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dossiê

R$14,00

P.48 estamos perto de viajar


para as estrelas cidades
6,9 milhões
EDIçÃO
300
6 milhões

c arga tributária feder al aprox. 4,65%


P. 64 crise reaproxima
artistas da política
Famílias Imóveis
sem lar vazios

P. 74 "geração bela gil"


rejeita industrializados
Há muita gente sem
ter onde morar e muitas
casas sobrando • p. 27
EDIÇÃO DIGITAL
IPAD

g a l i l e u. g l o b o . c o m selecionamos os melhores jogos de tabuleiro (para adultos) p. 24 JuL. 16

Em clubes
de elite, babás
e sócias não
podem dividir
o mesmo
espaço

o pobre tem
seu lugar
e n ão sa i d e l á p o R Q U ê ?

Sem chances iguais, não bastam talento e força de vontade. Entenda por que
a cultura da meritocracia contribui para o aumento da desigualdade

p. 36
Deixe o Edital senai sesi de
Inovação ser o segundo.

O Edital senai sesi de Inovação é o incentivo


de que muita ideia precisa para ir para frente.
Se você busca desenvolver novos produtos, processos e serviços
inovadores no âmbito industrial, agora é sua chance. Inscreva
sua ideia no Edital SENAI SESI de Inovação e obtenha apoio para
inovação tecnológica, protótipos de inovação ou soluções para saúde
e segurança do trabalhador. Com isso, os maiores vencedores são o
aumento da competitividade e da produtividade das empresas.

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e não perca a oportunidade de fazer
parte do futuro da indústria brasileira.

/senainacional /sesinacional Realização:

/senainacional /sesi
/senai_nacional
/senaibr
DIRETOR-GERAL: Frederic Zoghaib Kachar
DIRETOR DE MERCADO LEITOR: Luciano Touguinha de Castro
DIRETOR DE MERCADO ANUNCIANTE: Virginia Any COMPOSIÇÃO
JULHO 2016

ANTIMATÉRIA

P.12
DIRETORA DE GRUPO CASA E COMIDA,
CASA E JARDIM, CRESCER E GALILEU: Paula Perim
OS GASES
DE JÚPITER
EDITORA EXECUTIVA: Cristine Kist
EDITORA DE ARTE: Fernanda Didini
EDITORES: Giuliana de Toledo, Nathan Fernandes e Thiago Tanji
REPÓRTERES: André Jorge de Oliveira e Isabela Moreira
DESIGNERS: Felipe Eugênio (Feu) e João Pedro Brito
ESTAGIÁRIOS: Bruno Vaiano e Lucas Alencar (texto) e Giovana Ansoain (arte)

COLABORADORES DESTA EDIÇÃO:


Amarilis Lage, André Dib, Bruno Romani, Cartola Conteúdo, Elaine Guerini e
Marília Marasciulo (texto); Beatriz Liranço, Made by Shirô, Dulla, Estúdio Barca,
Firmorama, Marcus Penna, Michell Lot, Paula Vidal, Pedro Piccinini, Tomás

A CHINCHILA
Arthuzzi e Vinicius Valente (arte); Monique Murad Velloso (revisão).

EMAIL DA REDAÇÃO: galileu@edglobo.com.br


ASSISTENTE DE REDAÇÃO: Gabriela Nogueira

MERCADO ANUNCIANTE QUE ROEU A


MITOCÔNDRIA
...
UNIDADE DE NEGÓCIOS — PEGN, GR, AE, GALILEU
DIRETOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA: Renato Augusto Cassis Siniscalco P.16
EXECUTIVOS MULTIPLATAFORMA: Diego Fabiano, João Carlos Meyer,

LEI NÃO
Priscila Ferreira da Silva e Cristiane Soares Nogueira

UNIDADE DE NEGÓCIOS — DIGITAL


DIRETORA: Renata Simões Alves de Oliveira
EXECUTIVAS DE NEGÓCIOS DIGITAIS: Andressa Aguiar Bonfim, Giovanna Sellan
PROTEGE OCEANOS

MÃE
Perez, Lilian Ramos Jardim e Taly Czeresnia Wakrat

CONSULTORA DE MARCAS EGCN: Olivia Cipolla Bolonha P.10


...E O RATO QUE
UNIDADE DE NEGÓCIOS — ESCRITÓRIOS REGIONAIS
GERENTE MULTIPLATAFORMA: Sandra Regina de Melo Pepe
EXECUTIVOS MULTIPLATAFORMA: Lilian de Marche Noffs e Guilherme Iegawa Sugio
DOMINARÁOMUNDOP.14
UNIDADE DE NEGÓCIOS — RIO DE JANEIRO P.7

OURO PARA A
GERENTE MULTIPLATAFORMA: Rogério Pereira Ponce de Leon

ESTOUNADENTRODATV

PERSONAL JESUS
EXECUTIVOS MULTIPLATAFORMA: Andréa Manhães Muniz, Daniela Nunes
Lopes Chahim, Juliane Ribeiro Silva, Maria Cristina Machado e

TUBERCULOSE
Pedro Paulo Rios Vieira dos Santos

UNIDADE DE NEGÓCIOS — BRASÍLIA

NOTÁVEIS P.13
GERENTE MULTIPLATAFORMA: Barbara Costa Freitas Silva

NO RIO
EXECUTIVOS MULTIPLATAFORMA: Camila Amaral da Silva e
Jorge Bicalho Felix Junior
P.10
P.14
GERENTE DE EVENTOS: Daniela Valente
OPEC OFFLINE: José Soares, Carlos Roberto Alves de Sá, Douglas Vieira da Costa e
José Eduardo Oliveira Ramos

INOVAÇÃO DIGITAL
DIRETOR DE INOVAÇÃO DIGITAL: Alexandre Maron
GERENTE DE ESTRATÉGIA DE CONTEÚDO DIGITAL: Silvia Balieiro
P.15
TECNOLOGIA
DIRETOR DE TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO: Rodrigo José Gosling
GERENTE DE TECNOLOGIA DIGITAL: Carlos Eduardo Cruz Garcia
DESENVOLVEDORES: Everton Ribeiro, Fabio Alessandro Marciano, Jeferson P.18

BREVE HISTÓRIA DO A DIETA DA EXTINÇÃO


Mendonça, Leandro Paixão, Leonardo Turbiani, Marcelo Amendola, Marcio Costa,
Murilo Amendola, Victor Hugo Oliveira da Silva e William Antunes
OPEC ONLINE: Danilo Panzarini, Higor Daniel Chabes, Rodrigo Pecoschi,

CHORA, ME LIGA
Rodrigo Santana Oliveira e Thiago Previero
AUTOMAÇÃO EDITORIAL: Ewerton Paes e Ronaldo Silva do Nascimento

MERCADO LEITOR
DIRETOR DE MARKETING: Cristiano Augusto Soares Santos
GERENTE DE CRIAÇÃO: Valter Bicudo Silva Neto
GERENTE DE INTELIGÊNCIA DE MERCADO: Wilma Conceição Montilha
COORDENADOR DE MARKETING: Eduardo Roccato Almeida
ANALISTA DE MARKETING: Aline Nammur Carrijo

UM ROLÊ PARA MARTE


GERENTE DE OPERAÇÕES E PLANEJAMENTO DE ASSINATURAS: Ednei Zampese
GERENTE DE VENDAS DE ASSINATURAS: Reginaldo Moreira da Silva
P.20
NAS FÉRIAS?
GALILEU é uma publicação da EDITORA GLOBO S.A. — Av. Nove de Julho, 5.229, 8º andar,
CEP 01406-200, São Paulo/SP. Tel. (11) 3767-7000. Distribuidor exclusivo para todo o Brasil:
Dinap — Distribuidora Nacional de Publicações. Impressão: Plural Indústria Gráfica Ltda. Av. Marcos
Penteado de Ulhoa Rodrigues, 700, Tamboré, Santana de Parnaíba/SP, CEP 06543-001.
DENTRO DA CAIXA JOGOS DE TABULEIRO

24
ATENDIMENTO AO ASSINANTE
P.
Disponível de segunda a sexta-feira, das 8 às 21 horas; sábados, das 8 às 15 horas.
INTERNET: www.sacglobo.com.br
SÃO PAULO: (11) 3362-2000
DEMAIS LOCALIDADES: 4003-9393*
FAX: (11) 3766-3755
*Custo de ligação local. Serviço não disponível em todo o Brasil. DOSSIÊ CIDADES P. 27
Para saber da disponibilidade do serviço em sua cidade, consulte sua operadora local.

PARA ANUNCIAR LIGUE: SP: (11) 3767-7700/3767-7500


RJ: (21) 3380-5924 E-MAIL: publigalileu@edglobo.com.br
PARA SE CORRESPONDER COM A REDAÇÃO: endereçar cartas ao Diretor de redação, PANORÂMICA P.80
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GALILEU reserva-se o direito de selecioná-las e resumi-las para publicação.
EDIÇÕES ANTERIORES: o pedido será atendido por meio do jornaleiro pelo preço da
edição atual, desde que haja disponibilidade de estoque.
Faça seu pedido na banca mais próxima.

O Bureau Veritas Certification, com base nos processos e procedimentos descritos no seu
Relatório de Verificação, adotando um nível de confiança razoável, declara que o Inventário
de Gases de Efeito Estufa — Ano 2012 da Editora Globo S.A. é preciso, confiável e livre de
ELE-
P. 26

erro ou distorção e é uma representação equitativa dos dados e informações de GEE sobre
o período de referência para o escopo definido; foi elaborado em conformidade com a MEN-
NBR ISO 14064-1:2007 e as Especificações do Programa Brasileiro GHG Protocol.
TAR
CURTO-
-CIRCUITO P.79
CON-
POR NATHAN FERNANDES
POR NATHAN FERNANDES
SE- Edição junho/2016

LHO AVALIAÇÃO
Neste mês, a segunda temporada do nosso
Conselho se debruçou sobre a edição de
SENSACIONAL junho e concedeu suas primeiras impressões

O QUE VOCÊ ACHOU DA O QUE VOCÊ ACHOU


MATÉRIA DE CAPA? MÉDIAS DAS MATÉRIAS DA SEÇÃO ELEMENTAR
SOBRE CHEETOS?

9,6 8,5 9,5 8,9 8,3

1 2
1. Essa matéria foi sensacional! 1 2
90% 1. Gostei tanto quanto da
minha coleção de tazos.
2. Não quero comentar.
10% 60%
2. Não quero comentar.

O QUE VOCÊ ACHOU DA 40%


REPORTAGEM SOBRE
O ARQUIVO PÚBLICO, O QUE VOCÊ ACHOU DO
DO ANTIMATÉRIA? PAPO CABEÇA COM A
DIRETORA DO HAPPN?

Dossiê Sudão Vida Papo Cabeça:


1 2 3 Capa
Internet do Sul Extraterrestre Happn
1. Gostei e estou em choque 1 2 3
com os números. 1. Um amor de conversa.
70% Sudão 60%
Capa Happn
2. Não gostei, muito burocrática. do Sul 2. Não deu em nada, assim como
20% minha experiência no app.

3. Não quero comentar.


10%
“Texto ótimo, só “Deveriam produzir “Já usei apps do
10% senti falta de uma sempre textos tipo algumas
3. Não quero comentar.

abordagem mais assim. A matéria é vezes. Já deu certo


30%
O QUE VOCÊ ACHOU crítica em relação à de uma sensibili- e já deu errado. A
DA SEÇÃO DENTRO/ mídia. A arte foi uma dade incrível e as matéria me ajudou O QUE VOCÊ ACHOU DA
FORA DA CAIXA? das mais belas que já fotos deram um muito a refletir MATÉRIA SOBRE VIDA
vi em uma revista.” nó na garganta.” sobre o assunto.” EXTRATERRESTRE?
Antonio Jr., Thyago Nogueira, Jean França,
Matão, SP Fortaleza, CE Maceió, AL

Errar é humano

1 2 3 Ao contrário do afirmado no subtítulo matéria, por armazenar e conservar


da reportagem Cidades de Papel (pág. mais de 30 quilômetros lineares de
1. Gostei, minhas 1 2 3
7, edição 299), não são cerca de 80% documentação valiosa para a história
paredes agradecem.
dos documentos guardados no Arqui- brasileira, além de prestar auxílio aos 1. Não sei se gostei mais
50% do texto ou da ilustra.
vo Público do Estado de São Paulo demais órgãos públicos de São Pau-
2. Não gostei. Faltou assunto?
(Apesp) que poderiam ser eliminados lo na eliminação de papéis antigos
50%
20% sem prejuízo histórico ou legal; são que não possuam mais serventia. A 2. Não gostei, só especulação.
3. Não quero comentar. 80% dos documentos guardados alteração foi resultado de um erro de 40%
30% pelo estado de São Paulo. O Apesp edição e pedimos desculpas ao Apesp 3. Não quero comentar.
é responsável, conforme descrito na e aos leitores pelo equívoco. 10%

06
07.2016 Pg. 07

ANTI-
EDIÇÃO THIAGO TANJI

MATÉ-
RIA

Fig. 01 -(FR)

DE VOLTA Após fracassar na década de 1990, projetos de


realidade virtual são retomados pelas grandes
AO FUTURO empresas de tecnologia — POR BRUNO ROMANI

07.2016
ILUSTRADORES CONVIDADOS

DESIGN FEU
1 FIRMORAMA (FR)
2 MICHELL LOTT (ML)
3 PEDRO PICCININI (PP)
ESSEEOFU
Pg. 08 07.2016

TRATAMENTO PSICOLÓGICO
A realidade virtual já é aplicada no
tratamento de distúrbios de ansiedade,
fobias e estresse pós-traumático. A ideia
é colocar o paciente em situações virtuais
de medo ou desconforto para que ele
aprenda a superar esses problemas.

ATIVIDADE MILITAR EXPLORAÇÃO ESPACIAL


O exército da Noruega testa um A Nasa e a Microsoft desenvolveram uma
dispositivo de realidade virtual para ferramenta que permite a exploração
auxiliar em operações com tanques de Marte em ambiente virtual.
de guerra: câmeras acopladas à parte Com a tecnologia, cientistas fazem
externa do veículo exibem imagens em recomendações de percursos para o robô
360 graus nos visores dos motoristas Curiosity, que está explorando o planeta.

“Dos laboratórios para a sua


casa, isso é a realidade virtual.”
Já há alguns anos, o desenvolvimento de recursos
capazes de levar o usuário à imersão virtual em um
cenário de 360 graus ressurgiu das cinzas por conta
Com uma camisa colorida de gosto duvidoso ajeitada de aprimoramentos técnicos e voltou a fazer parte
dentro da calça e sapatos mocassim, o VJ da MTV nor- dos projetos das principais empresas de tecnologia.
te-americana Alan Hunter apresentava a inovação para Nos últimos meses, porém, o assunto foi tema de dez
os fãs de videogames durante o Consumer Electronics entre dez conferências no Vale do Silício. Em maio
Show (CES) de 1993. Criado pela empresa japonesa deste ano, por exemplo, a realidade virtual ganhou
Sega, o dispositivo de realidade virtual em questão espaço de destaque entre os projetos apresentados
era equipado com uma tela LCD e fones de ouvido no Google I/O, principal evento da companhia para
que permitiam aos jogadores experimentar em três di- divulgação de novas tecnologias. Durante o encontro,
mensões os games do console Mega Drive. O produto, a empresa divulgou o Daydream, plataforma cons- VER PARA CRER
no entanto, nem chegou a ser comercializado: durante truída de forma integrada com o sistema operacional
os testes, constantes queixas de dores de cabeça dos Android que possibilitará aos fabricantes de smart- Da medicina à
indústria bélica,
usuários e dúvidas em relação à aplicabilidade do dis- phones produzir conteúdos de realidade virtual para cientistas e
positivo enterraram o projeto. Assim como as camisas seus produtos. O Google também anunciou parcerias empreendedores
com estampas coloridas, a MTV e os games da Sega, a com as desenvolvedoras de games Electronic Arts e já aplicam a
realidade virtual
realidade virtual parecia estar relegada à memória afe- Ubisoft para a produção de títulos com recursos de em diferentes
tiva daqueles que viveram os anos 1990. Até agora. realidade virtual nos dispositivos móveis. tipos de projetos
UTURO.
07.2016 Pg. 09

eventos públicos. Com ela, você tem uma experiên-


cia muito mais rica do que se estivesse no local”,
diz com otimismo Rafael Steinhauser, presidente da
Qualcomm na América Latina, responsável pelo de-
CAUSAS SOCIAIS senvolvimento de processadores para dispositivos.
O projeto iAnimal exibe o sofrimento de
animais em abatedouros. Já o The Machine Uma das indústrias ameaçadas é o cinema: afi-
to Be Another, da universidade espanhola
de Pompeu, ensina sobre igualdade de nal, sendo possível frequentar cinemas virtuais, por
gêneros ao propor uma “troca de corpos”
virtual entre homens e mulheres. que alguém iria até o espaço físico? “A tendência é
que o conteúdo de realidade virtual afaste o públi-
co das salas de cinema, a não ser que elas ofereçam
essas mesmas experiências”, destaca Fábio Hofnik,
curador da BRVR, conferência sobre realidade virtual
que acontecerá neste mês de julho na cidade de São
Paulo. “Você terá o próprio cinema em casa.” Serviços
básicos, como educação, também seriam modifica-
dos. “Os estudantes serão colocados em ambientes
simulados e poderão interagir com situações diver-
sas”, diz Renato Citrini, gerente sênior de produto da
divisão de dispositivos móveis da Samsung Brasil.
A convivência com os colegas, importante para o
EDUCAÇÃO
O projeto Lecture VR proporciona o aprendizado, já está sendo levada em conta pelos
aprendizado de conteúdos de Biologia,
História e até Matemática em ambientes desenvolvedores. “A indústria tem percebido que as
virtuais. É possível visualizar células ou
bater um papo com Albert Einstein sobre experiências são muito reservadas, e existe a preo-
o estudo da teoria da relatividade.
cupação de trazer elementos sociais para a realidade
virtual”, diz Tiago Moraes, fundador da Ovni Studios,
desenvolvedora de conteúdo em realidade virtual.
Mas um dos mercados mais promissores para os
entusiastas da realidade virtual é justamente o dos
videogames, o mesmo que virou as costas para a
tecnologia no passado. Em março, a Sony divulgou
o lançamento do PlayStation VR, visor com tela de
LCD e sensor de movimentos capaz de exibir ima-
gens com alto detalhamento — especialistas afirmam
Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, é outro que a sensação de náusea é rara mesmo quando são
que aposta alto nesse mercado. Em 2014, ele pagou mostradas cenas em alta velocidade. Com lança-
US$ 2 bilhões pela Oculus, empresa fundada pelo mento previsto para outubro deste ano, o produto
norte-americano Palmer Luckey responsável pela fa- custará US$ 400 e terá suporte para alguns jogos
bricação do equipamento de realidade virtual Oculus do PlayStation 4, como Final Fantasy XIV e Gran
Rift. No começo do ano, no Mobile World Congress, Turismo. Agora, para que a redenção dos anos 90
uma foto de um sorridente Zuckerberg caminhan- esteja completa, só falta mesmo a volta da MTV.
do entre centenas de pes-
soas que utilizavam um visor
de realidade em três dimen-
sões não deixava dúvidas do JOGATINA VIRTUAL, EXPERIÊNCIA REAL
Empresas prometem imersão total de jogadores na nova geração de games
potencial econômico desse
recurso — de acordo com a
consultoria de investimentos OCULUS RIFT
Digi-Capital, os mercados de Pioneiro entre os óculos de realidade virtual da nova geração, o
equipamento conta com um catálogo de games de diferentes es-
realidade virtual e de realidade tilos, como terror e simuladores de voo. A qualidade gráfica dos
aumentada somarão receitas jogos melhorou substancialmente nos últimos lançamentos.
de US$ 120 bilhões até 2020.
Esse lucro todo viria da mi-
PLAYSTATION VR
gração de determinados tipos Com lançamento previsto para outubro deste ano, o
de negócio, como shows e jo- dispositivo desenvolvido pela Sony permitirá que games
gos de futebol, para o ambien- famosos, como Final Fantasy, tenham uma versão capaz
de ambientar os jogadores em um cenário de 360 graus.
te digital. “A realidade virtual
acabará com os estádios e
Ícones: Estúdio barca
11MIL
Pg. 10 07.2016

ANOS
É A IDADE DE QUASE 3 MIL VESTÍGIOS
arqueológicos encontrados em São Manuel, no
interior de São Paulo. Os itens, utilizados por povos
pré-colombianos, são todos de pedra lascada

FIG. 02 -ML

EM BUSCA DA
MITOCÔNDRIA
Micróbio que vive na barriga de
chinchilas desafia as leis da Biologia
POR ANDRÉ JORGE DE OLIVEIRA

POR QUE O ZIKA NÃO CIENTISTAS ANALISARAM o genoma do Mono-


É O ÚNICO PROBLEMA cercomonoides sp, micro-organismo que vive na
flora intestinal das chinchilas, e notaram a au-
Longe dos holofotes internacionais, doenças como a sência da mitocôndria. Se isso não parece grande
tuberculose ainda afetam moradores das áreas mais coisa, é melhor relembrar as aulas de Biologia:
pobres do Rio de Janeiro às vésperas dos Jogos Olímpicos responsáveis pela respiração e produção de ener-
gia, as mitocôndrias tinham presença considera-
da obrigatória entre as células complexas, como
aquelas que formam o Monocercomonoides sp.
NO FINAL DE MAIO, 150 cientis- Mas essa não deveria ser a única
Os pesquisadores acreditam que, para suprir
tas de diferentes instituições estran- preocupação com relação a doen-
a falta da mitocôndria, o micro-organismo toma
geiras enviaram uma carta aberta ças. Segundo dados divulgados pelo
emprestado de bactérias certos genes que de-
à Organização Mundial de Saúde Ministério da Saúde, o Rio de Janeiro
sempenham a mesma função e vivem na barriga
(OMS) requisitando adiamento ou apresenta a maior taxa de mortalida-
das chinchilas. “É uma prova de que a vida é mais
transferência da Olimpíada por con- de por tuberculose entre as capitais
flexível do que esperávamos”, afirma a bióloga
ta do surto de casos do zika vírus — brasileiras. Em 2014, o índice foi de
evolutiva Anna Karnkowska, da Universidade
de acordo com o documento, há risco 6,9 mortes por 100 mil habitantes.
da Colúmbia Britânica, que liderou o estudo.
de expansão da doença para outros A doença, considerada um problema
lugares por conta dos milhares de tu- de saúde pública do século 19, está
ristas que visitarão o Rio de Janeiro presente principalmente nas áreas
durante o evento esportivo. Em res- mais pobres: a favela da Rocinha
posta, o Ministério da Saúde afirmou registra uma taxa de incidência de
que a Olimpíada será disputada em 372 casos por 100 mil habitantes,
uma época de baixa transmissão de índice 11 vezes maior que a média
doenças causadas pelo Aedes aegypti. brasileira. Disseminada em locais
Entre janeiro de 2015 e fevereiro de com baixa infraestrutura sanitária,
2016, foram registrados 261 casos de a tuberculose afeta em média 70 mil
bebês com microcefalia no estado do pessoas por ano no Brasil. De acor-
Rio de Janeiro — essa condição neu- do com a OMS, o país está entre as
rológica, que impede o crescimento 22 nações que concentram 80% dos
do cérebro, teria relação com o zika. casos da doença no mundo.
07.2016 Pg. 11

limentos cultivados com sementes

A geneticamente modificadas são se-


guros para consumo, mas não se
pode afirmar que esses cultivos
cumpram a promessa de aumentar a produtivi-
dade das lavouras. Essas são as principais con-
clusões de um relatório de mais de 400 pági-
nas apresentado recentemente pela Academia
Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina
dos Estados Unidos. O comitê analisou mais
de mil estudos já feitos em todo o mundo.
“O relatório mostra uma visão favorável aos
transgênicos, o que não é surpreendente, por-
que vários membros têm ligação com empre-
sas como a Monsanto [maior fabricante de se-
mentes geneticamente modificadas do planeta]”,
diz Rubens Nodari, professor da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC). Em maio,
a Bayer, gigante alemã da fabricação de produ-
tos químicos, fez oferta de US$ 62 bilhões para
compra da Monsanto. A proposta foi recusada,
mas a companhia se diz aberta a negociações.
O Brasil é o segundo país que mais produz trans-
gênicos, atrás dos Estados Unidos no ranking
mundial. “Entre 2000 e 2013, o Brasil mais que
dobrou a quantidade de consumo de pesticidas
FIG. 03 -PP
— e a área plantada aumentou só

A ETERNA BRIGA DO TRANSGÊNICO


cerca de 20%”, destaca Nodari, ci-
tando dados do IBGE e do Ibama.
“Há aumento de plantas resistentes
aos produtos, qualquer geneticista

Relatório sobre segurança de sementes geneticamente


sabe da seleção natural. E as em-
presas ganham mais com o pesti-
modificadas ainda gera contradições — POR GIULIANA DE TOLEDO cida do que com as sementes.”

MADEIRA DE LEI?

80%
da extração de madeira no Brasil
é ilegal ou desrespeita regras
ambientais, de acordo com estudo
da Fundação Getúlio Vargas (FGV)

DICAS DEPOIS DE CAMINHAR assim como tigres domados maus-tratos às faunas locais.

DE MAUS-
por dois quilômetros sob sol e chicoteados para que se- Os administradores do servi-
forte, com calor de 40°C, jam tiradas fotografias com ço recusaram o pedido, afir-

TRATOS
um elefante no Camboja pessoas na Tailândia e tu- mando que elencavam dife-
teve um ataque cardíaco barões presos em pequenas rentes atrações em seu site e
e morreu. O caso ganhou jaulas submersas para apre- não apoiavam atividades des-
destaque internacional por ciação humana no Caribe. se gênero. A justificativa não
Ativistas criticam o conta das circunstâncias Para combater o prolema, a foi convincente. A WAP or-
da fatalidade: o animal, de organização britânica World ganizou um abaixo-assinado
serviço TripAdvisor 40 anos, era obrigado a ser- Animal Protection (WAP) re- digital e conseguiu mais de
por exibir atrações vir como transporte a turis- quisitou que o TripAdvisor, 250 mil pessoas que apoia-
turísticas que realizam a tas que visitam templos re- maior serviço virtual de via- ram a causa — até agora, o
ligiosos cambojanos. Casos gens do mundo, deixasse de TripAdvisor não se posicio-
exploração de animais como esse não são raridade, listar atrações que incluíssem nou sobre a iniciativa.

Ícones: Estúdio barca


Pg. 12 07.2016

lu-
Por andré jorge de oliveira

o poder de juno
ne- sonda da nasa chega a JúPiter Para desvendar os Mistérios
ta escondidos eMbaixo da caMada de nUvens do gigante gasoso

NA MITOLOGIA ROMANA, quando a deusa da nasa


o deus Júpiter fazia coisas erradas, Conheça as funções de cada instrumento ciência da gravidade (gs) MagnetôMetros (M)
criava uma camada de nuvens para
se esconder. Mas sua esposa, Juno, MWR JeDI, JADe e WAVeS
Analisar a Mapear campos
tinha o poder de enxergá-lo. Ago- atmosfera elétricos, ondas de instrUMento de ondas
para medir a plasma e partículas de PLasMa (Waves)
ra, uma xará robótica da deusa quantidade de para determinar como
água e oxigênio o campo magnético
fará a mesma coisa: lançada pela se relaciona com a
atmosfera do planeta
Nasa há quase cinco anos, a son-
da carregou instrumentos avan- radiôMetro de
çados (veja ao lado) por mais de Micro-ondas (MWr)

2,8 bilhões de quilômetros para exPeriMento de distribUições


de aUroras JUPterianas (Jade)
mapear a atmosfera e a estrutura
de Júpiter, investigando como o
campo magnético e a gravidade instrUMento detector de
PartícULas energéticas
do gigante gasoso interferem em de JúPiter (Jedi)
suas propriedades. Um dos mis-
térios jupiterianos é o da Grande
Mancha Vermelha, tempestade
MaPeador infraverMeLho de
que dura séculos e vem encolhen- aUroras JUPterianas (JiraM)
do nas últimas décadas. A sonda UVS e JIRAM GS e M JUNOCAM
Fotografar Estudar a Produzir
também pretende responder se a atmosfera estrutura imagens esPectrógrafo
de Júpiter profunda coloridas em ULtravioLeta (Uvs)
Júpiter tem um núcleo sólido. com câmeras do planeta alta resolução
ultravioleta e
infravermelha
para identificar
a composição
dos gases

AGENDA fig. 4 -pp


Jul. 2016
d s t q q s s

- - - - - 1 2

3 4 5 6 7 8 9
Invasão vIkIng em marte
10 11 12 13 14 15 16
após primeiro pouso bem-sucedido no Planeta vermelho,
há 40 anos, muitas sondas e veículos motorizados passearam por lá
17 18 19 20 21 22 23

24 25 26 27 28 29 30

31 - - - - - -

9
a Lua encontra o 1971 1973 1976 1997
pLaneta Júpiter
o corpo celeste poderá ser
visto no céu próximo à Lua.
Quando escurecer, olhe na
direção noroeste: a dupla
permanecerá ali até por mARS Vi (uRSS) m Vi Viking ii (EuA) V ii
volta de 21 horas, quando SoJouRnER (EuA)
vai se pôr no horizonte. mARS iii (uRSS) m iii Viking i (EuA) V i mARS pAthfindER mp
S

28
Meteoros
eM aQuário 2020
Lander
pico de chuva de meteoros Sonda que faz um pouso suave
e permanece imóvel no planeta
causada por fragmentos do
cometa 96p Machholz — até
20 meteoros por hora podem rover
aparecer nos céus. procure Veículo de exploração que se desloca
pela superfície do corpo celeste
pela constelação de aquário. mARS ii (uRSS) m ii
ExomARS (EuRopA) Ex

Ícones: Estúdio barca


07.2016 Pg. 13

astronomia
tal da Hungria, onde atua como pesquisador na
Universidade Eötvös Loránd. “Chamamos

globalizada
pessoas de diferentes posições acadêmi-

notáveis
cas para participar. Ficamos na mesma casa
trabalhando, e nos divertimos juntos.”
Em abril, Souza e quatro outros acadêmicos
Brasileiro cria rede para ganharam destaque da Associação Internacio-
desenvolvimento de pesquisas nal de Astroestatística por desenvolverem uma
Por isabela moreira pesquisa sobre grupos de estrelas que surgiram
no início da formação da nossa galáxia e que
par a o astrônomo Rafael Souza, uma podem fornecer algumas ex-
reunião de cientistas não é sinônimo de con- NoMe plicações sobre a sua origem.
Rafael Souza
gressos chatos: ele é o criador da Iniciativa Na área da astroestatística,
de Astroestatística, projeto que, durante país os pesquisadores utilizam
Brasil
uma semana, reúne cientistas de diferentes inteligência artificial para
Idade
países para desenvolver trabalhos de astro- 36 anos lidar com dados de astrono-
nomia em uma casa compartilhada — desde profIssão mia. “Existem fenômenos que
estudantes até acadêmicos com vasta expe- Astrônomo ocorrem ao mesmo tempo no
riência participam da atividade. “Quando você feIto espaço e, com a estatística,
Desenvolveu
é uma pessoa nova no meio, nem sempre tem um novo conseguimos separá-los. Uma
modelo de
acesso às pesquisas da sua área”, diz o astrôno- trabalho para técnica convencional não se-
cientistas
mo, que atualmente reside em Budapeste, capi- ria capaz de lidar com isso.”
fig. 5 -ml

localização das sondas no planeta vermelho


A primEirA
cANDiDAtA Et
pm Hillary Clinton diz que revelará
V ii “arquivos X” desejados por ufólogos

Vi
mp
b ii
A PROVÁVEL CANDIDATA do Partido Demo-
Marte
o
Marte c
crata para a disputa à Presidência dos Estados
Sp Unidos afirma que, se chegar ao comando da
Casa Branca, tornará públicos documentos so-
m Vi
bre a Área 51. Para ufólogos, a base da Força
m ii
m iii
dS
Aérea no estado norte-americano de Nevada
mpo esconderia naves e corpos de extraterrestres.
A simpatia de Hillary Clinton por estudos sobre
vida inteligente fora da Terra já lhe rendeu o
apelido de “a candidata ET”. “Há muitas histó-
rias por aí, não acho que todo mundo esteja
1999 2003 2004
sentado em suas cozinhas inventando isso”, já
disse, em entrevista, sobre óvnis. “Quero ver
o que as informações apontam”, declarou ela,
que já falou publicamente de seu sonho de ser
astronauta quando criança. Ainda mais entu-
mARS polAR mpo SpiRit (EuA) Sp siasta da causa é John Podesta, coordenador
dEEp SpAcE ii (EuA) dS
bEAglE ii uk b ii oppoRtunity (EuA) o de sua campanha, notório fã da série Arquivo X.
Ativista na busca de transparência do gover-
2020 2012 2008 no em relação ao tema, ele classificou de
“fracasso” não alcançar avanços enquanto
trabalhou na gestão de Barack Obama.

luneta live
mARS 2020 m phoEnix mARS (EuA) pm
AS notÍciAS ESPAciAiS dA SEMAnA coMEntAdAS todAS AS
mARS SciEncE lAboRAtoRy c SExtAS-FEirAS, àS 16 horAS, EM noSSA PáginA no FAcEbook
[cuRioSity] (EuA)
Pg. 14 07.2016

MILAGRE ENGARRAFADO FIG. 6 -FR

Empresa norte-americana promete transformar água


em vinho (dos bons) por meio de reações químicas
feitas em laboratório — POR GIULIANA DE TOLEDO
SEM
DÚVIDA
questão não é de branco italiano. “Analisamos

A fé, mas de ciência: os perfis moleculares para sa-


a startup califor-
niana Ava Winery
ber todos os componentes
presentes, então combina- POR QUE PERCO A FOME
afirma que é possível transfor-
mar água em um vinho requin-
tado em apenas 15 minutos —
mos cada um deles na propor-
ção correta”, diz Alec Lee, um
dos fundadores da startup,
DEPOIS DE ME ALIMENTAR?
Vinícius Silveira, via Facebook
e sem utilizar nenhuma uva. que aguarda autorização legal
Sabe aquela sen- ção desse hormônio, o que
Previsto para o final do ano, para comercializar o produto. R: sação de querer leva à saciedade. “Outro
o primeiro produto da empre- Copiar vinhos famosos também comer tudo o fator que contribui é a dis-
sa será uma réplica do cham- é a missão da empresa Replica que vê pela frente após tensão gástrica, que acon-
um longo período sem se tece quando o alimento se
panhe Dom Pérignon da safra Wine, que utiliza uvas fermen- alimentar? O responsável acomoda no estômago”,
de 1992, a US$ 50 (cerca de tadas e outros ingredientes para por isso é um hormônio afirma Fernanda Corrêa,
R$ 170). O original, francês, imitar o gosto e o aroma de chamado grelina, liberado professora de Nutrição
em condições de jejum e da Universidade Anhembi
não sai por menos de US$ 200 rótulos tradicionais — o preço que age no cérebro para Morumbi. Portanto, basta
(R$ 680). O próximo rótulo será dessa versão é até 50% mais ativar a sensação de fome. culpar a grelina quando
um Moscato d’Asti, um vinho barato em relação ao original. Depois das refeições, há reclamam que você é um
uma diminuição na libera- legítimo saco sem fundo...

A VINGANÇA NÃO HÁ ROEDOR QUE AGUENTE: depois de viver du- Ao investigar o acontecimento, os cientistas desco-

DOS RATINHOS rante anos como objeto de testes de laboratório, uma


linhagem de ratos conhecida como B6 se rebelou contra
briram que a anomalia foi originada na Envigo, empresa
que vendeu cobaias para laboratórios da Ásia (Israel, por
Após sofrerem sucessivas alterações ge- os cientistas. O instituto norte-americano Ragon, do MIT exemplo), da América do Norte e da Europa. Ocorre que,
néticas, animais testados em laborató- e da Universidade de Harvard, anunciou a descoberta como os B6 são amplamente utilizados, é provável que
rio apresentam mutações não esperadas, de uma mutação não programada nesses ratinhos, que os resultados de pesquisas realizadas nos últimos anos
prejudicando pesquisas científicas são desenvolvidos em laboratórios nos Estados Unidos tenham sofrido distorções. A Envigo já foi comunicada e
e no Japão. De acordo com os pesquisadores, em vez de afirma que fará o possível para contatar os clientes que
apresentar mudanças no cromossomo 9 de um gene, os usaram os animais. Resta saber se os ratinhos continua-
POR ISABELA MOREIRA animais sofriam alterações no cromossomo 11. rão em greve genética contra essas pesquisas.
07.2016 Pg. 15

168MILHÕES OPS...
RANGO de crianças no mundo PORQUE O ERRO É PAI DO ACERTO

NEANDERTAL
são submetidas a
trabalho infantil
Dieta paleolítica contribuiu para o
desaparecimento dos hominídeos Trabalham no VIDRO
SEGURO
setor agrícola
POR ANDRÉ JORGE DE OLIVEIRA
Em 1903, o químico
Trabalham em francês Edouard
mineração, Benedictus trabalha-
COMPOSTA DE CARNES, vegetais e frutas, a
indústria e turismo va em seu laboratório
dieta paleolítica também estava na moda há quando um frasco de
300 mil anos. Mas não era recomendação de vidro caiu e se que-
um blogueiro fitness da época: esse tipo de brou. Curiosamente,
69 MILHÕES
o objeto não ficou
alimentação era a única alternativa para os estilhaçado em peda-
homens neandertais obterem energia — a cinhos — o cientista
espécie, que coexistiu com o Homo sapiens, notou que o frasco
era revestido de um
vivia da caça e da coleta em regiões frias e de 99 MILHÕES composto plástico.
vegetação escassa na Europa e na Ásia. Para Com a descoberta,
Miki Ben-Dor, arqueólogo da Universidade de foi possível desenvol-
ver equipamentos de
Tel-Aviv, a dieta ajuda a explicar a extinção vidro mais seguros,
desses hominídeos, há cerca de 29 mil anos: como os utilizados
eventos naturais, como o fim dos mamutes, nos para-brisas dos
automóveis.
provocaram a falta de animais mais parrudos
para a caça, o que obrigou os neandertais a
se alimentarem de animais magricelas, com
menor oferta de nutrientes. “O que os matou MARCA-
foi a diminuição de grandes animais que os su- PASSO
O engenheiro nor-
priam com gordura farta durante os invernos te-americano Wilson
da era do gelo, quando a disponibilidade de Greatbatch trabalhava
carboidratos era curta”, diz Ben-Dor. na construção de um
equipamento eletrôni-
co para gravar sons do
coração quando errou
a montagem do dispo-
sitivo. Ele percebeu,
então, que o aparelho
emitia um pulso
elétrico e poderia
auxiliar no monitora-
mento do coração: em
1958, após dois anos
de testes, ele realizou
uma demonstração do
produto com sucesso.

PICOLÉ
Um garoto desleixado
ou um visionário? Em
1905, o norte-ameri-
cano Frank Epperson,
de 11 anos, misturou
água e suco em pó e
deixou o composto
na varanda de sua
casa, com um palito
dentro. Fez muito
frio na madrugada, e,
no dia seguinte, ele
encontrou um pedaço
de gelo com sabor. A
criança teve o mérito
da patentear essa
invenção e vendê-la
anos depois para uma
empresa de sorvetes.
FIG. 7 -ML
17.583
Pg. 16 07.2016

AQUI É OPEN MAR


A Amazônia e o mar brasileiro apresentam áreas
parecidas, mas suas zonas de preservação são distintas
POR ANDRÉ JORGE DE OLIVEIRA
GRÁFICO
CARTO-

A FLORESTA E O MAR são mais processos ecológicos desses


parecidos do que aparentam, mas ambientes são muito semelhantes.
ninguém parece se importar com “Não faz sentido que essas áreas
isso, já que a Amazônia possui quase tenham níveis de conservação
o dobro de unidades de conservação diferentes”, afirma. Conforme
(UC) em relação ao mar brasileiro. sua pesquisa, 99,95% da faixa
De acordo com Mauro Maida, oceânica nacional não conta
oceanologista da Universidade com qualquer tipo de proteção,
Federal de Pernambuco, os podendo ser totalmente explorada. Disque-Denúncia Nacional

UCS DE CONSERVAÇÃO NA AMAZÔNIA


Monte Roraima
Maracá RR
Montanhas do Tumucumaque
Caracaraí

Pico da Neblina Niquiá


Viruá AP
Lago Piratuba
FOI O NÚMERO DE DENÚNCIAS DE
Rio Trombetas
Jari VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS
Juami-Japurá Jaú Uatumã E ADOLESCENTES EM 2015
AM Anavilhanas
Jutaí-Solimões Amazônia Gurupi
Terra do Meio
Abufari Alto Maués
Tapirapé MA
Nascentes do Lago Jari Acari
Jamanxim Serra do Pardo
Manicoré
Serra do Divisor Rio Novo
Cuniã PA
Mapinguari
Juruena Nascentes da Serra do Cachimbo
Jaru
AC
Pacaás Novos TO
Rio Acre Serra da Cutia
MT
Guaporé

ÁREA DA AMAZÔNIA LEGAL: 5 MILHÕES DE KM2 GO

UCS DE CONSERVAÇÃO NO MAR


Cabo Orange
Maracá-Jipioca
AP

Lençóis Maranhenses Atol das Rochas

AM Jericoacoara
CE Fernando de Noronha
MA
RN

PA PB
PI PE

TO AL
SE Santa Isabel
BA
MT

GO
Abrolhos PROTEÇÃO DESIGUAL
MG
Comboios Esse quadradinho
MS Santa Cruz representa a soma da
área de todas as unidades
Guanabara de proteção integral do
Tupinambás Ilhas Cagarras mar brasileiro: somente
Tupiniquins Restinga de Jurubatiba 0,05% do nosso oceano
conta com algum tipo
Guaraqueçaba de lei de preservação
Superagui
SC
Marinha do Arvoredo
Ilha dos Lobos
ESEC: Estação Ecológica
RS
MONA: Monumento Natural
Lagoa do Peixe
Taim PARNA: Parque Nacional
REBIO: Reserva Biológica
ÁREA DA ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA (MAR): 4,4 MILHÕES DE KM2 REVIS: Refúgio de Vida Silvestre

FIG. 9 -PP

FONTE: ICMBio (unidades de proteção integral)


07.2016 Pg. 17

NADA governo Lula e no primeiro governo Dilma


houve uma sinergia entre o Itamaraty, o
A TEMER Ministério da Defesa e o Ministério da
Projetos estratégicos para Ciência e Tecnologia para a revitalização
defesa passarão por mudanças da indústria de defesa”, diz David Maga-
com governo federal interino lhães, professor de Relações Internacio-
POR THIAGO TANJI nais da Universidade Anhembi Morumbi
e da Faap. “E esse governo interino, que
EM DISCURSO após assumir o cargo de pode ser o definitivo, não tende a realizar
ministro provisório das Relações Exterio- o mesmo engajamento nesses projetos
res, José Serra (PSDB) afirmou que prio- estratégicos.” Entre essas iniciativas da
rizaria os acordos econômicos com outros indústria de defesa nacional, o professor
países, deixando de lado políticas com “fins cita a produção do avião militar Super Tu-
publicitários” — em referência à atuação cano, fabricado pela Embraer e exportado
mais ativa da diplomacia brasileira nos úl- para países como Colômbia, Indonésia e
timos anos, como a requisição para obter Estados Unidos com apoio diplomático do
uma cadeira fixa no Conselho de Seguran- governo brasileiro. Para o especialista, no
ça das Nações Unidas. Se a afirmação de entanto, convicções ideológicas não afeta-
Serra agradou a setores empresariais, a rão as relações da indústria bélica nacional.
iniciativa de colocar a geopolítica em se- “Esse é um setor dependente dos Estados
gundo plano despertou a preocupação de Unidos e da Europa, e o ministro pretende
que os projetos de militares sofram com estreitar as relações nessas regiões.” FIG. 8 -ML

o corte de investimentos, afetando tam-


bém o Ministério da Defesa. “No segundo

SUJEITO HOMEM?
Pesquisa realizada em comunidades do Rio de
“MUITA GENTE CAI
Janeiro estuda as relações de gênero e violência EM DEPRESSÃO
POR T.T. como expectativas sobre o que ho- PORQUE PERDEU
O EMPREGO E
mens e mulheres ‘podem’ e ‘devem’
fazer”, afirma Alice Taylor, coorde-
estupro coletivo sofrido nadora do estudo. “É preciso avaliar

O por uma jovem garota


de 16 anos em uma co-
como essas normas permitem a cul-
tura do estupro, e também o fenôme- COMEÇA A BEBER.
E AÍ TERMINA PER-
munidade da zona oes- no da extrema pressão a usar violên-
te do Rio de Janeiro não foi um ato cia que pode ser promovida dentro
isolado e tem associação direta com de um grupo de homens.” De acor-

DENDO A CABEÇA E
a construção das relações de gênero do com Taylor, os dados da pesqui-
em locais que convivem com a vio- sa indicaram que homens usavam a

PRATICANDO ESSE
lência diária do crime organizado e violência para recuperar o “respeito”
de policiais. Publicada pelo Instituto depois de se sentirem humilhados
Promundo, uma pesquisa realizada ou para provar sua masculinidade

TIPO DE DELITO.”
com base na averiguação de mais de diante da pressão de amigos ou co-
mil questionários domiciliares anali- nhecidos. Para a pesquisadora, reali-
sou como a violência em ambientes zar projetos com meninos e meninas
públicos afeta a esfera privada, como desde a infância é fundamental para Mágino Alves Barbosa Filho, secretário de
nos casos de abusos e agressões do- mudar essa realidade. “É possível Segurança Pública de São Paulo, relacionando
mésticas. “Esse caso [do estupro co- promover com a educação relacio- crimes de estupro com a crise econômica
letivo] levanta o tema das normas so- namentos mais equitativos, saudá-
Dados oficiais indicam, no entanto, que esse tipo
ciais relacionadas à masculinidade, veis e menos controladores e violen- de delito se manteve estável nos últimos anos: em
2014, houve 47.646 registros de estupros no país.
Pg. 18 07.2016

o telefone sem fio conta a história


POR bruno vaiano
DO TEmPO Dos tambores à transmissão por satélite, as transformações da comunicação a distância
mÁQUINA

África · tambores falantes frança, 1793 · telégrafo Ótico eUa, 1837 · telégrafo elétrico
Ocupando o território onde hoje é a Nigéria, Vários “bonecos” de madeira gigantes, posicio- O norte-americano Samuel Morse criou um
o povo Iorubá desenvolveu a técnica mais an- nados um atrás do outro, eram responsáveis novo método de comunicação: aperte um
tiga de ligação de longa distância: por terem por transmitir mensagens entre as cidades — as botão para ter um ponto; aperte e segu-
uma língua em que a melodia dá significados diferentes posições dos braços das estruturas re para obter um traço. As combinações de
diferentes a palavras iguais, o registro melódi- correspondiam a códigos distintos. A França pontos e traços, que correspondem a letras,
co de uma frase em tambores transmitia uma chegou a instalar essa rede, mas as chances de eram transmitidas por um fio elétrico por meio
mensagem em forma de música. erro eram altas demais para a ideia funcionar. de um equipamento chamado telégrafo.

10 atletas
quando o esporte é maior que a pátria
Esportistas de quatro países da África e do Oriente Médio formarão
time de refugiados que vai disputar a Olimpíada no Rio de Janeiro

Subir ao posto mais alto do pódio e observar a No Brasil desde 2013, após pedirem refúgio du-
bandeira de seu país tremular durante a execução rante a disputa do Mundial de Judô, os congoleses RePResentaRãO O
do Hino Nacional é o sonho triunfal dos atletas Yolande Mabika e Popole Misenga foram selecio- time OlímPicO De
que disputarão a Olimpíada do Rio de Janeiro, nados para representar o time do COI. Vivendo no RefugiaDOs
evento que terá início no dia 5 de agosto. Para um Rio, os atletas foram encaminhados para o Instituto
grupo de dez esportistas, no entanto, a bandeira Reação, que promove inclusão social por meio do
5 DO suDãO DO sul
que representarão ocupará um papel secundário: judô, e voltaram aos treinamentos. Em comunicado,
2 Da síRia
no início de junho, o Comitê Olímpico Internacio- Mabika, de 28 anos, mostrou-se emocionada pela
nal (COI) anunciou o primeiro time formado por oportunidade de disputar a Olimpíada e afirmou 1 Da etióPia
refugiados da Etiópia, da República Democrática que está fazendo aulas de português para estar 2 Da RePública
do Congo, da Síria e do Sudão do Sul. mais próxima da pátria em que escolheu viver. DemOcRática DO cOngO
07.2016 Pg. 19

Fig. 10 -FR

eUa, 1876 · telefone eUa, 1962 · telefone via satélite fUtUro · holograma
O primeiro telefone foi patenteado por Alexander O primeiro satélite de telecomunicações da história, lembra daquela mensagem holográfica carregada
Graham Bell em 1876, mas o alemão Johann Phi- o telstar I, foi lançado pelos EuA no auge da Guerra por R2-D2 para Obi-Wan Kenobi em Star Wars? Ela
lipp Reis e o italiano Antonio Meucci criaram dis- Fria. Ele foi capaz de completar uma ligação para o não está tão distante assim da realidade. Pesquisa-
positivos parecidos entre 1854 e 1860. A primeira vice-presidente lyndon Johnson, apesar da capaci- dores da Microsoft criaram uma tecnologia batiza-
gambiarra foi registrada na década de 1920, quando dade limitada de transmissão. Esse foi o início dos da de “holoportation”: com óculos especiais, uma
norte-americanos uniam as cercas de arame farpado telefones via satélite, até hoje a única opção para versão virtual do interlocutor é exibida em uma
das fazendas para utilizá-las como fios. lugares pouco acessíveis, como o topo do Everest. espécie de ligação de Skype em três dimensões.

o ceo que é fios,


algoritmo para que
Plataforma desenvolve linhas de os quero?
código para criar serviços que não
necessitam de interferência humana Grandes cidades brasileiras sofrem
para realizar o aterramento da fiação
Quando inovações tecnológicas são
aplicadas no setor produtivo da eco-
nomia, postos de trabalho consi- APóS uM tEMPORAl atingir a cidade de São
derados de “atividade braçal” são Paulo no final de maio, bairros nas zonas oes-
substituídos pela automação robó- te, leste e sul ficaram sem energia por mais de
tica. Mas e se, em vez da demissão empresa e aplicar essa lógica para que 24 horas. um transtorno que seria evitado caso
de operários, as máquinas ocupas- o dinheiro seja completamente dis- os quase 41 mil quilômetros de cabos suspen-
sem os cargos dos executivos que co- tribuído em um software autonômo.” sos de energia elétrica estivessem aterrados.
mandam as empresas? Para o brasi- Segundo o brasileiro, iniciativas como “As metrópoles brasileiras são cidades antigas,
leiro Alex Van de Sande, designer da essa revolucionariam até a adminis- com mais de cem anos, e a ideia do aterramento
Fundação Ethereum, a ideia não é tração do Estado. “Se uma prefeitura no país é um processo relativamente recente”,
uma mera idealização de ficção cien- colocasse a sua receita em um banco afirma Rômulo Ribeiro, professor da Faculdade
tífica. Inspirado nos protocolos de de dados público, haveria uma trans- de Arquitetura e urbanismo da universidade
programação da moeda virtual bit- parência inédita”, afirma. “Imagine um de Brasília (unB). O investimento dos governos
coin, o Ethereum reúne programado- governo que possibilitasse aos cida- municipais e das concessionárias para realizar a
res de diferentes países que criaram dãos votar em como o dinheiro seria operação ainda é um entrave — estudos indicam
uma rede descentralizada capaz de investido, sem desvios pelo caminho.” que, em média, aterrar um quilômetro de fios
desenvolver contratos para projetos A revolução das máquinas, entretanto, custa ao menos R$ 2 milhões. Em São Paulo, há
reais. “Com o Ethereum é possível ainda não faz parte desses planos. uma meta para aterrar 250 quilômetros de fia-
criar moedas virtuais e movê-las de ção por ano, ou seja, restam 164 anos para a re-
acordo com regras específicas”, diz tirada de todos os postes da cidade. Isso, é claro,
Van de Sande. “É possível criar uma se o plano for rigorosamente executado...

Ícones: Estúdio Barca


Pg. 20 07.2016

EM 12 DIAS, MAIS DE

7MILHÕES
de pessoas começaram a jogar Overwatch,
game de tiro online da Blizzard

CADÊ DORY?
Pixar investe em tecnologia na nalmente um pouso tripulado, poderia fazer isso em 20
sequência de Procurando Nemo anos, mas os chineses estão focados em colocar uma
pessoa na Lua primeiro. Só a SpaceX e a Nasa têm a de-
POR ELAINE GUERINI terminação de fazer isso acontecer e os meios para tan-
FIG. 11 -FR to: Elon Musk disse várias vezes que pretende mandar
humanos para Marte até 2030, no máximo. Já a Nasa
APÓS ROUBAR A CENA em Pro- não planeja fazer isso antes do fim da década de 2030.

DA TERRA
curando Nemo, de 2003, a pei-
xinha que sofre de perda de me- MAS NÃO DEVERÍAMOS COLONIZAR A LUA ANTES?
Buzz Aldrin, a segunda pessoa a caminhar pela Lua, me
mória recente ganhará um filme

PARA MARTE
disse recentemente que ela é um terreno baldio, que não
solo para resgatar sua origem. há nada de que precisamos ou que possamos fazer lá e
E com tecnologia renovada. Em que essa viagem é um absoluto desperdício de tempo e
de recursos. Ele e muitos outros especialistas em Marte
Procurando Dory, a Pixar utili- afirmam que é para o Planeta Vermelho que precisamos ir.
zará o RenderMan RIS, software Lançado no Brasil, livro narra como
de renderização de animações colonizaremos o Planeta Vermelho E O QUE VEM DEPOIS DE MARTE?
POR ANDRÉ JORGE DE OLIVEIRA Marte é só o começo. Quando o nosso Sol se expandir,
de alta resolução, para alcançar destruirá toda a vida em Marte também. Por isso, esse
mais realismo nas cenas embaixo é apenas um ponto de partida para outros planetas fora
d’água. Embora o objetivo principal DUAS DÉCADAS serão o prazo máximo para que o do Sistema Solar. Para sobreviver e evoluir ao longo de
mundo contemple o pouso de uma missão tripulada muitas eras, os humanos terão de se tornar aquilo que já
do longa não seja impressionar o em Marte. Passear pelo planeta, no entanto, não é o foram um dia — nômades que se movem para além do
espectador com os efeitos de luz, bastante: o bilionário sul-africano Elon Musk, fundador horizonte até o lugar selvagem seguinte. Teremos de ter
Andrew Stanton, diretor da anima- da companhia de foguetes SpaceX, planeja estabelecer em mente os próximos planetas para habitar.
colônias com milhares de pessoas no Planeta Vermelho.
ção, acredita que a criação de um A sobrevivência não será fácil, já que os pioneiros preci- E VOCÊ EMBARCARIA NESSA VIAGEM MALUCA?
ambiente aquático natural deixará sarão de uma fonte segura de água, oxigênio e energia, Não acho maluca. Penso que seja a maior das aventuras e
a plateia ainda mais envolvida com sem falar da necessidade de construção de abrigos con- a oportunidade de uma vida. Talvez os norte-americanos
tra a mortal radiação cósmica e solar. É essa história que tenham um gene para o pioneirismo que evoluiu em nos-
a história. “Com o programa fazen- o jornalista norte-americano Stephen Petranek conta em so DNA, e eu o herdei. Não só
do todos os cálculos, sobra muito detalhes no livro De Mudança para Marte — A Corrida iria como iria com prazer, mes-
mais tempo para as decisões cria- para Explorar o Planeta Vermelho, publicado em maio no mo não sendo jovem. Nunca é
Brasil. Em entrevista à GALILEU, o autor compartilha suas tarde para ir para o espaço.
tivas”, afirma. “É também um alívio perspectivas sobre o futuro da humanidade no espaço.
saber que podemos fazer a história
tomar qualquer rumo, soltando a QUEM NOS LEVARÁ PRIMEIRO PARA MARTE? DE MUDANÇA
Os russos são capazes de fazer um humano pousar PARA MARTE
nossa imaginação, com a certeza em Marte, mas eles foram malsucedidos em aterrissar Stephen Petranek
de que a tecnologia concretizará uma simples sonda por lá, por isso não parecem muito Editora Alaúde
nossa ideia, tornando-a realidade.” empolgados. Se a China escolhesse apoiar incondicio- 136 páginas

Ilustração: Estúdio Barca


Entre no maior evento esportivo do mundo
com a delegação da Editora Globo
Em 2016, todos os olhos estarão voltados para os Jogos Olímpicos, no Rio de
Janeiro. Serão mais de 10 mil atletas, de 206 países, acolhidos pela alma carioca
para projetar os valores do movimento Olímpico: respeito, amizade, excelência.

Faça parte deste momento ao lado da seleção de jornalistas da Editora Globo.


Corra, mergulhe e salte ao nosso lado, com cobertura completa e conteúdos
inovadores que vão mostrar tudo o que acontece na frente e atrás das câmeras.
TM Rio 2016 | Todos os direitos reservados.
Com sustentabilidade,
TECNOLOGIA E
integração social
podemos transformar o amanhã.

Mais informações:
www.mcti.gov.br
facebook.com/MCTIC
twitter.com/mctic
Venha conhecer o espaço do MCTIC

68ª Reunião Anual da SBPC


De 3 a 9 de julho,
na Universidade Federal do Sul da
Bahia (UFSB), em Porto Seguro (BA).
DENTRO 99% É ESTRATÉGIA
DA CAIXA TEXTO BRUNO VAIANO
Passatempo tradicional em países europeus, jogos
de tabuleiro chegam ao Brasil em diferentes versões

á parou para pensar Futurista


FLASH POINT TINCO
J
1 4 No jogo, terráqueos e marcianos
no que um alemão disputam o Planeta Vermelho
FUNBOX R$ 175 DEVIR R$ 35
à medida que o sol se expande
faz em seu tempo li- e engole o Sistema Solar.
vre? A maior convenção de jo-
2 SUPERNOVA 5 QUISSAMA
gos de tabuleiro do mundo, que LUDOFY R$ 120 LUDENS SPIRIT R$ 130
acontece na cidade de Essen,
oeste da Alemanha, é uma boa 3 CATAN 6 DIXIT
dica. Lá, dados e cards são GROW R$ 125 GALÁPAGOS R$ 130

coisas de adulto, e os desen-


volvedores de jogos têm uma
profissão consolidada: como Cooperação Colonização
No Flash Point não há competição. Colonos recém-chegados à Ilha
escritores, levam seus trabalhos Seis jogadores colaboram para de Catan disputam recursos
tentar apagar um incêndio e retirar naturais e constroem civilizações
a editoras, onde as ideias são os ocupantes da casa com vida. cada vez mais desenvolvidas.
refinadas antes de serem lan-
çadas. O público brasileiro, ape-
sar de pequeno, está crescendo:
“Só neste ano, as editoras bra-
sileiras já anunciaram entre 40
e 50 novos jogos”, conta Jaime
Daniel, gerente da FunBox, 1
a primeira ludolocadora do
país. Nesse espaço, há cente-
nas de títulos disponíveis para
os clientes, que podem alugar
ou comprar jogos. A pedido da
GALILEU, a equipe da loja au-
xiliou na seleção dos jogos que
merecem ser conferidos.

UMA IMAGEM VALE


MAIS QUE MIL PALAVRAS
O Dixit não possui tabuleiro ou dados;
é jogado apenas com figuras abstratas. 4
1º Em cada rodada, um jogador —cha-
mado narrador — escolhe uma carta e
descreve a ilustração com uma frase.
Os demais escolhem qual de suas car-
tas mais se aproxima dessa descrição.

2º A carta descrita pelo narrador


e os palpites dos jogadores são
embaralhados e colocados na mesa.
Agora, todos devem adivinhar qual
das cartas foi descrita originalmente.

3º Se todos acertarem a carta


correta, o narrador perde pontos.
Se ninguém acertar, ele perde
também. A descrição precisa ser am-
bígua na medida certa para que
apenas um adversário acerte.
24
E AQUELE 1% É IMAGINAÇÃO FORA
Nos RPGs, o que vale é interpretar os personagens e construir
uma realidade que vai além das peças do tabuleiro
DA CAIXA
FOTO TOMÁS ARTHUZZI

m 1974, dois fãs nor-


E te-americanos do
2 jogo de tabuleiro War
e do livro O Senhor dos Anéis
criaram um jogo de mesa inu-
sitado: baseado em um livro de
regras, um narrador conduzia
uma jornada com personagens
de personalidades e sentimen-
tos distintos. Era o Dungeons &
Dragons, RPG (sigla em inglês
para jogo de representação) que
ainda conta com uma legião de
aficionados: dois em cada três
3 norte-americanos que curtem
RPG jogam esse título.
Histórico “Esses são jogos sociais, pos-
O jogo conta a história de
Quissama, escravo brasileiro suem poucos elementos físicos.
que foge para encontrar sua
mãe e é auxiliado por um Geralmente há apenas fichas
agente da Scotland Yard.
para os personagens”, diz Jaime
Daniel, da FunBox. Tabuleiro é
item raro: a partida se desenro-
5 la com a imaginação dos joga-
Se vira dores, não tem final previsível
O Dixit é um exercício de
imaginação e destreza
verbal. Ganha quem injetar a
nem hora para acabar. É a força,
dose certa de ambiguidade
na descrição de suas cartas.
a inteligência e o carisma de
cada personagem que decidi-
rão os resultados das ações.

6
COISA DE GENTE GRANDE
Caótico Voltado a um público mais velho, alguns
O Tinco não possui tabuleiro.
A cada rodada, jogadores RPGs têm venda proibida a menores
trocam cartas entre si aos
berros. Vence quem acumular
cinco iguais primeiro.
FOREVER ALONE
O livro-jogo é uma espécie de RPG solo: uma obra de
ficção em que o jogador decide o destino dos persona-
gens conforme lê, alcançando diversos finais possíveis.

EDUCATIVO
O Ministério da Educação recomenda o RPG como
atividade em aulas de língua portuguesa no En-
sino Fundamental, já que ensina noções bási-
cas de narrativa e estímulo à cooperação.

COISA DE CRIANÇA?
Os RPGs, apesar de não serem obras audiovisuais,
possuem classificação indicativa fornecida pelo Minis-
tério da Justiça. Muitos são proibidos para menores.

25
ELEMENTAR O MOVIMENTO É SEXY
H
C O

Hora de molhar o biscoito?Mesma substância é encontrada


na bolachae no lubrificante — POR GABRIELA CAVALHEIRO*

a Grécia Antiga, o azeite de


N oliva já era utilizado para faci-
litar a penetração. Algum tem- 1

po depois, no século 16, os japoneses H


6 8
passaram a usar óleos feitos com vege- C O
tais como o inhame. E, hoje, cabe ao gel
PROPILENOGLICOL
lubrificante íntimo produzido em labo- É o principal
1 8
ratório a função de tornar as relações H O responsável pela
sexuais menos doloridas. lubrificação e
ÁGUA também pode ser
O lubrificante vendido na farmácia foi Base do lubrificante encontrado em
criado, na verdade, apenas para tornar KY, tem a função de biscoitos, cremes
os exames ginecológicos menos desa- diluir e unir todas hidratantes e ali-
as substâncias que mentos coloridos
gradáveis para as pacientes. Mas, como formam o gel íntimo. artificialmente.
ele conseguia imitar perfeitamente a
lubrificação natural do corpo humano,
logo ganhou novas funções entre qua-
1 8 1 6

H O H C
tro paredes. O gel é recomendado para 11 15 8

Na P O
pessoas que têm dificuldade de lubri-
ficação íntima ou que querem sim- FOSFATO GLICERINA
plesmente tornar a experiência se- MONOBÁSICO Presente
DE SÓDIO E em diversos
xual mais prazerosa. Durante o sexo, FOSFATO DIBÁ- cosméticos, é
a parte aquosa do produto tende a SICO DE SÓDIO responsável por
ser absorvida pela pele e, caso não Regulam o pH da garantir que o
fórmula para que gel não resseque.
se consiga a lubrificação, pode fique de acordo
ser necessário aplicá-lo mais com o do corpo
de uma vez. Por ser incolor, humano. Sem
eles, o lubrifican-
sem cheiro e não ser a base te queimaria as
de óleo, o lubrificante ínti- partes íntimas.
mo não mancha lençóis
e (muito importante)
não diminui a efi-
cácia do látex das
camisinhas.

1 6 1

H
1

H C H
6 8 8 6 8

C O O C O
Na Grécia Antiga,
ÁCIDO LÁCTICO HIDROXIETIL- METILPARABENO até azeite de
oliva foi usado
A substância é a CELULOSE E PROPILPA- para facilitar a
responsável pela O produto é um RABENO penetração
sensação de calor derivado da Agem como
apresentada por celulose que foi conservantes,
algumas marcas. modificado em impedindo a pre-
Ela esquenta laboratório. É o sença de fungos
porque provoca o que dá consis- e bactérias no
aumento do fluxo tência ao gel e produto. São bas-
sanguíneo nos o torna similar tante usados em
órgãos sexuais. à lubrificação remédios, cosmé-
natural humana. ticos e alimentos.

26 *Com reportagem de Cartola Agência de Conteúdo | Foto: Tomás Arthuzzi/Editora Globo


Fontes: Dr. Valentino Magno – Doutor em Medicina (UFRGS); Felipe Cidade Torres – Doutor em Ciências Farmacêuticas (UFRGS)
dossiê urbanismo
texto bruno vaiano Design joÃo peDro brito

eDiçÃo thiago tanji ilustraçÃo vini valente

QUEM DE ÉA

CIDADE?

Construídas com base em interesses políticos e econômicos, as metrópoles


brasileiras não foram moldadas de acordo com as necessidades da população

cheiro de pipoca doce no ar. zadora de um abaixo-assinado con- grupos econômicos realizem seus
O Museu da Imagem e do Som tra o MIS. “A rua já foi considerada investimentos. “A capacidade de
(MIS), em São Paulo, comemora a mais bonita do bairro, estamos fazer e refazer nossas cidades e a
o sucesso de uma mostra sobre a desesperados.” Na região, uma das nós mesmos é, ao mesmo tempo, o
série infantil Castelo Rá-Tim-Bum. mais valorizadas da cidade, o preço mais precioso e negligenciado dos
Localizado no bairro residencial do metro quadrado é estimado por direitos humanos”, afirma David
Jardim Europa, a instituição rece- imobiliárias em R$ 17 mil. Harvey, geógrafo britânico, no livro
beu ônibus lotados de crianças de A polêmica é local, mas simbó- Cidades Rebeldes. O trânsito inter-
escolas públicas e particulares para lica: a disposição física da capital minável, a sensação de inseguran-
visitar a atração, inaugurada no se- favorece determinados grupos so- ça e a falta de opções populares de
gundo semestre de 2014. Os mo- ciais e acentua as desigualdades — lazer e cultura são sinais de que as
radores, porém, não gostaram nem do momento em que a prefeitura metrópoles não foram construídas
um pouco da iniciativa. “O museu reforma o asfalto das ruas de um para a maioria da população. Mas
está destruindo parte do bairro”, bairro nobre e negligencia a cole- isso não significa que desenvolver
disse ao jornal O Estado de S. Paulo ta de lixo nas periferias até a se- um projeto de cidade mais partici-
Maria Aparecida Brecheret, organi- leção de regiões para que grandes pativo seja uma tarefa impossível.

27
A CIDADE CADÊ MINHA FRAÇÃO?

só CrEsCE nAs CinCo mAiores CidAdes brAsileirAs,


A quAlidAde de vidA Aumentou nos últimos
… a ciDaDe só cresce 25 Anos, mAs A desiguAldAde persiste

idHm são pau

As metrópoles brAsileirAs se expAndem (Índice de Desenvolvimento


Humano Municipal)
00

de ACordo Com os rumos ditAdos por Avalia a qualidade de vida de uma


cidade com base em indicadores
proprietários de terrA e inCorporAdorAs como saúde, educação e renda.
Quanto mais próximo de 1, melhor a
situação social do local analisado.
20
1991

O
ANO é 1879. frederico Mais de um século depois,
Glette, imigrante ale- pouco mudou. “Os proprie-
mão, é proprietário do tários de terra ganham mui-
Grande Hotel, o mais to dinheiro disputando en-

10
luxuoso do Brasil. Seu tre si os melhores pontos

20
e
parceiro de negócios, Vítor de crescimento da cidade”,

c
eza •
Nothmann, é um rico sócio diz João Meyer, professor da
da cervejaria Stadt-Bern. Na faculdade de Arquitetura e

l
forta

2000
época, o ciclo do café e o fim Urbanismo da USP. Há mui-
da escravidão aceleraram o tos exemplos de Glettes e
processo de imigração de Nothmanns Brasil afora, que
milhares de europeus, que veem crescer suas fortunas
lotavam cortiços com péssi- com a manipulação da legis-

1991
mas condições sanitárias lo- lação urbana para que bair-
calizados nas áreas centrais ros avancem em suas terras.
da cidade de São Paulo. A Quando há obstáculos para a
população da capital atingiu expansão urbana, a tendên-
240 mil pessoas em 1900, cia é concentrar mais gente
e a elite paulistana saiu em no mesmo espaço: então, o
busca de ruas mais arejadas. poder sai das mãos dos do-
Nothmann e Glette não nos de terras e passa para in-
19
91

perderam tempo dian- corporadoras e construtoras.


te dessa nova realidade. é o caso de Balneário
Compraram uma cháca- Camboriú, em Santa
20
00
ra a oeste do centro, traça- Catarina, cuja faixa litorâ- índiCe de gini
ram terrenos com espaço nea de 5 quilômetros atrai É um indicador de
desigualdade. Quanto 2010
para mansões e jardins e arranha-céus residenciais
mais próximo de
venderam os lotes para os de mais de 40 andares. 0, mais igualitária br
as
barões que não queriam As sombras dos prédios é a cidade. Valores íli
morar tão perto dos traba- criam corredores frios nas próximos de 1 a•
revelam péssima df
lhadores. Chamaram o bair- ruas e, por ironia, escondem distribuição de renda.
ro de Campos Elíseos. Que o sol dos banhistas que visi-
aposta: em São Paulo Antigo, tam a praia, localizada pró-
obra de Antônio Egídio xima a uma área de preser-
Martins publicada em 1911, vação ambiental. “A cidade
CAlor HumAno
os resultados rentáveis da precisa de incorporadores, fORtALEzA BRASíLIA
Para trás, nem para pegar
dupla alemã são exibidos. mas é necessário orientar impulso. Nos anos 50,
10
No de habitantes

8
(em milhões)

“foram despendidos com a sua força”, diz Meyer. “Há São Paulo era conhecida
6
abertura dessas ruas e ala- metrópoles que atingiram como a cidade que mais
4
crescia no mundo. Veja a 2
medas cerca de 100 contos, um grau de complexidade evolução da população
e apurados na venda dos lo- social tão alto que existem das maiores capitais. 1950 2010 1960 2010

tes de terrenos perto de 800 questionamentos sobre essa


contos.” Um lucro de 800%. atividade imobiliária.” 28 Fontes: Atlas do Desenvolvimento Urbano no Brasil – PNUD, 2013;
Censos Demográficos – IBGE
Como ler o gráfiCo Índice de Gini IDHM
CADA VEZ MAIS LONGE
… e o De baixo Desce
Renda
per capita
dos 20%
mais pobres
Renda
As periferiAs CresCem mAis por fAltA
lo • sp
per capita
dos 20%
mais ricos
R$ 100 R$ 5.000 de dinHeiro do que por fAltA de espAço
R$ 200 R$ 4.000
02
R$ 1.000 R$ 3.000

P
R$ 2.000
éSSIMA distribuição velocidade e qualidade neces-
de renda e rápido cres- sárias. O resultado são con-
cimento são uma com- dições precárias de habitação
00
2010 binação que, aliada a e cidades que crescem pelas
interesses imobiliários, bordas, sem aproveitar os
dá o retrato das metrópoles espaços intermediários. Para
brasileiras. Quando há terra Vanessa Nadalin, do Instituto
disponível por preço razoá- de Pesquisa Econômica
vel em regiões distantes do Aplicada (Ipea), Brasília é um
19
9

núcleo urbano, ela é ocupa- bom exemplo dessa situação.


1

salva

da pela parcela da popula- “As cidades que mais cres-


ção que não pode pagar um cem estão no entorno, prin-
d

imóvel em uma área central. cipalmente em Goiás, onde


or • b
2000

A distância do emprego e dos o preço dos imóveis é de um


serviços aumenta, e o poder décimo do valor encontrado
a

público não é capaz de ex- no Distrito Federal”, afirma.


pandir linhas de ônibus, rede “Mas elas estão a mais de 60
2010

elétrica, de água e esgoto na quilômetros da capital.”


0,1

0,2

0,3

0,4 sAudosA mAloCA


Número de domicílios vagos é alto, mas não supera déficit habitacional
0,5
10
20

0,6
legendA são paulo • sp rio de janeiro • rj

0,7
10 mil domicílios

00
20 Déficit habitacional*
0,8

Domicílios vagos
1991
0,9

• rj
e iro 474.344 293.621 220.774 193.682

jan
de salvador • ba brasília • df fortaleza • ce
rio

salvaDor rio De janeiro SãO PAULO

106.415 77.945 126.169 62.977 95.166 53.327

*O déficit habitacional representa o número de habitações que seria necessário para


abrigar famílias sem-teto e pessoas que vivem em residências com situação precária
1950 2010 1950 2010 1950 2010

Fontes: Déficit Habitacional Municipal no Brasil – Fundação João Pinheiro, 2010;


29 Censo Demográfico – IBGE, 2010
UM OLhO NO GAtO,
O OUtrO NO pEIxE CADA uM NO seu quADRADO

Com A CriAção
de um plAno
diretor, As
o plAno diretor orientA CidAdes são
A AtuAção de Agentes mApeAdAs em
regiões Com
públiCos e privAdos nA prioridAdes
Construção dA CidAde e objetivos 3
diferentes

E
M 2011, após quase dez anos 1 ostentAção
de discussões sobre o Plano 1
Bairros residenciais nobres
Diretor (PDDU) de salvador, costumam ser avessos à
um susto. Uma versão do pro- presença de comércio e à 2
jeto de lei aprovada pelo pre- circulação a pé. Durante
o zoneamento, há uma
feito João Henrique (PP) entregava disputa entre quem não
a cidade ao mercado imobiliário, quer alterar essa situação
autorizando um aumento de até e os defensores da
diversificação dos espaços.
50% na altura dos prédios cons-
truídos na orla e extinguindo áreas
de proteção ambiental. A pressão
popular levou o tribunal de Justiça
a emitir uma liminar de suspen-
são dos artigos inconstitucionais.
Essa não era a primeira vez que
a aprovação da lei enfrentava di-
ficuldades. “o Plano Diretor de
2004 foi aprovado pela Câmara
mesmo com questionamentos
formais do Ministério Público da
Bahia. Mas o PDDU de 2008, re-
sultado da revisão, apresentava
mais problemas que o anterior",
diz thais Rebouças, pesquisadora
da Universidade federal da Bahia. 2 áreA nobre
Apesar de parecer um mistério
Em Salvador, Fortaleza e
para a maior parte da população, São Paulo é chamada "área
o papel do Plano Diretor é guiar de urbanização consolida-
o crescimento de uma cidade com da". Corresponde a bairros
com prédios comerciais e
base em critérios técnicos e prio- residenciais, lojas, serviços
ridades socioeconômicas, como públicos e infraestrutura de
garantir o uso adequado do solo transportes. Em geral, con- 6
centram emprego e são alvo
e evitar a retenção especulativa de deslocamentos diários.
de imóveis. Desde a promulgação
da Constituição de 1988, é obri-
gatório que cidades com mais de 3 gAlpões
20 mil habitantes elaborem um Áreas industriais e portuárias anti-
Plano Diretor, definido como um gas, próximas a rodovias e ferrovias.
Nessas regiões, o objetivo é renovar
instrumento básico de desenvolvi- a atividade econômica, aproveitan-
mento de acordo com o Estatuto do a infraestrutura viária já existente,
da Cidade, lei federal de 2001 que e aumentar a densidade habitacional.

regulamenta a política urbana.


30
é UMA
5 preCário
zonA!
Favelas são áreas de
alta vulnerabilidade,
consideradas, em muitas
cidades, Zonas Especiais
de Interesse Social
(Zeis). Devem receber leis de zoneAmento e
investimento prioritário
em infraestrutura. uso do solo AjudAm
4 o plAno diretor A
ColoCAr ordem nA CAsA
6 quAse lá
Localizadas às margens
de represas e reservas

O
ambientais, nos limites
das metrópoles, essas Plano Diretor não tra-
5 áreas precisam equilibrar balha sozinho. Há leis de
a resolução de problemas caráter mais técnico que o
socioeconômicos e a
preservação ambiental. acompanham, como a Lei
Na cidade de Fortaleza, de zoneamento, responsá-
por exemplo, são vel pela definição do que pode ou
caracterizadas como "zonas
de ocupação moderada". não ser construído em cada lugar.
Entre os indicadores da lei estão
o coeficiente de aproveitamento
do terreno, que limita a área útil
de um prédio, e a taxa de ocupa-
ção, que garante uma distância
razoável entre a fachada do edifí-
cio e a rua. Esse tipo de limitação
evita, por exemplo, a superlotação
do sistema viário de uma região.
Definir isso, porém, não de-
pende só de boas intenções.
“Uma decisão da Câmara de
Vereadores pode duplicar o coe-
ficiente de aproveitamento de
um terreno, dobrando, portanto,
o total permitido de área cons-
truída”, explica Renato Saboya,
professor de Arquitetura da
7
7 Ar puro Universidade federal de Santa
Áreas destinadas à pre- Catarina (UfSC). “Isso pode re-
servação ambiental estão presentar um aumento de vários
no Plano Diretor da maior
parte das cidades. Nessas milhões no lucro da incorporado-
regiões estão localizados ra que construirá um prédio ali.”
parques, reservas naturais Sem audiências públicas, a bus-
e mananciais com ecossiste-
mas inalterados. ca pelo lucro pode dar o tom em
relação à qualidade de vida dos
moradores da região. E não para
4 residenCiAl por aí: além de guiar o setor pri-
Subúrbios residenciais com pequenos vado e ouvir a população, o poder
prédios e comércio concentrado nas público também precisa ser proa-
avenidas principais. Não apresentam
problemas graves de infraestrutu- tivo. “é importante que o plano,
ra, mas precisam de investimentos. como um todo, oriente as ações
da prefeitura”, afirma Saboya.
a nós, resta ficar de olho.
31
Fontes: Lei no 16050/14 - PDE de São Paulo; Lei no 7400/2008 - PDDU de Salvador; Lei no 062/2009 - PDP de Fortaleza
Mão nA MAssA queM É que
MANDA AquI?

ConselHos pArtiCipAtivos dividem espAço Com novos Temáticos

projetos de intervenção e oCupAção do espAço urbAno Esse modelo


é o adotado em
Conselheiros
Porto Alegre
desde 1989

S
e você Deseja ter voz em fins lucrativos a cidade Precisa Regionais
relação a decisões que afe- de Você, que pesquisa e desen-
tarão a saúde, a educação volve ações em espaços públi-
ou até o meio ambiente de cos. Sobral também participa da
sua cidade, o que não faltam Comissão de Proteção à Paisagem
Movimentos
são oportunidades de participar Urbana (CPPU) de São Paulo, ór- estaduais e mnlm
dessas discussões de maneira di- gão autorizado a tomar decisões municipais
reta. O Brasil possuía, em 2009, independentemente de instâncias
43.156 conselhos de gestão de po- superiores — algo raro, segundo a
líticas públicas, mais de oito por urbanista, que apoia a atuação em
município, em média. é um nú- frentes múltiplas. “fazem falta ins-
mero que cresce desde o início do tâncias colaborativas e conselhos
processo de redemocratização, em deliberativos”, diz. “é necessária
1986. nem tudo são flores, porém. a atuação do pessoal que gosta de
A maior parte dos conselhos ir a esses conselhos, mas também
Aprovação
ainda não é de instituição obriga- daqueles que ocupam as escolas.” na Câmara
tória. E muitas das votações, na Ana Carolina Nunes, articulado-
prática, não atraem a população ra do Sampapé, movimento que
nem geram resultados notáveis. estimula caminhadas pela cidade, Revisão
“é algo formal, acadêmico. faltam concorda. “Cada um cria a pró- participativa

estratégias para alcançar mais pes- pria maneira de fazer a cidade”,


soas, já que não é todo mundo que afirma. “Há militantes que atuam
Apresentação
está acostumado ao formato”, afir- em conselhos participativos, mas da proposta
ma a urbanista Laura Sobral. Ela há quem não consiga encaixar sua
é presidente da organização sem pauta e sua forma de trabalhar.”

elAborAção

Antes de ir para
a Câmara de

DepOsIte suA sugestÃO Vereadores ,


o plano deve
passar por
revisão popular
ConselHos UM conselHo De gestão De Políticas PúBlicas
de polítiCAs é um colegiado criado por iniciativa do Estado que inclui membros
públiCAs da sociedade civil e do poder público. Em geral, qualquer cidadão
fisCAlizAm que possua um título de eleitor pode ser conselheiro — a função
A AtuAção não é remunerada. a ideia é permitir que a população fiscalize a
do estAdo aplicação de recursos públicos de uma determinada área, sugerindo
alterações e melhorias. Esses conselhos costumam ser temáticos:
de mobilidade, saúde, educação, meio ambiente e direitos huma-
nos. Muitos deles são paritários e bipartites — quando há igual
representação de membros do Estado e da sociedade. Em outros
casos, são tripartites ou múltiplos, em que existem diferentes gru-
Consultivo
pos representados durante os momentos de discussão.
32
Fontes: Instituições Participativas e Desenho Institucional, Leonardo Avritzer, 2008; Mapeamento de
Institucionalização dos Conselhos Gestores de Políticas Públicas nos Municípios Brasileiros, Danitza Buvinich, 2013
Como A soCiedAde Civil se relACionA
Com o estAdo pArA plAnejAr A CidAde
INVEStIMENtO
DEMOCrátICO
Prefeitura

Secretaria Municipal
de Governança Local
oorçAmentopArtiCipAtivo
Gestores locais permite que o povo
deCidA pArA onde vAi o
dinHeiro dA prefeiturA
Fórum de delegados
Secretaria Municipal
de Planejamento
Estratégico e Orçamento
Coordenadores
temáticos

R
soCiedAde
econHeciDo pelo Banco
Mundial como referência
governo
internacional em participa-
Em Porto Alegre, ção popular, o Orçamento
gestores locais Participativo (OP) de Porto
são responsáveis Alegre é, desde 1989, um exemplo
orçamento pelos Centros
participativo Administrativos de Brasil que dá certo. A prática
Regionais (CAR) iniciada na capital gaúcha já foi
mo De
Dia

ass ora
or os
ra

adotada em mais de 200 municí-


oc Dor
m
a p ent

iaç es

pios brasileiros e inspirou políti-


lut ovim

ões

cas de transparência administra-

estado
m

De

Há ONGs mais
hierárquicas tiva em cidades como Montevidéu
e outras de e Barcelona. Em um ciclo anual de
ivo m

organização
rat se

reuniões e votações (veja gráfico


au no D

s
pla

uc es

horizontal
Diê ire

ao lado), a população elege dele-


s l çõ
nc to

fin aniza
ias r

gados e conselheiros, que atuam


De

por região ou por tema e definem


or

conselhos De AlternAtivAs
políticas públicas o destino das verbas públicas.
a prática, agora, pode se benefi-
trAdiCionAis
ciar de ferramentas digitais.
é o caso da cidade de Santos, no
litoral paulista, que retomou seu
OP em 2013 e adotou o aplicativo
Colab.re para conduzir o processo
bipArtite tripArtite múltiplo online a partir deste ano. “Há um
tempo de assimilação necessário.
é uma prática inovadora — esse é
um ano de experiência”, diz o pre-
Um conselho
Vinculado Não vinculado vinculado é o que feito de Santos, Paulo Alexandre
está diretamente Barbosa (PsDB). a parcela des-
associado a tinada ao OP ainda é pequena:
um programa
governamental R$ 10 milhões, ou 0,4% do or-
Paritário Não paritário
çamento da cidade. Por meio do
aplicativo, é possível escolher uma
série predeterminada de obras em
que os recursos serão aplicados.
Obrigatório Não obrigatório
O prefeito promete, depois da
experiência, ampliar a parcela do
orçamento destinada ao OP. Até
agora, só 6 mil cidadãos participa-
Deliberativo Fiscalizado Normativo
ram do processo, o equivalente a
1,4% da população santista.
33
CIDADE nA pAlMA DA Mão

Porcentagem de municípios
ApliCAtivos e serviços ACESSIbILIDADE

Fonte: IBGE, 2011


brasileiros com políticas
de acessibilidade
virtuAis ofereCem Guia de Rodas 19,30%
soluções pArA
o que é? por que voCê
problemAs Antigos Mapa colaborativo preCisA dele?
para pessoas com Porque acessibilidade
dificuldades de locomoção não é prioridade
receberem informações na maior parte dos

O
sobre acessibilidade municípios brasileiros.
smartphone é responsável em diferentes locais.
por promover mudanças na
maneira pela qual os cidadãos
se relacionam com a cidade INtErNEt
— e não é só pelos eventuais Porcentagem de municípios

Fonte: IBGE, 2014


brasileiros com acesso à
esbarrões de quem passeia pelas 4sqwifi internet sem fio

calçadas digitando no aparelho. 75%


o que é? por que voCê
O pernambucano Gustavo Maia, Identifica em um mapa de preCisA dele? 50%
por exemplo, percebia um pro- qualquer cidade do mun- Por que o wi-fi público 25%
blema nas formas tradicionais do lugares que possuam no Brasil tem pouca
pontos de wi-fi gratuitos. disponibilidade de
de pressionar o poder público:

Até 5 mil
5 - 10 mil
10 - 20 mil
20 - 50 mil
50 - 100 mil
100 - 500 mil
+ 500 mil
No de habitantes
Não bastasse o favor, ele acesso aos cidadãos.
denúncias feitas por um cidadão ainda oferece as senhas.
a rádios e tVs são isoladas e di-
ficilmente chegam aos ouvidos
de quem resolveria a questão. ôNIbUS
Viagens por número de

Fonte: Ipea
Junto de três sócios, ele fundou o
CRuzalinhas.Com transferências na Região
Colab.re, rede em que o usuário Metropolitana de São Paulo

pode publicar fotos de buracos nas o que é? por que voCê 9 milhões

ruas, calçadas irregulares e outros Site paulistano que exibe preCisA dele?
6 milhões
todas as rotas das linhas de Para descobrir trajetos
problemas urbanos. Qualquer pre- ônibus da cidade. Oferece e transferências: às 3 milhões
feitura que queira se associar ao as melhores opções de vezes, pegar dois ônibus
aplicativo pode ter acesso dire- trajetos para o usuário e pode ser mais rápido. 0 1 2 3 ou
transferências
Número de

mais
compara as alternativas.
to às reclamações, aumentando a
taxa de resolução dos problemas e
criando um canal de comunicação. bICICLEtA
“Queremos que a população co- Extensão da malha
Fonte: Portal G1, 2014
labore com o governo, e o governo, bike on urbana brasileira

com a população. Se as prefeituras Malha viária total


o que é? por que voCê 97.979 km
não participarem, o aplicativo se Aplicativo que rastreia preCisA dele?
tornará apenas um mural de re- as rotas mais pedaladas Porque as ciclovias
clamações que não são ouvidas”, de uma cidade, além de ainda representam
incluir avisos de obras, apenas 1% da malha
diz Maia. A proposta deu certo: acidentes e trânsito, ao viária do Brasil.
o aplicativo foi eleito pelo World melhor estilo Waze.
Summit Awards (WSA), da ONU, Malha cicloviária total
1.118 km
como um dos cinco melhores do
mundo na categoria Governo e SOLUÇÃO DE prObLEMAS
Reclamações mais
Fonte: Colab.re

Participação Popular. Dezenas de


Colab.Re comuns no aplicativo
prefeituras brasileiras, como as de 60%
Niterói, Natal, teresina e Porto o que é? por que voCê
40%
Alegre, já o adotaram. A iniciati- Plataforma em que cida- preCisA dele?
dãos colocam fotografias Porque não adianta 20%
va de Maia não está só: a tecno- de problemas urbanos típi- reclamar de um
logia preenche lacunas e melhora cos, como buracos nas ruas. problema se essa
irregular
Estacionamento

Entulho

Limpeza pública
Buracos nas vias

Outros

a experiência urbana em diversas As prefeituras associadas demanda não alcançar os


contam com acesso direto ouvidos da prefeitura.
áreas (conheça outros serviços e à lista de reclamações.
aplicativos ao lado). 34
‘ O MITO DA MERITOCRACIA P.36 VIAGENS INTERESTELARES P.48

ENTREVISTA: MARCELO VIANA P.54 ENSAIO: O BRASIL NA ANTÁRTIDA P.58

ILUSTRAÇÃO MADEBYSHIRO OS ARTISTAS TOMAM PARTIDO P.64 A VOLTA DO “FEITO EM CASA” P.74
o de cima sobe
e o de baixo desce
Novo livro de ecoNomista Norte-americaNo põe
a meritocracia em xeque e destaca que sistema
deixa as pessoas meNos geNerosas

texto MarÍlia Marasciulo


edição Giuliana de Toledo

fotos ToMás arThuzzi

design fernanda didini

produção beaTriz liranço


Raimundo nonato LeandRo de medeiRos tRabaLha
desde os 5 anos. Aos 45, é zelador de um edifício na zona
oeste de São Paulo, onde é funcionário há mais de duas
décadas. Nos anos 1990, Medeiros saiu de um sítio da
Paraíba para ser pedreiro nas obras da Faculdade de Tecnologia
do Estado de São Paulo (Fatec). “Eu até poderia ter tentado es-
tudar alguma coisa por ali, mas seria complicado, porque o tra-
balho ia das sete da manhã às cinco da tarde, muitas vezes noite
adentro.” Teria sido mestre de obras, talvez? Engenheiro? “Quem
sabe, nunca tive muito tempo para pensar nisso”, responde ele,
que ganha, em média, R$ 1.800 por mês.
Na casa ao lado do prédio em que Medeiros mora vive Elington
Fernandes, que também trabalha há pouco mais de 40 anos.
Aos 65, é engenheiro civil na empresa que abriu quase duas dé-
cadas atrás. Filho de fazendeiros da Zona da Mata mineira, saiu
da casa dos pais na década de 1970 para estudar Engenharia na
Universidade Federal de Juiz de Fora. Quando se formou, em
1976, veio para São Paulo para trabalhar em uma empresa que
fazia obras para a Companhia Siderúrgica Paulista. “Eu sempre
me esforcei muito, até hoje não são raros os dias em que traba-
lho mais de 16 horas”, conta Fernandes, que tem salário médio de
R$ 15 mil. “Mas fui, sim, muito sortudo por ter nascido na
38 família em que nasci, que sempre me deu tudo.”
Fonte: Banco Mundial (2010 a 2015)

Mundo de
extremos
Brasil é o 14º colocado em lista
de maior concentração de renda

Em estimativa do Banco Mundial,


o Brasil tem hoje 53 como
leGendas
Entre os países
coeficiente de Gini — índice
avaliados pela 61 - 70
que mede a distribuição instituição, Na Europa, 51 - 60
o Brasil é o pior a Grécia está
de renda. Na escala, 41 - 50
da América do no topo da 31 - 40
0 é a igualdade perfeita Sul , empatado lista, com 20 - 30
com a Colômbia coeficiente 37
e 100, a completa desigualdade. Sem dados

Longe da paz Debater o abismo entre realidades tão


Educação ainda está distante da favela, distintas, como as de Medeiros e Fernan-
diz autor do Rap da Felicidade des, e o quanto dele pode ser atribuído
às oportunidades — ou à sorte — encon-
“Eu só quero é ser feliz, andar tranquila- tradas ao longo das trajetórias é o obje-
mente na favela onde eu nasci e poder tivo do economista americano Robert H.
me orgulhar e ter a consciência que o Frank, professor da Universidade Cornell.
pobre tem seu lugar.” Assim começa o No livro Success and Luck: Good Fortune
Rap da Felicidade, de Cidinho e Doca, and the Myth of Meritocracy (“Sucesso e
funk que inspirou o título desta edição. Sorte: A Boa Sorte e o Mito da Merito-
A músicA completou 21 Anos. cracia”), lançado nos Estados Unidos em
A reAlidAde mudou de lá pArA cá? abril e em fase de tradução para o portu-
MC Doca — A letra parece cada vez guês, mas ainda sem previsão de lança-
mais atual. Estamos mais uma vez
trocando a Presidência, “uma nova mento no Brasil, ele conta uma história
esperança” [como no verso da letra]. parecida com a de Medeiros.
Só piorou. Existe uma guerra urbana Quando trabalhou como voluntário no
e o poder público parece que não
tem interesse em mudar isso. Nepal, Frank contratou como cozinheiro
um jovem de um vilarejo do Butão. “Ele
A educAção melhorou continua sendo uma das pessoas mais tra-
pArA quem é pobre? balhadoras e talentosas que eu já conheci,
Regrediu muito. As crianças cres-
cem vendo violência. Para um sabia consertar o que você puder imagi-
garoto de 10 anos, o herói é o nar e, ao mesmo tempo, sabia lidar com
cara de 17 que está no crime. as pessoas”, escreve Frank. Mesmo assim,
continua, o pequeno salário que recebia
o lugAr do pobre AindA é o mesmo?
Não mudou nada, mas ser pobre não como cozinheiro talvez tenha sido o mais
é vergonha. O que falta é respeito, é alto em toda a sua carreira. “Se ele tives-
entenderem que não tem só bandi- se crescido em outras condições ou em
do na favela. A mão de obra pesada
está na comunidade. O engenheiro um país mais rico, teria alcançado maior
apronta tudo, mas quem levanta prosperidade e sucesso material?”, reflete.
parede é o cara da comunidade. Discussões e questionamentos seme-
lhantes ganharam destaque nas redes so-
ciais brasileiras no fim de maio. Diante da
notícia de que o filho do presidente interi-
no Michel Temer, Michel Miguel Elias Te-
mer Lulia Filho, mais conhecido como Mi-
chelzinho, tem em seu nome, aos 7 anos,
mais de R$ 2 milhões em bens, alguns in-
ternautas compartilharam a frase irônica
“O legal da meritocracia é que você pode
entrar na idade escolar com R$ 2 milhões
em imóveis ou sem merenda, mas o seu
sucesso depende só de você”. É mais ou
menos essa a provocação principal
no livro de Frank, que defende que, 39
para obter sucesso, tão fundamental quanto ter talento e se esforçar dos, os públicos e seus próprios talentos
é ter sorte — e aí está incluso tudo o que foge ao nosso controle, — daí a importância da educação. Como
como nascer em uma família rica, frequentar boas escolas ou sim- os recursos públicos e, principalmente, os
plesmente nascer em um país desenvolvido. “Eu não defendo que privados não são os mesmos para todos,
as pessoas não sejam avaliadas e recompensadas por suas qualifi- ao observar somente o final da corrida, o
cações”, diz Frank. “Mas há muita gente talentosa e trabalhadora sistema privilegia poucos.
no mundo que não chega lá simplesmente por não ter sorte.” Ao aplicar essa lógica ao caso de Michel-
zinho, por exemplo, seria possível afirmar
VAntAgem nA lArgAdA que ele, que frequenta uma das melhores
Na opinião do autor, isso é particularmente evidente (e tem conse- escolas da capital paulista — cuja mensa-
quências piores) em países onde a desigualdade social é maior — lidade pode passar de R$ 3 mil, quase três
caso do Brasil, que costuma aparecer entre os 20 piores colocados vezes a renda média per capita do país —,
em listas que medem a concentração de renda. Segundo a Pesquisa terá as mesmas chances de ser bem-suce-
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2014, feita pelo dido que um dos alunos de escolas públi-
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o salário dos Um
cas estaduais que nem sequer têm meren-
britânico
10% mais ricos é quase 30 vezes maior que o dos 10% mais pobres. com da? De forma alguma, avalia o jornalista
Uma comparação que ajuda a entender o ponto de quem critica diploma
britânico James Bloodworth, 33, autor do
ganha
a meritocracia como sistema de seleção e também por que ela tem ao longo recém-lançado The Myth of Meritocracy:
relação com a desigualdade é que o mercado de trabalho funciona da vida,
Why Working Class Kids Still Get Working
em média,
como uma competição para a qual o participante começa a se pre- 100 mil Class Jobs (“O Mito da Meritocracia: Por
parar desde a infância. As pessoas acumulam capital humano, termo libras
que Crianças da Classe Trabalhadora
esterlinas
usado por economistas para denominar o conjunto de capacidades, (R$ 491 Ainda Têm Empregos de Classe Traba-
competências e atributos de personalidade que favorecem a pro- mil) a mais
lhadora”, sem previsão de lançamento no
que um sem
dução de trabalho. Para isso, contam com três recursos: os priva- graduação. Brasil). A motivação da pesquisa foi jus-

Desigualdade
vem de berço
Nascidos no Nordeste do Brasil estudam,
em média, quase dois anos a menos
do que os nascidos no Sudeste do país
25,4 %
4 A 7 Anos

PÁTRIA 8 A 10 Anos
EDUCADORA
17,2 %
Anos de estudo
11 Anos
ou MAis
por % da
população
38,2 %

1 A 3 Anos
10,2 %

seM instrução
e Menos De 1 Ano
8,9 %

QUAL É A NOTA?
Média de escolaridade
por região do país

norDeste
norte 6,6 anos
7,2 anos

Ainda existem
no Brasil 13,2
milhões de
pessoas que
não sabem ler Centro-oeste suDeste
8 anos 8,4 anos
nem escrever
sul
8 anos

40 Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) de 2014 — tempo de estudo
de pessoas com 10 anos ou mais de idade; renda da população ocupada de 16 anos ou mais de idade
tamente sua experiência com o sistema educacional britânico. Aos
16, ele saiu da escola e, para voltar a estudar aos 19 e poder fazer
as provas para universidades, precisou pagar 900 libras esterlinas
(cerca de R$ 4,5 mil), por ser considerado um estudante “maduro”.
“Depois de pegar um empréstimo com minha avó, comecei a
pensar: ‘Se eu não conseguisse juntar esse dinheiro, nunca teria
chegado aonde cheguei’”, conta. Na divulgação do livro, meio sem
querer, o jornalista provou seu ponto. Ao receber um convite do site 1958 no livro A Ascensão da Meritocracia.
Huffington Post para escrever um artigo de graça, ele simplesmente A obra de ficção era, na verdade, uma crí-
respondeu, no Twitter: “Acabei de escrever sobre a dificuldade que tica à cultura do “self-made man”, a ideia
jovens da classe trabalhadora têm em se dar bem em suas profissões de que as pessoas constroem por si mes-
por causa da proliferação do trabalho não remunerado. Então, eis mas o próprio sucesso. “Como um obje-
meu artigo: você faz parte do problema, Huffington”. tivo puro, a meritocracia é uma fantasia
Entre os dados que considera alarmantes, Bloodworth cita os inatingível, ela se canibalizaria graças aos
relacionados à educação superior e às profissões mais bem remu- resultados extremamente desiguais que
neradas — e como, de certa forma, eles estão interligados. Quem ela geraria”, diz Bloodworth. “Em uma ver-
frequenta universidades mais novas, que tendem a atrair estudantes dadeira meritocracia, os malsucedidos en-
de baixa renda, em geral tem salários menores do que aqueles que caram a vergonha dupla de saber que, sem
estudaram em faculdades consideradas tradicionais e de elite. Na dúvidas, mereceram esse destino.”
Universidade de Oxford, por exemplo, é interessante notar como
isso aparece nos sobrenomes: são predominantes os que pertencem o pArAdoxo
às famílias mais ricas do país, como Baskerville, Darcy e Montgo- Ironicamente, não foi essa a interpretação
mery. E, embora somente 7% das crianças britânicas frequentem da sociedade para o livro de Young. O sis-
colégios privados, 33% dos médicos, 71% dos juízes e 44% das tema foi visto como positivo e como uma
pessoas que aparecem alternativa ao fisiologismo, ao nepotismo
na lista dos mais ricos ou a privilégios relacionados à renda ou
RENDA MÉDIA do jornal The Sunday mesmo ao gênero. “Quando se discutem
QUANTO gANhAm Os hOmENs bRANCOs Times estudaram nes- as consequências nefastas disso e procu-
Centro-oeste r$ 2.757,30 se tipo de instituição. ram-se alternativas, a conclusão lógica é
sudeste r$ 2.551 “Tentativas genuínas passar a avaliar as pessoas por mérito”,
sul r$ 2.121,30 para proporcionar mo- diz a antropóloga Livia Barbosa, da Uni-
norte r$ 1.741,80 bilidade social deve- versidade Federal Fluminense.
nordeste r$ 1.478,50 riam começar por re- De volta ao exemplo das crianças em
duzir a desigualdade idade escolar, um argumento recorrente
mULhEREs bRANCAs entre ricos e pobres, entre quem defende a meritocracia é que
Centro-oeste r$ 1.969,60 não estratificando a ela acabaria com a possibilidade de a crian-

sudeste r$ 1.670
sociedade com base ça mais rica ser beneficiada apenas pelo
em mérito”, argumen- dinheiro. Afinal, se ela não trabalhar duro e
norte r$ 1.352
ta Bloodworth. não tiver talento, de nada adiantará a rique-
sul r$ 1.347,60
O fim da mobilidade za inicial — que pode, inclusive, se trans-
nordeste r$ 1.126,30
social, a desigualdade formar em desvantagem caso a pessoa pas-
crescente e a forma- se a acreditar que tem “a vida ganha” e,
hOmENs NEgROs
ção de castas seriam portanto, não precisa se esforçar. “Quando
Centro-oeste r$ 1.755,20
as consequências de- nascemos, independentemente do local,
sudeste r$ 1.497,40
vastadoras de siste- somos todos zero quilômetro, não sabemos
sul r$ 1.427,10 mas puramente meri- absolutamente nada”, diz o diplomata Pau-
norte r$ 1.138 tocráticos, de acordo lo Roberto de Almeida, consultor do Insti-
nordeste r$ 890,30 com o autor britânico tuto Millenium, entidade de perfil liberal.
Michael Young, que Como exemplo, ele cita a própria carreira.
mULhEREs NEgRAs cunhou o termo em Nascido em família de baixa renda, atribui
Centro-oeste r$ 1.149,40 o sucesso aos estudos, em parte realizados
sudeste r$ 1.004,10 por conta própria em uma biblioteca perto
sul r$ 916,60 da casa onde cresceu. “Eu me fiz nos livros,
norte r$ 869 pelos livros e para os livros.”
nordeste r$ 666,20 Para o cientista político Luiz Felipe
d’Ávila, diretor do Centro de Liderança
Pública, uma educação precária é,
sim, uma desvantagem competitiva. 41
Prática leva
à perfeição
Para autor norte-americano,
Bill Gates e os Beatles
não se destacaram só
pelo talento, mas porque
puderam treinar à exaustão
Porém, ao mesmo tempo, só frequentar uma boa escola ou facul-
dade não basta. “Para ter sucesso hoje, é preciso saber lidar com No livro Fora de Série,
pessoas e ter vivências que muitas vezes ninguém ensina no colé- o jornalista Malcolm Gladwell
gio”, diz. Um indivíduo talentoso e esforçado pode, e deve, buscar conta o número “mágico”
mais diferenciais e habilidades. Um caso que ganhou destaque na de horas de prática que uma
mídia recentemente é o do chef Marcelo Ribeiro, responsável pelo pessoa deve alcançar para
cardápio do restaurante Depósito Gourmet, no Rio de Janeiro, que se tornar excepcionalmente
recebeu duas indicações ao prestigiado Guia Michelin. Ex-vendedor bem-sucedida: 10 mil horas.
de balas na Central do Brasil, Ribeiro cursou culinária no Senac de Isso equivale a três horas
Niterói e, por meio de estágios em hotéis, chegou ao posto atual. de treinamento por dia,
“Aqui a meritocracia é tida como algo injusto, com exceção do uni- ou a 20 horas por semana,
verso das empresas, em que é vista com bons olhos”, diz Barbosa, au- durante dez anos.
tora do livro Meritocracia à Brasileira: O que É Desempenho no Brasil. Um exemplo é Bill Gates,
Ela explica que o termo só passou a ser conhecido no país na última fundador da Microsoft. Ele
década, e com um viés mais politizado do que em nações como os teve acesso a um computador
Estados Unidos, onde a meritocracia é encarada como ideologia e e à programação na oitava série,
bastante analisada no mundo acadêmico. Mas, mesmo no dia a dia, em 1968. Quando deixou Harvard
argumenta, aplicamos a meritocracia de modo quase inconsciente. “Se para criar a própria empresa
você precisa pintar a casa, não sairá à procura do ‘pior pintor’. Sempre de software, já programava
queremos o melhor. Por que haveria de ser diferente nas empresas?” havia sete anos sem parar.
Outro problema, na opinião de Barbosa e Almeida, é que no Quantos adolescentes tiveram
Brasil, talvez por conviver com outras ideologias de hierarquização, esse mesmo tipo de experiência?
a meritocracia é um pouco às avessas. O sistema é aplicado prin- “Se existissem 50 em todo
cipalmente na seleção de profissionais, o mundo, eu me espantaria”,
como em concursos públicos, mas são artigos necessários, pelas regras da ins- escreve Gladwell. Os Beatles
criadas aberrações como a “indústria dos tituição, para não ser demitido depois do também se encaixam. No
concursos”, em que milhares de pessoas período de três anos iniciais. Entretanto, início da carreira, entre 1960
gastam tempo e dinheiro para fazer parte talvez por sorte, foi mantido no cargo. No e 1962, tocaram 270 noites em
de um funcionalismo que não continua a ano seguinte, conheceu um professor vi- Hamburgo. Quando estouraram,
avaliá-las por mérito ao longo da carreira. sitante que o encorajou a escrever sobre já tinham se apresentado
A antropóloga afirma ainda que a socieda- o mercado de trabalho. Foram quatro ar- ao vivo cerca de 1,2 mil vezes.
de brasileira nunca reivindicou de fato a tigos, todos publicados nas principais re-
meritocracia, embora esta talvez seja uma vistas da área em poucos meses.
boa maneira de combater a corrupção. “As Geralmente, esses periódicos aceitam
pessoas pedem menos corrupção e leis menos de 10% do material que recebem
para isso, mas não enxergam a merito- e podem levar até um ano para responder.
cracia como o único sistema que, de certa “Tenho orgulho dos estudos, mas não acho
forma, neutraliza critérios que geram pri- que tinham qualidade muito superior aos
vilégios e facilitam a corrupção”, ressalta. que foram recusados. E a probabilidade de
ter os quatro aprovados em um período de
o fAtor AcAso tempo tão curto é pequena, o que me leva
Além da desigualdade, a influência do aca- a crer que meu sucesso editorial repentino
so puro numa carreira, sem necessaria- foi uma grande sorte.” Ele atribui a isso o
mente estar relacionado a desigualdades fato de ter superado a avaliação seguinte e
de classe, gênero ou raça, divide opiniões. mantido o emprego na universidade.
Para defender o argumento, o economis- Em um estudo emblemático realizado
ta Robert Frank buscou exemplos tam- em 2006, o sociólogo Duncan Watts, pes-
bém na própria trajetória e em estudos já quisador da Microsoft, e sua equipe bus-
realizados. Em seus primeiros anos como caram avaliar o quanto o sucesso depende
professor em Cornell, Frank se di- do acaso. No experimento chamado Music
42 vorciou e não conseguiu escrever os Lab, feito com 14 mil pessoas nos EUA, a
10
ideia era responder a essa pergunta para

milhoras
músicos iniciantes. Em um site, publica-
ram 48 nomes de bandas independentes
e uma música de cada uma. Os visitantes
poderiam fazer o download de qualquer
uma delas, desde que as avaliassem de-
pois de ouvi-las, para criar um ranking
objetivo da qualidade das músicas.
Com isso em mãos, os pesquisado-
res, então, criaram oito novos sites com
Cientistas avaliaram as mesmas bandas e canções. Dessa vez,
carreiras de diversas porém, os visitantes poderiam ver o nú-
áreas, da música ao
esporte, para chegar à mero de downloads e a avaliação que ou-
regra das horas de prática tros usuários tinham feito das faixas. E o
resultado foi surpreendente: a música que
no ranking objetivo ficou em 26º lugar,
por exemplo, teve sua posição variada de
forma drástica nos outros sites, da pri-
meira colocação até a última. “O destino
dela dependeu da reação das primeiras
pessoas que fizeram o download”, escreve
Frank. “É claro que trabalhos inquestio-
navelmente bons têm maiores chances de
superar até comentários negativos, mas
o sucesso de algo tão subjetivo como a
arte aparentemente depende da sorte de
as primeiras impressões serem positivas.”

o Vencedor leVA tudo


O acaso puro pode ser determinante entre
aqueles que são igualmente talentosos. No
livro Fora de Série — Outliers, de 2008,
o jornalista Malcolm Gladwell lista uma
série de acontecimentos ao longo da his-
tória que mostram a influência de fatores
improváveis para o sucesso, entre eles a
data ou o ano de nascimento. Um exemplo

As pessoas
que se
destacam
são uma
combinação
de sua
capacidade,
chance e
vantagem
totalmente
arbitrária,
diz Malcolm
Gladwell no
livro Fora
de Série. 43
Manual
da sorte
Dois passos para
atrair o melhor
para a sua vida

Esqueça a supers-
tição, os amuletos,
os talismãs e até
Os homens certos mesmo as macum-
na hora certa bas. Segundo o
Carreiras de sucesso em Hollywood psicólogo Richard
também contam com apoio da sorte Wiseman, autor do
livro O Fator Sorte,
Levou o Oscar de melhor ator
é possível aprender
por Perfume de Mulher (1992); a ser sortudo em
já recebeu outras sete indicações
dois passos básicos.

Al PACino
1940 Nasce em Nova York. Durante a adolescência, atua
em peças pequenas e é rejeitado pelo Actors Studio
1969 Ganha o primeiro papel no filme Me, Natalie
1972 Ponto de virada: Francis Ford Coppola, um diretor
até então inexperiente e, portanto, sem muito poder
de imposição, insiste para que a Paramount escale
Al Pacino para o papel de Michael Corleone em
O Poderoso Chefão. As opções do estúdio eram
Robert Redford, Warren Beatty ou Ryan O’Neal

Foi indicado ao Oscar de melhor


ator neste ano, por seu papel
em Trumbo — Lista Negra

BryAn CrAnston
1956 Nasce em Los Angeles
1980 Começa a trabalhar com TV
1998 Tem o primeiro papel de maior destaque,
na minissérie da HBO From the Earth to the Moon
2006 Atua em Pequena Miss Sunshine; até então,
havia participado de outros seis filmes
2008 Ponto de virada: é escalado por Vince Gilligan para
viver Walter White, protagonista de Breaking Bad, após
John Cusack e Matthew Broderick recusarem o papel
1 2
por viver Walter White na série Breaking
Bad. Embora ambos fossem talentosos
e já trabalhassem na área, conseguiram
os papéis que alavancaram suas carreiras
relAxe e enxergue APrenDA A liDAr
principalmente por sorte. Al Pacino foi es-
As oPortuniDADes CoM o AzAr
colhido por insistência do diretor Francis
Em alguns testes, Wiseman Para um efeito meio “Pollyanna”
Ford Coppola, contrariando as indicações
percebeu que quando estamos (personagem famosa por só ver
do estúdio; Cranston, graças às recusas de
tensos e ansiosos, muitas vezes o lado bom em tudo), é preciso
John Cusack e Matthew Broderick.
não conseguimos perceber aprender a enxergar o aspecto
“As pessoas não gostam de ouvir que
boas oportunidades que estão positivo de situações ruins, pois
o sucesso tem a ver com sorte, elas não
na nossa frente. “Os azarados isso diminui o impacto emocio-
querem admitir o papel do acaso em suas
perdem oportunidades porque nal que elas podem ter. De certa
vidas”, disse o escritor Michael Lewis no
estão muito focados procu- forma, tem relação com a pri-
discurso para a turma de formandos da
rando por algo específico, meira dica: menos estressadas,
Universidade Princeton em 2012. Autor
enquanto os sortudos são mais as pessoas conseguem relaxar e
de A Grande Aposta e Um Sonho Possível,
relaxados e abertos”, explica. alcançam boas oportunidades.
ambos adaptados para o cinema, ele nar-
rou uma série de eventos improváveis que
o ajudaram a se tornar famoso e bem-su-
cedido. “Em um jantar na universidade,
sentei-me ao lado da esposa de um figu-
rão de um banco de Wall Street, o Salo-
mon Brothers. Ela foi com a minha cara
e meio que forçou o marido a me dar um
é o hóquei canadense. A seleção é formada por idade, e a data-limite emprego, com uma posição que me permi-
para se candidatar é 1º de janeiro. Por isso, um menino que completa tiu observar de perto a loucura crescente”,
10 anos em 2 de janeiro pode jogar no mesmo time de outro que só descreve. O resultado da experiência virou
terá a mesma idade quase 12 meses depois. E 12 meses, nessa fase, o best-seller O Jogo da Mentira.
fazem grande diferença no desenvolvimento físico. Não à toa, aponta “De repente, todo mundo me falava que
Gladwell, 40% dos garotos dos principais times fazem aniversário nasci para ser escritor, mas até eu podia
entre janeiro e março, contra 10% entre outubro e dezembro. ver que aquilo era absurdo”, continua. Afi-
Resultados parecidos foram observados pelas economistas Kelly nal, quais as chances de se sentar justa-
Bedard e Elizabeth Dhuey quando analisaram a relação entre as no- mente ao lado da senhora do Salomon
tas e o mês de nascimento de estudantes. No teste feito com alunos Brothers e cair nas graças dela? E o privi-
da quarta série, os mais velhos tinham notas consideravelmente légio de poder estudar em Princeton, uma
mais altas que os mais novos. Ao transferir a análise para faculda- das melhores faculdades do país? “Eu tive
des, elas descobriram que os alunos mais jovens correspondem a sorte, e isso não é falsa humildade.”
11,6% das turmas. A diferença inicial de maturidade aparentemente
não diminui com o tempo. “É ridículo e muito estranho que nossa reconheçA seus priVilégios
escolha arbitrária de datas-limite acarrete esses efeitos duradou- Em resposta a questionamentos e críticas,
ros e que ninguém pareça se importar com isso”, escreve Dhuey. Frank explica que não se deve deixar de
Esse tipo de fenômeno recebeu até uma denominação própria, avaliar as pessoas com base em seus ta-
criada pelo sociólogo Robert Merton: o “efeito Mateus”. É uma alu- lentos e esforços. Afinal, como argumenta
são ao Evangelho segundo Mateus, que afirma “Porque a todo aque- o cientista político D’Ávila, de nada adian-
le que tem será dado e terá em abundância; mas, daquele que não ta você ter a sorte de conseguir uma opor-
tem, até o que tem lhe será tirado”. Ou seja, às vezes, por um golpe tunidade incrível em uma área que não
de sorte, algumas pessoas acabam recebendo grandes vantagens domina. “Diga aos seus filhos para traba-
em relação às outras, e isso, no fim, gera ainda mais desigualdade. lhar duro e não esperar por um momento
Para atuar
O raciocínio se aplica também aos chamados mercados “win- de sorte”, defende Frank. “Mas, assim que
no último
ner take all” (“o vencedor leva tudo”), como explica Robert Frank. ano de se tornarem bem-sucedidos, faça-os en-
Breaking
Atualmente, vivemos uma era em que poucas posições de trabalho xergar o quão sortudos eles foram.”
Bad, Bryan
concentram rendas muito altas e desproporcionais em relação às Cranston Isso porque quanto mais as pessoas
recebeu
outras. E, para concorrer a essas vagas, os candidatos estão cada acreditam que mereceram e conquistaram
US$ 1,8
vez mais qualificados. “Em competições muito acirradas, tudo pre- milhão tudo sozinhas, menos elas sentem que de-
(R$ 6,2
cisa correr perfeitamente”, conclui o economista. vem algo à sociedade. Como argumento,
milhões),
A indústria cultural é repleta de exemplos. Frank menciona a média de Frank cita um estudo de 2013 feito pelos
US$ 225
trajetória dos atores Al Pacino, famoso por seu papel em O Pode- cientistas políticos Benjamin Page,
mil por
roso Chefão, e Bryan Cranston, mais conhecido a partir de 2008 episódio. Larry Bartels e Jason Seawright, das 45
universidades americanas Northwestern e Vanderbilt. Eles mostra- Comum em
legendas
ram que o 1% mais rico da população é extremamente ativo politi- de fotos de
camente e mais resistente que o restante dos americanos a gastos paisagens
e sorrisos,
do governo, impostos e regulações. “Quando você acredita ter al- a hashtag
cançado tudo sozinho, fica propenso a se recusar a pagar impostos, #gratidão
já foi usada
por exemplo, pois acha que o governo está ‘roubando’ algo seu por quase 2,2
direito”, explica. É um sentimento parecido, talvez, que faz a elite milhões de
vezes no
ainda achar natural proibir empregados de frequentarem os mesmos Instagram.
lugares que ela. Um caso recente exposto na mídia foi o do Country
Club do Rio de Janeiro, onde placas anunciam que
as babás dos filhos dos frequentadores não podem outras capacidades e habilidades dos es-
usar os mesmos banheiros que as sócias. tudantes. “O modo como as seleções são
Mas, citando o bilionário Warren Buffett, “alguém feitas hoje é arcaico”, critica D’Ávila.
está sentado à sombra hoje porque alguém plantou Com tamanha polarização de opiniões,
uma árvore há muito tempo”. Isso leva de volta à como convencer as pessoas a apoiar os
discussão sobre desigualdade e capital humano: é investimentos que, indiretamente, as aju-
muito mais provável e fácil acumulá-lo quando se daram a alcançar o sucesso? Para Robert
tem a sorte de crescer em ambientes favoráveis, o Frank, basta fazê-las reconhecer o quão
que requer dinheiro e um alto grau de investimento sortudas elas foram — e se sentirem gra-
público — da educação à saúde e infraestrutura. Se- tas por isso. Alguns experimentos, entre
gundo Frank, somadas aos investimentos, as políti- eles um conduzido por Yuezhou Huo, pes-
cas públicas, como ações afirmativas para minorias, quisadora assistente de Frank, mostram
são importantes para reduzir as desigualdades que que quem expressa o sentimento é mais
podem prejudicar o sistema. propenso a contribuir com o bem comum.
No Brasil, o caso mais emblemático é o das co- No estudo em questão, Huo prometeu um
tas raciais e sociais em universidades. Embora elas prêmio em dinheiro a quem completasse
existam desde os anos 2000 em algumas institui- um questionário sobre situações positi-
ções, só em 2012 foi aprovada uma lei que prevê a vas. A um dos grupos, pediu que listassem
reserva de 50% das vagas em todos os cursos de fatores além do próprio controle que aju-
universidades federais para quem fez o Ensino Mé- daram a causar a situação; a outro, pediu
dio em escola pública, negros, pardos e indígenas. uma lista de qualidades e ações próprias
O objetivo é diminuir as disparidades de aces- que podem ter gerado o fato positivo; e
so: naquele ano, durante o debate no Supremo Tri- um terceiro grupo, para controle do ex-
bunal Federal para avaliar a constitucionalidade perimento, precisou apenas explicar pos-
da nova lei, o ministro Ricardo Lewandowski lem- síveis motivos para o evento acontecer.
brou que apenas 2% dos negros conquistam diplo- Depois de completar o questionário, eles
mas universitários no país. De acordo com o IBGE, poderiam escolher entre doar parte ou o
em 2008, 60,3% dos jovens brancos frequentavam prêmio inteiro para caridade. Os incen-
universidades, contra 28,7% dos negros e pardos. tivados a citar causas externas doaram
O número subiu para 40% em 2014, e a estimati- 25% a mais do que quem mencionou ape-
va da Secretaria de Políticas para a Promoção da nas qualidades e ações próprias.
Igualdade Racial (Seppir) é de que, no final deste A relação da gratidão com a generosida-
ano, prazo-limite para a adequação à nova lei, as de é percebida por Medeiros, zelador do
novas políticas garantam o ingresso a 150 mil es- prédio paulistano. Sem saber do livro de
tudantes negros, ou 50% das vagas. Frank ou das pesquisas, ele afirma acre-
Embora os dados mostrem que o sistema tem ditar que o maior problema na sociedade
dado certo e que o número de negros com ensino atualmente é esse — e ele não está res-
superior atualmente chega a 6%, há quem defenda trito aos mais ricos. “Quando as pessoas
a volta da meritocracia pura, nos moldes do que era conseguem qualquer coisinha, às vezes só
o vestibular antigamente, ou a adoção de um pro- passar a usar um tênis ou uma roupa mais
cesso de seleção mais completo, que avalie também da moda, parecem se esquecer das ou-
tras”, observa, e diz ficar chateado quando
vê que alguns de seus amigos cujas traje-
tórias de vida foram muito parecidas com
a sua o discriminam e são egoístas. “Eles
precisam lembrar que sempre, não impor-
ta de onde você veio e aonde você chegou,
46 alguém o ajudou no caminho.”
#gratidão
Aprenda exercício para passar a
valorizar mais aqueles momentos
em que tudo corre bem na vida

Além de tornar as pessoas mais


generosas, a gratidão faz bem
para a saúde. Estudo feito por
pesquisadores da Universida-
de da Califórnia – Davis e da
Universidade de Miami concluiu
que quem percebe o sentimento
tem dores no corpo com menor
frequência e intensidade, dorme
melhor, tem mais amigos, é
mais alerta, menos ansioso e
agressivo e mais feliz. Para quem
ainda é resistente a publicar
fotos de #gratidão no Instagram
ou torceu pelo fim do botão da
florzinha no Facebook, criado
temporariamente para o Dia das
Mães, uma dica é usar o mesmo
instrumento da pesquisa: ano-
tações. Durante dez semanas,
experimente manter um diário
com tudo aquilo que fez você se
sentir grato. Não custa tentar.
buraco adentro Corrida nas estrelas
ao lado estão algumas das
C o m o t r a pa C e a r n a s v i a g e n s e s pa C i a i s propulsões mais promissoras
já estudadas e as estimativas
para que o Universo descritos como túneis que precisaríamos de da velocidade máxima que
poderiam alcançar. em uma

Distância da Terra
faça sentido, a velocida- ligam dois pontos distantes quantidades impen-

Velocidade em km/h
de da luz deve se manter no espaço-tempo. Funcio- sáveis de algo a disputa, os calhambeques

Ponto de partida (Terra)


constante e nada pode nam como um atalho que não temos que chamamos de foguete

Tempo até a Alpha Centauri


ultrapassá--la. É uma para percorrer acesso — a perderiam feio: levariam
das leis da física. mas, as gigantescas matéria exótica. milhares de anos para chegar à

Porcentagem da velocidade da luz


Velocidade da luz: 1,08 bilhão km/h
estrela vizinha. na teoria, com

Distância percorrida no buraco negro


como toda boa regra, distâncias ela envolve con-
talvez possa ser quebra- cósmicas. o ceitos abstratos exceção de duas tecnologias
da. Um dos macetes teó- problema é como antigravidade (Bussard e antimatéria), todas
ricos para viagens mais que, para e massa negativa. as outras naves poderiam ser
rápidas que a luz são os manter o construídas neste século.
buracos de minhocas, túnel aberto, Continua na pág. 53

C o m o
Lua
1 segundo-luz

o s

design joão pedro brito


dobra espacial Distorce o espaço-tempo e viaja mais depressa que a luz

por andré jorge de oliveira


ilustrações marcus penna
C i e n t i s ta s

bussard ramjet Coleta hidrogênio


p r e t e n
foguete químico Movimento surge da queima de hidrogênio e oxigênio

antimatéria Interação com partículas de matéria libera energia abundante

pulso nuclear Explosões nucleares seriadas impulsionam a nave

Saturno
70 minutos-luz

d e m v i s i ta r a s e s t r e l a s a i n d a n e s t e s É C U l o

vela laser É empurrada pelos fótons de um poderoso feixe de luz

fusão nuclear Energia é gerada quando núcleos atômicos se fundem

do espaço para usá-lo em reações nucleares

49
360 mil km/h

foguete
químico
0,03% 13 mil anos

a v e l o C i d a d e

d a l U z É o l i m i t e

54 milhões km/h Netuno


pulso
nuclear
5% 86 anos 4 horas-luz

P
hilip lubin mal pôde acreditar quando soube que n ão é f i c ç ão
sua pesquisa cativara um bilionário russo. ainda Há décadas cientistas
investigam como
mais por ser tão específica: um plano detalhado chegar às estrelas
de como lançar uma sonda que chegue até a estrela mais
próxima do sol em apenas 20 anos. o interesse repentino órion (1958)
o governo dos eUa
foi surpreendente porque o professor da Universidade da bancou o primeiro grande
projeto de naves. À base de
Califórnia em santa Bárbara está acostumado a recorrer a pulsos nucleares, poderiam
agências federais dos estados Unidos quando precisa de levar humanos a marte,
saturno e alpha Centauri.
recursos para seus projetos. É o que a maioria dos pesqui-
sadores faz. E eles podem ficar até um ano esperando uma daedalus (1973)
resposta para, no fim das contas, ganhar nada além de uns provou que viagens
interestelares são viáveis.
tapinhas nas costas, ouvir que as ideias são boas, que a pro- a fusão nuclear levaria a
nave de design futurista
posta é interessante, porém a verba não virá. “ter alguém até a estrela de Barnard
que, em dez semanas, diga ‘sim e, a propósito, investire- (6 anos-luz) em 46 anos.

mos Us$ 100 milhões na sua ideia’ é algo com que eu sim-
longshot (1987)
plesmente não estou acostumado”, confessa o astrofísico. retomou o conceito
de pulsos nucleares e
propôs que a sonda não
tripulada fosse construída
na estação espacial.
a viagem até a alpha
Centauri levaria 100 anos.

E n E r g i a q u E n ão dá g o s to
icarus (2009)
Humanos nem sequer pontuam na escala de Kardashev, que mede revisitou o nostálgico
o avanço tecnológico de civilizações a partir da energia a que têm acesso daedalus. a sonda à base
de fusão nuclear chegaria a
uma estrela em menos de
tipo 0 Nós. Principal fonte tipo 1 Domina o próprio planeta, 108 milhões km/h
fusão
nuclear

um século e desaceleraria
de energia são plantas podendo modificar o clima, além 10% 43 anos para coletar mais dados.
e animais mortos como de manipular e extrair energia
petróleo e carvão. de fenômenos como terremotos.
100 Year starship (2010)
Financiado pelos eUa
tipo 2 Consegue armazenar tipo 3 Povoou a própria
para estimular uma viagem
a produção energética de galáxia. É capaz de extrair e
interestelar ainda neste
seu sol e até criar estrelas. utilizar a energia liberada por
século. É liderado por
Colonizou estrelas vizinhas. centenas de bilhões de sóis.
mae Jemison, primeira
astronauta negra a
Fonte: mkaku.org chegar ao espaço.

50
este algUÉm é Yuri milner, É o que propõe a pesquisa
um capitalista de risco forma- de lubin, que recebeu da nasa
do em Física que ficou rico Us$ 100 mil no ano passado Nuvem de Oort
1 ano-luz
na década passada investin- e virou a base do starshot. a
do em startups de tecnologia. ideia é construir lasers super
nas horas vagas, o entusias- -potentes que projetem seus
ta da exploração espacial usa feixes para o espaço às custas
sua fundação para doar parte da energia de cinco usinas de equação da espera
lógica de sempre adiar a
de sua fortuna a cientistas à itaipu. eles não vão mirar na primeira missão intereste-
frente de seu tempo, para que sonda, e sim em suas velas. lar com receio de que son-
possam tirar ideias ambiciosas o empurrão vem dos fótons, das mais avançadas surjam
nas décadas seguintes e
do papel. isso explica ele que- a mais veloz entre as partícu- cheguem antes ao destino.
rer financiar uma missão in- las. no geral, o projeto é viável
terestelar. “pela primeira vez, a curto prazo graças a avan-
podemos fazer mais do que ços como a diminuição dos diz loeb. o material pode der-
apenas contemplar as estre- eletrônicos, alavancada pelos reter se não refletir o máximo
las”, disse, ao anunciar o proje- smartphones. Já é possível possível da luz do laser.
to Breakthrough starshot jun- criar sondas do tamanho de
to do físico stephen Hawking. chips, leves e fáceis de acele- Caronas possantes
“podemos alcançá-las.” a ceri- rar. a meta é que um protóti- mas as velas fotônicas não são
mônia ocorreu em 12 de abril, po seja lançado na próxima dé- nosso único meio de transpor-
dia no qual, 55 anos antes, um cada. teoricamente, nos anos te até as estrelas — existem ou-
outro russo chamado Yuri se 2030, as nanossondas poderão tras formas de propulsão que
tornou a primeira pessoa a ser enviadas à alpha Centauri podem cumprir o mesmo obje-
chegar ao espaço. Como mui- — mas só se entrar mais di- tivo. Umas mais realistas, ou-
tos soviéticos, a mãe de milner nheiro na conta. apesar de pa- tras ainda exóticas, todas são
ficou tão impressionada com a recer muita coisa, os Us$ 100 um prato cheio para a ficção
façanha de gagarin que deu ao milhões só conseguem bancar científica. Mas essas tecnolo-
filho o nome do cosmonauta. as pesquisas iniciais. gias também foram estudadas
a tecnologia que chamou a “O custo final da empreita- a sério por pesquisadores nas
atenção do bilionário é a ener- da provavelmente será compa- últimas décadas (veja o box ao
gia direcionada, que lubin es- rado ao das maiores colabora- lado). entre os estudiosos, al-
tuda desde 2009. nada mais é ções científicas”, disse Milner. guns não estão convencidos
do que um poderoso feixe de ele estima algo na ordem de de que Yuri milner terá su-
laser com diversas aplicações. bilhões de dólares. Há tam- cesso. “o starshot parece ter
Uma delas é acelerar minús- bém outras barreiras técnicas, verba e especialistas para fa-
culas sondas para que percor- como os obstáculos no cami- zer progresso, mas não tenho
ram algo em torno de 270 mi- nho. em velocidades tão altas, certeza de que será capaz de
lhões de quilômetros em uma colidir com um simples grão cumprir suas metas”, aponta o
hora. nesse ritmo, chegariam de poeira interestelar pode físico marc millis, que pesqui-
a marte em menos de 30 minu- causar grandes estragos. a sava métodos revolucionários
tos. lançada em 1977, a sonda solução mais prática é lançar de propulsão na nasa e, em
voyager 1 é a mais distante da um enxame de naves, assim 2006, criou a própria organi-
terra — ela seria alcançada em as chances de que uma che- zação para aprofundar o tra-
três dias. a meta do projeto é gue intacta à alpha Centauri balho. a Fundação tau zero
sobrevoar a estrela mais próxi- aumentam. outro problema é desenvolve pesquisas cientí-
ma de nós, a alpha Centauri, a comunicação: as fotos dos ficas para tornar as viagens
e fotografar seus planetas. só exoplanetas demorarão qua- interestelares uma realidade,
que ela está tão longe que che- tro anos para chegar até nós. mas sem tomar partido de ne-
gar lá seria como fazer um bate “detectar o sinal transmitido nhuma técnica específica.
e volta no sol e repeti-lo 135 mil de uma distância tão grande o motivo é que os estudos
vezes. o plano é que a viagem é um desafio formidável”, afir- ainda são um tanto prelimina-
dure duas décadas e atinja 20% ma o físico teórico avi loeb, res. “tentar decidir agora qual
da velocidade da luz. Como diz coordenador do comitê de 25 é a melhor abordagem interes-
uma antiga constatação de especialistas do programa, en- telar seria como os engenhei-
einstein: nada se desloca mais tre os quais está philip lubin.
depressa do que a luz. e se pe- “Para mim, o maior desafio é
gássemos uma carona com ela? garantir a integridade da vela”, 51
ros da era dos motores a vapor solares, atrás de planetas habitá-
argumentarem sobre a melhor veis que garantam a continuidade
forma de ir para a lua”, compa- da espécie. o deslocamento ultra-
ra millis. mas uma coisa é certa: veloz faria o tempo passar mais

antimatéria
os foguetes químicos que têm nos devagar para os tripulantes, em
levado para fora da terra desde o comparação com os que ficassem
início da era espacial são terrivel- na terra. Como o atalho dos bu-
mente ineficientes. Eles funcio- racos de minhocas ainda nos é
nam à base da queima de hidro- inacessível (veja as páginas 48 e 540 milhões km/h
gênio e oxigênio. o máximo que 53), o que temos é um punhado de 50% 9 anos
aproveite o passeio
uma nave com essa tecnologia técnicas de propulsão cuja velo- no caminho para a alpha
poderia alcançar seria em torno cidade jamais ultrapassa a da luz Centauri, uma sonda pode-
de 360 mil quilômetros por hora, e uma viagem que pode durar al- ria estudar regiões pouco
compreendidas, como a nu-
o equivalente a míseros 0,03% gumas centenas de anos. apenas vem de oort, a heliosfera e
da velocidade da luz. isso faz de descendentes distantes dos que o próprio meio interestelar.
nossas espaçonaves verdadeiros partiram chegariam ao destino —
calhambeques, que levariam de-
zenas de milhares de anos para
chegar às estrelas mais próximas.
vencer as distâncias cósmicas re-
quer técnicas de propulsão mais vizinhas estelares
potentes, e isso exige energia.
estrelas a menos de 20 anos-lUz do sol
muita energia.
por isso mesmo, o astrônomo
nikolai Kardashev criou uma es-
cala que mede o avanço tecnoló-
gico de uma civilização de acordo 5
2 6 11
com a quantidade de energia a que 17

ela tem acesso (veja na página 50). 20


1 3 14
reações nucleares poderiam ace- 12
9 10
lerar naves até porções conside-
ráveis da velocidade da luz, mas o
16
peso dos reatores seria limitante.
4
a aniquilação matéria-antimaté- 18
ria seria formidável, se a produção
de um único grama da substância 8
não custasse Us$ 62,5 trilhões.
o método de Bussard é dos mais 15
7
eficazes, pois o combustível (hi-
13
drogênio) é coletado do meio in-
terestelar. só que, ao que parece,
a coleta gera mais frenagem que SOL
aceleração. para millis, os mé-
Via Láctea
todos têm prós e contras, mas
19
se quisermos sobreviver a longo
prazo, precisamos considerar as
naves-mundo. Um dia, o sol vai
inchar e engolir a terra. É por isso
que achar outros lares é nossa úni-
ca chance de perdurar neste cos-
mos que não se importa conosco.

5 anos-lu 10 anos-
z luz
Humanidade interestelar
15 anos-lu
a motivação por trás de uma na- z

ve-mundo não é tão diferente do


que mostrou o filme Interestelar:
ela é tripulada por humanos em
Fontes: Infográfico - Al Geist (Oak Ridge National Laboratory);
uma jornada para outros sistemas 52 Velocidade das naves - Paul Gilster e Universidade de Maryland (Astronomical Distances)
por isso essas naves são chama- é o antropólogo Cameron smith,
das de geracionais. Uma missão que estuda a evolução humana e
dessas resultaria em um conheci- como vamos nos adaptar à vida no
mento bastante valioso. “Que es- espaço. para ele, é inevitável que
trutura social é capaz de sustentar façamos essa experiência. “enviar
vidas pacíficas e significativas du- a humanidade a um exoplaneta se-

fã de ficção científica

conseguiremos bater
avi loeb. É por isso

de aceitar a ideia de
burlar as regras. “É

invioláveis.” temos
que loeb nunca foi

vizinha — a galáxia
as leis da física são
rante séculos?”, questiona millis. ria um evento de importância evo-

diz o físico teórico

leis humanas, mas

que, talvez, jamais


— ela se permite

à porta de nossa
possível quebrar
nosso planeta também pode lutiva semelhante à transição da

de andrômeda.
ser considerado uma nave-mun- vida dos oceanos para a terra fir-
do de proporções gigantescas, me”, diz. para a população da nave
na qual a humanidade é a tripu- se manter geneticamente saudá-
lação. “Quando essas naves nos vel, ela teria de partir com um nú-
mostrarem como viver de manei- mero entre 18 mil e 50 mil pes-

são pura especulação.


têm base teórica, mas
ra sustentável, física e socialmen- soas. o arqueólogo acredita que

construídos um dia”,
permitiriam viagens
intergalácticas. eles
truques como estes

“não fazemos ideia


as chamadas naves
te, poderemos aplicar as lições na uma missão do gênero deveria

um fóton. apenas
incalculáveis. são

se esses artifícios
de dobra espacial

mais velozes que


terra.” Um especialista no tema conter várias “vilas” voando em

(Warp Drives),
a velocidades

poderão ser
paralelo: assim, um eventual aci-
dente não mataria todos a bordo.
do desembarque em diante,
as coisas mudariam. inclusive o
dna dos embriões. “muita gen-
1. Ross 128

1990, o físico teórico


te pensa que não haverá adapta-

uma nave hipotética


malha estrutural do
trapacear a barreira

Universo. nos anos

o tecido do espaço-
-tempo à sua frente
da luz é distorcer a
2.

poderia comprimir
G 51-15

seu redor, criando


miguel alcubierre
3. Wolf 359 ção biológica porque os humanos

bola e chegando
descreveu como
outra forma de

uma espécie de
e expandi-lo ao
4. Lalande 21185 usam a tecnologia para driblar a
5. Procyon seleção natural, mas isso é um
6. Sirius
7. Alpha Centauri erro, pois nenhum planeta novo
terá as mesmas condições da
terra”, explica smith. só que a es-
pécie humana é excelente em se
adaptar, e foi essa habilidade que
nos salvou da extinção — e con-
tinuará nos salvando. Um pouco
como nossos ancestrais olhavam
8. Estrela de Barnard encantados para as estrelas no
9. Strave 2398
10. Ross 154 céu, hoje sentimos o mesmo en-
11. Epsilon Eridani cantamento, mas com a perspec-
12. Epsilon Indi tiva de conquistá-las. a jornada
13. Luyten 726-8
14. Ross 248 parece épica o bastante para nos
dobra espacial

15. 61 Cygni mobilizar em torno de um projeto


16. Groombridge 34 grandioso de futuro. e, agora, gra-
17. Tau Ceti
18. Lacaille 9352 ças à pesquisa de philip lubin e à
19. Luyten 725-32 iniciativa de Yuri milner, sabemos > 1,08 bilhão km/h
20 Luyten 789-6 como dar o primeiro passo. > 100% < 4,4 anos
laser
velas

540 milhões km/h


50% 9 anos

Andrômeda
20 ano 2,5 milhões de anos-luz
s-luz
bussard
ramjet

1,07 bilhão km/h


99,9% 4,5 anos
53
54

MATEMÁTICA
NÃOÉBAGUNÇA
O PESQUISADOR
BRASILEIRO
MARCELO VIANA,
QUE RECEBEU NESTE
ANO O PRÊMIO
CIENTÍFICO MAIS
IMPORTANTE DA
FRANÇA, EXPLICA
A LÓGICA POR TRÁS
DA TEORIA DO CAOS

TEXTO NATHAN FERNANDES


55

SE O CAOS é mesmo um fenô-


meno furioso, como afirma o
poeta português Fernando Pes-
soa, então o matemático carioca
Marcelo Viana conseguiu domá-
-lo como ninguém. A dedicação
aos estudos voltados para a evo-
lução de sistemas de comporta-
mento caótico lhe rendeu, em
maio, o Grand Prix Scientifique
Louis D., principal prêmio cientí-
fico da França. O diretor do Ins-
tituto Nacional de Matemática
Pura e Aplicada (Impa) divide a
honraria com o francês François
Labourie, da Universidade de
Nice, e com outros 14 pesquisa-
dores franceses e brasileiros que,
apesar do oceano de distância,
trabalham em conjunto — e em
surpreendente organização, dado
o objeto de estudo. “O Brasil é
um grande parceiro da França
na matemática”, explica Viana.
“Essa relação se desenvolveu nos prêmio da Academia de Ciências
anos 1980, quando os franceses da França fosse dado a um es-
podiam trocar o serviço militar tudo matemático. “A matemáti-
por trabalho social aqui no Impa. ca é uma ciência evidentemente
Por serem vagas disputadas, du- importante, mas ela é pequena
rante muito tempo nós recebemos se comparada com a saúde, por
os melhores matemáticos de lá.” exemplo. Isso em todos os paí-
Ao encontrar uma lógica em ses”, afirma Viana. “Mas acredi-
situações em que parecia não ha- to que o nosso projeto
ver ordem alguma, a equipe de é bom, e isso deve se BELEZA É FUNDAMENTAL
Viana e Labourie conseguiu fazer destacar em termos de “Uma das coisas mais
qualidade e impacto.” fascinantes da natureza
com que, pela primeira vez, um é que as fórmulas mate-
À GALILEU, o ma- máticas mais elegantes,
temático refletiu o es- mais simétricas, são as
pírito de Chico Science mais corretas”, diz Viana.

e mostrou que desor-


ganizando é, de fato, possível or-
ganizar. Ele explicou os detalhes
de sua pesquisa e só se esquivou
na hora de aplicar o conceito do
estudo ao confuso sistema políti-
co brasileiro — que é muito mais
caótico do que a Teoria do Caos.
Quando se fala em Teoria do Caos, As pessoas também associam o
imediatamente vêm à mente filmes termo “caos” a algo ruim, tem uma
como Efeito Borboleta e De Volta para conotação negativa. Isso faz sentido
o Futuro. Acha que eles representam na matemática?
bem o conceito? Tem razão, esse é outro dos motivos
Representam, mas são bem simplistas. que explicam por que evitamos
Esses filmes são parecidos com a usar essa expressão. “Caos” é
famosa Lei de Murphy: dizem muito interpretado como desordem, uma
pouca coisa. Falar que o bater de bagunça completa. Mas o que fomos
asas de uma borboleta no Brasil pode descobrindo ao longo das últimas
causar um furacão no Texas é legal, décadas é que esses sistemas de
mas e daí? O que você faz com essa comportamento caótico têm regras e
podem ser entendidos,
desde que você use a
linguagem certa.

E o que seria a
linguagem certa?
Um exemplo bem
simples: quando você
joga uma moeda no
ar, não sabe se vai dar
cara ou coroa. É um
processo aleatório,
pois o resultado é
imprevisível. Contudo,
mesmo não sendo
capaz de prever
exatamente o que vai
acontecer, sabemos que,
se a moeda for honesta,
uma moeda equilibrada,
pode-se garantir que,
a longo prazo, mais ou
menos 50% das vezes
vai dar cara e 50% vai
dar coroa.

56 informação? Não é útil, pois você Seu estudo mostra, então, que
não sabe se tem borboleta ou não, se é possível obter informações
vai bater as asas ou não. Mas se você concretas sobre sistemas caóticos?
disser que, apesar de o sistema ser O que descobrimos é que não se pode
complicado, é possível prever com boas prever individualmente como o
chances de acerto a umidade do tempo sistema vai evoluir partindo dessa
daqui a cinco meses na região, aí terá condição inicial, mas é possível dar
um dado útil. O que o Efeito Borboleta uma informação estatística, em que
diz é simplesmente que pequenas 30% do tempo será de uma forma,
causas podem ter efeitos enormes, e 20% de outra. Você pode saber o
que isso não é fácil de analisar. que tem mais chance de ocorrer e
qual é a probabilidade de acontecer
Por que matemáticos não gostam do cada um dos resultados possíveis.
termo “Teoria do Caos”? Ou seja, a palavra “caos” dá essa
Porque é uma expressão usada de ideia de imprevisibilidade, mas, na
maneira muito vaga, e matemáticos verdade, você pode, sim, dizer muita
são obcecados por precisão. Falamos coisa sobre esses sistemas, desde
mais em “sistemas caóticos” só para que opte por usar a linguagem de
evitar ambiguidades mesmo. probabilidade, de porcentagens.
O senhor pode dar um exemplo de
como isso seria aplicado na prática? 57
Se você quiser investir seu dinheiro
em uma plantação, por exemplo, e
souber que há 80% de chance de
chover no próximo mês, você pode mais simétricas, são as mais corretas.
se sentir mais à vontade para gastar É uma coisa extraordinária.
seu dinheiro. Mas, se houver uma Há um episódio muito interessante
probabilidade de 78% de nevar, você com Einstein, por exemplo. Ele estava
simplesmente não vai investir. É uma buscando a fórmula da Teoria da
informação que tem muito valor. Relatividade Geral, que relaciona a
matéria com o espaço, e não tinha

O que o prêmio da Academia como fazer experimentos para


testá-la. Então, ele se correspondia
Francesa de Ciências mudará
diariamente com o matemático
no seu trabalho? alemão David Hilbert.
Olha, para mim talvez não mude
Nas correspondências, podemos
tanto. Mas desenhei todo esse projeto
perceber que o critério que eles
para os jovens brasileiros e franceses.
utilizavam era “essa fórmula não dá
Ele vai proporcionar os meios para
porque ela não é muito simétrica,
incentivar os jovens dos dois países
não é muito bonita”. Eles estavam
a colaborar, há muitos trabalhos
buscando a fórmula perfeita. Até
que podemos fazer juntos. E essa é
que Einstein parou de escrever, não
uma vantagem para os dois lados,
falou uma palavra para Hilbert e, uma
especialmente em um momento de
semana depois, publicou o artigo com
crise como o que estamos vivendo, de
a fórmula que usamos até hoje, que
certa limitação de recursos.
é uma das fórmulas fundamentais
da ciência, e é muito bonita. Tanto
Na física, busca-se uma teoria Einstein, com seu espírito científico
perfeita que unifique toda a natureza, teórico, quanto Hilbert, que era um
a Teoria de Tudo. Seu estudo entra em grande matemático, estavam buscando
conflito com essa ideia? a verdade, buscando a beleza, o
Certamente não. Mais correto que equilíbrio, a elegância matemática. E
falar em contradição seria dizer que esse é o modo pelo qual a física teórica
a teoria dos sistemas caóticos é uma tem evoluído nos últimos anos.
parte necessária da Teoria de Tudo.

“Se a moeda for Ela não basta porque os sistemas da


mecânica quântica são diferentes,
O senhor acredita que esses estudos
de sistemas caóticos poderiam

honesta, uma
esses próprios sistemas são ser aplicados de alguma forma na
aleatórios. Mas a teoria dos sistemas política brasileira hoje?
caóticos é um passo necessário para

moeda equilibrada,
[Risos] Infelizmente, temas como
construir essa Teoria de Tudo que os política e economia abrangem
físicos buscam há algumas décadas. sistemas de outro tipo. A evolução

você pode garantir E o senhor acredita na possibilidade


da Teoria de Tudo?
deles lida com um fluxo de
informações que afeta o modo como

que, a longo prazo,


o sistema evolui. Se você sabe que
Eu sou otimista, mas é uma resposta as ações da Petrobras vão despencar
que não é de cientista, é pessoal.

mais ou menos
amanhã, você vende. Existem agentes
Claro que os físicos sempre devem humanos, atores inteligentes que
se apoiar em experimentos, mas o processam a informação, o que cria

50% das vezes vai


modo como a física tem evoluído torna um comportamento mais difícil de
difícil realizá-los. Então, os estudos analisar. É uma das áreas nas quais já

dar cara e 50%


se apoiam na intuição matemática, houve progresso, a Teoria dos Jogos
olhando as fórmulas e vendo quais são é um passo nessa direção, mas ainda
as mais elegantes. E uma das coisas não temos uma teoria matemática

vai dar coroa.” mais fascinantes da natureza é que as


fórmulas matemáticas mais elegantes,
adequada para descrever sistemas
com atores inteligentes.
O cOntinente mais geladO dO planeta abriga calOr humanO: fOtógrafO registra as

a s c r ô n i
Design Feu
texto e Fotos AndrÉ dib

01.
Tripulantes do navio
Aquiles, pertencente
à Marinha do Chile,
percorrem a Baía de
Guayaquil, localizada
na Ilha Greenwich.
cOndições devidaetrabalhOpessOasquevivemnaantártida,OndeacivilizaçãOlutaparaseestabelecernOdesertOpOlar

c a s d o g e l o
eDição ThiAgo TAnji
2.

02. 03.
98% da superficíe da antártida
é cOberta de gelO

Tripulação do navio Localizada no arqui-


Aquiles realiza a des- pélago de Shetland
carga de provisões e do Sul, a base Capitão
fornece apoio logístico Arturo Prat fica a
regular aos habitantes noroeste do continente
da base de pesquisas antártico. Para levar
científicas Capitão Ar- mantimentos, as balsas
turo Prat, que pertence enfrentam uma área de
ao Chile e conta com geleiras e percorrem
ocupação permanente. trecho onde o mar
Inaugurada em 1947, está congelado.
é a mais antiga base
chilena construída na
região da Antártida.
5.

Ícones: Estúdio barca


3.

61 4.

04. O pinguim gentoo, que


tem média de altura de
75 centímetros e peso
05.
Trabalhadores utilizam
uma balsa para desem-
barcar as provisões na
de 5,5 quilos, é base Capitão Arturo Prat.
a ave mais rápida do O local conta com um
planeta debaixo da laboratório de biologia
água, alcançando até marinha e abriga até oito
36 quilômetros por pessoas para mapear as
hora. A espécie vive nas espécies que vivem na
ilhas antárticas próxi- área, como pinguins,
mas ao continente. gaivotas e focas.
6.

8.

06.
Nascido na região
russa da Sibéria, “Padre”
Máximo é diácono da 62
07.
Descobertas em 1819
pelo britânico William
Smith, as ilhas de
Igreja Ortodoxa Russa e Shetland do Sul contam
mora no arquipélago de com bases de diferen-
Shetland do Sul. Ele rea- tes países, incluindo
liza celebrações em uma a estação brasileira
cabana de madeira. Comandante Ferraz.

7. 9.
08.
O chileno Alejo Con-
treras é um dos mitos
da Antártida: pioneiro
09.
Educação ao estilo
polar: filhas de funcio-
nários que trabalham
em grandes explora- na base aérea Eduardo
ções, ele foi o primeiro Frei, pertencente ao
sul-americano a escalar Chile, frequentam
o Monte Vinson, a maior uma escola em Villa de
montanha do continen- Las Estrellas, um dos
te, com 4.987 metros únicos assentamentos
de altura. O feito foi da Antártida habitados
realizado em 1981. regularmente por civis.
Crise POLÍTiCA fAz ArTisTAs veTerAnOs
e dA nOvA gerAçãO vOLTArem
A se POsiCiOnAr sObre O fuTurO
dO PAÍs denTrO e fOrA de CenA
pavam o Palácio Gustavo Capanema, no
Rio de Janeiro, Temer voltava atrás. O
Ministério da Cultura segue o baile.
Naquela noite, de poucas falas em cena,
ouviu-se de Caetano: “O MinC é nosso. É
uma conquista do Estado brasileiro, não é
de nenhum governo”. O público, por conta
própria, fez coro e emendou “Temer” ao
verso “Odeio você”. O cantor nada falou,
porém, diretamente em apoio ou não à
presidente Dilma Rousseff (PT).
A participação de Caetano é semelhante
cocar branco na cabeça e violão em à de diversos artistas nos últimos meses
punho, Caetano Veloso cantou a volta do diante da crise política. Muitos, mesmo
Ministério da Cultura oito dias após o pre- autodeclarados apartidários, resolveram
sidente interino, Michel Temer (PMDB), usar sua voz contra o processo de impea-
ter extinto a pasta de seu governo para chment ou contra o fim do ministério.
transformá-la em uma secretaria den- “Muita gente está se manifestando,
tro do Ministério da Educação. Em 21 é uma comoção bastante grande. Isso
de maio, menos de 24 horas depois do já deveria ter acontecido antes, porque
66 show, organizado com artistas que ocu- a gente ficou muito tempo longe da vida
VAIA E APLAUSO
Datas em que a crise política
e a cultura se encontraram
no Brasil neste ano

política”, diz o ator Gregorio Duvivier,


que participa de atos pela permanên-
cia de Dilma e, em número que viralizou
na internet, achincalha Temer por sua
trajetória na política e na poesia.
O grupo Porta dos Fundos, do qual
13 DE MARÇO
Duvivier faz parte, também se posiciona
GLOBAIS NA RUA
contra o impeachment. “O artista ficou Regina Duarte, Susana Vieira,
muito tempo proibido de se manifestar, si- Marcelo Serrado, Malvino Salvador
e Márcio Garcia , entre outros atores,
lenciado por um trauma da ditadura”, ana- participam de manifestações contra a
lisa. “Toda arte é política. É muito ruim presidente Dilma Rousseff.

quando a gente finge que não é.”


O esquete Delação, em que interpreta
um policial federal que impede que denún-
cias sobre corrupção no PSDB sejam le-
vadas adiante, enquanto força provas con-
tra petistas, deu origem a uma batalha de
curtidas e descurtidas. Venceram os “ha-
ters”, por 178 mil: foram mais de 569 mil
“dislikes” contra cerca de 391 mil “likes”. 19 DE MARÇO
O vídeo acumula mais de 6,7 milhões de cRítIcA em ceNA
visualizações desde o dia 2 de abril. Ator e diretor, Claudio Botelho usa fala
de personagem para criticar Dilma e
“Acho boicote uma péssima ideia, assim Lula em peça com músicas de Chico
como qualquer lista de autores proibidos Buarque. Compositor diz que Botelho
não pode mais usar suas obras.
para a esquerda ou para a direita. Isso é
ridículo. Pessoas brilhantes também se
equivocam politicamente”, diz Duvivier.
Em março, o economista e blogueiro
Rodrigo Constantino virou assunto nas
redes sociais por elencar 766 nomes de
artistas e intelectuais a serem banidos
IdAde: 30 anos porque “defendem o indefensável PT”.
É fILIAdO A PARtIdO Na esteira de Delação, o Porta dos
POLítIcO? Não.
ORIeNtAçãO POLítIcA: Fundos fez um vídeo que ridiculariza as 11 DE AbRil
“Esquerda
progressista, livre.” reações negativas. O elenco se apresen- PALcO cHeIO
O qUe PeNSOU qUANdO Na companhia do ex-presidente Lula,
ta como um bando de petistas fanáticos
dILmA fOI AfAStAdA? Chico Buarque, Wagner Moura e
“Como é fácil perder que comem caviar, bebem champanhe e Gregorio Duvivier, entre outros,
anos de avanço. Voltar
atrás é num segundo.” comparecem a ato contra o impeachment
atribuem crimes do partido a “tucanos in- no Rio de Janeiro.
filtrados”. “Descobriram nosso esquema
com o PT. Está tudo muito bem explicado
em memes do Facebook”, diz no esquete
Antonio Tabet, um dos fundadores do gru-
po. Acusado de “dar muita pinta”, Duvivier
justifica: “Lula é um ladrão que roubou
IdAde: 58 anos meu coração”. Diante do cerco, pegam mi-
É fILIAdO A PARtIdO
POLítIcO? Não. lhões ganhos com a Lei Rouanet e fogem
ORIeNtAçãO POLítIcA: para coberturas no Leblon. Citam a atriz
“Creio no livre mercado, 22 DE AbRil
na propriedade priva- Letícia Sabatella, o ator Wagner Moura
da, na democracia.” dIA de cUSPe
O qUe PeNSOU qUANdO (críticos do impeachment) e até o apre-
Durante discussão, o ator José de Abreu,
dILmA fOI AfAStAdA?
“Fiquei feliz, mas estou sentador Danilo Gentili e o cantor Lobão defensor do PT, cospe em casal que
com a barba de molho o havia provocado em um restaurante
porque ela não está (opositores do governo Dilma) como alia-
na capital paulista.
totalmente afastada.”
dos em uma grande conspiração.
IdAde: 26 anos
É fILIAdO A PARtIdO de Sociologia e Política de São Paulo, que preocupado com um governo que seja
POLítIcO? Não.
ORIeNtAçãO POLítIcA: estuda as relações entre arte e política. democrático, mas também que atenda
“Não faz o menor sentido
nada ligado a militares Marcelo Ridenti, professor de Socio- às políticas culturais do país. Ao longo
e mundo evangélico.”
logia da Universidade Estadual de Cam- dos últimos anos, conseguiram mais in-
O qUe PeNSOU qUANdO
dILmA fOI AfAStAdA? pinas (Unicamp) e pesquisador do en- vestimentos públicos, e hoje sentem uma
“Sinal de muitas outras
coisas que estão por vir.” gajamento de intelectuais nos Anos de ameaça, têm medo de retrocessos.”
Chumbo, avalia que, apesar do retorno
É também por meio da sátira que o do envolvimento da classe artística, as PÚBLICO E PRIVADO
paulista Rico Dalasam, primeiro rapper reivindicações mudaram muito de lá para É justamente no que diz respeito aos in-
gay do país, pretende combater os retro- cá. “Nos anos 1960, a pauta era muito vestimentos estatais na cultura que mira
cessos que enxerga na troca de governo, clara: contra a ditadura. A maior parte boa parte das críticas do músico Lobão,
apoiada pela bancada conservadora do dos artistas estava contra, com posição que defende o impeachment de Dilma.
Congresso. “Eu não estou afrontando mais moderada ou mais extremada”, ex- “A gente precisa transformar o meio ar-
simplesmente uma pessoa que está num plica. Para Ridenti, o engajamento de hoje tístico em alguma coisa que dê lucro.
cargo ou não está. Estou falando de algo em dia, embora diferente, também é ex- Precisamos nos sentar como adultos e
que existe desde que o Brasil é Brasil. Na pressivo, mas mostra que há uma poli- discutir uma excrescência como a meia-
margem da margem, quem está é a gente: tização mais ligada à profissionalização. -entrada”, defende ele, que em 1989 par-
gay, preto, pobre”, resume. “Quando vem “O pessoal do cinema e do teatro está ticipou da campanha de Lula para presi-
a bala, sabe, a que acerta a gente não é de
borracha. A gente não para de morrer.”
Destaque da nova safra da música bra-
sileira, Rico participou de ato de apoio
a Dilma junto de veteranos no Rio, mas
vê uma via diferente para sua geração.
“Nesse momento a gente precisa do fervo,
de uma música de protesto inteligente, de
deboche. É uma saída por meio do diálo-
go”, explica. “As pessoas acham que a nos-
sa revolução vai ser assim ó, punho cer-
rado [faz o gesto], que vão ver uma outra
geração igual à do Luther King, igual aos
Black Panthers… Nós somos tudo isso,
mas em outro tempo. Quando você me
vê usando oito cabelos diferentes, meio
drag, meio eu, cantando uma música que
fala ‘Esse close eu dei’, estou mostrando
as coisas que eu garanti e pelas quais es-
tou lutando”, diz ele, que lançou no mês
passado o primeiro disco, Orgunga — pa-
lavra que inventou para definir “o orgulho
que vem depois da vergonha”.

OUTROS TEMPOS
Quando se pensa no casamento entre arte
e política no Brasil, logo vêm à lembran-
ça grandes obras e protestos realizados
durante a ditadura militar. Se atualmente
o número de manifestações é menor, o
alcance é ampliado na internet.
“Os artistas agora têm mais espaço
e liberdade de manifestação e dispõem
das redes sociais, o que lhes permite uma
audiência em efeito cascata difícil de se
conseguir no período da ditadura. Por ou-
tro lado, a população naquela época era
mais politizada, frequentava espaços de
debate e trocas políticas”, afirma Rafael
Araújo, cientista político, professor
68 da PUC-SP e da Fundação Escola
dente, porém, a partir de 2005, época do
escândalo do mensalão, tornou-se um
IdAde: 57 anos
É fILIAdO A PARtIdO opositor voraz do PT. “Existe uma lei que
POLítIcO? Não.
é assistencialista para o estudante e,
ORIeNtAçãO POLítIcA:
“De esquerda, por no final, o artista é que precisa ser as-
buscar a quebra das
desigualdades.” sistido pelo Estado. É imoral. O artista
O qUe PeNSOU qUANdO
dILmA fOI AfAStAdA? consagrado virou um parasita.”
“Depois que passou na
Câmara, era evidente O humorista Marcelo Madureira, inte-
que ia passar no Senado.” 12 DE MAiO
grante do Casseta & Planeta, assíduo em
AdeUS, mINc
protestos pró-impeachment, também en- O Ministério da Cultura é extinto e
xerga “viés corporativista” nas manifes- incorporado à pasta da Educação, sob
o comando de Mendonça Filho (DEM
tações recentes contra o governo Temer. -PE), pelo presidente interino, Michel
“Não existe uma discussão maior sobre Temer (PMDB), para corte de gastos.

IdAde: 58 anos o Brasil. A classe artística se manifestou


É fILIAdO A PARtIdO de maneira mais incisiva só quando os
POLítIcO? Sim, PSDB.
“Mas é um partido interesses corporativos foram atingidos”,
que tem problemas
também.” avalia ele, que mantém uma produtora de
ORIeNtAçãO POLítIcA:
“Social-democrata.” vídeos para internet em que comenta a
O qUe PeNSOU qUANdO política nacional todas as semanas.
dILmA fOI AfAStAdA?
“Foi um capítulo “O artista tem de se desvincular do
importante da novela,
mas não o fim.” aparelho do Estado, precisa ter criação
independente. Claro que existem formas
de cultura que não conseguem sobreviver
por conta própria, como as orquestras, 17 DE MAiO

os grupos de folclore, determinadas for- PROteStO de GALA


Equipe do filme Aquarius, de Kleber
mas de teatro, mas uma grande parte da Mendonça Filho, mostra cartazes com
classe artística vive parasitariamente de dizeres como “O Brasil está sofrendo
um golpe de Estado” na estreia do longa
políticas governamentais”, critica. no Festival de Cannes.
Segundo projeção da Receita Federal
divulgada pelo MinC, neste ano a União
deixará de arrecadar em impostos cerca
de R$ 1,8 bilhão destinados a projetos
culturais — 0,66% dos R$ 271 bilhões
de renúncia fiscal no ano. A Lei Rouanet
corresponderá a 0,48% (R$ 1,3 bilhão).

PERDAS E GANHOS
“Eu me sinto muito solitário na classe ar-
tística. Estou eu, o Roger [Moreira, vo- 20 DE MAiO
calista da banda Ultraje a Rigor] e só na mPB UNIdA
música”, diz Lobão, sobre as vozes contra Caetano Veloso, Erasmo Carlos e
Seu Jorge, entre outros músicos,
o governo do PT. “Fora da música tem fazem show na ocupação do Palácio
a Regina Duarte, que é uma pessoa que Gustavo Capanema , no Rio de Janeiro,
pela volta do MinC.
já participa há muito tempo, a Susana
Vieira… Para os atores eu sei que é mais
difícil, você tem contratos, tem a ima-
gem, e o espírito de corpo é muito maior.”
Além de Regina e Susana, entre outros
atores, Márcio Garcia, Malvino Salvador
e Marcelo Serrado pediram a saída de
Dilma em manifestações recentes.

IdAde: 39 anos
É fILIAdO A PARtIdO 21 DE MAiO
POLítIcO? Não.
ORIeNtAçãO POLítIcA: mINc OUtRA vez
“Progressista.” Temer decide recriar o Ministério
O qUe PeNSOU qUANdO da Cultura; Marcelo Calero, que
dILmA fOI AfAStAdA? havia sido escolhido secretário
“Trata-se das elites
recuperando a caneta.” nacional de Cultura, toma
posse como ministro.
OndA dE EngAjAmEntO POLítIcO nA múSIcA POP é PUxAdA POr bEyOncé
Lançado em ano de eleições presidenciais nos Estados Unidos, novo disco da cantora destaca tensões raciais e inaugura fase mais ativista de sua carreira

Com um exército de dançarinas conteúdo do seu curso. “Como em eventos da campanha para onda de engajamento, porém,
vestidas como Panteras Negras uma mulher negra que atingiu a Presidência de Donald Trump, está no protagonismo feminino.
— grupo de militância armada tal nível de poder, ela chama a que é apoiado por supremacistas Taylor Swift virou referência em
negra dos anos 1960 —, Beyoncé atenção para questões de raça brancos. Segundo o projeto pautas feministas, Miley Cyrus
cantou o orgulho de seu nariz e gênero, especialmente sobre o Mapping Police Violence, a polícia e Rihanna pregam a liberdade
“com narinas de Jackson 5” no quanto ainda falta para que todos dos EUA matou ao menos 346 sobre o corpo e fumam maconha
intervalo do último Super Bowl, sejamos iguais e tenhamos as negros em 2015 — 30% deles publicamente, Katy Perry e Demi
em fevereiro. Sua performance mesmas oportunidades nos EUA.” estavam desarmados —, média Lovato fazem campanha por
com a música Formation na Depois do lançamento de uma morte a cada 26 horas. Hillary Clinton na Casa Branca.
final da temporada de futebol de Formation, o serviço de Exemplos de atuação em “Acho que sempre houve
americano dos EUA, maior streaming Tidal, fundado pelo causas sociais não faltam na artistas politizados na cultura
evento esportivo do país, marcou rapper e produtor Jay Z, marido música pop, basta lembrar de pop, eles só não tinham tanto
uma nova fase na carreira. de Beyoncé, doou US$ 1,5 milhão We Are the World, canção de alcance. Creio que Beyoncé está
Quando a Rutgers, ao movimento Black Lives Matter Michael Jackson e Lionel Richie abrindo espaço para que seja
universidade estadual de (Vidas Negras Importam), que gravada em 1985 por mais de 40 mais ok para mais artistas pop
New Jersey, criou em 2010 a luta contra a violência policial. O artistas unidos contra a fome deixarem suas vozes serem
disciplina Politicizing Beyoncé grupo tem organizado protestos na África. A novidade da atual ouvidas na política”, diz Allred.
(Politizando Beyoncé), porém,
o tema ainda surpreendia. As
músicas e a atitude da cantora
pop até então pareciam pouco
engajadas para serem tomadas
como políticas. Hoje, o professor
da matéria, Kevin Allred, pode
se orgulhar de ter visto antes. O
disco mais recente, Lemonade,
lançado no fim de abril, traz
crítica social explícita nas letras
e nas imagens que compõem o
chamado “álbum visual”, já que
todas as canções fazem parte
de um filme sobre o que é ser
uma mulher negra nos EUA.
“Como estratégia de longo
prazo, cuidadosamente, Beyoncé
vem tornando a política mais
explícita à medida que se
destaca. Ela estava esperando
até que tivesse maior plataforma
e mais influência, para assegurar
que um maior público iria
ouvi-la”, afirma Allred, que está
escrevendo um livro com o

70
tregue pela atriz Camila Márdila, que no
longa vive Jéssica, filha da empregada Val
(Regina Casé). “Virou um grito de guerra
mesmo”, alegra-se a diretora, que diz estar
usando a sua voz, em evidência por conta
do longa, para “esclarecer as coisas” com
Apesar da solidão entre os pares, Lobão uma posição suprapartidária. “No cinema,
não hesita em dizer “Vocês perderam” a o MinC vinha fazendo uma descentraliza-
Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto ção em relação a São Paulo e Rio. Isso faz
Gil. Por isso, escreveu duas cartas públi- parte de um projeto de governo, de dar ci-
cas para os três entre março e abril — a dadania e voz a todas as regiões”, opina. “O
primeira, um pedido de desculpas por que esse cara vai fazer agora? Não sei. Ele
ter sido “desonesto” em não reconhecer pode deixar tudo nas mãos dos mesmos.”
o talento de cada um ao longo de anos; a Além da frase emprestada de Muylaert,
segunda, uma provocação, já que o texto veio do cinema um dos protestos de maior
inicial não ecoou entre os destinatários. impacto internacional. No Festival de
IdAde: 52 anos
Gilberto Gil afirmou que não havia lido Cannes, o elenco de Aquarius, filme de
É fILIAdA A PARtIdO
POLítIcO? Não. a carta, mas a recebera com “leveza”. “Da Kleber Mendonça Filho, puxou cartazes
ORIeNtAçãO POLítIcA:
“Não sei definir. próxima vez que cruzar com ele já posso que diziam que o país sofre um “golpe”. O
Sou cidadã. Sou pela
liberdade.” lhe dar um beijo sem constrangimentos”, novo ministro da Cultura, Marcelo Calero,
O qUe PeNSOU qUANdO declarou. Chico disse que não iria ler a reagiu dizendo que o ato foi “quase infan-
dILmA fOI AfAStAdA?
“Fiquei igual mensagem. Caetano não se manifestou. til” e “até um pouco totalitário”. Os pró-
ao Lula, desolada
de assistir a isso.” “Esses caras vão passar a ser hostili- ximos “dias ou anos”, diz Muylaert, serão
zados severamente, vai haver uma sín- tensos. “Mas haverá cinema. Nem que se
drome de Guido Mantega [ex-ministro faça filme com iPhone, vai se fazer. Esses
da Fazenda], de entrar no restaurante e caras não vão ter sossego.”
ser hostilizado… Periga esses caras serem
varridos”, diz Lobão. Em dezembro, Chico
foi ofendido por antipetistas quando saía
de um restaurante no Rio. “Quero que eles
sejam alijados do coronelato que forma-
ram, que não se transformem nessa patru-
lha que a esquerda fez desde os anos 60.”
Para o cientista político Marcelo
Ridenti, a hostilização de Chico é sinto-
mática das tensões sociais no país. “Até
uns anos atrás imaginava-se que Chico
era tratado como uma espécie de una-
nimidade nacional. O que a gente viu
recentemente é que isso não é verdadei-
ro”, diz. “Talvez, Chico seja o que há de
mais nobre na sociedade brasileira, em
minha opinião, pelo desejo de que as pes-
soas tenham acesso à cultura e à educa-
ção, mas ele parece, para uma outra parte
da sociedade, alguém que está conspiran-
do contra a ordem estabelecida.”

FOGO CRUZADO
Além de ter vencido 20 prêmios com Que
Horas Ela Volta?, Anna Muylaert pode co-
memorar a adoção do título do seu filme
como palavra de ordem nos últimos me-
ses. A diretora, que tem participado de
atos contra o impeachment, viu a pergun-
ta surgir em cartazes, em menção à pre-
sidente e à democracia. A frase chegou à
própria Dilma, que posou com placa en-
De Rebecca Donovan ,
autora best-seller da trilogia Breathing

E sE você tivEssE uma


sEguNda chaNcE dE coNhEcEr
a lg u é m p E l a p r i m E i r a v E z ?
Nas livrarias e em e-bo ok
V O C Ê P O D E

S U B S T I T U I R

Numerosos adeptos do bordão


de Bela Gil trocam industrializados
por produtos caseiros

EDIÇÃO CRISTINE KIST TEXTO AMARÍLIS LAGE

FOTOS DULLA DESIGN GIOVANA ANSOAIN

74
QUANDO TINHA 12 ANOS, a gaúcha tom com suco de beterraba, por exem-
Tatiana Rodrigues teve uma conjuntivi- plo. Os pães caseiros de Rodrigues (que
te. Sua mãe agendou a consulta com um não levam ingredientes de origem animal)
oftalmologista que era (elas não sabiam) despertaram tanto interesse que ela dei-
iridólogo, ou seja, quem estuda a íris para xou o emprego como professora para se
detectar o que vai mal no corpo. Durante dedicar à cozinha. A relação entre alimen-
o exame, Rodrigues ouviu perguntas ines- tação, saúde, meio ambiente e cadeia pro-
peradas. “E esse intestino?” Sim, ela tinha dutiva estava na pauta do dia, estimulan-
constipação desde criança. “E esse pulso?” do muita gente a questionar o excesso de
Sim, ela tinha tendinite. Surpresa, saiu do remédios e a segurança dos cosméticos.
consultório com a receita de um colírio e A pesquisadora Denise Bernuzzi de
uma lista dos itens que deveria cortar da Sant’Anna, especialista em história do cor-
alimentação: açúcar, farinha e carne. po, explica que hoje temos muito mais in-
Disposta a seguir as orientações ao pé da formações sobre nós mesmos do que nos-
letra, ela conta que não era fácil encontrar sos antepassados. Sabemos nosso tipo de
produtos ou locais que atendessem suas pele e percentual de gordura, fazemos tes-
escolhas — tampouco pessoas com quem tes para identificar alergia e intolerância a
compartilhar informações. Rodrigues che- determinados itens e podemos acompa-
gou aos 15 anos com 38 kg, deficiência de nhar diariamente a oscilação de peso ou
vitamina B12 e diagnóstico de depressão. à pressão arterial. Trata-se de um conhe-
Quando entrou na universidade, finalmente cimento que demanda novas abordagens,
se rendeu e voltou a se alimentar sem gran- frequentemente personalizadas — o creme
des cuidados. A preocupação com a comida facial, por exemplo, precisa ser específico
só retornou mais de 20 anos depois, em para as minhas necessidades. Uma indivi-
2011, quando ela engravidou e decidiu ado- dualização de que a indústria não dá conta.
tar um estilo de vida mais saudável. Ao mesmo tempo, começamos a avaliar
Dessa vez, no entanto, foi bem mais fá- nosso corpo dentro de uma lógica um tan-
cil encontrar nas prateleiras opções antes to “empresarial”, diz Santa’Anna, autora
raras ou mesmo inexistentes, como chia, de História da Beleza no Brasil (editora
quinoa, linhaça e óleo de coco. Na inter- Contexto). “É uma relação assim: tudo
net, uma busca rápida exibe tanto recei- que a gente come ou usa deve servir como
tas sem glúten quanto tutoriais para quem investimento — seja em saúde, seja
quer fazer os próprios cosméticos — ba- em beleza. Nada pode ser gratuito.” 75
grâncias sintéticas, sulfactantes (“por ser
poluente e impactar a vida marinha”) e
parabenos, usados como conservantes.
A dermatologista Lilia Guadanhim, da
Sociedade Brasileira de Dermatologia,
está acostumada a ouvir dúvidas quanto à
segurança dos cosméticos. Sobre parabe-
nos, ela explica que a orientação é de que
a concentração não ultrapasse 25%. “Nos
cosméticos, ele aparece numa concentra-
ção de 0,01% a 0,03%.” Outro elemento
que costuma gerar receio, diz, é a hidro-
quinona, usada como clareador no Brasil,
mas abandonada na Europa. “Sempre me
perguntam por que não usam lá e usam
aqui. É só interesse comercial. A hidro-
quinona é uma molécula antiga que vem
sendo substituída por outras comercial-
mente mais interessantes. Alguns dizem
que ela pode estar ligada ao câncer, mas
os relatos se referem a ratos que ingeri-
ram a substância — ou seja, não foi via
pele”, ressalta Guadanhim.
Outra dúvida comum diz respeito à
presença do alumínio em desodorantes
e sua possível relação com o câncer de
mama. “O mecanismo de ação dos anti-
transpirantes com cloreto de alumínio é
o entupimento da saída dos ductos su-
doríparos, o que não causa qualquer
efeito adverso, exceto irritação em peles
mais sensíveis. Esse boato surgiu porque
os casos avançados de câncer de mama
causam metástases para os linfonodos
ais atentos ao próprio corpo, do dos cosméticos. É a chamada “slow axilares, gerando gânglios (pequenos ca-
também começamos a rela- beauty”, que surgiu nos Estados Unidos roços) palpáveis nas axilas.”
M cionar doenças ao consumo e ganha força no Brasil.
de certos alimentos. Isso ge- CONSUMO CONSCIENTE
rou um receio em relação aos itens in- O SONHO DO A preocupação com a segurança dos
dustrializados, geralmente ricos em açú- COSMÉTICO PRÓPRIO cosméticos levou a equipe de Rodrigo
car, sódio, corantes e conservantes. Uma Fernanda Mallman, 37, está entre os Catharino, professor de Farmácia da
das análises da Proteste (Associação adeptos do conceito. Seu interesse des- Unicamp, a fazer um “raio X” de batons,
Brasileira de Defesa do Consumidor) pontou em 2012, e logo ela já estava esmaltes e lápis de olho. Foram detecta-
comparou 12 alimentos à venda no Brasil fazendo sabonetes em casa. A primei- dos a presença de um corante potencial-
e na Europa e constatou que as opções ra receita veio de um livro. Outras fo- mente tóxico em esmaltes, a ausência de
encontradas aqui têm mais aditivos que ram aprendidas via Facebook e vídeos um hidratante previsto no rótulo dos ba-
as versões estrangeiras da mesma marca. no YouTube. E Mallman, que se definia tons e uma alteração de pH nos lápis de
“Por que o iogurte de lá tem mais polpa como a “rainha dos cremes”, viu seu arse- olho. Mas os produtos naturais, ele expli-
de fruta do que o daqui? Porque a pol- nal ser reduzido a sabonete, desodoran- ca, também não são isentos de riscos, já
pa é mais cara que corante e aroma”, ex- te, xampu sólido e condicionador — tudo que não costumam passar sequer pelos
plica a engenheira de alimentos Priscilla caseiro. Ela acabou deixando a carreira testes de segurança exigidos na indús-
Casagrande, coordenadora de alimentos no direito e transformou o hobby em ne- tria: “Nada nos impede de fazer análises
da Proteste. “Aqui, como a lei é permissi- gócio em 2014, quando criou a loja Fefa também nesses produtos para verificar o
va, a indústria usa muitos aditivos.” Pimenta. Muitos de seus clientes, diz, a que ocorre com um ativo natural quando é
Por essas e outras, a recomendação do procuram depois de passar por alguma processado, se ele vira algo tóxico ou não.”
órgão é de que as pessoas sempre prepa- doença. “As pesquisas sobre a relação Esse tipo de preocupação é mais comum
rem alimentos e bebidas em casa. Uma entre cosméticos e saúde divergem mui- entre os consumidores da Europa, diz
proposta que, recentemente, passou to; quando há algo dúbio, eu não uso”, Bruno Maletta, diretor da Consumoteca —
76 a ser empregada também no mun- afirma. Por isso, riscou de sua lista fra- consultoria especializada no consumidor
brasileiro. “Aspectos como mão de obra tempo. Contudo, a busca por alternativas
escrava, origem da matéria-prima e a for- mais naturais, em harmonia com os va- RESISTÊNCIA
ma de descarte do material também são lores do consumidor, deve crescer. E as
mais importantes lá do que aqui.” grandes marcas já vêm reagindo a isso ARMADA
“Consumo consciente é uma maneira — um exemplo é a Lush, fabricante bri-
de se colocar no mundo”, diz Fernanda tânica de cosméticos naturais que expõe Mulheres abandonam xampu
Mallman, chamando a atenção para ou- na embalagem o nome de quem produziu e condicionador e assumem
tro aspecto envolvido: “No ‘slow beauty’, aquele item, conciliando a noção de arte- cabelos cacheados
vejo muitas meninas que pararam de ali- sanal com a produção em escala.
sar o cabelo e foram em busca de pro- É claro que, por esse cuidado, cobra- Em 2001, a britânica Lorraine Massey
dutos naturais como forma de se aceitar se um preço. “Uma marca que se apoia apresentava no livro O Manual da
Garota Cacheada (Best Seller) dois
mais, de questionar os padrões de beleza.” nesses valores obviamente possui uma termos curiosos: “low poo” e “no poo”.
Segundo Denise Bernuzzi de Sant’Anna, cadeia produtiva mais cara do que a das O primeiro se referia ao uso de xampus
é bem atual a ideia de que escolher seus concorrentes. Ela reduz o número de for- com sulfatos mais fracos, com o argu-
mento de que a versão presente em
alimentos e cosméticos envolve poder. necedores, se esforça para evitar um pro- xampus convencionais é tão forte que
“Antes, fazer a própria roupa ou xampu duto químico que facilitaria o processo de resseca os fios. Já a ideia do “no poo”
não tinha esse significado. Hoje, cosméti- produção, e tudo isso vai impactar bas- era excluir de vez os sulfatos.
Na internet, os termos logo viraram
cos, comida e roupas são coisas que estão tante no preço final do produto”, expli- sinônimo de técnicas para cuidar do
de acordo com o que eu sou.” ca Maletta. “E nós temos uma massa de cabelo. De post em post, alcançaram mi-
Para Maletta, a produção caseira de consumidores que até acham essas ini- lhares de pessoas — entre elas, a jorna-
lista Ana Carolina Cortez. “Eu tinha ver-
cosméticos deve seguir como um compor- ciativas legais, mas dificilmente aceitam gonha do meu cabelo natural e mentia
tamento de nicho — afinal, fazer o próprio pagar mais caro por elas.” Ou seja, ainda é dizendo que era liso. Imagine os mergu-
sabonete ou xampu é algo que demanda preciso descobrir como fechar essa conta. lhos que deixei de dar para não desfazer
a escova.” Aderir ao “no poo” exigiu pre-
paro. Abrir mão do xampu requer tam-
bém abandonar produtos com silicone,
que só os sulfatos conseguem eliminar.
A limpeza é via “cowash”: lavagem com
condicionador ou com ativos botânicos,
como óleo essencial de hortelã.
Para Cortez, o ganho foi além de ca-
chos bonitos. “Eu me anulei por muitos
anos para ser aceita socialmente. Acho
que o movimento do cabelo natural é
um movimento de empoderamento
feminino”, conta ela, que criou um blog
sobre o tema, o Resistência Armada, e
passou a atender clientes em domicílio.
“Gostei tanto da sensação de liberdade
que meus cachos naturais me trazem
que resolvi fazer desse conhecimento
um estilo de vida. Quero empoderar
mais e mais pessoas, incentivando-as a
ser exatamente aquilo que são.”
P Ó S - B A R B A

P O R C O C O

Aprenda as receitas elaboradas por Fernanda Mallman, do Fefa


Pimenta, com comentários da dermatologista Lilia Guadanhim

ÓLEO
C I CAT R I Z A N T E
PÓS-BARBA
A barba é o uniforme oficial dos
hipsters. Se você quer se livrar da
sua, o óleo de coco pode ajudar

INGREDIENTES
Chá de capim-limão
20ml de óleo vegetal de coco (pode ser
Óleo de coco coco da praia, babaçu ou palmiste)
10ml de óleo vegetal de pracaxi
4 gotas de óleo essencial de sândalo
3 gotas de óleo essencial de cipreste
2 gotas de óleo essencial de café verde
Óleo de pracaxi
1 gota de óleo essencial de hortelã verde

COMO FAZER
Em um recipiente higienizado, adicionar os
dois óleos vegetais e, em seguida, as goti-
nhas dos óleos essenciais. O óleo vegetal de
coco é anti-inflamatório; o óleo de pracaxi,
Vinagre de maçã
com propriedades umectantes, é usado no
tratamento de manchas na pele. Já os óleos
essenciais têm propriedades antissépticas
e cicatrizantes, além de um envolvente per-
fume de sândalo. Basta usar duas gotinhas:
CONDICIONADOR espalhe nas mãos e aplique no rosto, massa-
CA P I L A R N AT U R A L geando até a pele absorver.
Óleo essencial
de sândalo
Já gastou rios de dinheiro e seu
O QUE DIZ A DERMATOLOGISTA
cabelo continua seco? Hora de
“É preciso ter cuidado com o uso de receitas
apelar para o capim-limão
naturais no rosto. A combinação de óleos es-
INGREDIENTES senciais pode predispor ou agravar quadros
100ml de chá de capim-limão de acne e de pseudofoliculite de barba (pelos
(temperatura ambiente ou resfriado) Óleo essencial encravados). Além disso, alguns óleos essen-
20ml de vinagre de maçã ou de arroz
de cipreste ciais podem causar fotossensibilidade, dei-
10ml de melado de cana xando a pele mais sensível ao sol. Portanto,
Melado de cana
5 gotas de óleo essencial de patchouli fórmulas com esse tipo de ingrediente não
3 gotas de óleo essencial de gerânio são recomendadas para uso diurno.”

COMO FAZER
Dilua os óleos essenciais no vinagre. Em
seguida, dilua o melado de cana no chá. Óleo essencial
Misture tudo. Após o uso do xampu, aplique de café verde
esse condicionador nos fios, antes do último
enxágue. O ideal é usar um xampu natural,
Óleo essencial
para que o resultado seja mais eficiente. de patchouli
Óleo essencial
O QUE DIZ A DERMATOLOGISTA de hortelã verde

“O óleo essencial de patchouli tem proprie-


dades hidratantes que podem ser benéficas
para os fios, assim como o óleo essencial de
gerânio. O vinagre, em especial o de maçã, Óleo essencial
de gerânio
pode proporcionar brilho e maciez ao cabelo.
Devido ao seu pH, promove o fechamento Óleo
das cutículas, o que também diminui o aspec- cicatrizante
to arrepiado. Essa receita pode ser útil ainda
para atenuar a aparência esverdeada de ca-
belos louros após períodos de piscina — o sul- Condicionador
Natural
fato de cobre, usado no tratamento da água
das piscinas, se liga à queratina dos fios.”
CURTO-CIRCUITO
POR LUCAS ALENCAR

UMHERÓIBRASILEIRO
Jovem quadrinista desbrava a pouco explorada literatura fantástica nacional

JÁ OUVIU FALAR da jornada do he- Se toda essa teoria confundiu sua quase mudo, que só é capaz de dizer
rói? Também conhecida como mono- cabeça, basta substituir os termos o próprio nome. Tocado pelo temido
mito, ela é um modelo de estrutura “herói”, “vilão”, “mentor” e “zona de Rei sem Cor, o menino terá de viajar
narrativa estudado desde a década conforto” pelos nomes dos protago- ao redor do mundo mágico em busca
de 1950. Em histórias que usam esta nistas, antagonistas, coadjuvantes de alguém que o ajude a se livrar des-
base, o leitor é apresentado a um he- e paisagens de filmes e livros como sa condição, a derrotar os pesadelos,
rói normalmente inábil ou desacre- O Hobbit, de J. R. R. Tolkien, Harry sombras e medos que o acompanham
ditado de suas próprias habilidades. Potter, de J. K. Rowling, ou O Rei Leão, desde o encontro com as trevas.
Subitamente, ele é envolvido por produzido pela Disney. A jornada do Usando com sabedoria elemen-
algo ou alguém em uma aventura herói já foi muito explorada no entre- tos característicos de histórias de YE
Guilherme Petreca
que o tira de sua zona de conforto. tenimento, mas nem por isso perdeu aventura, como batalhas sangrentas
Editora Veneta
Auxiliado por um mentor, ele supera totalmente o apelo — como provam no meio do mar, bruxas, palhaços 176 páginas – R$ 59
suas dificuldades e limitações, en- os recentes Jogos Vorazes e Zootopia. malandros, monstros, lordes das makingofye.tumblr.com

frenta algumas provações e, por fim, Na HQ Ye, o jovem quadrinista trevas e viagens de balão, Petreca
se prepara para derrotar o grande paulista Guilherme Petreca mostra mostra que já é um dos principais
vilão, seja qual for. Depois de vencer domínio dessa técnica narrativa. Em nomes do cenário brasileiro de his-
o mal e a morte, o herói consagrado traços ao mesmo tempo detalhistas e tórias fantásticas. Nesse panteão
finalmente volta ao conforto que lhe expansivos, violentos e delicados, ele da literatura brasileira ainda pouco
foi tomado pela aventura. apresenta a história de Ye, um garoto explorado, Ye já gravou seu nome. 79
PANORÂMICA FOTO MÁRCIA FOLETTO

Ainda é verdade que o Rio de Janeiro continua lindo e provavelmente isso não mudará jamais. Mas, às vésperas da Olimpíada, a cidade já veste uma outra roupagem.

80
Nas areias de Copacabana, operários dão duro para deixar a arena de vôlei de praia pronta para receber os atletas. Dá até saudade da mítica dupla Ricardo e Emanuel.

*FOTO: Agência O Globo


PESQUISA: Franklin Barcelos 81
ULTI-
MATO PARA FAZER A DIFERENÇA
AGORA QUE VOCÊ LEU A REVISTA, SAIA DO SOFÁ

QUER FAZER SUA PARTE FICOU COM VONTADE ENCONTROU A LUZ E LEMBROU QUE TEM UM GOSTA DE MATEMÁTICA
PARA MELHORAR A DE CONTRIBUIR DECIDIU QUE, A PARTIR JOGO DE TABULEIRO E QUER AJUDAR A
QUALIDADE DE VIDA COM A EDUCAÇÃO DE AGORA, SÓ VAI QUE NÃO USA HÁ ANOS FORMAR O PRÓXIMO
DA SUA CIDADE? DA REDE PÚBLICA? COMPRAR ORGÂNICOS? E RESOLVEU DOAR? MARCELO VIANA?
UM OLHO NO GATO, É UMA DENTRO 99% É ESTRATÉGIA E AQUELE 1% É IMAGINAÇÃO FORA
O OUTRO NO PEIXE CADA UM NO SEU QUADRADO
5 PRECÁRIO
ZONA! DA CAIXA TEXTO BRUNO VAIANO
Passatempo tradicional em países europeus, jogos
de tabuleiro chegam ao Brasil em diferentes versões
Nos RPGs, o que vale é interpretar os personagens e construir
uma realidade que vai além das peças do tabuleiro
DA CAIXA
FOTO TOMÁS ARTHUZZI

COM A CRIAÇÃO Favelas são áreas de


DE UM PLANO alta vulnerabilidade,
DIRETOR, AS consideradas, em muitas á parou para pensar Futurista m 1974, dois fãs nor-
O PLANO DIRETOR ORIENTA CIDADES SÃO
cidades, Zonas Especiais
de Interesse Social J no que um alemão
1 FLASH POINT 4 TINCO No jogo, terráqueos e marcianos
disputam o Planeta Vermelho E te-americanos do
LEIS DE ZONEAMENTO E
FUNBOX R$ 175 DEVIR R$ 35
A ATUAÇÃO DE AGENTES MAPEADAS EM
à medida que o sol se expande
(Zeis). Devem receber faz em seu tempo li- e engole o Sistema Solar. 2 jogo de tabuleiro War

PÚBLICOS E PRIVADOS NA REGIÕES COM investimento prioritário


em infraestrutura. USO DO SOLO AJUDAM vre? A maior convenção de jo-
2 SUPERNOVA 5 QUISSAMA
e do livro O Senhor dos Anéis
PRIORIDADES gos de tabuleiro do mundo, que criaram um jogo de mesa inu-
CONSTRUÇÃO DA CIDADE E OBJETIVOS 3 4 O PLANO DIRETOR A acontece na cidade de Essen,
LUDOFY R$ 120 LUDENS SPIRIT R$ 130
sitado: baseado em um livro de
DIFERENTES COLOCAR ORDEM NA CASA oeste da Alemanha, é uma boa 3 CATAN 6 DIXIT regras, um narrador conduzia
6 QUASE LÁ
dica. Lá, dados e cards são GROW R$ 125 GALÁPAGOS R$ 130 uma jornada com personagens

E
Localizadas às margens coisas de adulto, e os desen- de personalidades e sentimen-
de represas e reservas

O
M 2011, após quase dez anos 1 OSTENTAÇÃO ambientais, nos limites
volvedores de jogos têm uma tos distintos. Era o Dungeons &
de discussões sobre o Plano 1 PLANO DIRETOR não tra- profissão consolidada: como Dragons, RPG (sigla em inglês
Bairros residenciais nobres das metrópoles, essas Cooperação Colonização
Diretor (PDDU) de Salvador, costumam ser avessos à 5 áreas precisam equilibrar balha sozinho. Há leis de escritores, levam seus trabalhos No Flash Point não há competição.
Seis jogadores colaboram para
Colonos recém-chegados à Ilha
de Catan disputam recursos
para jogo de representação) que
um susto. Uma versão do pro- presença de comércio e à 2 a resolução de problemas caráter mais técnico que o a editoras, onde as ideias são tentar apagar um incêndio e retirar naturais e constroem civilizações
ainda conta com uma legião de
socioeconômicos e a os ocupantes da casa com vida. cada vez mais desenvolvidas.
jeto de lei aprovada pelo pre- circulação a pé. Durante acompanham, como a Lei
preservação ambiental. refinadas antes de serem lan- aficionados: dois em cada três
o zoneamento, há uma
feito João Henrique (PP) entregava disputa entre quem não Na cidade de Fortaleza, de Zoneamento, responsá- çadas. O público brasileiro, ape- 3 norte-americanos que curtem
a cidade ao mercado imobiliário, quer alterar essa situação por exemplo, são vel pela definição do que pode ou sar de pequeno, está crescendo: RPG jogam esse título.
e os defensores da caracterizadas como "zonas
autorizando um aumento de até de ocupação moderada". não ser construído em cada lugar. “Só neste ano, as editoras bra- Histórico “Esses são jogos sociais, pos-
diversificação dos espaços. O jogo conta a história de
50% na altura dos prédios cons- Entre os indicadores da lei estão sileiras já anunciaram entre 40 Quissama, escravo brasileiro suem poucos elementos físicos.
que foge para encontrar sua
truídos na orla e extinguindo áreas o coeficiente de aproveitamento V O C Ê P O D E QUANDO TINHA 12 ANOS, a gaúcha tom com suco de beterraba, por exem- e 50 novos jogos”, conta Jaime mãe e é auxiliado por um
agente da Scotland Yard.
Geralmente há apenas fichas
de proteção ambiental. A pressão do terreno, que limita a área útil Tatiana Rodrigues teve uma conjuntivi- plo. Os pães caseiros de Rodrigues (que Daniel, gerente da FunBox, 1 para os personagens”, diz Jaime
popular levou o Tribunal de Justiça de um prédio, e a taxa de ocupa- te. Sua mãe agendou a consulta com um não levam ingredientes de origem animal) a primeira ludolocadora do Daniel, da FunBox. Tabuleiro é
a emitir uma liminar de suspen- ção, que garante uma distância S U B S T I T U I R oftalmologista que era (elas não sabiam) despertaram tanto interesse que ela dei- país. Nesse espaço, há cente- item raro: a partida se desenro-
são dos artigos inconstitucionais. razoável entre a fachada do edifí- iridólogo, ou seja, quem estuda a íris para xou o emprego como professora para se nas de títulos disponíveis para 5 la com a imaginação dos joga-
Essa não era a primeira vez que cio e a rua. Esse tipo de limitação detectar o que vai mal no corpo. Durante dedicar à cozinha. A relação entre alimen- os clientes, que podem alugar Se vira dores, não tem final previsível
O Dixit é um exercício de
a aprovação da lei enfrentava di- evita, por exemplo, a superlotação o exame, Rodrigues ouviu perguntas ines- tação, saúde, meio ambiente e cadeia pro- imaginação e destreza
ou comprar jogos. A pedido da verbal. Ganha quem injetar a
nem hora para acabar. É a força,
ficuldades. “O Plano Diretor de do sistema viário de uma região. peradas. “E esse intestino?” Sim, ela tinha dutiva estava na pauta do dia, estimulan- dose certa de ambiguidade
GALILEU, a equipe da loja au- na descrição de suas cartas.
a inteligência e o carisma de
2004 foi aprovado pela Câmara Definir isso, porém, não de- constipação desde criança. “E esse pulso?” do muita gente a questionar o excesso de xiliou na seleção dos jogos que cada personagem que decidi-
mesmo com questionamentos pende só de boas intenções. Numerosos adeptos do bordão Sim, ela tinha tendinite. Surpresa, saiu do remédios e a segurança dos cosméticos. merecem ser conferidos. rão os resultados das ações.
formais do Ministério Público da “Uma decisão da Câmara de consultório com a receita de um colírio e A pesquisadora Denise Bernuzzi de
de Bela Gil trocam industrializados
Bahia. Mas o PDDU de 2008, re- Vereadores pode duplicar o coe- uma lista dos itens que deveria cortar da Sant’Anna, especialista em história do cor-
sultado da revisão, apresentava ficiente de aproveitamento de por produtos caseiros alimentação: açúcar, farinha e carne. po, explica que hoje temos muito mais in-
6
UMA IMAGEM VALE COISA DE GENTE GRANDE
mais problemas que o anterior", um terreno, dobrando, portanto, Disposta a seguir as orientações ao pé da formações sobre nós mesmos do que nos-
diz Thais Rebouças, pesquisadora o total permitido de área cons- EDIÇÃO CRISTINE KIST TEXTO AMARÍLIS LAGE
letra, ela conta que não era fácil encontrar sos antepassados. Sabemos nosso tipo de
da Universidade Federal da Bahia. 2 ÁREA NOBRE truída”, explica Renato Saboya,
FOTOS DULLA DESIGN GIOVANA ANSOAIN
produtos ou locais que atendessem suas pele e percentual de gordura, fazemos tes- MAIS QUE MIL PALAVRAS Caótico
O Tinco não possui tabuleiro.
A cada rodada, jogadores
Voltado a um público mais velho, alguns
RPGs têm venda proibida a menores
Apesar de parecer um mistério professor de Arquitetura da escolhas — tampouco pessoas com quem tes para identificar alergia e intolerância a O Dixit não possui tabuleiro ou dados;
Em Salvador, Fortaleza e 7 trocam cartas entre si aos
para a maior parte da população, 7 AR PURO Universidade Federal de Santa compartilhar informações. Rodrigues che- determinados itens e podemos acompa- é jogado apenas com figuras abstratas.
berros. Vence quem acumular
São Paulo é chamada "área 4 cinco iguais primeiro.
FOREVER ALONE
o papel do Plano Diretor é guiar de urbanização consolida- Áreas destinadas à pre- Catarina (UFSC). “Isso pode re- gou aos 15 anos com 38 kg, deficiência de nhar diariamente a oscilação de peso ou
da". Corresponde a bairros servação ambiental estão 1º Em cada rodada, um jogador —cha- O livro-jogo é uma espécie de RPG solo: uma obra de
o crescimento de uma cidade com presentar um aumento de vários vitamina B12 e diagnóstico de depressão. à pressão arterial. Trata-se de um conhe- mado narrador — escolhe uma carta e ficção em que o jogador decide o destino dos persona-
com prédios comerciais e no Plano Diretor da maior gens conforme lê, alcançando diversos finais possíveis.
base em critérios técnicos e prio- residenciais, lojas, serviços parte das cidades. Nessas milhões no lucro da incorporado- Quando entrou na universidade, finalmente cimento que demanda novas abordagens, descreve a ilustração com uma frase.
ridades socioeconômicas, como públicos e infraestrutura de regiões estão localizados ra que construirá um prédio ali.” se rendeu e voltou a se alimentar sem gran- frequentemente personalizadas — o creme Os demais escolhem qual de suas car-
tas mais se aproxima dessa descrição.
garantir o uso adequado do solo transportes. Em geral, con- 6 parques, reservas naturais Sem audiências públicas, a bus- des cuidados. A preocupação com a comida facial, por exemplo, precisa ser específico EDUCATIVO
centram emprego e são alvo e mananciais com ecossiste-
e evitar a retenção especulativa de de deslocamentos diários. mas inalterados. ca pelo lucro pode dar o tom em só retornou mais de 20 anos depois, em para as minhas necessidades. Uma indivi- 2º A carta descrita pelo narrador O Ministério da Educação recomenda o RPG como
imóveis. Desde a promulgação da relação à qualidade de vida dos 2011, quando ela engravidou e decidiu ado- dualização de que a indústria não dá conta. e os palpites dos jogadores são atividade em aulas de língua portuguesa no En-
embaralhados e colocados na mesa. sino Fundamental, já que ensina noções bási-
Constituição de 1988 é obrigató- moradores da região. E não para tar um estilo de vida mais saudável. Ao mesmo tempo, começamos a avaliar Agora, todos devem adivinhar qual cas de narrativa e estímulo à cooperação.
rio que cidades com mais de 20 3 GALPÕES 4 RESIDENCIAL por aí: além de guiar o setor pri- Dessa vez, no entanto, foi bem mais fá- nosso corpo dentro de uma lógica um tan- das cartas foi descrita originalmente.
mil habitantes elaborem um Plano Áreas industriais e portuárias anti- vado e ouvir a população, o poder cil encontrar nas prateleiras opções antes to “empresarial”, diz Santa’Anna, autora
gas, próximas a rodovias e ferrovias.
Subúrbios residenciais com pequenos 3º Se todos acertarem a carta COISA DE CRIANÇA?
Diretor, definido como um instru- prédios e comércio concentrado nas público também precisa ser proa- raras ou mesmo inexistentes, como chia, de História da Beleza no Brasil (editora correta, o narrador perde pontos.
Nessas regiões, o objetivo é renovar avenidas principais. Não apresentam Os RPGs, apesar de não serem obras audiovisuais,
mento básico de desenvolvimen- tivo. “É importante que o plano, quinoa, linhaça e óleo de coco. Na inter- Contexto). “É uma relação assim: tudo Se ninguém acertar, ele perde possuem classificação indicativa fornecida pelo Minis-
a atividade econômica, aproveitan- problemas graves de infraestrutu-
to de acordo com o Estatuto da do a infraestrutura viária já existente, como um todo, oriente as ações net, uma busca rápida exibe tanto recei- que a gente come ou usa deve servir como também. A descrição precisa ser am- tério da Justiça. Muitos são proibidos para menores.
ra, mas precisam de investimentos. bígua na medida certa para que
Cidade, lei federal de 2001 que re- e aumentar a densidade habitacional. da prefeitura”, afirma Saboya. tas sem glúten quanto tutoriais para quem investimento — seja em saúde, seja apenas um adversário acerte.
gulamenta a política urbana. A nós, resta ficar de olho. 74 quer fazer os próprios cosméticos — ba- em beleza. Nada pode ser gratuito.” 75 24 25
30 31
Fontes: Lei no 16050/14 - PDE de São Paulo; Lei no 7400/2008 - PDDU de Salvador; Lei no 062/2009 - PDP de Fortaleza

Ciclovias são só O número de Os alunos brasileiros


1,14% da malha produtores orgânicos estão no 58º lugar
viária das capitais aumentou 50% no ranking de
brasileiras entre 2014 e 2015 matemática

INSTITUTO AYRTON SENNA INSTITUTO CHÃO MOBILIZE BRASIL MATEMÁTICA EM MOVIMENTO CASA DO ZEZINHO
A organização sem fins Criado em São Paulo, o instituto O portal de mobilidade urbana O projeto foi criado por alunos A ONG atende mais de 1,5 mil
lucrativos, fundada há mais de vende produtos orgânicos forne- sustentável reivindica calçadas, da Escola Politécnica da USP crianças e jovens em situação
20 anos pela família do piloto, cidos por pequenos produtores ciclovias e transporte público que recrutam voluntários para de vulnerabilidade social em
aceita doações a partir de R$ 10 pelo preço de custo e expõe os melhores nas cidades brasileiras. dar aulas de Matemática aos São Paulo e aceita doações
por mês de pessoas físicas e de custos de manutenção para que No site há notícias, campanhas sábados em escolas de Ensino de jogos em bom estado
R$ 360 por mês de empresas. cada cliente ajude como puder. e mapas colaborativos. Médio da rede pública. para a sua brinquedoteca.
institutoayrtonsenna.org.br institutochao.org mobilize.org.br facebook.com/MatMov casadozezinho.org.br

SÓ +
É GUERRA O Netflix CADÊ? TRAZ O GELO VAMOS FALAR
A soberania de um meme mediu: os Um terço da população Aquele café que você DE COISA BOA
é coisa séria. Portugal usuários mundial não consegue anda tomando para Papa Francisco admitiu:
copiou o “in brazilian veem, em enxergar a Via Láctea. espantar o frio pode ser ninguém faz amigos

1 MIN. portuguese we say”, a


internet brasileira reagiu
e – adivinha – ganhamos
a Primeira Guerra Memeal.
média,
todo o
primeiro
ano de
O novo atlas da poluição
luminosa, aquela gerada
por luzes artificiais das
grandes cidades, mostra
um perigo. Estudo da
Organização Mundial
da Saúde concluiu que
o consumo de bebidas
tomando leite. “Não se
pode encerrar uma festa
de casamento bebendo
chá, seria uma vergonha.
A paz pouco durou: a uma série que só cerca de 32% dos muito quentes, acima dos Uma festa precisa de
Aconteceu em junho, mas Argentina se meteu. em uma brasileiros têm direito 65°C, “provavelmente” vinho”, disse ele em
não coube na revista Que venha a Rússia! semana. a um céu decente. causa câncer de esôfago. bênção para casais.
primei-
W W W.G ALILEU.GLOBO.COM
colaborador do mês

ramente
#300 07. 2016

POR cRISTINE KIST

ferenciar dela e reafirmar que isso nun- Tomás Arthuzzi


ca acontecerá comigo. Se a adolescente profissão — Fotógrafo
carioca foi estuprada porque estava ves-
idade — 28 anos
tindo uma roupa curta ou tinha bebido,
problema dela. Eu só bebo refrigeran- onde mora — São Paulo, SP

te light e todas as minhas saias ficam quantas capas da galileu já fotografou — Seis
pelo menos três centímetros abaixo do quantas horas demorou para fazer esta capa —
joelho. Comigo, isso nunca aconteceria. “Não foram horas, foram dois dias: um
É o mesmo que dizer que ela “estava para montar o cenário e outro para reunir
modelo, maquiadora , styling e direção
pedindo” ou que “teve o que mereceu”. de arte para , então, fotografar de fato.”
Curiosamente, enquanto pesquisava
para escrever esta carta, descobri que
o termo “culpabilização da vítima” não
foi criado em referência às vítimas de
estupro ou assalto, mas sim para tra-
tar de quem foi prejudicado de alguma
forma pela desigualdade racial e social.
Explico: o objetivo do pai do conceito,
o psicólogo norte-americano William 1 2
Ryan, era desmentir a
falando nisso chuva dE likEs

de novo: a culpa
ideia, defendida inclusi- Nossa editora de Três novos blogs
ve por muita gente bem- arte, Fernanda vão estrear e um

não é da vítima intencionada, de que Didini, construiu à vai ressuscitar no


mão boa parte do nosso site neste
os pobres eram os ver- cenário da foto — mês: o Altr+Ego,
dadeiros responsáveis que sim, foi feita do editor Nathan
pela sua pobreza. Quando publicou Bla- em estúdio! Foi Fernandes, volta
or uma triste coincidência, a

P
ela que montou as das cinzas para falar
edição de junho da GALILEU ming the Victim (“Culpando a Vítima”, “paredes” e a placa de filosofia, ciência
— cuja capa, Essa novinha é em inglês) no início dos anos 70, Ryan de “serviço” em e celebridades. No
desmontava com evidências hipóteses cima do elevador. Máquina do Tempo,
uma criança, tratava da erotização de o também editor
meninas — chegou às bancas no mesmo absurdas que até então eram levadas a Thiago Tanji vai
dia em que o Brasil ficou sabendo do es-
tupro coletivo de uma jovem de 16 anos
sério, como a de que os afro-americanos
eram naturalmente prejudicados pela es-
3 discutir as efemé-
rides da semana.
O Luneta, programa
no Rio de Janeiro. O caso veio à tona trutura familiar instável e matriarcal (!) Em nomE sobre astronomia
e a de que os pobres viviam doentes do amor transmitido ao vivo
depois que um dos rapazes acusados do Pouco antes do Dia
porque eram ignorantes e não se preo- na nossa página no
crime postou um vídeo da adolescente dos Namorados, Facebook, também
desacordada na cama (e isso é tudo o cupavam em cuidar da saúde. recebemos um ganhará sua página.
Hoje, 45 anos depois que Ryan divul- e-mail desesperado Por fim, esta editora
que sei porque, honestamente, me recu- da leitora Bia Fuini,
gou suas ideias, muita gente ainda ten- que vos escreve
sei a assistir ao tal vídeo). Mas, apesar que queria ajuda terá o seu Ciências
das evidências, ainda houve quem dis- ta responsabilizar quem está na base para surpreender Humanas para dar
da pirâmide por não conseguir chegar a namorada, Laura, seus pitacos sobre
sesse que a culpa era da vítima porque: fã da GALILEU.
ao topo, como se ascender socialmente política e sociedade.
1) ela não deveria estar em um baile O repórter André
funk; 2) as roupas que vestia não eram fosse apenas uma questão de mérito Jorge falou sobre o
ou esforço. Como dissemos na capa, casal durante uma
adequadas; 3) ela era usuária de drogas; transmissão do
queM fez A cAPA

e 4) já tinha um filho de três anos. ter talento e força de vontade ajuda (e Luneta, mas fica
foto Tomás Arthuzzi
Sempre achei curiosa a obsessão das muito), mas não faz milagre. E é sobre registrado aqui Assistente Stefano Maccarini
também o nosso Produção Beatriz Liranço
pessoas por encontrar um “erro” da ví- isso que trata a nossa principal repor- Modelo Natasha Nogueira
feliz Dia dos Namo- (Casa Agência)
tima para justificar sua (falta de) sorte. tagem deste mês (p. 36). Boa leitura! rados atrasado! MAquiAgeM Paula Vidal
AgrAdeciMentos
Uma boa teoria diz que, ao culpar a ví- GAP (11) 3038-2588; Mochila
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