centrali-
Jequitinhonha. dades, com edificações bem conservadas de
modo geral. A qualidade do padrão de ocupação
O quadro 3.1 classifica alguns municípios sele- diminui em direção às áreas mais periféricas,
cionados dos dois territórios do Jequitinhonha, onde as edificações se apresentam mais pre-
de acordo com a oferta de uma série de ser- cárias tanto em termos de materiais utilizados
viços. Foram consideradas informações mais como da sua conservação, e com deficiências
recentes quanto à existência de equipamentos em termos da infraestrutura urbana ofertada.
regionais de educação, de assistência social e Diferem do padrão geral as cidades de Cape-
de saúde, e de instituições relacionadas à segu- linha e Diamantina, que apresentam dinâmicas
rança pública. Levou-se também em conside- urbanas mais acentuadas, em especial Diaman-
ração o papel dos centros como dinamizadores tina. Situações de ocupações de risco, áreas vul-
da economia, a existência de atrativos turísticos neráveis, irregularidade na ocupação do solo e
e os pontos de referência na cultura e artesa- áreas de expansão periféricas com deficiências
nato. Constam, ainda, no quadro, os municípios em infraestrutura apontam, a princípio, para a
classificados como centros de zona pela REGIC, incapacidade das administrações municipais em
os que são sede de microterritórios e aqueles lidar com a gestão dos seus territórios.
Caracterização dos territórios 51

QUADRO 3.1: Oferta de serviços atual em municípios dos territórios do Alto Jequitinhonha e do
Médio/Baixo Jequitinhonha

OFERTA DE SERVIÇOS

Centro de Zona A (Regic 2007)1

Centro de Referência Especializa-


Centro de Zona B (Regic 2007)

Polos Regionais (Saúde)2

Secretarias Regionais de
Sedes de microterritório

do de Assistência Social

Cultura e Artesanato6
Centros Econômicos4

Atrativos Turísticos5
Unidades Policiais3
Educação

Total
Microterritório de Diamantina
Diamantina • • 7
Itamarandiba 4
ALTO JEQUITINHONHA

Serro • 3
Coluna • 1
Microterritório de Capelinha
Capelinha • • 6
Turmalina • 4
Minas Novas 4
Microterritório de Almenara
Almenara • • 7
Microterritório de Araçuaí
Araçuaí • • 7
Microterritório de Felisburgo
MÉDIO/BAIXO JEQUITINHONHA

Jequitinhonha 3
Felisburgo • 1
Joaíma • 1
Microterritório de Itaobim
Itaobim • 4
Padre Paraíso 3
Microterritório de Jacinto
Jacinto • 2
Microterritório de Pedra Azul
Pedra Azul • • 5

1. Região de Influência das Cidades. Os centros de zona correspondem às cidades que têm uma atuação vinculada à sua área imediata, exercendo
funções elementares, e são subdivididos em centro de zona A e centro de zona B, sendo que os centros de zona A têm uma abrangência um
pouco maior em termos de serviços ofertados e de relacionamento com o entorno.

2. Polo Macrorregional: Município de maior densidade populacional da macrorregião, com estrutura de equipamentos urbanos e de saúde, de
maior densidade tecnológica, o que requer escala para cerca de 1.500.000 de habitantes; Polo Microrregional: Município de maior densidade
populacional na microrregião, com estrutura de equipamentos urbanos e de saúde, de média densidade tecnológica, o que requer escala para
cerca de 150.000 habitantes; que exerce força de atração sobre outros municípios (Fonte: SES-MG. Plano Diretor de Regionalização).

3. Pelotão, Companhia e Batalhão da Polícia Militar e Delegacias da Polícia Civil.

4. Foram considerados centros econômicos aqueles municípios que apresentam maior dinamismo econômico, representado pela diversidade e/
ou intensidade de atividades econômicas, estudadas no primeiro produto deste Plano.

5. Foram considerados os atrativos de relevância turística com capacidade de atrair fluxos de turistas internacionais, nacionais e macrorregionais.
Não foram considerados os atrativos de pouca relevância turística, capazes de atrair apenas fluxo de municípios limítrofes.

6. Foram consideradas centros de relevância para a cultura e o artesanato aquelas localidades que apresentam um ou mais dos seguintes itens:
sítios arqueológicos, modo artesanal de fazer queijo, festas e expressões culturais, grupos culturais, comunidades quilombolas, artesanato e
patrimônio edificado.
52 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

3.6.2 Estrutura viária e de transportes man­das apresentadas nos Fóruns regionais, de


2015, que reivindicaram a ampliação do número
Uma rede viária bem estruturada é condição para de voos comerciais para atendimento de mais
apoiar os diversos setores ligados ao desenvolvi- pas­sageiros e para mais localidades13.
mento do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha,
incluindo a saúde, a educação, o turismo e o Não obstante, é a malha rodoviária a principal
escoamento da produção. É também essencial responsável pela mobilidade nos territórios
para estruturar de forma mais consistente as estudados. Há, no total, 1.916,15 quilômetros de
redes urbanas e para integrar os territórios entre rodovias ao longo dos territórios.
si e com outras partes do estado e do país.
Os principais acessos ao Alto e ao Médio/Baixo
A acessibilidade e a mobilidade também devem Jequitinhonha são as rodovias federais BR-367,
atender aos desenhos das redes que se confi- BR-251, BR-259, BR-116 e as estaduais LMG-067,
guram em um território, levando-se em conta MG-105, MG-211 e MG-217 (mapa 3.6.1). Alguns
que as ligações asfálticas existentes podem não desses acessos, principalmente no Médio/Baixo
ser suficientes para consolidar essa rede e para Jequitinhonha, encontram-se comprometidos
fortalecer a coesão da região, e desta com seu pela falta de pavimentações complementares e/
entorno. Deve-se considerar, ainda, a escala intra- ou pela qualidade das existentes.
municipal, ou seja, os deslocamentos entre áreas
urbanas e áreas rurais, principalmente no que diz O problema da qualidade da estrutura viária tor-
respeito à ligação de distritos e de povoados rurais na-se ainda mais grave nos territórios do Jequi-
com as sedes. Finalmente, deve-se destacar que tinhonha, que é desprovido de outros meios de
a questão do transporte intermunicipal é fator transporte (ferroviário e aeroviário – que existem,
relevante para o atendimento a demandas por mas ainda é incipiente) e têm como caracterís-
serviços complementares aos existentes em cada tica a maciça presença de municípios fortemente
município. Para isso, deve-se proceder ao levanta- rurais e distantes de algum polo urbano.
mento de demandas por expansão de linhas que
atendam às principais ligações territoriais. A partir de 2003, o Programa de Pavimentação de
Ligações e Acessos Rodoviários aos Municípios
Em relação à malha ferroviária, a despeito de Minas (PROACESSO) foi responsável por efetivar vários
Gerais contar com aproximadamente 5.000 qui- ligamentos intermunicipais, beneficiando inú-
lômetros de extensão (17% da rede nacional), não meros municípios. O programa foi um marco para
existe nenhuma linha em operação no Vale do a região, segundo relatam os planos recentes.
Jequitinhonha. A Estrada de Ferro Bahia-Minas, inau- Contudo, ainda há trechos vicinais importantes a
gurada em 1878 e que passava pela região, sendo pavimentar, duplicar e sofrer manutenção.
importante no transporte de madeira, foi desativada
em 1966. Reitera-se que a malha ferroviária poderia
auxiliar no escoamento da produção, notadamente 13 Uma ação em curso é o programa federal Aviação Regional,
lançado em 2012 e que previa, inicialmente, o investimento
do eucalipto, cujo transporte contribui significativa-
em 270 aeroportos regionais, até 2020. A outra investida é
mente para o desgaste das rodovias. o Projeto de Integração Regional de Minas Gerais – Modal
Aéreo (PIRMA) – Voe Minas Gerais, que pretende interligar a
capital mineira a doze cidades que possuem demanda por
No que tange ao transporte aeroviário, notam-se
voos regionais. Nos territórios estudados, Diamantina e Alme-
também deficiências, bem traduzidas nas de­ nara já realizam voos semanais para Belo Horizonte.
Caracterização dos territórios 53

Mapa 3.5: Malha rodoviária – Alto Jequitinhonha e Médio/Baixo Jequitinhonha – 2017

Rodovias federais
Rodovias estaduais
Limite estadual
Alto Jequitinhonha
Médio/Baixo Jequitinhonha

Fonte: Dados do DEER/MG, 2017.


Elaboração: Fundação João Pinheiro.
54 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

Nesse sentido, podemos citar, tanto por sua tação de 92km da LMG-678 para ligação de Novo
importância para a região, como pelo seu estado Cruzeiro a Araçuaí; g) implantação de trecho de
de má conservação, a BR-367, a BR-261 e a 35km para ligação de Novo Cruzeiro a Ladainha,
rodovia estadual LMG-677. A BR-367 foi implan- entre a MG-211 e LMG-710; h) pavimentação de
tada para ligar Diamantina à Bahia, mas ainda há 65km da BR-342 para ligação de Caraí a Araçuaí;
vários trechos que não são asfaltados e outros i) pavimentação de 14km na MG-105 para ligação
que estão em más condições, acarretando aci- de Fronteira dos Vales a Joaíma; j) pavimentação
dentes. Segundo avaliação disponível, da Con- de 31km da MG-406 para ligação de Rubim a Rio
federação Nacional do Transporte (CNT, 2016), o do Prado; k) pavimentação de 52km na MG-105
estado geral dessa rodovia é considerado ruim. para ligação de Pedra Azul a Jequitinhonha;
l) pavimentação de 96km da LMG-610 para
Já a BR-261, que liga o sul da Bahia ao Centro-Oeste ligação de Pedra Azul a Mata Verde, passando por
brasileiro, possui ainda trechos sem pavimen- Araçagi e Divisópolis; m) implantação de trecho
tação ou em estado precário (seu trecho asfaltado da LMG-618 entre Águas Vermelhas e BR-251.
foi classificado como regular pela CNT, em 2016),
com destaque para a ligação entre os municípios 3.6.3 Energia
de Almenara e Pedra Azul. Já a LMG-677 é consi-
derada estratégica por ligar o Alto ao Médio/Baixo Nos últimos anos, importantes avanços ocor-
Jequitinhonha e permitir a integração dos terri- reram nos territórios do Alto e do Médio/Baixo
tórios entre si e com outras regiões, mas muitos Jequitinhonha em relação ao acesso à energia.
trechos estão em mau estado, com destaque para Entretanto, ainda permanecem desafios quanto
a demanda antiga de pavimentação do trecho à qualidade da energia em diversas localidades,
entre Ijicatu e Virgem da Lapa. Esse último trecho ao custo e às condições de acesso por parte de
possui obra prevista no Pacto pelo Cidadão, do algumas comunidades rurais.
Governo Estadual, instituído em 2016.
Em 2000, mais de um quarto da população em
As inúmeras demandas da população levam a 45,8% dos municípios do Alto Jequitinhonha e
uma lista mínima de intervenções na malha rodo- em 34,3% dos municípios do Médio/Baixo vivia
viária atual, de maneira a contemplar a mobili- em domicílios sem energia elétrica. Isso mudou
dade e o escoamento da produção e auxiliar no radicalmente na década seguinte, de forma que
desenvolvimento da região: a) implantação do em 2010, apenas um município em cada terri-
contorno de Minas Novas, na BR-367, concluindo tório apresentou o percentual de população sem
a obra da ponte sobre o Rio Fanado; b) implan- energia elétrica superior a 10%. Ressalta-se que o
tação de trecho de 23km para ligação de Coluna a pior acesso se dá na área rural.
Rio Vermelho e a Serra Azul de Minas pela MG-010;
c) pavimentação de 60km da BR-367 para ligação Programas como o Luz para Todos, do Governo
de Minas Novas a Virgem da Lapa, passando por Federal e em curso desde o final de 2003, e o Eletrifi-
Chapada do Norte e Berilo; d) implantação de cação Rural, do Governo Estadual e em andamento
trecho de 19km para ligação de Leme do Prado desde 2016, contribuíram fortemente para ampliar
a Chapada do Norte, entre os distritos de Boa o acesso à energia e alcançar sobretudo nas zonas
Vista, Cachoeira do Norte e Santa Rita do Araçuaí; rurais. Contudo, ainda há problemas com a quali-
e) implantação de trecho de 46km para ligação dade da energia, o que ocasiona um fornecimento
de Berilo a José Gonçalves de Minas; f ) pavimen- muitas vezes intermitente, e com a potência da
Caracterização dos territórios 55

energia que não é suficiente para suprir a demanda vimento tanto produtivo quanto social, ao facilitar
industrial. Isso é particularmente grave no caso da o acesso de pessoas e de empresas aos serviços
indústria moveleira, em Turmalina14. e à compra de produtos e ao permitir a troca de
informações em tempo real e entre lugares dis-
O perfil de consumo de energia nos territórios do tantes. Esse tipo de infraestrutura encontra-se em
Jequitinhonha tem a peculiaridade de ter grande situação mais precária nos territórios do Alto e do
participação do setor rural que, como se sabe, Médio/Baixo Jequitinhonha quando comparados
retém a maior parte dos domicílios que ainda não à média do estado. Isso é particularmente válido
possuem acesso à energia. Logo, faz-se necessária em relação ao acesso à Internet e à telefonia móvel.
ação direcionada a romper com a dificuldade do
fornecimento em baixa escala, para que a energia Grande parte das demandas dos Fóruns Regionais
chegue a tais lugares. Sugerem-se a manutenção (2015) relacionadas à telecomunicação dizia res-
e a ampliação do programa Eletrificação Rural, peito à Internet, incluindo pedidos de “aquisição
de forma a mirar a universalização da energia de sinal de Internet”, “melhoria da qualidade da
por meio do fornecimento às áreas rurais ainda Internet” e “extensão do sinal para comunidades
desprovidas dessa facilidade. Nesse processo, é vizinhas”. De todas as demandas relacionadas à
fundamental que a qualidade da energia e a con- Internet, mais de 30% referiam-se à ampliação
tinuidade do fornecimento sejam asseguradas. de acesso nas zonas rurais. Treinamentos, tele-
centros e equipamentos multimídia para escolas
Finalmente, os níveis elevados de insolação na também foram demandados.
região poderiam incentivar a produção própria de
energia, por meio da utilização de placas solares e No que diz respeito ao provimento da infraestru-
da construção de (micro) usinas solares. Também tura de telecomunicações, o programa do Governo
há potencial para a produção de energia eólica em Federal “Cidades Digitais”, criado em 2012, sele-
algumas áreas e de energia de biomassas. Devido cionou 29 municípios mineiros para receberem
aos altos custos, programas específicos devem infraestrutura de conexão de fibra ótica e de tec-
ser pensados e recursos devem ser direcionados. nologia Wi-fi nos órgãos e equipamentos públicos
Tais medidas se tornam urgentes para reduzir o locais. Desses municípios, cinco – Araçuaí, Fran-
custo da energia na região, em seus diversos usos, cisco Badaró, Itamarandiba, Itinga, Jequitinhonha
incluindo os domiciliares, industriais, o atendi- – estão nos territórios do Jequitinhonha. Esse pro-
mento às escolas e à administração pública. grama conta com a parceria estadual das Secre-
tarias de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior (SECTES) e a de Educação (SES) e está inse-
3.6.4 Tecnologias da informação rido também no programa estadual Minas Digital.
e comunicação

Já em relação à cobertura da telefonia móvel,


As tecnologias da informação e comunicação
dados da Anatel de novembro de 2014 reve-
abrangem as formas de transmissão de informa-
lavam que todos os municípios dos territórios do
ções e as tecnologias que norteiam os processos
Jequitinhonha contavam com pelo menos uma
comunicativos. Elas trazem suporte ao desenvol-
operadora. No entanto, o fato de a maioria deles
dispor de apenas uma opção de prestadora difi-
14 Conforme demandas dos Fóruns Regionais, depoimentos
colhidos durante as oficinas de campo para este Plano e infor-
culta a melhoria da qualidade do serviço e a
mações obtidas em sites de noticiários locais. redução do preço do serviço.
56 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

Em que pese a ampliação do serviço de telefonia 3.7


nos territórios estudados, nos últimos anos, eles GESTÃO MUNICIPAL
permanecem em desvantagem frente à média
dos municípios mineiros em relação à quantidade A descentralização das políticas públicas, impul-
de operadoras presentes em cada cidade e à qua- sionada pela Constituição Federal de 1988,
lidade do serviço prestado, o que foi bastante trouxe novas e importantes atribuições para os
acentuado nos fóruns regionais. As principais municípios, que passaram a demandar capaci-
demandas se referiram à “implantação/universa- dade institucional, administrativa e financeira
lização do sinal da telefonia móvel e fixa”, princi- por parte das respectivas administrações. Eles
palmente nas comunidades rurais, à “melhoria do passam a ter responsabilidade direta na pro-
sinal em algumas localidades” e à “extensão do visão de serviços, como transporte coletivo,
sinal existente para comunidades vizinhas”. Foram educação infantil e primeiras séries do ensino
também mencionados povoados e distritos ainda fundamental, serviços de saúde básica, pro-
desprovidos do serviço de telefonia móvel. teção e valorização do patrimônio cultural e
ordenamento urbano e territorial.
Deve-se enfatizar que a oferta dos serviços de
telecomunicação, semelhante aos de energia, A Gestão Municipal nos territórios do Jequiti-
depende, muitas vezes, de incentivos para nhonha deve ser abordada observando-se dois
ocorrer em locais onde a escala da demanda não aspectos: a capacidade financeira e a capacidade
é capaz de cobrir os custos da implantação da institucional. Quanto à primeira, predominam
rede de oferta. Para isso, é essencial uma forma municípios de pequeno porte (83% do Alto Jequi-
de regulação que garanta que as operadoras pre- tinhonha e 86% do Médio/Baixo tinham, em 2014,
sentes em outros municípios prestem o serviço até 23.772 habitantes, a terceira faixa adotada para
também para aqueles onde há menor demanda. a distribuição do Fundo de Participação Municipal
– FPM), com baixa capacidade de arrecadação de
Também é preciso destacar que programas como receitas geradas com base nas atividades pro-
o Minas Digital e o Minas Comunica II têm poten- dutivas e na baixa capacidade de cobrar outras
cial para contribuir com o aumento da “conexão” taxas, sendo, portanto, altamente dependentes
dos municípios, beneficiando diversos tipos de das transferências intergovernamentais, com des-
serviços e operações. Contudo, para além da uni- taque para as do FPM, do Fundeb e do SUS.
versalização do serviço, é necessário garantir que
a oferta seja ampla – de mais de uma operadora Segundo dados de 2013, o Índice de Desem-
– e de qualidade. penho Econômico e Tributário (IDTE)15 era baixo

15 O IDTE corresponde à participação percentual da soma das


Em síntese, as ações no eixo da tecnologia da
receitas próprias (impostos, taxas e contribuições de melhoria)
informação e comunicação devem estar susten- e das receitas de ICMS devidas aos critérios proativos da Lei
tadas, portanto, na ampliação da rede de serviços Robin Hood (VAF, educação, saúde, meio ambiente, patrimônio
cultural, produção de alimentos e municípios mineradores)
de telefonia (fixa, mas principalmente móvel) e
na soma das receitas totais, que também inclui as receitas de
de Internet. Deve incluir também a devida capaci- ICMS devidas aos critérios passivos da Lei Robin Hood (popu-
tação da população para o manejo dessas tecno- lação, cota mínima e área geográfica), as receitas de FPM e de
logias, sobretudo no que diz respeito à comercia- IPVA. Quanto menor o IDTE, mais o município é dependente de
transferências. O IDTE é considerado baixo quando menor que
lização e divulgação de produtos, com destaque 20; médio-baixo, quando entre 20 e 40; médio, entre 40 e 60,
para as áreas do turismo e do artesanato. médio-alto, entre 60 e 80; e alto, quando entre 80 e 100.
Caracterização dos territórios 57

em 66,7% dos municípios do Alto Jequitinhonha Em uma situação de redução das receitas públi-
e em 68,6% dos municípios do Médio/Baixo e era cas, alta dependência de transferências in­ter­
apenas médio-baixo no restante dos municípios gover­namentais e consequente compressão dos
desses territórios, à exceção de apenas dois (um gastos, a obtenção do equilíbrio fiscal implica no
deles com IDTE médio e o outro, médio-alto), mos- sacrifício de algumas despesas, principalmente
trando elevada dependência desses municípios investimentos e custeio da máquina. Deve-se
de transferências de outras esferas de governo. destacar que os municípios são pressionados em
Além disso, cabe notar que essa dependência direção ao limite estabelecido pela LRF para o
havia apresentado crescimento em relação a gasto com pessoal. Ao longo dos anos, os gas-
2010. Ou seja, esses territórios vêm reduzindo a tos com pessoal, que têm caráter obrigatório e
capacidade de financiar suas atividades governa- maior rigidez, vêm mantendo uma trajetória as-
mentais e de prestar serviços à população com cendente, tendo alguns municípios já ultrapas-
receitas geradas pela arrecadação de tributos sado, em 2013, o limite de alerta (57% da RCL)
cobrados sobre sua base econômica. Embora definido pela LRF. A Constituição define também
essa tendência tenha sido observada para o con- limites mínimos para o gasto com educação e
junto dos municípios do estado, foi maior para os com saúde.
territórios aqui em estudo.
A sustentabilidade fiscal do gasto passa pelo
No que diz respeito aos valores de Receita Cor- fortalecimento da base econômica, que tende a
rente Líquida16 per capita, observa-se que, em propiciar o incremento da arrecadação própria,
2013, os municípios no Alto Jequitinhonha apre- pela busca de outras fontes de financiamento
sentaram mediana de R$ 2.440,47, bem acima para as políticas públicas e pela criação ou o
da mediana dos municípios do Médio/Baixo, aperfeiçoamento dos mecanismos de gestão das
R$ 1.782,38, enquanto a dos municípios do contas públicas.
estado era de R$ 2.208,38.
Quanto à capacidade institucional dos muni-
Ainda no que se refere ao aspecto da capaci- cípios dos territórios do Jequitinhonha, são
dade financeira municipal, cabe destacar que, inúmeras as deficiências em todas as áreas de
em muitos municípios desses dois territórios, os atuação do poder público, o que se reflete na
valores de transferências monetárias diretas às relativa baixa qualidade dos bens e serviços
famílias são superiores às receitas municipais, ou prestados nas várias políticas públicas setoriais.
seja, no dizer de Tupy e Toyoshima (2013), são
“economias sem produção”, o que está direta- Foram constatados problemas de organização e
mente relacionado com a alta dependência que as articulação dos órgãos que compõem o aparato
economias de muitos municípios têm da adminis- estatal, sendo as principais dificuldades relacio-
tração pública, como enfatizado anteriormente. nadas ao planejamento, direção e controle das
ações estatais. Essa realidade é um reflexo direto
da insuficiente qualificação profissional de parte
16 Corresponde ao somatório das receitas de impostos, taxas, contri-
buições, receitas com as eventuais atividades econômicas desen- dos servidores, somada à inexistência de polí-
volvidas pelos municípios e transferências constitucionais e legais, ticas de profissionalização e capacitação para
além de outras receitas correntes. Desse valor são deduzidos os o desempenho da função pública municipal.
valores transferidos ao FUNDEB, as contribuições dos servidores
municipais para o custeio do sistema de previdência e assistência
Isso é verdade também para a área política, ou
social e as receitas provenientes da compensação financeira. seja, prefeitos e vereadores são em geral des-
58 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

preparados para desempenharem as funções


de ­ planejamento, execução, gerenciamento,
elaboração de leis, fiscalização e controle. A isso
soma-se a baixa capacidade institucional no que
diz respeito aos mecanismos de planejamento
municipal, incluindo a falta de planos diretores e
a precariedade dos conselhos e de outros instru-
mentos de planejamento.

Embora grande parte dos municípios parti-


cipe de consórcios, principalmente na área da
saúde, a utilização de tal instrumento de coo-
peração poderia ser ampliada para várias outras
áreas, nas quais a gestão municipal é obrigada,
por determinação legal ou mesmo em função
da demanda social, a atuar, mas nem sempre
o faz de maneira adequada. Assim, consórcios,
viabilizando a cooperação entre os municípios,
tendem a ser um mecanismo para aumentar a
eficiência em determinada política.
Caracterização dos territórios 59
60 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
Eixos de intervenção, estratégias e ações 61

4
Eixos de intervenção,
estratégias e ações

Esta seção apresenta as proposições que consti- ções da sociedade civil, muitas voltadas a projetos
tuem o núcleo do PDVJ, expressas em estratégias sociais. Há iniciativas bem-sucedidas, envolvendo
e ações e norteadas por eixos de intervenção, que formação de jovens, escolas profissionalizantes e
apontam para as questões centrais que devem ser apoio às atividades agrícolas, entre outras. Um
tratadas visando ao desenvolvimento sustentável. bom exemplo é a exitosa experiência do Centro
Os eixos de intervenção foram definidos com de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV), no
base na análise das potencialidades e fragilidades Alto Jequitinhonha, no trabalho com recursos
dos dois territórios do Jequitinhonha, extraídas hídricos, assistência técnica, extensão rural, sis-
do Diagnóstico Propositivo e contrapostas com temas agroflorestais e atividades de suporte ao
as oportunidades e ameaças externas que podem agricultor familiar.
alterar o ambiente de sua implementação.
Nas últimas décadas, muitos avanços ocorreram
na área social, fortalecida pela institucionali-
POTENCIALIDADES zação dos sistemas de saúde (SUS), assistência
social (SUAS) e educação. Na educação superior,
Vale destacar, em primeiro lugar, a riqueza do os destaques foram a recente instalação da Uni-
patrimônio e das manifestações culturais, que se versidade Federal do Vale do Jequitinhonha e
expressam nas festas culturais e religiosas, nos Mucuri (UFVJM) e dos institutos técnicos fede-
grupos folclóricos e no rico artesanato em cerâ- rais. O aumento da oferta educacional e das
mica, tecelagem e couro, entre outros. Essa cultura, atividades de pesquisa abrem a possibilidade
aliada aos aspectos naturais, como a riqueza pai- de diversificação produtiva, incluindo a conso-
sagística, concede aos territórios um potencial de lidação de um polo intensivo de conhecimento.
desenvolvimento do turismo e qualifica a região Para tanto, é necessário não perder de vista a
para nichos relacionados à economia criativa. necessidade de aproximação das instituições
com a realidade local por meio da extensão e
Soma-se a isso a existência de uma população da pesquisa.
engajada e participativa, com forte senso de per-
tencimento e potencial para a mobilização social, Destaca-se também a relevância da pequena
que se materializa na intensa atuação de institui- produção agropecuária, incluindo aquela para o
62 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

autoconsumo, mas que requer ações para forta- impactos da monocultura do eucalipto e com a
lecer a comercialização de seus produtos. Des- degradação ambiental causada pelo desmata-
taca-se o papel das feiras municipais, nas quais mento e pelas queimadas.
muitas famílias obtêm sua fonte principal de
renda e muitas outras têm acesso a alimentos A estrutura fundiária nos territórios é muito con-
de qualidade. As feiras fazem parte da rotina centrada e há um alto percentual de pequenas
dos municípios e têm grande significado social e propriedades de agricultores familiares. Em
cultural, com potencial para a expansão de ativi- muitas situações, a área dessas propriedades é
dades culturais e turísticas. menor que o módulo fiscal, que constitui a área
mínima para que uma unidade produtiva seja
Há, como indicado, muitos produtos na agro- economicamente viável.
pecuária com potencial de fortalecer a geração
de emprego e renda. A fruticultura, incluindo Os indicadores de escolarização dos territórios
a produção de banana, manga, abacaxi, uva e do Alto e Médio/Baixo Jequitinhonha expõem
morango, entre outras, está bastante dissemi- uma situação precária na educação, manifestada
nada. O café pode ser disseminado para outros na baixa escolaridade da população adulta, no
municípios e ser objeto de estratégias para atraso escolar e nas deficiências de aprendizagem
agregar valor. A apicultura vem se desenvol- dos jovens de 15 a 17 anos. A oferta de educação
vendo rapidamente no Alto Jequitinhonha. A superior, concentrada em algumas cidades, difi-
pecuária, atividade tradicional na região, abre culta o acesso das populações que vivem em
muitas possibilidades. E há o enorme potencial municípios mais distantes. As atividades de pes-
representado pela agroindústria familiar. quisa e extensão têm também alcance limitado
ao longo dos dois territórios.
A mineração também é fonte de oportunidades,
incluindo a extração de pedras ornamentais, de Problemas de execução e gestão de políticas
gemas e do lítio, cujo potencial de produção públicas ocorrem nas diversas áreas, incluindo
se mostrou bem maior com base em estudos educação, saúde, saneamento, assistência so­cial,
recentes. A indústria, pouco desenvolvida, tem cultura, habitação e segurança pública. Na segu-
nichos promissores, como a produção de móveis rança pública, essas dificuldades, combi­ na­das
e madeira, a agregação de valor na mineração e o com a baixa densidade das instituições, re­per­
processamento de frutas. cutem no aumento do número dos crimes vio-
lentos e de crimes em geral. Uso e tráfico de
drogas, consumo de álcool, violência doméstica
FRAGILIDADES e de gênero e desestruturação familiar refletem
também esses problemas.
Uma das principais fragilidades dos territórios
do Jequitinhonha diz respeito à escassez de Para essas dificuldades relacionadas às políticas
água e à pressão sobre os recursos hídricos. A públicas contribuem as deficiências da adminis-
região tem várias áreas susceptíveis à desertifi- tração pública e da capacidade estatal. Faltam
cação. Além da seca, sofre com a contaminação recursos humanos em vários segmentos da
das águas e o assoreamento dos rios pela mine- administração estadual. A situação é ainda mais
ração, com o lançamento de esgoto sanitário e séria no que diz respeito à administração muni-
despejo de resíduos sem tratamento, com os cipal, na qual falta, por exemplo, uma equipe
Eixos de intervenção, estratégias e ações 63

de gestores preparada para captar recursos, Nesse sentido, o elevado comprometimento


fazer parcerias e adotar as ações necessárias de recursos orçamentários com a folha de pes-
para a promoção do desenvolvimento local. soal e as despesas obrigatórias, bem como o
Além disso, observa-se uma histórica dificul- déficit apresentado em seguidos resultados
dade de cooperação entre os municípios. A isso orçamentários, podem comprometer a reali-
somam-se as dificuldades de coordenação entre zação dos investimentos necessários previstos
os órgãos em si e particularmente entre as dife- no PDVJ.
rentes esferas da federação. As tarefas neces-
sárias para o sucesso do PDVJ são ambiciosas A extinção do MDA reflete a falta de priorização
e difíceis, requerendo grande capacidade de de uma temática que é crítica para o desenvol-
coordenação estatal e forte articulação com a vimento da região. Tal fato tem especial signi-
sociedade civil e os empresários. ficância não somente para a execução de polí-
ticas para a agricultura familiar, mas também
Outra fragilidade são os tradicionais gargalos para a promoção e execução de um programa
de infraestrutura, destacando-se a deficiência de desenvolvimento territorial. Deve-se des-
da estrutura viária, a precariedade das estradas tacar que o antigo ministério fora responsável
e o relativo isolamento da região, que difi- pela execução de programas que adensaram
culta o transporte de produtos e pessoas. Há a discussão sobre desenvolvimento territorial,
também os problemas na qualidade e na oferta tendo contemplado os territórios em questão.
de energia e nos serviços de telecomunicações,
com a baixa cobertura de telefonia móvel e o
baixo acesso à Internet. OPORTUNIDADES

Enfim, as atividades produtivas sofrem particu- Em termos de oportunidades percebidas no


larmente com a baixa qualificação da mão de ambiente externo, destaca-se a consolidação
obra, com as dificuldades de acesso à água e com de um sistema institucionalizado para as áreas
as deficiências dos órgãos públicos, que com- da Saúde (SUS), Assistência Social (Suas) e Edu-
prometem serviços como assistência técnica e cação (PNE), bem como a consolidação, nas
extensão rural e a fiscalização ambiental. últimas décadas, das políticas de Previdência
Rural, Benefício de Prestação Continuada e Bolsa
Família. Em virtude da elevada participação da
AMEAÇAS agricultura familiar, as seguintes políticas têm
também importância significativa para os ter-
No tocante às ameaças, destacam-se a crise ritórios: Programa Nacional de Alimentação
fis­
cal, o elevado comprometimento de re­ Escolar (Pnae), Programa de Aquisição de Ali-
cur­sos orçamentários com a folha de pessoal, mentos da Agricultura Familiar (PAA), Programa
os déficits orçamentários, a extinção do Minis- Nacional de Fortalecimento da Agricultura Fami-
tério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e a liar (Pronaf ), Programa 1 Milhão de Cisternas e
histórica dificuldade de cooperação entre os Programa Luz para Todos.
entes federados. A crise fiscal que atinge os
estados, inclusive o Governo de Minas Gerais, e No conturbado quadro fiscal e em face da difi-
a União tem implicações diretas na capacidade culdade de se gerar receitas próprias, a distri-
de alocação de recursos pelos entes estatais. buição do ICMS em Minas Gerais pelos crité-
64 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

rios da Lei Robin Hood (MINAS GERAIS, 2009)17 nômico (e sustentável) da biodiversidade. Abre
constitui uma oportunidade para o incremento também oportunidade para políticas de paga-
das receitas dos municípios pobres. Outra opor- mento por serviços ambientais.
tunidade vem com a possibilidade de realo-
cação das terras anteriormente destinadas à Por fim, grande oportunidade passa pelas prio-
plantação de eucalipto. Parcela dessas terras ridades escolhidas pelo atual Governo de Minas
é fruto de contratos de cessão de terras devo- Gerais, como a redução da pobreza rural e das
lutas por parte do Governo do Estado. Em face desigualdades regionais. Alguns passos foram
do término do prazo de cessão, parte dessas dados nesse sentido, potencializados pela criação
terras podem ser alocadas para programas com dos Fóruns Regionais e pela ênfase em práticas
maiores retornos sociais. participativas. Destaca-se também a criação da
Secretaria de Desenvolvimento Agrário, que
Outra fonte de oportunidades surge com as novas reflete uma decisão política de priorização da
tecnologias e a Internet, que se consolidaram no temática da agricultura familiar. Deve-se consi-
mundo globalizado e atuam na integração de derar também que os Fóruns dialogam direta-
pessoas, culturas e países. Esses novos meca- mente com a anterior política de Territórios da
nismos de comunicação abrem novas possibili- Cidadania, sugerindo um formato institucional
dades de integração dos territórios em questão, que pode contribuir para melhorar a coorde-
além de abrir mercados (nacionais e internacio- nação e priorizar ações adequadas ao desenvol-
nais) para os produtos locais e para o turismo. vimento territorial.

Nos territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequi- Em face a esse cenário geral, as propostas de
tinhonha encontram-se dois biomas conside- desenvolvimento para a região foram organi-
rados hot spots, o cerrado e a mata atlântica, zadas em cinco eixos de intervenção: (1) Recursos
classificados em função da alta biodiversidade e Hídricos, (2) Desenvolvimento Produtivo, (3)
da ameaça de extinção a que estão expostos. A Desenvolvimento Social, (4) Infraestrutura Eco-
atenção internacional que isso suscita pode for- nômica e (5) Gestão Municipal. Para cada um
talecer a mobilização de estratégias em torno da desses eixos, foram definidas as estratégias e
preservação ambiental, potencializando a cap- as ações correspondentes. Aquelas prioritárias
tação de recursos internacionais, a instalação de serão apresentadas na próxima seção, enquanto
Unidades de Conservação e o desenvolvimento a lista completa das estratégias e ações propostas
de atividades de pesquisa buscando o uso eco- encontra-se no Apêndice.

17 A Lei Robin Hood, vigente desde 1996, estabelece critérios


para distribuir 25% da parcela de repasses do ICMS aos municí-
pios, sendo que os 75% restantes permanecem proporcionais 4.1
ao Valor Agregado Fiscal (VAF) dos municípios. Trata-se de um
ESTRATÉGIAS E AÇÕES
instrumento de política pública para impulsionar a execução
PRIORITÁRIAS: EIXO RECURSOS
de determinadas políticas setoriais pelos municípios além
de procurar sanar as disparidades da distribuição com base
HÍDRICOS
exclusiva no VAF, daí ser conhecida por “Robin Hood”. Os crité-
rios para distribuição, segundo a Lei nº 18.030/2009, que em Este eixo de intervenção é constituído pelas
vigor desde 2011, são: área geográfica, população, educação,
seguintes estratégias: 1) preservação dos recursos
saúde, patrimônio cultural, meio ambiente, produção de ali-
mentos, receita própria, recursos hídricos, turismo, esporte,
hídricos e 2) implementação de pagamentos por
sede de penitenciárias, solidário e mínimo per capita. serviços ambientais.
Eixos de intervenção, estratégias e ações 65

Estratégia 1: Preservação dos recursos Ações prioritárias:


hídricos
1. Implementar política pública regional de in-
Os territórios do Jequitinhonha, embora com centivos econômicos voltados para a imple-
diferenças, têm baixa disponibilidade natural mentação do mecanismo de Pagamento por
de recursos hídricos, tanto superficiais quanto Serviços Ambientais (PSA) com foco na pro-
subterrâneos. O mais preocupante é que seu dução de água (PSA ÁGUA) e na fixação de
grau de comprometimento vem se elevando Carbono (PSA Carbono). Trata-se de bonificar
nas últimas décadas, em função de fatores de financeiramente produtores rurais que cerca-
pressão diversos, principalmente aqueles ligados rem nascentes, preservarem áreas nativas, res-
à expansão da monocultura de eucalipto, da pro- taurarem áreas florestais com espécies nativas
dução de café, da pecuária, da mineração, do des- e ampliarem áreas de cobertura vegetal;
matamento em geral e do consumo humano. A
questão dos recursos hídricos, deve-se salientar, 2. Criar um fundo de pagamento por serviços
é crítica tanto para a qualidade de vida das pes- ambientais para o Jequitinhonha, gerido pe-
soas como para a atividade produtiva. los comitês de bacias hidrográficas;

3. Fazer acordos com empresas que lidam com


Ações prioritárias:
grandes empreendimentos e fazem uso inten-
so de recursos hídricos para que participem
1. Ampliar o número de Unidades de Conserva-
do Pagamento de Serviços Ambientais.
ção nos territórios (Lei 9.985/00);

2. Criar Corredor Ecológico Interterritorial desde


a nascente do Jequitinhonha até o limite com 4.2
o estado da Bahia, contendo ramificações ESTRATÉGIAS E AÇÕES
para as principais sub-bacias hidrográficas; PRIORITÁRIAS: EIXO
DESENVOLVIMENTO
PRODUTIVO
3. Elaborar um plano de zoneamento ambiental
promovendo a gestão integrada dos territórios O eixo Desenvolvimento Produtivo é constituído
para melhor alocar as plantações de eucalipto, pelos seguintes subeixos: 1) agropecuária, 2) agroin-
evitando as áreas de recarga de aquíferos. dústria, 3) indústria, 4) mineração; 5) turismo.

Estratégia 2: Implementação de pagamentos


por serviços ambientais
4.2.1 Subeixo Agropecuária
O mecanismo de Pagamento por Serviços
Ambientais prevê a remuneração financeira Este subeixo é composto pelas seguintes estraté-
ao produtor rural que restaura e/ou destina gias: 1) promoção da regularização fundiária e for-
parte de sua propriedade para preservação de talecimento do acesso à terra; 2) fortalecimento
áreas nativas, prestando um importante serviço da fiscalização do meio ambiente e agilidade na
ambiental para a sociedade no provimento de obtenção de licenças ambientais; 3) fortaleci-
água e na fixação de carbono e contribuindo para mento e promoção da pesquisa agropecuária e da
a regulação do clima local ou regional. Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater); 4) for-
66 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

talecimento da comercialização dos produtos da Ações prioritárias:


agricultura familiar; 5) estímulo às associações de
agricultores familiares; 6) fortalecimento de pro- 1. Fortalecer o Instituto Estadual de Florestas
dutos estratégicos para a região; 7) redução dos (IEF) e a Superintendência Regional de Regu-
impactos ambientais da monocultura do euca- larização Ambiental (Supram/Feam) para que
lipto e adoção de medidas visando à ampliação tenham atuação em todos os municípios;
do seu retorno econômico para a região.
2. Modernizar o atendimento e o procedimento
Estratégia 1: Promoção da regularização para obtenção de licenças por meio de formu-
fundiária e fortalecimento do acesso à terra lários de cadastros informatizados;

A maior parte das pessoas que vivem no meio 3. Fortalecer as funções orientadoras dos órgãos
rural no Jequitinhonha não tem a titulação da ambientais em detrimento das punitivas.
terra, o que causa insegurança jurídica, deses-
timula investimentos e pode limitar o acesso a Estratégia 3: Fortalecimento e promoção
políticas públicas. Assentamentos da reforma da pesquisa agropecuária e da assistência
agrária e terras indígenas e quilombolas merecem técnica e extensão rural (ATER)
atenção diferenciada.
As atividades ligadas à ATER são essenciais para
Ações prioritárias: o pequeno e médio produtor, ao gerarem e dis-
seminarem conhecimentos de natureza técnica,
1. Ampliar e agilizar o processo de regularização econômica, ambiental e sócia e apoiarem o uso
fundiária, simplificando e reduzindo os custos de tecnologias sociais e dos saberes tradicionais.
dos trâmites judiciais e extrajudiciais, apoian- O quadro hoje é que os órgãos responsáveis não
do mutirões e criando uma instância de con- têm técnicos em número suficientes, sendo inca-
trole social; pazes de lidar com a ampla demanda. Há também
espaço para maior participação de ONGs e univer-
2. Ampliar e agilizar os processos de titulação de sidades. Especial atenção deve ser concedida aos
territórios quilombolas e de delimitação e de- assentamentos e a terras indígenas e quilombolas.
marcação das terras indígenas;
Ações prioritárias:
3. Desburocratizar o acesso ao crédito fundiário,
sobretudo para o público jovem. 1. Aumentar o número de técnicos da Emater e da
Epamig e fortalecer os programas de capacitação;
Estratégia 2: Fortalecimento da fiscalização
do meio ambiente e agilidade na obtenção de 2. Fortalecer a pesquisa agropecuária e aproxi-
licenças ambientais má-la dos agricultores;

Faz-se essencial agilizar o processo de licencia- 3. Fortalecer os órgãos municipais ligados à as-
mento ambiental, evitando a morosidade que sistência técnica e à extensão rural;
atrasa os investimentos/empreendimentos. Isso
deve ser feito sem comprometer a capacidade de 4. Estimular a formação de parcerias com univer-
fiscalização do meio ambiente. sidades e ONGs.
Eixos de intervenção, estratégias e ações 67

Estratégia 4: Fortalecimento da comercialização Outras formas de comercialização:


dos produtos da agricultura familiar
1. Certificar e tornar mais barato o processo de
Um dos principais gargalos da agricultura fami- certificação dos produtos orgânicos e agroe-
liar está na comercialização. Apesar dos avanços cológicos. Ampliar a participação das univer-
verificados nas últimas décadas, há grande difi- sidades no processo de certificação por meio
culdade para escoar a produção, acarretando em da adoção de editais específicos.
perdas e desperdício.
Estratégia 5: Estímulo às associações de
agricultores familiares
Ações para fortalecer os programas de compras
públicas e institucionais:
As associações reduzem o isolamento do agri-
1. Adequar os cardápios das escolas aos alimen- cultor e facilitam o acesso a políticas de assis-
tos possíveis de serem produzidos localmente; tência técnica, a programas de comercialização e
ao crédito. Tendem também a fortalecer o empo-
2. Conferir assistência ao agricultor para prepa- deramento e a autoestima do agricultor.
ração e entrega dos produtos nas condições
exigidas pelos editais;
Ações prioritárias:

3. Mobilizar prefeituras, secretarias municipais


1. Reduzir as taxas cobradas, a burocracia legal
e diretores de escola para ampliar a partici-
e os custos de operação das associações de
pação da agricultura familiar nas compras da
agricultores familiar;
alimentação escolar;

2. Trabalhar para que as políticas públicas en-


4. Antecipar a liberação de recursos para a reali-
volvam no seu processo de implementação as
zação das chamadas públicas para a aquisição
associações comunitárias rurais.
de gêneros alimentícios desde o início do pe-
ríodo escolar;
Estratégia 6: Fortalecimento de produtos
estratégicos para a região
5. Fortalecer o Programa de Aquisição de Ali-
mentos (PAA) por adesão.
Alguns produtos apresentam um potencial para
a geração de emprego e renda e devem ser prio-
Ações para fortalecer as feiras: rizados como eixos de desenvolvimento para
a região. Necessitam, em geral, de apoio para o
1. Organizar o transporte de produtores e de aumento da produtividade e para o beneficia-
produtos, com coparticipação de recursos mento e a comercialização.
públicos, possibilitando a maior participação
nas feiras;
Ações prioritárias:
2. Promover a reordenação dos espaços das fei-
ras e mercados municipais, privilegiando a 1. Promover parcerias com empresas de reflores-
agricultura familiar e regulando a atuação de tamento para expansão das áreas para a pro-
ambulantes. dução do mel;
68 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

2. Agilizar o processo de inspeção sanitária/fis- 2. Incentivar as atividades que utilizam o euca-


calização para a obtenção do selo para a co- lipto como matéria-prima processada na pró-
mercialização intermunicipal do mel; pria região;

3. Fortalecer as políticas voltadas para os centros 3. Garantir a aplicação dos impostos gerados na
de comercialização, beneficiamento e classifi- atividade em projetos sociais, culturais e eco-
cação do café; nômicos da própria região.

4. Fortalecer a cadeia da fruticultura por meio


de programas de irrigação, preparo do pro-
duto, abertura de linhas de comercialização e 4.2.2 Subeixo Agroindústria
concessão de estímulos fiscais para o proces-
Este subeixo é constituído pela seguinte estra-
samento;
tégia:

5. Estimular a criação e a regularização de aba-


Estratégia: Fortalecimento da agroindústria
tedouros e frigoríficos e melhorar a vigilância
familiar
sanitária na pecuária;

A agroindústria familiar abre oportunidades para


6. Estimular a cadeia do leite, com incentivo a as-
o agricultor agregar renda, garantindo a manu-
sociações e laticínios.
tenção da atividade produtiva em períodos de
entressafra. Entre as dificuldades que enfrenta,
Estratégia 7: Redução dos impactos
destacam-se os limites na fiscalização/inspeção
ambientais da monocultura do eucalipto e
adoção de medidas visando à ampliação de sanitária, assim como questões ligadas à legis-
seu retorno econômico para a região lação tributária.

A silvicultura tem impacto limitado na economia


Ações prioritárias:
da região, gera poucos impostos e os produtos
saem em forma bruta, agregando pouco valor.
1. Resolver as incompatibilidades entre as legis-
Além disso, são altos os impactos negativos sobre
lações tributária e previdenciária, garantindo
o meio ambiente. Isso justifica a maior aplicação
que a venda de produtos da agroindústria fa-
dos impostos gerados pela atividade na região,
miliar não comprometa o direito à aposenta-
assim como a exigência de maiores contrapar-
doria rural;
tidas por parte das empresas. Tende a justificar
também o redirecionamento das terras com con-
2. Permitir a venda pelas associações comunitá-
tratos expirados.
rias para os mercados institucionais;

Ações prioritárias: 3. Simplificar as exigências sanitárias, adequan-


do-as às especificidades da pequena produção;
1. Revisar os contratos de concessão de terras
que já expiraram ou estão próximos a expirar 4. Incentivar a criação e o fortalecimento dos
e redirecioná-las, com participação da socie- serviços de inspeção municipal e de sua atua-
dade, para usos alternativos; ção por meio de consórcios.
Eixos de intervenção, estratégias e ações 69

4.2.3 Subeixo Indústria Estratégia: Geração de conhecimento


mais detalhado e aprofundado das
Este subeixo é constituído pela seguinte estra- potencialidades dos territórios no setor de
tégia: mineração

Estratégia: Fortalecimento da indústria Uma política de desenvolvimento do setor de


mineração no Jequitinhonha deve estar emba-
A indústria, um setor de alta produtividade e com sada em um conhecimento mais detalhado e
alta demanda por serviços de maior complexi- aprofundado das potencialidades da região.
dade, é pouco desenvolvida na região. Há, no Esse detalhamento poderia alavancar as reservas
entanto, oportunidades, incluindo a agregação potenciais e as reservas reais e dar impulso às
de valor às atividades da silvicultura, da mine- ações de apoio direto à atividade minerária.
ração e da agropecuária.
Ações prioritárias:

Ações prioritárias: 1. Com base no mapeamento geológico já exis-


tente, mapear as áreas potenciais em escala
1. Fortalecer a indústria de madeiras e móveis no
compatível com a descoberta e detalhamento
Alto Jequitinhonha, priorizando a capacitação
de depósitos minerais;
da mão de obra e a participação em rodadas
de negócios internacionais;
2. Atualizar as informações sobre reservas, produ-
ção e comercialização de minerais nos territórios.
2. Incentivar as empresas processadoras de fru-
tas e de outros produtos primários;

3. Promover maior agregação de valor na cadeia 4.2.5 Subeixo Turismo


de gemas e joias, instalando centros de lapi-
dação para a elaboração de joias e peças arte- As estratégias que compõem este subeixo são:
sanais de bijuterias, adornos e ornamentos; 1) estruturação e qualificação da oferta turís-
tica; 2) estímulo à demanda e fortalecimento da
4. Estimular o beneficiamento das rochas orna- comercialização turística; 3) fortalecimento do
mentais extraídas dos territórios; sistema de gestão do turismo e suas instituições.

5. Estimular o aproveitamento de rejeitos da la- Estratégia 1: Estruturação e qualificação da


oferta turística
vra e do beneficiamento dos minerais;

Os territórios do Jequitinhonha apresentam neces-


6. Incentivar o processamento do lítio na região.
sidade de estruturação da maioria dos atrativos
turísticos e de sua articulação para a formatação
de roteiros e produtos turísticos. Ênfase maior
4.2.4 Subeixo Mineração deve ser dada aos atrativos e roteiros que tenham
maior potencial de atratividade, condições propí-
Este subeixo é constituído pela seguinte estra- cias para o investimento, condições favoráveis de
tégia: acesso e instrumentos de gestão urbana.
70 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

Ações prioritárias: pernoitar em destinos dos territórios do Je-


quitinhonha;
1. Estruturar, qualificar e comercializar os atrativos
e roteiros turísticos de maior potencial de atra- 3. Identificar o perfil e desenvolver estratégias
tividade (internacional, nacional e regional); para atrair a demanda potencial existente
nos estados da Bahia e do Espírito Santo para
2. Fomentar o aperfeiçoamento de inventários, conhecer e pernoitar no Vale, valendo-se de
diagnósticos e estudos que contribuam para a Diamantina como principal destino turístico e
melhoria contínua do planejamento turístico polo de atração;
municipal e regional, envolvendo a comuni-
dade local; 4. Realizar pesquisa de demanda e plano de
marketing a fim de orientar campanhas
3. Qualificar serviços e equipamentos turísticos de marketing digital com foco no turismo
e fomentar o empreendedorismo; cultural;

4. Garantir infraestrutura, serviços públicos para o 5. Apoiar municípios, circuitos turísticos e recep-
turismo e para instrumentos de gestão urbana. tivos turísticos a desenvolver competência
em marketing digital para utilizar a Internet
Estratégia 2: Estimulo à demanda e ao e as mídias sociais como canais de promoção
fortalecimento da comercialização turística e comunicação, de modo a atingir os turistas
potenciais;
De modo geral, identifica-se um desconheci-
mento dos potenciais turísticos dos territórios do 6. Encontrar soluções práticas em conjunto com
Jequitinhonha. Os atrativos e destinos turísticos entidades representativas do setor para ade-
são pouco divulgados e a grande maioria não é quar o portfólio de produtos turísticos oferta-
comercializada. Diamantina e Serro recebem o dos às necessidades das operadoras (escala) e
maior fluxo de turistas, mas também são identi- ao perfil predominante dos turistas;
ficados fluxos relevantes de turistas que apenas
pernoitam em cidades da região a caminho de 7. Fomentar parcerias com meios de comuni-
Porto Seguro (BA). cação (tradicionais e de mídias sociais) para
ampliar a divulgação dos atrativos, eventos e
Ações prioritárias: manifestações culturais da região.

1. Desenvolver e implementar campanhas de Estratégia 3: Fortalecimento do sistema de


marketing e mecanismos de estímulo para gestão do turismo e suas instituições
captar fluxos de mercados potenciais direta-
mente interessados em Diamantina e Serro e A maioria dos municípios da região defron-
atraí-los para atrativos dos territórios do Je- ta-se com dificuldades financeiras e de recursos
quitinhonha; humanos para planejar e gerir o turismo muni-
cipal. Faltam recursos e linhas de financiamento
2. Desenvolver e implementar mecanismos de adequadas para os investimentos estruturais
incentivo para turistas em rota para as praias necessários ao turismo, assim como para o plane-
do Sul da Bahia e Espírito Santo a conhecer e jamento e ordenamento urbano em geral.
Eixos de intervenção, estratégias e ações 71

Ações prioritárias: docentes e gestores; 3) melhoria da gestão da


educação; 4) implantação e expansão da edu-
1. Apoiar a realização de parcerias e a formação cação profissional e de ensino superior.
de uma rede para a integração de ações e pro-
jetos municipais e regionais de turismo; Estratégia 1: Garantia do acesso ao ensino de
qualidade
2. Repassar aos municípios e circuitos turísticos
as metodologias e informações estratégicas A falta de investimento educacional nos períodos
da Setur-MG/Observatório do Turismo para a passados resultou em uma população adulta
gestão e planejamento municipal e regional; com baixo nível de escolaridade e altos percen-
tuais de analfabetismo. Vale destacar também a
3. Adequar a composição e a organização dos alta proporção de alunos que chegam ao 6º ano
Circuitos Turísticos da região seguindo orien- do ensino fundamental sem saber ler e escrever.
tações da Setur-MG;
Ações prioritárias:
4. Estimular os municípios de maior potencial turís-
tico a pleitear recursos do ICMS turístico e inves- 1. Criar programas de bolsas de estudos nos mol-
tir em um sistema de gestão turística municipal; des do Projovem Campo – Saberes de Minas,
com monitoramento das escolas e das Superin-
5. Fomentar o desenvolvimento turístico por meio tendências Regionais de Educação (SRE), para
de editais da Setur-MG para execução de ações os anos finais ensino do fundamental, ensino
pelos municípios e/ou Circuitos Turísticos; médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA);

6. Estimular que os quatro circuitos turísticos pre- 2. Criar programa de acompanhamento e refor-
sentes na região se articulem e desenvolvam ço nas escolas para os alunos com dificuldade
um planejamento e gestão de forma integrada. de aprendizagem, principalmente nos anos
iniciais do ensino fundamental.

Estratégia 2: Formação e capacitação dos


4.3 docentes e gestores
ESTRATÉGIAS E AÇÕES
PRIORITÁRIAS: EIXO
DESENVOLVIMENTO SOCIAL Há um percentual considerável de professores sem
curso superior atuando principalmente na educação
Este eixo de intervenção foi dividido nos seguintes infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental.
subeixos: 1) educação, 2) saúde, 3) assistência Nos anos finais do fundamental, ensino médio e
social, 4) saneamento, 5) habitação, 6) cultura e EJA, o problema é a significativa porcentagem de
7) segurança pública. professores que possui formação superior de licen-
ciatura em área diferente daquela em que leciona.

4.3.1 Subeixo Educação


Ação prioritária:
O subeixo Educação é composto pelas seguintes
estratégias: 1) garantia do acesso ao ensino 1. Capacitar os professores, gestores e técnicos
de qualidade; 2) formação e capacitação dos das redes estaduais e municipais, em suas res-
72 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

pectivas áreas de atuação, conforme os níveis mular a sua permanência no sistema de ensino.
e modalidades de ensino, principalmente nas Ademais, a necessidade de implantação e
modalidades do campo, alfabetização e Edu- expansão dos cursos técnicos esteve fortemente
cação de Jovens e Adultos (EJA). presente entre as demandas apresentadas nos
Fóruns Regionais em ambos os territórios, o que
se explica pela reduzida oferta dessa modali-
Estratégia 3: Melhoria da gestão da educação
dade de cursos na região.

Foi constatado que os municípios do Jequi-


tinhonha não têm atingido a meta do Plano Ação prioritária:
Nacional de Educação (PNE) de colocar 100%
das crianças de 4 e 5 anos de idade na escola. O 1. Ofertar cursos de qualificação (Formação Ini-
principal entrave seria garantir o acesso dessas cial Continuada) para os alunos dos anos fi ­ nais
crianças na área rural, já que não existem escolas do ensino fundamental, do ensino médio e do
em algumas localidades e o custo e riscos do EJA, em horários que sejam adequados para
transporte são elevados. A infraestrutura das esses alunos. Os cursos devem ser ofertados
escolas também aparece como um ponto crí- com continuidade e diversidade, em con-
tico. Outro problema apontado foi o processo de sonância às potencialidades econômicas da
nucleação das escolas, que desarticulou as insti- região e à capilaridade territorial, incluindo a
tuições de ensino das áreas rurais e aumentou o qualificação para o trabalho no campo.
gasto com transporte escolar.

Ações prioritárias: 4.3.2 Subeixo Saúde

1. Rever o sistema de nucleação das escolas, com Este subeixo foi dividido nas seguintes estraté-
vistas à alteração do modelo atual e como es- gias: 1) ampliação do acesso à atenção à saúde
tratégia para o atendimento das crianças de 4 de qualidade; 2) melhoria da gestão do SUS.
e 5 anos;
Estratégia 1: Ampliação do acesso à atenção à
2. Ampliar a metodologia da educação do saúde de qualidade
campo nas escolas públicas, com adequa-
ção dos currículos e calendários à demanda No que diz respeito à atenção primária, reite-
do meio rural, avaliando a possibilidade de ra-se que nas áreas urbanas, onde a cobertura
adotar em algumas escolas metodologias se encontra praticamente universalizada, o
similares às adotadas nas Escolas Família principal desafio consiste em aumentar a sua
Agrícolas (EFA). resolutividade. No meio rural, entretanto, é
necessário também ampliar a cobertura nas
Estratégia 4: Implantação e expansão da comunidades mais afastadas e de difícil acesso.
educação profissional e de nível superior No tocante à atenção secundária e terciária,
são inúmeros os problemas, podendo-se des-
O ensino profissionalizante é importante não tacar a oferta insuficiente de procedimentos,
apenas como forma de qualificar os jovens para as dificuldades para fixar médicos e as deficiên-
o mercado de trabalho, mas também para esti- cias na gestão.
Eixos de intervenção, estratégias e ações 73

Ações prioritárias: atenção a crianças, adolescentes, jovens e idosos;


2) articulação com as entidades socioassistenciais
1. Apoiar a expansão da cobertura das Equipes existentes nos territórios; 3) qualificação perma-
de Saúde da Família (ESF) no meio rural por nente da gestão da assistência social.
meio de unidades móveis com equipe iti-
nerante para atender as comunidades mais
Estratégia 1: Fortalecimento da atenção a
distantes;
crianças, adolescentes, jovens e idosos

2. Estimular a implantação de protocolos assis-


As intervenções que visam prevenir, reduzir
tenciais, que valorizem a atenção programa-
e/ou enfrentar a exposição a fatores de risco
da, a priorização do atendimento e o encami-
social e a violação de direitos de crianças, ado-
nhamento de modo adequado;
lescentes e jovens têm sido pouco efetivas
quanto à abrangência dos serviços ofertados e
3. Apoiar os municípios na organização dos sis-
à atratividade de seus conteúdos. Os idosos em
temas locais de Vigilância em Saúde;
situação de vulnerabilidade têm sido alvo de
negligência familiar, abuso econômico e outras
4. Implementar os Centro de Especialidade Mé-
violações de direito.
dicas (CEM) nos territórios do Jequitinhonha,
conforme previstos pela SES-MG;
Ações prioritárias:
5. Concluir o Hospital Regional de Teófilo Otoni
e construir o segundo hospital regional pre- 1. Introduzir novos conteúdos e metodologias
visto para a região. de intervenção socioassistenciais para o pú-
blico adolescente e jovem, bem como ações
Estratégia 2: Melhoria da gestão do SUS que visem coibir a violação de direitos;

São vários os problemas de gestão do SUS, que 2. Promover ações de esclarecimento da socie-
envolvem desde o desconhecimento de suas dade e da população idosa em relação aos
regras até o registro inadequado das informações. seus direitos, associadas a intervenções que
coíbam a intermediação de terceiros para o
requerimento de benefícios.
Ação prioritária:

Estratégia 2: Articulação com as entidades


1. Implementar programas de capacitação dos
socioassistenciais existentes nos territórios
gestores municipais no que diz respeito aos ins-
trumentos de planejamento, à gestão financei-
Em face da forte presença de ONGs, as quais
ra e orçamentária e ao controle social no SUS.
desenvolvem projetos importantes no enfren-
tamento de questões como exploração sexual
de crianças e adolescentes e violência contra
4.3.3 Subeixo Assistência Social mulheres e idosos, inclusive na zona rural,
cabe ao poder público promover a articulação
O subeixo da Assistência Social é composto e a integração de suas ações com o trabalho
pelas seguintes estratégias: 1) fortalecimento da dessas entidades.
74 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

Ação prioritária: manejo de resíduos sólidos; infraestrutura de


drenagem e manejo de águas pluviais
1. Criar mecanismos para uma articulação per-
manente e mais eficiente com as entidades A Lei nº 11.445/2007 (BRASIL, 2007), que esta-
socioassistenciais existentes visando à troca belece diretrizes nacionais para o saneamento
de experiências com os órgãos públicos da as- básico, define como competência exclusiva dos
sistencial social. municípios a formulação e o planejamento da
política pública de saneamento básico. Essa
Estratégia 3: Qualificação permanente da formulação e esse planejamento são efeti-
gestão da Assistência Social vados por intermédio da elaboração dos Planos
Municipais de Saneamento Básico (PMSB), que
As ações dos órgãos afins à problemática da assis- deverão estar concluídos até dezembro de
tência social são pouco articuladas. O controle 2017, como estabelecido pela legislação apli-
social é deficiente. A cobertura da proteção social cada. Em 2014, no Alto Jequitinhonha, 95,8%
básica é insuficiente em todos os territórios, espe- dos municípios possuíam seus PMSB, percen-
cialmente nas zonas rurais. O acompanhamento tual que reduzia para 48,5% no Médio/Baixo
e o monitoramento das atividades oferecidas aos Jequitinhonha. Entretanto, com base nos PMSB
usuários não contam com registros e sistemas de estudados, verificou-se que não atendiam qua-
informação adequados, que possam subsidiar o litativamente os conteúdos mínimos exigidos
planejamento, o acompanhamento e as avalia- pela lei.
ções das ações.

Ação prioritária: Ações prioritárias:

1. Promover a integração das ações da assis- 1. Fomentar a formação/capacitação de gesto-


tência social que demandam intervenções res, gerentes e atores sociais municipais em
intersetoriais envolvendo educação, saúde, relação a política pública de saneamento bá-
cultura, direitos humanos, desenvolvimento sico e ambiental;
agrário e meio ambiente.
2. Oferecer apoio técnico e financeiro à elabora-
ção e revisão dos Planos Municipais de Sanea-
mento Básico (PMSB);
4.3.4 Subeixo Saneamento Ambiental
3. Oferecer apoio técnico e financeiro à imple-
Este subeixo é formado por uma única estra- mentação institucional dos PMSB;
tégia que abarca os quatro componentes do
saneamento básico: abastecimento de água, 4. Oferecer apoio técnico e financeiro à elabo-
esgotamento sanitário, limpeza urbana e dre- ração dos Planos Municipais de Saneamento
nagem pluvial. Rural (PMSR);

Estratégia: Fomento à política municipal


5. Promover a articulação interinstitucional para
de saneamento básico nos seus quatro
componentes: abastecimento de água; a ampliação e melhoria da atuação da Copasa
esgotamento sanitário; limpeza urbana e e Copanor nos territórios;
Eixos de intervenção, estratégias e ações 75

6. Fomentar a implantação do Sistema de Vigi- 5. Fomentar a capacitação de gestores e con-


lância da Qualidade da Água para o Consumo selheiros municipais, objetivando o fortaleci-
Humano no âmbito municipal. mento da política pública municipal e o em-
poderamento municipal para implementação
das políticas públicas de habitação social.

4.3.5 Subeixo Habitação

Este subeixo é constituído pela seguinte estratégia: 4.3.6 Subeixo Cultura

Estratégia: Promoção de melhorias no Este subeixo é composto pelas seguintes estraté-


acesso e nas condições de moradia digna gias: 1) institucionalização e melhoria da gestão
nos territórios do Alto e do Médio/Baixo
pública da cultura; 2) inventário e preservação do
Jequitinhonha
patrimônio cultural; 3) formação e capacitação.

As carências habitacionais podem ser divididas


em duas dimensões: o déficit habitacional pro- Estratégia 1: Institucionalização e melhoria
priamente dito e a inadequação domiciliar. Para da gestão pública da cultura
enfrentar o problema da moradia nos territórios do
Jequitinhonha foram propostas as seguintes ações. Esta estratégia justifica-se pela precária estrutu-
ração institucional nos municípios dos territórios
do Jequitinhonha, de forma geral. A gestão da
Ações prioritárias: cultura combinada com áreas de políticas como
educação, turismo, esporte e lazer é predomi-
1. Fomentar a elaboração, revisão ou adequação
nante nos territórios Alto e Médio/Baixo Jequi-
dos Planos Municipais de Habitação Social e
tinhonha. A fragilidade da gestão cultural das
de Regularização Fundiária;
municipalidades está sempre associada a uma
limitação orçamentária para o setor e ao pro-
2. Fomentar a instalação dos Conselhos Muni-
tagonismo do Executivo, que possui um maior
cipais de Habitação ou outras instâncias que
poder de influência sobre as ações culturais a
possibilitem o fortalecimento do controle so-
serem desenvolvidas, negligenciando espaços
cial sobre a política pública de habitação social;
participativos criados para partilhar com a socie-
dade as decisões relacionadas ao setor.
3. Estimular a utilização de mão de obra local na
construção e/ou reforma de unidades habita-
cionais, sobretudo no formato de autocons- Ações prioritárias:
trução;
1. Incentivar a instituição, a capacitação e a ma-
4. Fomentar a melhoria e o provimento de infraes- nutenção de equipes de gestão municipal na
trutura urbana nos domicílios inadequados área da cultura de acordo com o previsto pelo
com relação a módulos sanitários, reformas, Sistema Nacional de Cultura (órgão gestor,
energia elétrica, abastecimento de água, esgo- conselho de política cultual, fundo municipal
tamento sanitário e coleta de lixo, com especial de cultura, plano municipal de cultura);
atenção à redução dos déficits nas zonas rurais;
76 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

2. Aperfeiçoar a articulação entre a Secretaria de e a proteção dos remanescentes de quilombos,


Estado de Cultura e os órgãos executivos mu- das populações indígenas e das demais comuni-
nicipais, para o planejamento das ações em dades tradicionais. No que diz respeito ao arte-
âmbito municipal e o acompanhamento das sanato, devem ser enfrentadas as dificuldades
ações desenvolvidas; de escoamento da produção, a descontinuidade
das ações de apoio aos projetos desenvolvidos, a
3. Regionalizar e desburocratizar os editais (Fun- precariedade do espírito associativista dos arte-
do Estadual e Renúncia Fiscal) e demais me- sãos e as dificuldades para a transmissão das tra-
canismos estaduais de fomento à cultura de dições produtivas para a população mais jovem.
forma a se adequar às expressões culturais
regionais;
Ações prioritárias:
4. Elaborar editais para potencializar as ações
1. Estimular a mobilização de órgãos compe-
do terceiro setor voltadas ao público juvenil,
tentes e comunidades, sob coordenação do
especialmente aquelas que ampliem o acesso
Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e
à cultura e aos meios de produção cultural e
Artístico de Minas Gerais (IEPHA-MG), para a
estimulem práticas esportivas e de lazer;
realização do inventário participativo do pa-
trimônio cultural nos territórios;
5. Instituir um Centro Regional de Cultura Popu-
lar que abrigue referências e memórias sobre
2. Estimular a revisão e/ou elaboração de Planos
as diversas expressões da cultura popular e os
Diretores e outros instrumentos de política ur-
saberes tradicionais e atue também como um
bana visando à proteção do patrimônio edifi-
centro de distribuição do artesanato.
cado, ambiental e paisagístico;

Estratégia 2: Inventário e preservação do


3. Promover o reconhecimento formal e efetivo
patrimônio cultural
das identidades culturais das comunidades
tradicionais, remanescentes de quilombos e
O grande desafio de uma política de patri-
etnias indígenas, o que implica em garantir-
mônio para os territórios do Jequitinhonha é o
-lhes a titularidade da terra;
de garantir a proteção à diversidade e à plura-
lidade dos legados culturais. No que tange ao
4. Certificar os mestres de ofício, artesãos e ou-
patrimônio edificado, sua diversidade deve ser
tros detentores de saberes, de forma a permi-
assegurada com a proteção dos núcleos urbanos
tir-lhes o acesso ao trabalho nas áreas da cul-
monumentais.
tura, educação e assistência social;
No que tange ao patrimônio imaterial, torna-se
5. Promover a realização de feiras locais, regio-
fundamental o desenvolvimento de ações que
nais e itinerantes de produtos do artesanato.
salvaguardem a riqueza e a diversidade das tradi-
ções regionais que, ainda não inventariadas, per-
manecem sob ameaça de desaparecimento em Estratégia 3: Formação e capacitação
virtude da baixa valorização de seus significados
e do pequeno interesse das novas gerações. Con- A necessidade de maior capacitação dos re­
sideram-se ainda prioritários o reconhecimento cur­sos humanos que atuam na área da cultura é
Eixos de intervenção, estratégias e ações 77

uma das principais demandas feitas pela popu- 4.3.7 Subeixo Segurança Pública
lação e autoridade técnicas e políticas dos ter-
ritórios. As demandas referem-se tanto à trans- Este subeixo é constituído pela seguinte estratégia:
missão de saberes tradicionais para as novas
gerações quanto aos conhecimentos técnicos Estratégia: Incremento da densidade
em gestão cultural, contabilidade e tecnologia institucional de segurança pública
digital. No que tange à educação patrimonial, nos territórios do Alto e Médio/Baixo
demanda prioritária dos municípios do Jequi- Jequitinhonha
tinhonha, deve-se sublinhar a importância da
conscientização e do envolvimento das comu- Os territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequiti-
nidades na percepção dos valores relativos nhonha apresentam os piores indicadores de
ao seu patrimônio, que resultaria em maior densidade institucional do estado, sobretudo
apropriação e fruição dos bens culturais, fator no que diz respeito à presença rarefeita das ins-
indispensável ao processo de preservação sus- tituições de segurança pública. Somado ao efe-
tentável. Deve-se ressaltar ainda que a edu- tivo precário das organizações de força (polícias
cação patrimonial faz parte do conjunto de exi- Civil e Militar e Guardas Municipais), os territórios
gências feita pelo IEPHA-MG para comprovar a também enfrentam graves carências relacionadas
adesão dos municípios ao Programa ICMS Patri- à baixa presença de instituições como o Minis-
mônio Cultural. tério Público, a Defensoria Pública, as comarcas
do Judiciário, as unidades prisionais e os centros
socioeducativos para cumprimento de medidas
Ações prioritárias: de internação. Cabe mencionar, ainda, os baixos
níveis de articulação entre tais órgãos, aspecto
1. Promover ações articuladas entre a Univer- que vem dificultando sensivelmente a imple-
sidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e mentação de políticas de segurança pública em
Mucuri (UFVJM), a Universidade Federal de nível local.
Minas Gerais (UFMG), a Universidade do Es-
tado de Minas Gerais (Uemg), Unimontes e
Instituto Federal do Norte de Minas (IFNMG), Ações prioritárias:
visando à criação de cursos de graduação em
áreas específicas como arquitetura, arquivolo- 1. Incrementar a infraestrutura, os recursos lo-
gia, música e teatro; gísticos e os efetivos da Polícia Civil (todas as
carreiras);
2. Criar cursos de nível médio ou outros treina-
mentos para a formação de técnicos na área 2. Incrementar a infraestrutura, os recursos lo-
de patrimônio (restauração e técnicas cons- gísticos e os efetivos da Polícia Militar (com
trutivas tradicionais) e da cultura em geral ênfase em implementação de unidades de Pa-
(produção e gestão cultural); trulhas Rurais);

3. Garantir a realização das ações de educação 3. Criar espaços interinstitucionais de interlocu-


patrimonial e o fortalecimento do papel da es- ção entre Poder Público Estadual, Municipal
cola como espaço de valorização e divulgação (Prefeituras e Câmaras de Vereadores), Poder
das tradições locais. Judiciário e Forças de Segurança Pública, por
78 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

meio do incentivo à criação de Gabinetes de Baixo Jequitinhonha, apresentam ligações de


Gestão Integrada Municipal de Segurança Pú- dependência com centros fora desses territórios
blica (GGIM-SP) nos municípios-sede de mi- e mesmo fora do estado de Minas Gerais. Essa
croterritórios; situação se expressa tanto pela fragilidade das
centralidades urbanas como pela precariedade
4. Construir Centros Socioeducativos para o das redes de infraestrutura da região, deman-
cumprimento de medidas de internação nos dando o fortalecimento dessas redes como
municípios de Diamantina, Araçuaí, Almenara suporte ao processo de desenvolvimento susten-
e Medina; tável e inclusivo. Tal fortalecimento tem relação
direta com o ordenamento físico-territorial das
5. Auxiliar a produção e elaboração de Planos cidades e dos municípios classificados como
Municipais de Segurança Pública em municí- centralidades, de forma a ampliarem seus papéis
pios-sede de microterritórios. A ênfase deve nas redes urbanas e sua capacidade de atender
ser dada principalmente em políticas de pre- às demandas da população do entorno, o que
venção, organizando e articulando institui- implica na existência de instrumentos adequados
ções da assistência social e de educação, asso- de gestão e de legislação urbanísticas.
ciações de bairro, entre outras.

Ação prioritária:

1. Incrementar programas de apoio técnico e


4.4 institucional às administrações municipais
ESTRATÉGIAS E AÇÕES
PRIORITÁRIAS: EIXO para a elaboração e/ou revisão de planos di-
INFRAESTRUTURA ECONÔMICA retores, e das legislações urbana e municipal
relativas ao parcelamento, uso do solo, edifi-
As estratégias e as ações do eixo de intervenção cações e posturas.
Infraestrutura Econômica estão divididos em
quatro subeixos: 1) Rede de Cidades, 2) Estrutura
Viária e de Transportes, 3) Energia, 4) Tecnologia
4.4.2 Subeixo Estrutura Viária
da Informação e Comunicação.
e de Transportes

Este subeixo é composto pelas seguintes estra-


4.4.1 Subeixo Rede de Cidades tégias: 1) superação dos principais gargalos da
infraestrutura rodoviária; 2) ampliação, diversifi-
Este subeixo é constituído pela seguinte estra- cação, modernização e integração da infraestru-
tégia: tura e das modalidades de transportes, incluindo
o aeroviário e o ferroviário.
Estratégia: Fortalecimento das centralidades
Estratégia 1: Superação dos principais
As redes de cidades dos territórios do Alto e do gargalos da infraestrutura rodoviária
Médio/Baixo Jequitinhonha possuem certa fragi-
lidade, com raios limitados de influência, sendo O Alto e o Médio/Baixo Jequitinhonha ainda se
que municípios, principalmente no Médio/ apresentam como territórios desprovidos de malha
Eixos de intervenção, estratégias e ações 79

rodoviária densa e de boa qualidade, apesar das a pavimentação do trecho entre Andrequi-
intervenções recentes na recuperação de pontes e cé e Diamantina, passando por Corinto, na
na pavimentação de alguns trechos importantes. MG-220;
Qualitativamente, as principais demandas dizem
respeito à necessidade de pavimentação e de f. recuperação e manutenção do pavimento
duplicação de algumas estradas e à melhoria das nas rodovias BR-251 e BR-367, com a im-
condições de várias pontes. A relevância da recu- plantação de terceira faixa nos aclives de
peração e da ampliação dessa infraestrutura viária subidas de serras.
se deve ao seu forte impacto transversal, incluindo
a promoção do desenvolvimento econômico e o 2. Fomentar programa de melhorias nas rodo-
atendimento às demandas sociais. vias para o fortalecimento da rede de cidades
por meio das seguintes intervenções:

Ações prioritárias: a. implantação do contorno de Minas Novas,


na BR-367, concluindo a obra da ponte so-
1. Fomentar programa de melhorias nas rodo-
bre o Rio Fanado;
vias estratégicas para o desenvolvimento eco-
nômico da região, priorizando as seguintes
b. implantação de trecho de 23km para li-
intervenções:
gação de Coluna a Rio Vermelho e a Serra
Azul de Minas pela MG-010;
a. ligação da BR-367 ao estado da Bahia, pavi-
mentando os trechos de Almenara a Salto
c. pavimentação de 60km da BR-367 para
da Divisa, passando por Jacinto;
ligação de Minas Novas a Virgem da
Lapa, passando por Chapada do Norte
b. ligação da BR-251 ao estado da Bahia, pa-
e Berilo;
vimentando os trechos de Pedra Azul a Al-
menara, passando por Pedra Grande; e pa-
d. implantação de trecho de 19km para liga-
vimentação de 9km da rodovia LMG-633
ção de Leme do Prado a Chapada do Nor-
que passa em Cachoeira do Pajeú ligando
te, entre os distritos de Boa Vista, Cachoei-
à BR-251;
ra do Norte e Santa Rita do Araçuaí;

c. ligação da BR-367 à BR-116, nos trechos


e. implantação de trecho de 46km para liga-
entre Senador Modestino Gonçalves a Se-
ção de Berilo a José Gonçalves de Minas;
tubinha, passando por Itamarandiba e Ca-
pelinha, via MG-214 e MG-211;
f. pavimentação de 92km da LMG-678 para
ligação de Novo Cruzeiro a Araçuaí;
d. ligação dos territórios do Alto e do Médio/
Baixo Jequitinhonha ao norte de Minas,
g. implantação de trecho de 35km para liga-
pavimentando o trecho entre Caçaratiba e
ção de Novo Cruzeiro a Ladainha, entre a
Itacambira;
MG-211 e LMG-710;

e. ligação da região do Vale do Jequitinho-


h. pavimentação de 65km da BR-342 para li-
nha à região central mineira, completando
gação de Caraí a Araçuaí;
80 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

i. pavimentação de 14km na MG-105 para Estratégia 2: Ampliação, diversificação,


ligação de Fronteira dos Vales a Joaíma; modernização e integração da infraestrutura
e das modalidades de transportes, incluindo
o aeroviário e o ferroviário
j. pavimentação de 31km da MG-406 para
ligação de Rubim a Rio do Prado;
Como os municípios dos territórios do Alto e do
Médio/Baixo Jequitinhonha são, em sua maioria,
k. pavimentação de 52km na MG-105 para
de pequeno porte, e vinculados a centralidades
ligação de Pedra Azul a Jequitinhonha;
esparsas, cabe ao transporte de pessoas e de
cargas realizar as ligações de forma ágil e inte-
l. pavimentação de 96km da LMG-610 para
grada, favorecendo a mobilidade das pessoas e o
ligação de Pedra Azul a Mata Verde, pas-
escoamento de produtos.
sando por Araçagi e Divisópolis;

m. implantação de trecho da LMG-618 entre Ações prioritárias:


Águas Vermelhas e BR-251.
1. Promover a implantação e/ou a renovação de
3. Fomentar programa de apoio a municípios e concessões das empresas de transporte de
associações municipais para a conservação e passageiros, apoiando a gestão e fiscalização
manutenção das estradas vicinais municipais, de concessões comuns, patrocinadas ou ad-
com enfoque ambiental quanto à contenção ministrativas, permissões e autorizações.
de águas pluviais, de forma a permitir o des-
locamento permanente da população das zo- 2. Dar prosseguimento à ampliação da oferta
nas rurais para as sedes municipais; em transporte aeroviário, conservação do
patrimônio aeroportuário implantado e re-
4. Avaliar, planejar e realizar as ações de inter- gularidade das operações aéreas, assim como
venção e/ou construção nas pontes, consi- a regularização dos aeroportos, quando for
derando: o caso;

a. priorizar as pontes com estrutura prejudi- 3. Desenvolver estudos de viabilidade de im-


cada, em especial a ponte sobre o Rio Je- plantação e operação do sistema ferroviário
quitinhonha na BR-116, em Itaobim; nos territórios do Alto e do Médio/Baixo Je-
quitinhonha.
b. construir ponte sobre o Rio Jequitinhonha
em Jacinto, ligando a BR-367 e LMG-634;

c. realizar estudo de viabilidade técnica 4.4.3 Subeixo Energia


para verificar a necessidade de duplica-
O subeixo Energia é composto pelas seguintes
ção de pontes que funcionam em mão
estratégias: 1) universalização do acesso à
única, em especial a ponte sobre o Rio
energia, sobretudo nas zonas rurais, e melhoria
Araçuaí na BR-451, em Carbonita, e a
da qualidade da energia fornecida; 2) Incentivo
Ponte Alta sobre o Rio Araçuaí, na BR-367,
à produção e à utilização de energia renovável,
acesso para Turmalina.
principalmente, a solar.
Eixos de intervenção, estratégias e ações 81

Estratégia 1: Universalização do acesso Também é possível a produção de energia


à energia, sobretudo nas zonas rurais, e eólica e de energia de biomassas. Devido aos
melhoria da qualidade da energia fornecida altos custos dessas produções, programas espe-
cíficos devem ser pensados e recursos devem
O perfil de consumo de energia dos dois territó- ser direcionados, buscando diminuir o custo
rios tem a peculiaridade de abranger grande par- da energia na região, tanto para consumidores
ticipação do setor rural, entre outros fatores, pela quanto para os municípios, na gestão da ilumi-
importância da agricultura familiar na região. nação pública.
Sabe-se que os domicílios que ainda não pos-
suem acesso à energia também estão principal-
mente nas zonas rurais, fazendo-se necessária Ações prioritárias:
ação direcionada a romper com a dificuldade do
fornecimento em baixa escala, condição para que 1. Fornecer ou subsidiar a aquisição de placas
a energia chegue a tais lugares. solares pelos agricultores locais;

Paralelamente, há problemas com a baixa quali- 2. Desenvolver estudos e programas visando à


dade da energia – oscilações e quedas, insuficiência implantação de energias alternativas nos mu-
no fornecimento, necessidade de maior disponibi- nicípios, principalmente no que se refere aos
lidade para expansão e instalação de indústrias. biocombustíveis/produção de biomassa e à
energia solar.

Ações prioritárias:

1. Investir na continuação do Programa Eletri- 4.4.4 Subeixo Tecnologias da Informação


ficação Rural para o atendimento total da e Telecomunicação
­demanda;
Este eixo é composto pelas seguintes estraté-
gias: 1) ampliação da rede de dados móveis
2. Aumentar a potência das linhas de transmis-
(Internet) e capacitação da população para utili-
são, principalmente aquelas próximas às cida-
zação dos serviços de Internet (inclusão digital);
des de Turmalina, por sua demanda industrial,
2) ampliação da rede de telefonia móvel.
e de Araçuaí e Pedra Azul, que estão entre os
maiores consumidores de energia elétrica do
território do Médio/Baixo Jequitinhonha; Estratégia 1: Ampliação da rede de dados
móveis (Internet) e capacitação da população
3. Fornecer subsídios às distribuidoras de energia e/ para utilização dos serviços de Internet
(inclusão digital)
ou elaborar contratos de parceria para levar ener-
gia a unidades de agricultura familiar isoladas.
No Alto Jequitinhonha, o acesso à Internet
Estratégia 2: Incentivo à produção equivale à quase metade da média estadual:
e à utilização de energia renovável, somente 14,2% dos domicílios possuíam
principalmente a solar esse acesso em 2010. No Médio/Baixo Jequi-
tinhonha, apenas 10% dos domicílios pos-
Os níveis de insolação no Jequitinhonha são suíam acesso à Internet. A baixa velocidade da
altos e favorecem a produção da energia solar. Internet, a falta de concorrência para a provisão
82 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

desta e a ausência de cobertura em algumas Ações prioritárias:


localidades aparecem como problemas recor-
rentes. Além disso, faltam centros públicos de 1. Implementar esforços para que as empresas
acesso, “telecentros”, assim como cursos e trei- de telefonia móvel ampliem suas redes para
namentos para a utilização da Internet e de outros municípios, com o objetivo de que haja
suas ferramentas. pelo menos duas operadoras por município;

2. Investir na continuação e ampliação do Pro-


Ações prioritárias: grama Minas Comunica, de maneira a priori-
zar os distritos rurais que ainda não contam
1. Investir na continuação e ampliação do Pro- com o sinal de telefonia móvel.
grama Minas Digital (Projeto Cidades Digitais),
de maneira a ampliar o número de municípios
participantes;
4.5
ESTRATÉGIAS E AÇÕES
2. Oferecer incentivos às empresas provedo-
PRIORITÁRIAS: EIXO GESTÃO
ras de Sistema de Comunicação Multimídia MUNICIPAL
(SCM) para que ampliem suas redes para ou-
tros municípios, principalmente em direção Este eixo é constituído pelas seguintes estraté-
às áreas rurais; gias: 1) sustentabilidade fiscal do gasto público;
2) ampliação da capacidade institucional dos
3. Investir na continuação e na ampliação do municípios na formulação, planejamento, imple-
Programa Rede de Governo, de maneira a mentação e avaliação de políticas públicas.
priorizar a adesão de órgãos dos municípios
menos atendidos.
Estratégia 1: Sustentabilidade fiscal do gasto
público
Estratégia 2: Ampliação da rede de telefonia
móvel Os municípios dos territórios do Jequitinhonha
caracterizam-se por baixo nível de arrecadação
Dados da Anatel de novembro de 2014 das receitas e pelo crescimento de despesas
revelam que todos os municípios dos territó- rígidas e obrigatórias, como o gasto com pessoal.
rios do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha A sustentabilidade fiscal do gasto passa pelo
contavam com pelo menos uma operadora fortalecimento da base econômica e dos con-
de telefonia móvel, mas a maioria deles dis- sequentes impactos sobre a arrecadação, pela
punha de apenas uma opção, o que desfavo- busca de outras fontes de financiamento e pela
rece a concorrência e a melhoria do serviço criação ou aperfeiçoamento dos mecanismos de
prestado. No Alto Jequitinhonha, apenas 29% gestão das contas públicas, incluindo o maior
dos municípios possuía cobertura de duas ou controle dos gastos.
mais operadoras, sendo essa porcentagem
de 31% no Médio/Baixo Jequitinhonha. Além Ações prioritárias:
disso, vários distritos, principalmente os rurais,
ainda não contam com a cobertura do sinal de 1. Incentivar a atualização do cadastro imobiliá-
telefonia móvel. rio, do cadastro das empresas contribuintes
Eixos de intervenção, estratégias e ações 83

do Imposto sobre Serviços (ISS) e da legisla- 2. Incentivar a capacitação do corpo técnico das
ção tributária municipal; administrações municipais para a elaboração
de planos orçamentários (Plano Plurianual -
2. Incentivar a implementação de políticas de PPA, Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO e
combate à sonegação e evasão fiscal e mini- Lei Orçamentária Anual - LOA), tendo como
mizar as práticas de elisão fiscal; base a realidade local; bem como o acompa-
nhamento e monitoramento dos programas
3. Incentivar a observância dos limites estabeleci- governamentais definidos nos planos orça-
dos na legislação para o gasto com pessoal, reali- mentários e, de maneira especial, os progra-
zação de operações de crédito, nível de endivida- mas e/ou projetos estratégicos do município.
mento e comprometimento da Receita Corrente
Líquida (RCL) com o pagamento da dívida;

4. Incentivar a execução dos gastos públicos


dentro dos parâmetros das metas bimestrais
de receitas, de forma a criar uma cultura de
manutenção do equilíbrio fiscal;

5. Criar uma rede de informações coordenadas


pelas associações de municípios quanto a
políticas públicas que recebem recursos es-
taduais e municipais, de forma a buscar a in-
tegração das políticas públicas federais, esta-
duais e municipais.

Estratégia 2: Ampliação da capacidade


institucional dos municípios na formulação,
planejamento, implementação e avaliação de
políticas públicas

Os municípios dos territórios do Jequitinhonha


enfrentam dificuldades relacionadas ao plane-
jamento, direção e controle de suas ações. Essas
dificuldades refletem a baixa qualificação profis-
sional dos servidores e o despreparo de prefeitos
e vereadores.

Ações prioritárias:

1. Incentivar a capacitação do corpo técnico, de


prefeitos das administrações municipais nas
diversas áreas da gestão pública e de verea-
dores na área da fiscalização e controle.
84 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
Governança 85

5
Governança

Esta seção explora alguns aspectos da agenda, Ao conceito clássico de governança, qual seja, a
em construção, da governança do PDVJ. Na pri- capacidade de execução de políticas públicas,
meira parte, bases conceituais e a trajetória de outras dimensões são, frequentemente, agre-
esforços de implementação de políticas e estra- gadas, tais como a capacidade de resposta a pro-
tégias de governança em Minas Gerais são revisi- blemas complexos, o fortalecimento dos níveis
tadas. A segunda apresenta o modelo de gover- locais de governo, flexibilidade e transversalidade.
nança territorial implementada pelo Governo
atual e chama a atenção para a importância da Segundo o Banco Mundial, são características da
definição de um arranjo institucional capaz de boa governança: participação, Estado de direito,
propiciar a sustentabilidade política do PDVJ. transparência, responsabilidade, orientação por
consenso, equidade e inclusividade, efetividade
e eficiência e prestação de contas (Naritza, 2010).
Deve-se destacar não apenas a capacidade de se
5.1
BASE CONCEITUAL E alcançar objetivos e resultados, mas também a
TRAJETÓRIA POLÍTICA forma pela qual governos exercitam essa capaci-
dade, ou seja, as bases democráticas sobre as quais
Definida como a capacidade do Estado de exe- determinado modelo de governo deve se assentar.
cução das políticas públicas, governança pode
ser abordada em pelo menos quatro dimensões: Finalmente, argumenta-se que as bases demo-
capacidade de comando e direção, capacidade cráticas dos processos de governança não se
de coordenação, capacidade de agregar inte- esgotam nas suas dimensões de participação e
resses diversos e capacidade de implementação inclusividade, mas exigem a definição de meca-
(DINIZ, 2003). nismos de accountability que ampliem o escopo
do controle público sobre a ação governamental.
Santos (1997) destaca a capacidade de articu- Enquanto em regimes políticos autoritários
lação e coordenação de ações, a cooperação com modelos de natureza tecnocrática dispensam da
atores políticos e sociais diversos e a forma orga- interlocução com a sociedade civil, em estados
nizacional como determinantes da governança democráticos sua inclusão se torna imperiosa.
do estado. Dessa forma, participação, transparência e con-
86 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

trole social, descentralização e fortalecimento arranjos para a resolução de conflitos. Estiveram


de instâncias locais tornam-se determinantes da permeados, portanto, por uma a cultura tecno-
governança democrática. crática e centralizada, com falhas na organização
institucional e com baixa capacidade de detectar
Esse conceito de governança impõe a urgência muitas das necessidades locais.
de se repensar as etapas de formulação e imple-
mentação do ciclo de políticas públicas. Assim, o Isso é particularmente válido para o caso de
conceito de território abre novas possibilidades Minas Gerais, estado mediterrâneo marcado por
de se referenciar programas, políticas e planos grande população e extensão territorial, pola-
de desenvolvimento. Deve-se procurar ir além rizações externas e persistentes desigualdades
da mera demarcação de espaços centrados em regionais. As experiências de planejamento
acidentes e homogeneidades geográficos, voca- estaduais foram marcadas, nas cinco últimas
ções econômicas, fronteiras administrativas ou décadas por tentativas, não bem-sucedidas, de
modelos gravitacionais. Isso porque maior coesão se al­can­çar padrões de desenvolvimento espa-
social, maior participação e legitimidade do pro- cialmente mais integrados.
cesso de planejamento tendem a ser alcançados
na medida em que se incorporem elementos Com maior ou menor ênfase, essa agenda se
socioculturais, políticos e históricos, capazes de mostrou recorrente nos discursos de todos os
prover à região, ao mesmo tempo, contorno e Governos Estaduais desde os anos 1960, tendo
conteúdo. sido incorporada nos diferentes modelos de
planejamento. Com a criação da Fundação João
Pinheiro (FJP) e do Centro de Desenvolvimento e
5.1.1 Trajetória da política de governança Planejamento Regional (CEDEPLAR), no final da
territorial
década de 1960, a pesquisa sobre o desenvolvi-
mento regional e as proposições de políticas de
Embora as experiências de planejamento re­
desconcentração ganharam impulso. Na década
gio­nal em Minas Gerais não tenham sido objeto
de 1970, a instituição de dez macrorregiões de
de uma avaliação sistemática, vide a percepção
planejamento como orientadoras das políticas
de que planos e programas foram apenas parcial-
regionais possibilitou uma primeira base terri-
mente realizados, tendo produzido efeitos muito
torial para a análise e o desenho de programas
aquém do esperado e sido frequentemente des-
regionais de desenvolvimento. Planos de desen-
continuados. Esse déficit pode ser explicado, em
volvimento regionais, como o Planoroeste, o
larga medida, pelas dificuldades enfrentadas na
Plano de Desenvolvimento do Sul de Minas
fase de implementação e, principalmente, pela
e, mais recentemente, o Plano de Desenvolvi-
ausência de estratégias de governança.
mento Integrado Metropolitano, exemplificam
esse esforço de enfretamento das desigualdades
Ainda que partam de diagnósticos tecnicamente
regionais, traduzidas então em propostas con-
consistentes, tanto os diagnósticos quanto os
cretas de intervenção.
processos de formulação de alternativas e priori-
zação de ações têm prescindido de participação
Na década de 1970, a instituição dos sistemas
da sociedade civil. Padecem também da ausência
operacionais no âmbito da gestão e planeja-
de análises institucionais que explicitem os pro-
mento de políticas públicas, implementada no
blemas antepostos à sua implementação e de
Governo Aureliano Chaves, foi um passo ino-
Governança 87

vador, com claros resultados positivos. Per­sis­ ações setoriais tanto da administração direta
tiam, no entanto, grandes obstáculos à maior como da indireta. No entanto, o processo de defi-
integração e descentralização de po­ líti­
cas nição das regiões e cidades que receberiam as
públicas. A enorme heterogeneidade de mo­ administrações regionais enfrentou percalços e
delos de regionalização adotados pelos diversos dificuldades políticas, que terminaram por invia-
órgãos públicos e secretarias estaduais dificul- bilizar o novo modelo. Desdobramentos futuros,
tavam ações regionalizadas multi-institucionais. já na década de 1990, resultaram no esgotamento
Essa deficiência apontou para a necessidade da então mais sistematizada tentativa de instau-
de maior atuação coordenadora por parte do ração de um modelo de governança territorial.
Governo, o que levou, posteriormente, à agre-
gação da função de coordenação à atividade de Nos anos seguintes, as tentativas de definição
planejamento da antiga Seplan. de um modelo de governança territorial foram
substituídas pela interlocução direta com os
Ao longo do tempo, esforços de compatibi- municípios e, no plano institucional, pela criação
lização espacial de intervenções setoriais do da Secretaria de Estado do Desenvolvimento
poder público se mostraram muito aquém do Regional e Urbano (SEDRU), das agências de
que se demandava. Acresceu-se certa resistência desenvolvimento da Região Metropolitana de
à adoção de novos padrões de regionalização, o Belo Horizonte e do Vale do Aço e da Secretaria
enfraquecimento dos sistemas operacionais de Extraordinária de Desenvolvimento do Norte de
gestão e planejamento e, finalmente, a fragili- Minas (SEDINOR).
zação da própria função de coordenação geral da
Seplan, que perde protagonismo em decorrência Reformas institucionais com vistas a uma política
da maior ênfase nos processos de gestão pública. de governança territorial foram então retomadas
a partir de 2015, com a substituição da Sedru pela
Com a Constituição mineira de 1989, uma estru- Secretaria de Estado de Cidades e de Integração
tura institucional inovadora ganhou amparo Regional (Secir) e pela instituição da Secretaria
constitucional. Foi criado o Conselho Estadual Extraordinária de Estado de Desenvolvimento
de Desenvolvimento Econômico Social (CDES), a Integrado e Fóruns Regionais (SEEDIF), que coor-
quem compete comandar a elaboração, de forma dena as ações relacionadas aos 17 territórios de
participativa e colegiada, do Plano Mineiro de desenvolvimento instituídos, bem como coor-
Desenvolvimento Integrado (PMDI), definindo dena a realização e acompanhamento dos Fóruns
diretrizes e princípios a nortear os demais planos de Regionais.
e programas do estado. A Constituição mineira
normatizou a elaboração do plano plurianual de
ação governamental, inovando ao submetê-lo,
técnica e legalmente, ao PMDI.
5.2
DIMENSÃO INSTITUCIONAL
DO PLANEJAMENTO E DA
No que diz respeito à regionalização da gestão GOVERNANÇA TERRITORIAL
pública, a Constituição do Estado de 1989 deter-
minou a criação das “administrações regionais”, A Constituição Federal de 1988 inaugura um
instituídas pelo Executivo em cidades polo de novo pacto federativo no país, em que compe-
regiões de planejamento. Ao administrador tências no processo de formulação e execução
regional caberia a função de coordenação das das políticas públicas são redistribuídas entre as
88 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

três esferas de governo, em um viés fortemente favorecendo a indicação de direções prioritárias


localista, e estabelece que deve haver partici- para o desenvolvimento. Tais programas foram
pação da sociedade civil nas diversas áreas de inspiradores e indutores de experiências de pla-
políticas públicas. nejamento, no estado da Bahia e, mais recente-
mente, em Minas Gerais.
No caso do planejamento regional, no entanto,
instâncias territoriais intermediárias entre o Em Minas Gerais, o Governo atual criou os territó-
estado e seus munícipios não foram especifica- rios de desenvolvimento como unidades de pla-
mente consideradas. O planejamento e gestão nejamento e, associados a esses territórios, insti-
metropolitanos, por exemplo, foram mencio- tuiu os Fóruns Regionais, promovidos de forma a
nados apenas para delegar aos estados o papel propiciar a participação da população na cons-
definidor de competências e instituidor de estru- trução e no planejamento de políticas públicas.
turas regionais apropriadas. Nesse novo modelo de governança, foram ins-
tituídos ainda a Secretaria Extraordinária de
Políticas de desenvolvimento regional defronta- Desenvolvimento Integrado e, no âmbito local,
ram-se, desde então, com o desafio da criação os Colegiados Executivos dos Fóruns Regionais.
de estratégias de governança territorial que
superassem as barreiras do municipalismo her- Nesse contexto, o sucesso da execução do
dado da Constituição. Não menos decisivo para o PDVJ vai depender da criação de um arranjo de
insucesso de muitas das experiências de planeja- governança que, articulado a esse novo modelo
mento regional foi o tratamento como iguais de estabelecido pelo Governo Estadual, seja capaz
munícipios com capacidade técnica e financeira de promover a convergência entre os agentes
extremamente díspares, na grande maioria des- implementadores e a sociedade em torno de
providos de condições mínimas para assumir os seus objetivos e ações. Para isso, faz-se necessário
papéis que lhes foram reservados. definir mecanismos e espaços que permitam a
discussão permanente das ações propostas, a
Essas deficiências herdadas da Constituição eleição de prioridades e seu alinhamento aos
colocam a necessidade de conferir papel central programas e às ações em curso nos diversos
a modelos de governança que articulem as três órgãos das três esferas de governo, de modo a se
instâncias de governo e a sociedade civil, por evitar a sobreposição de ações. Esse arranjo deve
meio de espaços públicos em nível territorial que ainda ser capaz de coordenar ações intersetoriais,
ampliem e democratizem a gestão pública. o que requer esforços que podem oscilar desde
a articulação de estruturas setoriais já existentes
Duas experiências recentes levadas a cabo pelo até mudanças mais profundas envolvendo uma
Governo Federal constituem marcos na cons- gestão transversal e alterações no conteúdo das
trução de modelo de governança fundamentado políticas (VEIGA et al., 2013).
no conceito de territórios de desenvolvimento:
o Programa de Desenvolvimento Sustentável de
Territórios Rurais (Pronat) e o Programa Territó-
rios de Cidadania (PTC). Como enfatizado, esses
programas permitiram um maior envolvimento
da sociedade civil e um melhor debate de neces-
sidades e desafios relacionados ao território,
Governança 89
90 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
Referências 91

6
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94 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
Apêndice 95

7
Apêndice

Neste apêndice estão arrolados os cinco eixos 7. Criar um Corredor Ecológico desde a nascente
de intervenção propostos com suas estratégias e do Rio Jequitinhonha até o limite com o esta-
ações na íntegra. do da Bahia, com ramificações para as princi-
pais sub-bacias hidrográficas;

7.1 8. Intensificar a fiscalização em atendimento


EIXO RECURSOS à legislação ambiental, principalmente, Po-
HÍDRICOS lítica Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº
9.433/97); Crimes ambientais (Lei nº 9.605/98);
Estratégia 1: Preservação dos recursos hídricos
Código Ambiental (Lei nº 12.651/12) e outras
leis de âmbito estadual e municipal.
Ações para incrementar a disponibilidade hídrica
nos territórios do Jequitinhonha:
Ações para redução do desmatamento:
1. Ampliar as áreas de cobertura vegetal com es-
pécies nativas do bioma local; 1. Elaborar um programa regional de “Desmata-
mento zero” para os territórios do Jequitinhonha;
2. Restaurar as áreas desmatadas e as matas ciliares;
2. Desenvolver programa de monitoramento
3. Priorizar a construção de barraginhas; do desmatamento nos territórios, com apoio
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
4. Utilizar sistemas alternativos de irrigação e (INPE) e do Instituto Nacional de Meteorolo-
aproveitamento de barragens já construídas gia (INMT);
para pequenos projetos de irrigação;
3. Equipar adequadamente a polícia ambiental
5. Cercar as nascentes e restaurar a mata nativa; para reprimir os desmatamentos ilegais e a
extração predatória de produtos e subprodu-
6. Proteger áreas de encostas; tos florestais;
96 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

4. Intensificar a fiscalização das áreas vulnerá- Ações para a ampliação das áreas de cobertura
veis a incêndios criminosos por meio do mo- vegetal:
nitoramento espacial;
1. Implementar os programas e ações previstos
5. Intensificar a aplicação da Lei de Crimes Am- no Plano de Energia e Mudanças Climáticas
bientais (9.605/88); (PEMC) de Minas Gerais;

6. Bonificar financeiramente produtores rurais 2. Inventariar e monitorar todas as fontes emis-


que cercarem nascentes e/ou áreas nativas soras de Gases de Efeito Estufa (GEE);
em sua propriedade com a finalidade explíci-
ta de provisão de água ou fixação de carbono 3. Elaborar plano de recomposição florestal dos
por meio da aplicação do mecanismo de pa- biomas mata atlântica e cerrado das matas na-
gamento por serviços ambientais. tivas, matas ciliares, matas galeria, fundos de
vale, encostas e de topos de morro;

Ações para o fortalecimento de programas de 4. Ampliar o número de Unidades de Conserva-


conservação da água: ção em todos os territórios, de acordo com o
Sistema Nacional de Unidades de Conserva-
1. Estimular parcerias de ONGs e prefeituras para ção (Lei nº 9.985/00).
o compartilhamento de tecnologias de con-
servação da água;
Estratégia 2: Implementação de pagamentos
2. Proporcionar capacitação técnica institucio- por serviços ambientais
nal, em parceria com ONGs, para programas
Ações:
de conservação de agua, nos moldes do prati-
cado pelo Programa Água Boa;
1. Conceder incentivos fiscais para o setor priva-
do que realizar práticas de conservação e recu-
Ações de planejamento e ordenamento peração do meio ambiente (áreas degradadas),
territorial: assim como de preservação da biodiversidade;

1. Elaborar um plano de zoneamento ambien- 2. Adotar política de incentivos econômicos vol-


tal para melhor alocar as plantações de eu- tados para a implementação do mecanismo
calipto, evitando as áreas de recarga de de Pagamento por Serviços Ambientais com
aquíferos; foco na produção de água (PSA ÁGUA) e na
fixação de carbono (PSA Carbono);
2. Promover articulação institucional para capa-
citação técnica junto a processos de elabora- 3. Criar um fundo de Pagamento por Serviços
ção de zoneamento ambiental; Ambientais para o Jequitinhonha, a fim de
que possa ser gerido a espelho dos comitês
3. Contribuir financeiramente junto ao meca- de bacias hidrográficas;
nismo de Pagamento por Serviços Ambien-
tais com foco na fixação de carbono (PSA 4. Mapear as áreas prioritárias associadas ao ci-
Carbono). clo hidrológico (PSA Água);
Apêndice 97

5. Mapear as áreas prioritárias associadas à fixa- condições para o funcionamento da produ-


ção de carbono (PSA Carbono); ção no Baixo/Médio Jequitinhonha;

6. Envolver a parceria de empreendimentos de 5. Resgatar/agilizar o crédito fundiário, para dar


mineração, silvicultura, CEMIG, COPANOR/CO- condições de acesso à terra.
PASA, Indústrias, entre outras de grande vulto.
Tais empreendimentos justificam-se pelo fato
Estratégia 2: Fortalecimento da fiscalização
de fazerem uso intenso de recursos hídricos;
do meio ambiente e agilidade na obtenção de
ou expropriarem o direito difuso do uso da licenças ambientais
terra; ou por gerarem impactos ambientais
consideráveis à sociedade. Ações:

1. Fortalecer o Instituto Estadual de Florestas


(IEF) e a Superintendência Regional de Regu-
7.2 larização Ambiental (SUPRAM/FEAM), para
EIXO DESENVOLVIMENTO
que tenham atuação em todos os municípios,
PRODUTIVO
agilizando e barateando as licenças.

2. Modernizar o atendimento e o procedimento


SUBEIXO 1: DESENVOLVIMENTO DA para obtenção de licenças por meio de formu-
AGROPECUÁRIA lários de cadastros informatizados;

Estratégia 1: Promoção da regularização 3. Ampliar a divulgação da legislação ambiental,


fundiária e fortalecimento do acesso à terra fortalecer as funções orientadoras dos órgãos
ambientais em detrimento das punitivas e hu-
Ações: manizar as respectivas abordagens.

1. Ampliar e agilizar o processo de regularização


Estratégia 3: Fortalecimento e promoção
fundiária em terras de domínio estadual, sim-
da pesquisa agropecuária e da assistência
plificando e barateando os trâmites judiciais e
técnica e extensão rural (ATER)
extrajudiciais para a regularização da proprie-
dade da terra, criando uma instância de con- Ações:
trole social para acompanhar o processo;
1. Realizar concursos públicos e aumentar o nú-
2. Ampliar e agilizar o processo de titulação de mero de técnicos da EMATER, IMA, IEF. Fortale-
territórios quilombolas; cer programas de capacitação desses técnicos;

3. Agilizar o processo de delimitação e demarca- 2. Fortalecer a pesquisa agropecuária e aproxi-


ção das terras indígenas; má-la dos agricultores;

4. Dar apoio aos assentamentos da reforma 3. Adotar ações visando fortalecer os órgãos
agrária, provendo infraestrutura necessária, municipais ligados à assistência técnica e à
agilizando o acesso à propriedade e dando extensão rural.
98 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

4. Fortalecer os Conselhos Municipais de Desen- 6. Fortalecer a compra por outras instituições


volvimento Rural Sustentável (CMDRS), princi- públicas de produtos da agricultura familiar,
palmente na elaboração de seus planos (PM-
DRS), articulados a um sistema territorial de 7. Garantir que as escolas estaduais cumpram
planejamento, monitoramento e execução. o percentual mínimo exigido para a partici-
pação da agricultura familiar nas compras da
5. Estimular a participação das universidades, merenda escolar.
ONGs e outras instituições da sociedade civil
nos serviços de ATER;
Ações para fortalecer as feiras:
6. Fortalecer a assistência técnica e extensão
1. Organizar o transporte de pessoas e de produ-
rural para assentamentos da reforma agrária,
tos, com coparticipação de recursos públicos,
quilombos e terras indígenas.
possibilitando o maior acesso dos agricultores;

Estratégia 4: Fortalecimento da comercialização 2. Promover a reordenação dos espaços das fei-


dos produtos da agricultura familiar
ras e mercados municipais, privilegiando a
agricultura familiar e regulando a atuação de
Ações para fortalecer os programas de compras pú­ ambulantes;
blicas e institucionais voltados à agricultura familiar:

3. Adequar os editais para captar recursos para


1. Adequar os cardápios das escolas aos produ-
melhoramento das feiras com base nas reali-
tos possíveis de serem produzidos localmen-
dades locais.
te, dando atenção à questão nutricional;

2. Conferir assistência ao agricultor para prepara- Ações para fortalecer outras formas de
ção e entrega dos produtos nas condições exi- comercialização:
gidas pelos editais e instituições envolvidas;
1. Certificar e tornar mais barato o processo de
3. Mobilizar as prefeituras, secretarias munici- certificação dos produtos orgânicos e agroe-
pais de educação e diretores de escola para cológicos. Ampliar a participação das univer-
ampliar a participação da agricultura familiar sidades no processo de certificação, por meio
nas compras da alimentação escolar; da adoção de editais específicos;

4. Antecipar a liberação de recursos para a rea- 2. Fortalecer a certificação sanitária de produtos


lização das chamadas públicas, permitindo o típicos;
fornecimento dos gêneros alimentícios desde
o início do período escolar; 3. Apoiar as prefeituras para promoção e divul-
gação da importância da agricultura familiar
5. Fortalecer o Programa de Aquisição de Ali- para a economia municipal e regional, visan-
mentos (PAA) por adesão, ampliando a com- do influenciar os hábitos dos consumidores;
pra de produtos da agricultura familiar e sua
distribuição para famílias em situação de inse- 4. Estimular a parceria entre associações comu-
gurança alimentar; nitárias, prefeituras e supermercados, visando
Apêndice 99

à criação de gôndolas de supermercados com 2. Desenvolver, com ajuda da Universidade, la-


produtos exclusivos da agricultura familiar. boratórios de referência para o café;

3. Promover ações de preparação do produto


Estratégia 5: Estímulo às associações de
para comercialização;
agricultores familiares

Ações: 4. Criar galpões de armazenamento e beneficia-


mento;
1. Reduzir as taxas cobradas, a burocracia legal
e os custos de operação das associações de 5. Oferecer estímulos fiscais e criação de linhas de
agricultores familiar; crédito para o processamento dos produtos.

2. Diferenciar taxas de registro de documentos Ações para o fortalecimento da pecuária:


para associações civis sem fins lucrativos;
1. Estimular a criação e a regularização de abate-
3. Trabalhar para que as associações ligadas à douros e frigoríficos;
agricultura familiar sejam declaradas institui-
ções de utilidade pública; 2. Melhorar a vigilância sanitária;

4. Trabalhar para que as políticas públicas en- 3. Introduzir a palma, o sorgo e outros produtos
volvam no seu processo de implementação as para favorecer as pastagens nos períodos de seca;
associações comunitárias rurais.
4. Negociar ações para baratear o preço dos in-
Estratégia 6: Fortalecimento de produtos sumos;
estratégicos para a região (mel, café,
fruticultura e pecuária) 5. Estimular a cadeia do leite, com incentivo a as-
sociações, cooperativas, quando apropriado,
Ações para o fortalecimento da produção e e laticínios.
comercialização do mel:

1. Promover parcerias com empresas de reflores- Estratégia 7: Redução dos impactos


ambientais da silvicultura e ampliação de seu
tamento para expansão das áreas para a pro-
retorno econômico para a região
dução do mel;
Ações:
2. Agilizar o processo de inspeção sanitária/fis-
1. Incentivar as atividades que utilizam o euca-
calização para a obtenção do selo para a co-
lipto como matéria-prima;
mercialização.

2. Garantir a aplicação dos impostos gerados na


Ações para o fortalecimento do café: atividade em projetos sociais, culturais e eco-
nômicos da própria região;
1. Fortalecer as políticas voltadas para os centros
de comercialização, beneficiamento e classifi- 3. Desenhar com a comunidade e produtores uma
cação do café; política para a revisão dos contratos de conces-
100 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

são de terras para a plantação de eucalipto que miliar não comprometa o direito à aposenta-
já expiraram ou estão próximos dessa situação; doria rural;

4. Melhorar a fiscalização para reduzir os danos 2. Permitir e/ou fortalecer a venda pelas associa-
sobre o meio ambiente; ções comunitárias para os mercados institu-
cionais;
5. Fiscalizar a atuação de atravessadores e trans-
portadores, reduzindo os danos sobre as es- 3. Simplificar as exigências sanitárias, adequan-
tradas e sobre o meio ambiente. do-as às especificidades da pequena produção.

4. Garantir que a inspeção sanitária assuma um


Estratégia 8: Fortalecimento da atividade
caráter orientador e educador, assegurando a
extrativista de forma sustentável,
assegurando direitos de povos e qualidade do produto vistoriado;
comunidades tradicionais
5. Realizar editais específicos visando à partici-
Ações: pação das universidades nas ações ligadas à
certificação;
1. Avaliar a atual categorização das Unidades de
Conservação de Proteção Integral no territó- 6. Incentivar o fortalecimento dos serviços de
rio do Alto Jequitinhonha, verificando a possi- inspeção municipal e de sua atuação por meio
bilidade de recategorização; de consórcios;

2. Incentivar a criação de associações e/ou coo- 7. Estimular a constituição e a regularização de


perativas entre os extrativistas e a agregação abatedouros e laticínios, dando especial aten-
de valor aos insumos extraídos; ção à concessão dos selos de inspeção muni-
cipal e federal.
3. Trabalhar, com apoio da universidade, ativi-
dades voltadas à extração/processamento de
produtos medicinais ou cosméticos com po- SUBEIXO 3: INDÚSTRIA
tencial econômico.

Estratégia 10: Fortalecimento da indústria

SUBEIXO 2: AGROINDÚSTRIA
Ações para o fortalecimento da indústria de
madeiras e móveis (Alto Jequitinhonha):
Estratégia 9: Fortalecimento da agroindústria
familiar, agregando valor à produção e
ampliando a renda 1. Fomentar empresas de beneficiamento da
madeira;

Ações: 2. Fortalecer a capacitação de mão de obra para


a produção de móveis, incluindo o design;
1. Resolver as incompatibilidades entre as legis-
lações tributária e previdenciária, garantindo 3. Realizar rodadas de negócio e participação
que a venda de produtos da agroindústria fa- em feiras para comercialização dos produtos.
Apêndice 101

Ações para estimular a indústria de processamento 5. Buscar a internalização de elos da cadeia do


de frutas (suco, doces) e outros produtos: lítio por meio de incentivo à instalação de fá-
brica de baterias.
1. Conceder subsídios para a atração de indústrias;

Estratégia 11: Geração de conhecimento


2. Incentivar a formação de empresas processa-
mais detalhado e aprofundado das
doras, privilegiando a gestão e privilegiando a
potencialidades dos territórios no setor de
gestão e procurando aprender com experiên- mineração
cias prévias;
Ações:
3. Criar distritos industriais e dar apoio à infraes-
trutura em cidades que demonstram poten- 1. Com base no mapeamento geológico já exis-
cial para o avanço da indústria; tente, mapear as áreas potenciais em escala
compatível com a descoberta e detalhamento
4. Apoiar o projeto de criação de uma Zona Fran- de depósitos minerais;
ca no Médio/Baixo Jequitinhonha, visando à
atração de indústrias e o processamento de 2. Atualizar as informações sobre reservas, pro-
produtos agroindustriais. dução e comercialização de minerais nos ter-
ritórios.

Ações para processamento e agregação de Estratégia 12: Promoção da


valor nas cadeias produtivas de gemas e joias, responsabilidade ambiental/social dos
pedras ornamentais e outros produtos minerais empreendimentos do setor
(principalmente no Médio/Baixo Jequitinhonha):

1. Promover a instalação de centros para lapida- Ações:


ção, elaboração de joias e peças artesanais de
1. Fortalecer a fiscalização das atividades de mi-
bijuterias, adornos e ornamentos;
neração nos territórios, por meio de atuação
coordenada, firme e presente das instituições
2. Criar cursos profissionalizantes em lapidação,
responsáveis pelas licenças;
design e empreendedorismo, além do desen-
volvimento de uma “cultura cooperativa” e do
2. Promover a mobilização e a conscientização
suporte de empresas-âncoras;
das comunidades onde se localizam as lavras;

3. Promover o maior beneficiamento das rochas


3. Pactuar com as empresas maiores maior res-
ornamentais extraídas nos territórios, dados
ponsabilidade social e contrapartidas em pro-
os fortes impactos sobre a agregação de valor;
jetos culturais, sociais e produtivos;

4. Estimular o aproveitamento de rejeitos da


4. Regularizar as áreas de garimpo e assegurar
lavra e do beneficiamento dos minerais, que
melhores condições de trabalho para os pe-
podem ser utilizados na produção de chapas
quenos garimpeiros.
aglomeradas ou prensadas e na elaboração
de peças artesanais;
102 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

SUBEIXO 5: TURISMO Espírito Santo a conhecer e pernoitar em des-


tinos do Vale do Jequitinhonha;
Estratégia 13: Estruturação e qualificação da
oferta turística 3. Identificar perfil e desenvolver estratégias
para atrair a demanda potencial existente
Ações: no estado da Bahia e do Espírito Santo, para
conhecer e pernoitar no Vale, valendo-se de
1. Financiar e monitorar a elaboração e imple- Diamantina como principal destino turístico e
mentação de projetos específicos para es- polo de atração;
truturar, qualificar e comercializar atrativos e
roteiros turísticos que tenham maior poten- 4. Realizar pesquisa de demanda (potencial e
cial de atratividade (internacional, nacional efetiva) e plano de marketing a fim de orien-
e regional); tar campanhas de marketing digital e ampliar
a atração de fluxo turístico;
2. Fomentar o aperfeiçoamento de inventários,
diagnósticos e estudos que contribuam para a 5. Associar os principais produtos e segmentos
melhoria contínua do planejamento turístico da oferta turística regional com seus merca-
municipal e regional, envolvendo a comuni- dos prioritários, canais de comercialização
dade local; adequados e ações necessárias, abrangendo
o turismo convencional e o autoguiado;
3. Qualificar serviços e equipamentos turísticos
e fomentar o empreendedorismo; 6. Apoiar municípios, circuitos turísticos e recep-
tivos turísticos da região a desenvolver com-
4. Garantir infraestrutura, serviços públicos para petência em marketing digital para utilizar a
e instrumentos de gestão urbana (articulação Internet e as mídias sociais como canais de
com o eixo Infraestrutura viária). promoção e comunicação, de modo a atingir
diretamente os turistas potenciais, em espe-
Estratégia 14: Estímulo à demanda e cial os autoguiados;
fortalecimento da comercialização turística
7. Encontrar soluções práticas em conjunto com
Ações: entidades representativas do setor, para ade-
quar portfólio de produtos turísticos oferta-
1. Desenvolver e implementar campanhas de dos na região que atendam às necessidades
marketing e mecanismos de estímulo para das operadoras (escala) e ao perfil predomi-
captar fluxos de mercados potenciais prioritá- nante dos turistas; aperfeiçoar as táticas de
rios de Minas e estados limítrofes diretamente promoção e vendas junto aos operadores e
interessados em Diamantina e Serro e atraí-los agentes de turismo, considerando os merca-
também para outros destinos e atrativos do dos prioritários e o segmento predominante
Vale do Jequitinhonha; do mercado doméstico;

2. Desenvolver e implementar mecanismos de 8. Fomentar parcerias com meios de comunica-


incentivo para turistas de Minas e outros es- ção (tradicionais e de mídias sociais) para am-
tados em rota para as praias do Sul da Bahia e pliar a divulgação dos atrativos e eventos da
Apêndice 103

região, com destaque para as manifestações 7. Estimular que os quatro circuitos turísticos
culturais e o artesanato local. presentes na região se articulem e desenvol-
vam um planejamento e gestão do turismo
em todo o Vale do Jequitinhonha de forma
Estratégia 15: Fortalecimento do sistema de
integrada;
gestão do turismo e suas instituições

Ações: 8. Estimular a UFVJM a realizar pesquisas, esta-


tísticas e estudos sobre o turismo e suas polí-
1. Apoiar a realização de parcerias e a forma- ticas na região de forma articulada e comple-
ção de uma rede para a integração de ações mentar ao Observatório do Turismo de MG,
e projetos municipais e regionais de turismo, buscando recursos, apoio do Governo Federal
incluindo circuitos turísticos, ONGs e órgãos e das instituições de fomento de P&D e repas-
estaduais e federais com iniciativas em turis- sando o conhecimento para as localidades.
mo e em cultura;

2. Aumentar engajamento, mobilização e comu-


7.3
nicação; EIXO DESENVOLVIMENTO
SOCIAL
3. Repassar aos municípios e circuitos turísticos
as metodologias e informações estratégi- Este eixo de intervenção foi dividido nos
cas da SETUR-MG/Observatório do Turismo seguintes subeixos: assistência social; saúde;
para a gestão e planejamento municipal e saneamento; habitação; educação; cultura e
regional; segurança pública.

4. Buscar adequar a composição e organização


dos Circuitos Turísticos da região seguin-
SUBEIXO: EDUCAÇÃO
do orientações da SETUR-MG no sentido de
aperfeiçoar a Política dos Circuitos e a de
ICMS turístico; Estratégia 1: Garantia do acesso ao ensino de
qualidade
5. Estimular os municípios de maior potencial Ações:
turístico a pleitear recursos do ICMS turístico
e investir em um sistema de gestão turística 1. Criar programas de bolsas de estudos nos
municipal que conte com técnicos formados moldes do Projovem Campo – Saberes de
na área, inventário atualizado, plano turístico, Minas, com monitoramento das escolas e das
estratégia de integração regional efetiva, con- Superintendências Regionais de Educação
selho e fundo turístico municipal; (SRE), para os anos finais do ensino funda-
mental, ensino médio e Educação de Jovens
6. Fomentar o desenvolvimento turístico do Vale e Adultos (EJA);
do Jequitinhonha por meio de editais da SE-
TUR-MG para execução de ações pelos muni- 2. Criar programa de acompanhamento e refor-
cípios e/ou Circuitos Turísticos; ço nas escolas para os alunos com dificulda-
104 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

de de aprendizagem, principalmente para os 2. Capacitar os professores que atuam em pro-


anos iniciais do ensino fundamental; gramas de alfabetização de adultos e na mo-
dalidade EJA;
3. Aumentar a oferta em turnos diferenciados
para o ensino médio e EJA, conforme a rea- 3. Capacitar os professores que atuam nos anos
lidade de cada município e da área rural, in- finais do fundamental e no ensino médio, na
cluindo transporte escolar e alimentação; modalidade do campo, com a metodologia
das Escolas Família Agrícola;
4. Incluir no currículo da EJA disciplinas ou con-
teúdos que favoreçam a formação empreen- 4. Capacitar os professores para o atendimento
dedora dos alunos, voltadas inclusive para as da educação especial;
atividades agrícolas;
5. Capacitar os técnicos e gestores para o uso
5. Ampliar a oferta de programas de alfabetiza- dos resultados das avaliações externas;
ção de adultos na modalidade Educação de
Jovens e Adultos – Em Processo de Alfabetiza- 6. Criar na Superintendência Regional de Ensino
ção (EJA-EPA). de Diamantina, Araçuaí e Almenara um nú-
cleo de acompanhamento dos programas de
6. Desenvolver ações interdisciplinares nas es- capacitação para garantir o cumprimento das
colas, como feira de ciências, feira de profis- ações previstas;
sões, encontros culturais, continuidade do
Programa Mais Cultura nas Escolas, bem como 7. Estabelecer parcerias com as instituições de
­oficinas e cursos referentes às criações locais ensino superior para a formação continuada
na área cultural (Ação intersetorial com o su- do corpo docente;
beixo Cultura);
8. Ampliar a oferta gratuita de cursos de espe-
7. Melhorar as estradas ou o transporte público cialização voltada para a formação docente.
escolar (carros adaptados para as estradas de
terra e períodos de chuva) (Ação intersetorial
com o subeixo Infraestrutura). Estratégia 3: Melhoria da gestão da educação

Ações:
Estratégia 2: Formação e capacitação dos
docentes e gestores 1. Apoiar as Escolas Família Agrícola (EFAs) garan-
tindo o cumprimento da Resolução SEE Nº 2.774,
Ações: de 19 de maio de 2015 (MINAS GERAIS, 2015b),
e ampliando os recursos destinados a implanta-
1. Capacitar os professores alfabetizadores da ção dos projetos profissionalizantes dos alunos;
rede estadual e municipal dos três primeiros
anos do ensino fundamental, com metodolo- 2. Rever o sistema de nucleação das escolas, com
gia específica para aqueles que lecionam em vistas à alteração do modelo atual e como es-
turmas multisseriadas; tratégia para o atendimento das crianças de 4
e 5 anos;
Apêndice 105

3. Ampliar, nas escolas públicas, a metodologia ­nais do ensino fundamental, do ensino


fi
da educação do campo, com adequação dos médio e da EJA, em horários que sejam ade-
currículos e calendários à demanda do meio quados para esses alunos, com continuidade
rural, avaliando a possibilidade de adotar, em e diversidade em consonância às potenciali-
algumas escolas, metodologia similar às ado- dades econômicas da região e à capilaridade
tadas nas EFAs; territorial, incluindo a qualificação para o tra-
balho no campo;
4. Realizar inventário e avaliação das condições
dos prédios escolares municipais e estaduais; 2. Ampliar a oferta de cursos técnicos de nível
médio;
5. Garantir o transporte escolar rural adequado,
com monitor para acompanhar a entrada e 3. Ampliar a oferta de cursos de nível superior
saída de alunos; disseminadas nas cidades dos territórios;

6. Alinhar com a Secretaria de Estado de Traba- 4. Apoiar o acesso às universidades, com trans-
lho e Desenvolvimento Social o repasse de porte gratuito partindo das cidades que não
recursos e a oferta das oficinas de qualificação possuem a oferta de ensino superior.
dos programas da assistência social (Ação in-
tersetorial com o subeixo Assistência Social);
SUBEIXO: SAÚDE
7. Articular com a Secretaria de Estado de Saú-
Este subeixo foi dividido nas seguintes estraté-
de (SES) ações preventivas de tratamento e
gias: ampliação do acesso à atenção à saúde de
curativas nas escolas (Ação intersetorial com
qualidade e melhoria da gestão do SUS.
subeixo Saúde);

8. Articular com a Companhia de Desenvolvi- Estratégia 1: Ampliação do acesso à atenção à


mento Econômico de Minas Gerais (CODE- saúde de qualidade
MIG) iniciativas locais empreendedoras (Ação
intersetorial com setor produtivo); Ações para a melhoria do acesso e da qualidade
da atenção primária (que envolvem tanto
9. Articular com a Secretaria do Desenvolvimen- aquelas relativas à prevenção e promoção de
saúde quanto as de recuperação da saúde):
to Agrário (Seda) programas de formação para
a agricultura familiar (ação intersetorial com
1. Apoiar a expansão da cobertura da Equipes
setor produtivo).
de Saúde da Família (ESF) no meio rural por
meio de unidades móveis com equipe iti-
Estratégia 4: Implantação e expansão da nerante para atender as comunidades mais
educação profissional e de nível superior distantes;

Ações: 2. Estimular a implantação de protocolos assis-


tenciais, que valorizem a atenção programa-
1. Ofertar cursos de qualificação (Formação da, a priorização do atendimento e o encami-
Inicial Continuada) para os alunos dos anos nhamento de modo adequado;
106 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

3. Incentivar a atuação integrada das equipes de 2. Concluir o Hospital Regional de Teófilo Otoni
Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) e e construir o segundo hospital regional pre-
das ESF; visto para a região;

4. Garantir a universalização da cobertura vaci- 3. Atuar junto ao hospital regional Santa Rosália,
nal nas crianças com até um ano de idade; localizado em Teófilo Otoni, de modo a garan-
tir o atendimento da população do Médio/
5. Incentivar a implementação de ações de modo Baixo Jequitinhonha;
a reduzir os óbitos evitáveis a partir da implan-
tação da Política Nacional de Atenção Integral 4. Implementar ações com vistas a favorecer a
à Saúde da Criança, instituída pela Portaria nº integração dos hospitais de pequeno porte
1.130, de 5 de agosto de 2015 (BRASIL, 2015); na rede de serviços;

6. Incentivar a implementação dos diversos pro- 5. Reavaliar a capacidade instalada dos hospitais
gramas federais e estaduais de promoção da localizados nas sedes das microrregiões com
saúde da mulher, da gestante, do homem, do vistas a elevar o número de procedimentos de
idoso etc.; média e alta complexidade;

7. Realizar esforços para aumentar o número de 6. Garantir o acesso regulado de acordo com o
médicos nos territórios; estabelecido na Política Estadual e Nacional
de Regulação do SUS;
8. Promover a educação permanente dos profissio-
nais da atenção primária em saúde com ênfase 7. Expandir a Rede SAMU (Serviço de Atendimen-
no aperfeiçoamento das práticas clínicas e apri- to Móvel de Urgência) com a criação de polos
moramento do processo de trabalho em saúde; do SAMU nas cidades de referência e unidades
de suporte básico nos municípios vizinhos;
9. Aperfeiçoar a articulação entre as Secretarias
de Saúde e Educação, municipais e estaduais, 8. Concluir/implantar as UTIs de Almenara e Itaobim;
no acompanhamento da saúde da criança e
do adolescente em idade escolar; 9. Implantar um centro de reabilitação físico, au-
ditivo e visual;
10. Apoiar os municípios na organização dos sis-
temas locais de Vigilância em Saúde; 10. Melhorar o sistema de transporte a partir da
renovação da frota segundo a Resolução SES/
11. Ampliar a participação estadual no financia- MG nº 3.638/2013 (MINAS GERAIS, 2013).
mento da atenção primária.

Ações para fomentar a capacitação e o


Ações para a melhoria do acesso e da qualidade treinamento dos profissionais de saúde:
da atenção secundária e terciária.
1. Incentivar e implementar melhorias nos pro-
1. Implementar os Centro de Especialidade Mé- cessos de trabalho conforme os padrões e as
dicas (CEM) nos territórios do Jequitinhonha; normas estabelecidos pelo SUS;
Apêndice 107

2. Implementar programas de educação perma- SUBEIXO: ASSISTÊNCIA SOCIAL


nente para os profissionais de saúde com vis-
tas ao aperfeiçoamento das práticas clínicas e Estratégia 1: Fortalecimento da atenção a
do processo de trabalho; crianças, adolescentes, jovens e idosos

3. Implementar programas de capacitação para Ações para a priorização e fortalecimento da


o preenchimento adequado dos sistemas de atenção à criança, ao adolescente e ao jovem:
informação.
1. Introduzir novos conteúdos e metodologias
de intervenção socioassistenciais que levem
Estratégia 2: Melhoria da gestão do SUS em conta as especificidades das diferentes fai-
xas etárias e a cultura e modos de vida locais;

Ações para tornar a gestão do SUS mais


2. Introduzir recursos da tecnologia (Internet,
eficiente:
celular, audiovisual etc.) que possam ser mais
1. Fortalecer e ampliar os mecanismos de co- atrativos especialmente para adolescentes e
municação que possibilitem à população jovens, tanto na cidade quanto nas comuni-
conhecer as formas de acesso à atenção à dades rurais;
saúde;
3. Criar formas de envolvimento de adolescen-
2. Incentivar e implementar melhorias nos pro- tes e jovens no planejamento das ações dos
cessos de trabalho conforme os padrões e as serviços socioassistenciais;
normas estabelecidos pelo SUS;
4. Ampliar a oferta de oportunidades de traba-
3. Implementar programas de capacitação dos lho e renda para adolescentes, conforme pre-
gestores municipais no que diz respeito aos visto na legislação;
instrumentos de planejamento, à gestão fi-
nanceira e orçamentária e ao controle social 5. Promover cursos de qualificação profissional
no SUS; para jovens e adolescentes, em parceria com
a universidade e outras instituições de ensino;
4. Implementar programas de capacitação para
o preenchimento adequado dos sistemas de 6. Implementar oficinas, seminários e campanhas
informação; de proteção e de valorização dos direitos da
criança e do adolescente, com prioridade para
5. Implementar programas de capacitação temas relacionados à violência sexual contra
para membros dos conselhos municipais de crianças e adolescentes, discriminação de gêne-
saúde; ro e raça/etnia, trabalho infantil, combate à vio-
lência doméstica, alcoolismo e uso de drogas;
6. Apoiar os colegiados regionais e as regionais
de saúde. 7. Intensificar a busca ativa focalizada no seg-
mento infância e adolescência, visando identi-
ficar locais e práticas recorrentes de violação de
108 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

direitos, em conformidade com as diretrizes do ­ ssistência Social e as entidades que desen-


A
Serviço Especializado em Abordagem Social; volvem projetos nos territórios, contemplan-
do as metodologias de intervenção e aspec-
8. Empreender gestões junto às instâncias co- tos da política da Assistência Social;
legiadas do SUAS com vistas a viabilizar o
cofinanciamento estadual e federal para a 2. Aperfeiçoar a articulação entre entidades e
implantação das medidas socioeducativas em serviços socioassistenciais por meio do desen-
meio aberto; volvimento de propostas e ações conjuntas,
sistemáticas e regulares;
9. Incentivar os munícipios a aprimorar o lança-
mento das informações no Sistema de Infor- 3. Divulgar editais públicos para fomento da
mação para a infância e adolescência, incluin- atuação das ONGs no trabalho com crianças e
do as demandas e as deficiências na estrutura adolescentes;
de atendimento a esse público.
4. Fazer o levantamento das entidades socioassis-
tenciais e ONGs existentes nos territórios, identi-
Ações para fortalecer a atenção ao idoso tanto
na Proteção Básica quanto na Especial: ficando o público-alvo e as ações desenvolvidas;

1. Promover ações visando ao cumprimento das 5. Qualificar o cadastro das entidades socioassis-
legislações e convenções vigentes; tenciais junto à SEDESE, e incentivar o cadas-
tramento das organizações socioassistenciais
2. Desenvolver ações permanentes visando in- ainda não cadastradas;
formar a sociedade sobre os direitos do idoso;
6. Prover suporte para a regularização das enti-
3. Fortalecer o controle social tanto dos proces- dades representativas de populações e bair-
sos de intermediação de benefícios e outros ros urbanos e rurais.
tipos de violação de direitos dos idosos;
Estratégia 3: Qualificação permanente da
4. Elaborar materiais (cartilhas) visando ampliar gestão da Assistência Social
(melhorar) as informações sobre os serviços
socioassistenciais ofertados aos idosos; Ações para promover a integração intersetorial
na execução da política de assistência social:
5. Criar programas educativos voltados à melho-
ria da qualidade de vida no envelhecimento. 1. Promover a integração das ações de assistên-
cia social que demandam intervenções inter-
setoriais envolvendo a educação, saúde, cul-
Estratégia 2: Articulação entre as entidades
tura e direitos humanos;
socioassistenciais existentes nos territórios

Ações para a integração da atuação das ONGs 2. Promover ações visando o desenvolvimento
com a política de Assistência Social: agrário, a geração de trabalho e renda e a pro-
teção ao meio ambiente, de forma a garantir
1. Promover seminários e encontros visando maior efetividade dos projetos destinados ao
à troca de experiências entre os órgãos da público vulnerável;
Apêndice 109

3. Criar comitês intersetoriais locais de plane- 4. Expandir e melhorar a estrutura da rede de


jamento e integração das ações das políticas equipamentos da Proteção Social Básica e
sociais, ambientais e culturais nos territórios. Especial, inclusive das equipes volantes para
atuação nas comunidades rurais;

Ações para promover o fortalecimento das


instâncias de participação e de controle da 5. Implementar programas e projetos específi-
sociedade civil: cos para a população quilombola, indígena e
demais comunidades tradicionais.
1. Manter processos regulares de capacitação
de conselheiros em temas que envolvam a
gestão dos fundos, procedimentos de fiscali- Ações que visam a melhorias na gestão do
trabalho das equipes de assistência social:
zação e de acompanhamento da política da
assistência social;
1. Criar incentivos que possam induzir as admi-
nistrações municipais a realizar concursos pú-
2. Ampliar a participação dos usuários e traba-
blicos para efetivação das equipes;
lhadores sociais por meio de comissões comu-
nitárias nas instâncias de participação;
2. Garantir os direitos trabalhistas dos profissionais
de assistência social, promovendo a implanta-
3. Promover campanhas de divulgação do papel
ção de planos de carreiras, padronização da jor-
dos conselhos e da população no controle da
nada de trabalho e assistência à saúde do traba-
sociedade sobre a execução das políticas.
lhador, incluindo as situações de insalubridade;

Ações que visam assegurar a atenção 3. Constituir equipe exclusiva para a vigilância
socioassistencial rotineira e de qualidade ao socioassistencial nos municípios;
público das zonas urbana e rural:

4. Promover capacitação das equipes, incluindo cur-


1. Incentivar a implantação de sistemas munici-
sos nas áreas de análise de dados, métodos quan-
pais de informação, acompanhamento, moni-
titativos, estatísticas e tecnologia de informação.
toramento e avaliação da política de assistên-
cia social;
5. Promover as capacitações previstas no Capa-
cita SUAS, em consonância com a Política Na-
2. Sistematizar e viabilizar a informatização dos
cional de Educação Permanente do SUAS, na
registros de prontuários e atendimentos da pro-
modalidade presencial, em locais mais próxi-
teção social, básica e especial integrada aos de-
mos à atuação dos profissionais, incentivando
mais sistemas, visando dotar CRAS, CREAS e ór-
a troca de experiências.
gãos gestores de condições adequadas para o
controle e avaliação dos indicadores fornecidos
para o Ministério do Desenvolvimento Social Ações com vistas a intensificar a atuação da
(MDS) e a SEDESE (vigilância sócio assistencial); SEDESE nos territórios:

3. Definir padrões de qualidade dos serviços so- 1. Apoiar e assessorar os municípios, valendo-se
cioassistenciais, em atendimento às diretrizes de instrumentos de monitoramento e avaliação
nacionais e estaduais; da execução da política de assistência social.
110 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

2. Criar equipes regionais compostas por soció- 2. Dar apoio técnico e financeiro à elaboração
logos, estatísticos e demais profissionais liga- dos Planos Regionais de Gerenciamento Inte-
dos à gestão e análise da informação; grado de Resíduos Sólidos (PRGIRS);

3. Oferecer cursos de capacitação e qualificação 3. Apoiar o saneamento ambiental integrado dos


para as equipes de profissionais das Regionais territórios do Jequitinhonha, por intermédio
da SEDESE, de modo a qualificá-los para me- de: a) fomento do fortalecimento das ações
lhor responder às demandas dos municípios; de saneamento ambiental no âmbito dos
Comitês das Bacias Hidrográficas que atuam
4. Assegurar condições adequadas para o cum- nos territórios do Alto e do Médio/Baixo Je-
primento das ações e metas pactuadas nos quitinhonha; b) fomento do atendimento ao
instrumentos de planejamento e nas Confe- que determina a Lei nº 12.651/2012 (BRASIL,
rências da Assistência Social em nível estadual. 2012a) e a Lei nº 12.727/2012 (BRASIL, 2012b),
denominadas Código Florestal, que dispõem
sobre a proteção da vegetação nativa e sobre
SUBEIXO: SANEAMENTO AMBIENTAL as Áreas de Proteção Permanente (APP).

Estratégia 1: Fomento à política municipal


de saneamento básico nos seus quatro
componentes: abastecimento de água,
SUBEIXO: HABITAÇÃO
esgotamento sanitário, limpeza urbana e
manejo de resíduos sólidos, infraestrutura de
Estratégia: Promoção de melhorias no
drenagem e manejo de águas pluviais
acesso e nas condições de moradia digna
nos territórios do Alto e do Médio/Baixo
Ações: Jequitinhonha

1. Promover o apoio institucional e técnico ao


saneamento básico dos municípios dos terri- Ações:
tórios do Jequitinhonha por intermédio de: a)
fomento à formação/capacitação de gestores, 1. Fomentar a elaboração, revisão ou adequação
gerentes e atores sociais municipais sobre a dos Planos Municipais de Habitação Social e
política pública de saneamento básico e am- de Regularização Fundiária;
biental; b) apoio técnico e financeiro à ela-
boração e revisão dos Planos Municipais de 2. Fomentar a instalação dos Conselhos Muni-
Saneamento Básico (PMSB); c) apoio técnico cipais de Habitação ou outras instâncias que
e financeiro à implantação institucional dos possibilitem o fortalecimento do controle so-
PMSB; d) apoio técnico e financeiro à elabo- cial sobre a política pública de habitação social;
ração dos Planos Municipais de Saneamento
Rural (PMSR); e) promoção da articulação in- 3. Estimular a utilização de mão de obra local na
terinstitucional para ampliação e melhoria da construção e/ou reforma de unidades habitacio-
atuação da Copasa e da Copanor nos territó- nais, sobretudo no formato de autoconstrução;
rios; f) fomento à implantação do Sistema de
Vigilância da Qualidade da Água para o Consu- 4. Fomentar a melhoria e o provimento de in-
mo Humano (VigiAgua) no âmbito municipal; fraestrutura urbana nos domicílios inadequa-
Apêndice 111

dos com relação a módulos sanitários, refor- públicas de cultura e do patrimônio cultural,
mas, energia elétrica, abastecimento de água, garantindo seu caráter deliberativo e sua
esgotamento sanitário e coleta de lixo, com participação nas decisões quanto à alocação
especial atenção à redução dos déficits nas de recursos;
zonas rurais;
3. Capacitar, periodicamente, os membros dos
5. Incentivar a melhoria nas condições do entorno conselhos de política cultural e de patrimônio;
dos domicílios quanto a arborização de ruas, pa-
vimentação, inclusão de rampa para cadeirante 4. Aperfeiçoar a articulação entre a Secretaria de
e iluminação pública, entre outros aspectos; Estado de Cultura e os órgãos executivos mu-
nicipais, para o planejamento das ações em
6. Incentivar a capacitação dos municípios para âmbito municipal e acompanhamento das
os programas Pré-morar e Pós-morar; ações desenvolvidas.

7. Fomentar a capacitação de gestores munici-


pais e conselheiros municipais, objetivando o Ações para garantir maior disponibilidade de
recursos para a área da cultura:
fortalecimento da política pública municipal
de habitação e o empoderamento municipal
1. Incentivar a alocação de recursos orçamentá-
para implementação adequada das políticas
rios para o setor;
públicas de habitação social;

2. Incentivar que 50% dos recursos referentes ao


8. Fomentar as articulações intersetoriais no âm-
ICMS Patrimônio Cultural dos municípios se-
bito municipal com as políticas urbanas, eco-
jam depositados no Fundo Municipal de Pre-
nômicas, ambientais e sociais.
servação do Patrimônio Cultural, de acordo
com a orientação de Deliberação Normativa
SUBEIXO: CULTURA nº 02/2015 do CONEP-MG (MINAS GERAIS, 2015a);

Estratégia 1: Institucionalização e melhoria 3. Regionalizar e desburocratizar os editais


da gestão pública da cultura (Fundo Estadual e Renúncia Fiscal) e demais
mecanismos estaduais de fomento à cultura
Ações para o apoio à estruturação da gestão de forma a se adequar às expressões culturais
pública da cultura: regionais;

1. Incentivar a instituição, a capacitação e a ma- 4. Criar editais específicos para os festivais de


nutenção de equipes de gestão municipal na cultura locais, como o Festivale, o Festur, entre
área da cultura de acordo com o previsto pelo outros;
Sistema Nacional de Cultura (órgão gestor,
conselho de política cultual, fundo municipal 5. Elaborar editais para potencializar as ações
de cultura, plano municipal de cultura); do terceiro setor voltadas ao público juvenil,
especialmente aquelas que ampliem o acesso
2. Estimular a ampliação da representativida- à cultura e aos meios de produção cultural e
de e legitimidade dos conselhos de políticas estimulem práticas esportivas e de lazer.
112 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

Ações para ampliar a infraestrutura cultural e o 3. Promover o reconhecimento formal e efetivo


acesso à cultura: das identidades culturais das comunidades
tradicionais, remanescentes de quilombos e
1. Apoiar a criação de equipamentos culturais etnias indígenas, e a simplificação do proces-
em âmbito local (centros culturais, arquivos, so de titularização de terras;
teatros, museus, telecentros), bem como a sua
manutenção; 4. Instituir novas formas de proteção ao patri-
mônio natural e ambiental que conjuguem a
2. Estimular o estabelecimento de parcerias e manutenção das comunidades tradicionais e
consórcios entre municípios vizinhos para a o uso sustentável dos recursos naturais;
circulação de criações artísticas e expressões
culturais; 5. Conferir efetividade ao tombamento estadual
da bacia do Rio Jequitinhonha como mecanis-
3. Criar linhas de investimento específicas mo de proteção das comunidades situadas no
(­BNDES, BDMG, organismos ou fundos inter- seu entorno;
nacionais) para estimular o fortalecimento
ou estabelecimento de parcerias com atores 6. Valorizar os mercados municipais e feiras livres
da sociedade civil com tradição de atuação do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha en-
na região; quanto lugares de trocas culturais e simbólicas;

4. Instituir um Centro Regional de Cultura Popu- 7. Reforçar e estimular a construção de um ca-


lar que abrigue referências e memórias sobre lendário comum de festas religiosas e de ou-
as diversas expressões da cultura popular e os tras celebrações tradicionais nos territórios e
saberes tradicionais. microterritórios, estabelecendo estratégias
para sua divulgação;
Estratégia 2: Inventário e preservação do
patrimônio cultural
8. Estimular o município a destinar recursos para
Ações para promover e preservar o patrimônio realização das festas e celebrações tradicionais;
cultural, material, imaterial e natural:
9. Garantir recursos para a realização do Festiva-
1. Estimular a mobilização de órgãos competen- le e outros festivais existentes nos territórios,
tes e comunidades para a realização do inven- que tenham como objetivo principal a valori-
tário participativo do patrimônio cultural nos zação e a preservação das tradições locais;
territórios, coordenado pelo Iepha-MG;
10. Certificar os mestres de ofício, os artesãos e
2. Estimular a revisão e/ou elaboração de Pla- outros detentores de saberes, de forma a per-
nos Diretores e outros instrumentos de polí- mitir seu acesso a trabalhos nas áreas da cul-
tica urbana visando à proteção do patrimônio tura, da educação e da assistência social.
edificado, ambiental e paisagístico. Essa ação
incide de forma especial nos munícipios de Ações de apoio ao artesanato regional:
Diamantina, Serro e Minas Novas, no Alto Je-
quitinhonha, e Araçuaí, Pedra Azul e Capeli- 1. Valorizar as organizações associativas dos ar-
nha, no Médio/Baixo Jequitinhonha; tesãos de forma a capacitá-las para uma ges-
Apêndice 113

tão organizacional que responda às necessi- Instituto Federal do Norte de Minas (IFNMG),
dades burocráticas e fiscais de sua atividade; visando à criação de cursos de graduação em
áreas específicas como arquitetura, arquivolo-
2. Incentivar a desburocratização da regulamen- gia, música e teatro;
tação exigida dos artesãos;
2. Promover ações articuladas entre as institui-
3. Incentivar a implementação de programas e ções de ensino, as redes estaduais de educação
parcerias institucionais de longo prazo entre e assistência social, ONGs, prefeituras e órgãos
as associações de artesãos e órgãos como o públicos (Fundação de Arte de Ouro Preto,
Sebrae, Centros de Referência da Assistência Iphan, Iepha), para a criação de cursos de nível
Social (CRAS), ONGs, entre outros; médio ou outros treinamentos para formação
de técnicos na área de patrimônio (restauração,
4. Estimular e reforçar os vínculos e práticas cola- técnicas construtivas tradicionais) e da cultura
borativas entre artesãos, artistas e mestres de em geral (produção e gestão cultural);
ofícios;
3. Promover residências artísticas e oficinas li-
5. Criar uma certificação (selo cultural) para os vres de criação nas áreas de música, teatro,
artesãos do Jequitinhonha de modo a valori- dança, artes visuais etc.
zar seu trabalho;

Ações de educação patrimonial:


6. Criar um banco de dados sobre a produção
artesanal do Jequitinhonha; 1. Garantir a realização e divulgação de ações de
educação patrimonial;
7. Criar o Centro Regional de Distribuição do Ar-
tesanato tradicional do Jequitinhonha; 2. Estimular a criação da Semana da Educação Pa-
trimonial em âmbito local ou territorial articula-
8. Garantir a realização de feiras locais, regionais da à Jornada do Patrimônio em plano estadual;
e itinerantes de produtos do artesanato;
3. Garantir que a escola se constitua como espaço
9. Viabilizar transporte para escoamento da pro- de valorização e divulgação das tradições locais.
dução artesanal via editais públicos.

Estratégia 3: Formação e capacitação


SUBEIXO: SEGURANÇA PÚBLICA
Ações para promover a formação continuada
Estratégia 1: Incremento da densidade
de recursos humanos para a área da cultura e
institucional de segurança pública
patrimônio:
nos territórios do Alto e Médio/Baixo
Jequitinhonha
1. Promover ações articuladas entre a Univer-
sidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e São ações para o aumento da presença e
Mucuri (UFVJM), a Universidade Federal de incremento dos efetivos das organizações
Minas Gerais (UFMG), a Universidade do Es- de segurança pública nos microterritórios
tado de Minas Gerais (UEMG), Unimontes e (infraestrutura, logística e contingentes):
114 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

1. Incrementar a infraestrutura, os recursos lo- 11. Incentivar a criação de Associações de Pro-


gísticos e os efetivos da Polícia Civil (todas as teção e Assistência aos Condenados (APACs),
carreiras); em municípios sedes de microterritórios.

2. Criar unidades investigativas especializadas São ações para o desenvolvimento de instâncias,


da Polícia Civil junto às Delegacias Regionais metodologias e rotinas de gestão integrada das
instituições que compõem as redes locais de
(Delegacias da Mulher, Delegacias de Homicí-
políticas públicas de segurança:
dios etc.);
1. Auxiliar a elaboração de Planos Municipais de
3. Criar postos avançados ou núcleos de perícias Segurança Pública em municípios-sede de mi-
criminais em municípios-sede de Delegacias croterritórios (ênfase em políticas de preven-
Regionais; ção, organizando e articulando instituições da
assistência social, educação e associações de
4. Incrementar a infraestrutura, os recursos lo- bairro e outras);
gísticos e os efetivos da Polícia Militar (com
ênfase em implementação de unidades de Pa- 2. Auxiliar a criação, a capacitação e o fortaleci-
trulhas Rurais); mento de Conselhos Municipais Comunitá-
rios de Segurança Pública (CONSEP), inves-
5. Criar pelotões do Corpo de Bombeiros em tindo no desenvolvimento de instrumentos e
municípios-sede de microterritório; metodologias de planejamento participativo
na segurança pública em municípios-sede de
6. Incentivar a criação de Guardas Municipais microterritórios;
em municípios-sede de microterritório;
3. Incentivar o fortalecimento das ações de po-
7. Ampliar a infraestrutura de atendimento, os liciamento comunitário. Aproximação entre
recursos logísticos e de pessoal das comarcas polícia e comunidade, por meio de capacita-
judiciárias e dos núcleos do Ministério Público ção de policiais em metodologias de policia-
(com ênfase em regionalização de concursos mento comunitário;
públicos e políticas de fixação de pessoal);
4. Criar espaços interinstitucionais de interlocu-
8. Criar núcleos de atendimento da Defensoria ção entre Poder Público estadual, Municipal
Pública em todas as sedes de comarca; (Prefeituras e Câmaras de Vereadores), Poder
Judiciário e Forças de Segurança Pública, por
9. Construir centros socioeducativos para cum- meio do incentivo à criação de Gabinetes de
primento de medidas de internação nos mu- Gestão Integrada Municipal de Segurança Pú-
nicípios de Diamantina, Araçuaí, Almenara blica (GGIM-SP) nos municípios-sede de mi-
e Medina; croterritórios;

10. Melhorar a infraestrutura e aumentar o nú- 5. Incentivar a institucionalização e manutenção


mero de vagas em unidades prisionais de de Fundos Municipais de Segurança Pública
Almenara, Araçuaí, Diamantina, Itaobim e (FMSP), sobretudo no âmbito das administra-
­Pedra Azul; ções municipais das sedes de microterritórios.
Apêndice 115

Estratégia 2: Fortalecimento de minação chegue a todos os lugares, projetar


equipamentos sociais como condição para iluminação à escala dos pedestres, ordenar o
o desenho e a implementação de políticas mobiliário urbano para que não obstaculize
públicas preventivas e com abordagens de
os caminhos utilizados pelos pedestres, proje-
redução de danos em segurança
tar pontos de táxi ou de ônibus com materiais
Ações: transparentes que facilitem o controle visual
do usuário, localizar os telefones públicos em
1. Implantar o Projeto Olho Vivo nas cidades de lugares de fácil acesso e com boa iluminação,
Capelinha, Diamantina, Itamarandiba, Minas colocar iluminação e lixeiras perto de bancos);
Novas, Couto Magalhaes, Rio Vermelho, Serro,
Gouveia, Coluna e Turmalina, com recursos 8. Apoiar a criação de Centros de Cidadania,
humanos que não sejam da Polícia Militar; sobretudo em municípios-sede de microter-
ritório;
2. Criar Centro de Referência Estadual de Álcool
e Drogas (CREAD), Associações de Proteção 9. Implementar ações de Mediação de Conflitos.
e Assistência aos Condenados (Apacs) e dar
apoio às comunidades terapêuticas já exis- Estratégia 3: Fortalecimento das
comunidades de modo a tornar possível
tentes em municípios-sede de microterritó-
políticas participativas, preventivas e
rios (Apac já tem sua diretoria implementada, comunitárias de segurança
imóvel e verba destinada, no município de Ca-
pelinha, mas ainda não foi institucionalizada); São ações de fortalecimento comunitário para o
enfrentamento de crimes contra o patrimônio:
3. Desenvolver ações para atendimento a usuá-
rios e dependentes de álcool e de outras dro- 1. Desenvolver programas que promovam a ca-
gas nas unidades convencionais de saúde; pacitação, a consolidação e o fortalecimento
de associações de bairro, associações comuni-
4. Criar casas abrigo e organizações de apoio a tárias e de outras instituições de associativis-
vítimas de violência doméstica e de gênero mo local;
em municípios-sede de microterritórios;
2. Incentivar projetos de apropriação e ocupa-
5. Criar o Centro Socioeducativo Regional, com ção comunitária de espaços e equipamentos
a abertura de vagas adequadas ao acautela- públicos (praças, ruas, escolas, parques etc.),
mento de jovens infratores; envolvendo a comunidade na recuperação,
manutenção e vigilância desses espaços;
6. Apoiar a criação de Conselhos Municipais de
Segurança Pública, sobretudo em municípios- 3. Elaborar e implementar projetos de “vigilância
-sede de microterritórios; natural”, enfatizando (promovendo) a possibi-
lidade de “ver e ser visto” para criar ou manter
7. Apoiar projetos de requalificação dos espa- espaços seguros. Com a maior visibilidade, a
ços públicos urbanos (distribuir luminárias de própria comunidade tende a controlar melhor
acordo com a intensidade e o uso do espa- o ambiente, diminuindo a possibilidade de
ço, podar vegetação para permitir que a ilu- ocorrência de crimes de oportunidade.
116 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

São ações de fortalecimento comunitário para o para a elaboração e/ou revisão de planos di-
enfrentamento de crimes contra a pessoa: retores e das legislações urbana e municipal
relativas ao parcelamento, uso do solo, edifi-
1. Incentivar projetos focalizados de associativis- cações e posturas;
mo juvenil, com a criação de grupos de jovens
em parcerias com instituições locais (igrejas, 2. Planejar um sistema de informações terri-
escolas, associações de bairros etc.); toriais georreferenciadas (contando com a
parceira de órgãos públicos, concessionárias
2. Implementar projetos com atividades focalizadas de serviços públicos, universidades e outras
para o público jovem, incluindo oficinas esporti- instituições) que possibilite aos municípios o
vas, artísticas e profissionalizantes e projetos de acesso a imagens e bases cartográficas corre-
reconfiguração de espaços públicos via interven- lativas às suas áreas urbanas e seus espaços
ções artísticas (grafite, pinturas, esculturas etc.); territoriais administrativos;

3. Implementar projetos focalizados de fortale- 3. Usar esse sistema para suporte ao planeja-
cimento das estruturas familiares, com o di- mento urbano e territorial, assim como ao pla-
recionamento de ações de assistência social, nejamento intersetorial das políticas públicas.
educação, empregabilidade e saúde para fa-
mílias em situação de risco social e para mora-
dores de áreas com altos índices de violência; SUBEIXO: ESTRUTURA VIÁRIA E DE
TRANSPORTE
4. Ofertar capacitação em metodologias e técni-
Estratégia 1: Superação dos principais
cas de mediação de conflitos para associações
gargalos da infraestrutura rodoviária
comunitárias e lideranças locais.

Ações:
7.4
EIXO INFRAESTRUTURA
1. Fomentar programas de melhorias nas rodo-
ECONÔMICA
vias estratégicas para o desenvolvimento eco-
Este eixo de intervenção contempla os seguintes nômico da região, priorizando as seguintes
subeixos: Rede de Cidades, Estrutura viária e de intervenções:
transporte, Energia e Tecnologias da informação
e da telecomunicação. a. ligação da BR-367 ao estado da Bahia, pavi-
mentando os trechos de Almenara a Salto
da Divisa, passando por Jacinto;
SUBEIXO: REDE DE CIDADES
b. ligação da BR-251 ao estado da Bahia, pa-
Estratégia 1: Fortalecimento das
centralidades vimentando os trechos de Pedra Azul a Al-
menara, passando por Pedra Grande;
Ações:
c. pavimentação de 9km da rodovia LMG-
1. Incrementar programas de apoio técnico e 633 que passa em Cachoeira do Pajeú,
institucional às administrações municipais ­ligando-a à BR-251;
Apêndice 117

d. ligação da BR-367 à BR-116, nos trechos f. pavimentação de 92km da LMG-678 para


entre Senador Modestino Gonçalves a Se- ligação de Novo Cruzeiro a Araçuaí;
tubinha, passando por Itamarandiba e Ca-
pelinha, via MG-214 e MG-211; g. implantação de trecho de 35km para liga-
ção de Novo Cruzeiro a Ladainha, entre a
e. ligação dos territórios do Alto e do Médio/ MG-211 e LMG-710;
Baixo Jequitinhonha ao norte de Minas,
pavimentando o trecho entre Caçaratiba e h. pavimentação de 65km da BR-342 para a
Itacambira; ligação de Caraí a Araçuaí;

f. ligação da região do Vale do Jequitinhonha à i. pavimentação de 14km na MG-105 para


região central mineira, completando a pavi- ligação de Fronteira dos Vales a Joaíma;
mentação do trecho entre Andrequicé e Dia-
mantina, passando por Corinto, na MG-220; j. pavimentação de 31km da MG-406 para a
ligação de Rubim a Rio do Prado;
g. recuperação e manutenção do pavimento
nas rodovias BR-251 e BR-367, com a im- k. pavimentação de 52km na MG-105 para
plantação de terceira faixa nos aclives de ligação de Pedra Azul a Jequitinhonha;
subidas de serras.
l. pavimentação de 96km da LMG-610 para
2. Fomentar programa de melhorias nas rodo- ligação de Pedra Azul a Mata Verde, pas-
vias para o fortalecimento da rede de cidades sando por Araçagi e Divisópolis;
por meio das seguintes intervenções:
m. implantação de trecho da LMG-618 entre
a. implantação do contorno de Minas Novas, Águas Vermelhas e BR-251.
na BR-367, concluindo a obra da ponte so-
bre o Rio Fanado; 3. Fomentar programa de apoio a municípios e
associações municipais para a conservação e
b. implantação de trecho de 23km para li- manutenção das estradas vicinais municipais,
gação de Coluna a Rio Vermelho e a Serra com enfoque ambiental quanto à contenção
Azul de Minas pela MG-010; de águas pluviais, de forma a permitir o des-
locamento permanente da população das zo-
c. pavimentação de 60km da BR-367 para li- nas rurais para as sedes municipais;
gação de Minas Novas a Virgem da Lapa,
passando por Chapada do Norte e Berilo; 4. Avaliar, planejar e realizar as ações de interven-
ção e/ou construção nas pontes, considerando:
d. implantação de trecho de 19km para liga-
ção de Leme do Prado a Chapada do Nor- a. priorizar as pontes com estrutura prejudi-
te, entre os distritos de Boa Vista, Cachoei- cada, em especial a ponte sobre o Rio Je-
ra do Norte e Santa Rita do Araçuaí; quitinhonha na BR-116, em Itaobim;

e. implantação de trecho de 46km para liga- b. construir ponte sobre o Rio Jequitinhonha
ção de Berilo a José Gonçalves de Minas; em Jacinto, ligando a BR-367 e LMG-634;
118 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

c. realizar estudo de viabilidade técnica para 5. Desenvolver estudos de viabilidade de implan-


verificar a necessidade de duplicação de tação e operação do sistema ferroviário nos ter-
pontes que funcionam em mão única, em ritórios do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha.
especial a ponte sobre o Rio Araçuaí, na BR-
451, em Carbonita, e a Ponte Alta sobre o Rio
Estratégia 3: Melhoria da mobilidade
Araçuaí, na BR-367, acesso para Turmalina; intraurbana por meio do apoio para
a elaboração e/ou revisão dos Planos
5. Fomentar programa de ligações rodoviárias Municipais de Mobilidade Urbana
intermunicipais para prover acesso rodoviário
asfaltado às cidades que são cortadas por ei- Ação:
xos rodoviários, priorizando os municípios de
Chapada do Norte, Jacinto e Salto da Divisa. 1. Incrementar programas de apoio técnico e ins-
titucional às administrações municipais para a
elaboração e/ou revisão dos Planos Municipais
Estratégia 2: Ampliação, diversificação, de Mobilidade Urbana, priorizando os municí-
modernização e integração da infraestrutura
pios com 20.000 habitantes ou mais, conju-
e das modalidades de transportes, incluindo
o aeroviário e o ferroviário gando com a hierarquia de centralidades.

Ações:
SUBEIXO: ENERGIA
1. Promover a implantação e/ou a renovação de
concessões das empresas de transporte de Estratégia 1: Universalização do acesso
passageiros, apoiando a gestão e a fiscaliza- à energia, sobretudo nas zonas rurais, e
ção de concessões comuns, patrocinadas ou melhoria da qualidade da energia fornecida
administrativas, permissões e autorizações;
Ações:
2. Prever no edital para concessões de empresas
de transporte intermunicipal a sua flexibiliza- 1. Investir na continuação do Programa Eletrifica-
ção para que empresas de pequeno porte te- ção Rural para o atendimento total da demanda;
nham a oportunidade de participar;
2. Aumentar a potência das linhas de transmis-
3. Dar prosseguimento à ampliação da oferta em são, principalmente daquelas próximas às
transporte aeroviário, à conservação do patri- cidades de Turmalina, devido à demanda in-
mônio aeroportuário implantado e à maior re- dustrial, e de Araçuaí e Pedra Azul, grandes
gularidade das operações aéreas, assim como a consumidores de energia elétrica que apre-
regularização dos aeroportos, quando for o caso; sentam constantes reclamações sobre a qua-
lidade da energia disponível;
4. Promover a realização de melhoramentos
nos aeroportos previstos no Programa de In- 3. Fornecer subsídios às distribuidoras de ener-
vestimento Aeroviário, incluindo Pedra Azul, gia e/ou elaborar contratos de parceria para
Jequitinhonha, Virgem da Lapa, Minas Novas, levar energia a unidades de agricultura fami-
Capelinha e Serro; liar isoladas;
Apêndice 119

4. Construir, ampliar e duplicar linhas de trans- de maneira a ampliar o número de municípios


missão nas localidades de maior demanda; participantes;

5. Ampliar o número de sistemas de medição 2. Oferecer incentivos às empresas provedo-


de perdas elétricas nas subestações dos dois ras de Sistema de Comunicação Multimídia
­territórios. (SCM) para que ampliem suas redes para ou-
tros municípios, principalmente em direção
Estratégia 2: Incentivo à produção e à utilização às áreas rurais;
de energia renovável, principalmente a solar
3. Investir na continuação e na ampliação do
Ações:
Programa Rede de Governo, de maneira a
priorizar a adesão de órgãos em municípios
1. Fornecer ou subsidiar a aquisição de placas
do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha;
solares pelos agricultores locais para a utiliza-
ção da energia solar;
4. Oferecer linha de crédito aos municípios
para a construção de “centros de acesso”, que
2. Desenvolver estudos e programas visando à im-
são espaços públicos para acesso à Internet
plantação de energias alternativas nos municí-
e para o desenvolvimento de ações de inclu-
pios, principalmente no que se refere aos biocom-
são digital.
bustíveis/produção de biomassa e à energia solar;

3. Conceder financiamentos subsidiários a ór- Estratégia 2: Ampliação da rede de telefonia


gãos públicos, consumidores e concessioná- móvel
rias para a produção e para o uso de energias
alternativas, bem como para aquisição dos Ações prioritárias:
equipamentos utilizados;
1. Oferecer incentivos às empresas de telefonia
4. Elaborar estudo técnico para verificar viabili- móvel, para que ampliem suas redes para ou-
dade de construção de uma usina solar foto- tros municípios, com o objetivo de que haja
voltaica (USF) no Alto Jequitinhonha. pelo menos duas operadoras por município;

2. Investir na continuação e ampliação do


SUBEIXO: TECNOLOGIAS DA ­Programa Minas Comunica, de maneira a prio-
INFORMAÇÃO E TELECOMUNICAÇÃO rizar os distritos rurais que ainda não contam
com o sinal de telefonia móvel;
Estratégia 1: Ampliação da rede de dados
móveis (Internet) e capacitação da população
para utilização dos serviços de Internet 3. Fiscalizar a qualidade e a velocidade de banda
(inclusão digital) larga oferecidas pelas prestadoras;

Ações: 4. Auxiliar e agilizar o reconhecimento de al-


gumas localidades como distritos, de forma
1. Investir na continuação e ampliação do Pro- que elas possam ser incluídas no Programa
grama Minas Digital (Projeto Cidades Digitais), Minas Comunica.
120 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

7.5 ções financeiras decorrentes de recursos que


EIXO GESTÃO aguardam em caixa sua utilização.
MUNICIPAL

Estratégia 1: Sustentabilidade fiscal do gasto São ações para aumentar a eficiência na


público alocação e execução do gasto público:

São ações para o fortalecimento e a ampliação 1. Incentivar a capacitação do corpo técnico das
da arrecadação própria: administrações municipais na criação de pla-
nos orçamentários (PPA, LDO e LOA), tendo
1. Adotar as ações recomendadas nos subeixos como base a realidade local as corresponden-
de desenvolvimento produtivo para promo- tes necessidades da população;
ver o desenvolvimento econômico, que visam
ampliar a base produtiva local; 2. Estimular a definição de níveis de priorização
para programas e projetos desenvolvidos em
2. Incentivar a atualização do cadastro imobiliário, âmbito municipal e constantes nos instru-
verificação e eventual atualização da legislação mentos orçamentários;
que trata do IPTU, com a finalidade de buscar
adequá-lo ao princípio da tributação progressiva; 3. Incentivar a criação e o acompanhamento de
metas para a execução do gasto público;
3. Incentivar a atualização do cadastro das em-
presas contribuintes do Imposto sobre Servi- 4. Estimular a priorização dos gastos constitu-
ços de Qualquer Natureza (ISS), bem como a cionais para as áreas de saúde e educação;
eventual atualização da legislação municipal
que trata desse imposto; 5. Incentivar a observância dos limites estabele-
cidos na legislação para o gasto com pessoal,
4. Incentivar a realização de convênios com a União realização de operações de crédito, nível de
para a cobrança do Imposto Territorial Rural; endividamento e comprometimento da Re-
ceita Corrente Líquida (RCL) com o pagamen-
5. Estimular a atualização das legislações que to da dívida;
constituem as taxas municipais;
6. Incentivar a execução dos gastos dentro dos
6. Incentivar a implementação de políticas de parâmetros das metas de receitas bimestrais
combate à sonegação e evasão fiscal, além de para a eventual adequação e o consequente
minimizar as práticas de elisão fiscal; equilíbrio fiscal.

7. Estimular a implementação de política de São ações para aumentar o montante de


educação fiscal nas escolas, com vistas a cons- recursos captados em outras esferas de governo:
cientizar a sociedade da importância da co-
brança dos tributos pelas prefeituras; 1. Buscar a captação dos recursos públicos nos
demais entes federados, por meio de convê-
8. Incentivar a negociação com os bancos de nios, emendas parlamentares individuais e de
taxas mais rentáveis para as eventuais aplica- bancada;
Apêndice 121

2. Buscar habilitar-se nos critérios de distribui- de elaboração dos planos de governo e do


ção do ICMS aos municípios do estado, con- orçamento;
siderando os critérios nos quais os municípios
são fortes, trabalhando e buscando se fortale- 5. Incentivar os municípios a introduzir metas
cer naquelas políticas públicas que são mais de resultados e indicadores de acompanha-
fracas, sem desrespeitar a sua vocação e perfil mento nos programas governamentais locais,
cultural, social e econômico; definidos nos planos orçamentários, e que são
operacionalizados pelo orçamento.
3. Criar uma rede de informações coordenadas
pelas associações de municípios quanto a
políticas públicas que recebem recursos es- São ações para aprimorar a articulação entre
os órgãos que compõem o aparato estatal e
taduais e municipais, de forma a buscar a in-
municipal:
tegração das políticas públicas federais, esta-
duais e municipais. 1. Estimular a criação de uma unidade central
treinada para auxiliar as secretarias munici-
Estratégia 2: Ampliação da capacidade pais na apresentação de projetos com o intui-
institucional dos municípios na formulação,
to de pleitear recursos voluntários de editais
planejamento, implementação e avaliação de
lançados por órgãos estaduais e federais;
políticas públicas

São ações para conferir aos instrumentos 2. Incentivar a capacitação dos servidores para
de planejamento orçamentário papel mais acompanhar e monitorar a execução de proje-
efetivo, como mecanismos de gestão e de tos estratégicos do município, inclusive aque-
responsabilidade fiscal: les que recebem recursos externos e que, por-
tanto, são objetos de prestação de contas, com
1. Promover cursos de capacitação de gestão regras específicas e previamente definidas.
pública municipal para novos prefeitos e ve-
readores eleitos;
Ação para estimular parcerias com a iniciativa
privada e organizações não governamentais
2. Promover cursos de capacitação para os ser-
situadas no Jequitinhonha:
vidores públicos municipais alocados no se-
tor de planejamento orçamentário das várias 1. Incentivar a criação de mecanismos voltados
secretarias nas áreas de administração finan- para a gestão participativa, de forma a viabi-
ceira e orçamentária e gestão de programas/ lizar ou permitir a participação direta de re-
projetos públicos; presentantes da sociedade civil, por meio de
conselhos de gestão política, comitês e comis-
3. Incentivar os municípios a usarem sistemas sões, orçamento participativo, entre outros.
informatizados para a construção dos instru-
mentos de planejamento financeiro-orça-
mentário, com o intuito de otimizar os proces-
sos de formulação, execução e avaliação;

4. Incentivar a participação dos servidores que


ocupam cargos de gerência no processo
122 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha
Apêndice 123
124 Plano de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha

EQUIPE EDITORIAL

Produção executiva
Gaia Cultural [cultura e meio ambiente]

Produção editorial
Roseli Raquel de Aguiar

Preparação de originais
Lílian de Oliveira

Revisão de provas
Helen Rose
Lílian de Oliveira

Projeto gráfico e diagramação


Fábio de Assis

Capa
Aquarela de Wagner Bottaro
Plano de
Desenvolvimento
para o Vale do
Jequitinhonha
Estratégias e ações
1

Convênio 4020000680 – FJP/PROC nº 047/16, firmado entre Cemig Geração e ­Trans­missão


S. A. (Cemig GT) e Fundação João Pinheiro, em 13.04.2016, tendo como objeto a ­cooperação
técnica entre os Partícipes para o desenvolvimento de projeto de p ­ esquisa que c­ ontenha

Estratégias e ações
as diretrizes, as estratégias e as propostas de alcance ­territorial para e­ struturação do Plano
de Desenvolvimento para o Vale do J­ equitinhonha (PDVJ), no intuito de ­subsidiar a
atuação da Cemig GT na Usina Hidrelétrica de Irapé junto aos agentes sociais, privados e
públicos nos territórios do Alto e do Médio/Baixo Jequitinhonha.

Plano de Desenvolvimento para o Vale do Jequitinhonha

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