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Todos vocês já devem ter ouvido falar de Paulo Rónai, o grande escritor, tradutor, revisor, professor e
crítico literário nascido em Budapeste, na Hungria, em 1907, e naturalizado brasileiro em 1945. Paulo
Rónai, que faleceu no Rio de Janeiro em 1992, foi o líder de vários intelectuais para a fundação da
ABRATES - Associação Brasileira de Tradutores, que deu formação posterior ao SINTRA - Sindicato
Nacional de Tradutores e Intérpretes. Vejamos o que diz ESQUEDA (2004, p.18) sobre o assunto, em
sua tese de doutorado intitulada “O tradutor Paulo Rónai: o desejo da tradução e do traduzir”:
Durante a década de 50, ele se correspondeu com membros da diretoria da recém-criada Fédération
Internationale des Traducteurs (FIT – Federação Internacional de Tradutores). Em setembro de 1973, em
um encontro em Paris com François-Pierre Caillé, então presidente da FIT, Paulo Rónai convenceu-se
da necessidade de se criar no Brasil uma associação de tradutores a ela filiada. Em 21 de maio de 1974,
já contatadas algumas dezenas de destacados tradutores e com o apoio da Sociedade Brasileira de
Autores Teatrais, por meio de seus dirigentes Raymundo Magalhães Jr. e Daniel da Silva Rocha, era
criada a Associação Brasileira de Tradutores - ABRATES, com sede no Rio de Janeiro. Uma seção
paulista seria criada algum tempo depois. Rónai participou diretamente da ABRATES até 1979, quando
se mudou para a cidade de Nova Friburgo, mais adequada para suas condições de saúde. Mesmo de
longe, acompanhava a atuação da ABRATES, à qual sucedeu, em novembro de 1988, com cerca de
quinhentos membros, o Sindicato Nacional dos Tradutores - SINTRA. Alguns meses antes, em 27 de
setembro de 1988, tinha sido criado, no Ministério do Trabalho, o 36º Grupo - Tradutores, no plano da
Confederação Nacional das Profissões Liberais, configurando o reconhecimento da categoria. O
reconhecimento formal da “profissionalização do ofício do tradutor” concretizava o sonho de Rónai, que
afirmava ser a tradução a atividade que “mais lhe falava ao coração”.
Ainda segundo WYLER (2003, p. 141), duas coisas aparentemente deram a Rónai o “... otimismo
necessário para tomar tal iniciativa. A revisão da Convenção Internacional de Berna relativa à proteção
das obras literárias e artísticas ocorrida em Paris em 1971, e a nova lei de direito autoral nº 5.988, de 14
de dezembro de 1953…”.
Apesar de ser uma atividade tão antiga no Brasil, desde sua fundação, traduzir era considerada uma
tarefa para qualquer falante bilíngue até bem pouco tempo. Analisemos, por exemplo, que o primeiro
curso universitário de tradução brasileiro (PUC- RJ) só teve início em meados dos anos 1970, ou seja,
temos cerca de 40 anos da prática profissional sendo ensinada em Universidades. Isso significa que até
então as pessoas traduziam de acordo com seu conhecimento plurilíngue, ou aprendido em cursos de
Letras que também ensinavam a língua estrangeira pela tradução, leituras teóricas provenientes de
estudos europeus, autoaprendizagem etc. Ou seja: há 40 anos o mercado nacional reconhece que
traduzir é um ofício profissional, mas ainda não o classifica apto a ser regulamentado, com carga horária
máxima, piso salarial, praticado por pessoas de formação na área, quer seja a educação formal (diploma
ou certificado), ou a experiência.
Nesse meio, é comum que o tradutor e o intérprete sejam confundidos com professores de idiomas, ou
que sejam considerados aptos a falar qualquer língua (fato: as pessoas ainda acham que é só apertar o
botão e estamos prontos para traduzir qualquer língua), ou ainda que saibam o significado de todas as
palavras existentes em uma determinada língua. Não há, infelizmente, o conhecimento generalizado
sobre o profissional da tradução e interpretação. E esse seria um dos passos (compreender a profissão)
para a valorização da profissão e o consequente fortalecimento para a luta por sua regulamentação.
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A mídia, nesse sentido, enfatiza reportagens baseada em “erros”, sejam de tradução literária,
interpretação (geralmente de políticos) ou legendagem. Vive a criticar tradutores em geral, porém sequer
menciona o papel fundamental de tradutores e intérpretes em eventos internacionais, tais como foram a
Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, ambos no Brasil. Há jornais de grande circulação,
como a Folha de S. Paulo e o Estadão, por exemplo, que publicam cadernos de cultura mencionando o
trabalho de tradutores, geralmente literários. No entanto, o aquecimento do mercado de tradução tem
sido na área técnica, como jurídica, médica, financeira etc., bem como na localização de websites e
softwares. É ingenuidade pensar que um tradutor trabalhará sua carreira toda apenas com literatura, se
essa for sua função principal, pois no Brasil o mercado literário é mais restrito.
A profissão de tradutor e intérprete de línguas vocalizadas ainda não é regulamentada no Brasil. Assunto
controverso em Congressos, rodas de tradutores e palpiteiros (aqueles que não são da área, mas que se
julgam conhecedores de todos os assuntos), a regulamentação acaba sendo relegada ao futuro, pois
não há consenso entre os membros da categoria.
DESCRIÇÃO
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CBO
Veja, agora, a lei que regulamenta a profissão de tradutor e intérprete de LIBRAS no Brasil:
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Art. 1º Esta Lei regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de
Sinais - LIBRAS.
Art. 2º O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas de
maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua
Portuguesa.
Art. 3º ( VETADO)
Art. 4º A formação profissional do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio,
deve ser realizada por meio de:
III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições
credenciadas por Secretarias de Educação.
Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações da
sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma
das instituições referidas no inciso III.
Art. 5º Até o dia 22 de dezembro de 2015, a União, diretamente ou por intermédio de credenciadas,
promoverá, anualmente, exame nacional de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras - Língua
Portuguesa.
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I - efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdos-cegos, surdos-cegos
e ouvintes, por meio da Libras para a língua oral e vice-versa;
III - atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos concursos públicos;
Art. 7º O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando pelos valores éticos a ela
inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura do surdo e, em especial:
II - pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo religioso, idade, sexo ou orientação sexual
ou gênero;
III - pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber traduzir;
IV - pelas postura e conduta adequadas aos ambientes que frequentar por causa do exercício
profissional;
Art. 8º ( VETADO)
Art. 9º ( VETADO)
Fernando Haddad
Carlos Lupi
Senhor Presidente do Senado Federal, Comunico a Vossa Excelência que, nos termos do § 1º do art. 66
da Constituição, decidi vetar parcialmente, por inconstitucionalidade e contrariedade ao interesse público,
o Projeto de Lei nº 325, de 2009 (no 4.673/04 na Câmara dos Deputados), que "Regulamenta a profissão
de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS".
Ouvidos, os Ministérios da Justiça e do Trabalho e Emprego manifestaram-se pelo veto aos seguintes
dispositivos:
Arts. 3º e 8º
"Art. 3º É requisito para o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete a habilitação em curso superior
de Tradução e Interpretação, com habilitação em Libras - Língua Portuguesa.
Parágrafo único. Poderão ainda exercer a profissão de Tradutor e Intérprete de Libras - Língua
Portuguesa:
I - profissional de nível médio, com a formação descrita no art. 4o, desde que obtida até 22 de dezembro
de 2015;
II - profissional que tenha obtido a certificação de proficiência prevista no art. 5º desta Lei."
"Art. 8º Norma específica estabelecerá a criação de Conselho Federal e Conselhos Regionais que
cuidarão da aplicação da regulamentação da profissão, em especial da fiscalização do exercício
profissional."
"O projeto dispõe sobre o exercício da profissão do tradutor e intérprete de libras, considerando as
necessidades da comunidade surda e os possíveis danos decorrentes da falta de regulamentação.
Não obstante, ao impor a habilitação em curso superior específico e a criação de conselhos profissionais,
os dispositivos impedem o exercício da atividade por profissionais de outras áreas, devidamente
formados nos termos do art. 4º da proposta, violando o art. 5o, inciso XIII da Constituição Federal."
Art. 9º
"Art. 9º Ficam convalidados todos os efeitos jurídicos da regulamentação profissional disciplinados pelo
Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005."
Razão do veto
"O Decreto nº 5.626, de 2005, não trata de 'regulamentação profissional', limitando-se a regulamentar a
Lei nº 10.436, de 2002, que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação, e
o art. 18 da Lei nº 10.098, de 2000, que estabelece a obrigação de o poder público cuidar da formação
de intérpretes de língua de sinais."
Essas, Senhor Presidente, as razões que me levaram a vetar os dispositivos acima mencionados do
projeto em causa, as quais ora submeto à elevada apreciação dos Senhores Membros do Congresso
Nacional.
Note que a Regulamentação pode auxiliar uma determinada categoria na exigência de sua aplicação,
bem como na definição de seu estatuto, formação profissional, código de ética etc. Não significa, no
entanto, que sem uma lei que regulamente a profissão, a categoria não possa elaborar seu código de
ética e orientar para a formação profissional correta. No entanto, não pode exigir legalmente que o
tradutor e o intérprete precisem de educação formal, seja por curso livre, graduação ou pós-graduação.
Até pouco tempo, qualquer pessoa poderia “ser” tradutor ou intérprete, bastando para isso ter
conhecimentos suficientes em língua estrangeira e língua portuguesa que comprovassem suas
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Profissionais mais antigos da área são, muitas vezes, contra a regulamentação, justamente por não
terem feito cursos de graduação ou especialização que permitam enquadrarem-se na área. Porém,
assim como ocorreu com a regulamentação dos profissionais de LIBRAS, sem formação à época da lei,
mas mesmo assim enquadrados por direitos adquiridos, os profissionais de línguas escrita ou falada não
teriam que se preocupar com tal questão.
Há, também, outros questionamentos, menos ocorrentes, tais como os ganhos reais que os profissionais
passarão a ter com a regulamentação: haverá taxas a recolher (de entidades representativas da
categoria ou de conselhos regionais), mas não haverá garantias de emprego, visto que é uma profissão
cuja demanda depende, principalmente, de um mercado positivo e promissor. A pergunta é: será que
vale a pena? Pense em outras profissões, já regulamentadas, que não tiveram qualquer ganho real,
como a secretária, que tem um piso salarial mínimo, mas cujo cargo de assistente de secretaria foi
criado, para poder remunerar abaixo do piso original; e em outras profissões que exigem até exames
após a formação, para poderem atuar, como os advogados, por exemplo.
O mercado de trabalho é muito volátil: depende da demanda, da oferta, das oportunidades e também da
tecnologia. Por isso, quanto mais investir em sua formação, melhores chances você terá no competitivo
mundo dos negócios atuais.
Referências
ESQUEDA, M. D. O tradutor Paulo Rónai: o desejo da tradução e do traduzir. Tese de doutorado. IEL -
UNICAMP. 2005. Disponível em:
http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000343351. Acesso em 19.nov.2016.
SAID. F. M. Guia do tradutor: melhores práticas. São Paulo: edição do autor, 2013.