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Tag: cracolândia

PPP do novo Hospital Pérola Bying-


ton vai deixar centenas de pessoas
sem teto

Cinco moradoras de pensão que pode ser demolida para construção do novo
hospital de referência em saúde das mulheres foram à Promotoria de Habitação
e Urbanismo, no Ministério Público, na sexta-feira (10/11). Elas procuram
informações sobre o projeto que ronda suas casas desde 2013, e também ajuda
para não terminarem na rua.

Uma de suas vizinhas, Silvana, tem sentido fortes dores de cabeça todos os dias
desde que ouviu dizer que o despejo estaria próximo. Ela vive há 10 anos na
mesma pensão, no Largo Coração de Jesus, em Campos Elíseos. Todos os 19
“quartos” do pequeno prédio estão ocupados, com uma média de três pessoas
por cômodo e um total de cinco crianças. O último aluguel que pagou foi em
novembro de 2016, quando o responsável pela cobrança sumiu. Agora, chegam
cobranças de IPTU que se acumulam e estão com medo de cortarem luz e água.
Ela sabe pouco sobre o projeto para o terreno onde mora. Lembra apenas que
por volta de 2013 homens de calça e camisa social entraram na sua casa, tiraram
fotos e fizeram perguntas do tipo “quantas pessoas vivem aqui”, “quanto você
ganha”. Não anotaram nada, foram embora e nunca mais ouviu falar deles.
Depois, tudo o que soube sobre o projeto foi fofoca. Acha que o imóvel foi
vendido pelo proprietário ao governo do estado em março de 2016. Mesmo
assim, o responsável pela cobrança dos aluguéis, que não era o dono do imóvel
mas possivelmente o locatário oficial, continuou cobrando aluguel dos
moradores até o fim daquele ano. Como o maior proprietário da quadra, uma
empresa que representa fabricantes internacionais de pneus, vai tirar os
equipamentos e esvaziar o lote na próxima sexta-feira (17/11), Silvana teme que
os caminhões também parem na sua porta para levar tudo o que ela tem.

Os vizinhos de Silvana também estão muito preocupados. Fernando, por


exemplo, dono de um bar no mesmo imóvel onde mora com toda a família
desde que chegou de Portugal, ainda criança, em 1959, recebeu um documento
do Tribunal de Justiça do Estado determinando prazo de 30 dias para
“desocupação voluntária”. Ele diz que até seria possível procurar um hotel ou
pensão, caso vivesse só, mas “com criança é diferente”. Hoje, são mais de 20
pessoas dividindo o mesmo teto: irmãs, filhos, netos e sobrinhos de Fernando
que nunca viveram separados. Um suposto oficial de justiça bateu na sua porta
com um mandado de “imissão na posse” exatamente dois meses depois da
última grande operação policial para acabar com a chamada “Cracolândia”, que
aconteceu em maio.

O documento indica que seu imóvel foi desapropriado por “utilidade pública” e
que o valor do bem determinado pela Fazenda do Estado está depositado em
juízo. Ele diz que este dinheiro não é suficiente para resolver a moradia da
família inteira e que para comprar outra coisa é preciso ter dinheiro na mão e
não depositado numa conta inacessível. “Agora é assim, o que é nosso não é
nosso. Tem que sair sem querer, tem que aceitar o dinheiro que eles [o governo]
pagarem”.

Imissão na posse é o processo pelo qual o governo do Estado pretende se


apropriar efetivamente dos imóveis de toda a chamada quadra 36 para demoli-
los e depois construir, em esquema de parceria-público privada (PPP), a nova
sede do Hospital Pérola Byington.

Medo
O decreto de utilidade pública de sua casa foi emitido pelo governador em 2013
(nº 59.217 de 21 de maio). A primeira vez que Fernando ouviu falar desta
ameaça foi há dois anos, depois mais nada. Agora está bastante preocupado.
“Diz que chega um caminhão, encosta e começa a tirar tudo. Acho que isso é
uma crueldade muito grande, chegar e tirar as coisas assim e botar as pessoas
na rua. A gente fica de mãos atadas. 30 dias não dá nem pra encontrar uma
casa”.

Além de Fernando e Silvana, todos os pequenos proprietários, ocupantes e


inquilinos do quarteirão receberam documentos parecidos.

Um pouco mais perto da esquina é o bar do Seu José que está na mira dos
tratores. Ele está nesta quadra há apenas sete meses. Antes, seu bar ficava ali
perto, na Al. Dino Bueno, até ser emparedado pela prefeitura junto com todos os
comércios e quase todas as pensões nas imediações depois da operação policial
contra a “Cracolândia”. “Agora vou viver como passarinho, de galho em
galho?”, comenta no balcão do novo endereço.

Encontramos mais moradores apreensivos na Al. Glete. Renata, que mora ali há
seis anos, se surpreendeu com a ordem para abandonar sua casa junto com os
oito filhos e todos os vizinhos que ocupam os nove cômodos de um edifício
antes abandonado. “Eu achava que ia ser um pouco mais pra frente, mas,
infelizmente, parece que veio atingindo todo mundo, né”. O documento
recebido por ela, no entanto, não determina um prazo para desocupação do
imóvel.

Até quem não recebeu os documentos está preocupado. É o caso de Cássia, que
vive com filhos e marido num barraco dentro de um antigo galpão ocupado, na
Av. Rio Branco, por ex-moradores da Favela do Moinho. Tudo que é novo ali é
feito de tapume, tábuas e ripas de madeira, e o pé-direito é tão alto que só tem
teto individual quem cedeu o espaço sobre seu barraco para outra família.
Quando isto acontece, tábuas de madeira fazem o piso e uma escada simples no
corredor permite acesso independente ao que poderia ser considerado um
mezanino. Este ainda não é caso de Cássia – deitada em sua cama ela vê as
telhas de barro e o madeiramento do telhado do sobrado, ainda chamuscado
pelo último incêndio. No prédio vivem hoje 77 famílias. Apesar de não terem
recebido nenhuma notificação oficial, foram ao batalhão policial mais próximo
para se certificar de que não existe reintegração agendada. O inquilino do bar
que ocupa o térreo do prédio foi ao Fórum e também não encontrou nada.

Incerteza

Até agora, nenhuma informação ou alternativa foi apresentada oficialmente


aos moradores da quadra, mesmo os que já foram notificados com documentos
de imissão na posse. Se os caminhões de despejo encostarem mesmo neste mês,
onde vão estudar as crianças que já estão matriculadas nos colégios do entorno?
O prazo para novas matrículas na rede pública termina em dezembro.

Alguns moradores de pensões também se inscreveram na PPP Habitacional que


o governo do estado já começou a construir a poucos metros dali, apesar de não
terem chances de mudar para os novos prédios. Para morar lá é preciso ter
renda familiar superior a três salários mínimos, o que não é o caso de grande
parte das famílias ameaçadas pela PPP do novo hospital.

Mesmo sem dinheiro para comprar um apartamento na PPP Habitacional ou


para alugar algo com condições dignas na vizinhança, os moradores no
caminho do novo hospital tem direito à moradia. O lugar onde vivem hoje está
marcado no Plano Diretor e na lei de uso e ocupação do solo do município como
ZEIS 3 (Zona Especial de Interesse Social em áreas com boa infraestrutura,
escolas e oportunidades de emprego). Isto significa que aquela é uma área
especialmente destinada à produção de moradias para que pessoas de baixa
renda possam viver com dignidade. Além disso, qualquer intervenção na área
precisa ser precedida pela constituição de um conselho gestor com a
participação de moradores, proprietários e comerciantes, além de
representantes do poder público. Este conselho seria, justamente, o espaço
onde Silvana, Fernando, Seu José e Renata poderiam debater de forma direta,
consensuada, livre e bem informada sobre o destino de suas casas e de suas
vidas. Ainda assim, o governo do estado parece desconsiderar que o lugar onde
pretende construir um grande hospital é habitado por centenas de pessoas que
nunca foram informadas sobre planos, prazos de execução e alternativas de
moradia para quem vive ali de forma precária.

Ilegalidades

Basta atravessar a rua para ver uma história um pouco diferente. As quadras 36
(do hospital), 37 e 38 fazem parte da mesma ZEIS. No entanto, em julho foi
eleito um conselho gestor restrito apenas as últimas duas quadras. A intenção
de prefeitura é desapropriar os imóveis, demolir todas as construções que não
forem consideradas patrimônio histórico e entregar os terrenos para o governo
do estado construir prédios habitacionais. O Conselho Gestor das quadras 37 e
38 foi constituído por exigência do Ministério Público após uma ação
desastrada e violenta por parte da prefeitura, que feriu pelo menos três pessoas
dentro de seus quartos numa pensão enquanto demolia o imóvel vizinho.
Agora, antes de qualquer nova demolição ou remoção na região da
“Cracolândia”, moradores e conselheiros discutem como será a transformação
da área e como será o atendimento habitacional das famílias que vivem ali.

Por que o governo do estado e a prefeitura se recusam a fazer um conselho


gestor com os atingidos pelo novo hospital como fizeram com seus vizinhos nas
quadras 37 e 38? Esta pergunta ainda está sem resposta.

Uma opção seria constituir um único conselho gestor de toda a ZEIS, para que
todos os moradores pudessem participar da discussão sobre o destino do seu
bairro. Conselheiros tem insistido nisto desde o início. O Ministério Público
também já protocolou Ação Civil Pública neste sentido. A prefeitura, mesmo
assim, se recusa a ampliar o conselho gestor de Campos Elíseos, e agora vemos
o efeito na vida dos moradores. Inclusive de mulheres como Silvana que,
ironicamente, já sofre com enxaquecas pelo medo de perder sua casa para a
construção de um hospital público referência em cuidados com a saúde da
mulher.
13 de novembro de 2017 / Campos Elíseos, Posts, São Paulo / cracolândia, fluxo, observando de
perto, pesquisa-ação, violação de direitos / Leave a comment

Atividade de mapeamento coletivo


reúne informações para plano alter-
nativo da Luz e de Campos Elíseos

Participantes adicionam adesivos no mapa que representa parte de Campos Elíseos, Santa Efigênia, Luz
e Bom Retiro.

O Observatório de Remoções promoveu no dia 16 de outubro uma atividade para


reflexão coletiva sobre as disputas em torno do destino da região central da
cidade de São Paulo, em especial do território que compreende Luz e Campos
Elíseos. Tal atividade faz parte das ações promovidas por uma articulação
ampla que envolve pesquisadores, ativistas e moradores da região, o Fórum
Aberto Mundaréu da Luz.

Um dos objetivos do Fórum Aberto é estabelecer um processo coletivo de


planejamento insurgente, termo cunhado pela pesquisadora Faranak Miraftab
para se contrapor à práticas tradicionais de planejamento urbano.
Resumidamente, a perspectiva insurgente defende transformações radicais na
mediação e participação no processo de planejamento: a mediação passa para
uma linguagem próxima a população, saindo do domínio técnico; e a
participação é ampliada, além do diálogo, para as práticas sociais e ações
insurgentes já em curso no território.

A primeira parte da atividade foi uma conversa com a professora Beatriz Kara
José, que ao longo de sua apresentação traçou a trajetória das intervenções
estatais no território desde os anos 1970. Sua fala evidencia que não é de hoje
que grandes projetos de transformação do centro da cidade de São Paulo se
apoiam nas supostas degradação e esvaziamento da região, uma narrativa que
justificou planos e intervenções nas últimas décadas que ao invés de resolver
problemas reais da região, aprofundaram o descaso com a população pobre que
vive, trabalha e circula por lá. Para ouvir a fala completa acesse o link.
A professora de planejamento urbano Beatriz Kara José fala sobre projetos de intervenção na área
central nas últimas décadas.

Depois disso, começamos a proposta do mapeamento coletivo, onde o objetivo


principal foi reconhecer as práticas sociais transformadoras em curso no
território. A facilitação dessa atividade ficou por conta do pesquisador Aluízio
Marino, que integra a equipe do Observatório de Remoções. Os
dispositivos/suportes escolhidos para a atividade foram: (1) um mapa de grande
dimensão impresso em lona, onde as pessoas interviram com iconografias em
papel adesivo e canetas permanentes; (2) uma linha do tempo sobre as disputas
e intervenções que ocorreram no território desde a década de 1990; e (3) um
painel para identificação das práticas sociais transformadoras (resistências,
ativismos, insurgências, entre outras ações ) e das agendas/lutas amplas nas
quais essas práticas estão inseridas ou conectadas.
Linha do tempo

O processo participativo e os resultados visuais trouxeram a tona elementos


importantes para compreender as dinâmicas territoriais existentes hoje e para
construir propostas para melhorar as condições de vida daqueles ali que
moram, trabalham e circulam. Dentre eles destacamos:

a) A evidente percepção de que esse é um território ocupado, onde existe vida.


Sem negar a necessidade de transformações e melhorias, compreende-se a
necessidade de que qualquer mudança seja pensada a partir da perspectiva
daqueles que ali vivem.

b) O descontentamento com os espaços de participação institucional, tais como


os conselhos gestores, que embora tenham sua importância não são suficientes
para traduzir as demandas sociais em políticas públicas – inclusive havia a
participação de alguns membros do Conselho Gestor de Campos Elíseos. Uma
das contribuições defende a “ampliação de canais de participação com a
população moradora do centro como obrigatoriedade para implementação das
políticas na região”, outra sugere “cartografias, rádios, lambes, aulas públicas
para diálogo com o morador e a cidade”.

c) O histórico de ação do poder público no processo de “revitalização”, que fica


evidente quando analisamos a linha do tempo. Ao longo das últimas décadas, as
intervenções empregadas para alterar o território foram, majoritariamente:
demolições e lacramento de imóveis, operações policiais, projetos urbanísticos,
construção de equipamentos culturais âncora e realização de eventos.

d) A relação direta entre intervenções do poder público (principalmente nas


esferas municipal e estadual), do mercado imobiliário e grandes empresas de
outros setores no processo de revitalização. Visível, por exemplo, nas recentes
parcerias público-privadas (Casa Paulista) e nos investimentos e intervenções
realizadas pela Porto Seguro, entre eles o “Fórum Revitalização do Centro”,
evento realizado em parceria com o jornal Folha de São Paulo no SESC 24 de
maio. Também foi rejeitado o favorecimento de grandes construtoras e pediu-
se clareza na linguagem das políticas públicas.

e) Compreender as ações sociais inseridas no contexto das resistências,


ativismos e insurgências como práticas sociais transformadoras foi um
pressuposto no processo de mapeamento, já que se coloca como parte do
processo de construção de um planejamento insurgente. No painel para
identificação dessas práticas ficou evidente a presença de diferentes coletivos
que já estão, através de sua ação, transformando o território. É possível
vislumbrar (e potenciar) uma articulação entre eles? As participações ao longo
da atividade bem como o processo de consolidação do Fórum Aberto Mundaréu
da Luz mostram que existe diálogo e colaboração em ações no campo da
redução de danos no uso de drogas, intervenções artístico culturais, luta por
moradia, educação e comunicação popular. Tal colaboração pode configurar
uma alternativa de mediação no território, um dos elementos principais para a
construção de um planejamento insurgente.
Texto: Aluízio Marino

Fotos: Paulo Brazyl


8 de novembro de 2017 / Campos Elíseos, Posts, São Paulo / cartografia, cracolândia, fluxo,
mapeamento, observando de perto, pesquisa-ação / Leave a comment

Mutirão de desenho revela como


moradores enxergam Campos
Elíseos

No pedaço de Campos Elíseos hoje conhecido como “cracolândia” tem muita


coisa boa e gente que não quer sair dali. Este foi o recado dos moradores e
comerciantes que participaram do Mutirão Desenhos & Desejos, que aconteceu
no Largo Coração de Jesus no sábado (21/10). “Vivo bem. Tenho tudo, vou a pé!”
“Eu vejo o bairro alegre e divertido e, às vezes, muita guerra.” “Cheio de vida
dia e noite. Só precisa de cuidados.” “Que nossos filhos possam crescer aqui.”
“Mexer nos prédios velhos: dar uso!” Estas foram algumas das respostas que
rechearam o Mural de Vivências que propôs três perguntas simples: Como você
vive o bairro? Como você vê o bairro? O que você deseja para o bairro?

Como você vê o bairro?


O que você deseja para o bairro?

Como você vive o bairro?

A iniciativa, promovida pelo Observatório de Remoções, Instituto Pólis,


escritório modelo Mosaico da FAU Mackenzie e IABsp com o Fórum Aberto
Mundaréu Luz, juntou moradores, comerciantes e freqüentadores do bairro
com artistas e arquitetos para registrar algumas cenas da vida cotidiana,
prédios históricos e lugares especiais num só desenho coletivo. Papéis e canetas
foram distribuídos para adultos e crianças, que desenharam ao mesmo tempo
em que contaram algo de suas trajetórias pessoais.
O movimento provocado pelo desenho na rua abriu portas para conversas na
calçada e dentro das moradias. Assim, a vida privada dos moradores das
pensões e dos trabalhadores do comércio foi atravessando esta atividade
coletiva, que foi pensada como um dispositivo para refletir sobre o presente e
sobre transformações possíveis. Uma ação conjunta entre quem vive no bairro e
quem deseja contribuir para sua melhoria.

Desenhão coletivo

E amanhã (28/10) é dia do primeiro grande encontro do Fórum Aberto


Mundaréu da Luz! Promovido por pessoas e organizações no fluxo vivo da
região central, como as já citadas e mais Repep (Rede Paulista de Educação
Patrimonial), Centro de Convivência É de Lei, A Craco Resiste, Casa Rodante,
Creative Commes, A Próxima Companhia de Teatro, entre outros grupos. É mais
uma oportunidade para compartilhar visões e saberes sobre o presente
pensando num plano alternativo para o bairro e políticas públicas para seus
moradores e frequentadores. Veja aqui a programação completa e acompanhe
as novidades.
27 de outubro de 2017 / Campos Elíseos, Posts, São Paulo / cracolândia, desenho livre, fluxo,
mutirão, observando de perto, pesquisa-ação / Leave a comment

Prefeitura diz desconhecer múlti-


plas intervenções em Campos Elíse-
os enquanto anuncia pelo menos
quatro projetos

O Ministério Público discutiu o perímetro de atuação do Conselho Gestor (CG)


das Quadras 37 e 38 em reunião recente, provocada por um abaixo-assinado
entregue por moradores e conselheiros eleitos. O documento pede a ampliação
da participação para todos os que vivem na Zona Especial de Interesse Social
(ZEIS) C-108, que alcança nove quadras no bairro de Campos Elíseos. A
restrição ao perímetro é imposta pela Secretaria Municipal de Habitação
(Sehab), por insistir que apenas estas duas quadras sofrerão
intervenção. Entretanto este não parece ser o caso, já que as intervenções
previstas para a área são muito mais amplas.

Ainda assim, como Paulo Rogério, morador de uma pensão na Al. Dino Bueno,
disse ao Observatório logo após uma reunião com a prefeitura no fim de junho,
“O problema de lá se reflete aqui. Tanto é que o policiamento tá tudo ostensivo
aqui por causa daqueles dois quarteirões. O problema é só aqueles dois
quarteirões [onde está a cracolândia], mas a região toda tá sofrendo, a região
toda sofre”.

O Conselho Gestor é o espaço para formular, analisar e decidir sobre


intervenções que venham a ocorrer nas Quadras 37 e 38. O Plano Diretor
Estratégico (PDE) exige a instalação de um Conselho antes da elaboração de
propostas de intervenção em qualquer ZEIS habitada na cidade. No fim de junho
(30/06), o Ministério Público protocolou Ação Civil Pública pedindo a ampliação
do perímetro de atuação do CG. O processo está em avaliação no judiciário, e
pode inclusive suspender a constituição do atual Conselho.

Enquanto prefeito e governador avançam em decisões e ações que envolvem


pelo menos mais quatro projetos, a Sehab nega conhecer qualquer intervenção
além das quadras 37 e 38. O Observatório de Remoções, por meio de pesquisa
documental e levantamento em campo, identificou mais os seguintes projetos:

PPP Complexos Hospitalares: A Secretaria de Estadual de Saúde definiu a


quadra ocupada 36 da ZEIS-3C 108, para receber o novo Hospital Pérola
Byington, a ser construído através de uma parceria público-privada. Em
levantamento de campo, a equipe do Observatório encontrou vários
moradores dessa quadra que já receberam notificação para desocupar seus
imóveis em até 60 dias. Apesar do susto, moradores desconfiam da
veracidade dos documentos de imissão na posse – quando um órgão
público paga ao proprietário mais de 80% do valor do imóvel e pede à
justiça para remover os moradores;
PPP Habitacional do Centro: iniciativa do Governo do Estado para a
construção de habitações destinadas, por meio de sorteio, a famílias com
renda entre 1 e 10 SM, inscritas em cadastro da Agência Casa Paulista e
com comprovação formal de trabalho e/ou moradia no centro expandido.
Contabilizaram-se 172 mil famílias cadastradas e já estão em construção
as torres residenciais do 1º lote da PPP, na quadra 49. Porém, há outros
lotes já concedidos para a PPP e outros ainda em negociação;
Projeto Redenção: parceria entre Prefeitura e Governo do Estado cujo
objetivo geral seria ‘a requalificação da região da Luz’, por meio
de articulação intersetorial entre as secretarias municipais e estaduais de
Assistência e Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Habitação,
Saúde, Segurança Urbana e Urbanismo e Licenciamento. Encontram-se
em desenvolvimento atividades do Programa Centro Aberto, as
intervenções na quadra 37 e 38 e já estão sendo realizados os
levantamentos sobre o Projeto de Intervenção Urbana (PIU) Campos
Elíseos.
PIU Terminal Princesa Isabel (PIU-TPI): Após anunciar a intenção de
remoção total da Favela do Moinho, a Prefeitura apresentou o PIU-TPI,
que é um projeto de intervenção para viabilizar a reestruturação urbana
desta área considerada subutilizada, mas com potencial de transformação.
Na prática, os PIU’s flexibilizam a legislação urbanística para aumentar a
densidade populacional e construtiva no perímetro, abrindo espaço para a
transformação do uso do solo com a qual lucra o mercado imobiliário. O
projeto em Campos Elíseos prevê a concessão do terminal à uma empresa
com permissão para explorar comercialmente o terminal e um raio de 600
metros. Para orientar a ‘transformação urbanística’ do entorno do
terminal, que chega até a Av. São João, serão elaborados Planos
Urbanísticos Específicos (PUEs). A fase de consulta pública deste projeto Já
foi encerrada.
Se este território é, hoje, alvo de uma série de projetos que sinalizam o grande
interesse do poder público e do mercado imobiliário, também é um lugar
habitado por população de baixa renda, com grande número de cortiços,
pensões, ocupações e áreas demarcadas como ZEIS, conforme mostra o mapa
abaixo.
A forma como os processos de intervenção vem sendo conduzidos pela
Prefeitura pelo Governo do Estado parece desconsiderar a área não se encontra
desocupada, ignorando a população que há anos mora, trabalha, estuda e
convive naquele pedaço da cidade. O diálogo entre sociedade e poder público
praticamente inexiste, e tem sido marcado por atropelos, ilegalidades,
criminalização e repressão do(a)s moradore(a)s do bairro. Campos Elíseos
aparece nestes projetos como um espaço vazio social e economicamente, o que
não condiz com a realidade. A ideia de ‘revitalização’ desconsidera as vidas que
há muito tempo se instalaram ali, construindo vínculos, lembranças e
cultivando raízes.
Durante os trabalhos em campo do Observatório de Remoções é comum ouvir
relatos de moradores sobre os efeitos destes projetos, bem como das expulsões
por eles ocasionadas. Paulo Rogério, que já foi removido três vezes na
vizinhança, esperava que a última mudança fosse definitiva.

“Não. Agora tá chegando em mim. Se eu mudar pra outro quarteirão, que seja
neste perímetro, amanhã eu vou ter outro problema de novo. Ou seja, tá
trabalho de formiguinha, onde eu tô indo eles tão indo, onde tô eles tão. Então
tem que ir pra longe daqui. Daqui a pouco tá tudo no chão. E você tem que ir, e
você tem que ir. E o problema tá indo atrás de você.”

15 de setembro de 2017 / Campos Elíseos, São Paulo / cracolândia, observando de perto /


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Mapa interativo mostra que 2017 é o


pior ano em uma década para viver
na Luz

Demolições, lacramentos, remoções, incêndios, violência policial e internações


forçadas são situações recorrentes na região da Luz, no centro de São Paulo,
desde 2005, quando foi lançado o projeto Nova Luz. No entanto, levantamento
histórico feito pelo Observatório de Remoções mostra que estas violações
nunca foram tão frequentes como desde maio deste ano. E mais: os picos de
violações aos direitos de moradores e frequentadores sempre coincidem com
grandes projetos de renovação urbana.
Map by LabCidade FAUUSP ! " #

Para acessar o mapa em tela cheia clique aqui.

O território que compreende os bairros Luz e Campos Elíseos é marcado por


violações, violências e remoções sofridas por quem mora, circula e trabalha por
ali, especialmente a população mais pobre, maioria dos que habitam o
território. Com foco no período entre 2005 e 2017, o mapa e a linha do tempo
interativa mostram, em seqüência espaço-temporal, a truculência das polícias
civil, militar e da guarda civil metropolitana (incluindo homicídio e tortura), as
demolições e os lacramentos de imóveis habitados,os incêndios em áreas de
moradia precária e as internações forçadas dos sujeitos-usuários de
substâncias químicas em situação de rua. As fontes para os registros das
ocorrências foram mídias digitais, como Folha de São Paulo, Estado de São
Paulo, Diário de São Paulo e Jornalistas Livres, denúnicas do grupo A Craco
Resiste e a pesquisa de campo que o Observatório de Remoções desenvolve na
região.
O objetivo desta cartografia é denunciar práticas que pioram a situação em que
se encontram os sujeitos-usuários de substâncias químicas em situação de rua
e as famílias-residentes em pensões, ocupações de moradia e/ou
assentamentos precários. A violência policial também atrapalha políticas de
assistência social e de moradia implementadas pelo próprio Estado e por uma
rede de organizações da sociedade civil, que ao longo do tempo procuraram
respeitar a dignidade dos sujeitos que ali habitam e melhorar suas condições de
sobrevivência.

Muitas operações policiais foram realizadas nesse território com a justificativa


do “combate ao tráfico”, mas o resultado prometido nunca foi alcançado. Pelo
contrário, entre 2016 e 2017 o número de usuários de drogas que frequentam a
cracolândia aumentou 160%, enquanto a proporção de mulheres também subiu
de 16,8% para 34,5%. Os dados são do Levantamento do Perfil dos Usuários de
Drogas na Região da Cracolândia, realizado pelo governo do estado de São Paulo
em parceria com o PNUD.

A população pobre, que reside em pensões, ocupações e outros conjuntos


autoconstruídos, também sentem os efeitos das políticas de repressão, sendo
expulsas múltiplas vezes de suas moradias. Em outras palavras, a “guerra às
drogas” se transformou em justificativa para remover sujeitos considerados
indesejados e abrir espaço para outras pessoas ocuparem aquele pedaço da
cidade. Este quadro apenas agrava problemas mais amplos e estruturais como a
falta de moradia adequeda, o genocídio da juventude negra e o encarceramento
em massa.

Mais do que uma coincidência, a análise histórica e geográfica questiona os


interesses em torno das violações nesse território. Sob a justificativa da
internacionalmente fracassada guerra às drogas, o Estado abre espaço para
uma política de reestruturação urbana excludente e violenta. É isso que o
mapeamento mostra. Na região da Luz, o aumento de violações de direitos
humanos acontece paralelamente à definição e execução de projetos
urbanísticos, como o projeto Nova Luz, a Parceria Público-Privada (PPP)
Habitacional da Região Central e a PPP do novo Hospital Pérola Byington. Essas
PPPs ameaçam, hoje, diretamente os moradores de três quadras inteiras, sendo
que numa delas diversas pessoas já receberam notificação com prazo para
desocupar suas casas e comércios. Agora, surgem outros projetos, como o
“Redenção” e o Projeto de Intervenção Urbana (PIU) Terminal Princesa Isabel.

Tempo de violações

O projeto urbanístico “Nova Luz”, proposto entre os anos de 2005 e 2012,


previa a “revitalização” do bairro. Um discurso estranho para a região que
possui taxa de densidade demográfica entre as mais altas do centro expandido.
Quem conhece a região sabe que vida ali nunca faltou.

Uma das ações vinculadas ao Nova Luz foi a “Operação Limpa Cracolândia”,
que dispersou os usuários e demoliu uma série de imóveis em uso. A antiga
rodoviária foi demolida neste contexto, quando já havia virado um shopping.
Após a demolição, o grande terreno permaneceu vazio por cerca de sete anos.

MAPA 2005-2008
Durante a tentativa de implantação do projeto Nova Luz, a Favela do Moinho
também sofreu uma série de incêndios. Ali residem inúmeras famílias em
situação precária, apesar da área ser uma Zona Especial de Interesse Social
(ZEIS 3) desde 2004.

MAPA 2009-2012
O ano de 2012 é marcado pela“Operação Sufoco” e a consequente “procissão do
crack”. Quando policiais militares e guardas civis metropolitanos reprimiram
violentamente o “fluxo”, usuários foram obrigadosa circular pela região para
conseguir fazer uso da droga. A partir de então, verifica-se um deslocamento
das ações de repressão para o entorno da Rua Helvetia. Foi ali onde o fluxo se
instalou depois das operações policiais do Nova Luz.

A partir de 2013, depois do projeto ser interrompido, observa-se uma


diminuição das ações de repressão contra o “fluxo”. Pela primeira vez são
experimentadas estratégias alternativas de atuação do poder público, como o
programa “De Braços Abertos”, que oferecia de moradia e trabalho para
dependentes químicos. Entretanto, mesmo com a inserção de novas ZEIS na
região, entre 2013 e 2016, insegurança e vulnerabilidade permanceceram
rondando a população local. Nesse período, especialmente na Favela do
Moinho, a relação com a prefeitura se torna bastante tensa e acontecem
diversos protestos devido a novas ocorrências de incêndio e outras
reivindicações históricas. Os moradores foram duramente reprimidos pela
guarda civil metropolitana.

MAPA 2013 – 2016

Em 2017, apesar do reconhecimento da mídia e de pesquisadores afirmando


que a repressão policial não resolve os problemas da região, há uma
intensificação das violações, violências e remoções. O número de ocorrências
entre os meses de maio e julho são os maiores desde 2005. Evidencia-se
também uma maior violência por parte do Estado, com denúncias de tortura e
assassinato de um morador da Favela do Moinho por policiais militares. Em
outro episódio um jovem perdeu a visão de um olho devido a um disparo de bala
de borracha contra os usuários na Praça Princesa Isabel, também por policias
militares.

MAPA 2017
Nota metodológica:

A cartografia foi realizada na plataforma CARTO. Todas as matérias, vídeos e


demais referências estão elencadas com o título e o hiperlink em cada uma das
ocorrências mapeadas. A iconografia utilizada para representar as violações
estão disponíveis no “Manual de Mapeo Colectivo” desenvolvido pelo grupo
argentino “Iconoclasistas”.

Importante destacar que o mapeamento é subdimensionado, ou seja, não


contempla todas as violações, violências e remoções que aconteceram durante
o período analisado. Isto pois a grande maioria das ocorrências é invisibilizada.

16 de agosto de 2017 / Campos Elíseos, São Paulo / cartografia, cracolândia, fluxo,


mapeamento, observando de perto, relatório de pesquisa, violação de direitos / Leave a
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Prefeito chama entidades para


apresentar Projeto Redenção

Na quarta (02/08), 8h, o prefeito João Doria recebeu organizações da sociedade


civil que trabalham com saúde, assistência social, urbanismo e segurança
pública para apresentar o Projeto Redenção – ação intersetorial da prefeitura
que visa a desarticulação de pontos de compra, venda e consumo de crack em
lugares públicos e a implementação de um projeto urbanístico para a região.
Este foi o primeiro encontro de uma série programada pelo secretário de
Governo Júlio Semeghini.
Os primeiros a falar foram os secretários Filipe Sabará (Assistência e
Desenvolvimento Social), Wilson Pollara (Saúde), Eloisa Arruda (Direitos
Humanos), Fernando Chucre (Habitação), José Oliveira (Segurança Urbana) e
coordenadores do Redenção. Quando, enfim, chega o momento dos convidados
da sociedade se manifestarem, Doria anuncia que a reunião acabaria às 10h. Um
representante do Ministério Público (MP) intervém, e o prefeito consente que a
reunião dure mais tempo. De qualquer forma, Doria deixou a sala antes do fim.

Não ouviu, por exemplo, questionamentos do Observatório de Remoções à


suposta garantia de atendimento habitacional aos moradores ameaçados de
remoção nas Quadras 37 e 38, em Campos Elíseos – onde hoje se localiza a
“cracolândia” mais conhecida da cidade. Ou como a prefeitura vai lidar com as
famílias que moram na mesma Zona Especial de Interesse Social 3 – C-108
(ZEIS 3), mas fora das quadras ameaçadas neste momento pela Parceria
Público-Privada Habitacional da Região Central. Nem como atender às
demandas dos moradores da Favela do Moinho, perto dali, cujas casas também
estão ameaçadas.

Doria saiu antes de ouvir relatos sobre a atuação violenta e desproporcional da


polícia civil e da Guarda Civil Metropolitana (GCM) contra moradores, dentro de
suas casas e na rua, e a violência contra usuários de crack. Segundo o Conselho
Municipal de Políticas sobre Drogas e Álcool (COMUDA), policiais fazem cerca
de 600 abordagens diariamente na região, mas, apesar disso, o volume de
apreensões de substâncias ilícitas é pequeno e contraditório em relação aos
números apresentados pela gestão. Também foram alvo de críticas denúncias
de internações compulsórias e comunidades terapêuticas contratadas pela
prefeitura, mas inadequadas para prestar este serviço.

Às 11h30, representantes da sociedade civil deixaram a sala com a impressão de


que o suposto debate foi como uma apresentação de teatro – quando atores
falam e a plateia apenas escuta. Faltou espaço para participação, para
interferência na elaboração e implementação das políticas públicas
direcionadas para lugares onde se concentram usuários de drogas ilícitas e
moradias populares.
15 de agosto de 2017 / Campos Elíseos / cracolândia, fluxo / Leave a comment

Moradores elegem Conselho Gestor


de Campos Elíseos

No sábado (29/07), foram escolhidos os 10 representantes da sociedade, e seus


respectivos suplentes, que irão compor o Conselho Gestor das Quadras 37 e 38,
em Campos Elíseos. A eleição aconteceu no Largo Coração de Jesus, com voto
secreto, e apenas moradores previamente cadastrados pela Secretaria
Municipal de Habitação (Sehab) puderam votar. Agora cabe ao poder público
indicar seus 10 representantes.

O Observatório de Remoções foi eleito na categoria para instituições de


arquitetura e urbanismo, junto com o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-
SP). Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, Instituto Polis, MSTC e
Associação Comunitária de Moradores na Luta por Moradia foram eleitos em
outras categorias. Confira aqui a lista completa dos novos conselheiros.

A constituição do Conselho Gestor foi uma exigência do Ministério Público


(MP), que teve como efeito imediato a suspensão das demolições feitas pela
Secretaria Municipal de Serviços e Obras. No dia 23/05, três pessoas foram
atingidas por escombros dentro dos quartos da pensão onde viviam, como se vê
neste vídeo.

Os planos da prefeitura e do governo do estado ainda não estão claros.


Funcionários da Sehab dizem ter pressa para estender a Parceria-Público
Privada (PPP) Habitacional da Região Central, que começou no terreno da
antiga rodoviária, para outras quadras na região. Além disso, supostos oficiais
de justiça distribuíram documentos de imissão na posse na quadra onde se
pretende construir o novo Hospital Pérola Byington. Proprietários e inquilinos
receberam prazo entre 30 e 60 dias para desocupar os imóveis.

“Agora é assim, o que é nosso não é nosso. Tem que sair sem querer, tem que
aceitar o dinheiro que eles [o governo] pagarem”, diz um homem de 60 anos
que vive e trabalha no mesmo imóvel desde que nasceu, na Al. Barão de
Piracicaba. Seu bar e sua casa, que divide com irmãos, filhos e netos,
aproximadamente 22 pessoas, devem ser demolidos pela PPP do novo hospital.
Ele, no entanto, não pôde participar da eleição do Conselho Gestor. Apesar de
viver na mesma Zona Especial de Interesse Social (Zeis) das quadras 37 e 38, a
prefeitura entende que o conselho deve ser constituído apenas pelos moradores
atingidos pela PPP Habitacional.

O MP questionou o perímetro arbitrário em Ação Civil Pública. Entre os


argumentos, os promotores dizem que os impactos da intervenção serão
sentidos pelos vizinhos, por exemplo, quando o preço do aluguel de toda a
região subir junto com a construção dos novos prédios. Na última sexta-feira
(28/07) o juiz do TJ-SP responsável negou a liminar do MP.

15 de agosto de 2017 / Campos Elíseos, São Paulo / cracolândia, fluxo, observando de perto /
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