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COLÉGIO SALESIANO

SANTA TERESINHA

O MODERNISMO EM FERNANDO PESSOA

Iago Gonçalves

Nº 13 3ºD

São Paulo

2015
IAGO GONÇALVES

O MODERNISMO EM FERNANDO PESSOA

Trabalho de Aproveitamentos apresentado ao


Colégio Salesiano Santa Teresinha, como parte da
avaliação (AP2) do segundo trimestre de Língua
Portuguesa.

Orientador (a): Prof.ª Maria Isabel

São Paulo

2015
Sumário

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4
2. HISTÓRIA DO MODERNISMO PORTUGUÊS ................................................. 5
3. BIOGRAFIA DE FERNANDO PESSOA ............................................................ 6
4. HETERONÍMIA EM FERNANDO PESSOA ...................................................... 8
5. APRESENTAÇÃO DOS PRINCIPAIS HETERÔNIMOS DE FERNANDO
PESSOA ....................................................................................................................... 10
5.1 FERNANDO PESSOA – O ORTÔNIMO .................................................. 10
5.2 ALBERTO CAEIRO ..................................................................................... 12
5.3 Ricardo Reis ................................................................................................. 15
5.4 ÁLVARO DE CAMPOS ............................................................................... 17
6. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 21
7. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 22
1. INTRODUÇÃO

O modernismo foi um período onde a arte e a literatura buscavam a


quebra dos padrões clássicos. Em meio a críticas da mídia conservadora, os
escritores, poetas e artistas que seguiram essa vertente, não obtiveram sucesso
financeiro ou reconhecimento enquanto modernistas.

Nesse contexto surgiram as vanguardas europeias, marcadas pela


agressividade, a inovação e a afronta aos movimentos tradicionais. Na poesia
dos grandes nomes do modernismo, é evidente a presença de características de
vanguardas como o Cubismo, o Futurismo, o Dadaísmo e o Surrealismo.

Fernando pessoa participou da primeira geração do modernismo,


introduziu o movimento em Portugal, e é considerado um dos maiores poetas do
país. Ele é reconhecido pelos seus heterônimos, cada um com seu próprio estilo
e personalidade. Dentre eles os mais notáveis são Alberto Caeiro, Ricardo Reis
e Álvaro Campos.
2. HISTÓRIA DO MODERNISMO PORTUGUÊS
Durante o início do séc. XX, havia uma inercia na arte tradicional, a
literatura e a arte seguiam padrões estabelecidos há tempos, e não havia
perspectiva de mudança. O modernismo foi um movimento de quebra desse
marasmo.

A Europa passava por um período de grande instabilidade interna, crises


e greves eram constantes, causadas pelo início da Primeira Guerra Mundial. Em
Portugal, outro motivo agravante foi a queda da monarquia, em 1910. Gerando
na sociedade um sentimento de inconformidade. Essa sensação foi um dos
principais motivos que levaram ao surgimento de uma vertente agressiva e
polêmica como o modernismo.

Primeiro surgiram as vanguardas artísticas europeias, que originaram o


movimento literário modernista. Esse período trouxe uma atitude irreverente e
desbravadora para a arte, combatendo os movimentos presentes até então. Ele
foi recebido com repúdio pelos conservadores, e muitos nomes do movimento
morreram antes mesmo de atingirem o reconhecimento.
3. BIOGRAFIA DE FERNANDO PESSOA
“Os poetas não têm biografia. Sua obra é sua biografia. (...) Nada em sua
vida é surpreendente – nada, exceto seus poemas”. (OCTAVIO PAZ. In: Poemas
completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa – texto integral, 2006).

Nascido no dia 13 de junho de 1888, em Lisboa, Portugal. Teve uma


infância conturbada, perdeu o pai aos 5 anos de idade. Seu padrasto – João
Miguel Rosa – foi nomeado cônsul de Portugal em Durban na África do Sul,
Fernando Pessoa acompanhou a família na África, e viveu lá até boa parte de
sua adolescência, estudou em um colégio de freiras e na Durban High School,
recebendo educação inglesa.

Em 1901 já havia escrito seus primeiros poemas em inglês. Em 1902 sua


família retornou para Lisboa, mas Fernando volta para a África em 1903 e
participa de uma seleção para a Universidade do Cabo da Boa Esperança. Em
1905 volta a Lisboa e matricula-se na Faculdade de Letras, onde cursou Filosofia
até 1907 quando abandonou o curso. Sua estreia como crítico literário aconteceu
em 1912.

Em 1915, junto com outros intelectuais como Mário de Sá Carneiro e


Almada Negreiros. Fundou a revista Orfeu que deu visibilidade aos poemas
modernistas. Os poemas publicados escandalizaram a sociedade conservadora
da época, e causaram reações negativas contra a revista e Fernando Pessoa,
dentre eles é possível destacar “Ode Triunfal” e “Opiário”, escritos por “Álvaro de
Campos”, um dos muitos heterônimos de Fernando.

Fernando Pessoa foi vários poetas ao mesmo tempo. Ele criou vários
poetas, cada um com sua história de vida, modo de pensar e personalidade.
Seus heterônimos foram o maior motivo de seu reconhecimento - mas esse não
chegou enquanto Fernando ainda estava vivo – cada um de seus heterônimos
representava suas angustias e os seus encantos.

Fernando mostrou uma pequena parcela do seu trabalho em vida, suas


obras publicadas em vida foram: 35 Sonnets, 1918; Antinous, 1918; English
Poems, I, II e III, 1921; e Mensagem, 1934. Com a obra “Mensagem” Fernando
se candidatou ao prêmio de poesia do Secretariado Nacional de Informações de
Lisboa e ficou em segundo lugar.

Fernando Pessoa faleceu em Lisboa, com 47 anos de idade, vítima de


uma cólica hepática causada por um cálculo biliar associado a cirrose hepática,
esse diagnostico atualmente é contestado por inúmeros médicos.
4. HETERONÍMIA EM FERNANDO PESSOA
Fernando Pessoa ganhou reconhecimento pelos seus heterônimos, isto
é, autores fictícios que possuem personalidade e uma história de vida. Ao longo
da vida.

A origem dos heterônimos de Pessoa, foi explicada à Casais Monteiro em


uma carta publicada em 1937, na revista Presença, após a morte do autor.
Fernando atribuiu o surgimento de seus heterônimos, em parte, aos fundos
traços de histeria presentes em sua personalidade.

Começo pela parte psiquiátrica. A origem dos meus heterónimos é o


fundo traço de histeria que existe em mim. Não sei se sou
simplesmente histérico, se sou, mais propriamente, um
histeroneurasténico. Tendo para esta segunda hipótese, porque há em
mim fenómenos de abulia que a histeria, propriamente dita, não
enquadra no registo dos seus sintomas. Seja como for, a origem mental
dos meus heterónimos está na minha tendência orgânica e constante
para a despersonalização e para a simulação. (PESSOA, 1937, p. 2.).

A necessidade orgânica de criar outras realidades, não foi o único fator


que levou a origem dos heterônimos de Fernando. Desde de criança Pessoa já
criava mundos fictícios, e o passar dos anos não influenciou essa característica
do autor.

Desde criança, tive a tendência para criar em meu torno um mundo


fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram.
(Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que
não existo. Nestas coisas, como em todas, não devemos ser
dogmáticos.) Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo
eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos,
carácter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis
e minhas como as coisas daquilo a que chamamos, porventura
abusivamente, a vida real. Esta tendência, que me vem desde que me
lembro de ser um eu, tem-me acompanhado sempre, mudando um
pouco o tipo de música com que me encanta, mas não alterando nunca
a sua maneira de encantar. (PESSOA, 1937, p.2).
O nascimento de um heterônimo por vezes não era intencional, ou até
mesmo percebido, eles simplesmente surgiam e Fernando adaptava as suas
realidades, dava-os nome e história.

Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à ideia
escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas coisas em verso
irregular (não no estilo Álvaro de Campos, mas num estilo de meia
irregularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa
penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer
aquilo. (Tinha nascido, sem que eu soubesse, o Ricardo Reis.).
(PESSOA, 1937, p. 3.)

Ano e meio, ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma


partida ao Sá-Carneiro – de inventar um poeta bucólico, de espécie
complicada, e apresentar-lho, já me não lembro como, em qualquer
espécie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada
consegui. Num dia em que finalmente desistira – foi em 8 de Março de
1914 – acerquei-me de uma cómoda alta, e tomando um papel,
comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi
trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não
conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter
outro assim. Abri com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que
se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde
logo o nome de Alberto Caeiro. (PESSOA, 1932, p. 3.)

A heteronímia era parte de Fernando Pessoa, uma forma de ver o mundo de


vários ângulos diferentes. Não era uma escolha escrever como Alberto Caeiro
ou Ricardo Reis, era uma necessidade de Fernando.
5. APRESENTAÇÃO DOS PRINCIPAIS
HETERÔNIMOS DE FERNANDO PESSOA
A arte de Fernando Pessoa foi mostrada através de seus heterônimos,
cada um possuía biografia, estilo, ideais, e o opiniões próprias, eram diferentes
uns dos outros. Ao longo de sua vida Fernando criou mais de 70 heterônimos,
alguns dos quais foram desenvolvidos completamente e outros que foram
esquecidos ou deixados de lado.

Dentre todos as personalidades criadas pelo autor, os principais e mais


marcantes foram: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Esses três
serão apresentados a seguir.

5.1 FERNANDO PESSOA – O ORTÔNIMO


Fernando Antônio Nogueira Pessoa, sua poesia possuía um forte traço
nacionalista. Tinha um gosto pelo épico, e suas obras – “Mensagem”, por
exemplo – eram repletas de retomadas ao tempo das grandes conquistas de
Portugal, como as Grandes Navegações, e é notável um certo traço saudosista
em seus textos.

Mas também no livro Cancioneiro, sua poesia apresenta outra forma. Ele
mostra a dor em seus poemas, não só a dor real, mas a dor imaginária, isto é,
para Fernando, não há arte sem a imaginação, a sua poesia é cheia de tentativas
de evasão para a dor, o sonho, o refúgio na infância, a crença em um mundo
perfeito e oculto.

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,


Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
(Antologia Poética, 2001, p. 25).

Nesse poema existe a síntese do pensamento de Pessoa sobre a gênese


da poesia. “ O poeta é um fingidor ”, isto é, somente a dor real não basta para
uma poesia, o fingimento, a imaginação dela expressa em linguagem poética, é
o que eleva o sentimento à arte.

Para o poeta a dor imaginária se torna mais autêntica que a real. “chega
a fingir que é dor/a dor que deveras sente”, esse trecho mostra como a realidade
se funde com o plano imaginário na mente do poeta.

Na segunda estrofe do poema, o poeta diz que o leitor não sente a dor
real do poeta, nem a dor imaginada pelo poeta, e nem mesmo a dor que o leitor
possui. Somente a dor que ele não tem, a dor que é interpretada por cada leitor
de um jeito diferente ao ler o poema.

Ou seja, há na segunda estrofe referência a quatro dores: a dor do poeta,


a dor imaginada pelo poeta, a dor do leitor, e a dor proveniente da leitura do
poema.

Na terceira estrofe do poema, há uma conclusão que o coração


(sentimento) é somente uma forma de entreter a razão. Nesse final há um
contraste que representa o processo de criação de um poema, o sentimento (de
onde o poema nasce), e a razão (a imaginação que eleva o sentimento a arte).

O título “ Autopsicografia “ remete à forma que o poeta passou para


entender como funciona o processo de criação de um poema. Fernando Pessoa
verificou o processo de criação em si próprio, e aplica o que viu em si como uma
verdade universal, ou seja, ele considera o processo aplicável em todo
verdadeiro poeta.

Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal


São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar


Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quere passar além do Bojador


Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
(PESSOA, Fernando. Mensagem. Lisboa: 1934)

Esse poema aborda a desgraça e a gloria do povo português. Nos dois


primeiros versos o poema faz uma referência às desgraças causadas pelo mar.
Muitos marinheiros morrem nas navegações seja por naufrágio ou por conflitos
com índios.
No restante da primeira estrofe e nos primeiros versos da segunda, ele
mostra os sacrifícios feitos pelas famílias dos navegadores para a conquista do
mar. E em seguida ele questiona se valeu a pena submeter um povo a essas
desgraças. E responde a si próprio que sim, pois o ser humano possui uma alma
de enorme potencial. Para o poeta toda vitória significa ultrapassar a dor, e que
a grande dor é o preço para grande gloria como é possível observar nos versos
“Deus ao mar o perigo e o abismo deu / Mas nele é que espelhou o céu. ”

5.2 ALBERTO CAEIRO


Alberto Caeiro foi o “Mestre” dos heterônimos. Sua poesia foi a que mais
se assemelhava com a de Fernando Pessoa, e os outros admiravam-no,
inclusive foi considerado mestre pelo próprio ortônimo.
Nascido em 16 de abril de 1889, Caeiro era órfão de pai e mãe e viveu a
vida toda no campo com sua tia. Alberto defende a simplicidade da vida, sua
poesia aparenta ser a mais simples, mas contém uma profunda complexidade
filosófica.
Para ele as coisas eram como eram – objetivas – não havia a necessidade
de pensar. O que importava era viver o mundo, estar nele presente, sem
interrogar-se do porquê de estar ali. Entretanto tendo a consciência do que se
está e do que se é, como expressado no poema “Dizes-me”.
Para Caeiro, o maior objetivo da vida era aprender a não pensar, silenciar
a mente, a vida deveria ser somente o contato direto com a realidade à frente,
palpável. Sua vida era o puro sentir, como expressado no poema “XXIV”, de “O
Guardador de Rebanhos”.
A poesia de Alberto questionava conceitos, religião e ideologias que o
homem utilizava para vestir a sociedade. Libertar-se do poder de significador é
o conhecimento real e a verdade universal para o Mestre.

Dizes-me

Dizes-me: tu és mais alguma cousa


Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm idéias sobre o mundo?
Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas:
Só me obriga a ser consciente.

Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.


Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.

Ter consciência é mais que ter cor?


Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.

Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.


Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.

Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.


Sim, faço idéias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,

Como que sou inferior.


Mas não digo isso: digo da pedra, "é uma pedra",
Digo da planta, "é uma planta",
Digo de mim, "sou eu".
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?
(Poemas completos de Alberto Caeiro, 2006, p. 109).

Esse poema aborda como é o pensar do ser humano. Na primeira estrofe


mostra que apesar de ter consciência de estar vivo, e de ser um homem, isso
não o obriga a ter teorias sobre as coisas. Para o Mestre as coisas simplesmente
são como elas são, ele um homem, a pedra uma pedra, e a planta uma planta.
Na curta segunda estrofe Caeiro questiona se ele é mais que uma pedra
ou uma planta, e mostra que ele somente é diferente. Ele não sabe o que é mais
ou o que é menos.
Ninguém pode provar a superioridade de algo, somente a diferença.
Caeiro faz poemas pois é poeta, a planta e a pedra não, pois não são. Segundo
ele isso não quer dizer que elas são inferiores, ou superiores, elas somente são
o que são.
Ou seja, para Alberto nada é mais do que é, e não há mais nada a dizer, pois só
se sabe o que os sentidos mostram.

XXIV

O que nós vemos das coisas são as coisas.


Porque veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Porque é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?

O essencial é saber ver,


Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.

Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),


Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.
(Poemas completos de Alberto Caeiro, 2006, p. 63).

Nesse poema, o autor constata que as coisas são o que vemos. Se


houvesse outro significado oculto dentro de algo, nossa visão não seria nada
mais do que uma ilusão. Esse pensamento reflete o sentir, que é essencial para
Caeiro.
Alberto diz que para é preciso aprender a desaprender, pois por mais que
digam que uma estrela é uma freira eterna, e uma flor é uma penitente convicta
de só um dia. Uma estrela continua sendo somente uma estrela, assim como
uma flor continua sendo uma flor.

5.3 Ricardo Reis


Ricardo Reis é o heterônimo com um toque clássico de Fernando Pessoa.
Monarquista, apreciador das culturas grega e latina. Com uma poesia refinada,
com linguagem rebuscada.
A busca pelo impossível e o fascínio pelos deuses da mitologia grega são
traços marcantes da sua poesia. Ao contrário do seu Mestre, Ricardo apreciava
os deuses, que segundo ele controlavam o destino dos homens. Mas existem
traços do paganismo de Caeiro em sua poesia, como o não-pensar, o deslumbre
pela natureza e a solidão. Causados pela ideia da inevitabilidade da morte.

Só Esta Liberdade

Só esta liberdade nos concedem


Os deuses: submetermo-nos
Ao seu domínio por vontade nossa.
Mais vale assim fazermos
Porque só na ilusão da liberdade
A liberdade existe.
Nem outro jeito os deuses, sobre quem
O eterno fado pesa,
Usam para seu calmo e possuído
Convencimento antigo
De que é divina e livre a sua vida.

Nós, imitando os deuses,


Tão pouco livres como eles no Olimpo,
Como quem pela areia
Ergue castelos para encher os olhos,
Ergamos nossa vida
E os deuses saberão agradecer-nos
O sermos tão como eles.
(Odes de Ricardo Reis, 1983, p. 93).

Nesse poema o eu-lírico procura alcançar a perfeição dos deuses, ele


considera que os deuses estão acima dos homens, e acima deles o destino.
Também mostra a ideia de que os deuses são como homens mais
aperfeiçoados.
Ele aceita o destino com naturalidade, pois sabe que esse é inevitável, e
não se pode fugir do destino.

Coroai-me de Rosas

Coroai-me de rosas,
Coroai-me em verdade,
De rosas —

Rosas que se apagam


Em fronte a apagar-se
Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
E basta.

Nesse poema há a representação da fragilidade da vida, na natureza. É


uma característica em que Ricardo é similar à seu mestre, ele tem o apego pelo
natural, e aceita que o fim é inevitável e certeiro.

5.4 ÁLVARO DE CAMPOS


Álvaro de Campos foi o mais moderno entre os heterônimos de Fernando
Pessoa. Sua poesia é impulsiva e cheia de emoção, mais voltada para as
modernidades que o mundo apresentava, ao contrário de Caeiro e Reis, que
eram voltados para à natureza. Álvaro então foi o heterônimo mais próximo as
tendências modernistas, com influencias evidentes da geração futurista.
A poesia de Campos possuía linguagem menos rebuscada em relação ao
Reis. A ironia é uma característica de seus poemas, dando a eles um ar
despojado.
A sua poesia pode ser dividida em três períodos.
O primeiro, com tendências simbolistas, com métrica, rima, quadras e
estrofes de quatro versos, já apresentava sinais de insatisfação e amargura.
Essa fase é representada pelo poema Opiário
O segundo, que refletiu a influência futurista do poeta, seus poemas não
tinham mais resquícios do simbolismo, e apresentavam versos livres e mais
longos, cheios de oralidade.

O terceiro período foi cheio de descontentamento com a vida e com o


mundo, com traços surrealistas. Os temas retratavam o inconformismo, a
fragilidade humana, a amargura, e a desilusão.

Lisbon Revisited

NÃO: Não quero nada.


Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!


Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!


Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.


Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?


Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!


Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —


Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...


E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

Nesse poema é representada a terceira fase da poesia de Álvaro de


Campos. Onde se mostra um poeta cansado, que rejeita as modernidades,
querendo somente a solidão e a indiferença
Álvaro aborda a infância como a fase feliz da vida, onde não era
necessário o pensar. É visível o afastamento do poeta à realidade, e uma dor
por não poder recuperar a infância perdida. Não há aceitação em relação aquilo
que ele é.

Não Estou Pensando em Nada

Não estou pensando em nada

E essa coisa central, que é coisa nenhuma,

É-me agradável como o ar da noite,

Fresco em contraste com o verão quente do dia,

Não estou pensando em nada, e que bom!

Pensar em nada

É ter a alma própria e inteira.

Pensar em nada

É viver intimamente

O fluxo e o refluxo da vida...

Não estou pensando em nada.

E como se me tivesse encostado mal.

Uma dor nas costas, ou num lado das costas,

Há um amargo de boca na minha alma:

É que, no fim de contas,


Não estou pensando em nada,

Mas realmente em nada,

Em nada...

(Poesias de Álvaro de Campos, 1983, p. 173).


6. CONCLUSÃO
Fernando Pessoa foi muitos poetas em um só. Viveu sua vida criando
“realidades imaginárias”, como foi possível ver na carta escrita para Casais
Monteiro, desde pequeno a sua histeria fez com que sua mente criasse situações
irreais até um ponto em que a realidade se confundia com a imaginação.

Essa forma de encarar o mundo, foi o que transformou sua poesia em algo
tão vasto e complexo. Mas não é fácil viver com uma mente que constantemente
simula esses fenômenos, os efeitos que isso causou em sua vida só é possível
imaginar. Mas a vida desregrada que Fernando levou com certeza influenciou na
sua morte.

Ver o mundo de vários ângulos pode ter sido maravilhoso para sua poesia,
mas prejudicial para sua vida. O consumo excessivo de álcool que pode ter
levado Pessoa à morte, é um reflexo de uma mente em constante tormento. Isto
é, não é fácil viver com várias personalidades e vidas distintas na sua mente, o
álcool foi uma válvula de escape.

Em meio a constantes fugas da realidade, Fernando viveu uma vida curta,


e esse desdobramento interno pelo qual ele passou por toda a vida, com certeza
causou danos tanto ao seu corpo quanto à qualidade de vida.
7. BIBLIOGRAFIA

(PUCCINI, Ítalo. O Modernismo Português e Fernando Pessoa. MAFUÁ


Revista de Literatura em Meio Digital. Disponível em:
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/mafua/article/view/1451/1169>. Acesso
em: 22 jun. 2015)

(PESSOA, Fernando. Antologia poética. Int. e seleção de Walmir Ayala. 2ª


ed. reform. São Paulo: Ediouro, 2001.)

(Poemas completos de Alberto Caeiro. São Paulo: Martin Claret, 2006.)

(Ficções do interlúdio/4: Poesias de Álvaro de Campos. Rio de Janeiro:


Nova Fronteira, 1983.)

(Ficções do interlúdio/2-3: Odes de Ricardo Reis/3: Para além do outro


oceano de Coelho Pacheco. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.)

(DUARTE, Vânia. Fernando Pessoa e Seus Heterônimos. Disponível


em:<http://www.brasilescola.com/literatura/fernando-pessoa-seus-
heteronimos.htm>. Acesso em: 22 jun. 2015).

(FOGLIATTO, Cleiton. Modernismo em Portugal. Disponível em:


<http://www.coladaweb.com/literatura/modernismo-em-portugal>. Acesso em:
23 jun. 2015)
(Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Autobiográficas . Fernando Pessoa.
Introdução, organização e notas de Antônio Quadros. Lisboa: Publ. Europa-
América, 1986. – 199).

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