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CURSO DE BACHARELADO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL

HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

ENSAIOS SOBRE VELHICE E HOMOSSEXUALIDADE


EM CAMPO GRANDE (MS)

Campo Grande
NOV / 2015
ENSAIOS SOBRE VELHICE E HOMOSSEXUALIDADE
EM CAMPO GRANDE (MS)

KIOHARA SCHWAAB EVANGELISTA FERREIRA


RAUL MAURICIO DELVIZIO

Projeto de Pesquisa apresentado à disciplina


Projetos Experimentais, como requisito
parcial para elaboração do projeto
experimental de conclusão do curso de
graduação em Comunicação Social –
Habilitação em Jornalismo da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, sob
orientação da Professora Doutora
Fernanda Ribeiro Salvo.

UFMS
Campo Grande
NOV / 2015
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SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO..........................................................................3

2- OBJETIVOS..............................................................................8

3- JUSTIFICATIVA........................................................................10

4- REVISÃO TEÓRICA................................................................. 14
4.1- O cinema como ferramenta social........................16

5- METODOLOGIA....................................................................... 22

6- CRONOGRAMA....................................................................... 25

7- BIBLIOGRAFIA......................................................................... 26
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1. INTRODUÇÃO

O debate em torno da homossexualidade no mundo contemporâneo, de fato,


não é nenhuma novidade. São questões antigas e particularidades discutidas ao longo
da história da humanidade, muito conhecidas nas escritas, literaturas e representações
artísticas e estudos iconográficos da Antiguidade Clássica, onde o significado de afeto,
amor e sexo era observado e construído de maneira diferente da atualidade, a qual
predomina-se a heteronormatividade:

Evidências artísticas de homossexualidade remontam ao século VII a.C,


e talvez ao período minóico. As mais abundantes evidências, porém, são
os vasos atenienses dos séculos VI e V a.C. Para esse período, é
indispensável utilizar um material literário como complemento para
compreender as práticas sociais. [...] Costuma-se armar que relações
homossexuais na antiguidade seguiam um padrão. Na Grécia clássica
seria uma espécie de pederastia pedagógica, unindo um homem
(geralmente antes da idade do casamento) e um garoto livre, enquanto
em Roma, seria meramente um relacionamento físico entre um cidadão
adulto e um jovem escravo. (FERNANDES, 2014)

Os antigos gregos e romanos não concebiam a ideia de orientação sexual


como um identificador social, da maneira que hoje as sociedades ocidentais
transparecem. De lá para cá, o que não se alterou é a sexualidade como algo intrínseco
ao homem. É a essência do homo sapiens: sexo é a forma natural de reprodução
humana, mas também é prazer, comportamento e cultura. A efervescência das
discussões e reflexões no presente momento segue no sentido dos direitos do indivíduo
ou do grupo de indivíduos em relação à sua orientação sexual. Para lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais isto é um avanço. Matrimônio, divisão de bens, direitos
iguais aos heteronormativos. Essas pessoas integram a chamada comunidade LGBT,
que ainda enfrenta muito preconceito e represália por parte da sociedade que não
considera outra orientação sexual a não ser a heterossexual. A discordância se dá em
diversos argumentos, seja cultural, educacional ou de base religiosa. Há quem interprete
a orientação sexual dos LGBTs como uma opção, pois parte do pressuposto de que a
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vida sexual é feita de uma escolha. É como se em um momento da vida, como um estalo,
escolhêssemos desvirtuar do “bom” para o “mau” caminho. O debate é mais complexo
do que uma convenção maniqueísta. A polêmica continha sendo bem maior que isto.
Se há luta por direitos mais igualitários, há quem use violência para combatê-
los. Em 2015, o Grupo Gay da Bahia (GGB), um dos mais influentes e conhecidos por
lutar nas causas da comunidade LGBT brasileira, divulgou um relatório referente ao
número de assassinatos de homossexuais no país no ano de 2014. O documento
registrou 326 mortes. O que foi apontado como mais surpreendente é que um indivíduo
LGBT é morto a cada 27 horas. Segundo o estudo, o Brasil ainda é um dos campeões
mundiais em crimes homo-transfóbicos. Agências internacionais apuraram que no ano
passado 50% dos assassinatos de transexuais foram cometidos no país. Conforme o
relatório, dos 326 mortos, 163 eram gays, 134 travestis, 14 lésbicas, 3 bissexuais e 7
amantes de travestis – conhecidos como T-lovers. Foram igualmente assassinados 7
heterossexuais, por terem sido confundidos com gays ou por estarem em circunstâncias
ou espaços homoeróticos.
Pela primeira vez, o relatório do GGB indicou que o Centro-Oeste ultrapassou
o Nordeste como região geográfica mais intolerante. Foram 2,9 “homocídios” para cada
1 milhão de habitantes. Na região central do Brasil, o estado de Mato Grosso do Sul
continua sendo um dos mais violentos, com 3,8 mortes por milhão de habitantes. Estas
estatísticas servem como reflexão para a questão dos direitos humanos e legais da
comunidade LGBT no estado sul-mato-grossense.
O caso da morte do universitário Lawrence Corrêa Biancão, 20 anos, em 9 de
dezembro de 2012, na capital Campo Grande, serve de exemplo. O rapaz foi encontrado
morto no início da tarde dentro de seu carro, com o cinto de segurança no pescoço. Foi
investigado e posteriormente comprovado que a vítima foi asfixiada por dois
adolescentes, após ter flertado com um dos garotos. A motivação da violência foi
claramente homofóbica.
Outra situação que repercutiu na sociedade local e que também teve ampla
divulgação nos meios de comunicação brasileiros foi o caso do adolescente de 16 anos
espancado pelo próprio pai após “sair do armário”, isto é, admitir-se ser gay. O fato
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aconteceu no município sul-mato-grossense de Três Lagoas. No meio virtual, diversos


usuários acompanharam o ocorrido através dos sites de notícia e compartilharam sua
opinião. Observa-se que a Internet, como ferramenta democrática que é, vem sendo cada
vez mais palco de discussões calorosas, seja elas contra ou a favor, cheias de
argumentos fundados e infundados, ideológicos e politizados, educados e grosseiros.
Sobre o ocorrido, muitos incitaram a violência em suas opiniões, com frases homofóbicas
e palavras hostis. Outros dividiram sua repudia, demonstrando tanto indignação à
situação quanto aos comentários, condenando o pai e exigindo justiça à vítima.
A mídia sul-mato-grossense e a brasileira têm, de certa maneira, o
comprometimento e o interesse em divulgar as notícias exemplificadas. Possivelmente
isto aconteça pelos critérios de noticiabilidade, estudados na Comunicação Social, em
especial nos cursos de Jornalismo do país. Os casos de violência na comunidade LGBT
divulgados nos diversos canais midiáticos culminam no suposto papel social da mídia em
denunciar, discutir, combater e apontar os erros da sociedade. Contudo, essa excessiva
exposição subtrai esse propósito, e acaba por banalizar e polemizar a importância da
problemática.
As notícias aqui indicadas, assim como as estatísticas sobre violência LGBT,
refletem a importância de se discutir o tema. A intenção não é de o que leitor tome
partidos, ou até mesmo lute pela causa – mas a conheça. É fundamental, do ponto de
vista humanista, se informar sobre as coisas. Estar inteirado das causas. Se a busca é
por um mundo mais justo, igualitário, democrático, a transformação começa a partir da
percepção, da sensibilidade de que é possível mudar. Esta reflexão, por mais
transparente e autêntica que seja, seguirá por um diferente viés a seguir.
No mundo contemporâneo, persiste a ideia de que a sexualidade humana,
portanto, a homossexualidade e todo o preconceito atrelado, esteja mais ligada à
juventude. Isso se deve ao fato de que a velhice beira a margem da sociedade, sendo
delegados ao abandono e à (des)sexualização, como se o corpo jovem permanecesse
intacto. Sendo assim, seriam os idosos homossexuais a margem da própria margem?
A condição da homossexualidade na terceira idade apresenta-se como uma
punição social aos sujeitos – punição a um modo de vida/existência não condizente com
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o esperado; uma forma violenta de dizer que, no final das contas, uma escolha foi
equivocada e que o indivíduo “optou” por um fim trágico. Um modo de anunciar aos jovens
o que pode lhes esperar no futuro, caso não sejam heterossexuais. Esse “anúncio”
produz medo, receio e estigma. Pois, além do abandono, os sujeitos que estão nessa
fase da vida, mesmo gozando de saúde e autonomia, são vistos – inclusive entre a
“fraternidade” da comunidade LGBT – como inaptos sexuais, alvo de piadas e aversão.
Um artigo na Internet, publicado pelo blog Nossos Tons, discutiu exatamente
este assunto. No texto, o autor revela a verdadeira questão do idoso homossexual
perante à sociedade:

Existe uma enorme população de indivíduos idosos gays e lésbicas. E


também muitos mitos e estereótipos negativos existentes sobre eles. Os
LGBTs mais velhos sofrem de um duplo estigma na sociedade. A imagem
do gay ou lésbica mais velho, como deprimido, solitário, desesperado, e
sem sexo é predominante, no entanto, esta imagem não retrata a
realidade. Eles podem na verdade, ter uma vida até bem interessante.
(MARINHO, 2010)

O processo de envelhecer possui representações diversificadas em cada


espaço social, o que significa afirmar que a passagem de tempo para o ser humano tem
dimensões culturais, sociais e históricas. Ou como cita Simone de Beauvoir (1990) “a
velhice não é um fato estático; é o resultado e o prolongamento de um processo”. De
todo modo, se a maturidade aponta para ganhos e perdas, sendo que as perdas se
sobressaem aos ganhos na ordem dos significados para a vida contemporânea, ao
agregar a identidade gay, o sujeito idoso muitas vezes se encontra em um duplo estigma,
categorizado como sem autonomia ou independência para prosseguir na vida. Por isso,
é necessário um aprimoramento nesta discussão. De que forma o duplo preconceito,
envelhecer e ser gay, impacta na vida desses indivíduos?
O tema é um assunto em pauta, no entanto, são tratados separadamente. Na
literatura, por exemplo, o que encontramos é uma lacuna quanto à justaposição entre a
orientação sexual e etapa de vida. O que nos leva a crer que homossexualidade e velhice
é algo incompatível, inexistente. Em uma pesquisa bibliográfica catalogada por Arney,
Fernandes e Green (2003), dos 120 trabalhos realizados nos anos 70 a 90, em nenhum
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o tema homossexualidade na velhice apareceu. Em Mato Grosso do Sul, poucas também


são as referências que retratam a faixa etária de pessoas com 60 anos e que são
homossexuais. Por isto, este trabalho, por meio da produção de um vídeo-documentário
humanista, pretende focalizar as relações homossexuais no processo de
envelhecimento, a partir das lembranças sobre as trajetórias de vida de cada um dos
personagens consultados. Neste sentido, o estudo analisa esses indivíduos – que já se
encontram na terceira idade, conforme regulamenta o Estatuto do Idoso – a partir de suas
narrativas, experiências sociais e sexuais, articulando-se de uma geração que foi
marcada por vários processos na luta por seus direitos. Para esses idosos, a
homossexualidade foi consentida na comunidade científica como um desvio patológico e
configurado pela ciência médica psiquiátrica até o ano de 1990, quando a questão saiu
do livro de doenças e passou a ser uma bandeira de lutas por direitos mais igualitários.
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2. OBJETIVOS

2.1- OBJETIVO GERAL

Desenvolver um vídeo-documentário a partir de histórias, perspectivas,


características e diferenças dos indivíduos que pertençam à comunidade LGBT de
Campo Grande (MS) e que possuam idade igual ou superior a 60 anos. Construir um
documentário sobre essas pessoas, que de forma subjetiva, simbólica ou
expressivamente se relacionam com o universo LGBT pela sua orientação sexual.

2.2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Fazer um vídeo-documentário o mais humanizado possível, principalmente

em termos de montagem, respeitando sempre os direitos humanos, sem

que se mascare pressupostos ou preconceitos.

• Construir o produto audiovisual a partir do âmago subjetivo dos

personagens e da sensibilidade de suas histórias.

• Coletar personagens que se encaixam no recorte estabelecido e entrevistar

aqueles que tiverem experiências de vida e/ou opiniões mais relevantes

para o referido documentário.

• Identificar as dificuldades, características, diferenças e peculiaridades

sociais do grupo de indivíduos proposto e aponta-las por meio de suas

histórias.
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• Buscar traçar um panorama local do tema através das perspectivas

socioculturais dos personagens escolhidos, a fim de relacionar a afinidade

de cada um com o tema principal do documentário.

• Conhecer e expor outras opiniões do tema, não somente dos personagens,

mas também possivelmente dos familiares, amigos, psicólogos, assistentes

sociais, teóricos, pesquisadores e demais especialistas no assunto, mas

que isto esteja limitado ao escopo pré-estabelecido.


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3. JUSTIFICATIVA

Podemos observar que nos meios de comunicação, tanto no quadro regional


quanto no nacional, pouco se vê ou ouve falar da homossexualidade na velhice. O que
nos leva a questionar: qual o lugar social dos mais velhos que tenham práticas
homossexuais na sociedade atual, marcada pela óptica da exacerbação do jovial, do
consumismo, da ditatura da beleza, pelo valor do individualismo e pelo padrão de família
que desvaloriza e renega a comunidade LGBT?
Os homossexuais que estão hoje com 50 anos ou mais viveram sua juventude
e vida adulta em uma época de pouca tolerância, principalmente aqueles que nasceram
entre as décadas de 50 e 60, tempos mais perigosos e autoritários quanto à garantia da
liberdade e dos direitos humanos. Oprimindo sua liberdade de expressão e acostumados
a omitir sua sexualidade, esses indivíduos “sujeitaram-se” à invisibilidade. Não cabe aqui
julgar se era o mais correto a se fazer. Era uma das escolhas possíveis. Para os
conservadores, demonstrações afetivo-sexuais eram tidas como imorais e pecaminosas,
e deveriam ser mantidas em sigilo. Caso contrário, indivíduos contrários corriam o risco
de serem excluídos dos círculos sociais, familiares ou fraternais, e sofrer represália por
parte da sociedade tradicional, intolerante, inflexível, machista e heteronormativa.
Permanecer “dentro do armário” – expressão que indica aquela pessoa que não assume
aos outros a sua verdadeira sexualidade – foi a única opção de muitos desses homens e
mulheres ao longo de muitos anos. Alguns deles, para seguir a ordem “natural” da
sociedade, casaram, tiveram filhos, tornaram-se “pais de família”. Outros mantinham e/ou
mantém encontros com pessoas do mesmo sexo, de forma clandestina, pois o que
prevalece é o sigilo, oportunidade de escapar da situação em que se encontram.
Esses homens e mulheres são duplamente estigmatizados, por serem,
primeiramente, mais velhos – estereótipo do solitário, imóvel, cansado, assexuado – e
por terem uma orientação sexual que desvia do que é conhecido como normal perante a
sociedade e cultura locais e dominantes. Quando chegam à terceira idade, beirando seus
60-70 anos de idade ou mais, passam a ser ignorados e/ou rechaçados, até mesmo
dentro da própria comunidade LGBT. Não são raros apelidos com nomes pejorativos
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como “sapatona velha”, “velho tarado” ou “bixona velha”. Mesmo estando inserido em
diferentes momentos da história pela afirmação e visibilidade homoerótica, o lugar a que
se cabe ao homossexual idoso, quase sempre, é oferecido ao silêncio. Há um “ideal” no
consciente das pessoas, principalmente naquelas que são homossexuais:

Um sujeito pode ser homossexual, contanto que não seja uma “maluca
desvairada e caricata” (leia-se: afeminado) e, ao que parece, ser “velho”
é também um demérito, e não uma condição natural e inevitável da
biologia. Tal discurso não dá espaço para a invenção da
homossexualidade a partir de um ativismo constante e autoquestionador,
conforme nos propõe Foucault. Existe, para este tipo de militante, uma
forma ideal de ser homossexual, uma forma que, justamente por ser
idealizada, exclui terminantemente uma realidade: efetivamente, existem
homens homossexuais afeminados, quer gostem disso ou não os gays
descolados, modernos e másculos. (MAGNAVITA, 2008, p. 4)

Pode-se, então, presumir ou até mesmo afirmar que esses sujeitos se


encontram à margem do próprio grupo social, e até de si mesmos. Se existe preconceito
dentro da própria comunidade LGBT, a quem cabe a luta para acabar com tal
problemática? Como vivem, como se sentem, onde se encaixam, onde ficam?
Exemplo da famosa cartunista e quadrinista brasileira Laerte Coutinho, uma
das mais respeitadas e reconhecidas em sua área de atuação. Nascida em 1951, homem,
bissexual, hoje aos 63 anos, ela está na terceira idade conforme a legislação sobre o
idoso (2013), que são idosos aquelas pessoas com idade igual ou superior aos 60 anos.
No ano de 2004, Laerte expôs uma faceta além da de artista, e que até então era
desconhecida do público: sua identidade feminina. Em entrevista ao portal online do
jornal Folha de São Paulo, em 4 de novembro de 2010, Laerte revelou o porquê de seu
reconhecimento como mulher, além de ter optado pela prática pública do crossdressing
ou travestismo. A atividade consiste no homem ou mulher, seja heterossexual,
homossexual, bissexual ou até mesmo assexual, em se travestir, ou seja, vivenciar uma
faceta diferente do comportamento “usual”, cultural e social de seu gênero. Para
mulheres, é usar acessórios, roupas ou comportamentos masculinos. Para os homens, é
“ser/viver mulher”. Sobre sua escolha, a cartunista explica:
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Não, não é um fetiche sexual. Não é, nem é um tema que me interessa


agora. O travestimento é uma questão de gênero, não de sexo. São
coisas independentes, autônomas, que nem o executivo e o legislativo. É
um erro fazer essa mistura. “Ah, está vestido de mulher, então é veado”.
“Jogou bola, é macho”. E eu que gostava de costurar e de jogar bola? O
que tenho feito é investigar essa parte de gênero. O que tenho descoberto
é que isso é muito arraigado, essa cultura binária, essa divisão do mundo
entre mulheres e homens é um dogma muito forte. Não se rompe isso
facilmente. Desafiar esses códigos perturba todo o ambiente ao redor de
você. (COUTINHO, 2010)

Em uma outra entrevista, desta para vez para o website iGay, Laerte afirmou
que gostaria de não ter renegado sua homossexualidade por tanto tempo. Aqueles que
não conhecem a história da cartunista, não sabem da espera de mais de 40 anos que ela
levou para “sair do armário”. Na realidade, se sentir segura e finalmente ter a coragem
de ser quem ela sente que deveria ser para si mesma, e não para os outros. Muitas
situações inconvenientes integram a lista de desafios da quadrinista, assim como de
muitos brasileiros e brasileiras que enfrentam dificuldades ao assumir sua orientação
sexual ou identidade de gênero. São constantes gritos, ofensas e palavras de baixo calão
para essas pessoas, que já os suportam e os taxam de comuns. O simples ato de ir ao
banheiro – seja feminino ou masculino – já é uma confusão. Onde os travestis e
transexuais se “encaixariam”? E os assexuados? Novamente, voltando para a questão
das pessoas mais velhas, é o duplo-estigma: idade e sexualidade, carregando os seus
respectivos estereótipos intrínsecos e característicos.
A importância deste trabalho se encontra justamente em levantar esta
problemática para esse conjunto social, na forma de um vídeo-documentário sobre a
questão da homossexualidade para pessoas com idade igual ou superior aos 60 anos.
Por isso, é necessária uma acareação de personagens que pertençam a essa faixa etária
na comunidade LGBT, no caso da de Campo Grande (MS), como exemplificação
regional. Será que esse grupo social se esconde na luta contra o preconceito? Trazer
esta questão à tona também é de muita valia, afinal, de acordo com o censo demográfico
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, a sociedade brasileira
está envelhecendo. Por isto, cabe a este projeto entender a situação dessas pessoas,
conhecer suas histórias, explicar suas dificuldades e tentar amenizar – se é que isto é
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possível – os preconceitos e estigmas. Afinal, segundo a Declaração Universal dos


Direitos do Homem, todo o indivíduo tem direito à vida e à liberdade, independente de
idade, cor, raça, nacionalidade e sexualidade.
Quando se pensa na relação margem-centro, de inclusão e exclusão, é
necessário perceber um e outro sempre como um movimento de mão dupla. Existem
diversos pontos de referência, que constantemente interferem esta percepção. O que
para um pode ser centro, para o outro pode ser visto como margem, e vice-versa. Este
adendo tem uma importância significativa quando o assunto é a comunidade LGBT, ainda
mais em idade avançada. Na sociedade brasileira, ainda machista, heterossexista e
elitista, a homossexualidade é malvista por um número considerável de pessoas. No
entanto, com a constante luta do movimento LGBT durante os anos, é inegável que as
causas ganharam visibilidade e que, aos poucos, os direitos civis são concedidos a esses
indivíduos. O casamento civil homoafetivo é um exemplo de conquista. Todavia, ao se
referir na figura do homossexual, temos comumente uma imagem juvenil, sendo pouco
vista a sua representação como de idoso. Na mídia brasileira, na rotina jornalística, isto
é mais significativo. Esta é a principal motivação deste trabalho: desmistificar.
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4. REVISÃO TEÓRICA

Se existe uma lei que dita a vida é que todo ser vivo envelhecerá. Por mais
que desejam, os seres humanos não escapam da regra. Permanecer jovem por artifícios
plásticos, cirúrgicos e comportamentais é a maneira encontrada para fugir da realidade
de que um dia todos seremos idosos. Nas relações humanas a velhice é a constante
final. O meio científico racionaliza o ato de maturidade como sendo um processo
biológico, uma manifestação involuntária a tudo que é vivo, quando as células param de
se reproduzir com aquela efervescência viril comum aos mais jovens. O nascer
pressupõe envelhecer. Já na primeira respirada de ar do bebê, quando o oxigênio queima
seus pequenos pulmões, o sangue pulsa, o coração bate. Quando chegamos à última
etapa da vida, o metabolismo diminui, a carne não é mais a mesma, o reflexo no espelho
muda. Do ponto de vista da religião, a velhice existe como uma transição da vida para a
morte (SILVA, 2008, p. 156). Uma outra interpretação é de que a velhice é na realidade
um privilégio social. Afinal, quem consegue chegar a senioridade já passou por todos os
estágios da vida, adquirindo conhecimento e experiência, fazendo escolhas certas e
erradas, conquistando perdas e ganhos suficiente para sair da cadeira de adulto e sentar
em sua nova poltrona: a de idoso.
Entretanto, é preciso pensar nos outros significados de envelhecer. Como já
elucidado, tornar-se velho faz parte de um processo da vida e tem representações e
simbologias mais complexas na sociedade contemporânea. No conceito das ciências
sociais, por exemplo, a velhice está ligada a um processo histórico-humano que envolve
questões culturais, sociais e econômicas. Para a demografia, significa aumentar os anos
de vida. O surgimento de “novas” categorias etárias relaciona-se intimamente com o
processo de ordenamento social que teve curso nas sociedades ocidentais durante a
época moderna:

O reconhecimento da velhice como uma etapa única é parte tanto de um


processo histórico amplo – que envolve a emergência de novos estágios
da vida como infância e adolescência –, quanto de uma tendência
15

continua em direção à segregação das idades na família e no espaço


social. (SILVA, 2008, p. 157)

Há quem diga que ser idoso não é coisa boa; outros de que seria a melhor das
coisas. Inevitavelmente, mesmo com as opiniões e interpretações pessoais que tenha
hoje, volta-se a dizer que um dia todos seremos velhos. Existe uma tirinha viral na Internet
que correlaciona os três estágios da vida, em tom de piada:

Quando jovens temos energia e tempo de sobra, mas nada de dinheiro.


Quando adultos, conquistamos posses e nos sobra energia, mas o que
falta é tempo. E quando velhos, temos tempo, temos dinheiro, mas nada
de energia.

O exemplo mostra que a dicotomia jovem-velho não passa de uma brincadeira


inspirada em observações da vida. Mas em parte, isto não seria verdade? A pessoa mais
velha, então, é creditada como um ser não-disposto? Uma pessoa frágil, ingênua,
manipulável? Características do estereótipo ou meras constatações nas ruas? O que se
põe em questão: na sociedade atual, onde a juventude é excessivamente reverenciada,
o culto à beleza uma ditadura, como o velho poderia ser ao menos considerado? Ou
como já questiona Mota (2014, p. 17), “quais são as suas particularidades
sociossexuais?”. Entre todas as interrogações que circundam o ato de envelhecer no
mundo contemporâneo, uma ainda pouco explorada se encontra no campo da
sexualidade.
No caso, como há de ser uma pessoa idosa e homossexual? “Sair do armário”
ainda é tabu, seja para a sociedade branca, heteronormativa, machista (e em alguns
casos misógina), jovem, rica, consumista quanto para a academia. E, por vezes, em
alguns estudos insipientes e preconceituosos nas ciências humanas e sociais. O “velho
gay” também é por muitas vezes refutado na própria comunidade LGBT. Há quem diga
que o transexual é mais bem-vindo à “irmandade” do que o próprio idoso. “Seu velho
safado”. “Pederasta!”. “Que nojo de você, vovô”. Mas não há escapatória: a velhice
eventualmente chegará à todas as classes, gêneros e conceitos. Mota (2009) discursa
sobre essa questão:
16

Se por um lado a sexualidade na velhice se mostra pela representação de


ternura e carinho, por outro, no âmbito da homossexualidade, está crivada
pelos estereótipos do tipo “bicha velha” ou “coroa assanhado”. Esta
problemática contextualiza a análise simbólica sobre o corpo quando visto
em seu processo etário, cronológico, rumo ao envelhecimento, como se
o caminho da degeneração da aparência física excluísse o erotismo e a
perda da atratividade. (MOTA, 2009, p. 27-28)

A novidade dessa discussão não é a análise da experiência da


homossexualidade e da velhice em si, mas a percepção da diversidade sociossexual e a
complexidade que vem dessas duas categorias experimentadas pelos indivíduos na
contemporaneidade.

4.1- O CINEMA COMO FERRAMENTA SOCIAL

Para discorrer os documentários brasileiros que dialoguem sobre velhice e


homossexualidade é preciso, primeiramente, ressaltar alguns aspectos sobre o cinema
como documento. O cinema é sem dúvida uma forma de expressão humana. Não
somente, a clássica tela preta desenvolve uma repetição ferrenha e contínua de frames,
cenas, personagens, lugares, culturas, ideias e emissões das opiniões subjetivas dos
autores e do cast até a conclusão da obra fílmica. Na cadeira, poltrona ou sofá, o
espectador é convidado a se deixar ser seduzido. A atividade de assistir a um filme é por
vezes uma diversão, um aprendizado fora da sala de aula. De fato, é uma dualidade entre
aproximação e distanciamento, da própria realidade a uma outra realidade, a
suprarealidade. Quando cinema parece ser passatempo, é também traição, manipulação
e coação do espectador à transformação social – ou ao comodismo e leniência
ideológica. Mas cinema é também o que Schettino e Gonçalves (2007) inferiram: é meio
de comunicação, é indústria e é arte. Existem outras interpretações a respeito dessas
dimensões nos estudos da Teoria do Cinema. Como toda epistemologia, é um campo de
acirradas reflexões. Antonio Costa, em seu livro Compreender o cinema, possui uma
explanação simplificada sobre as diversas formas de abordar o cinema:
17

Sobre o cinema podemos dizer muitas coisas: que é técnica, indústria,


arte, espetáculo, divertimento, cultura. Depende do ponto de vista do qual
o consideramos. Cada um deles é igualmente fundamentado e não pode
ser negligenciado. (COSTA, 1989, p. 28)

Voltando-se a Schettino e Gonçalves, uma abordagem multiperspectívica do


cinema é o seu poder comunicacional, de transmissão em massa, seja informativa,
pedagógica, política, ideológica ou de entretenimento. No que tange à industrialização,
cinema foi e cada vez mais é uma fábrica mercadológica, com seus princípios
organizacionais, critérios técnicos e recursos financeiros. Ainda, o cinema visto pelo
espectro da arte é a construção desta própria produção cultural: a partir de fatos e
histórias reais ou ficcionais, um script, e a soma dos recursos cinematográficos,
fotográficos, de linguagem e revisões estéticas, dá-se a obra fílmica. No caso do cinema
como arte, a particularidade está no uso da emoção e da sensibilidade artística como
elemento gerador. Costa consegue ir além, voltando-se para o cinema em seu âmago:

Mas se considerarmos o cinema como um todo, através da interação dos


vários aspectos que acabamos de recordar, saímos do campo das
definições e entramos no da observação. E observaremos então que o
cinema é aquilo que se decide que ele seja numa sociedade, num
determinado período histórico, num certo estágio de seu
desenvolvimento, numa determinada conjuntura político-cultural ou num
determinado grupo social. (COSTA, 1989, p. 29)

Partindo dessa análise, e para atender os fins acadêmicos deste projeto de


pesquisa, o cinema é (também) considerado documento. Muitos autores da Teoria do
Cinema entendem a importância do filme como documento, tal qual escritos antigos de
um papiro egípcio. Paulo Schettino e Jean-Claude Bernadet (apud SILVA, p. 86, 2008)
entendem que o cinema já nasce documental. Embora também concorde com essa
interpretação, Costa (1989, p. 48-53) chama a atenção para o fato de que, em seus
primeiros anos, o cinema debateu-se entre o suposto caráter de reprodução fiel da
realidade e a extraordinária facilidade que o novo meio proporcionava de produzir
simulações perfeitamente aceitáveis. A discussão vai longe.
18

Todavia, falar de dos aspectos documentais do cinema é voltar aos seus


vieses históricos. A atividade fílmica ao longo dos anos ficou envolvida em certos valores
simbólicos. O de maior importância, talvez, seja o cinema como ferramenta de resistência
social. A invenção da fotografia, e em sequência a fotografia em movimento – o filme –
ocorre propriamente no final do século XIX. Na data, uma outra descoberta afetaria em
conjunto com o cinema as comunicações globais, o rádio. Pela primeira vez após a
revelação da imprensa por Gutenberg, o homem concebias novas tecnologias, estas que
influenciariam o que hoje conhecemos como mídias de massa.
Como todo invento, o cinema e o rádio também foram utilizados para
propósitos “obscuros”. A partir dessas tecnologias, a propagação de ideologias políticas
se dá na chegada da Primeira Guerra Mundial e em sua sequência. Um árduo controle
social, em especial, culmina no nazismo alemão e no fascismo italiano. No Brasil, a
regulamentação de todos os aspectos da vida pública e privada, além do emprego da
rádio e do cinema como regime político-ideológico, acontece na Era Vagas. Costa
discorre sobre a dialética cinema e guerra pelo viés documental:

Se examinarmos em qualquer manual de história o gráfico do tempo da


última década do século XIX, quando surgiu o cinema, encontramos uma
lista de guerras de natureza, direta ou indiretamente colonial. [...]
Encontramos também registrados eventos de grande releve político-
social. [...] Junto a estes fatos, são citadas as principais novidades
científico-tecnológicas e culturais. (COSTA, 1989, p. 46)

Com o término da Segunda Guerra Mundial e o enfraquecimento dos sistemas


de governo totalitários na Europa, o mundo ocidental se via diante de ruínas. Do ponto
de vista humanista, a guerra é um fracasso premeditado. Resulta em morte, tristeza e
destruição. Uma mancha de sangue na história. Os países do Eixo – perdedores – eram
os que mais viveram isto. Como uma proveitosa ferramenta de resistência social que é,
o cinema pode ser exercitado em sua função documental. Na época, filmar era uma
espécie de válvula de escape: registrar o horror pós-guerra e impedir que acontecesse
novamente. Não havia necessidade de contextualização, roteirização, criação de texto,
gravação de locução ou utilização de música em plano de fundo. A vontade era de apenas
19

mostrar a dor e sofrimento das mães que perderam seus filhos. Capturar os prédios em
escombros, devastados, que antes abrigavam milhares de famílias. Compilar a cidade
repartida, retalhada, apagada em um gradiente descolorido. Filmar a situação pós-guerra
era expor que a vida persiste. No meio da tristeza, mostrar que existe o dia de amanhã.
O grande documentarista Bill Nichols (2007), em sua conhecida impressão
Introdução ao documentário, explora o modo observativo de se fazer documentário nos
anos iniciais, sem a necessidade de construir padrões formais ou argumentos
persuasivos. Não seria uma convincente forma de documentação se o próprio
documentarista não intervisse em sua matéria-prima com algum tipo de reflexão,
perspectiva ou argumento, nos moldes cinematográficos?

Todas as formas de controle que um cineasta poético ou expositivo


poderia exercer na encenação, no arranjo ou na composição de uma cena
foram sacrificadas à observação espontânea da experiência vivida. O
respeito a esse espírito de observação, tanto na montagem pós-produção
como durante a filmagem, resultou em filmes sem comentários voz-over,
sem música ou efeitos sonoros complementares, sem legendas, sem
reconstituições históricas, sem situações repetidas para a câmera e até
sem entrevistas. (NICHOLS, 2007, p. 146-147)

Foi discorrido até o presente momento alguns aspectos teóricos que envolvem
cinema e documentário ao longo da história. Agora, o interesse desta escrita é registrar
os produtos audiovisuais brasileiros que trabalham de forma integral e relevante a cerca
do objeto em estudo, velhice e homossexualidade.
É válido ressaltar que não foram encontrados muitos exemplos no Brasil de
documentários sobre o referido tema. Por uma análise informal, pode-se dizer que isto
representa todo o processo de exclusão da figura do idoso na sociedade contemporânea.
Fica ainda mais evidente quando adicionado à equação a homossexualidade. É o
chamado duplo-estigma: ser velho e gay não é o anseio social. O desejo comum é se
enquadrar nas ditaduras sociais, de beleza, moda, gosto e comportamento – ser jovem e
belo – e se possível permanecer assim por toda a vida. Independente, validar a causa é
estuda-la, compreende-la. No caso, filma-la, documenta-la. Idosos gays também são
pessoas. Pelo viés das Ciências Sociais, catalogar e discorrer sobre todos os indivíduos,
20

entre seus grupos, clãs, divisões e particularidades é discutir, primariamente, o ser


humano. Em seguida, a sociedade brasileira como um todo, de uma maneira democrática
e nos mais aprofundados seios socioculturais da nação.
Bailão (2009) é um dos documentários encontrados. Certamente, é um dos
mais reconhecidos Brasil afora, sendo exibido em mais de 20 países. Recebeu, inclusive,
diversas premiações em festivais de cinema. O curta-metragem discute de forma
reflexiva e atemporal o duplo-estigma velhice e homossexualidade. Com autoria do
cineasta Marcelo Caetano, o documentário de 16 minutos mostra um grupo de pessoas
idosas que frequentam o bailão gay da terceira idade na maior metrópole brasileira, São
Paulo. A partir de uma série entrecruzada de memórias e relatos de vida, que estruturam
uma espécie de mosaico humano, uma geração da sociedade paulista – e porque não
brasileira – é revisitada por seus personagens. O centro da cidade serve de cenário para
o enredo: a urgência e a sobrevivência da própria vida no meio conflitante e dificultoso,
tanto social, cultural quanto emocional. Bailão é o ponto de convergência dessas
histórias. Segundo a sinopse do documentário, o curta promove “a construção de uma
voz coletiva a partir de suas sinceras ambiguidades. Uma declaração de amor. Um filme
sobre heróis”. Talvez um dos produtos audiovisuais mais interessantes sobre o tema, por
casar diversos elementos cinematográficos – enquadramento, cortes de cena, montagem
– com as histórias de seus personagens. A plasticidade e a estética são bem trabalhadas
durante todo o curso fílmico. A ressalva, porém, é de que em algumas etapas artísticas
do produto audiovisual – como mostrar uma São Paulo recolhida, calada, tímida, ou então
focar em elementos antigos, velhos, decaídos – a história tende a ficar em segundo plano.
O escopo principal é, sem dúvida, mostrar as pessoas e exibir suas opiniões de vida. É
claro que esta foi a visão do diretor sobre o recorte escolhido, e não deixa de ser humano,
muito menos sensível.
Outro documentário é Velhos Sujeitos Outros Transgressivos (2015), de
direção do sociólogo Dário Azevedo, doutor pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
Diferente de Bailão, o filme expõe histórias de diferentes indivíduos paraenses, não
necessariamente mais velhos, mas todos com sexualidade em oposição à
heteronormatividade. Porém, dá mais ênfase à questão da maturidade e da construção
21

da identidade intrapessoal, esmiuçando os diferentes relatos como representação da


sociedade LGBT de Belém. No processo, alterna com o parecer de especialistas de
vários campos do saber, como pesquisadores, educadores e assistentes sociais. O curta
de 21 minutos serve de registro das particularidades, dificuldades e conquistas daquele
recorte na sociedade local. Entretanto, comparado à Bailão, peca no sentido
cinematográfico, da construção da linguagem fílmica como elemento realçador da própria
história. Talvez porque transparece ao espectador o amadorismo técnico – na câmera
tremida, no foco não direcionado, no corte feito um pouco antes da hora, na captação
ruidosa de áudio. Porém, volta-se a dizer, isto não tira o valor cultural e respeitoso deste
documentário. Nas palavras do autor:

[A proposta do roteiro é] evidenciar o comportamento dos sujeitos


homoafetivos que estão atravessando a velhice e que em muitos casos
não podem contar nem com a própria família. A academia não sabe agir
e nem como proceder com esses tipos de assuntos. A prova, é o grande
número de discriminação que envolve a questão da sexualidade.
(AZEVEDO, 2015)
22

5. METODOLOGIA

Para o desenvolvimento do vídeo-documentário faz necessário primeiramente


apurar referenciais bibliográficos sobre o tema proposto. Isto inclui uma busca de
pesquisadores e teóricos que trabalham com o conjunto velhice e sexualidade, seja do
ponto de vista da Comunicação, Ciências Sociais ou Psicologia. É importante que haja
certo cuidado com a parte teórica, pois é notório nas Ciências Humanas e Sociais o uso
de pressupostos, preconceitos, estigmas e estereótipos em diversos estudos
acadêmicos, ou seja, é fundamentado a partir do subjetivo – o ser humano e a sociedade
como um todo – e, por mais que existam profissionais teóricos que combatam, ainda
persiste uma imprudência no que tange escritas que dialogam com os direitos humanos.
Na etapa bibliográfica, notícias e reportagens jornalísticas antigas dos veículos
de comunicação da região de Campo Grande (MS), principalmente em jornais, emissoras
televisivas e websites informativos que contemplem o tema. Isto servirá de apoio para
saber o que já foi divulgado na mídia a respeito, e até mesmo assimilar as fontes e
personagens consultados para ter-se de referencial caso haja necessidade. O período
de limitação temporal da busca é de no mínimo 5 e máximo de 10 anos anteriores a 2015,
levando em consideração o trabalho de conclusão de curso (TCC) do curso de Jornalismo
UFMS, “Em Silêncio: Prazer e Morte – Assassinatos de homossexuais em Campo
Grande” (1994), com autoria de Oscar Rocha, que também teve como recorte a
comunidade LGBT. Deve-se também pesquisar teóricos e cientistas que discursam sobre
a sexualidade – mais precisamente sobre a orientação sexual – para que não se caia em
ignorância, preconceito e desrespeito com as fontes e personagens. Bem como, teóricos
que esclareçam a questão do processo de envelhecimento para, então, haver uma
compreensão de quais são os limites do tema no discurso jornalístico e, principalmente,
cinematográfico. Ainda, incluir a leitura de publicações e artigos que dissertem sobre
técnicas de documentário, pesquisas jornalísticas e de entrevista são essenciais e
fundamentais para o desenvolvimento deste projeto. Por fim, deve-se explorar conteúdos
23

documentais, como também observar exemplos dos mesmos que tenham o tema como
plano de fundo.
Passada a etapa de levantamento bibliográfico, entra-se na fase de coleta e
apuração de personagens. Inicialmente, deve-se atentar à escolha desses indivíduos,
que exercerão uma função primordial para o produto audiovisual. Serão eles os
entrevistados, contadores de história, testemunhas oculares, documentos-humanos.
Proporcionando um documentário de representação social, como classifica Bill Nichols:

Esses filmes representam de forma tangível aspectos de um mundo que


já ocupamos e compartilhamos. Tornam visível e audível, de maneira
distinta, a matéria de que é feita a realidade social, de acordo com a
seleção e organização realizadas pelo cineasta. (NICHOLS, 2007, p. 26)

Partindo dessa concepção, devem ocorrer entrevistas preliminares que julgue


a veracidade, sensibilidade, valor documental para o detrimento de personagens. A
opção pelos especialistas, sejam de caráter acadêmico, profissional ou religioso, engloba
a acareação de no mínimo seis entrevistados desta categoria. Dois entrevistados serão
da área da saúde, podendo ser profissionais da psicologia, sexologia ou psiquiatria, que
contribuirão no entendimento da orientação sexual como ciência. Outras duas fontes
cabem à área das ciências sociais, como teóricos ou consultores que se destacam no
campo do gênero humano e sexualidade – academia ou mercado –, e que possam
fundamentar o assunto pelo ponto de vista da antropologia e dos estudos sociais. Por
fim, mais dois entrevistados especialistas deverão ser necessariamente de cunho
religioso, para que o debate seja contrastado com o entendimento da religião versus
ciência, concordando ou discordando. Esta metodologia de escolha está associada aos
dois principais critérios jornalísticos de entrevista: relevância e contraste.
Já os personagens, fontes essenciais para a construção narrativa e
exemplificativa de qualquer vídeo-documentário, devem possuir idade igual ou superior
aos 60 anos. Além disso, buscaremos que os personagens carreguem determinado tipo
de assunto, dentre eles: descoberta (de sua sexualidade); simpatia (com a comunidade
LGBT); adoção (de bebês, crianças ou jovens por pais gays); casamento (posteriores ou
atuais) e outros (personagens que sofreram violência, possuem discrição sobre sua
24

sexualidade, etc.). Essas delimitações servem para encaixar cada tipo de personagens à
sua respectiva categoria, sem que haja uma mistura entre personagens e evitando
também que um único personagem tenha todas as suas histórias contadas. Lembrando
que a escolha dos personagens envolve percepção de serventia – falas mais
desenvolvidas, histórias mais interessantes –, aval do orientador e interesse dos
envolvidos em contribuir para o desenvolvimento do projeto. As supostas fontes e
personagens serão elencadas, escolhidas e organizadas de acordo com o pré-roteiro de
gravação do vídeo-documentário em questão.
Tudo isto será estabelecido concomitante à fase da pesquisa de campo, que
no caso, envolve entrar em contato, conhecer, observar e registrar a comunidade LGBT
de Campo Grande (MS), seja na rotina diurna – de trabalho, estudo, em família – ou
noturna – bares, boates, pontos de encontro, entre amigos. Posteriomente, gravação das
entrevistas e montagem do documentário com a utilização de um software pago, pois
manterá a qualidade e a segurança profissional do projeto.
25

6. CRONOGRAMA

A fim de planejar o desenvolvimento do vídeo-documentário, a tabela abaixo


relaciona as etapas do projeto de pesquisa com os meses de sua produção. O
cronograma, então, serve como um guia de acompanhamento para que haja
continuidade no decorrer do ano, sem que atrasos ocorram e prejudiquem a construção
deste projeto de pesquisa, que por sua vez podem comprometer a finalização de seu
produto final.

MÊS/ETAPAS Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar

Escolha do
X
tema
Escolha do
X
orientador(a)
Levantamento
X X X X X
bibliográfico
Elaboração do
X X X X X
anteprojeto
Apresentação
X X
do projeto
Coleta de
personagens e X X X
entrevistas
Gravação e
produção X X X
audiovisual
Decupagem e
X X
roteirização
Montagem e
edição X X
audiovisual
Revisão final
X
do produto
Entrega do TCC
X
e do relatório
Defesa do TCC
X
e entrega final
26

7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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uma bibliografia anotada. In: Cadernos AEL, v. 10, n. 18/19, p. 317-348. Campinas:
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AZEVEDO, D.. Homoafetividade na terceira idade: depoimento. [15 de junho, 2015].


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16 min., color. São Paulo: 2009. Disponível em: <https://vimeo.com/46066663>. Acesso
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diz-que-sempre-teve-vontade-de-se-vestir-de-mulher.shtml>. Acesso em: 30 out. 2015.

COUTINHO, L.. Gostaria de não ter renegado minha homossexualidade por 40 anos:
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MACIULEVICIUS, Paula. Estudante é estrangulado e principal suspeita é de crime


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