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HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
Campo Grande
NOV / 2015
ENSAIOS SOBRE VELHICE E HOMOSSEXUALIDADE
EM CAMPO GRANDE (MS)
UFMS
Campo Grande
NOV / 2015
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SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO..........................................................................3
2- OBJETIVOS..............................................................................8
3- JUSTIFICATIVA........................................................................10
4- REVISÃO TEÓRICA................................................................. 14
4.1- O cinema como ferramenta social........................16
5- METODOLOGIA....................................................................... 22
6- CRONOGRAMA....................................................................... 25
7- BIBLIOGRAFIA......................................................................... 26
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1. INTRODUÇÃO
vida sexual é feita de uma escolha. É como se em um momento da vida, como um estalo,
escolhêssemos desvirtuar do “bom” para o “mau” caminho. O debate é mais complexo
do que uma convenção maniqueísta. A polêmica continha sendo bem maior que isto.
Se há luta por direitos mais igualitários, há quem use violência para combatê-
los. Em 2015, o Grupo Gay da Bahia (GGB), um dos mais influentes e conhecidos por
lutar nas causas da comunidade LGBT brasileira, divulgou um relatório referente ao
número de assassinatos de homossexuais no país no ano de 2014. O documento
registrou 326 mortes. O que foi apontado como mais surpreendente é que um indivíduo
LGBT é morto a cada 27 horas. Segundo o estudo, o Brasil ainda é um dos campeões
mundiais em crimes homo-transfóbicos. Agências internacionais apuraram que no ano
passado 50% dos assassinatos de transexuais foram cometidos no país. Conforme o
relatório, dos 326 mortos, 163 eram gays, 134 travestis, 14 lésbicas, 3 bissexuais e 7
amantes de travestis – conhecidos como T-lovers. Foram igualmente assassinados 7
heterossexuais, por terem sido confundidos com gays ou por estarem em circunstâncias
ou espaços homoeróticos.
Pela primeira vez, o relatório do GGB indicou que o Centro-Oeste ultrapassou
o Nordeste como região geográfica mais intolerante. Foram 2,9 “homocídios” para cada
1 milhão de habitantes. Na região central do Brasil, o estado de Mato Grosso do Sul
continua sendo um dos mais violentos, com 3,8 mortes por milhão de habitantes. Estas
estatísticas servem como reflexão para a questão dos direitos humanos e legais da
comunidade LGBT no estado sul-mato-grossense.
O caso da morte do universitário Lawrence Corrêa Biancão, 20 anos, em 9 de
dezembro de 2012, na capital Campo Grande, serve de exemplo. O rapaz foi encontrado
morto no início da tarde dentro de seu carro, com o cinto de segurança no pescoço. Foi
investigado e posteriormente comprovado que a vítima foi asfixiada por dois
adolescentes, após ter flertado com um dos garotos. A motivação da violência foi
claramente homofóbica.
Outra situação que repercutiu na sociedade local e que também teve ampla
divulgação nos meios de comunicação brasileiros foi o caso do adolescente de 16 anos
espancado pelo próprio pai após “sair do armário”, isto é, admitir-se ser gay. O fato
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o esperado; uma forma violenta de dizer que, no final das contas, uma escolha foi
equivocada e que o indivíduo “optou” por um fim trágico. Um modo de anunciar aos jovens
o que pode lhes esperar no futuro, caso não sejam heterossexuais. Esse “anúncio”
produz medo, receio e estigma. Pois, além do abandono, os sujeitos que estão nessa
fase da vida, mesmo gozando de saúde e autonomia, são vistos – inclusive entre a
“fraternidade” da comunidade LGBT – como inaptos sexuais, alvo de piadas e aversão.
Um artigo na Internet, publicado pelo blog Nossos Tons, discutiu exatamente
este assunto. No texto, o autor revela a verdadeira questão do idoso homossexual
perante à sociedade:
2. OBJETIVOS
histórias.
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3. JUSTIFICATIVA
como “sapatona velha”, “velho tarado” ou “bixona velha”. Mesmo estando inserido em
diferentes momentos da história pela afirmação e visibilidade homoerótica, o lugar a que
se cabe ao homossexual idoso, quase sempre, é oferecido ao silêncio. Há um “ideal” no
consciente das pessoas, principalmente naquelas que são homossexuais:
Um sujeito pode ser homossexual, contanto que não seja uma “maluca
desvairada e caricata” (leia-se: afeminado) e, ao que parece, ser “velho”
é também um demérito, e não uma condição natural e inevitável da
biologia. Tal discurso não dá espaço para a invenção da
homossexualidade a partir de um ativismo constante e autoquestionador,
conforme nos propõe Foucault. Existe, para este tipo de militante, uma
forma ideal de ser homossexual, uma forma que, justamente por ser
idealizada, exclui terminantemente uma realidade: efetivamente, existem
homens homossexuais afeminados, quer gostem disso ou não os gays
descolados, modernos e másculos. (MAGNAVITA, 2008, p. 4)
Em uma outra entrevista, desta para vez para o website iGay, Laerte afirmou
que gostaria de não ter renegado sua homossexualidade por tanto tempo. Aqueles que
não conhecem a história da cartunista, não sabem da espera de mais de 40 anos que ela
levou para “sair do armário”. Na realidade, se sentir segura e finalmente ter a coragem
de ser quem ela sente que deveria ser para si mesma, e não para os outros. Muitas
situações inconvenientes integram a lista de desafios da quadrinista, assim como de
muitos brasileiros e brasileiras que enfrentam dificuldades ao assumir sua orientação
sexual ou identidade de gênero. São constantes gritos, ofensas e palavras de baixo calão
para essas pessoas, que já os suportam e os taxam de comuns. O simples ato de ir ao
banheiro – seja feminino ou masculino – já é uma confusão. Onde os travestis e
transexuais se “encaixariam”? E os assexuados? Novamente, voltando para a questão
das pessoas mais velhas, é o duplo-estigma: idade e sexualidade, carregando os seus
respectivos estereótipos intrínsecos e característicos.
A importância deste trabalho se encontra justamente em levantar esta
problemática para esse conjunto social, na forma de um vídeo-documentário sobre a
questão da homossexualidade para pessoas com idade igual ou superior aos 60 anos.
Por isso, é necessária uma acareação de personagens que pertençam a essa faixa etária
na comunidade LGBT, no caso da de Campo Grande (MS), como exemplificação
regional. Será que esse grupo social se esconde na luta contra o preconceito? Trazer
esta questão à tona também é de muita valia, afinal, de acordo com o censo demográfico
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, a sociedade brasileira
está envelhecendo. Por isto, cabe a este projeto entender a situação dessas pessoas,
conhecer suas histórias, explicar suas dificuldades e tentar amenizar – se é que isto é
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4. REVISÃO TEÓRICA
Se existe uma lei que dita a vida é que todo ser vivo envelhecerá. Por mais
que desejam, os seres humanos não escapam da regra. Permanecer jovem por artifícios
plásticos, cirúrgicos e comportamentais é a maneira encontrada para fugir da realidade
de que um dia todos seremos idosos. Nas relações humanas a velhice é a constante
final. O meio científico racionaliza o ato de maturidade como sendo um processo
biológico, uma manifestação involuntária a tudo que é vivo, quando as células param de
se reproduzir com aquela efervescência viril comum aos mais jovens. O nascer
pressupõe envelhecer. Já na primeira respirada de ar do bebê, quando o oxigênio queima
seus pequenos pulmões, o sangue pulsa, o coração bate. Quando chegamos à última
etapa da vida, o metabolismo diminui, a carne não é mais a mesma, o reflexo no espelho
muda. Do ponto de vista da religião, a velhice existe como uma transição da vida para a
morte (SILVA, 2008, p. 156). Uma outra interpretação é de que a velhice é na realidade
um privilégio social. Afinal, quem consegue chegar a senioridade já passou por todos os
estágios da vida, adquirindo conhecimento e experiência, fazendo escolhas certas e
erradas, conquistando perdas e ganhos suficiente para sair da cadeira de adulto e sentar
em sua nova poltrona: a de idoso.
Entretanto, é preciso pensar nos outros significados de envelhecer. Como já
elucidado, tornar-se velho faz parte de um processo da vida e tem representações e
simbologias mais complexas na sociedade contemporânea. No conceito das ciências
sociais, por exemplo, a velhice está ligada a um processo histórico-humano que envolve
questões culturais, sociais e econômicas. Para a demografia, significa aumentar os anos
de vida. O surgimento de “novas” categorias etárias relaciona-se intimamente com o
processo de ordenamento social que teve curso nas sociedades ocidentais durante a
época moderna:
Há quem diga que ser idoso não é coisa boa; outros de que seria a melhor das
coisas. Inevitavelmente, mesmo com as opiniões e interpretações pessoais que tenha
hoje, volta-se a dizer que um dia todos seremos velhos. Existe uma tirinha viral na Internet
que correlaciona os três estágios da vida, em tom de piada:
mostrar a dor e sofrimento das mães que perderam seus filhos. Capturar os prédios em
escombros, devastados, que antes abrigavam milhares de famílias. Compilar a cidade
repartida, retalhada, apagada em um gradiente descolorido. Filmar a situação pós-guerra
era expor que a vida persiste. No meio da tristeza, mostrar que existe o dia de amanhã.
O grande documentarista Bill Nichols (2007), em sua conhecida impressão
Introdução ao documentário, explora o modo observativo de se fazer documentário nos
anos iniciais, sem a necessidade de construir padrões formais ou argumentos
persuasivos. Não seria uma convincente forma de documentação se o próprio
documentarista não intervisse em sua matéria-prima com algum tipo de reflexão,
perspectiva ou argumento, nos moldes cinematográficos?
Foi discorrido até o presente momento alguns aspectos teóricos que envolvem
cinema e documentário ao longo da história. Agora, o interesse desta escrita é registrar
os produtos audiovisuais brasileiros que trabalham de forma integral e relevante a cerca
do objeto em estudo, velhice e homossexualidade.
É válido ressaltar que não foram encontrados muitos exemplos no Brasil de
documentários sobre o referido tema. Por uma análise informal, pode-se dizer que isto
representa todo o processo de exclusão da figura do idoso na sociedade contemporânea.
Fica ainda mais evidente quando adicionado à equação a homossexualidade. É o
chamado duplo-estigma: ser velho e gay não é o anseio social. O desejo comum é se
enquadrar nas ditaduras sociais, de beleza, moda, gosto e comportamento – ser jovem e
belo – e se possível permanecer assim por toda a vida. Independente, validar a causa é
estuda-la, compreende-la. No caso, filma-la, documenta-la. Idosos gays também são
pessoas. Pelo viés das Ciências Sociais, catalogar e discorrer sobre todos os indivíduos,
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5. METODOLOGIA
documentais, como também observar exemplos dos mesmos que tenham o tema como
plano de fundo.
Passada a etapa de levantamento bibliográfico, entra-se na fase de coleta e
apuração de personagens. Inicialmente, deve-se atentar à escolha desses indivíduos,
que exercerão uma função primordial para o produto audiovisual. Serão eles os
entrevistados, contadores de história, testemunhas oculares, documentos-humanos.
Proporcionando um documentário de representação social, como classifica Bill Nichols:
sexualidade, etc.). Essas delimitações servem para encaixar cada tipo de personagens à
sua respectiva categoria, sem que haja uma mistura entre personagens e evitando
também que um único personagem tenha todas as suas histórias contadas. Lembrando
que a escolha dos personagens envolve percepção de serventia – falas mais
desenvolvidas, histórias mais interessantes –, aval do orientador e interesse dos
envolvidos em contribuir para o desenvolvimento do projeto. As supostas fontes e
personagens serão elencadas, escolhidas e organizadas de acordo com o pré-roteiro de
gravação do vídeo-documentário em questão.
Tudo isto será estabelecido concomitante à fase da pesquisa de campo, que
no caso, envolve entrar em contato, conhecer, observar e registrar a comunidade LGBT
de Campo Grande (MS), seja na rotina diurna – de trabalho, estudo, em família – ou
noturna – bares, boates, pontos de encontro, entre amigos. Posteriomente, gravação das
entrevistas e montagem do documentário com a utilização de um software pago, pois
manterá a qualidade e a segurança profissional do projeto.
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6. CRONOGRAMA
MÊS/ETAPAS Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar
Escolha do
X
tema
Escolha do
X
orientador(a)
Levantamento
X X X X X
bibliográfico
Elaboração do
X X X X X
anteprojeto
Apresentação
X X
do projeto
Coleta de
personagens e X X X
entrevistas
Gravação e
produção X X X
audiovisual
Decupagem e
X X
roteirização
Montagem e
edição X X
audiovisual
Revisão final
X
do produto
Entrega do TCC
X
e do relatório
Defesa do TCC
X
e entrega final
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BAILÃO. Direção: Marcelo Caetano. Produção: Jurandir Müller. Fotografia: Julia Zakia.
16 min., color. São Paulo: 2009. Disponível em: <https://vimeo.com/46066663>. Acesso
em: 30 out. 2015.
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COSTA, Antonio. Compreender o cinema. 2ª ed. São Paulo: Globo, 1989. 271 p.
COUTINHO, L.. Gostaria de não ter renegado minha homossexualidade por 40 anos:
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ONU – United Nations Human Rights. Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Disponível em:
<http://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf>. Acesso em:
30 de out. 2015.
SILVA, Luna Rodrigues Freitas. Da velhice à terceira idade: o percurso histórico das
identidades atreladas ao processo de envelhecimento. Historia, Ciências, Saúde –
Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 15, n. 01, p. 155-168, jan.-mar. 2008.
VERÃO, Helton. Caso de menino espancado pelo pai por ser gay cria polêmica no
Facebook. Campo Grande News, Campo Grande, 5 ago. 2013. Disponível em:
<http://www.campograndenews.com.br/cidades/capital/caso-de-menino-espancado-
pelo-pai-por-ser-gay-cria-polemica-no-facebook>. Acesso em: 30 out. 2015.