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O ano de 2017 foi o terceiro mais quente do Antropoceno

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE;
Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

O ano de 2017 foi o terceiro mais quente, desde o início da série histórica, dos registros da
temperatura da superfície do Planeta, que começou em 1880. Muitas pessoas falaram do frio
extremo que aconteceu na costa leste dos EUA e em outros lugares do mundo como contestação
do aquecimento global. Mas no mesmo período a costa oeste dos EUA estava batendo recordes
de temperaturas elevadas, assim como Sydney, na Austrália e vários outros lugares do globo.

O fato é que os quatro anos mais quentes desde o início do Antropoceno (época em que os
humanos se transformaram em uma força global de desequilíbrio climático e destruição da vida
na Terra) aconteceram nos últimos quatro anos, sendo que em 2014 o aumento da temperatura
foi de 0,74º Celsius, em relação à média do século XX, 2015 foi de 0,90º C, 2016 de 0,94º C e
2017 foi de 0,84º C. O quinto ano mais quente foi 2010 com 0,70º C e o ano mais quente do
século XX foi 1998, com 0,63º C, conforme pode ser visto no gráfico acima da Administração
Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA na sigla em inglês).

Quando se considera como base o período pré-industrial a medição do aquecimento mostra um


número ainda mais preocupante. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a
temperatura média global da superfície em 2017 foi de aproximadamente 1,1º Celsius acima da
era pré-industrial. A OMM usa o período 1880-1900 como período de referência para as
condições pré-industriais. O gráfico acima mostra que a temperatura média de 1880 a 1900
estava cerca de 0,25º C abaixo da média do século XX.
Isto faz com que a temperatura global da atual década esteja pouco mais de 1º C acima do nível
do período pré-industrial. Dezesseis dos dezessete anos mais quentes do Antropoceno estão no
século XXI (a única exceção é 1998). Nota-se que o aquecimento global se acelerou nas últimas
5 décadas. Entre 1970 e 2017 a variação média por década foi de 0,18%. Neste ritmo, o limite
de 1,5º C estabelecido pelo Acordo de Paris será ultrapassado antes de 2040 e o limite de 2º C
será ultrapassado antes de 2070. As consequências podem ser desastrosas e catastróficas.

Outra coisa que chama a atenção no dado de 2017 é que a temperatura elevada ocorreu na
ausência do fenômeno El Niño. Desta forma, considerando os anos sem El Niño, o ano de 2017
foi o mais quente da série histórica.

O gráfico abaixo mostra as tendências do aquecimento para cada tipo de ano, segundo os
fenômenos - La Niña, El Niño e neutro. A tendência global de aquecimento da superfície entre
1964 e 2017 é de 0,17-0,18º C por década. Artigo de Dana Nuccitelli, no jornal The Guardian
(02/01/2018) mostra que as condições neutras de El Niño e o nível de atividade solar em 1972
foram bastante semelhantes aos de 2017. Entretanto, 45 anos depois, o ano passado foi 0,9º C
mais quente do que 1972.

O aquecimento global é a principal ameaça ao avanço civilizacional e também à biodiversidade


do Planeta. Quanto mais subirem as temperaturas maiores serão os efeitos negativos sobre o
bem-estar humano e não humano. Mas mesmo sabendo que os problemas serão maiores no
fututo, isto não quer dizer que os danos já não ocorram no presente.

Nos Estados Unidos (EUA), no ano passado, houve 16 desastres climáticos com perdas
individuais superiores a US$ 1 bilhão, segundo a NOAA. No total, os custos foram de
aproximadamente US$ 306 bilhões. O último ano com desastres tão caros nos EUA foi 2005,
com perdas de US$ 215 bilhões (em grande parte devido aos furacões Katrina, Wilma e Rita). Os
desastres mais caros de 2017 foram a temporada de incêndios no oeste, com custos totais de
US $ 18 bilhões; o furacão Harvey que teve custos totais de US $ 125 bilhões; os furacões Maria
e Irma tiveram custos totais de US$ 90 bilhões e US$ 50 bilhões, respectivamente. Diversos
outros países do mundo tiveram grandes prejuízos com os desastres climáticos em 2017.
Todavia, os danos do aquecimento global tentem a crescer exponencialmente nas próximas
décadas. Por exemplo, mais de um quarto da superfície terrestre da Terra se tornará
"significativamente" mais seca na medida em que a temperatura se aproximar de 2º C. Isto terá
um grande impacto sobre a produção de comida e sobre a segurança alimentar. A acidificação
dos oceanos poderá reduzir drasticamente a vida marinha já sobrecarregada pela sobrepesca e
a poluição.

O aumento da temperatura vai tornar mais críticas as ondas letais de calor, provocando muitas
mortes, especialmente na áreas mais húmidas. O corpo do ser humano e dos mamíferos
possuem limites para suportar o calor intenso. Até os aviões não podem voar com temperaturas
muito altas e o ar rarefeito. A saúde da população pode ainda ser afetada com doenças, como a
febre amarela, a dengue, o câncer, a malária e a esquistossomose, etc. Diversas regiões do
Planeta (em especial nos trópicos) podem virar áreas inabitáveis.

O aquecimento também provoca o degelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares, elevando
o nível dos oceanos, o que ameaça mais de 2 bilhões de pessoas que vivem em áreas costeiras
de até 2 metros em relação ao nível médio do mar. Áreas urbanas e agrícolas podem ficar
debaixo da água salgada, provocando destruição, fome e grande número de refugiados do clima.

No novo cenário climático, deve ocorrer com mais frequência os fenômenos extremos, como
grandes secas, grandes tempestades e a ocorrência de furações, tufões e ciclones. O exemplo
de Porto Rico, que sofreu danos irreparáveis em 2017, pode servir de alerta para outros países
do mundo que estão menosprezando os efeitos do aquecimento global.

Os últimos 4 anos foram os mais quentes do Antropoceno e o ano de 2017 foi o mais quente
sem a presença do El Niño. O mundo continua queimando combustíveis fósseis e liberando
metano na agropecuária. Continua também desmatando e destruindo os ecossistemas. Desta
forma, cresce a concentração de gases de efeito estufa e aumenta o nível de CO2 na atmosfera,
que, em 2017, foi de 406,53 partes por milhão (ppm), e está aumentando 2,5 ppm ao ano. O
nível seguro é 350 ppm.

Se este quadro não começar a ser revertido nos próximos 3 anos, o colapso ambiental pode se
tornar inevitável. No longo prazo, pode ser o apocalipse para a biodiversidade e para a
humanidade.

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