1917-2017 (3) - REVOLUÇÃO SOVIÉTICA E APARIÇÕES DE FÁTIMA - DIFERENÇAS
Verificam-se diferenças consideráveis entre a revolução soviética e a mensagem
decorrente das aparições de Fátima. Neste artigo abordam-se algumas delas e, no próximo, algumas convergências.
Como se referiu no artigo anterior, a mensagem de Fátima assumiu a tradicional vida
terrena condigna dos pastorinhos e do seu meio envolvente, resultou de uma presença da vida celeste, na pessoa de Nossa Senhora, e tornou patente o espetro do pecado, da guerra e do inferno. A revolução soviética não excluíu a vida terrena condigna, mas rejeitou as suas características tradicionais; preferiu-lhes as do proletariado, cingido às orientações da vanguarda revolucionária, e até considerou os camponeses tradicionais, não convertidos à sua ideologia, como «pequena burguesia» aliada à «exploração do homem pelo homem». Tal como a mensagem de Fátima, a revolução soviética não defendia a presença da vida celeste numa governação teocratizada; porém, enquanto a mensagem considerava indispensável o respeito desta presença e de suas orientações, a revolução defendia a criação de uma quase alternativa terrena à realidade divina. O espetro do pecado, da guerra e do inferno, patenteado nas aparições, foi também notório na revolução soviética; mas, enquanto nas aparições constituía um apelo profundo e amplo a transformações em todos os domínios da existência humana, na revolução constituía um pretexto para a imposição do seu projeto.
Em suma: na mensagem, aceitou-se a realidade como ela é, inserida na transcendência e
transformável de maneira radical e harmónica; na revolução, pelo contrário, rejeitou-se a realidade como ela é, rejeitou-se a transcendência e impôs-se a «ditadura do proletariado». Nesta conformidade, a mensagem não teve relevância política significativa; pelo contrário, a revolução influenciou decisivamente várias políticas nacionais e internacionais, até hoje. (Continua)