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REPUBLICA PORTUGUESA * SECRETARIADO DA SUS | ASSEMBLEIA CONSTITUINTE DIARI o» ASSEMBLE! CONSTITUINT QUINTA-FEIRA, 4 DE DEZEMBRO DE 1975 NUMERO 89 SESSAO N.° 88, EM 3 DE DEZEMBRO Presidente: Ex.m° Sr. Vasco da Gama Fernandes ‘Anténio Duarte Arnaut Secretérios: Ex" Srs José Manuel Mat SUMARIO: — 0 Sr, Presidente declarou aberta a sesso as 10 horas e 40 minutos ‘Antes da ordem do dia. a Assombleia Constituint. ‘Deurse conta do expediente Foi lide uma exposipdo epresentada na Mesa pelo Sr. Depu- ‘ado Levy Baplista (MDP/CDE), em que @ Unido de Resis- fentes Antifaseistas Portugueses expe ao Sr. Presidente da Assembleia Constiinte @ sua preocupardo pelo avanso da reacpio ¢ a necessidade de se defender a liberdade, a democracia ¢ ‘0 'socialismo de perigos claros e imediatos ‘0 Sr. Deputado Pedro’ Rosete (PPD) presiou homenagens 20 povo portugués a parte sd. das suat forcas armada, ‘que souberom derrotar os aventuretristas contranrevolucio= Nirios antidemocrétices. Fez a andlise do que denominow de polpe para instourar uma diadure terrorista de. preulo- “exquerda 'e referiu @ acrdo dos SUV, do MES, PRP/BR, ESP, MDP, LUAR e de outres forcas da FUR, bem como {do PCP, que com a sue politica amblgua se fornou conespon- sfvel no ‘referido golpe” Terminou com 0 apelo as forgas fermadas © aos tr partidos democrdiicos representodos na Camara para que. tudo foram no. sentido da devolucdo ‘20 povo da soberania que 36 a ele perience, O St. Depurado Vital Moreira (PCP) interpelou 0 orador, solicitando esclare- (© Sr. Deputade Sottomayor Cardia (PS) referiuse & sesséo aniidemocrdtica de partidos e grupos janatizados que, como ere previsivel, tentaram a congu'sta do pode” pela force. Apontou as circunsiincias que rodearam o golpe « @ ac¢a0 decisina do povo, das eusoridades e das forcat militares na hneutrelicepao da’ insurreicdo, Termino com a afrmardo de que, vencida datalha da liberdade, se seguird vitoviosa Dataiha da economia e, consequentemente, @ vitdria da democracia¢ do. socialiomo em lberdade (0. Sr. Deputado ‘Kalidas Barreto (PS) comentou a politica confusionisia que’ se vive e que de modo algum serve os Interesses dos tvabalhodores. Apelidou de uldpicas, de loucas @ conire-revoluciondrias as accdes manipuladoras do. povo ¢ Foi aprovado 0 1." BS do Diério Carlos Alberto Coelho de Sousa Nunes de Almeida dor soldados, que nada tim que ver com uma auéntica lua ‘de classes, terminou afrmando que o momento ¢ de reflex ede trabalho, e ndo de alarmismo, e epelou pare que as classes ‘rabathadorar se mantenham mobilisadase vigilantes na consirucdo da democracia e da lberdade, ¢ na lula contra © Jasciomo eo capitalismo, mantendo uma verdadeira dis. Ciplina de esquerda, sem ma'gens para golpismos. ‘0 Sr. Deputado José Ferreira Jinior (PPD) fez a andlise politico-militer de que resuliou o movimento de 25 de Abr Telerindo « previsdo de irés grandes Jases que se seguiriam no processo politico portugués. Criticou 0 proceso politico C0 seu desenvolvimento até ao montento presente e « posiceo do PCP nessa conjuntura, Terminow afirmando @ sua con Fanca em que o povo portugues consiruird uma sociedade [Mote, progressiva, raterna, uma sociedade socialista. demo- Ordem do dis, —Prosseguin a formulapdo de dectaraptes de voto, apresentadas pelos grupos parlamentares, relativas {20 relatério da 5" Comissio. (Tivulo I~ Organizapdo do oder politico). Para o efeito usarem da palavra os Srs. Dep fados Levy Baptista (MDP/CDE) ¢. Jorge Miranda (PPD). ‘Iniciou-se, sepuidamente, o debate na generalidade do refe- ido reletério, tendo usalo da polasra.os Srs. Deputatos Sottomayor Cardia (PS), Jorge Miranda (PPD), Fernando Roriz (PPD), Marcelo Rebelo de Sousa (PPD). Vasco da Gama\ Fernandes {PS), Freitas do Amaral (CDS), Nuno Godinho de Matos (PS), Olivio Franca (PPD), Carlos Candal (PS), Vitel Moreira (PCP) — que respondeu ainda a pedidos de feselarecimentoslicliados pelos srs. Deputados Sottomayor Cardia (PS), Eurico Correia (PS) e Olivia Franca (PPD) José Luis Nunes (PS) — que foi inte-pelato, para um petido de esclarecimento, pelo Sr. Deputado Coelho dos Santos (Pep) — e José Augusto Seabra (PPD). ‘A seguir b intervencdo do Sr. Deputado Vital Moreira (PCP), foi ldo pelo Sr- Deputado Carlos Candal (PS) 0 relatério da Comissio de Verifcardo de Poderes, que verificou os poderes ddos candidatos Fernando Jeime Peveira de Almeida, Maria da Conceiedo Rocka’ dos Santor e Gillanes Santos Coelho, em 829] 2872 substiew'ga0, respectivamente, de Fernando Alves Tomé dos Santos, Fernando Jose Capelo Mendes ¢ Alberto Marques An- lunes ¢ sobre a cfectivaedo de Depurados eletios que hojam ‘cecrado Jungoer no Coverno por que tenham oportunamente optado, (0. Sr. Presidente declarou encervada a sesséo dx 19 horas 4S minutos. Sr. Presidente: — Vai proceder-se & chamada, Eram 10 horas ¢ 20 minutos. Fez-se u chamada, @ qual responderam os seguintes Srs. Deputados: cps Ant6nio Francisco de Almeida, ‘Anténio Pedreira de Castro Norton de Matos. Domingos José Barreto Cerqueira, Francisco Luis de S4 Malheiro. Manuel Janudrio Soares Ferreira-Rosa. Manvel José Goncalves Soares. Manuel Raimundo Ferreira dos Santos Pires de Mo- rais. MDP/CDE. Levy Casimiro Baptista. Manuel Dinis Jacinto. PCP Eugénio de Jesus Domingues. Fernanda Peleja Patricio. Fernando dos Santos Pais. Francisco Miguel Duarte. Hilario Manuel Marcelino Teixeira. Joo Terroso Neves. José Manuel da Costa Carreira Marques. José Manuel Maia Nunes de Almei José Pedro Correia Soares, Vital Martins Moreira. PPD ‘Amindio Anes de Azevedo Antidio das Neves Costa. ‘Anténio Coutinho Monteiro de Frei ‘Anténio Joaquim da Silva Amado Leite de Castro ‘Anténio Maria Lopes Ruano. ‘Anténio Moreira Barbosa de Melo. ‘Anténio Roleira Marinho. Anténio dos Santos Pires, “Arcanjo Nunes Luis. ‘Armando Anténio Correia. ‘Armando Rodrigues Artur Videira Pinto da Cunha Leal. Carlos Alberto Branco de Seiga Neves. Carlos Alberto Coelho de Sousa Carlos Alberto da Mota Pinto. Carlos Francisco Cerejeira Pereira Bacelar. Custédio Costa de Matos. Emanuel Nascimento dos Santos Rodrigues. Fernando Adriano Pinto. Fernando Barbosa Gongalves. Femando José Sequeira Roriz. Fernando Monteiro do Amaral. Germano da Silva Domingos. Jodo Baptista Machado. oo Bosco Soares Mota Amaral. Yoo Manuel Ferreira. DIARIO DA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE N-* 89 Joaquim Coelho dos Santos. José Carlos Rodrigues. José Ferreira Jinior. José Francisco Lopes José Theodoro de Jesus da Silva, Luis Eugenio Filipe. ‘Maria Augusta da Silva Simdes. flia Mendes Brito Camara. ‘Maria Helena da Costa Salema Roseta. ‘Nuno Aires Rodrigues dos Santos. Olivio da Silva Franca. Pedro Manuel Cruz Roseta PS Adelino Teixeira de Carvalho. Afonso de Carmo. ‘Agostinho Martins do Vale. Alberto Augusto Martins da Silva Andrade. ‘Alcides Strecht Monteiro, ‘Alfredo Fernando de Carvalho. Alfredo Pinto da Silva Alvaro Monteiro. ‘Amarino Peralta Sabino. ‘Amilear de Pinko. ‘Antonio Candido Miranda Macedo. ‘Antonio Duarte Arnaut. Anténio José Gomes Teles Grilo. ‘Ant6nio José de Sousa Pereira. Ant6nio Mario Diogo Teles. Anténio Rigo Calado. ‘Aquilino Ribeiro Machado, ‘Armando Assungao Soares. Artur Manuel Carraga da Costa Pina. Beatriz Almeida Cal Brandao. Bento Elisio de Azevedo. Cérlos Cardoso Lage. Casimiro Paulo dos Santos. Domingos do Carmo Pires Pereira, Emidio Pedro Aguedo Serrano. Etelvina Lopes de Almeida. Eurico Manuel das Neves Henriques Mendes. Eurico Telmo de Campos. Fi6rido Adolfo da Silva Marques. Francisco Carlos Ferreira. Francisco Xavier Sampaio Tinoco de Faria. Isafas Caetano Nora, Jeronimo Silva Pereira, ‘Joo Pedro Miller de Lemos Guerra Joaquim Gongalves da Cruz. Joaquim Laranjeira Pendrelico. Joaquim de Oliveira Rodrigues. José Alfredo Pimenta Sousa Monteiro. José Augusto Rosa Courinha. José Fernando Silva Lopes. José Luis de Amaral Nunes. José Maria Parente Mendes Godinho. Tilio Pereira dos Reis. Ladislau Teles Botas. Laura da Conceiggo Barraché Cardoso. Luis Abflio da Conceig&o Cacito. Luis Geordano dos Santos Covas. Luis Maria Kalidés Costa Barreto. Luis Patricio Rosado Goncalves. Manuel Ferreira Monteiro. Manuel Ferreira dos Santos Pato. Manuel Francisco da Costa. [830] 4. DE DEZEMBRO DE 1975 Manuel Jotio Vieira. Manuel Joaquim de Paiva Pereira Pires. Manuel da Mata de Ciceres Manuel Pereira Dias. Manuel de Sousa Ramos. Maria da Assungdo Viegas Vitorino. Maria Helena Carvalho dos Santos Oliveira Lopes. Maria Rosa Gomes. Maria Virginia Portela Bento Vieira Mério Augusto Sottomayor Leal Cardia Mario de Castro Pina Correia. Mario de Deus Branco. Mario Manuel Cal Brandao. Pedro Manuel Natal da Luz. Raquel Jiidice de Oliveira Howell Franco. Rui Antonio Ferreira da Cunha. Rui Maria Malheiro de Tavora de Castro Feijo. Vasco da Gama Fernandes. Sr. Presidente: —Mesmo & tangente. Estéo pre- sentes 126 Srs, Deputados, pelo que declaro aberta a sesso, Eram 10 horas e 40 minutos. ANTES DA ORDEM DO DIA © Sr. Presidente: — Esta em aprovagio 0 n.* 85 do Didrio da Assembleia Constituinte. Ninguém se opde, portanto considera-se aprovado. Aceitam-se reclamagdes quanto aos n.°* 86 © 87. ‘Vai proceder-se a leitura do Expediente Sr. Seeretério (Anténio Arnaut): —Temos so- mente um oficio da Federacdo dos Bombeiros do Dis- trito de Leiria, que vou ler: Pelo Didrio da Assembleia Constituinte, n.* 75, de 4 de Novembro, teve esta Federagdo conheci- ‘mento da intervencao feita em prol dos bombeiros pelo Sr. Deputado pelo PPD Jogo Manuel Fer- reira. Esta Federago, na sua dltima reuniéo, delibe- rou transmitir a V. Ex." a sua satisfag&o por tio oportuna intervengio e solicitar todo 0 apoio que © Sr. Presidente possa dar a to justa ¢ digna causa, como €, neste caso especifico, a defesa das Vidas 'e bens que esto confiados 20s bombeiros. ‘A todos 0s dignos Deputados dessa Assembleia Constituinte vao igualmente os nossos agradeci- mentos, pois 0 bombeiro nas suas fungdes ndo tem qualquer credo politico, religioso ou opeao de raga, porque todo o ser humano € para ele, em todas as circunstancias, merecedor da sua abne- gacdio. ‘Com os meus melhores cumprimentos. OSccretario, Joaquim Albano Teixeira de Ama- ral, capitdo. Sr. Deputado Levy Baptista, do MDP/CDE, fez neste momento entrega de uma exposico que vou ler: Ex. Sr. Professor Henrique de Barros, Presidente da Assembleia Constituinte. Srs. Deputados, 2873 A Unido de Resisténtes Antifascistas Portu- gueses, profundamente preocupada com o cres- cendo das actividades reacciondrias, com os acon- tecimentos dos iiltimos dias e com’o eventual de- senvolvimento da situagdo, vem, perante a Assem- bleia Constituinte, manifestar ‘o seu sentimento de que se torna necessério defender a Liberdade, a Democracia ¢ a via socialista de perigos claros © imediatos. So as préprias conquistas democratticas ¢ so- ciais do 25 de Abril que estdo seriamente ameaca- das. Estdo ameagadas as liberdades individuais, as, garantias elementares do exercicio dos direitos de cidadania. A. repressio renova o clima de intimi- dagdo © de desconfianga, atinge filciras antifas- cistas, abre fendas por onde poderao infltrar-se agentes de forgas do fascismo e da reaccao. Cremos, na nossa qualidade de militantes © de resistentes antifascistas, que a Assembleia Cons- tituinte tem 0 dever de tomar posiglo contra esta situagao carregada de perigos e que poe em risco © curso da nossa Revolugéo e a existéncia de instituigdes verdadeiramente democréticas. Permitimo-nos, iguelmente, chamar a atengao da Assembleia Constituinte para a situagdo em que se encontram dezenas de antifascistas que foram detidos para averiguacdes, intencionalmente afas- tados das familias e locais de residéncia, em fla- grante contraste com o procedimento adoptado em relago aos promotores de actividades de inilu- divel carcter reaccionério, a inimigos do povo € da Revolugdo que vém beneficiando de censuré- veis facilidades e de complacentes lentiddes pro- cessuais. Consideramos, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que a proclamada divisio do Pas em zonas pre~ tensamente antagénicas, a qual chegou a ser en- carada como base de uma manobra envolvente de cardcter reaccionario, foi acentuada com a decla- ragio do estado de sitio na érea da Regio Mi- litar de Lisboa, que, a despeito das alegadas vantagens de operacbes de seguranga publica, con- tribuiu perigosamente para manobras de reaccao, particularmente porque se privou o povo de uma completa informagao. Neste contexto, niio podemos deixar de chamar a atengao do Sr. Presidente ¢ dos Sts. Deputados para a intensa utilizagdo, durante 0 estado de sitio, dos érgdos de comunicago social (ridio € televisio) numa campanha de’ acgio psicolégica que fornece uma versio unilateral dos aconte mentos. Pelo Secretariado Provisorio da Unifio de Re- sistentes Antifascistas Portugueses: Joaquim An- gelo Caldeira Rodrigues —José Maria do Rosd- rio— Ramon de La Féria. Uma vor:—O Américo Duarte tinha assinado isso. O Sr. Secretirio: —O Américo Duarte ndo assinou, Sr. Presidente: —No perfodo de antes da ordem do dia, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Roseta. © Sr. Pedro Roseta (PPD): — Sr. Presidente, Sts. Deputados: As minhas primeiras palavras tm do ser de homenagem ao maravilhoso povo portugues (831) 2874 DIARIO DA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE No 89 € A parte sf das suas forgas armadas, que souberam derrotar os aventureiros contra-revoluciondrios ¢ anti- democraticos que quiseram instaurar entre nés uma nova ditadura. O povo demonstrou, como jé aqui foi dito, 0 seu apego A democracia, nas horas dificeis que vivemos, tomando parte activa na sua defesa, quer em Monte Real, quer em Aveiro, onde vigiou © acesso as bases aéreas de S. Jacinto e Cortegaca, quer na imponente manifestacao realizada em Coim: bra, no proprio dia do golpe frustrado, quer ainda pelo seu comportamento em todo o Pais, dentro ¢ fora da regio onde foi proclamado © estado de sitio parcial. ‘A esmagadora maioria das forgas armadas, por seu lado, soube interpretar os desejos do povo ¢ defender a democracia. Os homens do Regimento dos Co- mandos e de outras unidades ficario na meméria colectiva como aqueles que no $6 no atraigoaram os seus irmaos, como defenderam a sua liberdad: € a sua vontade livremente expressa. Destaco, com emogao, aqueles que ofereceram a vida ao servigo dos ortugueses ¢ pela sua liberdade. A esses, 0 povo con sagrou-os ja como herdis da Patria, Sr. Presidente, Srs, Deputados: Muitas vezes, aqui € Id fora, o PPD chamou a atencio publica para os riscos que as forcas antidemocraticas, os civis arma- dos e certos chefes militares irresponsaveis faziam correr a democracia e ao Pais, Néo tém conta as vezes que 0 PPD denunciou os que tentavam provocar um golpe de direita, que constantemente anunciavam, para, através de um contragolpe, procurarem ins- faurar_a sua ditadura terrorista de pseudo-esquerda. Afirmaémos sempre que essas forcas nao hesitariam em realizar o seu proprio golpe ¢ tomarem 0 Poder em Lisboa para depois, pela forca e pelo terror, tentarem dominar todo 0 Pais. Denunciémos também a subverséo, o incitamento a indisciplina militar em que, em fase mais recente, essas forcas se vinham empenhando. Apontamos, finalmente, o absurdo de no Governo se conterem representantes de forgas que, como se veio a provar, pretendiam destruir a de- mocracia, 0s factos, infelizmente, confirmaram o bem-fundado dos nossos avisos. Felizmente, por outro lado, no nos enganémos, também, ao prever que © povo nao per- mitiria 0 triunfo de golpes antidemooraticos. ‘Mas, se ha agora, por um lado, que dar a conhecer ao Pafs que forgas’participaram na contra-revolugso atentando contra a vontade da maioria do povo, ha, por outro lado, que saber quais os riscos que ainda corre a democracia em Portugal Que forgas politicas, Srs, Deputados, que forcas minoritarias fizeram correr 0 risco de guerra civil, pretenderam instaurar uma ditadura terrorista-com'- nista e, no caso de nao o conseguirem, quiseram abrir as portas a ditadura de extrema-direita? Quem prefere, falando claro, logo a seguir & sua ditadura, o fascismo, ¢ quer evitar, a todo o preco, que © povo poriugués prossiga, seja’pela social-demo- cracia, seja por outra via democratica, a construgdo de um socialismo democratico? Quem tem medo que Ihe seja retirado 0 espago politico € © pouco apo1o popular que o seu falso’ socialismo totalitério ainda consegue recolher? Uma voz: — Muito bem! © Orador: —Evidentemente que nto ignoramos que, além dos poucos militares que se deixaram mani- pular, os SUV, 0 MES, 0 PRP/BR, a FSP, o MDP, a LUAR e as outras orcas da FUR se confessam implicados no golpe. Mas, atendendo a que a pouca forca real dessas organizagdes — algumas das quais, como se sabe, no passam de meros gruptisculos mais ou menos histéricos — ndo seria suficiente nem para gizar-nem muito menos para executar um plano desta envergadura, importa ver que forca tinkain or iris os revoltosos, até a0 momento em que sc verificou que o golpe ia falhac. St. Presidente, Sts. Deputados: Assistimos ontem quia um dos ‘mais espantosos casos de hipocrisia politica da historia, s6 comparavel & presenga do célebre conspirador’ Lucius Catilina no Senado Ro- mano. © Partido Comunista, que sempre apoiou e incitou os militares © as organizagses que fizeram 0 golpe @ apesar de existirem provas notorias da sua culpa- bilidade, apresentou-se aqui quase como vitima ¢ desenvoiveu um arrazoado de explicagées que nada adiantaram. Preocupou-se com as liberdades que diz, agora, ameacadas, ele que acaba de tentar destrui-lasl © inguérito em curso, estamos cientes, no deixara de revelar o envolvimento desta organizagio, Mas jf diversos factos, na sua frieza, na sua crueza, falam bem claro, 1—Em primeiro lugar, saliento a falta de apoio do PC as medidas tomadas pelo Presidente da Rep blica, pelo Conselho da Revolugdo pelo Estado- Maior-General das Foreas Aemadas para defesa da democracia, bem como o seu siléncio altamente com- prometedor, ele que em outras ocasides era o que fazia_ maior alarido, desde que pudesse autoprocla- marse o salvador da Revolugio. Ora, até hoje, ainda ndo condenou claramente 0 golpe de 25 de Novembro, nem se dessolidarizou doz Seus autores. Pelo contrario, a sua DORN, em comu- nicado de 27 do mesmo més, deu apoio a uma mant- festagdo no Porto favordvel aos revoltosos, o que mereceu a justa condenagdo do Estado-Maior-General das Forgas. Armadas. 2—Em segundo lugar, ha muito eram piblicas as ligagdes do PC com os militares envolvidos no golpe, quer com os homens da ex-5.* Divisio, os Paulinos, os Clemenies, ete., quer com Costa Martins © outros’ militares da linha ‘dita «gongalvistan, agora presos ou fugides, quer, ainda, com o SDCT. Quem incitava’ 0; SUV? Quem considerava «progressistasy os bandos da Policia Militar? Quem promoveu a subversio dos para-quedistas, utiizando, para tal, uma célula de Sargentos? Quem reclamava o sancamento dos co- mandantes militares que se verificou virem a ser os dofensores da democracia? 3—Mas ha, ainda, que registar outros factos ocor- ridos durante ‘os acontecimentos. Na Marinha Grande, 0 PC mobilizou cerca de 400 mifitantes para irem apoiar os rebeldes que ocuparam a base de Monte Real e que apenas retiraram quanda chegaram os milhares de manifestantes convocados pelos Partidos’Popular Democratico e Socialista Em Torres Vedras, © mesmo partido incitou 1 populagio a sair para’a rua, dando apoio aos revol- 10305, j6 depois de iniciado’ o recolher obrigatério, [832] 4 DE DEZEMBRO DE 1975 Em Almeicim, foram distribuidas armas a militan- tes daquele partido, © no Cougo, outros militantes deram guarida a para-quedistas rebeldes. Em Benavente, 0 nicleo do PC mobilizou mili- tantes © promoveu uma barragem na ponte para tentar evitar a passagem de uma coluna da Escola Pratica de Cavalaria Em Vila Franca, houve também uma tentativa falhada de mobilizagio para barricar a ponte. Na peninsula de Setubal, diversos factos ocorreram que demonstram a cumplicidade do PC no golpe. 4—A actuacio dos drgios de comunicasao social, de hé muito controlados pelo PC, néo deixa divides sobre a implicagio do partido no’apoio ao golpe dos revoltosos, © clima por eles criado, as afirmagdes produzidas no proprio dia 25, 0 alarme da populagio, 0 louvor & subyersio militar em curso, si0 prova’ cabal do seu empenhamento na preparagdo do golpe. Por exem- plo, © conhecido Didrio de Lisboa, no dia do golpe, dava apoio, na 1.* pagina, aos epéras progressistas». ‘Também’a RTP abriu as portas aos revoltosos ¢ permitiu, na noite desse mesmo dia 25, que o fami- gerado Durant Clemente, antigo fascista que virou, naturalmente, social-fascista, viesse fazer propaganda de cobertura aos rebeldes, de que era um dos chefes visiveis 5—Também as organizagies sindicais que 0 PC ainda controla —e 36 estas—, para alem do apoio aos revoltosos, tentaram desencadear_manifestagies de massas © promover greves no dia 26. Foi o caso da Intersindical, da Unidio dos Sindicatos do Porto, do Sindicato dos Metalirgicos, etc. Anda no dia 24, 0 PC, em comunicado da sua organizacio regional de Lisboa, apoiou a pretensa greve geral de duas horas para apoio aos para-que- distas € a outros militares que classificava de «progres- sistas», Viu-se qual era 0 seu progressismo. Uma yoz:— Muito bem! © Orador:—Hé ainda que investigar, também, que partido pretendeu utilizar os trabalhadores das So ciedades J. Pimenta e das Camionagens Esteves, qu> esse partido domina, para, através das respectivas administragées ¢ comissbes de trabalhadores, os mani: pular no sentido de bloquearem estradas com as suas betoneiras, evitando, assim, a passagem dos homens do Regimento de Comandos ¢ possiilitando a con- tinuagdo da ocupagio abusiva do Comando da Regis Aérea. ‘6—Por outro lado, as chamadas organizagées de extrema-tsquerda e seus militantes vém dar-nos outra prova clara da implicaggo do Partido Comunista Sio elas as primeiras a eriticé-lo, porque, segundo elas, as abandonou quando constatou que o golpe ia falhar 7—Finalmente, pergunto: como se pode explicar que um Deputado que, apesar de a0 menor pretexto, tem desempenhado aqui o papel de acusador piiblico, de novo Fouquier-Thinville desta Revoluso, que quer, ao que parece, imitar 0 procurador-geral ‘VWychinski neste pais © Sr. Vital Moreira (PCP): —Parece um procura- dor da PIDE num tribunal plenario. 2875 © Orador: —... no momento exacto em que 6 Pre- sidente da Repiblica declarava o estado deem géncia, tenba declarado nesta Assembleia que néo via qualquer motivo para suspender a sessio da passada terca-feira? O Sr. Vital Moreira (PCP): — Até parece um po- licia, Uma voz: —Se calhar nio & verdade © Orador: — Quem pode acreditar que to grande nimero de células de empresas, locais Vozes de protesto. O Sr. Presidente: — Atengio, Srs. Deputados! © Orador: — ... da informacdo ¢ até a propria di- recgiio regional do Norte, de ‘um partido conhecid> pela sua disciplina férrea, tenham resolvido desobe- decer, simultaneamente, as ordens do Comité Central? Quem duvida de que aplicavam instrugdes superiores, que vieram a ser modificadas apenas posteriormente? Sr. Presidente, Srs. Deputados: Contra aquilo que pretendia 0 seu secretério-geral, 0 PCP nao teve, nem teré, © seu Outubro cm Portugal. O povo esti alertado para as suas caracteristicas: é, sem divida, um pequeno partido regional rejeitado em quase todo 0 Pais, © que tinha antes do golpe, segundo algumas sondagens, cerca de 7% de apoio no povo portugués; um partido que, infelizmente, pelo menos até agora, nfo tem tido pejo em utilizar métodos clara- mente fascistas para tomar o Poder. Cumpre per- guntar, para acabar: até onde, senhores, vos levardo a vossa audacia desenfreada, 0 vosso golpismo tot tario, a vossa sede de Poder? Quando s¢ converterao & democracia? Até quando abusareis da paciéncia do povo por- tugués? © Sr. Vital Moreira (PCP): —Nao respondemos fascistas, $6 respondemos a classe operéria. ‘Vozes: — Muito bem! Aplausos. Vozes de protesto. © Orador: —Sr. Presidente, Sts. Deputados: Em- bora tenha falhado 0 golpe que visava colocar no Poder aqueles que pretendiam fazer desembocar a Revolugdo numa ditadura comunista —ou seia na ditadura de uma nova classe dirigente —, outros peri- 0s a espreitam agora, Parece haver quem pretenda substituir & pretens1 vanguarda politica, que agora mostrou seu cardcter antidemocrético, uma vanguarda militar que impo- ‘aha a0 povo 0 seu proprio modelo de socialismo. © Partido Popular Democritico, logo que teve conhe- cimento das declaracdes pibblicas do maior Melo ‘Antunes, no sentido de conferir a essa vanguard um poder reforgado de direcgio do. proceso poli , em data de 27 de Novembro, ¢ através do seu Secretariado, um comunicado do qual destaco 0 seguinte trech # preciso que com a mesma clareza e digni- dade seja dito que © povo portugués jé ampla- 1833] 2876 mente demonstrou a sua maturidade. Nao precisa de condutores. © povo nio aceita ser margina- lizado ou preterido ou convidado a posteriori a analisar um projecto. O desejo renovado de tornar o MFA movimento suprapartidario, pe- dindo depois a colaboragao dos partidos, ¢ uma adaptagao dos modelos terceiro-mundistas. Mas as divergéncias partidarias nao so, nem podem ser, confundidas com desinteligéncias tribais € nenhum ascendente politico é legitimo sobrepor & capacidade e representatividade dos partidos politicos democriticos portugueses. Uma voz: — Muito bem! O Sr. Presidente: —Pego 0 favor a0 Sr. Deputado para terminar, pois est na hora. © Orador: ‘As forgas armadas reencontraram-se no 25 de Novembro assumindo a sua face «mais si», para reproduzir palavras do major Melo Antunes. De novo assumiram a sua auléntica fungio: permitir ao povo que este encontre a possibili- dade de, em paz © tranquilidade, vencer as difi- culdades que se antepdem ao projecto colectivo. Eo povo, na Assembleia Constituinte, na proxima Assembleia Legislativa, pela actividade dos partidos, por todos os seus legitimos repre~ sentantes, quem hi-de ¢ deve tomar nas maos a escolha do seu futuro ¢ destino. Por minha parte, julgo dever acrescentar o se- guinte: a experignela dos meses decorridos j6 de- monstrou que a intervengao politica dos. militares, enquanto tais, contém em si o germe da sua propria e inevitavel divisio, com os riscos de confrontagio a ela inerentes. Essa divisio decorre nic s6 da even- tual parti dos componentes da tal pretensa evanguarday, como do facto de as opgées politicas coneretas sefem quotidianamente a sua fonte. Por outro lado, entendo que a conducio de qual- quer processo por uma uvanguarday, seja ela qual for, néo € compativel com a existéncia da demo- cracia, Ou a avanguarday respeita a vontade popular e desiste do seu projecto proprio, para cumprir 0 projecto aprovado pela maioria, e acaba por admitir sua propria substituicdo pelos eleitos do povo, estando, portanto, condenada a ser suplantada pelos partidos que beneficiem da confianca popular, ov, por outro lado, para manter indefinidamente a direc: ‘80 do processo, tal «vanguardan no se submete 20 Sufrégio popular e governa contra a vontade da maioria. Mas, para isso, teré de recorrer aos métodos ditatoriais da_manipulacio da opinigéo publica e, a curto prazo, & propria restrigio das liberdades fun- damentais. ‘A vontade de qualquer minoria, ainda que sob a capa de uma legitimidade revolucionéria, néo pode sobrepor-se A legitimidade democrética. Por outras palavras, os projectos de alguns nio podem contra- iar a vontade da maioria do povo O Sr. Presidente: —O Sr. Deputado tenha a bon- dade (834) DIARIO DA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE Ne 39 © Orador:—Um minuto s6. sob pena de a Revolugdo, além de deixar de ser democratica, caminhar para o seu suicidié. © facto é tanto mais grave quanto se sabe que por detrés das «vanguardasy detentoras do Poder aparecem sempre tecnocratas que se julgam ilumi- nados, mas que nao querem, no fundo, submeter nem os seus programas nem ‘a sua pritica politica a apreciagao popular. Parece ser um risco que est mos agora a corter com um grupo de tecnocratas conhecidos por «x-MES». ‘Ainda dois pontos complementares: sem a possi bilidade de 0 povo pedir contas aos detentores do Poder no ha democracia. Queria chamat a atengio para os inconvenientes, gravissimos, em relagio quer as suas fungdes, quer ao seu prestigio, de as forgas armadas, ou de uma sua parte, virem’a ser respon- sabilizadas pelo povo por actuagdes politicas que se tenham revelado erradas, ineficazes ou contrarias A vontade popular. Finalmente, também o socialismo s6 se pode cons- truir por via democratic. Os socialismos que néo tiverem suficiente apoio popular correspondem, ine- vitavelmente, a projectos clitistas ou cupulistas e estdo destinados a serem reversivels, porque contes- taveis ‘A experitncia das sociais-democracias prova, pelo contrério, que os avangos feitos em liberdade, por vontade do povo, esses, sim, € que so irreversiveis. Ainda que a alternancia do Poder leve partidos de indole neocapitalista ou conservadora ao governo, esses préprios partidos no podem voltar a trés das conquistas feitas pelos sociais-democratas, ‘Uma yor: — Muito bem. © Orador: — Terminarei fazendo um apelo as for- gas armadas ¢ aos trés partidos demoeraticos aqui presentes para que tudo fagam no sentido da devo- ugiio 20 povo da soberania que s6 a ele pertence, sem prejuizo da miso das forgas armadas de ga- rante da democracia, mas incluindo © poder, que também s6 ao povo cabe, de escolher livremente os seus governantes. Sr. Presidente, Sts. Deputados: Julgo que, apesar dos perigos que apontei, estéo finalmente abertas as portas para a verdadeira revolugao que 0 povo deseja; 2 construgao de uma verdadeira democracia que Ihe permita escolher 0 caminho que quer trilhar para a construgdo de uma sociedade nova, sem édio, sem injustiga, verdadeiramente verdadeiramente so- lidéria, numa palavra, verdadeiramente humana, Tenho dito, (0 orador fez a sua intervencio da tribuna.) Aplausos. ‘Vozes: — Muito bem! © Sr. Presidente: —Quero apresentar as_minhas desculpas & Assemoleia, porque houve aqui uma infrac¢do regimental de cerca de dois minutos e custa-me sempre, quando as pessoas estio a expor as suas ideias, de certo modo, mutilar esse esquema, Mas nfo posso continuar a consentir a violagio das regras, sob pena de no se cumprir efectivamente 0 4. DE DEZEMBRO DE 1975 Regimento. Espero dos Srs. Deputados a compreen- sio suficiente para esta ajuda, que lhes peco, no sen- tido de cumprirmos o Regimento Tem a palavra o Sr. Deputado Sottomayor Cardia. Pausa, Um momento s6, O Sr. Deputado Vital Moreira para um esclare mento, Sr, Vital Moreira (POP): — Sr. Presidente: Criou- -se aqui uma prética regimental no sentido de os partidos acusados directamente na Assembleia pode- rem responder através de um dos seus Deputados Queria perguntar, Sr. Presidente, se posso fazer uso desse direito, que’a pratica regimental consagrou, © Sr. Presidente: —Seria a prética de qualquer Sr. Presidente, menos a minha. Eu entendo que sO podem tratar de defesa quando as defesas sio feitas individualmente. Sr. Vital Moreira (PCP):—Sr. Presidente: De qual- quer modo farej um pedido Sr. Presidente: —Na altura propria inscreve-se ¢ explana as suas ideias. O Sr. Vital Moreira (PCP): — Queria, eintretanto, fazer um pedido de esclarecimento, Sr. Presidente, que era o seguinte: queria perguntar ao Deputado que acaba de intervir se, ao falar em inquérito que sera realizado, mas cujas conclusdes ele desde jé adiantou, falou como Deputado ou se falou como .. O Sr. Presidente: — © Sr. Deputado dé-me licenga? E que eu quero rectificar aqui uma coisa, agora mais Tembrada, porque de facto o Sr. Deputado Pedro Roseta fez referéncia a V. Ex. pessoalmente, diri- gindo-se-Ihe pessoalmente, € portanto tem o direito de defesa. © Orador: — Bem, Sr. Presidente, nio quero res- ponder pessoalmente. Nao fui atacado pessoalmente, O Sr. Presidente: — Se considera que néo foi ata- cado pessoalmente . © Orador: —Nao considero que as interferéncias do Sr. Deputado Pedro Roseta a meu respeito sejam consideradas.como acusagées pessoais. Quando muito, exprimiriam 0 fundo politico ¢ moral do Deputado acusador. De qualquer modo, em relaco as acusa- ges feitas a0 Partido Comunista Portugués © Sr. Presidente: Eu pego desculpa a V. Ex. ‘mas no poder falar em nome do partido... 6 um pedido de esclarecimento. saber se o Sr. Deputado, ao referir-se & necessidade de inquérito, tirara as conclusoes a respeito de envolvimento nas acgées de sublevagio militar do dia 25, mas cujas conclusées cle desde Jogo adiantou em relagio ao Partido Comunista Por- (835) eer tugués, queria saber se ele estava a falar como Dept tado ou como qualquer acusador piiblico num tri- bunal plendrio ¢ instrumentalizado pela PIDE. ( orador nao reviu.) © Sr. Pedro Roseta (PPD): — Bom! A propésito de fundos morais e politicos de cada um, pois eviden- temente que no sé a Cémara, mas o Pais julgardo. Bastaré, alias, ler 0 Didrio da Assembleia ¢ bastard sobretudo atender & pratica politica dos diversos Depu- tados € dos seus partidos. Quanto sua pergumta, é bem claro que assenta ‘num lapso; certamente nao teri ouvido bem o que eu disse, Eu falei na necessidade de um inquérito e ni tirei quaisquer conclusdes desse inquérito. J4 aqui diss mais de um vez que ndo sou eu nem ninguém do meu partido que tem demonstrado aqui a vocagio para ovo inquisidor. O Sr. Vital Moreira (PCP —Viuse . © Orador:—Pelo contrério, eu apenas enumerei friamente factos. Evidentemente que me conformarei depois com as conclusées do inquérito que certamente sera realizado, Em resumo, limitei-me @ enumerar os factos, que so reais, que aconteceram, de que ha int meras testemunhas, que vém nos jornais, que vém em comunicados de organizagdes politicas, algumas até de extrema-esquerda, algumas até aliadas do Partido Co- munista até hd poucos dias. Eu nfo tirei conclusdes, no fiz uma acondenacdo» definitiva, como alguns cos- tumam, nem me competia fazé-la © Sr. Barbosa Goncalves (PPD): —E Custdias ainda é pouco; € bom de mais. Sr. Pedro Soares (POP): — Fascistal O Sr. Barbosa Gongalves (PPD): — J4 sei que sou, ‘meu amigo. Sr. Pedro Soares (PCP): — Meu amigo néo, meu adversario, Sr, Presidente: —Tem a palavra o Sr. Deputado. Sottomayor Cardia. © Sr. Sottomayor Cardia (PS): — Sr. Presidente ... Prossegue a agitapdo na Assembleia. Sr. Presidente: —Chamo a atengio da Assem- bleia para ouvir a intervengo do Sr. Deputado que esta no uso da palavra, © Orador: — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Como nos dias que se seguiram ao 25 de Abril a nossa con- vicgfio de hoje é simples: valeu a pena lutar! ‘Valeu a pena {utar contra a pressdo antidemocratica de partidos © grupos fanatizados que, como previsto, tentaram a conquista total do Poder pela forga. Valeu a pena lutar contra a demagogia que se aba- teu sobre este povo tranquilo ¢ moralmente 0 massa- crou e atormentou. Vale a pena lutar contra a anarquia esfusiante que se instalou na sociedade portuguesa e parecia predes- tinada a minar todas as instituigées, mesmo a militar. 2878 Valeu a pena lutar contra 0 dio, a sevicia e a pre- poténcia que nos fizeram reviver ‘a tradigdo antiga portuguesa da policia de pensamento, da brutalidade senhorial, de vistosas potestades de pé de barro € cérebro de granito. Valeu a pena correr 0 risco de dar voz, na praca publica, ao sentir geral do Pais Valeu a pena ter sofrido, durante algum tempo, © mal-estar moral de uma relativa autocensura, preco que era indispensavel pagar para travar luta politica 1o estreito campo de manobra das instituigdes de en- tio. A razio pode temporariamente ser complacente quando a opressdo € aventureiral ‘Valeu_a pena despertar e educar energias e senti- mentos bem radicados no povo portugués, Raros exemplos regista a nossa historia de tao inci siva resisténcia popular & opressao. Cumpre sublinhar, nesta tribuna, 0 papel que a Assembleia Constituinte, antes mesmo de iniciar os seus trabalhos, desempenha’na recuperagao da con- fianga deste povo em si proprio, As eleigdes de 25 de Abril de 1975, realizadas inteiramente revelia do sistema de poder ¢ de ideologia dominante, consti tuem 0 maior acto revolucionario praticado apés 0 derrubamento do fascismo. Demonstram a forsa dos processos democraticos e a eficicia do exercicio da liberdade. Sem eleigdes o Pais ter-se-ia desencontrado de si préprio. Ninguém disporia de legitimidade para fazer prevalecer a vontade popular. © PS orgulha-se de ter sabido corresponder ao jandato de salvagdo nacional que 0 povo preferen- cialmente Ihe confiou, Ninguém nos pode acusar de no termos sabido honrar as nossas responsabilidades. Apraz-nos recordar que 0 nosso grito de libertagio ecoou.fundo em todo 0 povo, o desinibiu e determi- nou & resistencia outros sectores de opiniio ¢ diri- gentes do proceso revolucionario. ‘A aventura comunista nao se satisfaz no golpismo inicialmente planeado. Frustrada em Setembro a tac- tica golpista, a conquista do poder através de mano- bras de cpula, sucedeu-lhe prontamente um projecto insurreccionista. Deve aqui reconhecer-se que a ten- tago monopolista da fase golpista se seguiu ilimitada vontade frentista na fase insurreccional. Nesta, 0 PCP reatou, na verdade, os habitos da velha fidalguia portuguesa, que nos ajustes de contas também man- dava a frente a criadagem Rios, como ha dias me dizia um historiador amigo. Risos. Nao é suficiente, nem interessante, que 0 PCP con- sidere agora inopottuna a insurreico dos seus corre- ligiondrios militares. Precisamos de saber se agora a considera também ilegitima ¢ criminosa ‘A. resisténcia militar insurreigio comunista de 25 de Novembro restaurou o prestigio das forgas ar- madas. Os militares figis foram outra vez 0 brago armado do povo. E 0 povo deu, uma vez mais, apoio directo e permanente & defesa da democracia. Se a neutralizagao do crime foi relativamente ré- pida e quase isenta de sacrificios totais, isso deve-se tanto a competéncia e detetminagao das autoridades € forcas militares como & aco de esclarecimento dos populares junto de unidades rebeldes. DIARIO DA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE Ne 89 Viveu-se um ano de loucura colectiva, que faré 0 encanto dos investigadores de psicologia social ¢ psi- copatologia politica Uma vo: — Apoiado! © Orador: —....¢ em que quase nada “de constru- tivo se péde fazer sendo dar combate ao virus da destruigao. Eis-nos agora perante nés préprios, mais, experientes, ¢ certo, mas mais pobres e atrasados. © Pais mitico do ‘esquerdismo alucinado acabou. E um espectro do passado. Temos de construir esta terra, com inteligéncia, com informagao, com respeito pela realidade. Vozes: — Muito bem! © Orador: —Ontem exigiu-se que fossemos de ovo resistentes, que fossemos de novo cavaleiros an- antes da liberdade. Hoje impde-se que sejamos bons trabalhadores, bons administradores, bons governantes, bons legisladores. £ uma reconverséo de atitudes es” Pirituais que 0 Pais pede aos seus dirigentes, Seremos determinados no estudo e solugio dos problemas do investimento, da produgao, do trabalho, da justiga social, do equipamento colectivo. Vencemos a batalha da liberdade. Venceremos, com realismo, a batalha da economia. ‘Com o descalabro do esquerdismo, a extrema direita sofreu pesada derrota © perdeu uma oportunidade histérica, © Orador: — Sejamos vigilantes a todas as viola- gdes da legalidade, provenientes da extrema diteita ou da extrema esquerda, mas sejamos sobretudo aten- tos e determinados na construcdo da sociedade nova. Poderemos ainda neutralizar 0 reflexo nefasto destes meses na opinido pablica do pais vizinho. Pelo exem- plo da nossa capacidade de construir um pais em paz € liberdade, poderemos ainda ajudar a transformagio democratica da vida politica espanhola, (© caminho foi longo. A normalizagio, a democra- cia e 0 socialismo em liberdade vencerio. O Pais nio suporta mais convulsées. (0 orador nao reviu, tendo realizado a sua inter- venedo na iribuna.) Aplausos. ‘Vores: — Muito bem! O Sr. Hilario Teixeira (PCP): — Os trabathadores trabatham, 0 Governo governa, Vozes de protesto Sr. Presidente: —Tem a palavra 0 Sr. Deputado Kalidas Barreto. Prossegue a agitacao no hemiciclo. © Sr. Presidente: — Atengo, Srs. Deputados. © Sr. Kalidés Barreto (PS):—Sr. Presidente, Srs. Deputados: Quando em Outubro tive ocasifio de usar da palavra nesta Assembleia, procurei fazer uma [836] 4 DE DEZEMBRO DE 1975 andlise sob 0 ponto de vista dos trabalhadores. Era luma andlise politica sem outra pretensio que a de ser sincera. E porque nao me limitava a falar pelos traba- Ihadores ou em seu nome, mas sou trabalhador em carne ¢ sangue, a andlise, além’de sincera, saiu cor- recta, Dizia eu entio e perdoem-me recordar: «Esta Re- volugdo, j ninguém duvida, esta a ser feita ao sabor de intrigas, com jogos palacianos, com boatos. Des- mente-se descaradamente.a verdade, apregoa-se a sete ventos, com ar de autoridade, a mentira, Politicos responsiveis ou, melhor dizendo, com res- ponsabilidades nao hesitam, perante o mundo, afirmar ‘a0 mesmo tempo e no mesmo plenério o contrério um do outro, ao referirem-se 20s problemas econé: i Cada um procura superar-se em des- caramento, discursos, atitudes ¢ "bocas’. Campeia 0 vedetismo!’ Todos so super-revolucionériost» E depois: «Chega a parecer que a esquerda portu- ‘guesa esta atordoada com 0 claréo do poder!» E mais adiante: aAfinal o que se quer? Criar a con- fusio, a discérdia, 0 caos ou o triunfo da revolugs socialista? Continuar a langar queixas uns sobre os outros ¢ esquecermo-nos do inimigo comum, ou deixar avangar a Teaco? i ‘A confusio em que se vive néo serve objectiv mente os trabalhadores. A luta de classes é uma coisa, ‘a manipulago de trabalhadores contra trabalhadores, do povo contra o povo, de soldados contra soldados, € outra. £ utopia, é loucura, se nfo for descarada- mento contra-revolugi0.» «Por detrés de um falso progressista est sempre um verdadeiro reaccionérion, disse Costa Gomes, ¢ & preciso que os trabalhadores, os soldados ¢ 0 povo estejam atentos a esta verdade, © que se quer? Que obscuros designios servem certas pessoas? ‘Os factos recentes vieram dar-me razio. A forma como estava a decorrer 0 processo revolu- cionario teria inevitavelmente que conduzit a uma ro- tura, E felizmente que cla se deu com“as forcas ar- madas coesas ¢ empenhadas nos ideais do 25 de Abril. ‘As forgas da burguesia, a permanente contestagao de pseudo-esquerdistas, o infantilismo de alguns leaders, © oportunismo aventureirista de inconscientes, a ten- déncia_golpista de sectores militares e civis, a cres- cente inquietagdo do nosso povo, a sensagio de mal- estar generalizado nas massas trabalhadoras, 0 equi- Iibrio e determinagio das forgas que desejavam uma democracia pluralista, eram pecas demasiadamente contradit6rias para continuarem ajustadas no mesmo puzele. Certos esquerdistas, para fugirem a alguns pecadithos de consciéncia (como seria interessante o filme do seu passado politico), procuravam colocar-se quanto mais esquerda melhor; mesmo que fosse um esquerdismo utépico ou infantil; mesmo que se desgarrasse da von- tade do povo; mesmo que conduzisse & contra-revolu- sto! ‘Com pecadilhos ou sem eles, a verdade € que al- guns responséveis (seriam?) militares ¢ civis 6 se Preocupavam em avangar, sem olhar como € quando; sem olhar ao Pais € 80 povo concreto para quem era a Revolugao! 2879 Era surpreendente como estes individuos se intitu- javam muito marxistas, mas no se preocupavam em finalisar a relagdo de forgas, o Pais concreto, em ver que 0 golpismo ¢ os avangos demasiados ¢ sem bases fe convertem em aventuras que podem dar recuos; jima vez que & forca de se querer a Revolugio se stava a fazer 0 jogo da contra-revolusio! Vores: — Muito bem! © Orador: — E assim sucedeu um inevitével 25 de INovembro, que por pouco nao levou o Pais & guerrs ivi | A despeito da tolerdncia, propria de democratas, Ique deveré haver com os responsiveis —admitindo [que fizeram jogos inconscientes © considerando que lentre eles ha homens que deram boas provas no pro- lcesso revolucionario do 25 de Abril —, € legitima a in- \dignago do povo e a pergunt Quem tem o direito de brincar com 0 povo? © processo revolucionario, a0 que se promete © acreditamos, vai voltar aos’ seus catris democrat cos. Com seguranga © disciplina. Sem margem para lgolpismos. Com os trabalhadores. |" Fazemos ardentes votos que sim. Com liberdade para todos os que queiram a Revolugdo; com menos manifestagdes, mas mais trabalho; com seguranca disciplina de ‘esquerda; falando-se menos de traba- Ihadores, mas conduzindo-se 0 processo com ¢ para ales; falando-se menos de socalismo, mas construn- Parece, pois, chegado o momento de se passar a fase de consolidagéo da democracia e de construsao do socialismo— tinica alternativa para se fundar em Portugal uma comunidade justa e humana, O papel do PS, porque partido de trabalhadores, € 0 de con- tribuir decisivamente para essa sociedade € 0 de |sssequrarintransigentemente a independéncia naco- Entretanto, compete as massas trabalhadoras em | geral —para quem é com quem a Revolugio é feita— continuar vigilantes e mobilizadas. Para tirar 4 direita qualquer tentativa desesperada ou habilidosa de recuperagéo; para que se néo perca nenhuma das conquistas j& alcancadas pelos trabalhadores. © momento € de reflexdo ¢ de trabalho, nao ¢ de alarmismo. $6 € alarmista quem ndo é revolucionério, ‘A quem & compete-Ihe mobilizacdo ¢ vigilancia! Pelas classes trabathadoras! Pela democracia e a liberdade! Contra o fascismo ¢ 0 capitalismo! ‘Viva 0 socialismo! Aplausos. ‘Vozes: —_Muito bem! O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Depu- tado José Ferreira Junior. Tem dez minutos. © Sr. José Ferreira Sénior (PPD): —Treze minu- tos? Sr. Presidente: —Tivemos azar, mas pode ser. Sr. José Ferreira Jénior (PPD): — Sr. Presidente, Srs, Deputados: A revolucdo militar de 25 de Abril 2880 36 no era possivel © desejével para quem, fazendo 1 anélise politico-militar dos ultimos tempos do fas- cismo portugués, fosse observador limitado ou espar- tilhado pelos esquemas ditos cientificos, mas tantas vezes incompletos ou errados, do marxismo-leninismo. ectivamente, para os dogmaticos seguidores dessa filosofia politica no era possivel admitir que aquilo que chamariam um golpe militar saido do exército regular de um qualquer regime fascista pudesse guma vez ser feito para permitir que 0 povo, em total Tiberdade e sem discriminagées, escolhesse ¢ seguisse o destino politico-social que desejasse. E facil, pois, compreender por que recusaram dat fa sua participacio ao MFA antes do 25 de Abril alguns oficiais comunistas coerentes, que para tal fo- ram convidados, pois em obediéncia cega a0 que estava escrito mos livros de Marx e Lenine nunca tal Movimento das Forgas Armadas poderia abrir as portas a uma solugdo verdadeiramente revolu aria © progressista e, por isso, nela no se deveriam empenhar (como néo empenharam). Este caso portugués tem sido, ali, fértil, desde 0 cio, em demonstragdes claras do erro de algumas anilises © das correspondentes previsies de Marx Lenine Mas se a revolta militar de Abril foi para muitos facil de prever, © mesmo j6 nfo sucedeu quanto a introdugéo de importantes factores que vieram mar- car profundamente a sua evolugdo posterior. Sempre fui dos que imaginei que ao 25 de Abril se seguiriam trés grandes fases no processo politico portugués. ‘Uma primeira, em que a principal organizagao da esquerda radical, 0 Partido Comunista Portugués, iria rapidamente apossar-se ou ficar com o contrdle das mais importantes estruturas sécio-politicas do Pais Tsso porque € 0 que por regra sucede quando se sai de uma ditadura fascista, pois 0s partidos comu- nistas, pelas caracteristicas Ja sua filosofia politica © consequente actuagdo prética, so 05 que em tais situagées se encontram mais bem organizados, rigida- mente disciplinados e por isso mais rapidamente ope- racionais para a conquista do Poder. Uma segunda fase, em que se estruturariam ¢ de- senvolveriam outras correntes politicas ¢ se assists a luta entre elas ¢ © Partido Comunista para desa- lojar este do excessivo predominio de posigdes © in- fluéncias que inicialmente conquistara. Esta seria a fase que poderiamos chamar inter- média € € certamente a que estamos agora atraves- sando. or fim, chegariamos ao tereeiro momento, & ter- ceita fase, em que se alcangaria 0 equilibrio demo- trético no processo politico portugués. Tal como muitos dos que previam na nossa revo- lugao estas grandes linhas evolutivas, também eu no estou ainda completamente seguro de que a terceira fase, que se anteviu ser a do equilibrio democratico, ndo posse vir a ser antes a de uma nova ditadura da direita, 'Na realidade, a introdugéo dos tais factores inicial- mente imprevistos no complicado process politico portugués podem ainda continuar a empurrar-nos (838) DIARIO DA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE N- 39 nesse sentido, Por isso vale a pena nfo os perder de vista Ao tentar identifici-los e estudar a influéncia e a responsabilidade que cada um tem tido nas dificul- dades © desvios da nossa revolugio, considero que avulta entre os demais, podendo até dizer que esté na raiz de quasc todos’ 0s outros, a atitude do PCP de no aceitar 0 jogo democrético, de no aceitar afinal a vontade da maioria do povo. Nao previ, confesso, nem antes, nem logo a seguir ao 25 de Abril, que viesse a ser esta a conduta do PCP. Na verdade, pelas leituras de alguns documentos do PC, circulados clandestinamente nos siltimos tem- pos. do fascismo; pelas conversas tidas ao longo de varias campanhas oposicionistas com os companhei- ros comunistas dessas lutas; ¢ ainda pelo que sabia ser © pensamento sincero de alguns meus amigos comunistas, intelectuais de certo relevo, cu estava convencido ¢ defendi sempre que o PCP seria respei- tador e acatador, depois de derrubado 0 fascismo, dé jogo © da vida democratica, tal como o faziam ¢ fazem os partidos comunistas da Europa Ocidental. Apesar de tudo, ainda estou em admitir que nfo estive enganado ¢ que seria talvez essa a intengdo de algumas cipulas dirigentes do PCP antes & nos primeiros tempos a seguir ao 25 de Abril. Pelo menos, estou certo de que era esse o pensamento daqueles co- munistas meus amigos. Como certamente 0 era tam- bém 0 daquele militante do PC, martir de muitos anos das cadeias da PIDE/DGS, que em conversas parti- culares j4 hé muito tempo que no esconde o desa- cordo com a orientagio que os dirigentes imprimiram ‘a0 seu partido. Considera ele que-o respeito € 0 pres- tigio que o PCP conseguira granjear entre grande parte do povo portugués, & custa principalmente dos sacrificios sofridos por tantos militantes a0 longo da noite fascista, estio ja de tal maneira comprometi- dos que dificilmente ¢ s6 a poder de muitos anos poderio vir a ser recuperados. , pois, minha impressio que 6 a partir de deter- minada altura houve uma clara mudanga de atitude do PC quanto & aceitacio das regras democriticas, do_respeito, portanto, pela vontade popular das maiorias. Julgo terem estado na dase dessa provével viragem as inesperadas facilidades com que 0 proprio PC viu que conquistava, uma apés outras, todas as chaves fundamentais da méquina politico-administrativa do Pais ¢, a partir de dada altura, a estrutura econémica © até 0 contrdle do MFA. Nio tenho dificuldade em compreender que a par- tir de entio se tivesse apossado dos comunistas portu- gueses um espirito triunfalista ¢ a conviegdo firme de Que 0 processo revoluciondrio iria passar a ser total- ‘mente liderado por eles. Na légica leninista-estalinista tinham razio para isso. Na verdade, para 0s seus dogméticos seguidores, nao € nunca a falta de correcgio das suas andlises, dos seus esquemas explicativos © da sua moral pol tica que leva as classes trabalhadoras a no aceitar os métodos € 05 objectivos que eles Ihé propoem. Para um marnista-leninista, a sua verdade € cienti- fica e, por isso, nfo podem conceber que um povo 4. DE DEZEMBRO DE 1975 no siga os caminhos que esto previstos nos seus esquemas ¢ recust, assim, a felicidade infalivel que eles the oferecem. ‘A dificuldade para os comunistes estaria apenas em conseguir fazer chegar as suas cientificas. ver~ dades junto das massas trabalhadoras, 0 que se obte- ria com a eliminagio das barreiras que a isso se copéem, Barreiras varias, mas que se Tesumem, nos tempos modernos, numa que € a informacio, cons- tituida, fundamentalmente, pela televisio, rédio, im- prensa, cinema e teatro. So, efectivamente, estes os meios com os quais é ppossivel influenciar de forma profunda a opinifio, os habitos e os desejos de qualquer povo. Se, nos regimes capitalistas, vazios de mensagem moral e estética, a posse desses meios pelos deten- tores do poder econémico-financeiro consegue, por uum processo de intoxica¢ao psicoldgica, condicionar em muito a vida social, € evidente que os marxistas- -leninistas, convencidos de serem possuidores de uma razio e de uma moral superiores a todas ¢ de um modelo de vida incomparavelmente melhor para as classes trabalhadoras, nao poderiam admitir dividas de que, conseguida a posse desses meios de informa~ io, em pouco tempo teriam do seu lado a opinigo € a vontade de amplas camadas do povo portugués. Aleangado esse objectivo pelos comunistas portu- gueses, 0 outro grande obstéculo que, numa visio eninista-estalinista, se poderia levantar a revolugao por eles chamada ‘proletéria era a resistencia ofere- ida pelas forgas armadas tradicionais. Mas também, f partir de certo momento, e com uma rapide © uma facilidade que nao teria estado nem mesmo na imaginacao do PCP, esse obstaculo do processo revoluciondrio foi por si em grande parte dominado, através do subtil contrdle da direcgao © comando dessas forgas. E, pois, facil compreender 0 triunfalismo de que se embriagou o PCP. Tinham afinal conseguido ter nas maos as condi- ges essenciais para avangar a sua revolugio, de acordo com a sua doutrina. Contudo, € claro hoje para toda a agente, incluindo ‘os préprios comunistas, que o PCP falhou nos seus objectivos de conquista’ do apoio do povo portugues Nao s6 falhou como criou um clima de repulsa por parte da esmagadora maioria dele. Nao vou fazer agora andlises detalhadas das razSes de um tal falhango ¢ de uma tal repulsa. ‘Acabaria, aliés, sempre por chegar & conclusio ‘de que na base do falhango esto os erros inerentes & propria doutrina na marxista-leninista-estalinista que perfilham, ¢ na base da repulsa as técticas que no souberam ou néo quiseram, por um lado, evitar que as fileiras do Partido tivesse aderido legiéo considera vel de oportunistas sem qualquer ideologia ¢ escri- pulos, por outro, demarcar-se com clareza suficiente dos gruptisculos esquerdistas e, por outro ainda, aban- donar em tempo oportuno as atitudes triunfalistas © arrogantes. Estou convencido que so agora cada dia mais ‘0s comunistas portugueses que j& no alimentam esperancas de ver recuperada a hegemonia do sew partido na Revolugo Portuguesa, pois € evidente que se aperceberam jf, por um lado, do descrédito e da hostilidade em que cafram perante a esmage- 2881 dora maioria das massas populares do nosso pais, rio obstante terem disposto por longo tempo (ou talvez por isso mesmo) dos grandes meios de infor- rragéo, por outro, porque acabam de perder os fir- mes apoivs de que ainda dispunham dentro das forgas, armadas. Acresce ainda dizer que no posso conceber igno- rarem eles a situacdo geo-politica e 0 contexto mun- dial em que Portugal esté inscrido. Interrogo-me, por isso, com a angiistia do cidadao ‘que em toda a sua vida nunca deixou de se preocupar coma sorte € 0 destino do povo a que pertence, quanto a0 que se passa no pensamento ¢ nas inten- @5es dos dirigentes do PCP. Que 0s pode levar a persistir na continuago de uma politica € numa actuagdo que para quase toda a gente certo 56 poder arrastar-nos para uma situagio de perigosa deterioragio social? No escondo que estas preocupagies vém-me do reconhecimento de que o PCP, mesmo. pequeno, mesmo cada vez mais insignificante na sua base de apoio social, mesmo com a derrota que as forcas demoerdticas acabam de lhe inflingir, é uma orga zagdo que, pelas caracteristicas @ recursos e ajudas cue recebe de véria ordem ¢ de varios lados, tem tido « tera por muito tempo ainda forte influéncia, boa ou tragica, no destino desta nossa patria. Seré’que os dirigentes do PCP, marcados por uma longa formagao estalinista, de que ndo foram ou nio quiseram jamais libertar-se, e traumatizados por lon- ‘0s anos de cadeias, de clandestinidades e exilios, con- tinuardo obstinados em auto-atribuirem-se 0 direito de tomar nas suas tnicas maos esta Revolugio, despre- zando ostensivamente a opinigo © 0 querer de-um 1povo quase inteiro que nfo os deseja seguir ¢ até da maioria da propria classe operéria, de quem se que- vem arvorar em vanguarda iluminada ¢ dirigente? Sera que os dirigentes do PCP, embora sabendo que tio a fazer a autodestruigéo do seu partido ¢ a ‘omprometer a independéncia do seu pais, tém acima de tudo em vista servir uma causa internacionalista, planeada superiormente pelos seus correligiondrios da Unido Sovietica? Estardo assim desinteressados do destino concreto do povo portugués concreto, desejando acima de tudo continuar a alcancar alguns ganhos mais para o im- pério do leste, que teimam em considerar a sua atti Ou sera que os dirigentes do PCP, olhando para 0 que tem sucedido a partidos da sua indole nos paises ande, se instauraram, regimes. da verdadeira liberdade Aemocratica, estdo decididos a impedir por todos 05 meios que aqui se alcance também uma democracia politica? Que prefiram, a no poderem desta vez tornar total € definitivamente conta do poder, voltar a que se reinstaure 0 fascismo, na convicgo de que assim te- i tarde triunfar ¢ impor finalmente a sua propria ditadura? Mesmo sabendo que a voltar-se ao fascismo s6 os comunistas, privilegiados que pudessem exilar-se ficariam livres de represalias e violencias, mas no o ficariam as massas, dos seus militantes que c& teriam de permanecer? Seré que tal estratégia esté a0 servis tica internacional que obriga os triunfar agora ou entéo a fazerem com que se ins- 839] 2882 tale aqui um regime Pinochet, na intengao de levar os PC europeus a abandonar o respeito pela via demo- cratica e optarem pela do golpismo e da violéncia na conquista do poder? E isto porque & classe burocratica da Russia ¢ dos seus satélites a continuagdo das democracias europeias fa seu lado € motivo de constantes preocupagies & perigos, porque vo mostrando as suas populacdes, apesar de no terem ainda climinado formas de orga- hnizagao capitalista, que vo resolvendo mesmo assim melhor as necessidades materiais das classes trabalha- oras, sem Ihes retirarem liberdades fundamentais? ‘Sejam, pois, quais forem as ideias e os planos que movem 0s actuais dirigentes do PCP e apesar do safanio que acabam de receber, com a vitéria das forgas democriticas sobre o golpe insurrecional, é-me dificil aceitar que sejam ja capazes de se libertar da cempedernida formagio estalinista que tém revelado. Admito, porém, que a faccio dos militantes do PCP predisposta para aceitar a democracia, tal como ‘os seus camaradas italianos, espanhdis e franceses, venha a crescer e reunir em determinada altura forga € coragem para escolher novos dirigentes ¢ imprimir ao seu Partido uma estratégia idéntica & daqueles paises — J4 passaram os dez minutos © Orador: —S6 um minuto, S6 a partir de entio a Revolugdo Portuguesa progrediré, sem dificuldades @ riscos de maior, no caminho de’ uma democracia socializante. ‘ero, entretanto, as sucessivas vitérias dos partidos democraticos ¢ a consequente marginalizagio do PCP pelo povo portugues que hao-de forgar aquele a todas essas provaveis modificagdes quando quiser reintegrar-se na trajectoria democritica que os Por- tugueses no vio mais abandonar. Por isso entendo que o afastamento do PCP do VI Governo, além de ser uma mfedida de elementar ogica politica e de respeito democratico pela vontade da maioria do povo, terd ainda o efeito de mais de- pressa levar a que naquele partido se desencadeiem as alteragées que o fagam aceitar o jogo da democra- cia, tal como sucede com os partidos similares euro- PQuero terminar, afirmando a minha esperana, mais do que esperanga, a minha certeza de que agora ou mais adiante, com ou sem o Partido Comunista, 0 povo portugués hi-de conseguir construir uma socie- dade justa, progressiva, fraterna, hi-de construir uma sociedade ‘socialista democratica. (0 orador fez a sua intervencao na tribuna.) Aplausos. ‘Voves: — Muito bem! © St. Presidente: — Esta aberto o per ORDEM DO DIA Suponho que havia ainda algumas declaragées de voto, Pausa. [840] DIARIO DA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE N. 89 Tem a palavra o Sr. Deputado Levy Baptista. O Sr. Levy Baptista (MDP/CDE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: 1—E jé do conhecimento desta Assembleia Cons- tituimte aquilo que © MDP/CDE entende dever ser uma Constituigio para vigorar num periodo de tran- sigdo como este que vivemos em Portugal. Talvez nfo seja inoportuno, no entanto, relembrar que, no nosso entender, essa Constituigio teré de ter um contetido marcadamente popular e revolucio- nirio, devendo integrar as conquistas fundamentais obtidés pelo povo a0 longo dos meses que decorre- ram desde Abril de 1974. Dessa forma se obstard a qualquer paragem ou recuo no proceso revolucio- nario a caminho da democracia socialista que nos propomes alcancar, Por outro lado, entendemos que a Constituigdo deve apontar solugées e metas que fagam dela, por sua vez, instrumento de arranque para posigées mais avangadas. Na relago dialéctica entre a prética revolucioné- ria e a lei constitucional revolucionéria se encon- traro os elementos que reciprocamente actuarfo no sentido de surgirem as solugdes progressistas para as necessidades do avango do processo democratico. O Sr. Presidente: —O Sr. Deputado desculparé: € uma declaragao de voto? © Orador:—# uma declaragio de voto! Pensa- mos igualmente que a alianga do povo com o MFA, isto é, das massas trabalhadoras e dos pequenos ¢ médios agricultores, dos pequenos e médios comer- ciantes e industriais com as camadas mais profundas de um MFA progressista e revoluciondrio, constituido por soldados, marinheiros, sargentos ¢ oficiais pro- Bressistas — pensamos que essa alianca, base das vit6- Tias até agora alcangadas © garantia das novas vitorias, que iremos sempre alcancando, teré de ficar inscrita na Constituigdo, Sempre pensémos, sem margem para dividas, que da Constituigiio devem constar os prinefpios fixados no Pacto Constitucional, que 0 MDP/CDE subscre- veu, © que pensa corresponderem as profundas asp rages € aos legitimos interesses do nosso povo. Assim ensimos sempre, assim continuamos a pensar, ja que consideramos nosso dever honrar os compromissos tomados, 2—Uma vez que € na parte m1 (Organizagiio do poder politico) que se inserem estes temas constantes do Pacto Constitucional MFA/Partidos Sr. Presidente: — Peco a atengio da Assembleia! © Orador: — ... vejamos, com mais algum porme- hor, o que se nos oferece dizer, a titulo de apreciagao nna_generalidade. Desde logo chama-nos a atengio, de forma cho- cante, a extensio do articulado: mais de 100 artigos, numa s6 parte de Constituigio a que faltam ainda os titulos vin (Tribunais) e vitt (Poder toca). ‘Como € 6bvio, o lugar de grande parte das matérias ai contidas no’ é a Constituigao, Citam-se, a titulo de exemplo, © artigo 5.° do projecto, que’ pretende regulamentar as campanhas eleitorais ‘em geral, e 0

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