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SUL - UNIJUI
DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO
CURSO DE PSICOLOGIA
SANTA ROSA
2012
LAURA LUIZA LORENSET
SANTA ROSA
2012
TERMO DE APROVAÇÃO
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
PROFa. DRA. LALA CATARINA LENZI NODARI
Psicóloga; Doutora,
Professora do Departamento de Humanidades e Educação
____________________________________________
PROFa. KENIA SPOLTI FREIRE
Psicóloga; Mestre;
Professora do Departamento de Humanidades e Educação
AGRADECIMENTOS
Aos meus irmãos, Diogo e Nádia, que cada um da sua maneira, perto ou
longe, fizeram parte dessa trajetória, que me ouviram sempre que necessitei. Vocês
completam a minha história.
SUMÁRIO ................................................................................................................... 5
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6
2 A FAMÍLIA ............................................................................................................. 18
2.1 BREVE HISTÓRICO ........................................................................................... 18
2.2 CONFIGURAÇÕES FAMILIARES....................................................................... 22
INTRODUÇÃO
ocorreram nos últimos tempos, de que forma podemos pensar ou repensar o lugar e
a importância da família na contemporaneidade?
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Segundo Chemama (1993, p. 156), a respeito do outro: “Lugar onde a psicanálise situa, além do
parceiro imaginário, aquilo que, interior e exterior ao sujeito, não obstante o determina.” Ou seja,
este diz respeito ao semelhante, ao igual, aquele que se relaciona com o bebê, porém não exerce
função sobre ele.
2
Lacan (1964) diz que o conceito de “Outro” não se refere a uma pessoa física e sim a uma instância
que dá conta de uma dimensão simbólica. Tomando como referência a história do sujeito, o Outro
pode ser compreendido como linguagem, equivale à cultura, ao conjunto de marcas que preexistem e
constituem a história de um sujeito. O “outro” diz respeito à relação com o semelhante, designa o
sujeito, o ‘eu’ em sua singularidade.
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O pequeno infans, isto é, a cria humana ainda não dotada de uma posição
discursiva de fala, não possui a estrutura psíquica constituída, e esta vai fundar-se
somente a partir da relação com o outro. Seu corpo (corpo aqui na ordem do Real)
se tornará o receptor do discurso parental, sendo esse o veículo de transmissão de
laços identificatórios, o que é fundamental para a sua constituição psíquica.
Este é um momento em que o bebê precisa ser falado, tocado e olhado pelo
Outro. Necessita de um Outro que signifique seu choro, seu grito e seu corpo. Não
prescinde de um Outro primordial que projete nesse corpo a sua própria demanda. A
mãe, a partir disso, permite que o bebê inicie a sua constituição humana um sujeito
dotado de psiquismo em desenvolvimento.
De acordo com Lacan (1999), a mãe desde o início comunica-se com o seu
bebê, a relação destes se dá a partir de desejo e demanda, estes fazem parte de um
universo composto de palavras e sons que vão sendo ouvidos pela criança e pouco
a pouco, esta vai os internalizando até que se torne capaz de produzir as suas
primeiras manifestações sonoras. O olhar da mãe também se coloca como
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Imaginário, a partir de Lacan, Chemama refere que, o imaginário só pode ser pensado em suas
relações com o real e o simbólico. Este deve ser entendido como a imagem, sendo esse o registro
do engodo, da identificação, (CHEMAMA 1993, p.104). O imaginário, portanto remete-se a imagem,
ao que é fantasioso. Essa é a dimensão da comunicação, do entendimento do que é possível
nomear. Real, de acordo com Chemama (1993, p.182) é “definido como o impossível, real é aquilo
que não pode ser simbolizado totalmente na palavra ou na escrita e, por conseqüência, não cessa de
não se escrever” Simbólico, diz respeito a uma “Função complexa e latente que envolve toda a
atividade humana, comportando uma parte consciente e outra inconsciente, ligadas à função da
linguagem e, mais especialmente, à do significante.” (CHEMAMA, 1993, p.199).
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primordial, pois é o seu olhar juntamente com a sua voz que nomeiam o filho,
concedendo a ele um lugar na família, consequentemente na sociedade e finalmente
no campo simbólico.
A função materna não precisa necessariamente ser exercida pela mãe real.
Segundo Ramalho (1988, p. 67), “A Função Materna, como o próprio nome diz,
trata-se de uma função, que não necessariamente é exercida pela mãe real. Trata-
se de “marcar para a vida” este pequenino corpo que é gerado para vir a se
constituir num sujeito.”
No terceiro tempo, portanto, o pai intervém como real e potente. Esse tempo
se sucede à privação ou à castração que incide sobre a mãe, a mãe
imaginada, no nível do sujeito, em sua própria posição imaginária, a dela,
de dependência. É por intervir como aquele que tem o falo que o pai é
internalizado no sujeito como Ideal do eu, e que, a partir daí, não nos
esqueçamos, o complexo de Édipo declina. (LACAN,1957-1958, p. 201).
Desta forma, além dele poder inserir o filho na cultura, reestabelece para a
mãe a sua posição de mulher, pois o filho não é capaz de completar essa falta da
mãe. É somente a partir da ruptura com a mãe que o filho percebe-se como um ser
não completo, um ser faltante. Unicamente a partir do encontro com a falta, é que o
sujeito passa a desejar. Portanto, é necessário que a criança saia da posição de
simbiose com a mãe, o que acontece e se desvela pelo interdito paterno, pois só
desse modo a criança será capaz de desejar e bancar seus próprios desejos,
constituindo-se então; como sujeito.
A figura de apego pode ser entendida como aquela que transmite segurança
e conforto para a criança. É aquela que a criança pode usar como apoio e que
propiciará segurança nas relações e explorações do resto do mundo.
Segundo Bowlby:
É a ela que o bebê recorre quando necessita, fazendo isso através do choro, do
sorrir, do balbuciar, da sucção não nutritiva, do agarrar-se, do chamar e da
locomoção. Esses comportamentos colocam-se sempre como mediadores entre o
bebê e sua figura de apego. Com a idade, a frequência e a intensidade dessas
manifestações para chamar a atenção, (em especial da figura de apego), tendem a
diminuir, dando espaço à linguagem.
Nesse sentido, Bowlby (1997, p. 171) contribui dizendo que: “Os padrões de
comportamento de ligação manifestados por um indivíduo dependem, em parte, de
sua idade atual, sexo e circunstâncias, e, em parte, das experiências que teve com
figuras de ligação nos primeiros anos de sua vida”.
apego da criança, que irá lhe apresentar as outras pessoas significativas; como o
pai, os irmãos, avós. Enfim, todo o enlace familiar e social que serão norteadores e
determinantes para o seu desenvolvimento.
familiar e principalmente pelos “tipos” de vínculos que são (ou foram) possíveis de
ser constituídos, durante os anos essenciais de desenvolvimento de cada sujeito e
a forma como esses conseguem estabelecer laços transferênciais e criar vínculos
de apego com cada novo “integrante” da família. Esses foram os objetos de estudo
apresentados nesse primeiro capítulo.
2 A FAMÍLIA
No início do século XX, até o começo dos anos de 1950, havia uma diferença
notória entre os lares burgueses e os populares. Os primeiros eram amplos e
dispunham de todos os espaços e estruturas necessárias para manter a privacidade
de seus moradores, em contraste, os lares populares possuíam apenas um, ou no
máximo dois cômodos, onde os camponeses e operários aglomeravam-se. No
campo, por vezes a casa era de apenas um cômodo, onde a família cozinhava e
dormia.
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Nosso estudo histórico sobre a família, está baseado nos textos da Coleção História da Vida Privada
(vide referencias bibliográficas ao final) Nota da autora.
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Nessas condições, além dos burgueses, era impossível ter uma vida privada.
Pais e filhos viviam todos os atos da vida cotidiana às claras, nada era recoberto. Da
mesma forma era difícil possuir objetos pessoais. Aqueles que possuíam era porque
os recebiam como presente: como uma faca, um cachimbo, um relógio ou uma joia.
Esses objetos possuíam um enorme valor simbólico para o sujeito. Eram eles, os
únicos que a pessoa podia reivindicar como propriedade sua.
quem exercia o pátrio poder. Na França7, com as leis de 1965, sobre os regimes
matrimoniais e o pátrio poder; a inferioridade jurídica da mulher desaparece e esta
passa a ter os mesmos direitos de decisões legais que o homem. Porém, o poder
dos pais sobre os filhos é inquestionável, estes não tinham direito a vida privada, o
tempo livre deles pertencia aos pais que lhe encarregavam das mais diversas
tarefas e as suas relações eram minuciosamente vigiadas.
Essa rápida evolução --- ela se dá no prazo de uma geração --- traduz o
fechamento da família sobre a vida privada. Se a família é substituída pela
escola, e com seu próprio consentimento, é porque ela tem consciência de
sua incapacidade estatutária: como toda educação é educação para a vida
pública, a família ao se tornar puramente privada, deixa de ser plenamente
educativa. (PROST, 2009, p. 71).
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A constituição Brasileira de 1988 colocou-se como um marco jurídico frente a uma nova concepção
de igualdade entre homens e mulheres. A partir de então, desaparece a figura da chefia da sociedade
conjugal e também as preferencias e privilégios que sustentavam juridicamente a dominação
masculina. (LOPES, 2005, p. 407).
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socialização dos filhos fez com que estes abandonassem a esfera doméstica; e a
família deixa de ser uma instituição para se tornar um simples ponto de encontro de
vidas privadas.
Segundo Prost (1999, p. 74), ainda na primeira metade do século XX, casar
era formar um lar, lançar as bases de uma realidade social nitidamente definida e
claramente visível dentro da coletividade. Nesse período, as pessoas casavam-se
para poderem dar sustento e auxílio mútuo ao longo da vida, que poderia ser
penosa. Casava-se também com o intuito de terem filhos, aumentar o patrimônio e
deixar-lhes a herança, pois acreditavam que dessa forma os seus filhos iriam
realizar-se e consequentemente, seus pais também. Nessa sociedade os valores
familiares eram centrais, era o êxito que cada indivíduo tinha em sua família, assim
como o papel que desempenhava, onde o os demais membros da sociedade
avaliavam e julgavam.
Para se casar um homem e uma mulher deviam sentir certa atração, ter a
sensação que poderiam se entender, se apreciar, se estimar, em suma, que
poderiam combinar. Isso de forma nenhuma excluía que já se amassem,
nem garantia que viessem a se amar mais tarde: a valorização dos
aspectos institucionais do casamento mascarava as realidades afetivas.
(PROST, 1999, p. 75).
A partir disso, a sociedade passa a ter uma posição mais aberta frente às
relações sexuais antes do casamento, desde que os noivos se amassem e
quisessem viver juntos. Porém, continuava-se a reprovar intensamente as mães
solteiras. No entanto, com o surgimento do feminismo, os costumes mudam
novamente, pois a contracepção feminina ganha espaço, permitindo que a
sexualidade se dissocie da procriação.
Diante de todas essas transformações Prost (1999, p. 80) nos diz que “Além
do casamento a própria família é abalada, o lar formado por um casal e filhos já não
é norma exclusiva: as famílias com apenas um dos genitores são cada vez mais
frequentes”.
Atualmente, este modelo de família parece estar sofrendo uma grande crise
de identidade. Muitos fatores tem sido responsáveis por esta realidade. Dentre eles:
a Revolução Industrial, o Movimento Feminista, o Movimento da Juventude, a
entrada da mulher no mercado de trabalho, o aumento do número de divórcios,
assim como o surgimento da pílula anticoncepcional; a qual separou a sexualidade
da reprodução, interferindo diretamente na sexualidade feminina. Ainda, a prática
das inseminações artificiais, como também, de vários outros métodos e
possibilidades que surgiram no decorrer dos anos, contribuíram para essa chamada
crise da família nuclear. Portanto, todos estes fatores em simultâneo, vêm abalando
este grupo social (família). Esta por sua vez, encontra-se numa fase de transição,
pois deixa de corresponder às ideias estabelecidas no passado; um grupo social
imutável e com uma estrutura fortemente enraizada. Precisando adequar-se à
sociedade contemporânea, cuja vida é mais dinâmica, pois tudo se processa de
modo mais rápido e complexo.
Sendo assim, é preciso olhar a família no seu movimento, pois a mesma está
passando por momentos de organização e reorganização e torna-se visível a
conversão de novos arranjos familiares. É necessário enxergar a família
contemporânea, não apenas em seus pontos de fragilidade, mas compreendê-la
como um grupo social, cujo movimento é realizado no sentido de reorganizar-se, o
que vai de encontro ao contexto sociocultural inerente a contemporaneidade.
Essa nova configuração familiar, por vezes pode enfrentar problemas, pois
essa família necessitará passar por um período de adaptação frente à nova
configuração, o que nem sempre é vivido de forma tranquila, principalmente pelos
filhos. Estes terão que aprender a conviver com os seus “novos irmãos” e também
aprender a ter uma relação sadia com a madrasta ou padrasto. Já o novo casal,
frequentemente traz algum tipo de perda do relacionamento anterior, assim como
uma de forma de viver, hábitos que ele carrega junto que foram construídos em
outra relação. Esses pontos também terão que passar por uma readaptação, para
que essa nova família se consolide.
configuração um dos pais assume os cuidados com o filho e o outro não é ativo na
parentalidade. A monoparentalidade também é considerada para aquelas mulheres
que decidem ser mãe solteira desde o início da gestação e ainda para aquele que
decide adotar uma criança, mesmo sem ter um companheiro.
Família Homoparental: Família em que existe uma união conjugal entre duas
pessoas do mesmo sexo. Nessas famílias, não é algo comum haver laços
sanguíneos, isso de certa forma parece facilitar uma maior cumplicidade no
compartilhamento das responsabilidades comuns. Nessa configuração, também não
há os papéis de gêneros definidos, ou seja, a mãe que cuida dos filhos e da casa e o
pai que provê o sustento de todos, pelo contrário, ambos desempenham o papel de
pai e mãe, responsáveis pelo bem estar físico-emocional dos filhos.
Citamos então:
filhos, como os estudos, esporte, lazer, enfim, todas as atividades que são
necessárias a presença das figuras parentais.
A separação dos pais com certeza traz algum tipo de perda para os filhos e a
família, no entanto, é fundamental que os pais possam ter o discernimento de que
seus filhos necessitam dos dois para constituir-se de forma saudável. Quando a
separação é inevitável, fato que tem aumentado em nosso país, é importante que os
pais coloquem seus filhos em primeiro lugar. Dessa forma, podemos afirmar que a
guarda compartilhada, sem restrições de visitas e de certa forma como uma
responsabilidade maior de cada um para com seus filhos; seria a forma menos
danosa de se conseguir lidar com essa situação, que causa tanto sofrimento nas
figuras envolvidas.
Família adotiva: Diz respeito a um casal ou então a uma única pessoa que
assume um indivíduo como seu filho. A partir da adoção, a responsabilidade e os
direitos dos pais biológicos são transferidos aos pais adotantes. Dizendo de outra
forma, a adoção é o processo onde cria-se um lugar de filho a um sujeito que não
possui a mesma história que o casal. Este por sua vez, irá integrar essa família e a
partir do acolhimento passará a reconhecer-se e também a ser reconhecido como
filho.
Família Projetada Sem Filhos: Essa é uma forma de família na qual o casal
planeja sua vida sem filhos, visando afins econômicos. Nessa lógica, o homem e a
mulher contribuem financeiramente a fim de construírem um patrimônio e
consequentemente poderem aproveitar férias sem preocupações e com gastos para
a educação dos filhos.
A sociedade por sua vez, mostrou e ainda mostra certa resistência diante das
configurações que se “desviam” do modelo da família burguesa. Principalmente se
existirem crianças que compõem esse núcleo familiar. Nesse sentido, podemos nos
referir a Szymanski (2000, p. 23) que nos fala um pouco sobre as relações entre os
membros da família, a sua importância e a sua consequência. De acordo com a
autora, as interpretações das inter-relações eram feitas a partir do modelo da família
nuclear burguesa, e se por ventura alguma família se afastava da estrutura do
modelo, esta era chamada de “desestruturada” ou “incompleta”, também
consideravam que dessa família poderiam surgir problemas emocionais, ou seja, era
considerada a estrutura da família e não a qualidade das relações.
Para que uma família se constitua e seja plenamente saudável para todos que
a compõem, o elemento principal é o afeto, o amor de uns para com os outros. Não
podemos mais dizer qual é a melhor configuração familiar diante de tantas, mas
podemos afirmar que todas são boas, ou melhor, que cada uma à sua maneira,
independente de sua configuração, são essenciais e possuem a mais bela função: a
de constituir um sujeito.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOCK, Ana Mercês Bahia. Família... o que está acontecendo com ela? In:
Psicologias uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo: Ed Saraiva,
2002.
VITALE, Maria Amalia Faller. Socialização e Família: uma análise intergeracional. In:
A Família Contemporânea em Debate. Maria do Carmo Brant de Carvalho (org).
São Paulo: EDUC/ Cortez, 2000b.