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O ano de 2017 foi o terceiro mais quente, desde o início da série histórica, dos registros da
temperatura da superfície do Planeta, que começou em 1880. Muitas pessoas falaram do frio
extremo que aconteceu na costa leste dos EUA e em outros lugares do mundo como contestação
do aquecimento global. Mas no mesmo período a costa oeste dos EUA estava batendo recordes
de temperaturas elevadas, assim como Sydney, na Austrália e vários outros lugares do globo.
O fato é que os quatro anos mais quentes desde o início do Antropoceno (época em que os
humanos se transformaram em uma força global de desequilíbrio climático e destruição da vida
na Terra) aconteceram nos últimos quatro anos, sendo que em 2014 o aumento da temperatura
foi de 0,74º Celsius, em relação à média do século XX, 2015 foi de 0,90º C, 2016 de 0,94º C e
2017 foi de 0,84º C. O quinto ano mais quente foi 2010 com 0,70º C e o ano mais quente do
século XX foi 1998, com 0,63º C, conforme pode ser visto no gráfico acima da Administração
Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA na sigla em inglês).
Outra coisa que chama a atenção no dado de 2017 é que a temperatura elevada ocorreu na
ausência do fenômeno El Niño. Desta forma, considerando os anos sem El Niño, o ano de 2017
foi o mais quente da série histórica.
O gráfico abaixo mostra as tendências do aquecimento para cada tipo de ano, segundo os
fenômenos - La Niña, El Niño e neutro. A tendência global de aquecimento da superfície entre
1964 e 2017 é de 0,17-0,18º C por década. Artigo de Dana Nuccitelli, no jornal The Guardian
(02/01/2018) mostra que as condições neutras de El Niño e o nível de atividade solar em 1972
foram bastante semelhantes aos de 2017. Entretanto, 45 anos depois, o ano passado foi 0,9º C
mais quente do que 1972.
Nos Estados Unidos (EUA), no ano passado, houve 16 desastres climáticos com perdas
individuais superiores a US$ 1 bilhão, segundo a NOAA. No total, os custos foram de
aproximadamente US$ 306 bilhões. O último ano com desastres tão caros nos EUA foi 2005,
com perdas de US$ 215 bilhões (em grande parte devido aos furacões Katrina, Wilma e Rita). Os
desastres mais caros de 2017 foram a temporada de incêndios no oeste, com custos totais de
US $ 18 bilhões; o furacão Harvey que teve custos totais de US $ 125 bilhões; os furacões Maria
e Irma tiveram custos totais de US$ 90 bilhões e US$ 50 bilhões, respectivamente. Diversos
outros países do mundo tiveram grandes prejuízos com os desastres climáticos em 2017.
Todavia, os danos do aquecimento global tentem a crescer exponencialmente nas próximas
décadas. Por exemplo, mais de um quarto da superfície terrestre da Terra se tornará
"significativamente" mais seca na medida em que a temperatura se aproximar de 2º C. Isto terá
um grande impacto sobre a produção de comida e sobre a segurança alimentar. A acidificação
dos oceanos poderá reduzir drasticamente a vida marinha já sobrecarregada pela sobrepesca e
a poluição.
O aumento da temperatura vai tornar mais críticas as ondas letais de calor, provocando muitas
mortes, especialmente na áreas mais húmidas. O corpo do ser humano e dos mamíferos
possuem limites para suportar o calor intenso. Até os aviões não podem voar com temperaturas
muito altas e o ar rarefeito. A saúde da população pode ainda ser afetada com doenças, como a
febre amarela, a dengue, o câncer, a malária e a esquistossomose, etc. Diversas regiões do
Planeta (em especial nos trópicos) podem virar áreas inabitáveis.
O aquecimento também provoca o degelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares, elevando
o nível dos oceanos, o que ameaça mais de 2 bilhões de pessoas que vivem em áreas costeiras
de até 2 metros em relação ao nível médio do mar. Áreas urbanas e agrícolas podem ficar
debaixo da água salgada, provocando destruição, fome e grande número de refugiados do clima.
No novo cenário climático, deve ocorrer com mais frequência os fenômenos extremos, como
grandes secas, grandes tempestades e a ocorrência de furações, tufões e ciclones. O exemplo
de Porto Rico, que sofreu danos irreparáveis em 2017, pode servir de alerta para outros países
do mundo que estão menosprezando os efeitos do aquecimento global.
Os últimos 4 anos foram os mais quentes do Antropoceno e o ano de 2017 foi o mais quente
sem a presença do El Niño. O mundo continua queimando combustíveis fósseis e liberando
metano na agropecuária. Continua também desmatando e destruindo os ecossistemas. Desta
forma, cresce a concentração de gases de efeito estufa e aumenta o nível de CO2 na atmosfera,
que, em 2017, foi de 406,53 partes por milhão (ppm), e está aumentando 2,5 ppm ao ano. O
nível seguro é 350 ppm.
Se este quadro não começar a ser revertido nos próximos 3 anos, o colapso ambiental pode se
tornar inevitável. No longo prazo, pode ser o apocalipse para a biodiversidade e para a
humanidade.