Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
14-17)1
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
INTRODUÇÃO:
1
Palestra ministrada na Quarta Igreja Presbiteriana de São Bernardo do Campo, São Paulo, no dia
24/10/07 como parte das Comemorações do aniversário da Reforma Protestante do Século XVI. E-
vento promovido pelo Presbitério de São Bernardo do Campo, SP.
Sola Scriptura – Rev. Hermisten – 2
2
Richard H. Popkin, História do Ceticismo de Erasmo a Spinoza, Rio de Janeiro: Francisco Alves,
2000, p. 26.
3
A tradição oral (para/dosij) [“transmissão”, “entrega”, “tradição”. A palavra é formada de “Para/”
(“junto a”, “ao lado de”) & “Di/dwmi” (Conforme o contexto: “dar”, “trazer”, “conceder”, “causar”, “colo-
car”, etc.] consistia basicamente no que Jesus Cristo, os apóstolos e outros servos de Deus ensina-
vam através de seus sermões, orientações e comportamento(1Co 11.2, 23-25; Gl 1.14; 2Ts 2.15;
3.6/Rm 6.17; 16.17; 1Co 15.1-11; Fp 4.9; 1Ts 2.9, 13; 4.11,12). Nestes textos, evidenciam-se que a
“tradição” recebida e ensinada amparava-se numa certeza quanto à sua origem divina. Portanto, as
“tradições” mencionadas por Paulo distinguem-se daquelas inventadas e transmitidas pelos homens,
as quais são recriminadas por Cristo, visto que estes ensinamentos anulavam a Palavra de Deus (Cf.
Mt 15.2,3,6; Mc 7.3,5,8,9,13). A para/dosij é rejeitada todas as vezes que entra em choque com a
Palavra de Deus (Vd. H.M.F. Büchsel, Para/dosij: In: Gerhard Kittel & G. Friedrich, eds. Theological
Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), Vol. II, p.
172-173; G. Hendriksen, 1 y 2 Tesalonicenses, Grand Rapids, Michigan: Subcomision Literatura Cris-
tiana de la Iglesia Cristiana Reformada, 1980, p. 217 e 230; I.H. Marshall, I e II Tessalonicenses: In-
trodução e Comentário, São Paulo: Vida Nova/Mundo Cristão, 1984, p. 245 e 257; W. Popkes, Pa-
ra/dosij: In: Horst Balz & Gerhard Schneider, eds. Exegetical Dictionary of New Testament, Grand
Rapids, Michigan: Eerdmans, 1978-1980, Vol. III, p. 21). Portanto, “A questão não é se temos tra-
dições, mas se as nossas tradições estão em conflito com o único padrão absoluto nessas
questões: as Escrituras Sagradas” (J.I. Packer, O Conforto do Conservadorismo: In: Michael Horton,
ed. Religião de Poder, São Paulo: Editora Cultura Cristã, p. 234). Ridderbos salienta que o conceito
de tradição no Novo Testamento, não está associado ao pensamento grego antes, é orientado pela
concepção judaica, pela qual “o que confere autoridade à tradição não é o peso dos antepas-
sados ou da escola senão primordialmente o caráter do material dessa tradição....” [Herman
N. Ridderbos, Historia de la Salvación y Santa Escritura, Buenos Aires: Editorial Escaton, (1973), p.
39].
4
R. C. Sproul, Sola Scriptura: Crucial ao Evangelicalismo: In: J.M. Boice, ed. O Alicerce da Autorida-
de Bíblica, São Paulo: Vida Nova, 1982, p. 122. Timothy George coloca a questão nestes termos: “O
sola scriptura não pretendia desprezar completamente o valor da tradição da igreja, mas
sim subordiná-la à primazia das Escrituras Sagradas. Enquanto a Igreja Romana recorria ao
testemunho da igreja a fim de validar a autoridade das Escrituras canônicas, os reformado-
res protestantes insistiam em que a Bíblia era autolegitimadora, isto é, considerada fidedigna
com base em sua própria perspicuidade, comprovada pelo testemunho íntimo do Espírito
Santo” (Timothy George, Teologia dos Reformadores, São Paulo: Vida Nova, 1994, p. 312). A obser-
vação de Packer é pertinente como princípio que deve servir de parâmetro: “Dentro dessa aborda-
gem, e com base na percepção comum de que tanto o Espírito de Deus como também o
pecado humano estão sempre trabalhando dentro da igreja, espera-se que as tradições
Sola Scriptura – Rev. Hermisten – 3
Deus é o Autor das Escrituras. Mesmo a Bíblia sendo registrada por homens, fa-
lando do pecado do homem, descrevendo a desobediência circunstancial de seus
autores secundários, ela é prioritariamente um livro divino.
Paulo diz que “toda Escritura e inspirada por Deus” (2Tm 3.16), indicando a sua
procedência: toda a Escritura Sagrada é soprada, exalada por Deus. Esta Palavra
não foi apenas entregue aos homens, mas, foi preservada por Deus; Deus preservou
quanto ao seu registro e quanto à sua conservação.
cristãs sejam parcialmente certas e parcialmente erradas” (J.I. Packer, O Conforto do Conser-
vadorismo: In: Michael Horton, ed. Religião de Poder, p. 234).
5
Ver: Alister E. McGrath, Teologia Sistemática, histórica e filosófica: uma introdução à teologia cristã,
São Paulo: Shedd Publicações, 2005, p. 109-110.
6
Esta Confissão, também conhecida como Confissão de Fé de La Rochelle encontra-se traduzida na
íntegra no site: www.monergismo.com (consulta: 28/07/06). Schaff, (The Creeds of Christendom, 6ª
ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (Revised and Enlarged), 1977, Vol. III, p. 356-382)
traz o Documento em francês e inglês.
7
B.B. Warfield, The Inspiration of the Bible: In: The Works of Benjamin B. Warfield, Grand Rapids,
Michigan: Baker Book House, 1981, Vol. I, p. 79.
Sola Scriptura – Rev. Hermisten – 4
Com isto, estamos dizendo que o Deus que Se revelou, esteve "expirando" os
homens que Ele mesmo separou para registrarem esta revelação. A inspiração bíbli-
ca garante que seja registrado de forma veraz aquilo que a inspiração profética fazia
com respeito à palavra do profeta, para que ela correspondesse literalmente à mente
de Deus; em outras palavras: a Palavra escrita é tão fidedigna quanto a Palavra fa-
lada pelos profetas; ambas foram inspiradas por Deus.
Desse modo cremos que a inspiração foi plenária, dinâmica, verbal e sobrenatu-
ral.
A Bíblia não é um livro qualquer; a sua origem está em Deus que falou através de
homens que Ele mesmo separou para registrar a Sua Palavra. Sabemos que a ques-
tão do caráter humano das Escrituras não é algo acidental ou periférico: os homens
escolhidos por Deus para registrarem as Escrituras eram pessoas de carne e osso
como nós, com personalidades diferentes, que viveram em determinado período his-
tórico – num espaço de aproximadamente 1600 anos –, enfrentando problemas es-
10
pecíficos, dispondo de determinados conhecimentos, etc. Aqui, sabemos, não há
11
lugar para nenhum docetismo: Os autores secundários tiveram um papel ativo e
12
passivo. No entanto, devemos também acentuar, e este é o nosso ponto neste tex-
to, que o Espírito chamou Seus servos, revelou-Se a Si mesmo e a Sua mensagem,
dirigiu, inspirou e preservou os registros feitos por esses homens. “O Espírito Santo
habitou em certos homens, inspirou-os, e assim dirigiu-os que eles, em plena
consciência, expressaram-se na sua singular maneira pessoal. O Espírito ca-
pacitou homens a conhecer e expressar a verdade de Deus. Ele impediu-os
8
A inspiração é também chamada de “orgânica” porque a Escritura pode ser comparada em certo
sentido a um organismo, onde há uma interação harmoniosa de forças. Deus preparou os seus ser-
vos desde à eternidade, tornando-os “órgãos da inspiração” (Ver Homer C. Hoeksema, The Doctrine
of Scripture, Grand Rapids, Michigan: Reformed Free Publishing Association, 1990, p. 78ss).
9
Ver L. Boettner, A Inspiração das Escrituras, Lisboa, Papelaria Fernandes, (s.d.), p. 30; B. B. War-
field, The Inspiration of the Bible: In: The Works of Benjamin B. Warfield, Grand Rapids, Michigan:
Baker Book House, 1981, Vol. I, p. 101.
10
Encontramos uma abordagem útil e esclarecedora deste ponto em: Augustus Nicodemus Lopes, A
Bíblia e Seus Intérpretes, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 23-29.
11
Ver: Robert Laird Harris, Inspiração e Canonicidade da Bíblia, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p.
96.
12
Vejam-se: Gordon R. Lewis, A Autoria Humana da Escritura Inspirada: In: Norman Geisler, org. A
Inerrância Bíblica. São Paulo: Editora Vida, 2003, p. 268-312. (Especialmente, p. 287-312); J. Gre-
sham Machen, Cristianismo e Liberalismo, São Paulo: Os Puritanos, 2001, p. 75-83.
Sola Scriptura – Rev. Hermisten – 5
de incluir qualquer coisa que fosse contrária a essa verdade de Deus. Ele
também impediu-os de escrever coisas que não eram necessárias. Assim,
homens escreveram como homens, mas, ao mesmo tempo, comunicaram a
13
mensagem de Deus, não a do homem”. Esta compreensão que nos advém da
própria Escritura caracteriza distintamente o Cristianismo: Os profetas não falaram
aleatoriamente o que pensavam; antes, “testificaram a verdade de que era a
14
boca do Senhor que falava através deles”.
Ainda que Calvino não tenha detalhado este assunto no que se refere ao proces-
so de inspiração, um conceito fica claro em seus escritos: os autores secundários
das Escrituras não foram simplesmente autômatos; Deus se valeu livre e soberana-
mente de seus conhecimentos e personalidade. Contudo, tudo que foi escrito o foi
conforme a vontade de Deus. Os profetas e apóstolos tiveram em seus corações
“gravada a firme certeza da doutrina, de sorte que fossem persuadidos e
15
compreendessem que procedera de Deus o que haviam aprendido”.
13
Gerard Van Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento, Campinas, SP.: Luz para o
Caminho, 1995, p. 64-65. Veja-se também: J. Gresham Machen, Cristianismo e Liberalismo, São
Paulo: Os Puritanos, 2001, p. 78-79.
14
João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (2Tm 3.16), p. 262.
15
João Calvino, As Institutas, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985, I.6.2. Em outro lugar: “Eis
aqui o princípio que distingue nossa religião de todas as demais, ou seja: sabemos que Deus
nos falou e estamos plenamente convencidos de que os profetas não falaram de si próprios,
mas que, como órgãos do Espírito Santo, pronunciaram somente aquilo para o qual foram
do céu comissionados a declarar. Todos quantos desejam beneficiar-se das Escrituras de-
vem antes aceitar isto como um princípio estabelecido, a saber: que a lei e os profetas não
são ensinos passados adiante ao bel-prazer dos homens ou produzidos pelas mentes huma-
nas como uma fonte, senão que foram ditados pelo Espírito Santo” [João Calvino, As Pasto-
rais, (2Tm 3.16), p. 262]. Do mesmo modo: João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakle-
tos, 2000, Vol. 1, p. 29; John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book
House Company, 1996 (Reprinted), Vol. 2 (Preface), p. 14; (Ex 3.1), p. 59; Vol. XVII (Jo) (Argument),
p. 22; João Calvino, As Institutas, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1989, IV.8.6). Em outro lugar
Calvino diz que os Apóstolos foram “certos e autênticos amanuenses do Espírito Santo” (As Insti-
tutas, IV.8.9). No entanto, devemos entender que Calvino usa esta expressão não para sustentar o
“ditado” divino, mas sim, para demonstrar que os Apóstolos não criaram de sua própria imaginação a
sua mensagem, antes, a receberam diretamente do Espírito. Ou seja, ele se refere ao resultado do
registro, não ao processo em si. Entendia que Moisés escreveu os cinco livros da Lei “não somente
sob a orientação do Espírito do Deus, mas porque Deus mesmo os tinha sugerido, falando-
lhe com palavras de sua própria boca” [John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Mi-
chigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), Vol. III, (Ex 31.18), p. 328. Vejam-se também:
John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996
(Reprinted), Vol. X (Jr 36.28), p. 352]. Veja-se uma boa exposição sobre este ponto em: B.B. Warfield,
Calvin and Calvinism, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House (The Work’s of Benjamin B. War-
field), 2000 (Reprinted), Vol. V, p. 63ss.; Edward J. Young, Thy Word Is Truth, Grand Rapids, Michi-
gan: Eerdmans, 1957, p. 66-67; Wilson Castro Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, Campi-
nas, SP.: Luz para o Caminho, 1985, p. 356-257; David L. Puckett, John Calvin’s Exegesis of the Old
Testament, Louisville, Kentucky: Westminster John Knox Press (Columbia series Reformed Theologi-
cal), 1995, p. 25ss. Curiosamente, o Concílio de Trento, na sua quarta sessão (08/04/1546), usa esta
expressão para as Escrituras: “Spiritu Sancto dictante” (Ver: P. Schaff, The Creeds of Christendom, 6ª
ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (Revised and Enlarged), 1977, Vol. II, p. 80; Robert
Laird Harris, Inspiração e Canonicidade da Bíblia, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 18 e 306).
Sola Scriptura – Rev. Hermisten – 6
16
David L. Puckett, John Calvin’s Exegesis of the Old Testament, Louisville, Kentucky: Westminster
John Knox Press (Columbia series Reformed Theological), 1995, p. 27.
Numa linha semelhante, resume Crampton:
“A visão que Calvino mantinha sobre os autores da Escritura é que o Espírito Santo agiu
neles em um caminho orgânico, em acordo com suas próprias personalidades, caráter,
temperamentos, dons e talentos. Cada autor escreveu em seu próprio estilo, e todos eles fo-
ram movidos pelo Espírito Santo para escreverem a verdade infalível. Realmente cada estilo
de autor foi nele mesmo produzido pela providência de Deus” (W. Gary Crampton, What Calvin
Says, Maryland: The Trinity Foundation, 1992, p. 23).
17
Ver João Calvino, As Institutas, I.8.10-12.
18
João Calvino, Efésios, São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 3.3), p. 86.
19
Ver L. Boettner, A Inspiração das Escrituras, Lisboa: Papelaria Fernandes, (s.d), p. 11; Edwin A.
Blum, The Apostles´ of Scripture: In: Norman L. Geisler, ed. Inerrancy, Grand Rapids, Michigan: Zon-
dervan Publisching House, 1980, p. 50,51. Ver uma boa discussão sobre o argumento de Paulo in
John Calvin, Commentaries on The Epistles of Paul to the Galatians and Ephesians, (Calvin´s Com-
mentaries) Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1996 (Repinted), Vol. XXI, p. 94-96; G. Hen-
driksen, Gálatas, Grand Rapids, Michigan: Subcomision Literatura Cristiana de la Iglesia Cristiana Re-
formada, 1984, p. 142-145.
20
Ver Cornelius Van Til, Na Introduction to Systematic Theology, Phillipsburg, New Jersey: Presbyte-
rian and Reformed Publishing Co., 1974, p. 152.
Sola Scriptura – Rev. Hermisten – 7
17.17; Rm 10.17; Cl 1.3-6; 1Pe 1.23). É através da Palavra que Deus gera os seus
21
filhos espirituais.
A. Os Profetas:
1) Os profetas são descritos como aqueles através dos quais Deus fala (Ex
7.1; Dt 18.15,18; Jr 1.9; 7.1). O Profeta não criava nem adaptava a mensagem; a ele
competia transmiti-la como havia recebido (Ex 4.30; Dt 4.2,5). O que se exige do
Profeta é fidelidade.
B. Os Apóstolos:
21
Ver J. M. Boice, O Pregador e a Palavra de Deus: In: J.M. Boice, ed. O Alicerce da Autoridade Bí-
blica, São Paulo: Vida Nova, 1982, p. 162.
Sola Scriptura – Rev. Hermisten – 8
C. Jesus Cristo:
22
Vd. J. Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo: Paracletos, 1997, (Rm 8.16), p. 279.
23
Vd. J. Calvino, As Institutas, I.7.4-5 e I.8.13.
Sola Scriptura – Rev. Hermisten – 9
Uma Igreja que não aceite a inspiração e a inerrância bíblica, não poderá ser uma
24
igreja missionária. Como poderemos pregar a Palavra se não estivermos confian-
tes do sentido exato do que está sendo dito? Como evangelizar se nós mesmos não
temos certeza, se o que falamos procede da Palavra de Deus ou, está embasado
numa falácia?
24
Não faço aqui nenhuma distinção entre “missão” e “evangelização” (Vd. R.B. Kuiper, Evangelização
Teocêntrica, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976, p. 1). Orlando E. Costa, que
diz haver uma confusão entre os termos, assim os distingue: “Missão e evangelismo são, pois, dois
lados da mesma moeda. A moeda é Deus (Sic) e Sua atividade redentora em favor de toda
a humanidade. Evangelismo é o anúncio dessa obra; missão é o mandamento que nos
compele a pôr em ação esse anúncio” (Orlando E. Costas, La Iglesia e Su Mision Evangelizado-
ra, Buenos Aires: La Aurora, 1971, p. 27). O autor acrescenta, de forma acertada, que a distinção e-
quivocada entre “missão” e “evangelização, tem levado a Igreja a ter uma visão unilateral de missão:
ou apenas no exterior, esquecendo-se do seu âmbito local, ou apenas local em detrimento daquela.
(Vd. Ibidem., p. 33ss). Neste sentido, vejam-se as pertinentes observações de Francis A. Schaeffer
(F. A. Schaeffer, Forma e Liberdade na Igreja: In: A Missão da Igreja no Mundo de Hoje, São Pau-
lo/Belo Horizonte, MG.: ABU/Visão Mundial, 1982, p. 222).
25
Billy Graham, Por que Lausanne?: In: A Missão da Igreja no Mundo de Hoje, p. 20.
26
“Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecado-
res, dos quais eu sou o principal” (1Tm 1.15). “Fiel é esta palavra e digna de inteira aceitação” (1Tm
4.9). “Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado.
Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guar-
dada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos
quantos amam a sua vinda” (2Tm 4.6-8).
27
Veja-se: John H. Jowett, O Pregador, Sua Vida e Obra, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana,
1969, p. 97.
28
C.H. Spurgeon, Firmes na Verdade, Lisboa: Edições Peregrino, 1990, p. 85. Alhures, Spurgeon,
nos diz: “O verdadeiro ministro de Cristo sabe que o verdadeiro valor de um sermão está,
não em seu molde ou modo, mas na verdade que ele contém. Nada pode compensar a
ausência de ensino; toda retórica do mundo é apenas o que a palha é para o trigo, em
contraste com o evangelho da nossa salvação. Por mais belo que seja o cesto do semea-
dor, é uma miserável zombaria, se estiver sem sementes” (Lições aos Meus Alunos, São Paulo:
Publicações Evangélicas Selecionadas, 1982, Vol. II, p. 88).
Sola Scriptura – Rev. Hermisten – 10
A Eva, ele diz: “É assim que Deus disse: não comereis de toda árvore do jardim?”
(Gn 3.1). Ora, Deus não tinha dito isto; ao contrário; de toda a árvore o homem po-
deria comer exceto uma: a árvore do conhecimento do bem e do mal. No entanto,
usando palavras semelhantes ele diz coisas bem diferentes. Na insinuação satânica
havia a tentativa de dizer que Deus era mentiroso e que, portanto não deveria ser
obedecido. Eva cedeu; duvidou da Palavra de Deus e consequentemente do Deus
da Palavra.
A Jesus, com fome no deserto, ele usa da mesma estratégia, dizendo: “Se és Fi-
lho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pão” (Mt 4.3).
O seu desejo é fazer com que Jesus duvide da Sua filiação divina ou, que tente
prová-la, sucumbindo assim, à tentação. Aliás este foi um desafio comum a Jesus
Cristo: usar de Seu poder eterno para fazer o que desejasse; no entanto, em tudo
Ele se submeteu ao Pai conforme o pacto eterno (Mt 26.29; Jo 8.28, 29,42; 17.1-6).
Não satisfeito com a resposta de Jesus, Satanás continua: “Se és Filho de Deus,
atira-te abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito; que te
guardem; e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra”
(Mt 4.6).
Mais tarde, na sua crucificação, o mesmo tipo de tentação é feito ao Senhor Je-
sus: “E foram crucificados com ele dois ladrões, um à sua direita, e outro à sua es-
querda. Os que iam passando blasfemavam dele, meneando a cabeça e dizendo: Ó
tu que destróis o santuário e em três dias o reedificas! Salva-te a ti mesmo, se és Fi-
lho de Deus, e desce da cruz! De igual modo, os principais sacerdotes, com os es-
cribas e anciãos, escarnecendo, diziam: Salvou os outros, a si mesmo não pode sal-
var-se. É rei de Israel! Desça da cruz, e creremos nele. Confiou em Deus; pois ve-
nha livrá-lo agora, se, de fato, lhe quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus” (Mt
27.38-43) (Mc 15.30-32).
29
Vejam-se: D. Martyn Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores, São Paulo: Fiel, 1984, p. 9-10; James
M. Boice, O Pregador e a Palavra de Deus: In: J.M. Boice, ed. O Alicerce da Autoridade Bíblica, São
Paulo: Vida Nova, 1982, p. 143-167; J.C. Ryle, A Inspiração das Escrituras, São Paulo: Publicações
Evangélicas Selecionadas, (s.d.), p. 15.
30
Veja-se: Hermisten M. P. Costa, O Pai Nosso, São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
Sola Scriptura – Rev. Hermisten – 11
O alvo constante de Satanás é a Palavra de Deus. Ele procura tirá-la de nós, ou,
senão, dar-nos uma visão distorcida do seu teor. Como bem disse Bonhoeffer (1906-
1945): “A fraude, a mentira do diabo consiste na sua tentativa de fazer o
34
homem acreditar que poderia viver sem a Palavra de Deus”.
Com este propósito ele também age através de falsos mestres, dizendo-nos que
pode nos levar à verdade plena... Foi isto que ocorreu na Igreja de Corinto: os falsos
mestres usados por Satanás fizeram muitos crentes acreditarem que o Apóstolo
Paulo era desprezível, portanto, não poderia dar-lhes ensinamento profundo. Nós
sabemos quanto sofrimento isto trouxe à Igreja e a Paulo; quanta dor e desvios dou-
trinários e consequentemente um distanciamento de Deus. Satanás sempre objetiva
nos afastar de Deus e, quando damos crédito às suas insinuações, ele consegue o
seu objetivo.
Calvino orienta-nos:
31
Bonhoeffer, com argúcia, disse que “Também Satanás sabe empregar a Palavra de Deus
como arma na luta” (D. Bonhoeffer, Tentação, Porto Alegre, RS.: Editora Metrópole, 1968, p. 52).
32
Outro mal contemporâneo é aquilo que MacArthur chama de “teologia da auto-estima” e “psi-
cologia da auto-estima” (Ver: John MacArthur Jr., Sociedade sem Pecado, São Paulo: Editora Cul-
tura Cristã, 2002, p. 74ss).
33
João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 6.4), p. 151-152.
34
D. Bonhoeffer, Tentação, p. 60.
Sola Scriptura – Rev. Hermisten – 12
“Visto que Satanás está diariamente fazendo novos assaltos contra nós,
é necessário que recorramos às armas, e é mediante a lei divina que so-
mos munidos com a armadura que nos capacita a resistir. Portanto, quem
quer que deseje perseverar em retidão e integridade de vida, então que
aprenda a exercitar-se diariamente no estudo da Palavra de Deus; pois,
sempre que alguém despreze ou negligencie a instrução, o mesmo cai fa-
cilmente em displicência e estupidez, e todo o temor de Deus se desva-
35
nece em sua mente”.
A Igreja prega o Evangelho, consciente de que Ele é o poder de Deus para a sal-
36
vação dos que crêem (Rm 1.16); por isso, recusar o Evangelho significa rejeitar o
37
próprio Deus que nos fala (1Ts 4.8). Comentando Rm 1.16, Calvino diz que aque-
les que se recusam ouvir “a Palavra proclamada estão premeditadamente re-
jeitando o poder de Deus e repelindo de si a mão divina que pode libertá-
38
los”. A Igreja proclama a Palavra, não as suas opiniões a respeito da Palavra,
consciente que Deus age através das Escrituras, produzindo frutos de vida eterna
39
(Rm 10.8-17; 1Co 1.21; 1Co 15.11; Cl 1.3-6; 1Ts 2.13-14). A Igreja por si só não
35
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 1, (Sl 18.22), p. 383. “Nada
é mais solicitamente intentado por Satanás do que impregnar nossas mentes, ou com dúvi-
das, ou com menosprezo pelo evangelho” [João Calvino, Efésios, São Paulo: Paracletos, 1998,
(Ef 1.13), p. 35].
36
“Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele
que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1.16).
37
“Dessarte, quem rejeita estas coisas não rejeita o homem, e sim a Deus, que também vos dá o seu
Espírito Santo” (1Ts 4.8).
38
João Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo: Paracletos, 1997, (Rm 1.16), p. 58.
39
“Porém que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé
que pregamos. Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que
Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a
boca se confessa a respeito da salvação. Porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nele crê não
será confundido. Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de to-
dos, rico para com todos os que o invocam. Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será
salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada
ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como
está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! Mas nem todos obedeceram
ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? E, assim, a fé vem pela
pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10.8-17). “Visto como, na sabedoria de Deus, o
mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura
da pregação” (1Co 1.21). “Portanto, seja eu ou sejam eles, assim pregamos e assim crestes” (1Co
15.11). “Damos sempre graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, quando oramos por vós,
desde que ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus e do amor que tendes para com todos os santos; por
causa da esperança que vos está preservada nos céus, da qual antes ouvistes pela palavra da ver-
dade do evangelho, que chegou até vós; como também, em todo o mundo, está produzindo fruto e
crescendo, tal acontece entre vós, desde o dia em que ouvistes e entendestes a graça de Deus na
verdade” (Cl 1.3-6). “Outra razão ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é que,
tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de
homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmen-
te em vós, os que credes. Tanto é assim, irmãos, que vos tornastes imitadores das igrejas de Deus
existentes na Judéia em Cristo Jesus; porque também padecestes, da parte dos vossos patrícios, as
mesmas coisas que eles, por sua vez, sofreram dos judeus” (1Ts 2.13-14).
Sola Scriptura – Rev. Hermisten – 13
40
produz vida, todavia ela recebeu a vida em Cristo (Jo 10.10) através da Sua Pala-
vra vivificadora; deste modo, ela ensina a Palavra, para que pelo Espírito de Cristo,
que atua mediante as Escrituras, os homens creiam e recebam vida abundante e e-
terna.
A Igreja anuncia a Palavra crendo na Sua autenticidade, sabendo que Ela é a Pa-
lavra de Deus, poderosa para a salvação de todo aquele que crê. Quando anuncia-
mos o Evangelho podemos ter a certeza de que Deus cumpre a Sua Palavra. Sem
esta convicção não há lugar para a pregação eficaz.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Paulo dá graças a Deus pelo fato dos tessalonicenses terem recebido com dis-
cernimento a Palavra proclamada, a qual era procedente de Deus: “Outra razão ain-
da temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido
(paralamba/nw) a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes
43
44
(de/xomai) não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de
Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes” (1Ts
40
“O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em
abundância” (Jo 10.10).
41
Uma das formas sutis de desviar a nossa atenção deste ponto é dizer-nos que este assunto não é
algo realmente sério (Ver Gleason L. Archer, Enciclopédia de Dificuldades Bíblicas, São Paulo: Vida,
1997, p. 30).
42
John F. MacArthur, Os Carismáticos, São Paulo: Fiel, 1981, p. 19. Ver também, J. I. Packer, Con-
frontando os Conceitos dos Nossos Dias Acerca da Escritura: In: J.M. Boice, ed. O Alicerce da Autori-
dade Bíblica, p. 76,77.
43
Tem o sentido pessoal de tomar para si, levar consigo, tomar posse. É o próprio Senhor quem es-
colhe três discípulos para Se revelar (Mt 17.1; 20.17; 26.37/Mc 5.40). Ele mesmo, o Senhor Jesus nos
receberá no céu (Jo 14.3/Mt 24.40).
44
Tem também o sentido de “receber”, “aceitar”, “aprovar”. Estevão sendo apedrejado ora: “.... Se-
nhor Jesus, recebe (de/xomai) o meu espírito!” (At 7.59).
Sola Scriptura – Rev. Hermisten – 14
45
2.13/1Ts 1.6). Os tessalonicenses ativamente “tomaram posse da Palavra” (para-
lamba/nw) que ouviram e, num ato subseqüente, a receberam de forma prazerosa
em seus corações (de/xomai). O receber pode ser um ato ou processo mais imedia-
to; porém, o acolher envolve um processo de assimilação prazerosa, compreensão,
aplicação e obediência.
Quando Satanás tentou a Jesus durante os seus quarenta dias de jejum e oração
no deserto, dizendo: "Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem
em pães" (Mt 4.3), Jesus Cristo, recorrendo ao Livro de Deuteronômio, capítulo 8,
verso 3, respondeu: "Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que pro-
cede de Deus” (Mt 4.4). Notemos que esta afirmação torna-se ainda mais dramática
se considerarmos o fato de que Jesus estava à beira da inanição, sendo induzido a
pensar que caso não comesse imediatamente poderia morrer.
45
“Com efeito, vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido (de/xomai) a palavra,
posto que em meio de muita tribulação, com alegria do Espírito Santo” (1Ts 1.6).
46
João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 4.2), p. 101.
47
“Porque também a nós foram anunciadas as boas-novas, como se deu com eles; mas a palavra
que ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela fé naqueles que a ouviram”
(Hb 4.2).
48
“Mal”, “malícia”, “maldade”, “impiedade”, “depravação”, “vício”, “malignidade”. A palavra em alguns
textos significa uma depravação mental de onde decorrem todos os outros vícios; ela tem de modo
especial um sentido ético. * Mt 6.34; At 8.22; Rm 1.29; 1 Co 5.8; 14.20; Ef 4.31; Cl 3.8; Tt 3.3; Tg
1.21; 1 Pe 2.1,16. Na literatura clássica a palavra tinha o sentido de “vício” e “injustiça” (Vd. Platão, A
República, 444e; Platão, Fedro, 248b; Aristóteles, Arte Retórica, II.12; Aristóteles, Ética à Nicômaco,
VII.1.15; Xenofonte, Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates, II.1.21). Calvino (1509-1564) comentan-
do o uso da palavra em Ef 4.31, diz: “Por esse termo ele quer dizer que a depravação da men-
te, a qual é oposta ao espírito humano e à probidade, e a qual é usualmente chamada ma-
lignidade” (J. Calvino, Efésios, p. 149).
49
Esta palavra só ocorre neste texto em todo o Novo Testamento.
Sola Scriptura – Rev. Hermisten – 15
vas criaturas que somos. A Bíblia é o instrumento eficaz do Espírito, porque ela foi
inspirada pelo Espírito Santo (2Pe 1.21).
Jesus orou ao Pai para que Ele nos santificasse na Verdade, que é a Sua Pala-
vra. Meus irmãos, se quisermos crescer espiritualmente temos de recorrer à Palavra
vivificada de Cristo; somente ela pode nos tornar sábios para a salvação mediante a
fé depositada unicamente em Jesus Cristo (2Tm 3.15). Com este propósito ela foi-
nos concedida (Rm 15.4).
Nós somos herdeiros dos princípios bíblicos da Reforma; para nós, como para os
Reformadores, a Palavra de Deus é a fonte autoritativa de Deus para o nosso pen-
sar, crer, sentir e agir. Portanto, para nós Reformado permanece o Sola Scriptura: a
Bíblia como sendo a única autoridade infalível. A Palavra, concedida e preservada
por Deus, é-nos suficiente para toda e quaisquer de nossas necessidades.