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RUMO
,
APINDAIBA
Se não ap1·ovarlogo
uma reforma
da Pr evidência ,
o Brasil terá somente
trocados para
investir nas áreas
em que tanto precisa
N ão se iluda, caro leitor: a maior operação de combate à
corrupção da história do Brasil está agonizando. Ou
melhor: está sendo sufocada. Pode parecer exagero retórico.
nos mesmos moldes de centenas de outras. Há outras dela-
ções que aguardam sigilosamente homologação no Supremo .
Há, ainda, propostas de delação que aguardam aval da nova
Afinal, quantas vezes procuradores, juízes e delegados não procuradora-geral da Repúb lica, Raquel Dodge. Sabe-se que,
alertaram sobre os avanços contra a Lava Jato? Ataques que na maioria dos casos, quanto mais se demora para fechar
vinham do Judiciário, do Legislativo e do Exect1tivo, quase um acordo, menor a chance de sucesso na investigação que
sempre executados com a competência sutil e certeira da se segue a ele. Aliada à suspensão da delação de Joesley
velha política. Às vezes histriônicos e hiperbólicos, coloridos Batista, caso para o qual aind .a não se vislumbra um fim no
com tintas apocalípticas, esses alertas foram largamente Supremo, resta estabelecida a insegurança jurídica sobre o
ign orados pela opinião públ ica - que, de resto, não tinha uso do instituto. Muitos criminalistas não recomendam
muito o que fazer, além de expressar indignação nas redes mais a seus clientes que busquem uma colaboração .
sociais e esperar as eleições de 2018. Ademais, as manifestações Em 2017, abu .ndaram no Supremo decisões que, embo-
públicas dos responsáveis pela Lava Jato raramente contem- ra defensáveis em princípio, na prática limitaram as inves-
plaram o reconhecimento de erros na condução da opera- tigações da Lava Jato, diminuindo as chances de sucesso
ção, especialmente em Brasília, onde errar não é uma opção. nos novos casos e aumentando as chances de impunidade
O marchar aparentemente irrefreável da Lava Jato no Rio de nos antigos. Ministros passaram a revogar com frequência
Janeiro contribuiu para dissipar a força dos apelos dos inves- prisões preventivas, outro instrumento fundamental das
tigadores por apoio da população. Por fim, é controverso se investigações - previsto em nossas leis e, até outro dia, con-
juízes e procuradores podem - ou devem - meter-se no de- servado pelo próprio Supremo. Longos pedidos de vista
bate público das investigações em que estão envolvidos. em casos já em estágio avançado tornaram -se comuns. Eis
Apesar dessas ressalvas, os fatos estão do lado daqueles o resultado: até agora, após anos de operação, o Supremo
que defendem a Lava Jato e por ela temem. Uma sucessão não condenou nem absolveu ninguém na Lava Jato.
de acontecimentos indica o progressivo sufocamento da Nas últimas semanas, os ministros deram ao Congresso
Lava Jato - da Lava Jato entendida em seu sentido mais o poder de revogar medidas cautelares do mesmo Supremo
amplo, como conjunto de esforços de procuradores e dele- contra parlamentares. E, com um pedido de vista do minis-
gados para o combate efetivo dos criminosos de colarinho tro Dias Toffoli, o tribunal deixou de restringir a proteção d.o
branco. As delações premiadas são o oxigênio da Lava Jato. foro privilegiado aos crimes cometidos durante o mandato.
Sem elas, a operação não respira. Desde que as delações d.a Se 2017 já parecia suficientemente difícil, espera-se o pior
Odebrecht e da JBS feriram gravemente os mais importan - para 2018: a mudança (mais uma) de um entendimento que
tes políticos e partidos do país, a retaliação dos que se viram diminuía a impunidade e que fora instituído pela própria
entre o cargo e a cadeia foi viscera l. Com essas delações, a Corte. Há uma articulação forte para que os ministros revo-
Lava Jato atingia, em 2017, o topo do poder político, expon - guem a chamada execução provisória da pena a partir da
do aos brasileiros dezenas de organizações criminosas, in - segunda instância, pela qua l condenados em segundo grau
terligadas umas às outras pelo interesse comum de manter podem começa r a pagar po r seus crimes - o que inclui tem-
o contro le dos principais espaços dos Três Poderes - espaços po de prisão. A prosseguir, portanto, nessa sucessão de deci-
que rendem dinheiro e prestígio. Era para ser o triunfo da sões que retiram os poderosos do alcance das leis penais,
Lava Jato. Tornou-se sua ruína. Sua lenta ruína. como se dava no país até o julgamento do mensalão e a Lava
Desde então, os fatos sucederam-se em benefício dos Jato, o Supremo sufocará não somente uma operação .
investigados. Graças aos erros cometidos na condução da Sufocará, em larga medida, o sentido de justiça do Brasil.
delação da JBS, o Supremo pôs-se a discutir em que circuns-
tâncias as delações podem valer ou 11ão,mesmo que os de-
latores cumpram sua parte. A decisão final, embora aparen-
temente favorável ao instituto, ainda não foi formalizada
pelo tribunal. Quando isso acontecer, poderá haver surpresas.
Recentemente, o ministro Ricardo Lewandowski se recusou Diego Escosteguy
a homologar a delação do marqueteiro Renato Pereira, feita Editor-Chefe
Sérgio Garcia
afirmam que Supremo restaure a prisão de Barata Filho. Fez u.m duro ata-
que a Gilmar Mendes. Segundo ela, o argumento do ministro
"não parece encontrar sustentação na ordem jurídica vigen-
Barata Filho te': Afirma ainda que Barata descumpriu as medidas caute-
lares que lhe foram impostas em agosto . "Esse cenário per-
distribuiu R mite concluir que o empresário não se desligou de suas
funções na administração das empresas de transportes cole-
tivos e continua exercendo tais atividades, em absoluto des-
27milhões cumprimento da medida cautelar imposta pelo Supremo
Tribunal Federal", diz Dodge. Outro argumento é que a de-
•
emprop1naa cisão sobre soltar ou não Barata cabia não ao ministro Gilmar
Mendes, mas ao ministro Dias Toffoli, qt1ejá tinha atuado em
políticos no Rio casos da Operação Cadeia Velha. O Supremo aind .a vai exa-
minar o caso. A despeito das provas, ainda não se achou no
Brasil alguém capaz de manter Jacob Barata Filho preso. +
~'.rincan'--"-o
•
______
'--ea.,_.,
art
Para depois
O ex-presidente da Transpetro
Sérgio Machado enviou uma
resposta curta ao Supremo
Tribunal Federal (STF), que o
notificou para se manifestar
sobre a denúncia do Ministério
Público Federal contra senadores
do PMDB por associação
criminosa. Machado diz que
reafumará todas as acusações
que fez contra os ex-aliados.
Mas só quando chegar a hora de
prestar depoimento no tribunal.
,,
Oleobruto
A Petrobras, assistente de
acusação da Procuradoria-Geral
da República , encamin hou ao
STF documento em que afirma
esperar as condenações da
carteira de trahaJ.ho presidente do PT, senadora Gleisi
Hoffmann, e de seu marido, o
Pedra no sapato ex-ministro do Planejamento
Paulo Bernardo, e quer que o
30 1 ÉPOCA 111 de dezembro d e 2017 Fotos: Mateus Bonom i / AG IF/AFP, Agênc ia Câmara,
Filipe Redondo/ Editora Globo, Fát ima Meira/Futura Press
Com Marcelo Rocha e Nonato Viegas
e reportagem de Samantha Lima e Nelson Niero Neto
Fim do amor
O ex-prefeito do Rio de Janeiro
Imortal Eduardo Paes está decidido a deixar
O deputado federal o PMDB após dez anos e rumar para
Tiririca (PR-SP), que o PDT. Só que antes quer informar
anunciou sua saída pessoalmente o ex-governador
da política a partir de Sérgio Cabra l e o ex-presidente da
2019, diz ter planos Assembleia Jorge Picciani sobre sua
para publicar um decisão. Paes só não quer visitá-
livro em que narrará los na cadeia para dar a notícia.
histórias de sua
passagem de oito anos
pela Câmara. Em Público
201O, Tiririca pediu As dívidas da Oi com o governo
votos aos eleitores federal alcançam R$ 21 bilhões. É
afirmando que queria quase um terço do valor total da
saber o que fazia dívida da empresa, que está em
um deputado. Agora recuperação judicial. Entram nessa
Tiririca diz que sabe. conta empréstimos tomados no Banco
do Brasil, no BNDES e na Caixa.
~
~ Leia a coluna EXPRESSOem epuca.mm.br
11de de zembr o d e 2017 1 ÉPOCA 13 1
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POLÍTICA
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ECONOMIA
Luís Lima ,
governo brasileiro en-
cerra 2017 torrando
~----- DIVIDA ~
dinheiro como se fosse
o fim dos tempos. Gas-
ta como 11mnovo-rico
CRESCENTE
sem noção, destinado A DÍVIDA DO GOVERNO
a cair na pobreza. Essa
trajetória resulta de CRESCE RÁPIDO, POR
muitos fatores e dec i-
sões ruins acumu la.das FATORESDIVERSOS,
ao longo de vários go-
vernos, mas uma dis- COMO JUROS ALTOS -
A
GASTO -_.
DESCONTROLADO
A PREVIDÊNCIA RESPONDE
POR MAIS DA METADEDA
DESPESADO GOVERNO-
.. 1 1 1 1 1 1 1 1
E O PERFIL DA POPULAÇAO 2018 21 24 2027
350
300
blico, sacrificará out ras áreas (a Pre- game nto de terceiri zados em in stitu i-
250 vidên cia b rasileir a é m u ito m ais ções de ensino superior e pa rcelam ento
custosa, em relação ao orçam ento de salári os de fun cion ári os púb licos. E
púb lico e ao PIB, qu e a de países com esse não será o úni co tipo de efeito a se
200
perfil demog ráfico semelhante). abate r sobre nós .
Os p rin cipais cortes deverão atin - Por causa do gasto p(1blico em d is-
150 gir investimentos, como em infr aes- pa rada, a cada m ês bate-se u m novo
112 tru t ur a, e áreas com ma is verba, reco rde de dívida p ú blica bra sile ir a.
100 com o saúde e educação . Quem de- Não há, no mo m ent o, nem expectat iva
pen de m ais de serviços pú blicos so- de colocá-l a sob con trole. To rn a-se
50
frerá m ais. "Voltará ao debate o fan - m ais fácil pe rcebe r o pe rigo n essa gas-
tas m a do shutdow n (paralisação)da ta nça se nos compa r arm os com algu -
m áquin a p úbl ica", diz Ma rconi. O m as out ras n ações que vêm ad mini s-
4
país pode sofrer o que já enfr entam trand o me lhor os n ú m eros .
2018 21 24 2027 estados supe rendividados, com o Rio Nossa dívida púb lica saltou de 63%
de Jan eiro e Rio Grande do Sul: co- do Pr od ut o Int ern o Bru to (PI B) em
Fontes: ltaú Unibanco e Paulo Tafner ,
econom ista espec ialista em Previdênci a lapso da segur an ça púb lica, não pa- m aio do an o passado, quan do o .,,.
,
DIVIDA
, EM BIFURCAÇÃO À FRENTE
O cenário econômico sem reformajá
se mostra bem pior a partir de 2018
NIVEL PERIGOSO Em %
COMREFORMA
ALÉM DE CRESCERRÁPIDO, A DÍVIDA 2018 2020
É ALTA E CHEGARÁA UM NÍVEL
, , DÍVIDA <0 -
BRUTA EI
DIFICIL DE ENCONTRARENTRE PAISES JUROBÁSICO 1111 1111
SUBDESENVOLVIDOSCOMOO BRASIL. O PAÍS
INFLAÇÃO Ili l!I
DESEMPREGO Ili Ili
SE COLOCARÁNUMA SITUAÇÃO VULNERÁVEL (1) Em% d o PIB
CALOTEIRO
TOTAL 2,1 m
Fonte: ltaú Unibanco
jeta que, sem a reforma , em trê s anos os
juro s vão a 9,25% e a inflação a 4,5%-.,.
DE CAIR
..
cessário para o ajuste fiscal necessário,
levando-se em conta o teto de gastos.
Mostram-se muito relevantes outras
A PERCEPÇAODE 8 medidas, como manter o salário míni-
FIMDOABONOSAURW.
mo real constante (ou seja, sem ganho
RISCO ALTO DE acima da inflação, ao menos por en-
quanto) e não dar reajustes aos funcio-
CALOTEELEVA nários públicos. A situação é grave .
8 "Todos podemos ser afetados, com o
JUROS
,
. GASTO tdoRENOVAçjoDOSSUasbosDOPSIEFB risco de não pagamento de retornos
PUBLICO ELEVADO 5
financeiros e benefícios no futuro", diz
Tafner. É essencia l que o tema não esfrie
REFORMA DOSEGURO-DESEMPREGO
ALIMENTA A -e que, em 2018, candidatos que quei-
.. ram ser levados a sério expliqu em como
INFLAÇAO (1) Funcionár ios ativos. Prevê repos ição salarial
de 50% a partir de 2020 ajustarão as contas públicas. +
46 1 ÉPOCA 111d e d ezembr o d e 2 0 17
POLÍTICA
Guilherme Evelin
a sexta-feira,dia 1º de dezembro,
Michael T. Flynn, o general re-
formado do Exércitoamericano
que foi conselheiro de Segurança Nacio-
nal do governo Donald Trump por bre-
ves 25 dias entre janeiro e fevereirodeste
ano, compareceu a um tribunal federal
em Washington, a capital americana.
Ao entrar no tribunal, Flynn enverga-
va um elegante terno cinza e estava de
mãos dadas com a mulher. Ao final da
audiênciade 45 minutos, Flynn confessou
ter mentido ao FBI sobre contatos com
SergeyKislyak,o embaixadorda Rússiaem
Washington - um crime que, pela legis-
lação americana, pode custar uma pena
de até cinco anos de prisão. Na história
recente dos Estados Unidos, nenhum
outro presidente americano, com menos
de um ano de mandato, teve um assessor
tão próximo na Casa Branca e tão gra-
duado a se envolver num escândalo. O
maior embaraço que Flynn representa
para Tr11mp,porém, não está relacionado
ao que ele já confessou,mas ao que pode
revelar.Em troca da redução de sua pena,
Flynn firmou um acordo de colaboração
com a investigaçãoconduzida por Robert
Swan Mueller III, o procurador especial
que está esquadrinhando as suspeitas de
um conluio entre a campanha de Trump
e o governo da Rússia para interferir no
resultado da eleição americana de 2016.
Uma das mentiras confessadas por
Flynn ao FBI diz respeito a uma conversa Em Jerusalém, o presidente dos EUA arrisca o
com Kislyakem que ele,como integrante
da equipe de transição de Trump, pediu o
apoio da Rússia,no Conselhode Seguran- dos Estados Unidos, numa mudança de Netanyahu. Reconheceu oficialmente
ça das Nações Unidas, para barrar uma posição histórica do governo americano Jerusalém como a capital de Israel e en-
resolução de condenação à construção em relação aos aliados israelenses.A ges- cerrou uma política de 70 anos seguida
de assentamentos por Israel em territó- tão de Flynn junto aos russos,que atendia pelos Estados Unidos. Desde a aprovação
rio palestino.A medida era apoiada pelo a uma demanda do primeiro- ministro da criação do Estado de Israel pela ONU,
governo de BarackObama, que estavano israelenseBenjaminNetanyahu a Trump, em 1947, os americanos vinham se recu-
seu final. Em 23 de dezembro de 2016, o fracassou.Na quarta-feira, dia 6, Trump sando a reconhecer Jerusalém como sua
Conselho de Segurançaaprovou a resolu- tomou uma decisão simbólica,mas mais capital - uma política seguida por prati-
ção - com o apoio da Rússiae a abstenção eficaz para atender aos interesses de camente todos os países do mundo.
UM LITÍGIO HISTÓRICO
Sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos, Jerusalém está no centro do conflito entre israelenses e palestinos
1 9 4 7 19 4 8 19 6 7 2000
A ONU propõe partilha Israel entra em guerra com Após nova vitória militar sobre os Após uma visita do líder israelense
do território da Palestina os países árabes e integra a árabes, os israelenses conquistam Ariel Sharon à Esplanada das
entre árabes e judeus, com parte oriental de Jerusalém Jerusalém Oriental da Jordânia e Mesquitas , na Cidade Velha,
a criação de dois Estados . a seu território. A parte ganham acesso à Cidade Velha vista como provocação pelos
Jerusalém permaneceria sob ocidental, inclusive a Cidade Jerusalém vira símbolo de um palestinos , estoura a segunda
controle internacional. Na foto, Velha , é ocupada pela nacionalismo religioso para os intifada , que dura cinco anos .
patrulha da polícia no bairro Jordânia. Na foto, destroços judeus. Na foto , um muro entre os Na foto, palestinos jogam
comercial de Jerusalém de prédios em bairro judeu lados leste e oeste de Jerusalém calçados na polícia israelense
telefônicas com líderes religiosos evan- Abbas, qualificou a decisão de "deplorá- israelensesnos mesmos moldes das que
gélicos e judeus para explicar a medida. vel" e fez questão de frisar que "Jerusa- ocorreram entre 1987 e 1993 e entre 2000
Uma das conferências foi encerrada com lém é a etern a capital da Palestina': ls- e 2005, inclusive com atentados suicidas.
oraçõesde um pastor e de um rabino com mail Radouane, líder do grupo Hamas, A conclamação de Radouane foi respon-
agradecimentos a Deus e a Trump. que co11trola a Faixa de Gaza e se opõe dida na quinta-feira, dia 7, com protestos
Se agradou a sua base de eleitores pró- radicalmente a Israel, disse que Trump na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, que
Israel, o anúncio de Trump frustrou e "abriu as portas do inferno para os inte- deixaram, pelo menos, 100 feridos.
enraiveceu os palestinos. Voz moderada resses americanos na região': O Hamas O espectro de uma espiral de violên-
em relação aos israelenses, o presiden- convocou os palestinos para uma nova cia é alimentado pelo aspecto sagrado
te da Autoridade Palestina, Mahmoud intifada, uma revolta com ataques aos devotado a Jerusalém por 1,6 milhão..,.
LONGO
ALCANCE
de muçulmanos em todo o mundo Trumpno presidente americano reiterou também
- inferior em termos de importância anúncio de seu empenho em relançar um processo
Jerusalém
religiosa para os seguidores do islamis- de paz entre os dois lados, que está sendo
como capital
mo apenas a Meca e Medina, na Arábia de Israel. O fim desenhado por seu genro,Jared Kushner.
Saudita. "É previsível que o reconhe- de uma política É difícilacreditar,porém, que os Estados
cimento unilateral de Jerusalém como de70anos Unidos consigam conservar a posição de
capital de Israel provoque ataques con- mediador do conflito depois que tomou
tra os Estados Unidos da parte de mu- partido tão claramente em favor de um
çulmanos enraivecidos': diz Juan Cole, dos lados. "Uma das consequências do
professor da Universidade de Michigan, Estados Unidos sob o comando de um anúncio de Trump é o fim do papel dos
nos Estados Unidos, especializado em presidente firmemente anti-Irã, como Estados Unidos como único país com
história e religião do Oriente Médio. Trump."O conflito entre israelensese pa- credenciaispara mediar o conflito entre
"Uma das motivações para os ataques lestinos deixou o palco central do Oriente isra.elenses e palestinos': diz Gelvin."Re-
de Osama bin Laden e da al-Qaeda aos Médio.A rivalidade entre Arábia Saudita presenta também um ataque mortal ao
Estados Unidos foi a ocupação por Israel e Irã é agora o conflito central - e poucos Acordo de Oslo, único caminho para a
de partes muçulmanas de Jerusalém. Estados árabes que se alinham aos sau- solução dos dois Estados, à Autoridade
Pelo menos para boa parte dos gover- ditas vão se arriscar a enfraquecer suas Palestina,cuja única razão de ser é a nego-
nos árabes,a questão da Palestinadeixou, posições, alienando os Estados Unidos e ciaçãodessasolução,e aos israelensesmo-
porém, de ser tão incendiária, como era Israel': diz James L. Gelvin, professor de derados. Também representa uma vitória
no passado. Os líderes de países sunitas história moderna do Oriente Médio na clara da direita israelense:'Ao reconhecer
importantes, como Arábia Saudita, Egito Universidadeda Califórnia e autor do li- Jerusalém como capital de Israel,Trump
e Emirados Árabes Unidos, estão mais vro IsraelX Palestina- 100anosde guerra. mirou em seu público interno, mas pode
preocupadoscom a própria sobrevivência Em seu anúncio, Trump disse que os ter acertado um tiro fatalno sonho de um
e em bloquear o aumento da influência Estados Unidos continuam a defender a Estado nacional próprio dos palestinos,
do Irã xiita na região do que com o des- solução de dois Estados e não afastou a cada vez mais distante. +
tino dos palestinos. Em seu próprio in- possibilidade de uma Jerusalém dividi-
teresse,preferem se alinhar a Israel e aos da como capital por Israel e Palestina.O Com Flávia Yuri Oshima
A a t ribulada
viagem de o s
Carlos Eduardo
Pereira rumo
a seu po t en t e
romance de
es t reia, que
fala de suas
CAMINHOS
• A •
exper1enc1as
•
pessoais
e discu t e
problemas
D E U M urgen t es sem
sacrificar a
. .
1mag1naçao
-
ESCRITOR
CULTURA
ÔNIBUS
representação simbólica da emanc ipa- debates urgentes sem sacrificá-los em avô Otávio, ma s cresceu ouvindo suas
ção da classe trabalhadora. A exigência nome da correção política. O roman - histórias. Otávio era ferroviário e agi-
que um autor se limite a escrever sobre ce discute deficiência física, racismo e tador cultural . Numa zona boêmia de
experiências que ele conhece ignora que homofobia e não subjuga a literatura Nova Friburgo, ele fundou o Grito da
a matéria-prima da literatura é a imagi- a esses debates. A potência narrativa Mocidade, uma mistura de bar e club e
nação, que nos permite habitar mundos transforma as experiências de um per- social onde aconteciam bailes e apresen-
e corpos diferentes dos nossos. sona gem singu lar em dilemas univer- tações teatrais que ele próprio idealizava.
Pereira subverte essa discussão ao es- sais - o peso do passado, as escaramuças Branco era proibido de botar o pé ali.
crever sobre experiências que são suas - com o pai, o preço da lib erdade. "Não conheci meu avô. Para mim, ele
os desafios de um homem negro, de um Pereira já pensa no segundo livro. Ele é uma foto na sala da minha avó, que
cadeirante- e experiências que não são pretende resgatar a história de seu avô e tem 95 anos. Eu vou buscar as versões
suas - a homossexualidade. Um livro discutir o racismo no interior de uma da minha família para a história dele,
com um protagonista cade irant e, negro família negra. Pereira não conheceu seu o que eu ouvi da minha avó, dos meus
e gay pode suscitar leituras primos. Eu tenho a minha
demasiado políticas, capa- versão, de garoto. Mas talvez
zes de cobrir a literatura A capa de Enquanto os - pesquise
eu nao . tanto assim. ",
com as tintas de um ma- dentes (Editora Todavia). diz Pereira, num discurso que
nifesto. Enquanto os dentes Uma narrativa pujante que mostra como ele é capaz de
dribla leituras enviesadas combinar a experiência com
deixa o leitor num lugar
ao se equilibrar numa po- uma defesa da ficção e da
sição virtuosa: incorpora de permanente angústia liberdade de inventar. +
62 1 ÉPOCA 1 11de dezembro de 20 17 Foto : Andre Arruda/ ÉPOCA
PUB LIE DIT O RIA L
., .,
s1n __ro erusa e
e a cura ......,ara
o anatis
erusalém é a única cidade que originou um transtor- O principal obstáculo à paz, diz Oz, é o fanatismo, uma
no psiquiátrico, a síndrome de Jerusalém. Visitantes versão expandida e mortal da síndrome de Jerusalém. Não
são tomados por um instinto pregador, abandonam casa é, constata no primeiro ensaio, um problema restrito à re-
e família, perambulam por lá à cata de fiéis. Um toca lira gião. São fanáticos terroristas da al-Q aeda e do Estado Islâ-
entoando os salmos do rei Davi, outro anuncia as trombe- mico, do Ham as e do Hezbollah, neonazistas e antissemitas,
tas do Apoca lip se, um terceiro se julga o messias redentor. racistas e islamófobos, a Ku Klux Klan e os grupo s judaicos
Os casos em geral são inof ensivos, até cômicos. Por vezes, que aterrorizam palestinos - "todos os que derramam san-
o fascínio religioso que emana das pedras esbranquiçadas gue alheio em nome de suas crenças". Também, em menor
traz consequências mais graves. "As pessoas respiram o ar grau, antitabagistas, vegetarianos, ambientalistas, feminis-
da montanha 'límpi do como o vinho', se levantam e vão tas, antiglobalistas e mesmo seus colegas pacifistas. "Não
atear fogo numa mesquita, explodir uma igreja ou profanar é o volum e de sua voz que o definirá como um fanático,
uma sinagoga, 'varrer o mal do mundo"', escreve o israe- mas principalmente sua tolerância ou a falta dela com vozes
lense Amós Oz em "Caro fanático", o primeiro discordantes", diz. "Todos os fanáticos vivem num
dos três ensaios da coletânea Mais de uma luz. mundo em preto e branco. Num faroeste simplista
Além de um dos maiores romancistas vivos, de mocinhos contra bandidos. O fanático é um
Oz é conhecido ( e atacado em sua terra) pe la homem que só sabe contar até 1. Prefere 'sentir'
militância em prol do Estado palestino. "A briga -·- lll1 a pensar." Fanáticos religiosos e id eológicos são
entre nós e os palestinos não cabe num filme de violentos não só por abominar "o Ocidente, mu-
faroeste de Hollywood com mocinhos e ban- çulm anos, esquerdistas, sionistas, LGBTs" ou seja
didos. É a tragédia da justiça contra a justiça", lá quem for. "São sanguinários sobretudo porque
diz. "Com frequência, infelizmente, injustiça querem salvar o mundo, levar todos nós para o
contra injustiça." Ele compara o conflito a uma cam inho do bem." Nunca entr am em debate. Se
LIVRO DA SEMANA
ferida cheia de pus: "Não faz sentido brandir algo é ruim , o dever é elimin ar.
novamente um pedaço de pau e bater numa fe- Mais de uma luz Oz conta que, quando crian ça, também era um
AmósOz
rida que sangra para que se assuste, deixe de ser "peque110 fanático sionista-nacionalista, dono da
uma ferida e enfim pare de sangrar". Nada disso Companhia das Letras verdade, entusiasta e doutrinado", surdo a qualquer
2017
foi escrito tendo em mente a transferência da 136 pág inas
argumento que desafiasse a narrativa do nascente
embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém, R$35 Estado de Israel. Conc lui q11eo fanático é, antes de
anunciad .a na semana passada pelo presidente tudo, alguém que não saiu desse estado infantil.
Donald Trump. Mas poderia ter sido. "Querem com todas as forças que voltemos todos
Por mais que fronteiras, soberania e símbo los co1no em- a ser crianças pequenas e mimadas, suscetíveis à sedução",
baixadas sejam relevantes, não é a diplomacia que preocupa diz. "Nas eleições, círcu los cada vez mais amp los votam em
Oz. "Religiosos e seculares, esquerda e direita, chafurdam quem os emociona ou diverte, em quem dá uma banana
na questão de por onde passarão as fronteiras e qual ban - para as regras convencion ais." O apelo à emoção gera um
deira tremulará sobre os lugares sagrados", diz ele. Mas os ódio cego entre inimigos estridentes, cujas atitudes são
lugares continuarão sagrados "com ou sem bandeira". "O id ênticas. A receita de Oz contra o fanatismo envo lve três
que haverá dentro das fronteiras é mais importante que seu in gredientes: criatividade, ima ginação e humor. "O humor
traçado." Oz defende a democracia contra o fundamenta- permite enxergar, por um instante, coisas já conhecidas sob
lismo religioso - e a divisão do território em dois estados, uma luz nova. Ou ver a si mesmo como os outros o veem."
como nas malogradas tentativas de paz. "Não há outra saída É preciso perceber que certos confrontos n ão podem ser
senão dividir esta casa pequenina em duas ainda menores." definidos em preto e branco e que "a discórdia não é uma
Tal meta tem desafiado sucessivos negociadores. Governos tragédia". "Com uma condição determinante: que o deba-
israelenses parecem preferir gerenciar um "conflito inso- te ocorra sem violência. Controvérsia sem perseguições."
lúvel". Em vão. "Vencer as guerras, não podemos, simp les- Conse lho que se ap lica não só ao Oriente Médio. +
mente porque não temos objetivos nacionais consensuais
atingíveis pe la força militar. Para mim , gerenciar o conflito Hello Gurovitz é j orna lista hgurovitz@edglobo.com.br (e-ma il)
só levará a agruras e mais agruras, derrotas e mais derrotas." @gurovitz (Twitte r) http://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/ (web)
N
- e a indústria reage.
Um
essa relaçã0
SAÚDE
distribuía para a fam ília. Mas a relação se encontr a sob forte escru -
tínio, p rin cipa lm ent e de grupos acadê mi cos. ''A inte ração dos m é- PARA
dicos com a indú stria ger a conflit o de int eresse", diz Mário Scheffer, Iniciativas, no Brasil e no mundo,
professor da Facu ldad e de Medicina da Universidade de São Paulo.
"O objetivo principal, que é o m elhor tratamento para o paciente, é
COM OU SEM EFEITO
alterado por um secu nd ário , d.a indú str ia: ganh ar dinheiro." Vários países tentam
A lei do Distrito Federal não é uma inici at iva isolad a (leia no qua- restringir o contato entre
dro ao lado). No Brasil, pelo m eno s outras três médicos e propagandist.as. Os
cidades tentaram impl ant ar medidas seme lh an- resultados são incertos
Códigos de
tes - não sem polêmica e resistência. Em Goiânia,
O contato entre médidos e
conduta médica em 2014, a ent ão vereado ra Cida Ga rcêz (SDD)
representantes farmacêuticos foi
colocou em pauta um Proj eto de Lei que deter- restringido numa clínica em Brisbane,
e da indústria
minava que os represent ant es de empr esas far- na Austrália . Houve mudança (em %)
ditam regras ma cêuti cas deveriam marcar um hor ário para
A prescrição de medicamentos
falar com o médico antes ou depois das con sultas.
para garantir a por paciente caiu de
O projeto não foi aprovado. "Na época, o sindi -
independência cato dos propagandistas de Goiás procurou os 0,5 l
dos médicos.
vereado res e o projeto foi barrado", afirma Cida.
Em Campin as, São Paulo, uma portaria da Se-
. •--------
~
Mas ainda creta ria Municipal de Saúde pro íbe desde 2016,
A prescrição de genéricos, mais
salvo "com a expressa autori zação" do secretário,
há brechas baratos que os de marca, subiu de
a visita de representantes em todas as unidades da
r ede municipal. H á tentativas de revert ê-la. Um ~
Proj eto de Lei de 2015, pa ra garantir o acesso dos propagandistas,
foi aprovado em uma primeira votação - agora, aguard a a segun da.
----•---- •-- 4 8
Não h á previsão de quando isso deve ocorrer. Em Ribeirão Preto,
São Pau lo, até dezembro do ano passado, vigorou um decreto que
proibiu a presença de representant es de laborat ório s farmacêuticos e Na Polônia, uma lei proibiu os
simil ares nas unidades de saúde do município. Um projeto de decreto representantes de procurar os
legislativo do vereador Luciano Mega (PDT) revogou o trecho sobre os médicos no horário de atendimento.
propagandistas. Mega, m édico pediatra, diz que a moti vação sur giu Muitos a desrespeitam
a partir de conversas com os repr esenta nt es que visitavam seu con -
sult ório. ''Achei a proibição muito injusta. Trabalhei para revogá-la."
Em setem bro , um a limin ar obtida pelo prefeito derrubou o decreto a dos médicos
continuaram
favor da presença de representantes. Em not a, a Associação da Indú s- se encontrando
tria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma ) afirma que a proibi ção o/o cornos
das visitas pode prejudicar o atendimento a pacientes: "Esse contato propagandistas
é r ealizado única e exclusiva ment e com o objet ivo de promover a
atualização científica do profissional de saúde".
A relação entr e médicos e indú stria já foi mais íntima no passado
- com direito a excessos que, hoj e, códigos de ética de entid ades m é-
dicas e de conduta da indú stria tentam regular, com vari ados grau s
de sucesso (leia o quadro na página 76). O Cód igo de Ética Médica ,
do Conselho Federal de Medicina (CFM), assim como resoluções dos
conselho s regionai s, traz recome nd ações gerais de ind ependê ncia. A
própria indú str ia também tem seus cód igos de conduta. ''Antes era
m ais 'fác il'. Agora, é preciso segu ir o que é determinado e ficou mai s
seguro até para os propagandistas", afirma Rober to Medina, diretor de continuaram
negociações coletivas da Federação Interestadua l dos Propa gand istas. a fazer isso
No passado, um represent ante podia oferecer a um m éd ico uma via- mesmo durante
gem para participar de um congresso, acompanhado de sua famíli a. o horário de
atendimento
Hoj e, há norma s que vetam esse tipo de oferta. Ainda vale convidar
o m édico, m as os acompanhantes não. Está liberado pagar refeições,
desde que ju stificadas com a apresent ação de informa ções sobre pro-
dutos. A distribui ção de brindes como ca netas e bloquinhos, com
m arcas dos produto s, foi proibida pela Agência Nacional de Vigilânc ia
Não compra
5
_ Compra, po rque acha
-,· que
~ é a me lhor opção _
______________
__,,...................
grátis que haviam deixado na recepção para um dos médicos. Sua
postura virou motivo de provocação entre os colegas. Uma médica o
chamou para tomar café e ofereceu biscoitos. Perguntou se estavam
9
gostosos. "Uma delícia ", respondeu Lima , para ouvir a resposta da
colega, galhofeira: "Foi um representante quem me deu". Ambos ca-
íram na risada. Para Lima , sua postu ra não é radical. "Todo mundo,
15__ , ou quase, é um pouco intransigente sob re seus va lor es mais profun-
Pesquisa
em 71 dos ", diz. "Não me submeter a dinheiro, para mim, é um valor bem
·--~ -
outras Pergunta se existe profundo." Passados 14 anos, ele ainda tem a im agem da caixa do
farmácias alguma opção genérica medicamento cont ra a tosse que costumava prescrever - e do nom e
Fonte: ReclameAQUI - pesquisa com mais de 1.700 participantes comercial - gravada na memória. •
.A.
•
osa 1
•
ocrac1a
"Bots" políticos têm estigma negati vo: influenciam
eleições com notícias falsas e discurso de ódio nas
redes sociais. Não é o caso de Rosie, Alice e Beta
Paula Soprana, com Daniela Simões
osie é uma robô. Mais espec i- nologia, para fiscalizar a adm inistração
ficamente, um a bot, uma ap li- pública. A vocação da Serenata n ão é
cação de computado r. Recebeu ser uma Lava Jato automatizada, como
esse nom e in spir ado na faxineira dos explica Pedro Vilanova, um dos ideali-
Jetsons. Nasceu com intuito parecido: zado res. "É fazer milhões de denúncias
limp ar. Em vez de tapetes, var re bancos de poucos reais, n ão uma denúncia de
de dados públicos para detectar sujeira s milh ões de reais", disse e1n pa lestra no
parlamentares. Logo nos primeiros me- Wired Festival Brasil, realizado pelas Edi-
ses, reportou 8.500 situações de uso sus- ções Globo Condé Nast e por O Globo
peito da cota parlamentar, uma quantia no Rio de Janeiro em 1.ue 2 de dezembro.
de R$ 33 mil a R$ 44 mil de dinheiro A Câma ra dos Deputados recebe 20 mil
público que cada deputado federal e pedidos de reembolso por mês dos 5 13
senador recebe para exercer sua ativi- parlamentares. Quem os confere são os
dade política - além dos salário s e da próprio s po líticos. Em 2016, 3 milhões
verb a para o gabinete. São notas fiscais de not as fiscais geraram R$ 150 milhões
de alimentação, transporte, acomoda- em reembolsos. Diante da abundância de
ção e outros gastos que eles ent regam dados e da falta de transparência, a Ope-
à Câma ra dos Deputados e ao Sena.do ração Serenata decidiu transformar leis
para poster ior reembo lso. Ao vasculh ar em código. Após levantadas as suspe itas
os dados, o p ro grama encont rou docu- cert as, deputados devolveram dinheiro,
m ento s que registram cervejas em Las mesmo que quant ias ínfimas, como R$
Vegas, 13 almoços em um único dia, 9 18 em cerveja consumida em Las Vegas.
quilos consumidos em um restau rant e Um dia, Vilanova recebeu uma liga-
self-service, R$ 1.500 gastos em bode ção. Era uma chamada da Câma ra. Ao
assado e almoços simultâneos em di- chegar a uma sala com uma equ ip e de
ferentes regiões: Caxias do Sul, no Rio quatro servidores, diz ter ouvido: "Pe-
Grande do Sul , Rio Branco, no Acre, dro, a gente recebe 600 denúncias em
e Caxias do Sul de novo, tudo em um um ano. Você mandou isso em um a
intervalo de 15 minuto s. semana': Explicou: "Nada contra sua
A rob ô tem posição de destaque na equ ipe, mas temos um robô e ele é m ais
Operação Serenata de Amor, um pro- rápido': Rosie com eçou a ficar popular
jeto de inteligência art ificial concebido (talvez não tanto dentro do Cong resso).
por cidad ãos, dez especialistas em tec- Passo11a ter presença nas redes soc iais
11 de dezem br o de 20 17 1 ÉPOCA t 8 1
AGRICULTURA
,
Juliana Elias devemos apresentar uma nova regula-
mentação para a agroindústria artesa-
da Fazenda Ata laia, em Ampa- subterrâneos de queijos famosos como nal em São Paulo", diz o secretário da
ro, n o int erior de São Paulo, o comté ou o roquefort. Só há um pro- Agricu ltu ra do estado, Arnaldo Jardim.
q11esai um dos melhores q11ei- blema: no Brasil, ele é ilegal. "Eu não O anúncio foi feito no fim de semana
jos do mundo: o queijo tu lh a, marca posso vender meu queijo em nenhum passado durante o Festival Origem,
da propriedade, foi vencedor da me- lu gar fora de minha cidade", diz o pro- evento de gastronomia sustentáve l rea-
dalha de ouro da edição de 2016 do dutor da Atalaia, Paulo Rezende. "Para lizado pelas revistas ÉPOCA, Globo
Wor ld Cheese Awards, prem iação in- isso, eu preciso do selo estadual ou Rural e Casa e Jardim. "A ideia é desbu-
ternacional de queijos finos. O segredo federal, mas eles não reconhecem o rocratizar e, com isso, facilitar a regu-
está na maturação, que dura até 18 meu processo de fabricação." larização dos pequenos produtores
meses e é feita na tulha, o antigo arma- Confusa e cheia de exigências que dentro do estado", continua o secretá-
zém de café da propriedade centenária. padron izam os estabelecimentos, a le- rio. A expectativa é que, com o avanço
As paredes de taipa dão um clim a pró- gislação atual pa ra a produção de ali- em São Paulo, se estimu le o debate em
prio e reproduzem o processo feito em mentos no país exclui grande parte dos nível nacional também. +
CDE>
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que 1nvest m no meio
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eomo esi:r-ã1
égia:--
Desirêe Galvão
para tempos difíceis
maior crise econômica da história recen- mas escassezde recursos naturais, como a falta de chuva e de
te do Brasil foi uma prova de fogo para água nos rios, causa um impacto muito maior': disse Vando
o engajamento das empresas em ações Telles,diretor executivo da Pecsa.Essas empresas estão entre
de sustentabilidade, especialmente em as vencedorasdo Prêmio ÉPOCAEmpresaVerde,realizadoem
iniciativas ambientais. Diante de difi- parceria com a consultoria PricewaterhouseCoppers (PwC).
culdades financeiras, muitas optam por Na décima edição do prêmio, foram analisadas 145 em-
cortar investimentos em ações ambientais. Já outras fazem presas concorrentes para chegarmos a 13 destaques, seis
o contrário. Enxergam os projetos de meio ambiente como delas em categorias especiais. "De dez anos para cá, vimos
uma estratégiade sobrevivência."Asustentabilidade é a lógica que as empresas deixaram de perceber a relação com o meio
que move nosso modelo de negócio. Momentos de crise, no ambiente apenas como uma boa prática para vê-la como
entanto, nos obrigam a ser ainda mais eficientese criativosna um modo de adaptação à escassez de recursos naturais e re-
conciliaçãode investimentosem inovaçãocom as nossasmetas siliência",diz Dominic Schmal, gerente de sustentabilidade
de respeito ao meio ambiente': diz LucianaVillaNova, geren- da PwC. Os participantes foram avaliados por meio de um
te de sustentabilidade da Natura. "Mesmo em meio à crise, questionário quantitativo e qualitativo e depois seleciona-
continuamos a desenvolverações ambientais e incentivando dos por um conselho formado por José Roberto Marinho,
a condução de negócios que geram valor ao longo do tempo vice-presidente do Grupo Globo (que edita ÉPOCA) e pre-
para todos que se relacionam co11osco':diz Denise Hills,supe- sidente da Fundação Roberto Marinho; Sergio Besserman,
rintendente de sustentabilidade e negócios inclusivas do Itaú diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro; Luiz Gylvan
Unibanco. "Investir em sustentabilidade é fundamental para Meira, professor da Universidade de São Paulo (USP); e
a longevidade dos negócios.Crises econômicassão superadas, Rachel Biderman, diretora da WRI Brasil.
SUSl(NllY(
(MPR(~A
Y(R(
INDUSTRIA
NEOENERGIA
DURATEX BASF NOVELIS
A empresa desenvolve o Projeto A empresa tem projetos de Para reduzir a quantidade de Em 2016, a empresa de
Biogás, que gera energia elétrica adaptação a mudanças do água utilizada na produção de laminados de alumínio
a partir de resíduos sólidos e clima, como o estudo dos concreto, a Basf desenvolveu reduziu em 22% o consumo
esgoto sanitário. Em uma das balanços hídricos e de carbono, um hiperplastificante que de água nas unidades. A
estações, em Feira de Santana, e de sustentabilidade das bacias aumenta a eficiência da Novelis estabeleceu, no
na Bahia, o gás alimenta um hídricas onde atua. Seu programa hidratação do cimento e reduz segmento em que atua, um
gerador de energia elétrica de melhoramento de eucalipto o uso de água em mais de 40% novo padrão de práticas para
que supre cerca de 80% desenvolve variedades mais em relação aos processos a gestão da água com ações
da demanda da estação de resistentes a pragas e variações convencionais nas obras de inovadoras, educativas e de
tratamento de esgoto da cidade. climáticas, como seca e geada pequeno e grande porte. consumo mais consciente.
MEIO AMBIENTE
CPFL
,.,,
,
or se destacar pelo bom trabalho em ações ambientais, a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL)
P venceu o prêmio na categoria Serviços pelo segundo ano consecutivo. Ela tem o maior empreen-
dimento da América Latina em produção e distribuição de renováveis. Ao todo, 96% da energia pro-
duzida pela empresa vem de usinas eólicas, solar, aproveitamento de biomassa e pequenas centrais
hidrelétricas. Só no ano passado, 14.900 gigawatts de energia limpa foram obtidos através de 93 usinas ·"- ...1
renováveis. Além disso, a empresa compõe o Índice Dow Jones de Sustentabilidade para Mercados
Emergentes, que elege 95 instituições de países em desenvolvimento que sobressaem no assunto.
Em 2016, a CPFL selecionou clientes de baixa renda e promoveu ações para reduzir o consumo d
energia elétrica. Substituiu equipamentos domésticos antigos, como geladeiras, chuveiros e lâmpadas
por modelos mais eficientes. Reformou as instalações elétricas internas dessas famílias e regularizou as
ligações clandestinas. "Aqui, todas as ações ambientais estão relacionadas a negócio. Todas as ações são
avaliadas pela eficiência ambiental, pelo impacto social e retorno financeiro. É isso que garante o
sucesso e a continuidade dos projetos", diz Rodolfo Sirol , gerente de ustentabilidade da CEFL,.__ _
EDP
ENERGIAA snibilidade
mudanças climáticas tornam instável a dispo-
de chuvas e água e, consequentemen-
te, o mercado de geração de energia. Pensando nisso,
durante a maior crise hídrica da história, em 2015,
EDP Brasil criou a EDP Soluções em Energia, empre-
sa que fornece serviços de eficiência energética.
Segundo Miguel Setas , presidente da EDP, o objetivo ·~
até 2020 é alcançar a meta de economia em 100 gi-
gawatts. "Investir em eficiência energética signific
construir uma usina virtual. Nela, a energia não é
produzida, mas sim, poupada", explicou.
Ao longo de 2016, a empresa realizou 15 projetos
de eficiência energética, que renderam uma economia
de 45 gigawatts. Isso é aproximadamente o que Itaipu
produz em cinco meses. Além disso, um dos projetos
1 1 : 11
envolveu o reaproveitamento de biomassa para a ge-
ração de energia por meio do vapor. Foi feita a quei-
ma do cavaco de reflorestamento. Essa operação evi-
tou que 12.367 toneladas de gás carbônico fossem
emitidas por meio de outras formas de geração de
energia. Esse tipo de queima ainda gera pouco re-
síduo. De 200 caminhões de cavaco queimado, sobro
apenas 1,5 caçamba de cinzas. Elas foram reinseri-
das na indústria de reflorestamento como adubo,
incentivando a economia circula
9 0 1 ÉPOCA 111de d ezem br o de 20 17 Fot os: Car olinaVia nna/ ÉPOCA, Rogeri o A lbuquerque/
Ed. Glo bo, Ann a Carolina NegrVÉPOCA
s florestas plantadas são parte da solu ção dos
FIBRIA A problemas relacionados às mudanças clim á-
ticas. Isso porque, para se desenvolver, as árvores
precisam retirar gás carbônico da atmosfera para
transformar em folhas, galho s e raízes. Esse me-
canismo é um valor para a Fibria, empresa brasi-
leira de base florestal, que lid era a produção de
celulo se de euca lipto no mundo. Cada árvore da
Fibria tem um ciclo de seis anos, entre cresc im en-
to e colh eita. Durante esse tempo, muito carbono
é tirado da atmosfera não só pelo plantio, m as
também pelas áreas de florestas nativas conser-
vadas da empresa. "Temos estudos mostrando que
para cada tonelada de celulo se produz ida, entre
sequestro e emissões de carbono até o no sso clien-
te, ainda ficamos com um saldo positivo", disse o
presidente da emp resa, Marcelo Castelli .
Em 2016, a Fibria estabe leceu um preço interno
de carbono com o objetivo de reconhecer e valorizar
suas áreas de plant io e conservação florestal. Dessa
orma, a empresa propõe entend er melhor o irnpac-
o das emissões de gases de efeito estufa e criar novas
soluções para uma economia de baixo carbono .
essa conta, a Fibria definiu que a tonela .da de gás
carbônico vale US$ 5 para o sequestro em florestas
Mun,N~A~ ,us$10 pa ra emissões industriais e de logística e US$
' 30 para novas tecno logias. Dessa forma, foi calcu-
llM~llCAS ada em R$ 309 mil a redução de emissões de gás
carbônico geradas no transporte de madeira feito
INDUSTRII
brunoastuto@ed glo bo.com.br
Cliques
do paraíso
Desde que pisou em
Fernando de Noronha, há
15 anos, Paulo Vilhena caiu
de amores pelo arquipé lago.
"É um lugar mágico, que
me ajudou a enxergar o
mundo de outra maneira",
desmancha-se o ato r, que
decidiu fazer algo mais
pe lo local. "Estou à frente
de uma série de ações pa ra
ajudar os jovens de lá. No
ano passado, a.rrecadei 1
tone lada de material para
as escolas da região." O
próximo passo é a exposição
Neuronhe-se, que acaba de
ser inaugurada na Cidade
das Artes, n o Rio de Janeiro,
com imagens feitas pe lo
fotógrafo Rildo Iaponã. No
ar na novela Pegapega, ele
, . . , .
estreara em Janeiro a serie
Trezedias longedo sol."A
série já foi toda gravada
e, assim que terminar a
novela, vou tirar férias." O
destino? No ronha, é claro.
Escolhida por testes para o filme amar", diz Gianne, que não ch egou a
Chacrinha: o Velho Guerreiro, em que conhecê- la pessoa lm ente . Fisicamente
interpreta ninguém menos do que parecidas e com histórias de vida
Elke Maravilha, Gianne Albertoni se seme lh antes - ambas foram modelos
apaixonou tanto pe la figura da icónica de passarela, com 1,80 metro de altura
artista que está sendo comp li cado se -, a atriz conta que se esforçou muito
despedir dela. "É a parte mais difícil para fazer jus a Elke. "Interpretá-la
de tod .a a filmagem, que está ago ra é uma gra n de realização na minha
terminando. Me identifico muito carreira. O Stepan Nercessia11, que
com a Elke, me apegue i mesmo. faz o Chac rinh a, me ajudou m11ito a
Ela lut ava cont ra todos os tipos de entende r a relação que eles tinham. Fiz
preconceito, com uma energ ia tão muitas pesquisas. Espe ro qu e o irm ão
vibrante, cheia de humanidade. É uma dela goste da minha homenagem ." O
mulher difícil de defini r, mas fácil de filme será lançado em meados de 20 18.
Guerreira
Recuperada de um câncer -
ela descobriu, por acaso, um nódulo
no seio - , Laura Wie celebra o fato
de seu cabelo voltar a crescer, três
meses após o fim da quimioterapia.
"Já na primeira sessão, raspei a
cabeça porque quis. Preferi fazer isso
logo, antes que o cabelo começasse
a cair. Cheguei a recorrer a uma
. , .
peruca, mas a usei pouquissimas
vezes, não me senti verdadeira com
ela. Não me deixei contaminar
em nenhum momento, nunca me
senti doente", afirma a ex-modelo
e apresentadora, de 4 7 anos, que
se achou linda careca. Ao dividir
sua doença nas redes sociais, Laura
viu seu número de seguidores
triplicar em poucos meses.
"Recebo muitas histórias e divido
exper iencias com que me procura.
• I\ • ''
O pupilo
deAnitta
Revelado no filme Cidade
de Deus, de 2003, Micael
Borges deixou de lado a
carreira de ator h á três anos
para se dedicar à música, sua
grande paixão. Mas foi um
-.. encontro com Anitta que o
levou ao pulo do gato. Agora
empresariado pela cantora,
ele está lançando seu primeiro
single, "A noite toda". "Nossa
Sem brigas
•
parceria começou em u.m
estúdio, conversando sobre
Alice Caymmi passou, segundo ela, por "uma música. Daí vieram muitas
limpeza energética e visual" para dar forma identificações. Assim como
a seu terceiro álbum, que será lançado em ela, sou um ca.ra ambicioso.
janeiro. O novo single, "Inocente': que acaba Também quero ter uma
de chegar às plataformas digitais, é assinado carreira internacional. Mas
em parceria com Ana Carolina e mostra um não tenho pressa, é um
pouco da nova fase da camaleônica cantora. passo de cada vez': explica
"Assumi uma postura artística e politicamente ele. Casado e pai de Zion,
romântica. Fiquei pensando em como eu era de 3 anos, Micae l se diz
antes da minha primeira decepção amorosa preparado pa ra ser "u ma
sinistra. E aí entrou mais luz, o branco e Anitta de calças': "O escritório
rendas", filosofa ela, que também mudou dela tem tudo de que um
suas armas na luta feminista. "Cansei de artista precisa. Ela nã.o para,
brigar de forma agressiva para ser ouvida. trabalha 24 horas por dia. E
Querem sempre te fazer passar por maluca." quer que eu vá bem longe ."
ClC)
ENTREVISTA Aarte
como causa
DIOGO NOGUEIRA
CANTOR
No ar como a prostituta
Gilberte, da no vela Tempo
de amar, a atriz Maria
''Vai ser o Carnaval Eduarda de Carvalho
comemora sua estreia no
94 1 ÉPOCA 111de dezembro de 2017 Fotos: Leo Castro/ ÉPOCA, Carla Barraqui
WALCYR CARRASCO
•
s .........
ersona 1_ a_ es
ndo surpreso como as redes sociais transformam as Faz parte da minha vida. Em geral, são pessoas sem experi-
A pessoas. Ou revelam outros lados da personalidade.
Os nudes, por exemp lo. Sou de uma época em que havia
ê11ciana área artística, para quem o sucesso na mídia é algo
instantâneo e milagroso. Nã.o uma profissão. Esse amigo
prós e contrários à nudez. Uma atriz famosa, ao posar nua, de quem falei abriu o Instagram de alguém que tentava
provocava escândalo - e maravilhamento. Algumas se ne - uma nova amizade. Ela só seguia famosos.
gavam: nua, jamais. Homens, nem pensar . Hoje ficar nu é - É óbvio o fascínio pela fama.
habitual. As pessoas postam fotos sensuais. Enviam junto Conhecem-se as profundezas e até os desvios do caráte r
com o primeiro "oi, tudo bem". Eu não caí na tentação do ana lisando as redes sociais de alguém. Essas mesmas pes-
nude devido a minha barriga. Explico. Quando olho para soas, muitas vezes, na vida cotidiana são tímidas. Têm pro-
baixo, vejo somente meu umbigo. Não me sinto habilitado fissões comuns. Por que postam cada pedaço de pizza no
a posar para um cliqu e pe lado. Já se tornou comum certo fim de semana? óbvio. A possibi lidad e de aparece r estimu-
tipo de escânda lo: um ator famoso é flagrado num vídeo la o exibicionismo. São poucos os que postam livros. Frases,
íntimo. Viraliza nas redes. Eu me pergunto: foi mesmo há muitos. Mas a maioria gosta de mostrar a si mesmo. Ou
11ma câmera oculta? Ou um vídeo transmitido pelo pró- até de estabe lecer uma relação de poder. Recentemente, um
prio para alguém? Pior: quem sabe o próprio alvo do es- amigo de muito tempo separou-se. Pediu a todos os seus
cândalo seja autor do vazamento? amigos que excluíssem seu ex das próprias redes. Argumen-
Likes viciam tanto quanto o crack. tou que era uma atitude para deixar claro
Tenho um amigo que posta fotos de si ao rapaz que já não pertencia a seu mundo.
mesmo sem camisa, na academia, na Pessoalmente, sou adepto do velho ditado:
praia etc. É um execut ivo de mais de 40 AS PESSOAS POSTAM "Em briga de marido e mulher, ninguém
anos. Em sua loucura, posta também as mete a colher': Adaptado para os novos
viagens de fim de semana, que começam
FOTOS SENSUAIS. tempos, que r dizer simp lesmente: quando
na sexta-feira e terminam na tarde de ENVIAMJUNTO COM um casal se separa, melhor não tomar par-
segunda-feira. Perdeu um emprego, por O PRIMEIRO "OI". tido. E se depois os dois voltam? Terei fei-
motivos nebulosos. Fez entrevista para to péssimo papel. Também considerei a
outro. O futuro chefe pediu: LIKESVICIAM TANTO questão do ponto de vista ético. Um que-
- Não se exponha mais na int ernet. QUANTO O CRACK ria dar uma demonstração de poder sob re
Adiantou? Não. Meu amigo segurou o outro. Por que devia participar disso? E
duas semanas . Admitido, voltou a publi- não excluí o outro.
car fotos sem camisa, com a expressão de quem se acha a Resultado: recebi de meu ex-amigo, pela internet, uma
suprema beleza neste Universo. Por que acredita que seus mensagem que até me chamava de "alm a trevosa". Franca-
seguidores têm interesse em vê- lo na academia pratica- mente, alguém falaria isso ao vivo? O distanciamento da
mente todos os dias? Ou de sunga na praia? Conversei. int ern et é que permite tal nível de hostilidade. Se estivés-
- Cuidado ao postar todas as fugidas de fim de semana, semos conversando, discutiríamos e a amizade continuaria.
inclusive a outros países. Vai causar descontentamento e Mas, diante de tal mensagem, reagi. Excluí meu antigo
inveja entre quem trabalha com você. amigo de todas as minhas redes, bloqueei etc. Mas me
Ficou duas semanas sem postar. Agora não resiste mais. assustei com a maneira como as redes sociais evidenciam
Exibe os cliques. Não causa só inveja. Evidencia que está aspectos de alguém, que nã.o conheceríamos de outra ma-
matando tempo do trabalho. Não há mais o que dizer. A neira. Mais. Estimulam esses aspectos a emerg ir.
internet transformou um homem até tímido num exibicio- Co ntinuo a ser um admirador da int ernet e de tudo
nista. Outro amigo já sabe analisar a personalidade de alguém que ela proporciona. Mas não me engano mais. É perigo-
por meio de quem segue. Examina os amigos nas redes so- sa até para minha própria pe rsonalidade. Ainda bem , já
ciais. Descobre qual é seu campo de interesse. Recentemen- me dei conta. É um vício. +
te, estávamos falando sobre uma pessoa que se aproximou
de mim. Como costuma acontecer, há muita gente que for-
ja uma amizade, garantindo que não tem a menor vontade Walcyr Carrasco é jo rnalista, aut or de livros,
de ser ator ou atriz ... para depois dar o bote e pedir um papel. peças teat rais e nove las de te levisão
• • •
ais raciona 1
. ,,,,
1scussaoso
o dia 27 de novembro, a Academia Nacional de Me-
N dicina (ANM) enviou uma carta aberta para a mi-
nistra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF),
em 2016 comprovou que em países onde o aborto foi
legalizado houve uma queda tanto no número de proce-
dimentos quanto no de mortes maternas. Esse fenômeno
em que defende a descriminalização do aborto até a 12ª também foi bem documentado em países como Portugal
semana de gestação. AANM, cuja fundação em 1829 an- e Uruguai , que não apenas legalizaram a interrupção
tecede à do STF em mais de 60 anos, sempr e contribuiu voluntária da gravidez, mas ampliaram a oferta de ser-
para balizar o debate sobre saúde baseado em evidências. viços de saúde reprodutiva.
A prática do aborto é bem mai s antiga que a Academia e O Brasil já possui uma das legislações de aborto mais
o STF e, pelo menos, desde a Antiguidade está entre as restritiva s do mundo. É necessário ampliar os casos em
opçõe s que as mulheres têm para controlar a sua repro - que uma mulher pode ter acesso a métodos seguros de
dução. A interrupção voluntária da gravidez sempre foi interrupção da gravidez, não restringi -los. Iniciativas
utilizada e não diminui porque uma par- como a Proposta de Emenda Constitu-
te da popu lação a desaprova. cional (PEC) 181, além de contrárias ao
Fazer de conta que o aborto, por ser que demonstram as evidências científi-
ilegal, deixa de ocorrer é condenar 500 PORQUE AS cas, estimulam um debate baseado em
mil mulheres brasileiras todos os anos opiniões e não em fatos.
aos riscos de um procedimento clandes- BRASILEIRAS A posição da ANM nesse tema é am-
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tino. E preciso encarar o tema com ra- TÊM DE SER plamente partilhada entre as organiza-
cionalidade e a perspectiva da saúde nos ções profissionais do campo da saúde. A
dá instrumentos para isso. Temos as evi- PRIVADASDE Associação Brasileira de Saúde Coletiva
dências científicas necessárias para de- INTERVENÇÕES (Abrasco ), a Federação Brasileira de Gi-
senvolver políticas públicas que podem MÉDICAS SEGURAS? necologia e Obstetrícia (Febrasgo) e o
salvar vidas e reduzir sequelas evitáveis. Conselho Federal de Psicologia, além de
Hoje, há diversos métodos seguros, outras 18 organizações, já protocolaram
recomendados pela Organização Mundial da Saúde, para documentos no STF apoiando uma ação em curso em
a interrupção voluntária da gravidez. Quando usados pro l da descriminalização do aborto no Brasil.
com o apoio especializado, reduzem as consequências Rebeca Mendes, a mulher que recentemente pediu ao
adversas para as mulheres e os índices de mortalidade STF o direito de interromper sua gravidez de maneira
materna. No Brasil, ele atinge taxas incompatívei s com o segura, é apenas a mais visível entre as centenas de mi-
nosso grau de desenvolvimento. Todos os anos, temos lhares de brasileiras que enfrentaram sozinhas os riscos
mais de 200 mil internações no SUS por complicações de um aborto ilegal neste ano. É chegada a hora de dei-
relacionadas a aborto. Por que as brasileiras têm de ser xarmos as impressões subjetivas de lado para avançarmos
privadas de intervenções médicas seguras que estão dis - em um debate com base em dados e na experiência
poníveis para as francesas, canadenses, sul-africanas, documentada ao redor do mundo. +
indianas e para mulheres em dezenas de outros países?
Há quem diga que proibir o aborto salva vidas, mas
essa afirmação não encontra nenhum amparo na litera - José Gomes Temporão, médico sanitarista, ex-min ist ro da Saúde, com os
médicos Jor ge Fonte de Rezende Filho e Carlos Antôn io Barbosa Montene gro.
tura científica. Ao contrário, quando o aborto é ilegal, ele Os três são membros titu lares da Academ ia Naciona l de Medic ina
acaba ocorrendo de forma arriscada e é mais frequente.
Um estudo publicado no periódico britânico The Lancet A cada edição, um rep resentante da soc iedade abordará um tema de interesse do leitor