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Dislexia do desenvolvimento
StMONE APARECIDA CAPELLIW
RENATA MOUSINHO

De acordo com Lyon, Shaywitz e Shaywitz sensoriais sutis, apresentam poucas evi-
(2003), a dislexia do desenvolvimento é dências como fatores causais no transtor-
uma dificuldade específica de linguagem, no específico de leitura (Vellutino, Fletcher,
de origem constitucional, caracterizada Snowling, Sc Scanlon, 2004).
por prejuízo na decodificarão de palavras Estudos relataram não haver um pa-
isoladas, em geral refletindo insuficiência drão único de manifestação que afeta os
do processamento fonológico. Os autores indivíduos com dislexia (Germano & Ca-
ainda destacam as dificuldades inespera- pelíini, 2013; Rathore et ai, 2010). Desse
das na decodificação de palavras isoladas, modo, atribuir suas manifestações cogniti-
ao se comparar com a idade e com outras vo-linguísticas a urna única teoria constitui
habilidades cognitivas-e académicas, des- uma visão reducionista, que não favorece a
cartando deficiência sensória! ou intelec- compreensão da variedade de manifesta-
tual como origem, A dislexia manifesta- ções de cada subtípo da dislexia.
-se por dificuldades linguísticas variadas, No Manual diagnóstico e estatístico
incluindo, com frequência, para além das de transtornos mentais 5a edição (DSM-5)
alterações de leitura, um problema com a (American Psychiatric Association [APA],
aquisição da proficiência da escrita e da so- 2013), o termo "dislexia" aparece nas no-
letração. tas finais dos "transtornos específicos da
A natureza dos déficits da dislexia aprendizagem", como um termo alternati-
vem sendo amplamente estudada, com os vo, "usado para se referir a um padrão de
déficits no processamento fonológico co- dificuldades de aprendizado, caracterizado
mo as prováveis causas dessa condição, na por problemas com a precisão ou a fluên-
maioria das vezes. Assim, alterações de or- cia para reconhecer palavras, pobreza nas
dem visual, semântica ou sintética não es- habilidades de decodificação e de soletra-
tariam na origem, apesar de dificuldades de ção". Não fica evidente uma preocupação
leitura em algumas crianças poderem es- em ampliar seu quadro quanto às manifes-
tar associadas a déficits gerais de lingua- tações e às características de cada uma das
gem. Do mesmo modo, distúrbios nas ha- dislexias.
bilidades de aprendizagem em geral, tais Dessa maneira, existe uma real neces-
como atenção, associação, compreensão, sidade de um diagnóstico preciso, capaz de
transferência entre modalidades e déficits auxiliar diretamente a forma de intervenção
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l 52 * Santos, Andrade &Bueno(orgs.) 9
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a ser realizada com os escolares com disle- textual, desempenho grafomotor (legibi-
xia. Considerando as diferentes manifesta- lidade + velocidade de escrita) - e do de-
ções cognitivo-línguísticas da dislexia, não sempenho nas habilidades académicas em
há um teste único e específico suficiente pa- situação de sala de aula. 9
ra identificá-la com precisão. As propostas Dada a necessidade de considerar- 9
de avaliações na área serão didaticamente mos as diretrizes internacionais para a rea- 9
expostas e discutidaSj uma a uma, à luz de lização do diagnóstico preciso e fidedigno 9
evidências científicas (Fig. 14,1), para a dislexia, desenvolvemos, neste ca-
Por se tratar de um diagnóstico de pítulo, os aspectos que devem ser incluí-
origem primária, deve ser realizada a ex- dos em uma avaliação diagnostica, confor-
clusão de alterações sensoriais, cognitivas me apresentados na Figura 14.2, a partir
e motoras relacionadas a lesões do sistema das diretrizes propostas pela International
nervoso periférico e central. A partir dis- Dyslexía Association (The International
so, é fundamental a análise da história do Dyslexia Association [IDAJ ) 2009). 9
indivíduo, de seu funcionamento intelec-
tual global, do processamento cognitivo,
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do processamento fonológico (memória HISTÓRIA MÉDICA, CQMPQRTAMENTAL,
operacional fonológíca, habilidade rneta- ACADÉMICA E FAMILIAR
fonoíógica e velocidade de acesso ao léxi- 9
co mental), do processamento das habilida- Â anamnese é essencial em qualquer pro-
cesso de avaliação diagnostica. São indis-
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des linguísticas orais relacionadas à leitura
e à escrita - leitura e decodincação de pa- pensáveis os dados relativos à saúde (desde 9
lavras isoladas, fluência da leitura de pa- a gestação até a idade atual), ao desenvol-
lavras e pseudopalavras (precisão + velo- vimento (linguístico, psicomotor, compor-
cidade) e da compreensão leitora no nível tarnental), à rotina, aos hábitos e aos trata- 9
da palavra e do texto, ortografia, produção mentos já realizados. No entanto, podemos
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História 9
pessoal

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Processamento
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cognitivo 9

N Observação
educacional

Figura 14.1 Áreas a serem avaliadas na presença de problemas de aprendizagem. *


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Neuropstcologia hoje • 1 53

acrescentar nessa investigação questões educacional adequada estaria gerando ca-


mais específicas, como a história familiar. racterísticas similares às daqueles alunos
Indivíduos com familiares com diagnós- com transtornos da aprendizagem. Quan-
tico de dislexia apresentam probabilidade do isso acontece, estamos diante do que é
maior de desenvolverem alterações de lei- chamado,, na literatura nacional, de "di-
tura (Permington et ai., 1991), ficuldades de aprendizagem" (Capel)ini,
A análise da história académica tam- 2010; Mousinho, 2003).
bém é bastante relevante. Como não são
raras, em nossa realidade, dificuldades que
surgem em consequência do meio, o co- MEDIDA GERAL DE FUNCIONAMENTO
nhecimento do desenvolvimento escolar, INTELECTUAL GLOBAL
dos métodos de ensino e das estratégias de
alfabetização pode assumir uma proporção A nova versão do DSM (APA, 2013), traz
importante na compreensão de um qua- considerações a respeito dos transtornos
dro global. O conceito de dificuldades pe- específicos da aprendizagem (não, neces-
dagógicas (Anastasiou, 1998} diz respeito sariamente, dislexia) e do aspecto intelec-
aos processos de ensino-aprendizagem que tual. O Manual defende que as inabilida-
não funcionaram por questões extrínsecas des intelectuais (inabilidade intelectual,
• à criança, podendo gerar falsos positivos. ou transtorno do desenvolvimento intelec-
• Nesse caso, a aparência inicial de déficit tual, ou retardo do desenvolvimento glo-
• é errónea, já que a falta de oportunidade bal) não podem ser consideradas corno a

Histórico de saúde, com frequência contribui para descartar condições.


História pessoa^
Histórico de desvio fonológico; parentes com dislexia são comuns.

Habilidades Afetadas nas habilidades de nfvel básico.


linguísticas Podem estar afetadas, de forma secundária, nas habilidades de alto nível.

• Afèta.das nas habilidades de nível básico.


• Leitura e escrita
Podem,estar afetadas, de forma secundária, nas habilidades de alto nível.

Observação É importante saber se as dificuldades se manifestam em qualquer situação
educacional escolar ou apenas sob avaliação formal, bem como em .quais contextos.

Processamento Alterações neste nível podem estar presentes ou não.


cognitivo Não são determinantes para o diagnóstico, rnas irnpactarn o prognóstico.

Medida, QI limítrofe ou aquém do esperado não descarta, de imediato, a dislexia.


intefectual Para o diagnóstico positivo de dislexia, é necessário haver discrepância entre o
nível de leitura (este bem mais prejudicado) e o QI.

Figura 14.2 Áreas possivelmente prejudicadas na dislexia.


154 • Santos, Andrade & Bueno (orgs.J
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origem dos transtornos específicos. Em para nomear uma série de estímulos visu-
contrapartida, defende que, mesmo no ca- ais familiares, apresentados repetitivamen-
so de QIs mais baixos, se o nível de leitu- te e em ordem aleatória. Uma vez que a ra-
ra for desproporcionalmente pior em rela- pidez em decodificar símbolos na escrita 9
ção ao funcionamento intelectual global, (letras) é um fator importante para a leitu- 9
o diagnóstico de dislexia pode ser manti- ra textual fluente, espera-se que o desempe- 9
do. Tal ocorrência não é compatível com a nho em tarefas de nomeação rápida esteja
descrição de transtornos nas mais diversas relacionado à leitura, assim como às tarefas 9
áreas do desenvolvimento, nos quais a lei- de compreensão de leitura. Afina], quanto 9
tura é apenas uma das habilidades atingi- maior a habilidade de reconhecer palavras 9
das, de forma secundária. Isso se justifica, escritas de forma rápida e acurada, maior a 9
já que, em crianças típicas, existe uma con- quantidade de recursos intelectuais dispo- 9
vergência entre QI e nível de leitura, rea- níveis para a compreensão {Swanson et aí.,
firmando que a dislexia apresenta déficit 2010), 9
inesperado diante do desenvolvimento glo- Nesse contexto de verificação de ve- 9
bal (Ferrer, Shaywitz, Holahan, Marchione, locidade de processamento de informação, 9
Sc Shaywitz, 2010). devem ser incluídas as baterias de avalia- 9
ção do processamento auditivo e das ha- 9
bilidades perceptovisuomotoras. A inte-
INFORMAÇÕES SOBRE O gração vísuomotora? avaliada por testes de 9
PROCESSAMENTO COGNITIVO processamento visual ou testes de habilida-
de perceptovisuomotora, é definida corno
A memória operacional fonológica (MOF) a capacidade de coordenar informações'
está entre as habilidades cognitivas envolvi- visuais com a programação motora, sen-
das no processo de alfabetização e aprendi- do uma variável importante no desempe-
zagem. A codificação fonológica na memó- nho da escrita. Ê por meio dessa integração 9
ria operacional é útil na decodificação de que o indivíduo consegue realizar cópia ou 9
palavras novas, principalmente das longas, transposição de textos, letra cursiva, repro- 9
que são decodificadas parte por parte. Essa dução de letras e de números isolados e em 9
habilidade está relacionada, principalmen- sequências (Vellutino et ai., 2004).
te, ao acionamento do mecanismo gerati- O processamento auditivo (PA) tem
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vo de memória, para acesso, recuperação por finalidade verificar como os mecanis- 9
de palavras e formação de novos vocábulos, mos e as habilidades do sistema nervoso
a partir de segmentos menores, como síla- auditivo estão sendo processados, de for-
bas e sons, independentemente de seu po- ma mais específica a codificação* a decodi- 9
sicionamento na palavra (Swanson, Kehler, ficação e a organização dos sons da fala e
Síjerman, 2010). da linguagem oral. Pesquisas evidenciaram 9
.No processo de avaliação, é preci- que indivíduos com problemas de aprendi- 9
so considerar, além da MOF, a investiga- zagem apresentam pior desempenho nos 4
ção da nomeação automática rápida (rã- testes de PA, em relação àqueles com bom 9
piá automaúzed naming, RAN) e a prova de desempenho académico (Frota & Pereira,
verificação da velocidade de acesso ao lé-
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2010).
xico mental (Capellini, 2010). A habilida- Permeando as habilidades de proces- 9
de de processar símbolos visuais com ra- samento auditivo e visual» encontram-se as 9
pidez costuma ser avaliada por intermédio funções executivas (FEs), que devem ser in- 9
de tarefas de nomeação rápida. Nessas ta- vestigadas no processo avaliativo por envol- 9
refas, avalia-se o tempo gasto pelo escolar verem uma variedade de funções cognitivas
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Neuropsicologia hoje * 155

que implicam atenção seletiva> atenção sus- Processos básicos de leitura, como o
tentada, abstraçâo, planejamento, flexibili- reconhecimento de palavras e a obtenção
dade, autocontrole e memória operacional. do significado das palavras impressas, são
Todas essas habilidades são extremamente muito importantes, ainda que insuficientes
* importantes para que os escolares apren- para uma compreensão textual bem-suce-
* dam sem dificuldades. Por conta disso, são
numerosos os estudos que demostram as-
dida. Sendo assim» é necessário que o leitor
realize processos cognitivos de alto nível,
sociação díreta entre escolares com trans- como capacidade de realizar inferências,
tornos da aprendizagem e déficits nas fun- acesso ao léxico mental, ampliação do vo-
ções executivas (Corso, Sperbe, Jou, & cabulário e leitura fluente (Cunha, Olivei-
* Salles320i3). ra, & Capellini, 2010).
* Também devemos avaliar a capacidade
de resolução de problemas de escolares
São consideradas habilidades de alto
nível de leitura, além da realização de in-
com queixa de dificuldades de aprendiza- ferências, o controle ou o rnonitoramento
gem, considerando-se que o raciocínio abs- do que está sendo compreendido (Sánchez,
trato está intimamente ligado a outros do- 2008). Essas habilidades se desenvolvem
mínios, tais como raciocínio, resolução de antes da aprendizagem formal da leitura e
problemas e tornada de decisões. Entretan- continuam a se aprimorar com a exposição
to, essas capacidades são descritas em um e a experiência com a leitura. Daí a neces-
capítulo específico deste livro. sidade de avaliar a linguagem desde a mo-
dalidade oral.

HABILIDADES LINGUÍSTICAS
ORAIS RELACIONADAS À LEITURA TESTES QUE ENVOLVEM HABILIDADES
E À ESCRITA, INCLUINDO DE LEITURA E ESCRITA
PROCESSAMENTO FONOLÓGICO
Leitura e decodifica cão de palavras
A leitura e a compreensão da leitura de- isoladas e pseudopaíavras
pendem da inter-relaçao entre vários pro-
* cessos cognitivos e linguisticos. A associa-
ção entre as habilidades de processamento
A leitura envolve dois componentes básicos,
o reconhecimento de palavras e as habilida-
* fonológíco - leitura e escrita - deve ser in- des de compreensão da leitura. O processo
vestigada no processo de avaliação. A cons- de decodificação implica as habilidades de
ciência fonológica evolui de uma atividade reconhecimento da palavra escrita, referin-
* inconsciente e desprovida de atenção pa- do-se à capacidade que permite transfor-
mar os signos ortográficos em linguagem,
* ra uma reflexão intencional e com atenção
dirigida. Tal evolução parte do desenvolvi- enquanto a compreensão é definida co-
mento conjunto i n te r-relaciona do do as- mo o processo pelo qual palavras, senten-
pecto cognitivo e da linguagem, por meio ças ou textos são interpretados (Cunha et
da construção de memórias lexicais e fo- ai., 2010).
nológicas, havendo, também, outros meca- Na perspectiva da leitura por dupla ro-
nismos do processamento e da organização ta, a leitura oral pode envolver, pelo menos,
da linguagem, como a memória fonológi- duas vias: a fonológica e a lexical. A análise
ca e o acesso ao léxico mental, que atuam da leitura de palavras isoladas pode se mos-
de forma subjacente ao desenvolvimento trar útil, no intuito de verificar a rota prefe-
da consciência fonológica (Swanson et ai., rencial que estásendo utilizada. As variáveis
2010). envolvidas nas listas de palavras isoladas
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l 56 • Santos, Andrade & Bueno (orgs.) 9
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costumara ser a extensão, a frequência e a nessas medidas que os escolares com dísle-
regularidade das palavras. Quanto à regula- xia apresentam suas maiores dificuldades. *
9
ridade da palavras, associam-se mais dire-
tamente ao uso da rota fonológica. As pseu- »
dopalavras exigem ainda mais dessa rota, Compreensão da leitura
uma vez que não há como recorrer a uma *
imagem lexical delas. Em contrapartida, as A compreensão da leitura depende de vá- *
palavras irregu]ares estão diretamente rela- rios fatoreSj os quais, juntos, contribuem
cionadas ao acesso lexical díreto, que pres- para que ela seja concretizada. Desse modo,
supõe o uso da rota lexical (Saíles Sc Paren- aspectos como eficiência de decodíncação,
te, 2002). domínio do conhecimento, vocabulário, 9
capacidade de fazer inferências e fatores so- 9
ciais» bem como a memória operacional, 9
Fluência de leitura conduzem o leitor ao sentido da mensagem 9
escrita. São também importantes a integra-
Um dos aspectos a serem observados a res- ção do texto, o processo inferencial, a inter-
9
peito da fluência da leitura deve ser a pre- pretação da estrutura do texto e o moníto- 9
cisão/ exatídão ao ler uma palavra. Leitores ramento da compreensão (Sánchez, 2008). 9
fluentes precisam ser capazes de identifi- Assim, apesar do reconhecimento de pala- 9
car os sons representados pelas letras ou vras e das habilidades de compreensão es- 9
pelas suas combinações, combinar fone- tarem relacionados, eles são sustentados
mas, ler palavras de alta frequência, de mo- por habilidades distintas, as quais predizem 9
do que não consumam tanto a memória a variação no desempenho de tarefas de 9
operacional em processos de atenção à de- compreensão, ou seja, a capacidade de inte- 9
codificação, alérn de utilizar pistas grafofo- grar informações do texto, o conhecimen- 9
nêmícas e de significado para determinar to sobre a sua estrutura, o monitoramen- 9
exatamente a pronúncia e o significado da to metacognitívo e a memória operacional
palavra que está no texto (Hudson» Lane, & (Cunha et ai, 2010; Kida et ai, 2010). 9
Putlen.2005).
Considerando a complexidade da 9
compreensão da leitura e sua relação com Soletração 9
a fluência de leitura, é possível pensar que,
9
quanto mais proficiente se torna o leitor, Entre as estratégias de avaliação, o docu-
mais automáticos são esses processos fun- mento da EDA (2009) destaca a soíetra- 9
damentais de decodíficação e reconheci- ção, que ainda é um recurso pouco usado 9
mento da palavra, mais rápida e precisa se no Brasil. No entanto, ela pressupõe que 9
torna sua leitura (portanto» mais fluente), o escolar acesse e recupere as palavras em 9
mais disponível ficam sua atenção e me- seu léxico ou que se baseie em sua oralida-
mória para processos de alto nível e, por- de para transformar os sons em letras. Es-
9
tanto, melhor o nível de sua compreensão ses processos de nível básico na escrita fa- 9
(Kida, Chiar i, & Ávila, 2010). Assim, en~, zem parte do desenvolvimento ortográfico, 9
tre os procedimentos de avaliação da lei- que envolve habilidades fonológicas, essen- 9
tura, devem ser considerados aqueles que ciais ao processo, associadas às habilidades 9
oferecem medidas de fluência, velocidade morfossintáticas e à consciência ortográfi-
de leitura (medida em palavras por minu- ca, bem como a experiência baseada na ex-
9
to) e precísão/acurácia de le"itura (Oliveira posição ao material gráfico (Nation, AngeíJ, 9
& Capellini, 2013), visto que é exatamente & CastleSj 2007). Portanto, a avaliação da 9
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Neuropsícoiogla hoje • 157

ortografia deve envolver a observação dos A aquisição da escrita exige uma com-
erros que decorrem da alteração do princí- binação de coordenação de habilidades vi-
pio alfabético, que afetam a ortografia na- suomotoras e auditivas com o planeja-
tural, e dos erros nas convenções ortográ- mento motor, cognitivo e com habilidades
ficas, independentes desse princípio, que perceptivas (tátil-anestésicas, organização
afetam a ortografia arbitrária (Capellini et no espaço e no tempo) (Germano & Ca-
ai., 2011)T os quais podem se mostrar mais pellini, 2013). Dessa forma, avaliar a escri-
numerosos e persistentes. ta requer dos profissionais de saúde e de
educação o conhecimento do desempenho
perceptovisuomotor de escolares com dis-
Expressão escrita íexia, bem como do desenvolvimento or-
tográfico, já que muitas das alterações na
A expressão escrita textual impõe alta exi- escrita, seja qual for sua natureza, podem
gência cognitiva. Garcia (1998) propôs mó- parecer similares, à primeira vista.
dulos; os de planejamento da mensagem,
os sintáticos (que englobam a construção
da estrutura gramatical em suas mais di- OBSERVAÇÃO EDUCACIONAL
versas complexidades), os lexicais (no nível
das palavras isoladas) e, por fim, os moto- Além da avaliação formal, Composta por
res (que envolvem a recuperação da írna- provas, baterias e testes para a verificação
gern visual e dos padrões motores das le- do funcionamento das habilidades de lin-
tras). Dessa forma, a produção de texto, guagem e aprendizagem, é fundamental
eliciada ou não por figuras, temas ou histó- que informações sejam obtidas a partir da
rias em sequência, deve ser introduzida na observação dos professores sobre a fluên-
avaliação para verificara existência de mar- cia, a velocidade e a compreensão de leitu-
cadores textuais e a presença da rnacroes- ra, além da observação dos trabalhos aca-
trutura textual. O tempo de elaboração da démicos dos escolares para a obtenção de
produção textual pode ser uma variável re- uma análise detalhada do desempenho do
levante para a avaliação (Capellini et ai., escolar. Em relação à escrita, é importan-
2011; Capellini et ai., 2012). te observá-la em diferentes propostas e
momentos escolares. Como exemplos, po-
demos citar o ditado sem correção e auto-
Desempenho grafomotor corrígidOj a escrita de textos longos e cur-
tos, o ditado de pseudopalavras, a cópia, o
O ato grafomotor é, fundamentalmen- ditado de letrasj a escrita de palavras a par-
te, o ato linguístico de produzir os símbo- tir de figuras e o ditado de frases e palavras
los do alfabeto, por meio do canal motor de {Capellini et ai., 2012).
output. Nessa perspectiva, o desempenho
grafomotor não é apenas uma habilida-
de motora. Escolares com dislexia podem CONSIDERAÇÕES FINAIS
apresentar um problema no automatismo
da escrita de letras, que, por sua vez, po- Uma vez descritas as áreas de avaliação em
de estar relacionado a défkits de inibição e caso de suspeita de dislexia, optamos por
de fluência verbal. Esse conjunto pode ex- discutir qual seria um perfil clássico, ain-
plicar os problemas de ortografia (Bernin- da que passível de variações, como de-
ger, Nielsen, Abbott, Wijsman, & Raskind, fendido desde o início deste capítulo, de
2008). um escolar corn transtorno específico da
1 58 * Santos, Andrade '& Bueno (orgs.}

aprendizagem na área de leitura. As origens intervenção direcionada para as dificulda-


não são sociais, nem sensoriais, tampouco des específicas dos escolares.
intelectuais, apesar de essas condições po-
derem coexistir e agravar as manifestações
académicas. REFERENCIAS
Discutimos as habilidades cognitivo
-linguísticas, as habilidades de nível bási- American Psychíatric Assocíation (APA) (2013).
co e de alto nível. As dificuldades da crian- Diagno-stk and statístical manual of mental di-
ça com dislexia estão locadas, a princípio, sorders: DSM-5 (Sth ed.). Washington: American
nos processos de nível básico, a saber: de- Psychiatríc Assocíation.
codificação e reconhecimento de palavras Ariastasiou, L. G. C. (1998). Metodologia do ensino
para a leitura e soletração e ortografia para superior: Da prática docente a uma possível teoria
a escrita. Contudo, dificuldades nesse nível pedagógica. Curitiba: IBPEX.
básico podem ser tão importantes que ter- Andrade, O. V., Andrade, P. £., & Capellini, S. A.
minam por afetar, mesmo que de fornia se- (2013). Identificação precoce do risco para trans-
cundária, as habilidades de alto nível, corno tornos da atenção e da leitura em sala de aula. Psi-
cologia: Teoria e Pesquisa, 29(2], 167-176.
compreensão da leitura e produção textual.
Essas duas últimas habilidades estariam in- Berninger, V. W., Nielsen, K. H, Abbott, R. D., Wijs-
man, E,, & Raskind, W. (2008). Writing problems in
tactas na linguagem oral. As habilidades fo- developmenlai dyslexia: Under-recognized and un-
nológicas e metafonológicas, associadas às âer-treattd. Journal ofSchoolPsychology, 46(1), 1-21,
questões perceptovisuais, também seriam Capellini, S. A. (2010"). Distúrbio de aprendiza-
alterações de base. gem versus dislexia. In F. D, M. Fernandes» B. C. A.
Mais um conceito que considera- Mendes, & A. L. P. G. Navas (Orgs.), Tratado de fo-
mos relevante, para finalizar, é a propos- noaudiologia (1. ed.,pp. 352-361). São Paulo: Roca.
ta do Modelo de Resposta à Intervenção Capellini, S. A., Amaral, A. C., Oliveira, A, B., Sam-
(Response W Intervention, RTI)> que vi- paio, M. N., Fusco, N., Cervera-Mérida, J. R, &
sa a desenvolver as habilidades cognitivo- Ygual-Fernández, A. (2011). Desempenho orto-
linguísticas» minimizando o impacto das gráfico de escolares do 2D ao 5° ano do ensino pú-
dificuldades de leitura, mas objetivando, blico, Jornal da Sociedade Brasileira de Fonoaudio-
logia, 23(3), 227-236.
também, confirmar o diagnóstico inicial
(Fuchs Sc Vaughn, 2012). Diante de uma re- Capellini, S. A., Homero, A. C. L., Oliveira, A. B.,
Sampaio, M. N., Fusco, N., Cervera-Mérida> ]. R,
alidade educacional tão diversa, essa pro- & Ygual-Fernández, A. (2012). Desempenho orto-
posta pode ser ainda mais relevante, benefi- gráfico de escolares do 2° ao 5° ano do ensino par-
ciando os escolares que necessitam de ajuda ticular. Revista CEFAC, 14(2), 254-267.
e excluindo os falsos positivos, em uni se- Corso, H. V., Sperbe, T. M., Jou, G. L, & Salles,
gundo momento. J. F. (2013), Metacognição e funções executivas:
No Brasil, pesquisas realizadas com o Relações entre os conceitos e implicações pa-
modelo de RTI, com o objetívo de identifi- ra a aprendizagem. Psicologia: Teoria £ Pesquisa,
car pré co cê m ente os escolares de risco pa- , 21 -29.
ra dislexia do desenvolvimento (Andrade, Cunha, V. L. O., Oliveira, A. M.> & Capellini, S. A.
Andrade, & Capellini, 2013), evidencia- (2010). Compreensão de leitura: Princípios avalia-
íivos e interventivos no contexto educacional. Re-
ram que esse seria urn melhor modelo pa-
vista Teias, i 1(23), 221-240.
ra a identificação, a detecção e o diagnósti-
Ferrer, E., Shaywitz, B. A., Holahan, J. M-, Marchio-
co precoce da dislexia, por ser um tipo de
ne, K., & Shaywitz, S. E. (2010). Uncoupling of rea-
procedimento educacional viável e adequa- ding and IQ over time; Empiricaf evídence for a
do, tanto para a verificação dos indicado- definition of dyslexia. Psychological Science, 21(1),
res de risco desse transtorno como para a 93-101.

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