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Por Marcus Eduardo de Oliveira (*) 28 de October de 2009

“Perceber que o mais importante


é o social foi a descoberta
mais relevante de minha vida”
Celso Furtado, em O Longo Amanhecer

Em “Princípios de Economia”, Alfred Marshall (1842-1924) afirma que a Economia “é um estudo dos
homens tal como vivem, agem e pensam nos assuntos diários da vida”.

Gregory Mankiw diz que “Economia é um grupo de pessoas que interagem entre si”.

Das muitas definições/objetivos que o termo Economia carrega talvez a de Colin Clark (1905-1989) seja a
que melhor se enquadra naquilo que entendemos ser o objetivo precípuo das ciências econômicas: “O
objetivo da economia não é a produção de riqueza, mas proporcionar bem estar aos indivíduos”.

O certo é que desde a obra seminal de Adam Smith (A Riqueza das Nações) as ciências econômicas vêm
ganhando destaque e relevo na administração pública, guardando, assim, estreita sintonia com a origem
do termo que remonta ao pensador grego Xenofonte (430-355 a.C), que definiu Economia pela primeira
vez como sendo a “administração da casa”; nos dias de hoje, também pode ser entendido como
“administração da coisa pública”.

Feitas essas primeiras incursões, este artigo se põe a discutir junto aos jovens economistas brasileiros o
atual e o mais preponderante papel que a economia (enquanto ciência) vem desempenhando na sociedade
moderna e, em especial, em sociedades que amargam profundas e históricas desigualdades sociais, como
é o típico caso brasileiro.

Quantos de nossos jovens, recém saídos das universidades, diplomados em Ciências Econômicas, se
põem a perguntar: quais os desafios da profissão de economista? E agora, como economista formado, o
que quero e devo fazer? Como devo agir? Quais são as inquietações reflexivas a que um economista
estará exposto? Quais interrogações os cercarão?

Os desafios da profissão em uma sociedade desigual

Uma primeira constatação que o jovem economista brasileiro se depara ao chegar ao mercado de trabalho,
é que é impossível fechar os olhos para as gritantes consequências sociais que o atual modelo econômico
desagregador impõe a grande parte da população que ora encontra-se sem emprego, sobrevivendo no
limite, habitando os já conhecidos “bolsões de pobreza”.

Nesse pormenor, a exclusão social será, certamente, uma situação em que o jovem economista porá um
olhar crítico para um completo entendimento da situação social que o aguarda. Talvez esteja ai o primeiro
e mais importante desafio para os jovens economistas brasileiros desse século XXI: entenderem as razões
que levam um país como o Brasil, com grande potencial de recursos, a amargar um quadro vexatório em
quesitos sociais.

Cabe a esses jovens economistas tentar explicar como é possível, numa sociedade moderna, a ocorrência
de fortíssima segregação social que põe de um lado os incluídos e, do outro, os excluídos; os ricos-
milionários separados dos pobres-miseráveis; os sem terra segregados dos latifundiários. Em suma, um
país formado por uma sociedade elitista e uma massificação de excluídos.

Aos jovens economistas conhecedores de história econômica brasileira caberá responder por que ao
Brasil, historicamente, coube um papel específico na economia mundial de grande fornecedor de
commodities e, dessa maneira, enquanto os mercados externos eram (e são) abastecidos pelo trabalho dos
brasileiros, a economia interna regressa no tempo, desamparando os que aqui labutam.
O desafio maior que espera esses jovens economistas no mercado de trabalho talvez seja estudar,
pormenorizadamente, essa exclusão social a que fizemos alusão a fim de “entender” um país que é capaz
de produzir e exportar aviões, mas incapaz de alimentar decentemente quase 40 milhões de pessoas. Um
país que, por anos a fio, tem sido o maior produtor e exportador de suco de laranja, mas que abriga
dezenas de milhares de crianças que nunca tomaram um copo desse suco. Um país que fabrica e exporta
calçado de qualidade, mas muitos dentre sua população ainda andam descalços dormindo ao relento dos
grandes centros urbanos.

Está reservado aos jovens economistas brasileiros, como um dos mais intensos desafios da profissão,
responder os motivos de sermos uma das sociedades mais desiguais do mundo, com forte concentração de
renda, em que os meios de produção estão nas mãos de apenas 6% da população. Um país em que de cada
20 brasileiros, apenas um é dono de alguma propriedade geradora de renda (empresa, imóvel ou mesmo o
conhecimento).

Esses jovens economistas brasileiros da atualidade, mais do que qualquer outro profissional das ciências
humanas, têm a árdua tarefa de explicar por que temos uma carga tributária que onera tanto os pobres (os
10% mais pobres pagam 44,5% mais impostos do que os 10% mais ricos); por que nossa reforma agrária
nunca saiu do papel, sendo nosso país o quinto maior em extensão territorial do planeta; um país que
exporta vitaminas, mas, no entanto, quase 40 milhões dos que aqui habitam passam fome.

Especificamente sobre a questão agrária, em cujo bojo está implícito o paradoxo de muita terra disponível
e muita gente passando fome, segundo os Cálculos do Plano Nacional de Reforma Agrária – Cadastro do
INCRA – existem, aproximadamente, 55 mil imóveis rurais classificados como grandes proprietários
improdutivos, que controlam 116 milhões de hectares. Eles são apenas 1% de todos os proprietários rurais
do Brasil. Também sobre isso deverá o economista moderno lançar análise reflexiva.

O desafio da retomada do crescimento econômico

Esses jovens economistas que ora estão entrando no mercado de trabalho vão se deparar com uma
armadilha específica que põe severas amarras à economia brasileira. Atualmente, embora o governo
afirme o contrário, a economia brasileira não cresce porque está presa a uma armadilha de altas taxas de
juros e baixas taxas de câmbio que mantém as taxas de poupança e de investimentos deprimidas. De tal
maneira não há espaço para a criação da demanda necessária (desestímulo ao mercado interno) para que a
taxa de acumulação de capital alcance o nível necessário à retomada do crescimento econômico.

Crescimento econômico, por sinal, será algo que deverá perseguir o economista todo o tempo;
principalmente aqueles que buscarem na administração pública uma colocação no mercado de trabalho.
Mais do que encontrar modelos que respondam por uma adequada taxa de crescimento da economia,
deverá o economista, a serviço do setor público, ter clara noção de que o crescimento econômico, para ser
solidificado e produzir frutos, deverá ser transformado em desenvolvimento.

Para tanto, o economista moderno obrigatoriamente necessitará ter uma visão ampla do processo social,
visto que desenvolvimento econômico, no dicionário da profissão, significa qualidade de vida, significa
ainda bem-estar a todos.

Combinando compreensão teórica com explicação técnico-didática, esse profissional somente estará apto
a exercer sua profissão à medida que conseguir explicar os fatos econômicos dos tempos atuais com o
rigor de excelência que se espera daquelas que tratam a profissão com esmero. E somente conseguirá
fazer isso, mediante uma visão panorâmica do ambiente econômico, estando, nesse pormenor, aberto ao
processo de criação, uma vez que a sociedade é algo que os homens não param de refazer.

Diante, portanto, de uma sociedade e de sistemas econômicos (incluindo a atividade econômica) que
estão longe de ser estáticos (pois suas naturezas são dinâmicas), o economista moderno deve antes ser um
analista social capaz de aferir com extrema sensibilidade as manifestações daqueles que almejam
construir uma sociedade plural.

Cabe insistir, nesse pormenor, que em sociedades com agudos desequilíbrios sociais, o primeiro
compromisso da macroeconomia sempre deverá ser o de erradicar a pobreza, visto que a pluralidade em
uma sociedade somente ganhará espaço quando o coletivo sair fortalecido, embora os manuais de
introdução à economia insistam em pregar o individualismo.

Depois de erradicada a miséria e banidos os “bolsões de pobreza” que ainda marcam a ferro e fogo a
história econômica recente desse país, com a economia doméstica, aos poucos, se ajustando aos padrões
de bem-estar coletivo, pensar-se-á na criação de riquezas, como muitos entendem ser esse o real e
primeiro objetivo da economia.

Antes disso, uma longa e árdua tarefa espera pelos jovens economistas: a de fazer da economia, por meio
da cooperação, uma ferramenta capaz de incluir. Para tanto, cabe ao observador da economia entender
que essa ciência não se restringe apenas à frieza dos números, das taxas, dos índices, da econometria, da
matematização constante, mas, antes, trata-se de uma economia que tem no ser humano seu ponto focal;
afinal, como disse Marshall, a economia “é um estudo dos homens tal como vivem, agem e pensam nos
assuntos diários da vida”.
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(*) Economista e professor universitário, Mestre pela USP em Integração da América Latina e
Especialista em Política Internacional. Autor do livro “Conversando sobre Economia” (ed. Alínea).

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