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Célia Quico
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Resumo
‘Prosumer’, ‘pro-am’, ‘produser’, utilizador, jornalista-cidadão são alguns dos termos
que designam a figura do consumidor-produtor que cria e publica conteúdos através
das mais diferentes ferramentas e meios. Publicar ou comentar blogs, remisturar e
publicar online músicas, fazer álbuns de fotos online, criar e publicar vídeos são
apenas algumas das actividades que caiem no âmbito geral da criação e partilha de
conteúdos por parte dos utilizadores.
Avaliar as atitudes e práticas de criação de conteúdos digitais dos jovens portugueses
dos 12 aos 18 anos é o objectivo principal deste artigo, que tem por base os resultados
e conclusões de três estudos empíricos integrados na tese de doutoramento de Quico
(2008), nomeadamente: um estudo etnográfico sobre os usos dos media e tecnologias
de informação e comunicação (TIC) de dez famílias portuguesas conduzido em
contexto doméstico, um inquérito quantitativo sobre os usos dos media e TIC que
contou com uma amostra de 962 inquiridos e, finalmente, um estudo de avaliação de
um formato de media participativo que foi testado e avaliado por 77 jovens dos 12 aos
20 anos de três escolas de localidades diferentes.
Ainda, este artigo apresenta uma breve revisão de literatura sobre a temática dos
conteúdos criados pelos utilizadores, que inclui as perspectivas de autores como
Henry Jenkins, Mark Deuze, Andrew Keen e Lawrence Lessig. Deste modo, também
há a intenção de contribuir para a reflexão sobre esta tendência de uso dos media e
TIC, através do confronto de diferentes perspectivas de investigadores e teóricos no
campo dos media.
Introdução
Neste sentido, há que mencionar a visão apresentada por Andrew Keen que,
no seu polémico livro The Cult of the Amateur (2007), pinta um quadro pessimista
sobre actual fixação no ‘user created content’. Para Keen (2007), o culto do amador
torna cada vez mais difícil determinar a diferença entre leitor e escritor, entre um
artista e um relações públicas, entre arte e publicidade, entre amador e especialista. As
maiores vítimas da Web 2.0 serão os negócios reais com produtos reais, empregados
reais e accionistas reais, afirma Keen (2007), que imputa responsabilidade sobre os
despedimentos de jornalistas ou falências de editoras e livrarias independentes aos
conteúdos gerados pelos utilizadores na internet, em particular, ao site de
classificados gratuitos Craiglist, aos vídeos grátis do YouTube à informação gratuita
disponibilizada pela Wikipedia.
O estudo etnográfico “Os jovens portugueses e os usos dos media e TIC” teve
por objectivo obter uma compreensão detalhada e holística dos usos dos media e
tecnologias de informação e comunicação (TIC) pelos jovens portugueses dos 12 aos
18 anos e respectivas famílias no seu contexto doméstico. Entre os temas abordados
encontram-se a ocupação de tempo no dia-a-dia, as principais actividades de lazer, os
padrões de uso da televisão, internet e telemóveis pelos membros da família, bem
como as suas atitudes em relação a estes meios e a previsão de uso no futuro.
Em síntese, eis algumas das tendências mais salientes de uso dos media e TIC
no conjunto de 10 famílias que integraram este estudo etnográfico:
12 anos 5 ,5
13 anos 8 ,8
.Escrever poesia ou prosa (conto, teatro, poema, etc) 44,8 10,7 37,7 6,9
-2 -1 0 1 2
Nem
discordo,
nem
Discordo Concordo
Discordo concordo Concordo
completam. completam.
% % % % %
.Não sei passar sem a Televisão 11,4 25,0 22,9 27,5 13,1
.Não sei passar sem a Internet 6,9 15,0 21,2 32,1 24,8
.Não sei passar sem o telemóvel 7,0 11,1 14,6 28,3 39,0
No entanto, de modo geral a sua apreciação foi positiva: nas respostas abertas,
a maior parte dos participantes valorizou no piloto TV sobretudo a aquisição de
conhecimentos, sem esquecer também os aspectos formais dos vídeos. No caso do
protótipo web, os participantes no estudo deram destaque à facilidade de navegação e
Conclusão e discussão
Assim, criar conteúdos é uma prática comum entre a maioria dos jovens dos
12 aos 18 anos em Portugal, que manifestam ter experiência sobretudo em fazer
vídeos, tirar fotos e fazer álbuns de fotografias na internet, bem como em criar e
manter blogs. A afirmação “cada vez mais eu quero fazer os meus próprios vídeos,
músicas, fotografias, textos, etc, no PC” recebeu a concordância de quase 59,5% dos
inquiridos dos 12 aos 18 anos que responderam ao inquérito quantitativo sobre usos
dos media e TIC: 24,4% de concordância completa e 35,1% de concordância. De
notar que do conjunto de nove afirmações deste bloco, esta foi a segunda frase com
uma maior percentagem acumulada de concordância, a seguir à afirmação “não sei
passar sem o telemóvel”, bem como foi a frase com menor percentagem acumulada
de discordância (12,6%). No estudo etnográfico que envolveu 10 famílias de
diferentes localidades de Portugal continental verificou-se que a criação de conteúdos
e a sua publicação online tem expressão nos jovens dos 12 aos 18 anos, quer na forma
mais simples de publicação de fotografias no perfil Hi5 ou em fotologs, quer na
criação e manutenção de blogs. De notar ainda que neste estudo se apurou ser
significativo o número de jovens que prossegue actividades clássicas de expressão de
criatividade como é o caso da música, dança ou artes plásticas.
Criar e manter blogs são actividades já realizadas por cerca de metade dos
jovens dos 12 aos 18 anos em Portugal. Quase metade dos jovens dos 12 aos 18 anos
que responderam ao inquérito quantitativo sobre usos dos media e TIC reportaram já
ter criado um blog, mais exactamente, 47,4% dos inquiridos, enquanto que 23,9%
responderam ter interesse nesta actividade. Comparativamente, 35,1% dos jovens
responderam já ter criado um web site e 37,6% manifestou interesse em fazer este tipo
de produto multimédia. Estes resultados são consistentes com os apurados pelo estudo
dos CIES-ISCTE “Crianças e Jovens: A sua relação com as Tecnologias e os Meios
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