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E INTEGRAÇÃO JURÍDICA
NA AMÉRICA DO SUL
www.lumenjuris.com.br
EDITORES
João de Almeida
João Luiz da Silva Almeida
CONSELHO EDITORIAL
CONSELHO CONSULTIVO
Direitos Humanos
PRODUÇÃO EDITORIAL
Livraria e Editora Lumen Juris Ltda.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Relação dos Autores
v
Dieter Nohlen, Doutor em Ciências Políticas da Universidade de Heildelberg e Professor
titular emérito da mesma Universidade. Especialista em instituições políticas, temas
eleitorais e justiça constitucional. Recebeu o Prêmio Max Planck de Investigação
(1990), o Prêmio Livro do Ano (1995), Prêmio de Investigação sobre Espanha e
América Latina (2000) e Diploma honoris causa de Administração Eleitoral pela
Universidade Panthéon Paris II (2005).
Enzamaria Tramontana, Doutoranda em Direito Internacional e da União Européia na
Universidade de Roma “La Sapienza” e membro do Comitê de Redação da Revista
“Diritti umani e diritto internazionale”
Fabiana de Oliveira Godinho, LL.M. com ênfase em Direito Internacional Público na
Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg. Professora da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais e do Centro Universitário UNA (2004-2006, Belo Horizonte).
Doutoranda da Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg. Pesquisadora do Max Planck
Institute for Comparative Public Law and International Law (Heidelberg).
Flávia Piovesan, Professora doutora em Direito Constitucional e Direitos Humanos da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Professora de Direitos Humanos dos
Programas de Pós Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, da
Pontifícia Universidade Católica do Paraná e da Universidade Pablo de Olavide
(Sevilha, Espanha); visiting fellow do Human Rights Program da Harvard Law School
(1995 e 2000), visiting fellow do Centre for Brazilian Studies da University of Oxford
(2005), visiting fellow do Max Planck Institute (Heidelberg, 2007-2008), sendo
atualmente Humboldt Foundation Georg Forster Research Fellow no Max Planck
Institute (Heidelberg – 2009-2011).
Friedrich Müller, foi professor catedrático de Direito Constitucional, Direito
Administrativo, Direito Canônico, Filosofia do Direito e Teoria Geral do Estado na
Faculdade de Direito da Universidade de Heidelberg, sendo professor emérito desta
Universidade.
Gonzalo Aguilar Cavallo, Professor de Direito Internacional Público e Direitos Humanos
da Universidad de Talca, Doutor em Direito, MA em Relações Internacionais, LLM em
Direitos Humanos e Direito Humanitário.
Humberto Nogueira Alcalá, Doutor em Direito pela Universidad Católica de Lovaina la
Nueva, Bélgica. Professor Titular de Direito Constitucional, Diretor Executivo do
Centro de Estudos Constitucionales de Chile da Universidad de Talca e do Magistério
de Direito Constitucional da mesma Universidade, Campus Santiago. Presidente da
Asociación Chilena de Derecho Constitucional. Vice-presidente do Instituto
Iberoamericano de Derecho Procesal Constitucional. Membro Associado da Academia
Internacional de Direito Comparado.
Ingo Wolfgang Sarlet, Doutor e Pós-Doutor pela Universidade de Munique, Alemanha.
Professor Titular de Direito Constitucional na Faculdade de Direito da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Juiz de Direito e Professor da Escola
vi
Superior da Magistratura do Rio Grande do Sul. Professor Visitante da Universidade
Pablo de Olavide (Sevilha) e da Universidade Católica Portuguesa (Lisboa). Bolsista e
Pesquisador Visitante do Instituto Max-Planck de Direito Social Estrangeiro e
Internacional (Munique) e visiting researcher nas Faculdades de Direito da
Universidade de Georgetown e Harvard.
Jesús M. Casal H, Advogado summa cum laude da Universidad Católica Andrés Bello,
Caracas, Venezuela. Doutor em Direito, menção honorífica da Universidad
Complutense de Madrid. Especialista em Direito Administrativo pela Universidad
Central de Venezuela, Caracas, Diretor da Faculdade de Direito da Universidad
Católica Andrés Bello, Caracas e Professor de Direito Constitucional. Membro da
Comissão Andina de Juristas. Presidente da Associación Venezolana de Derecho
Constitucional.
Jorge Carpizo, Investigador emérito da Universidade Nacional Autónoma de México, da
qual foi Reitor, adstrito ao Instituto de Investigaciones Jurídicas, do qual foi Diretor.
Presidente do Instituto Iberoamericano de Derecho Constitucional.
Juan Ignacio Ugartemendia Eceizabarrena, Professor Titular de Direito Constitucional de
la Universidad del País Vasco UPV/EHU.
Magnus Killander, Pesquisador do Centro de Direitos Humanos, Universidade Pretória.
Manuel José Cepeda, Advogado magna cum laude pela Universidad de los Andes. Master
of Laws, Harvard Law School. Presidente da Corte Constitucional de Colômbia (2005-
2006). Magistrado da Corte Constitucional de Colômbia (2001-2009). Ex-Diretor da
Faculdade de Direito – Universidad de los Andes. Conselheiro Presidencial para a
Assembléia Constituinte. Embaixador de Colômbia junto à UNESCO (1993-1995) e,
posteriormente, junto à Confederação Helvética (1995-1996). Professor de Direito
Constitucional da Universidad de los Andes.
Marcelo Figueiredo, Diretor da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo, onde é também seu professor nos cursos de graduação e pós-graduação.
Presidente e Fundador da ABCD – Associação Brasileira de Constitucionalistas Demo-
cratas e membro do Executive-Committee da International Association of
Constitutional Law.
Marcelo Neves, Doutor em Direito pela Universidade de Bremen (Alemanha). Pós
Doutorado na Faculdade de Direito da Universidade de Frankfurt (Alemanha) e na
London School of Economics and Political Science (Inglaterra). Professor convidado
das Faculdades de Direito das Universidades de Freiburg, Suíça, Flensburg, Frankfurt
e da Fundação Getúlio Vargas. Professor de Teoria do Estado da Universidade de São
Paulo e de Teoria do Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e do
Instituto Brasiliense de Direito Público. Membro do Conselho Nacional de Justiça.
Mariela Morales Antoniazzi, Advogada summa cum laude da Universidad Católica Andrés
Bello de Caracas-Venezuela (UCAB). Magíster Legum (LL.M) pela Universidade de
Heidelberg-Alemanha, Referentin para Suramérica do Max Planck Institute for
vii
Comparative Public Law and International Law (Heidelberg). Professora do Programa
de Pós Graduação de Direito Constitucional de la UCAB. Coordenadora acadêmica do
Projeto de Constitucionalização da ordem jurídica, Universidad de Bonn, Alemanha-
Universidad de los Andes, Colombia. Membro da Asociación de Derecho
Constitucional de Venezuela.
Mario Fernández Baeza, Ministro do Tribunal Constitucional do Chile, Professor de
Direito Constitucional na Universidad de Chile e de Ciência Política e Comunicações
na Universidad Católica de Chile, Dr. Phil. e MA pela Universidade de Heidelberg,
Advogado da Universidad de Chile.
Rainer Grote, Advogado e Doutor em Direito pela Universidad de Göttingen. Master of
Laws Universidad de Edimburgo/Escócia. Professor das Universidades de Paris II, Koc
Law School-Estambul, Bilkent-Ankara. Investigador no Max Planck Institute for
Comparative Public Law and International Law (Heidelberg). Coordenador do
Heidelberg Center para América Latina, Santiago de Chile Membro da Associação
Alemã de Direito Público, de Direito Internacional e de Direito Comparado.
Membro da Associação francesa de Direito Internacional.
Rodolfo Arango Rivadeneira, Doutor em Filosofia do Direito e Direito Constitucional por
la Universidad de Kiel (Alemanha). Mestrado em Filosofia por la Universidad Nacional
de Colombia e advogado da Universidad de los Andes. Ex-Magistrado Auxiliar da
Corte Constitucional; professor assistente da Faculdade de Direito, Ciências Políticas e
Sociais da Universidad Nacional de Colômbia. Professor Associado e Diretor do
Programa de Mestrado em Filosofia da Universidad de los Andes, Bogotá.
Virgilio Afonso da Silva, professor titular de Direito Constitucional e Direitos
Fundamentais da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Mestre em
Direito pela Universidade de São Paulo, Doutor em Direito pela Universidade de Kiel
(Alemanha) e Livre-docente em Direito Constitucional na Universidade de São Paulo.
viii
Sumário
Parte I
Promoção da Democracia e o Direito Regional e Subregional
Parte II
Sistemas Regionais e Parâmetros Supranacionais
de Proteção dos Direitos Humanos
ix
La Protección de los Derechos Humanos y la Prohibición de la Tortura en Europa
y América: Un Análisis Comparado..................................................................... 245
Carlos Fernández de Casadevante Romani
Parte III
O papel dos Tribunais Constitucionais nacionais
x
Integração e Diálogo Constitucional na América do Sul........................................... 515
Virgílio Afonso da Silva
xi
Direitos Humanos, Democracia e
Integração Jurídica na América do Sul
xiii
É sob esta perspectiva que esta obra ambiciona oferecer uma contribuição quali-
ficada ao debate público, em prol da densificação dos valores da democracia e dos
direitos humanos como pressuposto, condição e requisito à construção de um Direito
Regional Sul-Americano.
xiv
PARTE I
PROMOÇÃO DA DEMOCRACIA
E O DIREITO REGIONAL E SUBREGIONAL
El Contenido Material de la Democracia: Tendencias
Actuales del Constitucionalismo Latinoamericano
Jorge Carpizo1
Sumarioo: I. Introducción II. Contenido material de la democracia III. Propuesta de cinco claves IV. Algunos de los
principales retos de la democracia en América Latina V. Tres décadas de nuevas tendencias constitucionales
VI. Algunos aspectos actuales de la democracia latinoamericana.
I. Introducción
La amable invitación que se me hizo para participar en esta obra colectiva con
una contribución sobre las tendencias actuales del constitucionalismo latinoamerica-
no, me impulsa a ponderar de nuevo sobre este importante aspecto, así como a exa-
minar los acontecimientos de los últimos años en nuestra región, que afectan directa-
mente el desarrollo de la democracia en los diversos países de nuestra América Latina,
ya sea para bien o para mal.
La exposición, realizada en este trabajo, es de carácter general; otorga una visión
panorámica sobre la democracia y las nuevas tendencias en la parte latina del conti-
nente americano.
Divido el ensayo en cuatro grandes apartados, a saber: 1. Un repaso breve del
contenido material de la democracia; persigo que esos elementos fundamenten una
propuesta para valorar la democracia en América Latina. 2. La exposición de algunos
de los principales retos de la democracia en la región. 3. Un repaso sintético a las prin-
cipales tendencias constitucionales en Latinoamérica en las tres últimas décadas:
1978-2008, y 4. Una reflexión sobre algunos de los nuevos aspectos de nuestras demo-
cracias, con sus claroscuros; es decir, con sus aspectos positivos y los preocupantes.
1 Investigador emérito de la Universidad Nacional Autónoma de México, de la cual fue Rector, adscrito al
Instituto de Investigaciones Jurídicas donde se desempeñó como su Director. Presidente del Instituto
Iberoamericano de Derecho Constitucional.
3
Jorge Carpizo
ticos, para hacer frente a nuevas realidades, tienen que legislar y precisar cuestiones
novedosas, o que no presentaban mayores dificultades con anterioridad, pero que se
convirtieron en peligros potenciales para la propia democracia y las libertades de las
personas.
Los derechos humanos poseen fuerza expansiva, la democracia goza de esa
misma característica y es natural, porque no puede existir democracia donde no se
respeten los derechos humanos, y éstos realmente sólo se encuentran salvaguardados
y protegidos en un sistema democrático. Así como el artículo 16 de la Declaración de
los Derechos del Hombre y del Ciudadano de 1789 afirmó que “Toda sociedad en la
cual la garantía de los derechos no esté asegurada, ni determinada la separación de
poderes, carece de Constitución”, exactamente lo mismo se puede repetir, sustituyen-
do el concepto de Constitución por el de democracia; al final de cuentas los concep-
tos de Constitución, orden jurídico, democracia y Estado de Derecho se imbrican y se
encuentran estrechamente relacionados entre sí, en virtud de que una Constitución y
un Estado de Derecho que no son democráticos no son tales, sino instrumentos de
opresión.
2. Se puede definir a la democracia como el sistema en el cual los gobernantes son
electos periódicamente por los electores; el poder se encuentra distribuido entre varios
órganos con competencias propias y con equilibrios y controles entre ellos, así como
responsabilidades señaladas en la Constitución con el objeto de asegurar los derechos
fundamentales que la propia Constitución reconoce directa o indirectamente.2
En la definición se encuentran los elementos básicos, o núcleo duro, que consti-
tuyen una democracia. No obstante, existen otros y los primeros están estrechamen-
te relacionados con los segundos. En una explicación de los alcances del sistema
democrático debe hacerse referencia a los más de ambos, y es a lo que me avoco.
3. Orden jurídico, Constitución y Estado de Derecho se dan en una democracia,
o no son realmente tales.
La democracia presupone un orden jurídico, una Constitución y un Estado de
Derecho que garanticen las libertades y los derechos fundamentales de las personas.
4. El sufragio universal significa que no puede haber exclusiones en el derecho
de voto por razones de sexo, raza, religión, educación o renta. Las exclusiones se refie-
ren fundamentalmente a menores de edad e incapacitados mentales.
5. El voto debe ser libre y secreto, sin coacción alguna. Las elecciones deben ser
imparciales, objetivas y equitativas. En este aspecto se incluyen temas como la finan-
ciación de las elecciones, gastos máximos, topes a las contribuciones privadas, equidad
en los tiempos disponibles en los medios electrónicos de comunicación, prohibición
de prácticas desleales de autoridades, partidos políticos y candidatos.
2 Carpizo, Jorge, Concepto de democracia y sistema de gobierno en América Latina, México, UNAM-
Instituto de Investigaciones Jurídicas, 2007; p. 100.
4
El Contenido Material de la Democracia: Tendencias Actuales del Constitucionalismo Latinoamericano
3 PNUD, La democracia en América Latina. Hacia una democracia de ciudadanos y ciudadanas, Buenos Aires,
Aguilar-Altea-Taurus-Alfaguara, 2004, pp. 16, 38 y 43.
5
Jorge Carpizo
4 Valadés, Diego, El control del poder, México, UNAM-Instituto de Investigaciones Jurídicas, 1998, pp. 52 y 53.
5 Bovero, Michelangelo, Una gramática de la democracia contra el gobierno de los peores, Madrid, Trotta, 2002,
pp. 47 y 48; Kelsen, Hans, Esencia y valor de la democracia, México, Editora Nacional, 1980, pp. 156 y 157.
6 Vergottini, Giuseppe de, Derecho constitucional comparado, México, UNAM y Segretariato Europeo per le
Pubblicazioni Scientifiche, 2004, p. 279.
6
El Contenido Material de la Democracia: Tendencias Actuales del Constitucionalismo Latinoamericano
7 Ross, Alf, ¿Por qué democracia?, Madrid, Centro de Estudios Constitucionales, 1989, pp. 140 y 141.
8 Dahl, Robert A., Polyarchy. Participation and Opposition, New Haven, Yale University Press, 1971, pp. 2-4.
7
Jorge Carpizo
8
El Contenido Material de la Democracia: Tendencias Actuales del Constitucionalismo Latinoamericano
grupo, pero hay que intentarlo, con dos finalidades: la primera, de carácter científico:
conocer la realidad con veracidad y, la segunda que es la más importante, percatán-
dose de las debilidades del sistema, exponerlas con ánimo constructivo para colaborar
a superarlas con los instrumentos que nos son propios, los académicos.
9
Jorge Carpizo
en que casi todos los países del área calificaban como democracias electorales, ya que
los gobiernos eran resultado de elecciones competidas y generalmente objetivas y lim-
pias, aunque en algunos países se presentaron irregularidades de poca monta.9
Muchos de los problemas socioeconómicos han subsistido en casi toda la región, con
algunas excepciones como Chile, pero incluso en éste existe alto grado de pobreza y
desigualdad social, comparado con Europa occidental.
Las democracias electorales, en términos generales, han sido incapaces de
enfrentar con éxito la lucha contra esas dos grandes lacras: pobreza e insultante desi-
gualdad social, lo que aunado al desprestigio de los partidos políticos y de la clase polí-
tica, a la corrupción y a la impunidad, en varios países a finales del siglo XX y princi-
pios de este XXI, se presenta un nuevo ciclo, sobre todo en algunos países de América
del Sur que tiende a un hiperpresidencialismo, de lo cual me ocupo más adelante.
2. Un reto formidable para la democracia en los países de la región es su indife-
rencia, cuando no desprecio, por el Estado de Derecho. Todos quieren que se aplique
la ley al vecino pero no a él ni a su familia y amigos cercanos. Sintomático es que
Fernando Henrique Cardoso, distinguido sociólogo, quien en alguna época no consi-
deraba con acierto el valor del orden jurídico en la sociedad, y ex-presidente de Brasil,
manifiesta que una de las lacras de este continente latino se encuentra en que no se
acepta el Estado de Derecho ni la ley; afirmó que es una pelea que se tiene que dar.10
A Cardoso le asiste la razón.
En el Latinobarómetro 2008, en una escala de 1 a 10, ante pregunta concreta
sobre si considera que el Estado no logra que se cumpla ninguna ley, el promedio de
respuestas en la región fue de: 5.2. La escala máxima la ocupó Uruguay con 6.4 y la
mínima Paraguay con 4.4.11
El punto es: la democracia de América Latina, en la mayoría de los países, no está
consolidada. Preocupa que puedan ocurrir retrocesos incluso en el aspecto electoral,
después de que a partir de finales de la década de los ochenta, en general, los proce-
sos electorales han sido limpios.
3. Los Estados mínimos difícilmente podrán conservar las democracias electora-
les, si no se resuelven otros problemas ingentes, especialmente el de los derechos o la
justicia sociales. Para ello, es necesario contar con Estados fuertes. En América Latina,
en la época neoliberal, el Estado se ha debilitado y en muchos casos no posee los ins-
trumentos jurídicos y políticos que le permitan, por ejemplo, realizar una reforma fis-
cal con la finalidad de obtener recursos suficientes para programas sociales, para
9 Sánchez Agesta, Luis, La democracia en Hispanoamérica. Un balance histórico, Madrid, Rialp 1987, p. 17;
La Roche, Humberto J., “Veinticinco años de evolución en la organización política y constitucional de
Venezuela”, en Gil Valdivia, Gerardo y Chávez Tapia, Jorge A. (coords), en Evolución de la organización
político-constitucional en América Latina, México, UNAM-Instituto de Investigaciones Jurídicas, 1979,
vol. II, pp. 244 y 245.
10 Entrevista a Fernando Enrique Cardoso, en El País, 8 de octubre de 2006, suplemento dominical, p. 9.
11 Corporación Latinobarómetro, Informe 2008, Santiago de Chile, Corporación Latinobarómetro, 2008,
www.latinobarometro.org, p. 41.
10
El Contenido Material de la Democracia: Tendencias Actuales del Constitucionalismo Latinoamericano
luchar contra la pobreza y para comenzar una paulatina distribución de la riqueza, así
como medidas que refuercen la protección de los derechos humanos y reformen de
raíz el sistema de impartición de justicia.
Hoy en día, por lo ya expuesto, la finalidad de la democracia en América Latina
debe ser alcanzar mayores niveles de bienestar para grandes sectores de la población,
pero también implica, entre otros aspectos: respeto a movimientos sociales, a deman-
das económicas y democráticas de los trabajadores industriales y agrarios en sus sindi-
catos, la producción y distribución de bienes de consumo popular, educación superior
pública con excelencia académica,12 lucha contra la impunidad y la corrupción.
También el Latinobarómetro 2008 reportó que los encuestados opinaron que las
actividades que deben estar mayoritariamente en manos del Estado son, en el orden
prioritario en que fueron señaladas: educación básica y primaria (86); salud (85); agua
potable (83); universidades (82); pensiones (82); servicios eléctricos (80); petróleo
(80); teléfonos (71) y financiamiento a partidos políticos (59).13
4. El PNUD recuerda que de 1980 a 2000, el promedio regional del PIB per cápi-
ta presentó un avance casi irrelevante, y que de 1998 a 2002 el número de habitantes
que se situaba por debajo de la línea de pobreza aumentó.14 Los datos sobre los nive-
les de desigualdad son increíbles y, en promedio, la reducción es casi imperceptible a
pesar del crecimiento del PIB en los últimos años: 2.1 en 2003; 6.1 en 2004; 4.8 en
2005; 5.6 en 2006, 5.7 en 2007 y aproximadamente 4.5 en 2008. En 2007 la tasa de
ocupación tuvo un 2.5% de aumento acumulado respecto a 2002. En el mismo año
alrededor del 35% de la población se encontraba en situación de pobreza (190 millo-
nes) y un 12.7 en pobreza extrema.
En estos aspectos, en la región latinoamericana, con algunas excepciones, no se
avanza, lo cual es más que preocupante: pone en peligro a la democracia como estilo
de vida y resta apoyos sociales que le son indispensables para sobrevivir, fortalecerse
y hacer frente a sus antiguos y nuevos enemigos.
5. Otro aspecto preocupante de la democracia en América Latina es el problema
de la corrupción, que todo corroe y contamina. El Latinobarómetro 2002 muestra que
la percepción de la sociedad es que la corrupción aumenta año con año. En 2002, la
respuesta a la correspondiente pregunta fue afirmativa en el 86%. Al respecto acerta-
damente se comenta que: “En los años anteriores, los valores oscilaban entre el 80 y
90%. Respecto a ninguna pregunta hay mayor consenso en América Latina. Es una
sensación generalizada, es decir que ella no se confirma por un conocimiento concre-
to de actos de corrupción. Sólo menos de un tercio de los entrevistados dice que ha
12 González Casanova, Pablo, “La crisis del Estado y la lucha por la democracia en América Latina (problemas
y perspectivas)”, en González Casanova, Pablo y Roitman Rosenmann, Marcos (coords.), La democracia en
América Latina. Actualidad y perspectivas, México, UNAM-La Jornada Ediciones, 1995, pp. 34 y 35.
13 Corporación Latinobarómetro, obra citada, nota 10, p. 38.
14 PNUD, obra citada, nota 3, pp. 39-41.
11
Jorge Carpizo
sabido, personalmente, de un acto de corrupción. Vale añadir que la gente cree que
más de un tercio de los funcionarios públicos son corruptos”.
En el Latinobarómetro 2005, los entrevistados en la región consideraron que, en
promedio, el 68% de los funcionarios públicos son corruptos; tal percepción varía
según el país, desde el 82% en Ecuador hasta el 41% en Uruguay. En 2008, ese pro-
medio fue de 68.6%; desde 80.5% en Honduras hasta 45.6% en Uruguay. Fijémonos
que el porcentaje aumentó en este último país.
En relación con la eficacia en la lucha contra la corrupción sólo dos países sobre-
salen: Uruguay y Chile, aunque en Colombia y Venezuela, el 40% de los ciudadanos
expresaron que se está progresando en la mencionada lucha. Empero, estos datos pesi-
mistas encuentran una pequeña brecha de luz: a) en promedio, en la región latinoa-
mericana, se pasó de 26% de los ciudadanos en 2004 a 30% en 2005 y a 38% en 2008
en la percepción de que se avanza en la lucha contra la corrupción, y b) las personas
que aseguraron que han conocido la realización de un acto de corrupción disminuyó
de 26% en 2001 a 20% en 2005 y a 15% en 2008.15
6. La concepción democrática no se encuentra completamente arraigada en
América Latina. El Latinobarómetro 2002 contuvo entre sus preguntas las dos
siguientes: Si usted tuviera que elegir entre la democracia y el desarrollo económico
¿cuál diría usted que es más importante? y, ¿en general, diría usted que está muy
satisfecho, más bien satisfecho o nada satisfecho con el funcionamiento de la demo-
cracia en (su país)?
A la primera pregunta el 52% respondió que el desarrollo es lo más importante,
el 25% que la democracia y, el 17% que ambos por igual. En 2008 el 53% respondió
afirmativamente a la pregunta de que no le importaría que un gobierno no democrá-
tico llegara al poder si pudiera resolver los problemas económicos.16
A la segunda pregunta, el 27% contestó que se encontraba satisfecho con la
democracia, el 60% que insatisfecho y el 8% que no sabía o se calló.
En 2003, a esta última pregunta, el 29% contestó que estaba satisfecho con la
democracia; en 2004, ese porcentaje no varió; en 2005 aumentó a 31% de los ciuda-
danos entrevistados.
En 2003, el 66% contestó que estaba insatisfecho con la democracia; en 2004, el
tanto por ciento disminuyó a 65; en 2005 a 61. A su vez, en 2003, el 6% respondió que
no sabía o se calló si estaba satisfecho o no con la democracia; en 2004, ese porcenta-
je aumentó a 7%, y en 2005 a 8%.17
15 Corporación Latinobarómetro, obra citada, nota 11, pp. 45-47. Corporación Latinobarómetro, Informe
Latinobarómetro 2005. 1995-2005. Diez años de Opinión Pública, Santiago de Chile, 2005, www.latinoba-
rometro.org, pp. 25-28; Véase Nohlen Dieter, El contexto hace la diferencia: reformas institucionales y el
enfoque histórico-empírico, México, UNAM-Instituto de Investigaciones Jurídicas y Tribunal Electoral del
Poder Judicial de la Federación, 2003, pp. 147 y 148.
16 Corporación Latinobarómetro, obra citada, nota 11, p. 83.
17 Corporación Latinobarómetro, Informe Latinobarómetro 2005. 1995-2005, obra citada, nota 14, pp. 40-53.
Nohlen Dieter, obra citada, nota 15, pp. 136-138.
12
El Contenido Material de la Democracia: Tendencias Actuales del Constitucionalismo Latinoamericano
13
Jorge Carpizo
constitucionales, éstas, a su vez, incorporaron las nuevas instituciones de esa gran cor-
riente constitucionalista; puede afirmarse que constituyen una síntesis de esa ola
democrática.
América Latina para fortalecer sus instituciones democráticas volvió los ojos,
principalmente a partir de 1980 hacia España, Portugal, Francia e Italia, según el res-
pectivo país de la región. Es decir, se dio un vuelco constitucional: después de la inde-
pendencia de los países de la región, los constituyentes se habían inspirado en el pen-
samiento francés e inglés, pero las Constituciones que más habían influido en la
redacción de los documentos constitucionales latinoamericanos habían sido, en pri-
mer lugar, la norteamericana de 1787; en segundo, la española de 1812 y, en tercero,
el incipiente desarrollo constitucional en los otros países latinoamericanos. Lo nuevo
fue que los constituyentes de América Latina se inspiraron en primerísimo lugar en la
Europa democrática y continental.
La nueva Constitución de Portugal se expidió en 1976 y la de España dos años
después. Ambas recogieron las nuevas instituciones postsegunda guerra mundial.
En América Latina, a finales de los años setenta, los países fueron regresando a
la elección libre de sus gobernantes. El retorno al sistema democrático se caracterizó
con la promulgación de nuevas Constituciones, o revisiones generales de las antiguas.
La casi coincidencia cronológica con la Constitución Española de 1978 sirvió para que
ésta inspirara en diversos países de América Latina, en forma señalada, lo relativo a
las instituciones de la segunda post guerra, lo cual ha sido bien documentado.20
2. Digamos en forma panorámica cuáles son las principales instituciones aludi-
das; es decir, no es una lista exhaustiva, y qué países las han aceptado, aunque con
modalidades diversas. Es imposible hacer alusión a los antecedentes latinoamericanos
de esas instituciones antes del periodo 1978-2008. Como excepción hago referencia
únicamente a algunas.
Respecto a la jurisdicción, justicia constitucional o Derecho Procesal
Constitucional, como ahora se denomina por varios autores, se han creado tribunales o
cortes especializadas en esta materia, aunque en algunos casos el nuevo sistema subsis-
tió con el “americano”. Esta corriente comenzó en Guatemala, con la Constitución de
1965 y la Corte de Constitucionalidad, cuya efectividad fue casi inexistente, en virtud
de que resolvió sólo un recurso en cuanto al fondo. El siguiente país que creó un órga-
no de esa naturaleza fue Chile en 1970, lo suprimió en 1973 y lo restableció en 1980; su
funcionamiento no gozó, obviamente, de independencia durante la dictadura militar.
Ecuador estableció, en 1945, un Tribunal de Garantías Constitucionales, pero la
decisión última correspondía al poder legislativo; en 1978, creó un Tribunal con igual
denominación, pero sin facultades decisorias. En su Constitución, expedida veinte
años después, estructuró un verdadero Tribunal Constitucional. En Perú, en 1980, se
14
El Contenido Material de la Democracia: Tendencias Actuales del Constitucionalismo Latinoamericano
21 Fix-Zamudio, Héctor, “Estudio preliminar”, en Biscaretti di Ruffia, Paolo, Introducción al derecho consti-
tucional comparado, México, Fondo de Cultura Económica, 1996, pp. 31-40; Ferrer Mac-Gregor, Eduardo,
Ensayos sobre derecho procesal constitucional, México, Porrúa y Comisión Nacional de los Derechos
Humanos, 2004, pp. 41-48.
22 Fix-Zamudio, Héctor, obra citada, nota 21, p. 43.
23 Carpizo, Jorge, Derechos humanos y ombudsman, México, UNAM, Instituto de Investigaciones Jurídicas-
Comisión Nacional de Derechos Humanos, 1993, pp. 115-134.
15
Jorge Carpizo
16
El Contenido Material de la Democracia: Tendencias Actuales del Constitucionalismo Latinoamericano
17
Jorge Carpizo
ción, se realiza una segunda, en la cual participan los dos candidatos más votados, y se
elige como presidente aquel que obtenga la mayoría de los votos válidos.
En Costa Rica el umbral de la votación no es de 50% sino de 40%. En Argentina
ese umbral es de 45% de los votos válidos o el 40% si existe una diferencia mayor de
diez puntos porcentuales entre el candidato que haya alcanzado más votos y el que le
sigue en segundo lugar. En Nicaragua ese umbral se fijó en 45% de los votos.
2. En un sistema presidencial, la segunda vuelta presenta ventajas y desventajas.24
8. Existen otras tendencias constitucionales en la región que son también muy
importantes, como:
a. Los Consejos de la Judicatura, cuya función es el gobierno y la administración
de los tribunales, integrados mayoritariamente por miembros del poder judicial con la
finalidad de hacer efectivo el llamado “autogobierno de la magistratura”.
Se afirma que los consejos de la judicatura hacen a un lado el aparato burocráti-
co del Estado para transformarlo en un órgano autónomo e independiente de cual-
quier otro poder; que es un régimen de autogobierno por el cual se garantiza que la
carrera judicial sea una realidad y que la designación, promoción, adscripción y res-
ponsabilidad de los jueces respondan a sistemas objetivos de méritos que fortalezcan
la independencia de los tribunales.25
b. El reconocimiento de la supremacía del derecho internacional, primordial-
mente del convencional, respecto a los preceptos internos, pero no en relación con los
constitucionales, como en los casos de Ecuador, Panamá, El Salvador, Costa Rica y
Argentina.
En lo relativo a los tratados y convenciones sobre derechos humanos, el énfasis
es mayor, como en la Constitución peruana de 1979, no en la actual de 1993, que dis-
puso que los preceptos de los tratados sobre esa materia tenían jerarquía constitucio-
nal y, por tanto, no podían ser modificados, sino por el procedimiento a través del cual
se reforma la norma constitucional.
El artículo 142 de la Constitución de Paraguay de 1992 es rotundo al ordenar que
“Los tratados internacionales relativos a los derechos humanos no podrán ser denun-
ciados sino por los procedimientos que rigen para la enmienda de la Constitución”.
El artículo 75, inciso 22, de la Constitución argentina, reformada en 1994, dispo-
ne que los tratados y los concordatos poseen jerarquía superior a las leyes, y que los
tratados y convenciones de derechos humanos, que expresamente enuncia, poseen
jerarquía constitucional, y sólo pueden ser denunciados por el poder ejecutivo, previa
24 Carpizo, Jorge, Concepto de…, obra citada, nota 2, pp. 167 y 168.
25 Giacobbe, Giovanni, “Autogobierno de la magistratura y la unidad de la jurisdicción en el ordenamiento
constitucional de la república italiana”, en varios autores, Justicia y sociedad, México, UNAM, Instituto de
Investigaciones Jurídicas, 1993, p. 103. Véase de Fix-Zamudio, Héctor, “Órganos de dirección y administra-
ción de los tribunales en los ordenamientos latinoamericanos”, en varios autores, Memoria de El Colegio
Nacional, 1992, pp. 43 y 44, y Los problemas contemporáneos del Poder Judicial, México, UNAM, Instituto
de Investigaciones Jurídicas, 1986, pp. 37-40; asimismo, Carpizo, Jorge, Temas constitucionales, México,
Porrúa-UNAM, Instituto de Investigaciones Jurídicas, 2003, pp. 192-206.
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El Contenido Material de la Democracia: Tendencias Actuales del Constitucionalismo Latinoamericano
aprobación de las dos terceras partes de la totalidad de los miembros de cada Cámara;
los demás tratados y convenciones sobre dicha materia gozarán de jerarquía constitu-
cional, si son aprobados por la mencionada mayoría de los legisladores.
El artículo 23 de la Constitución venezolana norma que los tratados, pactos y
convenciones ratificados de derechos humanos tienen jerarquía constitucional y, en
consecuencia, prevalecen en el orden interno, en cuanto contengan preceptos más
favorables que los establecidos por la Ley Fundamental, siendo de aplicación inmedia-
ta y directa por parte de los tribunales y demás órganos del poder público.
El artículo 417 de la Constitución de Ecuador dispone que en “los tratados y
otros instrumentos internacionales de derechos humanos se aplicarán los principios
pro ser humano, de no restricción de derechos, de aplicabilidad directa y de cláusula
abierta establecidos en la Constitución”.
En la región son veintiún países los que reconocen la jurisdicción contenciosa de
la Corte Interamericana de Derechos Humanos. La Constitución peruana de 1993, en
su artículo 205, precisa que agotada la jurisdicción interna, quien se considere lesio-
nado en los derechos que la Constitución reconoce, puede recurrir a los tribunales u
organismos internacionales de los cuales ese país es parte. Hasta ahora es la única
Constitución latinoamericana que contiene un precepto de tal naturaleza. Sin embar-
go, fue este Estado, el que, en 1999, desconoció unilateralmente y con efecto inme-
diato la competencia jurisdiccional de la Corte Interamericana de Derechos Humanos,
aunque en marzo de 2001, el Congreso de ese país decidió su retorno a la jurisdicción
de la mencionada Corte.26
c. La judicialización de los actos y conflictos electorales. La tendencia es hacia la
creación de tribunales especializados en materia electoral en lugar de institutos de
carácter político. Estos tribunales gozan generalmente de autonomía plena y en
muchas ocasiones constituyen órganos constitucionales autónomos. El proceso
comenzó con la Constitución brasileña de 1934. La actual de 1988 establece una
amplia jurisdicción electoral con un Tribunal Superior Electoral, Tribunales
Regionales Electorales, jueces electorales y juntas de la misma naturaleza.
Se han constituido tribunales electorales, autónomos e independientes del Poder
Judicial y de cualquier otra institución u organismo del Estado, como en la Constitución
de Chile de 1980 con el Tribunal Calificador de Elecciones y los tribunales regionales
electorales; en la Constitución de Costa Rica de 1949 con el Tribunal Supremo de
Elecciones; en la Constitución de Ecuador de 1978 con el Tribunal Supremo Electoral;
en la Constitución de Panamá de 1972-1983 con el Tribunal Electoral; en la
Constitución de Paraguay de 1992 con el Tribunal Superior de Justicia Electoral.
26 Dichos países son: Argentina, Bolivia, Brasil, Colombia, Costa Rica, Chile, Ecuador, El Salvador, Guatemala,
Haití, Honduras, México, Nicaragua, Panamá, Paraguay, Perú, República Dominicana, Surinam, Trinidad y
Tobago, Uruguay y Venezuela. Véase Ferrer Mac-Gregor, Eduardo, obra citada, nota 21, pp. 155-158;
Gómez-Robledo Verduzco, Alonso, “Nexos entre la Comisión y la Corte Interamericana de Derechos
Humanos”, en Ars Iuris, México, núm. 17, 1997, pp. 120-147; García Ramírez, Sergio, Estudios jurídicos,
México, UNAM, Instituto de Investigaciones Jurídicas, 2000, pp. 389-405.
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Jorge Carpizo
20
El Contenido Material de la Democracia: Tendencias Actuales del Constitucionalismo Latinoamericano
27 Los datos anteriores los he tomado principalmente de dos obras: Entidad Fiscalizadora Superior de La India
(comp.), Mandatos de las Entidades Fiscalizadoras Superiores, Intosai, 3 vols., que contiene la normativa de
estos órganos en todo el mundo, tanto a nivel constitucional como legal. El idioma utilizado es el inglés; y
de López Guerra, Luis y Aguiar, Luis, (eds.), Las Constituciones de Iberoamérica, Madrid, Unión
Iberoamericana de Colegio de Abogados e Ilustre Colegio de Abogados de Madrid, 2001, 1324 pp.
21
Jorge Carpizo
22
El Contenido Material de la Democracia: Tendencias Actuales del Constitucionalismo Latinoamericano
23
Jorge Carpizo
33 Lanzaro, Jorge, “Tipos de presidencialismo y modos de gobierno en América Latina”, en Lanzaro, Jorge
(comp.), Tipos de presidencialismo y coaliciones políticas en América Latina, Buenos Aires, CLACSO y
ASDI, 2001, p. 32.
34 El País de 4 de diciembre de 2008, p. 5.
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El Contenido Material de la Democracia: Tendencias Actuales del Constitucionalismo Latinoamericano
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Jorge Carpizo
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El Contenido Material de la Democracia: Tendencias Actuales del Constitucionalismo Latinoamericano
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La Democracia del Siglo XXI y el Final de los Estados1
Asdrúbal Aguiar2
Sumarioo: I. Introducción, para comprender el presente II. Entre el ideal planetario y el regreso a las cavernas
III. Crisis de la ciudadanía democrática IV. De vuelta al hombre y a su dignidad inmanente V. Grecia, partera de la
democracia VI. La fragua de la república antigua y medieval VII. En la hora de las revoluciones VIII. Un balance
provisorio IX. De la democracia formal y el ejercicio efectivo de la democracia X. Hacia la Carta Democrática
Interamericana XI. El derecho humano a la democracia XII. Los estándares contemporáneos de la democracia
XIII. La participación democrática XIV. La gobernabilidad XV. Otra recapitulación necesaria: El núcleo pétreo de la
democracia XVI. La agonía del Estado, cárcel de ciudadanos XVII. La democracia contra la democracia XVIII. Epí-
logo, para imaginar el porvenir XIX. Post Scriptum.
[1] La Era varias veces milenaria que hace de la naturaleza objetiva y espacial
como de sus bienes el asiento de las ideas – “nuestras ideas son nuestros anteojos” dice
Alain o Émile Chartier – y de las culturas que éstas forman, está llegando a su fin. O
acaso, permaneciendo aquélla, se desplaza, pierde su importancia y actualidad. Tanto
1 El texto es la fuente de nuestra Lección Magistral de apertura del año académico 2008-2009, dictada en el
mes de octubre en la Facultad de Derecho de la Universidad Católica Andrés Bello, en Caracas.
2 Doctor en Derecho Summa cum Laude. Catedrático Titular de la Universidad Católica Andrés Bello
(Venezuela). Profesor Visitante de las Universidades del Salvador y de Buenos Aires (Argentina).
Académico Correspondiente de las Academias Nacionales. de Ciencias Morales y Políticas y de Derecho y
Ciencias Sociales de Buenos Aires. Miembro Asociado de la Academia Internacional. de Derecho
Comparado de La Haya.
29
Asdrúbal Aguiar
es así que un antiguo maestro argentino de Derecho internacional, Juan Carlos Puig,
fallecido hace casi tres décadas – aún no cae la Cortina de Hierro - se refiere a esa Era
“en la evolución geo-bio-morfológica terráquea”, conocida como “la del laboreo de los
metales y comenzada hace más o menos veinte mil años en el cuaternario”, para
observar que “hay quienes dicen – con razón – que la crisis que vive la Humanidad no
es simplemente el anuncio de una nueva época histórica” (De dicho autor, Promoción
de la dignidad humana y la justicia en el ámbito internacional: propuestas para el
cambio, discurso pronunciado en el 24º Congreso de la International Studies
Association, México, 6 de abril de 1983).
[2] Las cosas, renovables o no - la tierra sujeta a límites políticos y geográficos,
los instrumentos para la labranza e incluso para la guerra, las obras de ingeniería o del
arte manual, los medios para el transporte, los alimentos - pero dispuestas por la
Naturaleza para colmar las necesidades del hombre, por tener valor económico y tam-
bién espiritual son durante ese largo período de nuestra civilización la fuente del
poder real y el núcleo racional, qué duda cabe, de los credos civiles y hasta religiosos.
[3] A manera de ejemplos y en las antípodas, aún el socialismo marxista y el capi-
talismo debaten – a partir de tales cosas u objetos y de su acumulación – sobre las
opciones convenientes para asegurar el bienestar de la Humanidad y organizarla
social y políticamente. Aquél, bajo la forma de “democracias” populares tuteladas por
el Estado, el cual sujeta dentro de sí al hecho económico y a la realidad cultural trans-
formándolos en sus sirvientes. Éste, en pugna contra el Estado, predicando la demo-
cracia liberal y republicana, que afirma en sus autonomías y especificidades a las rela-
ciones sociales y a las de producción. Empero, lo veraz es que los bienes objetivos
como las estructuras productivas o públicas que los hacen realidad y que son motivo
de la diatriba entre las corrientes ideológicas enunciadas, se desplazan y sin sustitui-
dos – sobre este puente inacabado entre el siglo XX y el siglo XXI - por otros bienes
intangibles e inasibles, que le marcan un estilo propio y un sentido y derrotero radi-
calmente distintos a la vida del hombre. El tiempo que emerge bajo nuestros pies
implica una ruptura profunda con el tiempo conocido. No es ni será mejor o peor, sino
otro y en extremo distinto.
[4] La Era en cierne, dominada por la inteligencia artificial o la biotecnología,
por las comunicaciones satelitales y la información, se la comprende por medio de la
razón y el entendimiento o a la luz de los efectos de sus productos inéditos e ingenio-
sos, como las redes telemáticas, los computadores, los chips de memoria, los televiso-
res a plasma, los juegos electrónicos, la robótica, la nanobótica, la genética de alimen-
tos o de las medicinas. O acaso la observamos, sin entenderla, cuando se expresa en
las prácticas de clonación o de creación de la vida sin sexo, o en el propósito que anida
la reciente puesta en marcha de la llamada “Maquina de Dios”, que recrea el Big-Bang
o momento originario del Universo.
[5] Lo instrumental o lo que cubre o encierra a esta suerte de alma o chispa del
ingenio contemporáneo como sus derivados mercaderiles o políticos quedan en un
30
La Democracia del Siglo XXI y el Final de los Estados
[8] Luigi Ferrajoli, eminente filósofo italiano del Derecho, refiriéndose a esta
“incierta transición” que vivimos habla también sobre “los procesos de globalización
y de integración mundial que comprenden como dominantes a la economía, las finan-
zas y las comunicaciones”; pero destaca en paralelo y más allá de la acusada declina-
ción del Estado soberano e hijo de los espacios limitados – “demasiado grande para las
cosas pequeñas y demasiado pequeño para las cosas grandes” - la emergencia de “pro-
cesos de desagregación animados por instancias de autonomía política y fundados en
reivindicaciones localistas y comunitarias, nacionalistas, étnicas o religiosas entendi-
das como factores de identidad cultural”. No deja de sorprenderle que tal bipolaridad
31
Asdrúbal Aguiar
u oposición entre el sueño planetario que imagina Enmanuel Kant en pleno siglo
XVIII, y el apreciado desarraigo ciudadano en explosión, convertido en sectas neore-
ligiosas o en grupos o retículas sociales indígenas, ecologistas, comunales, de género y
otros tantos, esté anidado por miedos o preocupaciones de reciente cuño y bajo el
atropello del mismo cambio histórico dada su ineditez.
[9] El carácter fragmentario o celular que acusa el tejido o entramado social pos-
moderno, da lugar a una suerte de “cosmovisión casera” según la óptica del intelectual
argentino Albino Gómez. Ella parece explicarse, según sus reflexiones acerca de la
“sociedad moderna”, en la pugna no resuelta entre los sistemas nacionales tecno-eco-
nómicos – que se desplazan hacia lo mundial – y burocrático estatales: como institu-
ciones utilitarias básicas de la moderna sociedad occidental, y el sistema social y cul-
tural, víctima del tiranicidio – lo dice Habermas – por parte de éstas y mejor ganado
para la dimensión estética y racional de la vida (A. Gómez. Aproximación a la socie-
dad moderna. Clases magistrales. Revista Noticias. Buenos Aires, 18 de julio del 2009).
[10] Miguel de Unamuno, situado con su lúcido pensamiento en los albores dis-
tantes del siglo XX concluido tiene para entonces el tino de otear – sobre los efectos
del libre cambio mundial - lo raizal o permanente de la persona humana: su dignidad;
para explicar lo que ahora aprecia Ferrajoli preocupado. Palabras más, palabras menos,
para advertir que al final de cuentas “lo hondo, lo verdaderamente original, es lo ori-
ginario, lo común a todos, lo humano”. Señala, así, que a medida en que crece “el sen-
timiento cosmopolita de humanidad” también aumenta “el apego a la pequeña región
nativa”, la llamada por él “patria de campanario”.
[11] Unamuno, con espíritu beligerante opone ésta a la “patria de bandera” que
juzga artificio – como lo cree - del patriotismo de las grandes agrupaciones históricas,
cuya idea de nacionalismo “es hija de la fantasía literaria de los grandes centros urba-
nos” e impuesta por una suerte de feudales o gendarmes quienes a nombre de ella “han
teñido de sangre de hermanos las banderas todas”. Habla pues y en su circunstancia
de “un despertar de los sentimientos primitivos – una vuelta espiritual - que tendría
su base histórica en la primitiva comunidad de tierras”. Y al recordar que “toda la his-
toria humana es la labor del hombre forjándose habitación humana”, destaca la lucha
del hombre por desasirse de la tierra para ser “él quien la posea y no ésta a él”, en un
continuo objetivo y de objetos que, como lo vemos en la actualidad deja de ser tal en
su valor y significado para el hombre digital del siglo nuevo y en cierne (Del autor, La
dignidad humana, Espasa-Calpe, Madrid, 1967). La polaridad o tensión existencial en
cuestión – el mundo vs. las retículas que se miran o expresan en la patria chica una-
muniana - sigue siendo, según parece, una constante de todos los tiempos.
[12] Sea lo que fuere, la savia del movimiento o sismo histórico que mejor se des-
cribe como Era de las «autopistas de la información»: esas que apelando a los recursos
de la cibernética achican las distancias entre extremos geográficos y humanos y sobre-
dimensionan las realidades, tiene y dice algo aún más profundo y extraño.
32
La Democracia del Siglo XXI y el Final de los Estados
33
Asdrúbal Aguiar
que separan a los Estados surgen al interior de cada Estado, sin que por ello mengue
la actividad relacional, incluso global, pero, eso sí, entre individuos semejantes por
necesidades y no entre diferentes por compatriotas.
[16] Las conclusiones de Guéhenno son terminantes. Señala, de manera prelimi-
nar, que de la antigua “ciudadanía” nada queda y es “un cómodo medio de manifestar
mal humor hacia unos dirigentes”. Durante dos siglos, en efecto, hemos pensado la
libertad [léase la democracia] a través de la esfera política que había de organizarla”.
Y advierte, por otra parte, que “se ha entablado una carrera entre la difusión de la téc-
nica [a nivel global], que aumenta los medios de la violencia, y la difusión relacional
del poder [por obra de la difuminación social o la ruptura del tejido social que sopor-
ta a nuestros Estados Naciones], que la desactiva” en una suerte de paradoja.
[17] Ha lugar, en síntesis, un cambio de ciclo en la historia de la civilización. Más
allá de su vocación mundial o de su consecuencia: el agotamiento del Estado y de su
organización republicana, por impersonal y patrimonial e hija del espacio material,
tiene por objeto y sujetos al individuo o individuos y a la Humanidad Totalizante. Deja
en espera o sujeta a revisión a todas las formas sociales, geopolíticas intermedias y sub-
sidiarias conocidas: las regiones, las provincias, las municipalidades y hasta las comu-
nas. Los individuos quedan libres de ataduras y sujeciones asociativas, abandonan sus
identidades “ciudadanas” o correspondencias con la “patria de bandera” y en paralelo
pierden las seguridades que les aporta el propio Estado o sociedad política moderna. De
suyo, en lo sucesivo medran huérfanos, solitarios, en espera de otras seguridades que
sustituyan a las anteriores pero que no llegan con la urgencia reclamada. De allí el
regreso a las cavernas, cabe reiterarlo, y los nuevos miedos o angustias que al igual que
los sufre el hombre medieval hacen presa del hombre de nuestro tiempo.
[18] La lección de este relato, en apariencia especulativo, no se hace esperar. Nos
dice lo que George Orwell observa con presciencia en su novela de ficción política
1984, editada en 1949: la emergencia de una “dictadura gris” en el mundo. Pero nos
indica que igualmente ingresamos sin percatarnos, como actores o como espectadores,
al teatro de la razón y del intelecto; por lo mismo, a un escenario proclive en teoría a
la exaltación de la vida humana cuando se la entiende como algo más que mera expre-
sión biológica y terrenal. No obstante lo cual, quizá por la premura de los sucesos en
curso y la sobreabundancia de informaciones que acompaña al uso de los ordenadores
y de las redes satelitales, nos arrastra de modo tan violento que provoca una parálisis
o dislocación de la voluntad individual y también social. Nos torna a la mayoría en
escépticos escrutadores del presente e incapaces, por lo pronto, de hacer de nuestras
concordancias una voluntad común y de canalizarla adecuadamente para ayudar en el
cambio efectivo e inevitable de las cosas.
[19] El asunto en cuestión reside en no saber qué nos espera o en nuestra sobre-
venida incapacidad para detenernos y mirar con calma lo que nos rodea y reconocer-
nos, mejor aún, como señores del mundo y de nuestro entorno; en suma, es nuestra
falta sobrevenida de aldabones a los cuales asirnos fuertemente – como lo son, cabe
34
La Democracia del Siglo XXI y el Final de los Estados
repetirlo hasta la saciedad, nuestras identidades ciudadanas y sus garantías dentro del
Estado - mientras logra sedimentar el tránsito hacia ese otro estadio de la vida huma-
na más ganado para lo imaginario. El dilema es que en la medida en que la nueva cos-
movisión se afirma y llega con sus provisiones a buena parte del género humano y éste
las recepta con ánimo crítico y constructivo, otra parte, la mayor cuota, o no tiene más
opción que la servidumbre digital o acaso les resulta confortable dejarse arrastrar por
las corrientes adormecedoras que fluyen vertiginosas por el ciberespacio.
[20] De modo qué – he aquí lo central - a falta del Estado Nación y la mengua
inevitable de sus correas de transmisión – los poderes públicos y sus instituciones, la
organización geopolítica vertical, los partidos políticos, la misma ciudadanía y el sen-
tido de pertenencia que apareja - el hombre, varón y mujer de nuestra Era, sintiéndo-
se moralmente abandonado, si corre con suerte puede dar un “salto cuántico” hacia
planos de desarrollo personal integral nunca antes imaginados. Pero si usa de las cien-
cias de la información con criterio “logofóbico” y a ellas se ata apartando los concep-
tos y haciendo de los símbolos e imágenes computados la finalidad y no el medio para
su realización personal en plenitud, puede moverse apenas hacia un estadio de aliena-
ción y neomaterialismo más gravoso que el precedente.
[21] En las Universidades de Paris-Dauphine y de Cornell, en los Estados Unidos,
como en la London School of Economics, otra vez se habla y debate, no por azar, acer-
ca del materialismo filosófico, para dar cuenta no de los problemas del dinero, de la
acumulación o del denominado capitalismo salvaje tan denostado por el populismo de
transición, sino para apuntar – lo narra Alberto Benegas Lynch, miembro de las
Academias de Ciencias y de Ciencias Económicas de Buenos Aires – que el hombre,
desatado de las mediaciones sociales conocidas – la ciudad, los Estados, la propia orga-
nización regional o universal que reúne a éstos - y expuesto como queda al dominio
cibernético en curso arriesga perder su libre albedrío y hasta la conciencia, programa-
bles por anticipado a manos de los landlords del siglo XXI (“La incongruencia del
materialismo”, La Nación, Buenos Aires, 20 de agosto de 2008).
[22] El problema que propone el cambio de Era y que interesa escrutar no es tan
sencillo y formal como nos lo presenta con su innegable autoridad Sartori. Dice él, en
línea distinta a Ghéhenno, sobre la paradójica coincidencia de ser 1789 el año de igni-
ción de la chispa revolucionaria que nos lega a la república moderna o al Estado gober-
nado por las leyes y, luego, con la primacía de los derechos del hombre y del ciudada-
no, a la moderna democracia; y que sea en 1989 cuando prende “la [otra] chispa que
cierra el ciclo revolucionario comenzado en París exactamente doscientos años antes”.
[23] El autor reduce el contexto de su análisis a dar cuenta de la caída del Muro
de Berlín el 9 de noviembre del último año, para afirmar que “la disolución del comu-
nismo nos deja en presencia de un vencedor absoluto: la democracia liberal”, al haber-
35
Asdrúbal Aguiar
se extinguido, por falaz, la oposición de medio siglo entre la supuesta democracia for-
mal (capitalista) y la real (comunista) y, de suyo, al señalar que la real y probadamen-
te legítima democracia, por llevada a cabo y supérstite, es la liberal. De modo que, a
la luz de dicho razonamiento, la “macrodemocracia” moderna puede resolver sobre las
relaciones entre el ciudadano y el Estado y reconocer que la persona humana tiene un
valor intrínseco que desborda a la propia ciudadanía, a la sociedad y al mismo Estado,
y se niega a la fórmula totalitaria “todo dentro del Estado” o “todo por el Estado”,
inherente a la experiencia soviética. No imagina Sartori, sin embargo, que veinte años
después, así como cae la Cortina de Hierro sobreviene el efecto “Wall Street”, que en
esta hora pone en duda y sobre el tapete la viabilidad futura de la experiencia social y
política que él señala como supérstite.
[24] Lo esencial a tener en cuenta, como lo creemos, es que la lógica de ambas
perspectivas se inscribe en una mayor o menor proximidad del individuo a la socie-
dad política y al Estado que la expresa, pero que se encuentran cuestionadas en su
validez y vigencia por efecto de la misma globalización y de su contrario, el ensimis-
mamiento señalado del hombre por huérfano de identidad. Para una u otra perspec-
tiva, qué duda cabe, el Estado sigue siendo el referente necesario. Lo veraz, cabe repe-
tirlo, es que el mismo Estado que fragua como necesidad impersonal e instrumental a
inicios de la modernidad – es la predica intelectual de Macchiavello, de Juan Jacobo
Rousseau y también de Hegel – y que asume por cuenta de la voluntad general de los
ciudadanos la gestión profesional de los asuntos públicos mientras éstos o la propia
sociedad civil – todavía sedentaria - se ocupan de sus asuntos particulares, cede y
declina. Las razones huelgan. Quizás, en la medida en que se hacen más complejos los
cometidos del mismo Estado impersonal y en la misma proporción en que madura la
tradicional sociedad sedentaria por obra de la sobreabundancia informativa, también
se hace crítica y más autónoma, desbordando a éste con sus demandas, y aquél deri-
va, a su vez, en un andamiaje infuncional para los intereses cotidianos de la gente.
[25] Lo anterior es constatable, todavía mejor, mediante la apreciación de la “cri-
sis profunda y corriente del Derecho” o del Estado de Derecho, que tanta incomodi-
dad social y colectiva procura. Su mejor emblema lo encontramos, dentro de las
Américas, en el impune desafío por la mayoría de los gobiernos a la denominada
“razón jurídica”: que no sea para disponer de las formas constitucionales y legales al
servicio de la fuerza o del interés partidario de los mismos gobernantes. Tal invoca-
ción de la crisis actual de seguridad jurídica no es un ejercicio de “autolapidación”
obra de la incertidumbre y en una coyuntura en la que, en defecto de las mismas ins-
tituciones del Estado se hacen espacio los traficantes de ilusiones: ventrílocuos de un
poder público y político inanimado.
[26] En los países de mayor tradición civil como democrática se aprecia una igual
falencia de legalidad constitucional, aun cuando se la muestre atenuada – lo refiere el
mismo Ferrajoli – y se manifieste en la ineficacia de los controles y contrapesos insti-
tucionales sobre quienes detentan el señalado poder público; esos que imagina nece-
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La Democracia del Siglo XXI y el Final de los Estados
37
Asdrúbal Aguiar
a su desempeño, no pocas veces mediante el ejercicio del poder fuera de los odres de
la democracia, practicando exclusiones políticas, confrontando a los sectores sociales
y, lo que es más sorprendente, mediante prácticas inconstitucionales tácitamente con-
sentidas por la población.
[30] En síntesis, así como el logro fundamental de la democracia en su visión
moderna reside en la “política del reconocimiento del otro” (Charles Taylor, The poli-
tics of recognition, Princenton University Press, 1992), o en el principio del pluralis-
mo o la diferenciación, según lo ajusta Sortori, cabe observar con Touraine y además
de lo dicho que “entre la economía mundializada y las culturas agresivamente reafir-
madas sobre ellas mismas y que proclaman un multiculturalismo cargado de rechazos
al otro, el espacio político se fragmenta y la democracia se degrada” por falta de su
unidad instrumental. Y al perder su eficacia el asiento formal – el Estado o la polis de
nuestro tiempo - que le sirve de apoyo a los mismos instrumentos de la democracia,
cabe, sí, la honda y atinada reflexión del catedrático hispano Javier Roiz que hacemos
nuestra y es punto de partida de la reflexión sobre la democracia y sus perspectivas
hacia el siglo XXI que consta en estas páginas.
[31] Luego de retomar en su libro El gen democrático (1996) la máxima de la
antigüedad a cuyo tenor “la república… dependía de la disposición de sus miembros
para vivir según las prescripciones del «humanismo cívico» y para preferir la vida cívi-
ca a la vida privada”, escapando a lo estructural y yendo a lo medular Rois considera
que la teoría democrática no parece tomar muy en cuenta el mundo interior – el lla-
mado self – o inconsciente que subyace y no pocas veces presiona a cada individuo y
a todos los individuos en la hora actual: sus temores, sus impulsos, sus deseos, como
los “mecanismos y funciones psicológicas que trabajan sobre la conducta humana sin
que su ritmo o alcance puedan ser afectados por la voluntad soberana [o racional] del
[mismo] sujeto”.
[32] Pensemos, a manera de ejemplo, en quien, llamado por su conciencia al ejer-
cicio de la ciudadanía democrática, depende, para subsistir – no hablemos de su exis-
tencia humana plena – en un mundo virtual y de acelerada competitividad, de su
adhesión forzada a parcialidades que no comparte o de la aceptación de una dádiva
corruptora. Rois prefiere recordar el caso complejo de la conciencia del ciudadano -
¿hasta donde llega? - emergido de los horrores de la guerra” o de las víctimas del
Holocausto último, para al final preguntarse, en el hoy, lo que todos debemos pregun-
tarnos: “Si el sujeto atribuido a la democracia no es sino un muñeco de deseos – una
presa de sus miedos e inseguridades, agregamos – implantados en él a través del bino-
mio poder/conocimiento” o por imperativo de su señalado repliegue hacia las caver-
nas o patrias de campanario “¿cómo - y dónde - debemos buscar al nuevo sujeto de la
democracia del siglo XXI?”.
[33] No es ocioso trasladar textualmente la reflexión in extensu de Rois, porque
mejor expresa y resume nuestra larga consideración inicial: “En una situación de anu-
lación de fronteras, de tanta desaparición de límites, y en la que la vida fluye por todas
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La Democracia del Siglo XXI y el Final de los Estados
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Asdrúbal Aguiar
[37] De modo que el destino de la transición planteada y más allá de los odres
declinantes del Estado Nación vuelve a depender, inevitablemente, de la política y del
Derecho; tanto como depende de éstas el nacimiento del mismo paradigma de ese
Estado constitucional que nos acompaña durante los dos últimos siglos e incluso desde
mucho antes, desde el propio Renacimiento, cuando Bartolo de Saxoferrato reclama
del Sacro Imperio Romano Germánico la capacidad de las ciudades “de hacer sus pro-
pios estatutos” y de organizar su gobierno de la manera que ellas prefieran: “en seme-
jante caso – arguye el posglosador de las leyes civiles de la antigua Roma – “la ciudad
misma constituye sibi princeps, es un Emperador en sí misma”.
[38] Al margen de las concepciones de la política y del Derecho anejas a la demo-
cracia que decanta dentro del Estado moderno, lo innegable es que a pesar de la ano-
mia corriente cabe reconocer una suerte de radicalización intensiva y extensiva del
principio de la misma democracia; si nos atenemos, que no basta, a su alcance etimo-
lógico: el “poder del pueblo”. Hay, como lo indica la doctrina alemana más reciente,
un desangramiento popular de “reivindicaciones normativas y materiales”. Crece la
participación de la gente a un punto tal que supera los ámbitos que le son reconoci-
dos a la ciudadanía en el modelo de representatividad democrática y segmentación del
poder conocido.
[39] César Cancino, joven pensador mexicano, refiere que en América Latina se
observa “una sociedad civil cada vez más madura” y que a pesar de los anquilosados
políticos profesionales nuestras democracias persisten bajo la terquedad ciudadana.
“Hoy – señala el autor de La muerte de la ciencia política – la persistencia de la demo-
cracia se juega en el espacio de lo público-político como la calle, la plaza, la escuela,
la fábrica, la ONG, el barrio, el chat, el blog, lugares donde los ciudadanos ratifican su
voluntad de ser libres y donde producen contenidos simbólicos que ponen en vilo al
poder constituido (La Nación, Buenos Aires, 21 de septiembre de 2008).
[40] No obstante, Ulrich Rödel, Gunter Frankenberg y Helmut Dubiel, miem-
bros del “Proyecto alemán de transformación de la concepción de la democracia”,
afirman, en línea con nuestro comentario sobre la crisis terminal del Estado moder-
no, que “los canales existentes para la configuración de la opinión y de la voluntad
políticas [si bien] son utilizados con mayor intensidad [por obra, qué duda cabe, de la
revolución digital],… precisamente esta utilización intensiva da ocasión para las
dudas, desde el punto de vista del autogobierno, de la conveniencia de las formas ins-
titucionales existentes”. Y también es cierto que junto a lo anterior o en paralelo a ello
hay expresiones de violencia intestina sostenida marcadas por la intolerancia y por el
extremismo en distintos lados de la geografía global; pero, llámenseles adherentes o
no a la mundialización y sean o no militantes del multiculturalismo varias veces cita-
do, todas a una tachan y expulsan a quien no estiman semejante. Vivimos, junto a la
movilización de una “ciudadanía activa” y autónoma, la globalidad del egoísmo y la
localidad de las exclusiones. Una y otra acarician por igual sus dogmas, sus pensa-
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La Democracia del Siglo XXI y el Final de los Estados
mientos únicos, y son, de conjunto, los símbolos del poder no institucional que nos
acompaña; en lo cual ha de coincidir Cancino con los alemanes.
[41] A Ferrajoli le preocupan, por lo anterior, los efectos que las circunstancias
anotadas tienen para el futuro de las garantías de los derechos fundamentales del ser
humano - por las acusadas falencias de espíritu ciudadano, de Estado, y de Estado de
Derecho - y para el mismo porvenir de la democracia; ya no solo la formal u origina-
da en el voto o ejercicio de la soberanía popular, sino la sustantiva, la que evita que la
mayoría tumultuaria afecte con sus reacciones de coyuntura la rigidez constitucional
de los derechos humanos y la supremacía del principio axiológico fundacional de la
dignidad humana junto a sus garantías indispensables.
[42] Por consiguiente, reconstruir a partir de la globalidad o mundialización
dominante implica como hipótesis postergar la pluralidad o la diferenciación social
que es sustantiva a la democracia y también el poder decisorio de los pueblos y comu-
nidades que reivindican su antigua titularidad soberana o acaso intentan hacerse de
una autonomía de la voluntad mejor adecuada a sus sobrevenidas condiciones de
“pequeñas patrias” o retículas sociales. No se olvide que el mismo Saxoferrato, a fina-
les del Medioevo y al defender la autoridad e independencia de las “ciudades” dentro
del llamado Regnum Italicum, y al preguntarse quien sirve como juez de apelaciones
a falta del Sacro Emperador y gobernándose las ciudades a sí mismas, responde que
“en tal caso, el pueblo mismo debe actuar como juez”. Lo cierto es, sin embargo, que
los problemas y asuntos de carácter global, por diferentes, muestran una entidad y
complejidad tales que, en principio, las decisiones sobre éstos quedan reducidas a la
opinión más calificada y experta de la “aristocracia digital” emergente.
[43] En la otra banda o hipótesis alternativa, reconstruir desde la localidad o
desde la multiculturalidad, sin que medie un hilo conductor o hasta un mito movili-
zador común, provoca el mismo efecto negador del pluralismo por el carácter exclu-
yente que apareja la respectiva localidad cultural, étnico originaria, ambientalista o
neoreligiosa, con su concepción introspectiva del cosmos; y también relativiza la
noción democrática, al pretender que todas las experiencias de la política y de la civi-
lización concurrentes queden subsumidas bajo los fueros particulares de la localidad
o cultura fragmentaria que logre el dominio. Empero, es un dato de interés respecto
de lo último que quienes, como actores políticos y gubernamentales, propulsan la cor-
riente “crisis de la legalidad” comentada antes y hasta estimulan la disolución de los
lazos sociales conocidos, fundados en la tolerancia social y política, no aceptan - como
ocurre en los casos de Venezuela, Ecuador o Bolivia - que sus propuestas de ruptura
histórica o revolucionaria sean antidemocráticas, todo lo contrario. ¿Trátase de una
vuelta ingenua y estéril a la antigua polaridad entre democracia occidental y “demo-
cracias” comunistas o acaso media, como lo creemos, una deliberada prostitución del
lenguaje y de los símbolos para restarle significado a la democracia verdadera?
[44] Al constatar lo inmediato, observando el agua sobre el delta y sin reparar
sobre su explicado recorrido desde la fuente, sea cual fuere la historia de nuestra
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démocratie n’a cessé de constituer un problème et une solution pour instituer une cité
d’hommes libres”. Es la tarea pendiente de realizar otra vez como en los orígenes más
remotos de la democracia o de nuestra moderna “república constitucional”.
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ésta, es Solón (594 a.C.), reconocido como el gran legislador y uno de los siete sabios
de Grecia, quien a finales del período helénico (1000-500 a.C.) fija las primeras bases
del desarrollo democrático ordenado en la polis ateniense de predominio aristocráti-
co. Favorece la emergencia de una élite ciudadana integrada por los viejos aparceros
o trabajadores – los llama Aristóteles allegados o sextarios - de la tierra, con quienes
realiza un cierto principio de justicia e igualación de clases. Aquéllos, en efecto, entre-
gan antes la sexta parte de su producción agrícola a los pocos propietarios, y luego, por
decisión soloniana y ante la explotación que sufren dentro del gobierno aristocrático
dominante, se hacen propietarios de sus mismos minifundios en el Ática o territorio
circundante de Atenas: “la lucha por la tierra llegó a ser, en el siglo VI, el grito de
guerra de la democracia naciente”, lo recuerda Thadée Zielinski (Historia de la civili-
zación antigua, Aguilar, Madrid, 1950), a cuyo efecto éstos adquieren, como tales pro-
pietarios, la posibilidad de acceder al arcontado o a los cargos de gobierno.
[58] Sobre tal realidad nueva y siendo Atenas el punto de unión entre la ciudad
y el campo o Ática: que se ve representada en su conjunto dentro del areópago nobi-
liario, crea Solón el célebre Consejo de los 400 (bulé), que alcanza ser de los más
importantes medios del gobierno: suerte de tercera fuerza entre el areópago citado y
la asamblea popular o eklessia – que se reúne 40 veces al año con 6.000 de los 30.000
miembros con derecho a voto que tiene – y que en la práctica eclipsa la fuerza de ésta
y la de aquél. Arístoteles refiere que, desde antes de Solón y declinado el régimen pri-
mero o monárquico - durante el arcontado de Aristecmo – Dracón reduce la discre-
cionalidad de la aristocracia gobernante o eupátridas, hace públicas las leyes y fija
severas medidas de control y rendición de cuentas a los arcontes y también surge el
llamado Consejo de los 401; elegido éste a la suerte entre los ciudadanos y custodio de
dichas leyes y si alguno de los consejeros falta a una sesión debe pagar una multa. Pero
el Consejo de suyo sigue siendo aristocrático en la práctica, pero sujeto, sí, a leyes
escritas y ahora conocidas por todos.
[59] De modo que, en medio de la pugna entre la aristocracia que no quiere cam-
bios y el proletariado que reclama la abolición de la pérdida de su libertad por deudas
y pide la confiscación de las tierras y su repartición: una reforma agraria que no llega
a realizar plenamente el mismo Solón – según Rubio Carracedo - sino el tirano
Pisístrato que lo sucede, hubo aquél de encontrar un justo medio. Clasifica a los ciu-
dadanos en cuatro clases o censatarios: los ricos o pentakosiodimnoi quienes hasta
entonces hacen parte de la misma clase social de los caballeros, los hippeis o caballe-
ros: propietarios capaces de criar a un caballo, los zeugittes o pequeños propietarios:
poseedores de una yunta, y los sin tierra – jornaleros - o thetes. A partir de ello, las
tres primeras clases acceden a los distintos cargos de gobierno – el de arcontes se lo
reserva la primera clase - y cada una de ellas, integrantes de la cuatro tribus existen-
tes y con 100 miembros por phyle o file, hacen parte en lo sucesivo del señalado
Consejo de los 400. La última clase, en todo caso, queda libre de tributos y hace parte
de una asamblea popular que participa en la elección de los magistrados supremos
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ga aquélla. De modo que, incluso quedando luego los arcontes como cargos de honor,
al final de la jornada, con Pericles a la cabeza la Asamblea monopoliza todos los pode-
res cediendo la división entre éstos – “legisla y controla la ejecución de las leyes, elige
y castiga a los magistrados, y juzga en primera y última instancia, con la Heliaia como
órgano intermedio de apelación” – y, además, los estrategos asumen todo el poder
militar y su financiación y el primero de éstos – que fuera el propio Pericles – se con-
vierte en Jefe de Gobierno, como lo explica Rubio Carracedo. Una vez alcanzada por
Grecia su condición de potencia y pudiendo, amén de exportar su modelo hacia el
Mar Egeo, sufragar por vez primera los honorarios de la actividad política ejercida por
su élite ciudadana, también hace más exigente y restrictivo el acceso a la ciudadanía
limitándolo a los hijos de su tierra por línea paterna o materna (año 451 a.C). Pero, así
como los cargos superiores en la práctica se los siguen reservando los poseedores de
tierras en el Ática, la subvención citada alcanza a los pobres que ejercen las otras acti-
vidades públicas y al final todos los magistrados, en una tendencia antiaristocrática,
terminan siendo elegidos mediante sorteo puro.
[67] Tucídides, en su Historia de la Guerra del Peloponeso, da cuenta de la final
degeneración del modelo de democracia radical que pudo sostener con su moderación
y liderazgo permanente sobre la Asamblea el mismo Pericles, a pesar de la falta de
preparación de sus miembros. Pero luego de éste la experiencia se torna en demago-
gia y populismo, y bajo el argumento posterior de que alguien tiene que llevar a cabo
el trabajo duro de la política y también las cuentas, llega la hora de los especialistas en
la política, cuyo arquetipo desclasado lo será, a la muerte de Pericles (429 a.C), Cleón.
La democracia se apaga finalmente a propósito de las guerras del Peloponeso y la pér-
dida por Grecia del Imperio, siendo restaurada hacia el año 403 a.C. cuando pueden
codificarse las leyes atenienses, se sostiene la retribución por asistir a la Asamblea que
ahora tiene menos poderes: en la que figura todo ciudadano mayor de 20 años, se
especializa la gestión pública, y como lo dice Simón Hornblower “la democracia se
hizo más eficiente, pero también menos democrática” (Del autor, Mundo griego 479-
323 AC, Editorial Crítica, Barcelona, 1985).
[68] El motivo de la degeneración de la democracia radical la explica más tarde
el historiador griego Polibio (203 -120 a.C) con su tesis de la anacyclosis. Observa el
igual agotamiento padecido por la República romana mixta y fijan un parangón con
la misma vida finita del ser humano: nace, crece, madura y se extingue. Y es que, en
verdad, tanto Grecia como Roma parten de regímenes que para alcanzar la democra-
cia abandonan la monarquía y le encargan el gobierno a los mejores, a la aristocracia;
pero para impedir que ésta facilite la corrupción por los menos de los más, sucesiva-
mente ensayan los equilibrios entre los más y los menos distribuyéndose entre todos
el poder. Y al final, cuando los más asumen el poder total (como oclocracia o gobier-
no de la plebe) sobreviene la violencia y la guerra civil, y a ésta la práctica demagógi-
ca que termina en tiranía. De modo que, por una parte, el carácter plebiscitario como
absorbente de la democracia radical, sólo realizable dentro de límites comunitarios o
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Asdrúbal Aguiar
de la comunidad o koinonía, le abre espacio a la idea de que quien no hace vida polí-
tica es un idión (o privado): nuestro idiota dice Sartori; con lo cual, ocupados todos de
la política la economía decae afectándo al conjunto, y por la otra, la autoridad igual
de la ley termina considerándose susceptible de ser subvertida: “era absurdo que el
demos no tuviera derecho a hacer lo que quisiera”, cuenta Jenofontes (406 a.C).
[69] Así las cosas, bajo Pericles, arquitecto de la democracia ateniense y parte del
colegio de los estrategas o militares electos por su capacidad, “la democracia subsistía
de nombre y se vivía de hecho bajo la dominación del mejor ciudadano”, hasta que
muere y los demagogos y los líderes populistas se hacen del espacio público creando
las condiciones para la confrontación. Todo termina cuando Macedonia, hacia el año
322 a.C., luego de ocurrida la guerra social para el fallido sostenimiento por Grecia de
su “segunda confederación” helénica, se hace de su territorio y suprime finalmente a
la democracia. Han de pasar casi 2.000 años antes que renazca de sus cenizas y deje de
ser émulo o corrección temporal durante la república romana y luego con las repúbli-
cas del Regnum Italicum en el Medioevo.
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dos (Cónsules, pretores, censores) y los tribunados para el resto de las magistraturas.
En las asambleas populares, sin embargo, a diferencia de las griegas, se decide por gru-
pos políticos, pero unas y otras se controlan dentro de un sistema de elecciones y
repartición funcionarial en el cual el pueblo participa de todas las instancias y cargos,
salvo en el Senado. No obstante hay siempre dominio aristocrático en las institucio-
nes señaladas de la antigua república romana.
[73] En su primera fase, dicha república, tildada de república senatorial y enten-
dida, según la definición de Cicerón como “consociación de hombres que aceptan las
mismas leyes y tienen intereses comunes”, encuentra en el Senado la sede del partido
de los patricios, quienes validan el imperiium de los magistrados pudiendo elegir a los
Cónsules y decidir sobre los asuntos fundamentales; en tanto que, la función legisla-
tiva y los juicios de alta traición pesan sobre los llamados Comicios centuriados, abier-
tos a todos los ciudadanos romanos, tanto como lo están los Comicios tribunados, que
aparte de legislar igualmente juzgan los crímenes de Estado y eligen a los ediles curu-
les, a los cuestores, a los tribunos militares y a magistrados especiales. El pueblo llano
o estrictamente plebeyo se encuentra reunido, a su vez, en el citado Concilio de la
Plebe, donde asume los juicios ordinarios y elige a los tribunos y ediles de la plebe.
[74] La primacía aristocrática tiende a ser solucionada o moderada luego median-
te las reformas que introducen los hermanos Graco: Tiberio y luego Cayo, creadores
del partido popular. Ellos impulsan una reforma agraria que no llega a término total
– como no llega la de Solón en Grecia - y también la remoción por el mismo Concilio
de la Plebe de aquellos Tribunos de la Plebe – Marco Octavio fue el caso - que no
defienden sus intereses. Las tierras, que son conquistadas y pertenecen a la res publi-
cae, quedan en manos de los aristócratas y Tiberio Cayo hace aprobar una ley que las
limita a 250 hs. por familia y a tener que arrendarse 7,5 hs. por persona a cambio de
un canon anual y su disposición para cultivos autorizados por un colegio integrado
por los mismos hermanos Graco. Cayo, una vez asesinado su hermano, siendo elegido
tribuno de la plebe en el año 123 a.C. acota las reformas porque parte del pueblo – y
no solo la aristocracia – nos las comparte; pero mejora la condición de la pequeña bur-
guesía y la clase urbana, y extiende la ciudadanía a todos los latinos de la península
itálica, en una suerte de sutil tendencia democratizadora.
[75] Más tarde, muerto también Cayo, sobreviene la reforma del General Mario,
quien resentido contra los patricios extiende la ciudadanía a toda la península, aun
cuando luego no tiene más opción que tomar medidas contra los demagogos por exi-
gencias del propio Senado. Pero será Sila, elegido Cónsul en el año 88 a.C., quien lide-
ra la contra reforma que reduce al partido popular y con apoyo del Ejército se hace de
poderes ilimitados y del título de Dictador, sin que reaccionen ni el Senado ni la
Plebe. Luego de lo cual, habiendo purgado a unos 4.700 ciudadanos, incluidos patri-
cios favorables al partido popular, restituye la república senatorial o aristocrática dán-
dole al Senado potestades gubernativas y autoridad para sujetar y controlar la activi-
dad legislativa de los comicios populares: centuriados, tribunados, o de la plebe. No
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que éstas – mirándose para su fragua, cabe repetirlo, en la antigua república romana y
en sus raíces griegas – si bien implican una crítica a la ineficiencia de la gestión de un
rey o monarca quien pretende gobernar a varias ciudades a la vez - de donde el auto-
gobierno se muestra propicio a la vida comunal acotada - también la atomización de
la misma ciudad le abre las puertas a la anarquía y a la reversión de su mando a manos
del Príncipe o de los signori hereditarios.
[80] Al intentar la nobleza su control sobre el podestá de la república comunal del
medioevo, acto seguido y en reacción los ciudadanos que se sienten afectados crean sus
propias “sociedades” independientes y eligen sus propios Consejos y los capitani a quie-
nes confian sus asuntos públicos (res-publicae) entrando en conflicto con la autoridad
del podestá e instaurándose una lucha social endémica que le pone fin a la primera.
Skinner recuerda, a título ilustrativo, el conflicto inmortalizado por Shakespeare en
Romeo y Julieta, que narra la confrontación “entre los Montesco, defensores de los
popolani [o individuos del pueblo], y la nobleza de rancio abolengo”.
[81] No obstante lo anterior, Aquino, al escribir hacia el siglo XIII de nuestra era
su De regimine principum, muestra su admiración por la experiencia de las repúbli-
cas italianas, en las que “una sola ciudad administrada por magistrados electos a los
que se cambia cada año, a menudo es capaz de lograr mucho más que un rey que rige
a tres o cuatro ciudades”; dado lo cual considera que “un gobierno recibe el nombre
de democracia cuando es inicuo y cuando es conducido por un gran número de per-
sonas”: “forma de poder popular donde la plebe, por pura fuerza de los números, opri-
me al rico, con el resultado de que el conjunto del populacho se convierte en una
especie de tirano”, explica Skinner.
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u otra forma de tiranía, la de las mayorías sobre las minorías. De modo que la inspira-
ción de esa forma mixta apreciada todavía de necesaria - y visto el tiempo histórico
recorrida - la tienen a mano los colonos americanos, pues la sociedad británica con sus
tres clases o estamentos – el rey, la nobleza, y el pueblo – logra lo que resulta imposi-
ble para la Revolución Francesa: encarnar a éstas y hacerlo de un modo funcional al
interés común (commonwealth), en las instituciones de la Corona, de la Cámara de
los Lores, y de la Cámara de los Comunes.
[84] Al principio, parte de los revolucionarios americanos apuesta a la idea de la
república pura y no democrática, que sólo elige y legitima el poder de quien manda y
en donde la elección se dirige de ordinario hacia los llamados “virtuosos”: quienes
pueden sacrificar su interés particular en aras del interés público; no siendo éstos sino
los hombres independientes económicamente o libres de ocupaciones – al mejor esti-
lo de los griegos de la antigüedad – y que por tanto no esperan provecho de los car-
gos. La Constitución de Pennsylvania de 1776, quizás inspirada en dicha idea, decide
prescribir que la función pública no se remunera.
[85] En banda distinta, presionados por la idea de la igualdad que es la más cara
a sus anhelos, dada la misma condición paritaria de los colonos y justificativa de sus
rupturas con la Corona, otros de éstos apuestan por un sistema unicameral legislativo
sin senado ni gobernador, en una versión democrática sólo realizable en el marco de
una comunidad estrecha o limitada. Es el caso de los mismos constituyentes de
Pennsylvania, pero cuyo texto fundamental se reforma 15 años después al demostrar-
se inviable el planteamiento. Los constituyentes de otros Estados ensayan la mixtura
de formas de gobierno señalada, disponiendo al gobernador como el uno, al senado
como los varios, y a los diputados o representantes como los muchos o representantes
del pueblo llano, pero con poder mayor frente al senado y al mismo gobernador.
[86] Entre ensayo y error, mediando debates esclarecedores descubren los nortea-
mericanos que es posible el gobierno de uno, de pocos y de muchos a la vez, sin que el
uno sea una suerte de monarca o los pocos la expresión de una aristocracia incompati-
ble con la idea de la igualdad. El uno, los pocos y los muchos son todos, con fundamen-
to en la idea dominante de la igualdad, individuos procedentes de la calle, sin distingos
de clases; pero a la vez, todos a uno adquieren la condición de elegibles mediante el
voto de los más, de los muchos, siendo todos los norteamericanos al final electores y a
la vez representantes del todo: sean gobernadores, jueces, legisladores, etc.
[87] El pueblo queda representado en toda la organización del poder y no asume
identidad en una sola parte de este – como sólo la tiene en la Cámara de los Comunes
británica - y desde aquél, con perfil propio, puede presionar a las otras clases sociales
formantes del gobierno; lo que equivale, según algunos, a que en lo sucesivo el pue-
blo esta en todas partes y gobierna sobre el todo, lo que para otros implicaba no gober-
nar en ninguna parte. “Los norteamericanos habían separado por completo al pueblo,
como estado social, del gobierno, y por lo tanto destruido la identidad entre estado y
sociedad que tanto habían apreciado los teóricos desde Aristóteles”. De allí que James
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Madison (1788), como lo cuenta Gordon S. Wood para la obra de Dunn, escribe que
“la verdadera distinción de los gobiernos norteamericanos, el elemento que los sepa-
raba de las antiguas repúblicas radica en la exclusión total del pueblo, en su capacidad
colectiva, de toda coparticipación en el gobierno”; de donde la representación fragua
en una república y nada más.
[88] Alexander Hamilton (1788) cree bien y con mejor propiedad que la vieja
noción de la democracia – como la noción tradicional de la república – mal se aviene
con la originalidad del experimento norteamericano, prefiriendo la denominación de
“república democrática” o “democracia representativa”. En efecto, la realidad es que a
la vieja separación de clases sociales (nobleza, aristocracia, pueblo llano) que decanta
en el ejercicio del gobierno condicionando sus formas (monarquía, república, demo-
cracia), la democracia norteamericana opone la mera división del poder (gobernador,
senado, representantes) para frenar los abusos del poder sea quien fuere el que lo
detente y proveer a lo que hoy en día se conoce como el check and balance.
[89] Tras una matización de la idea de la república mixta, la determinación de
que todos los “órganos” de gobierno se integran con personas venidas del pueblo por
virtud de la igualdad y adquieren su legitimidad mediante el voto libertario del pue-
blo, dicta de suyo que éstos de conjunto “representan al pueblo”. El pueblo gobierna
sin confundirse con el Gobierno librándose de sus ataduras y separando la circunstan-
cia personal de sus miembros de sus condiciones como ciudadanos. Así, el voto igual
y libre – que para 1825 ha alcanzado a toda la población blanca, masculina y adulta –
adquiere un valor crucial y no incidental dentro del funcionamiento de la democra-
cia, y la idea unitaria de la representación popular – que, repetimos, ya no es de clase
o estamento – para el ejercicio de poderes de gobierno varios y divididos, por fundar-
se en el voto se explica y legitima en su mismo ejercicio.
[90] Queda resuelta así, en principio, la interrogante que no deja de angustiar a
Tocqueville: “No existe hoy día soberano alguno – dice – lo bastante hábil y fuerte
para establecer el despotismo restaurando las diferencias permanentes entre sus súb-
ditos; tampoco hay ningún legislador tan sabio y poderoso que sea capaz de mantener
instituciones libres sino adopta la igualdad como su primer principio y bandera”; no
obstante lo cual, agrega el referido maestro de la democracia, ella provoca dos alter-
nativas: “una impulsa directamente a los hombres hacia la independencia y puede lle-
varlos a la anarquía, y otra los conduce por un camino más largo y más oculto pero
más seguro hacia la servidumbre”.
[91] La experiencia revolucionaria francesa de 1789, a la luz de sus exégetas es, a
su vez, la que crea el primer gobierno republicano europeo que logra extenderse más
allá de una minúscula referencia comunitaria, para situarse en el ámbito del Estado
moderno. Es, según Biancamaría Fontana, autora en el libro de Dunn, la que nos da las
“leyes e instituciones que todavía hoy constituyen un modelo para los gobiernos demo-
cráticos del mundo”. No obstante, el ideal de democracia pura o directa que se intenta
imponer bajo inspiración, en el criterio de algunos, del acervo greco-romano que dice
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sobre “la participación activa y constante de los ciudadanos en las decisiones políticas”,
se revela inviable y hasta trágico. Tanto que, las instituciones republicanas en apresu-
rada forja terminan en manos del autócrata Napoleón Bonaparte, a partir de 1799. Y lo
cierto es que, por una parte, ha lugar a la idea de la soberanía nacional como fuente de
la legitimidad para el ejercicio del poder y en la Constitución de 1791 se consagra el
sufragio universal masculino, que alcanza a unos cuatro millones de franceses; y por la
otra, la adopción de la Declaración de los Derechos del Hombre y del Ciudadano, sirve
de límite y marca sus finalidades al mismo poder organizado del Estado.
[92] La quiebra por ineficacia y desorden del modelo francés se produce, cabe
explicarlo, primero por una falta de experiencia en elecciones directas y para la con-
formación de una Asamblea integrada por 745 miembros, que ha de renovarse al prin-
cipio cada dos años y luego cada año, dentro de un ambiente de caos y huérfano de
organizaciones partidarias como de intereses locales definidos; y luego, una vez como
se entroniza el jacobinismo con su Comité de Salvación Pública, al encargarse éste de
decidir como “cumbre ejecutiva del partido revolucionario”, por sobre las deliberacio-
nes parlamentarias. La caída de Robespierre y su ejecución mediante la guillotina
junto a 21 de sus seguidores, en 1794, le pone fin al Reinado del Terror, luego de lo
cual la Constitución de 1795 reduce el padrón electoral transformando en censatario
el ejercicio del sufragio, pero la institución republicana pierde su total credibilidad.
[93] Hacia 1812 toma cuerpo una lúcida iniciativa en España, que no logra hacer-
se realidad sino espasmo – entre 1812 y 1814, durante el trieno liberal 1820-1823, y
en 1836-37 – pero que también influye en el constitucionalismo liberal de Italia,
Portugal y América Latina. Las Cortes Generales y Extraordinarias reunidas en Cádiz
durante la invasión napoleónica adoptan la celebérrima Constitución Política de la
Monarquía Española o Constitución de Cádiz, llamada también La Pepa por su san-
ción durante el día de San José. Con ella provocan la ruptura no traumática con el
Antiguo Régimen y dan a luz un modelo de monarquía constitucional limitada y de
ordenación y separación de los poderes públicos bajo el principio de su legitimación
por la soberanía nacional y de representación de ésta en cabeza del parlamento, donde
aquélla reside y que no preside el monarca.
[94] El sufragio, visto a la luz de su tiempo, adquiere virtuales condiciones de
universalidad al quedar extendido como derecho a todos los varones españoles – euro-
peos y americanos - mayores de ventiún años; si bien el régimen electoral es todavía
discriminatorio, escalonado e indirecto y opera mediante un sistema de elección que
va desde las Juntas Electorales de Parroquia, de Partido y luego de Provincia, hasta
conformar éstas las Cortes con la elección de los diputados, Asimismo, se establece
una separación moderada de los asuntos entre la Iglesia y el Estado, al quedar la juris-
dicción eclesiástica subordinada en última instancia a la civil y no a la inversa; y se
consagra como fundamento del modelo la libertad de imprenta: hoy reconocida como
columna vertebral de la democracia. La libertad civil, la propiedad y un conjunto de
derechos fundamentales quedan asegurados por el principio de sometimiento del
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La Democracia del Siglo XXI y el Final de los Estados
Estado y de los ciudadanos a las leyes, que es potestativa de las Cortes: quien las decre-
ta, las interpreta y las deroga; ejecutables por el Rey y aplicables por los tribunales,
únicos con competencia judicial, que es negada tanto al propio Rey como a las Cortes.
[95] En cuanto al gobierno de los pueblos y provincias, si bien el Rey nombra al
jefe político de éstas, las diputaciones provinciales son objeto de elección por los elec-
tores de partido, tanto como son electos los Ayuntamientos mediante voto popular y
directo de los pobladores, quienes designan a sus alcaldes, regidores y síndicos.
Trátase, en fin, de un régimen liberal democrático de monarquía constitucional limi-
tada, novedoso por sus equilibrios y de sujeción por todos, el Estado y el ciudadano, a
una Constitución escrita como ley fundamental; que a su vez reclama de su control
permanente a manos de los jueces, quienes han de preferir dicha tarea a los asuntos
ordinarios de que conozcan. Queda así afirmado, desde entonces, el control difuso de
constitucionalidad que plantean nuestros textos fundamentales democráticos en la
actualidad.
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que bien evoca la práctica de la Atenas Imperial durante el período ático y a propósi-
to de la Liga de Delos: “Introducir por todas partes un gobierno democrático, pensan-
do muy justamente que un gobierno así, que sería deudor de su existencia a Atenas,
llegaría a ser un sostén para la política atenófila de la comunidad” era entonces el desi-
derátum, lo recuerda Zielinski.
[109] En 1991, tanto el llamado Compromiso de Santiago como la Resolución
1080 [Resolución 1080-XXI-O-91 de 5 de junio de 1991] nacidos dentro del seno de
la OEA y que anteceden a la reforma de la Carta de dicha organización multilateral
en 1992 (Protocolo de Washington), son apreciados por un crítico de las mismos, el
diplomático mexicano Ismael Moreno Pino, así: “Se trata, sin duda, de una resolución
de muy particular importancia ya que es un eslabón más de la tendencia, al parecer
irresistible, de encomendar a la Organización la tutela de la democracia representati-
va como forma de gobierno de todos y cada uno de sus Estados miembros. (Omissis).
[Junto] con el antes referido Protocolo de Washington viene a constituir un parte
aguas en lo que a los objetivos y al funcionamiento de la Organización se refiere: en
lo sucesivo, materias tales como la legitimidad del ejercicio del poder público o el fun-
cionamiento de los procesos políticos internos, parecen haber sido arrancados de lo
que tradicionalmente constituía el dominio reservado de los Estados, o corren al
menos el riesgo de serlo”.
[110] El Compromiso de Santiago (Compromiso con la democracia y renovación
del Sistema Interamericano), adoptado por la Asamblea General de la OEA en 1991 y
de forma precedente a su Resolución 1080 citada, que sirve de base a la propia refor-
ma de la Carta mediante el Protocolo de Washington, en 1992, marca, en efecto, un
giro dentro del Sistema Interamericano. Del principio de adhesión por los Estados a
la democracia representativa se pasa hacia la consagración militante de la defensa de
la democracia representativa como “la forma de gobierno de la región”. Como se apre-
cia en el mencionado Compromiso, todos los Gobiernos presentes en la Asamblea,
“democráticamente elegidos”, tienen conciencia clara, ante el fin de la Guerra Fría,
del avance cierto pero no garantizado hacia un orden mundial “más abierto y demo-
crático”, fundado en “la revitalización de la diplomacia multilateral y de las organiza-
ciones internacionales”.
[111] El Compromiso de Santiago hace posible un intento germinal e inédito –
quizás por preverse o intuirse ya la crisis democrática que sobreviene y es hoy visible
en el Occidente - para trascender hacia una conceptualización nueva del modelo
democrático representativo. Más allá de la voluntad de “fortalecer la democracia
representativa, como expresión de la legítima y libre manifestación de la voluntad
popular” (legitimidad formal), los Estados miembros adoptantes de la Declaración
hacen expresa la relación entre la democracia representativa y el deber de “intensifi-
car la lucha solidaria y la acción cooperadora contra la pobreza crítica” y de “promo-
ver la observancia y defensa de los derechos humanos”, de modo particular, la “parti-
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sente por defecto lo anterior, la Cumbre citada concluye afirmando que “la democra-
cia efectiva requiere que la corrupción sea combatida de manera integral, toda vez que
constituye un factor de desintegración social y de distorsión del sistema económico
que socava la legitimidad de las instituciones políticas”.
[116] La Declaración de Santiago, adoptada seguidamente por la 2ª Cumbre de
las Américas en 1998, durante su encuentro de Chile amplia el cuadro de elementos
dogmáticos e integradores de la democracia representativa, acotando el clásico prin-
cipio de la No intervención y la independencia de los Estados para determinarse polí-
ticamente. “La fuerza y el sentido de la democracia representativa”, reza la
Declaración, han de residir, por una parte, en la participación de los ciudadanos y ya
no sólo y como antes en el ejercicio del poder sino “en todos los niveles de la vida ciu-
dadana”. Por otra parte, implica junto a la “participación más activa de la sociedad
civil el fortalecimiento de “las capacidades de los gobiernos regionales y locales”. En
otras palabras, la democracia ha de correr en línea contraria a la centralización del
poder político. Pero hace hincapié tal Declaración en que “la prensa libre desempeña
un papel fundamental en la materia”; de donde reafirma “la importancia de garanti-
zar la libertad de expresión, de información y de opinión”, como exigencia sustantiva
de la experiencia democrática y de su renovación.
[117] Sin solución de continuidad, en línea con las elaboraciones precedentes, la
3ª Cumbre de las Américas celebrada en Québec el año 2001, prefiere mostrarse más
consciente en cuanto a que “las amenazas contra la democracia hoy en día asumen
variadas formas”. El ejemplo queda a la vista por su novedad y como una suerte de
preanuncio del peligro real y no hipotético que enfrenta la democracia en lo sucedá-
neo y que no la opone como en el pasado inmediato a las dictaduras. Se tiene la demo-
cracia, a ella misma, en su lado opuesto. El presidente peruano, Alberto Fujimori,
electo en comicios democráticos, contando con suficiente legitimidad de origen opta
por comprometer su legitimidad de desempeño democrático al usar de las formas o
reglas de la democracia para vaciarlas de contenido.
[118] Dos elementos esenciales destacan, por ende, en la Declaración de Québec.
Uno de carácter inédito, que fija una diferencia entre la democracia formal y la demo-
cracia de desempeño. Otro, de cara a la realidad contemporánea y más allá de la razón
que hace posible -por obra del Compromiso de Santiago, de la Resolución 1080 y del
Protocolo de Washington- fortalecer la acción colectiva de defensa de la democracia
ante los clásicos golpes de Estado, y que añade como nuevo presupuesto a las llama-
das «alteraciones de efecto grave» sobre el orden democrático.
[119] El 11 de septiembre de 2001, fecha en la que el tiempo clásico e interna-
cional de los Estados soberanos cesa a manos del terrorismo fundamentalista desloca-
lizado y cuando se hace espacio otro quiebre cruento -el primero del siglo XXI - en
las leyes elementales de la ética y la decencia humanas, la Asamblea General de la
OEA, cuidando de éstas hacia el futuro adopta en Lima la Carta Democrática
Interamericana. Su texto, cuyo proyecto presenta el Gobierno del Perú a la Asamblea
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General de la OEA celebrada en San José de Costa Rica durante el mes de mayo pre-
cedente, ya caído Fujimori, queda aprobado por consenso de los Cancilleres incluido
el venezolano: cuyo mandante, el Teniente Coronel Hugo Chávez Frías, es el único
Jefe de Estado disidente acerca de los estándares democráticos consagrados durante la
Cumbre de Québec y al alegar que la democracia verdadera no es representativa sino
directa y participativa.
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ción, con apoyo de la sociedad civil, de las condiciones y de las prácticas necesarias
para alcanzar - en elecciones auténticas y mediante el voto universal, igual, libre y
secreto - la gobernabilidad democrática.
[125] En lo relativo a las misiones de observación electoral, el capítulo corres-
pondiente distingue claramente, dentro del marco genérico de las misiones de obser-
vación electoral, las siguientes: Las misiones preliminares para asesoramiento y asis-
tencia por la OEA a los Estados con vistas al fortalecimiento y desarrollo de sus pro-
cesos electorales; las misiones de observación electoral propiamente dichas, que
determinan la existencia o no de las condiciones necesarias para la realización de elec-
ciones libres y justas; finalmente, las misiones especiales, que de cara a la circunstan-
cia anterior, han de contribuir con la creación previa de las condiciones en cuestión.
[126] Un aspecto particular, de crucial significación, merece destacarse a propó-
sito de la adopción de la Carta. Esta califica a la democracia como derecho los pueblos,
en línea diversa a su consideración como sistema o régimen político de Gobierno,
según puede apreciarse en su artículo 1 y que mejor se entiende en sus alcances a
tenor de cuanto afirma Melkevic remitiendo a Jürgen Habermas. Según éste el dere-
cho de los pueblos ha de entenderse como “derecho cosmopolítico”, de donde el ideal
a realizarse “es una democracia planetaria consistente en espacios políticos donde
hombres y mujeres pueden participar y recíprocamente decidir su suerte por medio
de procesos democráticos”. Mal puede entenderse a la democracia, pues, sin que se
repare en sus realizadores y destinatarios, los ciudadanos. De allí que, al igual que
ocurre con todos y cada uno de los derechos humanos, es deber del Estado respetarla
y garantizarla mas no apropiársela, o como lo dice la señalada disposición del artícu-
lo 1 de la Carta y en lo relativo al mencionado derecho a la democracia, corresponde
a los gobiernos “la obligación de promoverla y defenderla”.
[127] El otro aspecto se relaciona con lo afirmado por la Carta, en cuanto a que
la democracia es y la entiende ésta, sin ambages, como democracia representativa.
Pero la participación, que mal puede desnaturalizarla en cuanto a lo que es, no obs-
tante contribuye, según ella, al reforzamiento y profundización de dicho modelo
democrático, tal y como se desprende de la lectura de los artículos 2 y 6 ejusdem. El
Estado, por consiguiente, no puede sustituir o postergar a la ciudadanía a fin de hacer
cierta la experiencia democrática y menos aún puede sustituir al ciudadano transfor-
mándolo en su elemento subsidiario, con el propósito de hacer de la misma democra-
cia potestad o competencia del Estado y a un punto tal que considere atributo suyo
v.g. el desarrollo de la personalidad humana.
[128] El Estado es un elemento instrumental, “artificial” u obra del dios-hombre
si se quiere y se busca hacer buena la tesis del autor del Leviatán: Thomas Hobbes
(1588-1679), subsidiario –o mejor garantista– del individuo y de su libertad o, bien,
según sea la calidad y el contenido institucionales del primero, una expresión más de
la dimensión social de la persona humana. De allí la clara prescripción del menciona-
do artículo 6 de la Carta Democrática: “La participación de la ciudadanía en las deci-
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XIV. La gobernabilidad
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[149] Pensar en el día después, a la luz de los cambios de paradigma que acom-
pañan al siglo XXI en curso e imposibles de detener, no es tarea fácil. Las referencias
históricas hijas de la civilización que nos alberga dejan de ser tales y en apariencia los
anclajes son otros hacia el futuro. La crisis de Wall Street, como indicador señalado
de un supuesto final del capitalismo, sugiere a algunos la reedición por vía de conse-
cuencias del Estado interventor. Pero quienes esto afirman invocan a los fantasmas de
ultratumba. La dictadura económica fenece junto a la dictadura política con el der-
rumbe del Muro de Berlín, hace casi dos décadas.
[150] Lo cierto es que el denunciado final del capitalismo – vale decir del capi-
tal como fuente única de riqueza y bienestar – es una cosa y otra predicar la muerte
de los mercados o el restablecimiento de las fronteras económicas, en un tiempo dife-
rente, que arrastra como postulado la caída de todas las murallas geopolíticos y cultu-
rales por obra de las autopistas de la información. Pero algo si cabe a propósito de la
crisis financiera mundial reciente, como lo es que los efectos del desmoronamiento de
Wall Street son y se muestran tan globales que ningún Estado o nación por sí solo
puede contenerlos. Todos a uno están paralizados y ayunos de voluntad. Apenas se
muestran relativamente capaces para el diagnóstico situacional.
[151] Cabe repetir, pues, que el comunismo llega a su término por querer fun-
darse sobre una de las mitades de la naturaleza humana, la que le pide al hombre alte-
ridad y le sitúa en comunidad para saciar sus carencias, olvidando que éste es, de igual
modo, voluntad libre y una, experiencia única e irrepetible. Mas la cosmovisión de
Wall Street, que cede luego de haberse creído victoriosa, es reduccionista y barata.
Sigue midiendo a cada persona desde su otra mitad, desde el egoísmo sin contención
e imaginándola como una suerte de animal que engulle sus intestinos mientras le
alcanzan y luego muere de inanición, en la soledad de su caverna.
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[158] Cabe construir ex novo y no sólo reconstruir, en suma. Queda, por lo pron-
to, la verdad presente e indiscutible del hombre digital: desarraigado y expectante. Su
voluntad, individual o concordada, como principio moderno de legitimación del
poder, si acaso no cede por lo pronto desconoce cuáles son los odres espaciales o vir-
tuales restitutorios de las seguridades ciudadanas perdidas.
[159] No es ocioso que tengamos presente, a propósito de la democracia como
estilo de vida y estado del espíritu connatural a la persona humana y urgida de su
renovación, lo que de ella dicen tanto Maritain como Bobbio: se niega en los extre-
mos y reniega de los extremistas. Y en el vacío o en la anomia de transición, según la
aguda afirmación de Max Weber dicha a finales de la Segunda Gran Guerra cuando
habla sobre el futuro de Alemania, no debe olvidarse que “la cátedra no es ni para los
demagogos ni para los profetas”.
[160] Sabemos qué es la democracia, cuales son sus escollos a lo largo de la his-
toria y sus estándares vigentes a la luz de las descripciones normativas y de las consi-
deraciones ético políticas dominantes. Como “ideal” que nos acompaña podemos con-
trastar los estándares dados con las realidades en movimiento, auxiliados por el mismo
Bobbio sin comprometerlo, determinando lo que ahora y para lo sucesivo son sus
falencias. Y nada más. En otras palabras, es posible realizar un ejercicio dentro de la
misma democracia, no fuera de ella, mirándonos en la democracia que soñamos y en
las democracias que tenemos, a la espera de dibujar la democracia realizable.
[161] En lo inmediato, no olvidemos que si la democracia nace como el gobier-
no de los muchos, donde los muchos legitiman desde abajo la existencia de la ciudad
y la ordenación de sus potestades, no es ella un medio que por si sola legitima sino que
viene atada a finalidades que se explican en la misma voluntad humana originaria: la
realización integral de la persona y sus derechos fundamentales. O como lo prefiere
Bobbio, “no basta ni la atribución del derecho a participar directa o indirectamente en
la toma de decisiones colectivas” por los muchos ni la existencia de reglas de juego o
procedimentales para que los muchos hagan valer sus decisiones mediante “la mayo-
ría” o la “unanimidad”, sino que es necesaria una tercera condición: que quienes deci-
den tengan y cuenten con las condiciones reales para decidir libre y razonadamente.
De donde “es indispensable que aquellos que están llamados a decidir o a elegir a quie-
nes deberán decidir, se planteen alternativas reales y estén en condiciones de selec-
cionar entre una y otra”, teniendo garantizados, por lo mismo, sus derechos a opinar,
a expresarse, a reunirse, a asociarse, entre otros.
[162] Ahora bien, dicho esto, la pregunta que cabe es ¿cómo puede el ciudadano
digital decidir autónomamente sobre las realidades globales que surgen con vocación
de dominio político y cultural, siendo que la democracia directa –tan demandada en
la hora presente– se agota en la Grecia antigua al intentar desbordar los límites de la
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Bobbio, que la democracia encuentra sus orígenes modernos en una especie de pacto
social o contrato – por entendérsela como forma de Gobierno – entre los individuos
aspirantes a la ciudadanía. Es el mismo Estado democrático, por ende, un producto
artificial o abstracción - ya lo hemos dicho - que de manera libre forjan los integran-
tes de la sociedad civil en su estadio de naturaleza, para luego asegurarse en común la
garantía de sus recíprocas libertades. De modo que, “la doctrina democrática habría
ideado un Estado sin cuerpos [sociales] intermedios”. Lo veraz, sin embargo, es que en
la oposición o relación entre el individuo y el Estado aquél crea, hoy más que nunca,
otras asociaciones o personas morales distintas, amortiguadoras e intermedias, como
los mismos partidos, los sindicados, las contemporáneas organizaciones no guberna-
mentales, las iglesias, las comunidades culturales o vecinales, etc. El ideal primigenio
de la sociedad democrática centrípeta ha derivado en una sociedad política centrífu-
ga, más que plural, no cabe duda.
→ La consecuencia de lo anterior es manifiesta. La democracia representativa
plantea la elección de representantes quienes, al ser electos, se desvinculan de sus
electores para poder servir y decidir en nombre y procura del bien común; que no
para actuar como si estuviesen sometidos a un mandato privado e imperativo de los
grupos electorales o de interés, y al que están atados de modo indisoluble. No obstan-
te, vuelve por sus fueros una pregunta clave y fundacional, que otra vez se hace coti-
diana: ¿los gobernantes, los legisladores, a quién y en nombre de quién ejercen sus
mandatos? ¿Acaso por cuenta de sus partidos y organizaciones políticas y con lealtad
hacia sus programas respectivos? ¿Deben velar, mejor aún, por los intereses de sus
propias asociaciones o vínculos de origen: empresariales, laborales, culturales, religio-
sas, de derechas, de izquierdas, incluso por reclamo de la transparencia democrática?
→ Es rutina observar distintas ópticas al respecto. Los partidos acusan de tránsfu-
gas y traidores a quienes como representantes y en sede parlamentaria no acatan sus
líneas y se escudan bajo el voto secreto, argumentando que quien así lo hace olvida que
es electo como parte de un partido o comunidad política. Debe lealtad al compromiso
o mensaje parcial y específico adquirido, que dio lugar al voto sobre una alternativa. La
decisión política dividida que nos acaba de mostrar el Congreso de los Estados Unidos
de América a propósito de la crisis de Wall Street, es ilustrativa en orden distinto. Los
partidos republicano y demócrata no logran contener a sus representantes y senadores,
y no pocos de ellos deciden en conciencia, o cuidando sus intereses personales, o a la
luz de cuanto les indica la probable reacción a favor o en contra de lo que se decide por
las comunidades de electores quienes les dan sus beneplácitos.
→ Una suerte de solución transaccional reciente, propia de las últimas décadas
como lo recuerda Bobbio, es la creación dentro de la gestión democrática de mecanis-
mos tripartitos que desbordan el ámbito puro de la decisión política representativa.
Por consiguiente, se crean mesas y hasta instituciones constitucionales – los célebres
Consejos Económicos y Sociales – que llevan a su seno, junto a la representación polí-
tica o gubernativa propiamente dicha, la de los empresarios y los trabajadores. Pero
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cabe otra pregunta acerca de este aspecto. ¿Es suficiente ello con vistas a una sociedad
que emerge cada vez más integrada en su carácter militante pero disuelta y sin tejido,
hecha de corporaciones o grupúsculos casi neomedievales y variadas, con visiones
parciales pero igualmente legítimas acerca de la experiencia democrática?
→ LA SEPARACIÓN E INDEPENDENCIA DE LOS PODERES PÚBLICOS ES ELEMENTO ESENCIAL
DE LA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA. La cuestión, que se plantea desde los orígenes de
la democracia moderna, desde el propio tiempo revolucionario francés y como una
exigencia indiscutible para la contención del poder mismo y la garantía de que el indi-
viduo y la sociedad cuentan con la tutela efectiva de sus derechos, esta vez hace rela-
ción con la idea de la legitimidad democrática de desempeño; en otras palabras, con
el manido asunto de la gobernabilidad o eficiencia democráticas.
→ Dice Bobbio, acerca de esto último, que “primero el Estado liberal y después
su ampliación, el Estado democrático, han contribuido a emancipar a la sociedad civil
del sistema político”. Dado lo cual ésta, al haber madurado, se hace más crítica y exi-
gente con relación al dicho Estado y para pedir del mismo “ventajas, beneficios, faci-
lidades, una más equitativa redistribución de la riqueza”. Pero la rapidez y el creci-
miento exponencial de tales demandas, a medida en que se hace más compleja la vida
personal y social, “está en contraste – ajusta el autor in comento – con la lentitud de
los complejos procedimientos del sistema político democrático” para la toma de las
decisiones, aún más dentro del marco de la sociedad digital globalizada, explotadora
del tiempo y cultivadora de su velocidad.
→ No huelga volver repetir que el tratamiento del crack americano reciente es
un ejemplo al respecto. La opinión pública mundial revienta en su angustia dado de
que los mecanismos institucionales y de concertación democráticos entre el Ejecutivo
y el Congreso norteamericanos, a pesar de ser expeditos en la circunstancias, lo apre-
cian lento los afectados dentro del mundo de las finanzas, a la luz de la velocidad y
expansión geométrica tomadas por la crisis en cuestión. La observación de Bobbio
vuelve a ser válida como punto para la reflexión acerca de este estándar o elemento
esencial de la democracia representativa. “En la democracia la demanda es fácil y la
respuesta difícil; por el contrario, la autocracia tiene la capacidad para dificultar la
demanda y dispone de una gran capacidad para dar respuestas”. Este es el dilema grave
de la Era digital en cierne y un desafío para la seguridad democrática dentro del
Estado de Derecho; lo que sugiere repensar, sin complejos, las formas y la funcionali-
dad nuevas que ha de adoptar un principio fundacional e insustituible dentro de toda
democracia, como este de la separación, desconcentración y descentralización del
poder público y político.
→ Cabe al margen otra consideración, a manera de pregunta. Junto al procedi-
miento democrático como del tránsito desde realidades sociales elementales – que son
las propias al nacimiento de la democracia dentro del antiguo odre familiar y luego de
las fronteras del Estado nación – hacia realidades sociales más complejas; y aun cuan-
do el pueblo llano es ahora más instruido para los asuntos de la ciudadanía – ¿acaso no
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→ Cabe, en orden a lo último, una reflexión adicional que facilita volver a las
ideas iniciales de este escrito. La democracia pura o primaria - pensemos otra vez en
la antigua Grecia - separa el ámbito de lo familiar de aquello que considera activae
civitatis o ciudadanía activa, y ello por una razón incuestionable. La ciudadanía se
entiende, lo repetimos, como un “muro” protector frente a las coacciones externas y
los desafueros de los tiranos. Hoy, antes bien, es observada y criticada la insensibili-
dad – o incapacidad para ser sensible a las cosas pequeñas - del Estado y la república
democrática. Mas, en la medida en que la personalidad humana, lo social y cultural,
ya no sólo lo económico, adquieren dimensión ciudadana y por ende política, se abren
los espacios para que la ciudad transponga con su autoridad normativa los muros del
hogar doméstico, politizándolo y hasta dominándolo, con mengua del hábitat mínimo
de libertad e intimidad que requiere el individuo como Ser que es.
→ LA LIBERTAD DE EXPRESIÓN Y DE PRENSA ES COMPONENTE FUNDAMENTAL DEL EJER-
CICIO DEMOCRÁTICO Y A LA VEZ ELEMENTO ESENCIAL DE LA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA AL
SER, COMO TAL, UNO DE LOS DERECHOS HUMANOS Y LIBERTADES FUNDAMENTALES. Su teleo-
logía, qué duda cabe, sirve a la consecución de los otros componentes fundamentales
para la realización de la democracia, como la transparencia en las actividades guber-
namentales, la probidad, y la responsabilidad de los gobiernos en la gestión pública.
No por azar aquélla es considerada, lo hemos señalado siguiendo las enseñanzas de la
jurisprudencia interamericana, la columna vertebral de la democracia. Y es que la
propia democracia griega se inicia con la isegoría o igualdad de palabra en los conse-
jos y asambleas – he aquí lo esencial – que deliberan y deciden a la luz del día y en las
plazas públicas.
→ En cuanto a la libertad de prensa propiamente dicha, considerada a partir de
nuestra modernidad como un factor externo al poder constituido y para controlarlo
desde afuera y en sede de la opinión pública, no cabe duda en cuanto a que el ingre-
so de la comunidad universal en la Era de la globalización de las comunicaciones hace
de aquélla algo más vertebral y menos circunstancial al sostenimiento de las relacio-
nes entre las denominadas sociedad civil y sociedad política. La prensa, en general, es
el articulador verdadero de la opinión pública y de su fragua contemporánea como
poder político; a un punto que ya desplaza por imperativo de la revolución tecnológi-
ca y de la anomia social de coyuntura a las estructuras clásicas de participación demo-
crática: los partidos y las asociaciones políticas.
→ No obstante lo anterior, el acceso ciudadano a la información pública, que es
sustantivo a la libertad de expresión, condición o coadyuvante de la transparencia
gubernamental, factor inhibitorio de las prácticas de corrupción, y también modali-
dad que propicia la rendición de cuentas por parte de los magistrados – una de las exi-
gencias más antiguas y cardinales de la democracia, según lo recuerda nuestro primer
historiador, Herodoto – tropieza con obstáculos que lo someten a dura prueba. Uno lo
representa la emergencia de lo que llama Bobbio – apelando a Alan Wolfe, escritor
norteamericano - el Estado invisible o paralelo, el “criptogobierno” o el “conjunto de
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acciones realizadas por fuerzas políticas subversivas que actúan a la sombra y en rela-
ción con los servicios secretos, o con una parte de ellos”. Los ejemplos huelgan y no
es necesario mencionarlos entre nosotros.
→ El otro obstáculo – nacido bajo el supuesto de una mayor eficacia en la ges-
tión pública – es el desplazamiento que ha lugar del debate parlamentario y público
de las leyes por obra de las leyes o habilitaciones extraordinarias de legislar que
actualmente se otorgan a los gobernantes de forma más que rutinaria, para que reali-
cen por sí las tareas de la legislatura y a su conveniencia. Estos, por consiguiente, dic-
tan leyes mediante decreto y de forma secreta, protegidos por los muros de sus gabi-
netes, y casi siempre obviando la prédica de Kant en su Apéndice a La Paz Perpetua:
“Todas las acciones referentes al derecho de otros hombres cuya máxima no puede ser
publicada, son injustas”.
→ Pero el obstáculo más importante para la transparencia y rendición de cuen-
tas gubernamentales y fuente indiscutible de corruptelas que minan a la democracia,
lo representa la “autocracia digital” – distinta de la varias veces mencionada “aristo-
cracia digital”. En otras palabras, se observa la disposición gubernamental creciente de
los recursos tecnológicos de última generación para controlar a los ciudadanos antes
de que éstos, mediante la opinión pública y el acceso a la información pública, con-
trolen a quienes detentan el poder. “Ningún déspota de la Antigüedad, ningún monar-
ca absoluto de la Edad Moderna, aunque estuviese rodeado de mil espías, logró tener
toda la información sobre sus súbditos que el más democrático de los gobiernos puede
obtener del uso de los cerebros electrónicos”, señala con pertinencia indiscutible y
preocupación el mismo Bobbio.
→ La subordinación de las instituciones del Estado a la autoridad civil y el res-
peto por la sociedad al Estado de Derecho, se expresan como el último componente
fundamental de la legitimidad democrática de desempeño. Aun así, sin mengua de la
certeza teórica del estándar mencionado, el cuadro dominante de anomia social e
internacional y la ausencia de referentes constitucionales e institucionales distintos
que la resuelvan, posterga a la razón jurídica y le da preeminencia a la razón de facto.
Y como tendencia toma cuerpo, por una parte, el reclamo creciente por los miembros
de la fuerza pública y armada de derechos ciudadanos y como “civiles de uniforme” y,
por la otra, sobre el puente de esta consideración, toma lugar la idea de que el ciuda-
dano ha de prepararse en los menesteres de la milicia, para la defensa de la ciudad y
sobretodo de sus conquistas sociales y económicas. Se debilita, así, la antiquísima dis-
tinción entre el arcontado y los estrategas o polemarcas griegos como la actual dife-
renciación entre el gobierno civil y la organización militar que, en democracia y en
teoría, ha de quedar sujeta a la voluntad ciudadana.
→ Pero, además, no es que se aprecie una suerte de unidad o confusión sobreve-
nida y en forja entre el mundo civil y el militar que despeje la idea de la primacía de
uno por sobre el otro, sino que, admitida la mixtura de fueros ella no ha lugar dentro
de un espacio ciudadano unitario y sujeto, en su conjunto y como lo era, a la prima-
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Asdrúbal Aguiar
cía de una ley única, igual, sistemática, con validez general para el mismo conjunto,
tal y como es lo propio del Estado de Derecho.
→ En ausencia o por la misma ineficacia sobrevenida del Estado Nación, en tanto
que centro o punto de articulación de la ciudadanía democrática, ha lugar la emergen-
cia acelerada de una “sociedad neocorporativa” - como la llama Bobbio y lo señalamos
con insistencia - en la que cada grupo, sector o comunidad de intereses sociales, cul-
turales, económicos, étnico-raciales, religiosos y hasta mercaderiles, no sólo busca su
reconocimiento específico como parte de la cosa pública o res publicae sino que aspi-
ra a un tratamiento diferenciado dentro de la ley general. Todavía más, procuran
alternativas de solución de conflictos sociales al margen del Estado de Derecho y con-
sistentes con la realidad de sus intereses localizados. Así ocurre dentro de las comuni-
dades sociales de base y en las comunidades indígenas u originarias de América Latina,
cuyos derechos casi familiares o consuetudinarios adquieren estatus y reconocimien-
to constitucional progresivo. Todo ello - cabe subrayarlo - bien recrea la experiencia
de los signori durante el Medioevo italiano, cuyas sociedades o comunidades más
estrechas coexisten en pugna con la autoridad del Podestá de la República.
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[173] Como lo creemos, el tiempo por venir no es ni será mejor o peor, sino dis-
tinto. De modo que, los paradigmas instrumentales de la democracia a buen seguro
son otros en el siglo XXI balbuceante. Pero cabe observar que, así como la idea de la
representación hace necesaria e imprescindible, para sacar a la democracia de sus
límites comunitarios y hacerla extensiva a grandes espacios geográficos y humanos, la
idea de la participación permanente de la ciudadanía y la absorción por la política
hasta del mundo íntimo del individuo, también hace morir a la democracia cuando
deriva en trivialidad por exceso. Así ocurre, en su primera experiencia, durante la
Grecia de los antiguos.
[174] De modo que, la idea de los equilibrios y del alejamiento de los extremos
vuelve otra vez por lo pertinente y ha de machacarse sin tregua. La representatividad
debe llevarse hasta el punto que reclama la eficacia en la gestión de los objetivos
democráticos complejos y de dimensiones espaciales importantes, pero no puede ser
desplegada hasta el extremo en que la democracia pierde su sentido como proyecto
político e intenta reducir el conjunto de la vida humana a ciudadanía total: tesis que,
cambiando lo cambiable, es común al pensamiento de Marx y de Rousseau.
[175] La participación democrática, que en la actualidad y a la manera de prác-
tica de la democracia directa se encuentra en las asambleas populares, de base o veci-
nales, en las que los ciudadanos deliberan y deciden acerca de sus intereses comunes
inmediatos, o en la práctica de los referenda, cabe ampliarla a los nuevos espacios que
integran lo que se da en llamar ahora la democracia social; esa que posibilita la deli-
beración y decisión en áreas que escapan hasta ahora al interés de la ciudadanía polí-
tica, como las relaciones laborales, estudiantiles, de usuarios, de consumidores, etc.
Pero mal puede extenderse al plano de lo mundial o global o hacia arriba, hasta hacer
ineficiente o perturbador el proceso decisional urgente y especializado sobre los pro-
blemas universales e inherentes a la sociedad digital, sin perjuicio de la imaginación
necesaria de mecanismos para su control; o hacia abajo, hasta un punto en que el ser
humano, hacedor y destinatario de la experiencia democrática, pierda su identidad y
autonomía.
[176] No se trata que sea válida y a la manera de principio, hacia arriba, hacia la
globalidad planetaria emergente, la redención del régimen aristocrático “La vigencia
de una democracia depende de que se perciba que los miembros de la sociedad están
todos en cierta forma capacitados para gobernar”, lo recuerda el ex presidente
Alfonsín. Pero cosa distinta es y así cabe entenderlo, el reclamo de la jerarquía fun-
cional y de la especialización o de las delegaciones que impone la decisión sobre asun-
tos complejos, donde la idea moderna de la representación aporta algo sustantivo.
[177] Hacia abajo, no se trata que la participación ciudadana se detenga en las
fronteras del individuo inútil e incapaz de servirse asimismo como ciudadano, por
indiferente e indolente frente todo aquello que ocurre en la ciudad. Se trata, antes
bien, que la regla del consenso o de la mayoría democrática, por principio, favorezca
la regla del disenso y el respeto al disidente. La mayoría democrática cede allí y pier-
86
La Democracia del Siglo XXI y el Final de los Estados
[182] Frente a los riesgos del porvenir, parodiando a otro artesano de la demo-
cracia ya mencionado, Rafael Caldera, quien escribe sobre la virtud indestructible del
pueblo venezolano, cabe algo que no deben olvidar las nuevas generaciones y es que
87
Asdrúbal Aguiar
nuestro pueblo “se acostumbró a vivir en libertad” (Del autor, Los causahabientes, de
Carabobo a Punto Fijo, Editorial Panapo, Caracas, 1999). Hemos de reparar con opti-
mismo, pues, en las posibilidades ingentes que nos ofrece la misma democracia en el
siglo que corre y en los espacios del Occidente que son cuna de la ley y que en lo suce-
sivo han de ser, como lo es el Oriente, cuna de la luz, que ilumine el horizonte de lo
posible.
[183] En síntesis y anudados a cuanto piensa Ghéhenno, con cuya obra nos topa-
mos al concluir la escritura de estas reflexiones, queda pendiente una auténtica revo-
lución democrática en este espacio de prehistoria del tiempo naciente. No hay sitios
para el llanto y queda aceptar el fin de la era institucional del poder, el término de la
misma Ilustración. En contrapartida, la arborescencia social, como lo apunta dicho
autor, se complica hasta el infinito. Se trata de realizar, cabe repetirlo, una revolución,
que no es política sino espiritual. Volver a las fuentes del orden institucional que desa-
parece es un desatino, pues a falta del orden político superado no hay capacidad para
reproducirlo, que no sea para jugar al engaño durante un tiempo magro y dejarle
campo libre a la impostura.
[184] Los debates por venir “se referirán a la relación del hombre con el mundo”.
Se trata de debates éticos y acaso es por vía de éstos que ha de renacer la política “en
un proceso que partirá de abajo, de la democracia local [distinta de la vieja institucio-
nalidad municipal, regional y nacional] y de la definición que una comunidad dará de
sí misma para elevarse”, y para que encuentre junto a sus pares, como lo creemos, ese
hilo de Ariadna que les aproxime, relacionándolas y ofreciéndoles una identidad en
cuanto a los objetivos de mayor trascendencia .
[185] La advertencia autorizada no se hace esperar al respecto. “La solidaridad
que debe permitir superar el repliegue comunitario – la emergencia de las retículas
sociales impermeables e introspectivas mencionadas – no será, en fin, inicialmente
“política”, encontrará su soporte en el sentimiento de una común responsabilidad ante
un mundo cuyos límites deben circunscribir la ambición de los hombres”. “No existe,
pues, receta política para hacer frente a los peligros - y desafíos - de la era post-polí-
tica”, concluye Ghéhenno, salvo asumirlos con coraje y esperanza.
88
Democracia, Estado de Direito e Desenvolvimento
Rainer Grote1
Sumáárioo: I. Introdução II. Funções do Estado de Direito e da Democracia no Discurso do Direito Internacional
III. Estado de Direito e Democracia na perspectiva histórica e comparada IV. Interação entre Democracia e Estado
de Direito
I. Introdução
89
Rainer Grote
2 Compare aqui o estudo recentemente publicado de Freedom House sobre o desenvolvimento das liberda-
des democráticas no mundo: Arch Puddington, Freedom in Retreat: Is the Tide Turning? Findings of
Freedom in the World 2008; ver, ainda, The Economist, Jan 19th 2008, 53 s.
3 Lei Federal de 19 de Marco de 1976 sobre a cooperação internacional para o desenvolvimento e assistên-
cia/ajuda humanitária; International Development Act 2002.
4 O novo Artigo 188d do Tratado sobre as modalidades de trabalho da União Europeia na versão do Tratado
de Lisboa menciona apenas a luta pela redução da pobreza como objetivo principal da política da União no
campo da cooperação para o desenvolvimento. Não obstante, o dispositivo esclarece que a política da União
nesse âmbito deve-se dar “no contexto dos fundamentos e objetivos da atuação externa da União”. Dentre
esses fundamentos e objetivos, encontram-se, de acordo com o revisado artigo 10a do Tratado da União
Europeia, principalmente, democracia, Estado de Direito e os Direitos Humanos.
90
Democracia, Estado de Direito e Desenvolvimento
5 Ver, juntamente com Art. 20, Par. 3 „GG“, também Art. 1, Par. 1, da Constituição espanhola; Art. 2, Abs.
1, da Constituição húngara; Art. 1 c) da Constituição sul-africana; Art. 1 da Constituição brasileira; Art. 1,
Par. 3, da Constituição indonésia; também os “Ausführungen in Abschnitt I. Des Querberichts”.
91
Rainer Grote
6 T. Moustafa, The Struggle for Constitutional Power – Law, Politics and Economic Development in Egypt,
2007, 213.
7 R. Wolfrum, International Administration in Post-Conflict Situations by the United Nations and Other
International Actors, Max Planck Yearbook of United Nations Law 9 (2005), 649, 681 ss.
92
Democracia, Estado de Direito e Desenvolvimento
1. Estado de Direito
93
Rainer Grote
9 Ver Art. 14 Convenção Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, Art. 6 da Convenção Europeia de
Direitos Humanos.
10 Sobre o artigo 6 da Convenção Europeia de Direitos Humanos, ver Ch. Grabenwarter/K. Pabel, in:
Grote/Marauhn (Ed.), EMRK/GG, 2006, Cap. 14, Rn. 14.
11 Art. 2, Par. 3, da Convenção Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, Artigo 13 da Convenção
Europeia de Direitos Humanos.
12 Artigo 9, Convenção Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, Art. 5 Convenção Europeia de
Direitos Humanos.
13 Art. 14, Par. 7, Art. 15 Convenção Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, Art. 7 Convenção
Europeia de Direitos Humanos.
94
Democracia, Estado de Direito e Desenvolvimento
95
Rainer Grote
executadas nos Estados Partes da Convenção ICSID como sentenças de última instân-
cia dos tribunais nacionais. A concretização dos parâmetros correspondentes para a
proteção de investimentos estrangeiros permanece, portanto, nas mãos de corpos
decisórios internacionais independentes. O rápido crescimento do número de deci-
sões arbitrais no campo do direito da proteção dos investimentos tem levado ao desen-
volvimento de standards universais mínimos, que produzem consequências imediatas
sobre a configuração dos procedimentos administrativos nacionais relacionados às
decisões sobre investimentos estrangeiros.15
Em suma, pode-se dizer que a “rule of law” é largamente reconhecida como prin-
cípio diretor do ordenamento jurídico internacional; importantes elementos dessa
“rule of law” encontraram, por meio das convenções de direitos humanos e dos meca-
nismos de acordos multi e bilaterais no campo das relações econômicas, ampla recep-
ção no Direito Internacional positivo. A “rule of law” é, ainda, sólido elemento cons-
titutivo dos fundamentos de “good governance”, desenvolvidos por organizações
internacionais para o desenvolvimento como diretrizes para o seu trabalho.16 No
World Summit Outcome Document de 2005, os chefes de Estado e de Governo mun-
diais ressaltaram solenemente a relevância desses fundamentos, incluindo a “rule of
law”, para o trabalho de desenvolvimento.17 Por fim, o Estado de Direito constitui
uma das mais importantes metas da comunidade internacional em seus esforços pelo
restabelecimento de uma ordem estatal eficaz nos chamados “failed states”.18
2. Democracia
15 Ver a conhecida sentença no caso Metalclad, na qual a ausência de procedimento administrativo transpa-
rente e justo no México para a concessão da autorização necessária para a construção de uma estação de tra-
tamento de rejeitos industriais tóxicos por investidor norte-americano foi considerada violação dos stan-
dards de “tratamento justo e equânime”, nos termos do Artigo 1105 do Tratado do NAFTA. Metalclad
Corporation v. United Mexican States, Final Award, 30 August 2000, para. 99 ICSID Case No.
ARB(AF)/97/1.
16 S. Chesterman, Stichwort Rule of Law, in: R. Wolfrum (Ed.), Encyclopedia of Public International Law,
2008 ff, Rn. 20 (a ser publicado).
17 World Summit Outcome 2005, UN GA Doc. A/60/L.1, N. 11 do Preâmbulo: We acknowledge that good
governance and the rule of law at the national and international levels are essential for sustained economic
growth, sustainable development and the eradication of poverty and hunger.”
18 Quanto ao final, ver Wolfrum (Ref. 6), 691 ss.
96
Democracia, Estado de Direito e Desenvolvimento
19 Declaration on Principles of International Law concerning Friendly Relations and Co-operation among
States in Accordance with the Charter of the United Nations vom 24. Oktober 1970, UNGA Res 2625
(XXV).
20 Ver o parágrafo da Friendly-Relations-Declaration correspondente à igualdade soberana dos Estados: “In
particular, sovereign equality includes the following elements: …e) “Each State has the right freely to chos-
se and develop its political, social, economic and cultural systems.”
21 “… all peoples have the right to freely determine, without external interference, their political status and
to pursue their economic, social and cultural development…”
22 “Every State has an inalienable right to choose its political, economic, social and cultural systems, without
interference in any form by another State.”
23 Ver K.J. Partsch, Freedom of Conscience and Expression, Political Freedoms, in: L. Henkin (Ed.), The
International Bill of Rights: The Covenant on Civil and Political Rights, 1981, 209, 235; A.N. Lippincott, Is
Uganda’s “No Party” System Discriminatory Against Women and a Violation of International Law?,
Brooklyn Journal of International Law 27 (2001/02), 1137, 1156.
97
Rainer Grote
98
Democracia, Estado de Direito e Desenvolvimento
27 Guidelines for the Recognition of new States in Eastern Europe and in the Soviet Union, European Journal
of International Law 4 (1993), 74-77.
28 A. Cassese International Law, 2. Ed. 2005, 73 s.; I. Brownlie, Principles of Public International Law, 6. Ed.
2003, 87 s.
99
Rainer Grote
29 Essa questão foi intensamente discutida sobretudo no contexto do Conflito de Kosovo, ver D. Thürer, Der
Kosovo-Konflikt im Lichte des Völkerrechts: von drei – echten und scheinbaren – Dilemmata, Archiv des
Völkerrechts 38 (2000), 1-22; C. Tomuschat, Völkerrechtliche Aspekte des Kosovo-Konflikts, Die
Friedenswarte 74 (1999), 33-37.
30 Sobre a intervenção militar dos EUA no Haiti, autorizada pelo Conselho de Seguranca em 1994, a qual per-
seguiu expressamente o objetivo de recolocar no poder o presidente eleito democraticamente e deposto por
um golpe de Estado militar, Betrand Aristide, ver S.J. Schnably, Constitutionalism and democratic govern-
ment in the inter-American System, in: Fox/Roth, Democratic Governance and International Law, 155,
168-171.
100
Democracia, Estado de Direito e Desenvolvimento
101
Rainer Grote
33 A definição clássica do conceito formal de Estado de Direito provém de F.J. Stahl, Die Philosophie des
Rechts nach geschichtlicher Ansicht, Vol. 2, 3. Ed. 1856, 137: “…der Begriff des Rechtsstaates… bedeutet
überhaupt nicht Ziel und Inhalt des Staates, sondern nur Art und Charakter, dieselben zu verwirklichen.”
102
Democracia, Estado de Direito e Desenvolvimento
pouco, suplantado por concepções que ressaltavam mais fortemente a qualidade for-
mal do Direito, sob abstração de sua finalidade.34
Em reação à deturpação do conceito formal de Estado de Direito durante o
Nacionalsocialismo e à superação do positivismo legal, a partir da metade do século 20
os pensamentos e reflexões voltaram-se novamente para os conteúdos materiais do
Estado de Direito. Na verdade, os aspectos formais do Estado de Direito não foram
abandonados: eles sobrevivem, antes, em determinações centrais da Lei Fundamental
(Art. 19 Par. 4, Art. 20 Par. 3), em princípios constitucionais não escritos, bem como
nos princípios de Direito Administrativo geral. Ao mesmo tempo, foram complemen-
tados e ampliados para princípios e fundamentos que não apenas permitem, como têm
por pressuposto, o controle de todos os aspectos da atuação estatal mediante critérios
materiais. O núcleo dessa concepção material de Estado de Direito constitui o vínculo
de todos os poderes estatais – inclusive o Legislativo – aos direitos fundamentais (Art.
1, Par. 3, Constituição alemã). O Tribunal Constitucional Federal alemão enxerga nos
direitos fundamentais uma “ordem de valores objetiva”, um “sistema de valores”, que
encontra o seu ponto central na personalidade humana, desenvolvida livremente no
seio da comunidade social, e em sua dignidade, e, como “decisão constitucional funda-
mental”, influencia todas as áreas do Direito, bem como oferece “diretrizes e impulsos”
ao Legislativo, Administrativo e Judiciário.35 Dentre os direitos fundamentais que con-
ferem conteúdo material ao Estado de Direito, figuram também os direitos de liberda-
de, os quais são constitutivos de uma ordem liberal-democrática: liberdade de expres-
são (Art. 5, Const.), liberdade de reunião (Art. 8, Const.), liberdade de associação (Art.
9, Const.), além dos direitos “políticos” fundamentais, quais sejam a liberdade de cria-
ção de partidos (Art. 21, Const.) e o sufrágio universal, direto, livre, igualitário e secre-
to, ativo e passivo (Art. 38, Const.). O conceito material de Estado de Direito acolhe,
dessa forma, importantes elementos de liberdade política, os quais constituem, simul-
taneamente, fundamento de toda e qualquer ordem democrática.
A maior ênfase nos conteúdos materiais do Estado de Direito não representa
desenvolvimento especial do período pós-guerra alemão. Ela constitui, antes, a
expressão de uma orientação geral na Europa (ocidental) por concepções de Estado de
Direito direcionadas à proteção das liberdades individuais, e influencia, ao mesmo
tempo, esse desenvolvimento. Em resultado, predomina, atualmente, na Europa, uma
compreensão do Estado de Direito, na qual ele aparece como elemento constitutivo da
ordem democrática, de forma que uma separação estrita entre os dois conceitos resul-
ta objetivamente inadequada, ou mesmo artificial. O Tribunal Constitucional da
República Tcheca deu expressão incisiva a essa visão em sua fundamental decisão
sobre a constitucionalidade da lei sobre a ilegalidade do regime comunista do ano de
34 M. Stolleis, Geschichte des öffentlichen Rechts in Deutschland, Vol. 2, 1992, 383 s.; P. Badura, Das
Verwaltungsrecht des liberalen Rechtsstaates, 1967, 37 s.
35 BVerfGE 7, 198, 205 – Lüth.
103
Rainer Grote
1993. Como a relação entre Estado de Direito e Democracia, entre Estado de Direito
formal e material não é discutida, de forma tão geral, em praticamente nenhuma outra
sentença de um Tribunal Constitucional, vale citar a decisão, nesse ponto, em sua
íntegra: “A nossa nova Constituição não é fundada sobre a neutralidade de valores,
não é uma simples delineação de instituições e procedimentos, mas sim, incorpora em
seu texto também determinadas ideias reguladoras, as quais expressam os valores fun-
damentais e invioláveis da sociedade democrática. A Constituição da República
Tcheca aceita e respeita o princípio da legalidade como elemento constitutivo da...
concepção do Estado de Direito, no entanto, não vincula, apenas, o direito positivo à
legitimidade formal, mas submete a interpretação e aplicação das normas jurídicas ao
seu sentido substancial e material e condiciona o Direito por meio do respeito aos
valores fundamentais constitutivos da sociedade democrática, com base nos quais a
aplicação das normas jurídicas é aferida... Essa visão do Estado constitucional rejeita a
legitimidade formal-racional do Regime, bem como o Estado de Direito formal... A
legitimidade do regime político não se pode apoiar apenas sobre os aspectos jurídico-
formais, porque os valores e princípios sobre os quais o regime se baseia não são ape-
nas jurídicos, mas possuem principalmente caráter político. Tais princípios da nossa
Constituição, como a soberania do povo, a democracia representativa, o Estado de
Direito são os princípios da organização política da sociedade, os quais não são total-
mente definíveis de forma normativa...”36
104
Democracia, Estado de Direito e Desenvolvimento
105
Rainer Grote
106
Democracia, Estado de Direito e Desenvolvimento
43 Sobre essa dualidade de princípios do Estado de Direito, ver E. Schmidt-Aßmann, aa. O. (Rn. 40), que fala,
a esse respeito, sobre o desdobramento do princípio do Estado de Direito como “ordem subjetiva de status”,
por um lado, e como “ordem objetiva de funções”.
107
Rainer Grote
tico, e observa-se uma concentração do poder da mídia nas mãos de alguns poucos
(cada vez menos), bem como uma perfuração do princípio da separação entre os pode-
res jornalista e político. Ainda mais difícil parece ser a criação de estruturas democrá-
ticas mais transparentes em países que não dispõem de nenhuma tradição democráti-
ca consolidada. Em contrapartida, reformas do setor Judiciário parecem ser, compara-
tivamente, fáceis: a consagração da independência dos tribunais na Constituição, a
reforma da organização dos tribunais, a criação de novas leis processuais – tudo isso se
permite executar com recursos limitados e promete, na maioria das vezes, resultados
rapidamente visíveis. A essa observação segue-se, por outro lado: quanto mais difícil
for a configuração de um processo de reforma, mais cedo se deve dar início a ela. E
isso exatamente porque reformas democráticas, em sua maioria, necessitam de tempo
considerável até que atinjam a classe política, as organizações da sociedade civil e os
cidadãos, e sejam por eles adotadas, sendo de especial importância, aqui, o engajamen-
to continuado e a longo prazo no sentido da tão invocada sustentabilidade. Esse fato
se coloca contra um constante adiamento desmotivado de reformas democráticas.
Uma outra abordagem político-desenvolvimentista enxerga na concentração
sobre reformas de Estado de Direito, ao contrário, uma forma especialmente refinada
de democratização. De acordo com ela, nesse tipo de reformas, tendo em vista o seu
caráter “técnico” e a sua esperada utilidade para a modernização econômica do país,
deve-se contar com resistência fundamentalmente mais baixa do que no caso da pro-
pagação de reformas democráticas, as quais, de forma mais ou menos aberta, colocam
a distribuição de poder existente no país destinatário em discussão. Por outro lado,
reformas jurídicas conduzidas com êxito levariam a intensificada reivindicação por
uma “abertura” da política estatal. Sob a proteção das instituições do Estado de
Direito, essas exigências poderiam, ainda, ser apresentadas com menos riscos do que
antes. A introdução do Estado de Direito aparece, aqui, em certa medida, como o
“cavalo de Tróia” da democratização.
Referências empíricas, no entanto, apontam para o fato de que a necessidade
intrínseca do desenvolvimento do Estado de Direito a uma democracia aparece na
teoria de forma mais imperativa do que realmente o é na prática política. Programas
de Estado de Direito podem, sim, ser perfeitamente utilizados como preparação de
processos de reforma democráticos, especialmente enquanto estiverem vinculados à
concepção de Estado de Direito no sentido descrito acima (III.). Nada se pode dizer,
no entanto, sobre a disposição de regimes mais autoritários de aceitar efetivamente
tais reformas democráticas. Sob a pressão da globalização, nos últimos quinze anos,
quase todos os Estados se mostraram dispostos a conduzir reformas de Estado de
Direito. Tal prontidão não surpreende, considerando-se que tais reformas são vistas,
em sua maioria, como instrumento imprescindível para a modernização da própria
economia e são, na maioria das vezes, generosamente promovidas pelos países indus-
trializados e organizações doadoras. Não é coincidência que, exatamente no Direito do
Comércio Internacional, a previsão normativa de fundamentos do Estado de Direito e
108
Democracia, Estado de Direito e Desenvolvimento
109
A Democracia em Face da Exclusão Social
Friedrich Müller1
Sumáárioo: I. Introdução II Sistema Democrático III. Exclusão social IV. Globalização e Democracia V. Conclusão.
I. Introdução
111
Friedrich Müller
ções. Dessa análise, resultam vários modos de utilização.2 O primeiro deles é, também,
o único que, até agora, foi usado na bibliografia da Ciência do Direito como conceito
jurídico de “povo”: os titulares dos direitos eleitorais. Denomino esse modo de utiliza-
ção “povo ativo”. Isso basta para o Poder Legislativo, na medida em que se compreen-
de, graças à idéia de representação, que “o povo” é, indiretamente, a fonte da legisla-
ção. Mas isso não funciona no caso das atividades dos Poderes Executivo e Judiciário,
que, afinal de contas, também devem ser “demo”craticamente justificadas. O povo
ativo decide diretamente ou elege os seus representantes, os quais co-atuam, em prin-
cípio, nas deliberações sobre textos de normas legais que, por sua vez, devem ser
implementadas pelo governo e controladas pelo Judiciário.
Na medida em que isso é feito corretamente em termos do Estado de Direito,
aparece, no entanto, uma contradição no discurso da democracia: por um lado, faz
sentido dizer que os governantes, os funcionários públicos e os juízes estariam demo-
craticamente vinculados; mas não faz sentido dizer que, aqui, o povo ativo ainda esta-
ria atuando “por intermédio” de seus representantes. Onde funcionários públicos e
juízes não são eleitos pelo povo, a concretização de leis não basta para torná-los repre-
sentantes deste mesmo povo. O ciclo da legitimação foi rompido, ainda que de forma
democrática; mas ele foi rompido. Os vínculos são cortados de forma não-democráti-
ca quando a decisão executiva ou judicial for ilegal; aqui, o povo invocado pelo titu-
lar do respectivo cargo (“em nome do povo, profiro a seguinte sentença...”) produz
somente o efeito de um ícone, de um mero passepartout ideológico.
No caso já mencionado, ou seja, na decisão defensável em termos do Estado de
Direito, o papel do povo apresenta-se diferentemente: como instância de uma atribui-
ção global de legitimidade. Tal papel transcende, na sua abrangência, o povo ativo;
abrange todos os que pertencem à nação.
Além disso, as decisões dos órgãos que instituem, concretizam e controlam as
normas afetam a todos aqueles aos quais dizem respeito: o “povo” enquanto população
efetiva. Uma democracia legitima-se a partir do modo pelo qual ela trata as pessoas
que vivem no seu território - não importa se elas são ou não cidadãs, ou titulares de
direitos eleitorais. Isso se aproxima, finalmente, da idéia central de democracia: auto-
codificação, no direito positivo, ou seja, elaboração das leis por todos os afetados pelo
código normativo. O princípio “one man, one vote” (pensado em outra acepção) tam-
bém pode ser compreendido não com vistas à camada social específica, mas com vis-
tas à qualidade humana de cada pessoa afetada, independentemente da cidadania.
Desse povo-destinatário, ao qual se destinam todos os bens e serviços providos pelo
Estado Democrático de Direito, fazem parte todas as pessoas, independentemente,
também, de idade, estado mental e status em termos de direitos civis.
Isso transcende o tradicional discurso da dominação, não apenas obsoleto, mas,
desde o início, problemático, na sua combinação com o “demos”. O antiquíssimo
2 F. Müller, Quem é o povo? A questão fundamental da democracia. São Paulo, Max Limonad, 1998; 2ª ed.
2000.
112
A Democracia em Face da Exclusão Social
esquema das camadas “de cima“ e “de baixo“ e o quadro estritamente autoritário ainda
subsistem, mesmo quando o sujeito da “dominação” é trocado e o povo é colocado no
alto. Essa velha imagem das relações sociais é pré-democrática e deve ser abandona-
da. De acordo com a nova proposta aqui apresentada, “kratein”, em “democracia”, não
significa apenas ser sujeito do exercício legítimo do poder; mas, antes de mais nada,
ser levado a sério e ser tratado como fator legitimador da atuação do Estado. Em out-
ras palavras: trata-se, em primeiro lugar, de retrabalhar não só o “conceito” científico
de povo; mas, nesse novo fundamento, de levar a sério o povo enquanto realidade efe-
tiva. Por isso, o conceito “kratein” não mais deveria ser formulado apenas em termos
de direito de dominação, e o conceito “democracia” não mais deveria ser tratado ape-
nas segundo as técnicas da representação.
Isso corresponde, aproximadamente, ao “government for the people”, na fórmu-
la de Lincoln; em contrapartida, “by the people” já é um conceito refratado pela repre-
sentação e a fórmula “of the people” fica suspensa de forma pouco clara entre a fun-
ção icônica e a função atribuída de “povo”. A democracia avançada não é, portanto,
apenas status activus democrático; não é mais um mero dispositivo de técnica jurídi-
ca para definir como textos de normas são postos em vigor (como as leis são promul-
gadas). Ela é, agora, um nível de exigências aquém do qual não se pode ficar, se se qui-
ser falar de formas de democracia: são exigências pertinentes ao modo pelo qual as
pessoas em um território são tratadas concretamente - não como súditos, nem como
seres subhumanos, mas individualmente, como membros do povo soberano, do povo-
destinatário que pode legitimar a totalidade do poder organizado do Estado - junta-
mente com o povo ativo e o povo como instância de atribuição.
Democracia é direito positivo de toda e qualquer pessoa, no âmbito da sua “- cra-
cia”. Nesse contexto, aqueles que não consideram o problema da exclusão social, usam
a expressão “povo” de forma meramente icônica; eles não são democratas, não parti-
cipam do discurso democrático.
3 Sobre a “incapacidade da sensação e da fruição das outras capacidades e especialmente das vantagens espi-
rituais da sociedade burguesa”, ver Hegel, Princípios da Filosofia do Direito, § 243; cf. também §§ 244 e 245.
Sobre a dependência das chances de educação e formação profissionalizante da base de capital, ver ibid.
§§ 200 e 237.
113
Friedrich Müller
4 A. Schrader. Brasilien: Soziale Fragen, soziale Strukturen. in: W. Paul (ed.) Verfassungsreform in Brasilien
und Deutschland. 1995, pp. 17 ss., 30 ss., 31.
5 De acordo com a instrutiva sinopse in W. Paul. Situation der Menschenrechte in Brasilien - Sozialstruktur
aktueller Menschenrechtkonflikte (manuscrito datilografado, 1999); ibid. também sobre “impunidade” e
“corrupção”.
6 Para a distinção entre exclusão “primária” e “secundária”, ver F. Müller, Quem é o povo? 1998; T. H.
Marshall. Class Citizenship and Social Development. 1976; N. Luhmann, Politische Theorie im Wohlfahrtsstaat.
114
A Democracia em Face da Exclusão Social
1981 e Das Recht der Gesellschaft. 1993; M. Neves. Verfassung und Positivität des Rechts in der periphe-
ren Moderne. 1992. Sobre a teoria social dos sistemas: N. Luhmann. Die Gesellschaft der Gesellschaft. 1998,
pp. 618 ss. (inclusão e exclusão).
115
Friedrich Müller
116
A Democracia em Face da Exclusão Social
7 Cf. R. Kühnl. Gesellschaft im Umbruch, in: Blätter für deutsche und internationale Politik, 1994, pp. 747 ss.
8 N. Luhmann. Die Gesellschaft der Gesellschaft, 1998, pp. 632 ss.
9 R.Kühnl. ibid. p. 749. A análise mais abrangente deste problema é aquela apresentada em H. See/E. Spoo
(eds.). Wirtschaftskriminalität - kriminelle Wirtschaft. 1997.
10 Tal relatório foi publicado somente no primeiro semestre de 2001.
117
Friedrich Müller
11 Em números absolutos: 106.101.060 titulares de direitos eleitorais ativos, 83.296.067 votos, 22.798.922 não-
votantes, 6.688.610 votos em branco e 8.884.430 votos declarados nulos.
12 Reproduzido segundo Tolosa e Rocha. Políticas de combate à pobreza: experiências e equívocos. São Paulo:
INAE. Fórum Nacional, maio de 1993.
118
A Democracia em Face da Exclusão Social
Washington:13 o mais forte vence, o mais fraco é eliminado e cai rapidamente no vór-
tice da reação em cadeia da exclusão, já descrita.
Por um lado, a economia norte-americana acusou, nos anos 90, elevadas taxas de
crescimento e criou uma quantidade líquida de 28 milhões de novos empregos.
Contudo, esses novos empregos contemplam 20% da mão-de-obra - apenas trabalho
em tempo parcial (freqüentemente, sem que os trabalhadores assim o queiram); e na
média global, os novos postos de trabalho geram renda 14% menor do que aquela pro-
piciada pelos empregos anteriormente existentes. Ao mesmo tempo, as demissões em
massa continuaram; justamente nos próprios EUA, a globalização, que partiu desse
país, destruiu, na competição por empregos em escala tendencialmente mundial, mui-
tos postos de trabalho seguros e bem pagos na indústria.
E quando se afirma, freqüentemente, que o sistema dos EUA não disponibiliza
uma “rede social” para tais casos, diferentemente da tradição do Estado de Bem-Estar
Social na Europa, isso é apenas parcialmente verdadeiro. Para a sociologia, é um segre-
do de polichinelo que os EUA providenciam uma “rede social”, só que ela é mais cara
do que a européia (e, por isso, também, tende a ser cada vez mais privatizada): refiro-
me às prisões. O número de prisioneiros, em torno de 1,6 milhão é, proporcionalmen-
te, seis a sete vezes mais elevado do que nos países europeus.
Para o nosso tema, um outro indicador, o comportamento nas eleições, é muito
eloqüente: presidentes eleitos por uma “maioria” correspondente a menos de 40% dos
eleitores ou, como no caso da reeleição de Clinton em novembro de 1996, a cerca de
25%; e participações eleitorais de 38% (nas eleições para o Congresso americano na
segunda metade de 1994) ou de 36% (nas eleições para o mesmo Congresso, na segun-
da metade de 1998).
A seguir, apresento alguns outros pontos importantes para o tema deste texto: o
núcleo operativo da “globalização“; as especificidades da América Latina e, especial-
mente, do Brasil; o estatuto histórico da política globalizadora; o papel do Estado nessa
política e os efeitos desta sobre a democracia.
119
Friedrich Müller
120
A Democracia em Face da Exclusão Social
121
Friedrich Müller
17 Cf. F. W. Scharpf. Games Real Actors Play. Oxford, 1997; W. Streeck/C. Crouch. Political Economy of
Modern Capitalism. London, 1997.
18 Para uma argumentação detalhada, ver N. Birnbaum. After Progress. Oxford, 1998; e sobre esse livro C. Noé
in DIE ZEIT de 19.11.1998, p. 31.
122
A Democracia em Face da Exclusão Social
da pelos ideólogos do mercado traduz o temor de que o Estado possa vir a representar
o interesse público de forma excessivamente eficiente”.19
A teoria dos jogos mostra que um jogo de soma positiva entre bem-estar social e
liberdade individual egoísta só é possível sob a condição de que os benefícios indivi-
duais sejam submetidos a regras obrigatórias para todos. Do contrário, os governos que
são responsáveis perante o seu povo ativo, perante o povo enquanto instância de atri-
buição e perante o povo-destinatário, correm o risco de se deixar chantagear sem
resistência pelas forças do mercado, deslocadas de todo e qualquer “povo”, no quadro
da ideologia da “localização”. Com efeito, segundo informações do Banco Mundial,20
dois terços de todos os investimentos diretos efetivamente feitos em países estrangei-
ros só se realizaram porque os governos desses países cederam a pressões no sentido
de conceder subsídios e outros incentivos exigidos.
Ao contrário do que apregoam os meios de comunicação controlados por
grandes grupos econômicos, a dominação dos mercados, cada vez mais desenfrea-
da, não leva a sociedades liberais - no sentido etimológico do termo, já que libe-
ralismo vem do vocábulo latino “líber” (livre) – e comprometidas com a democra-
cia e com os princípios do Estado de Direito. Na verdade, só a duras penas um
Estado constitucional se constitui e se afirma política e juridicamente como
Estado livre. De qualquer modo, um Estado constitucional democrático deve
regular e influenciar os mercados tão amplamente que a sociedade possa continuar
sendo razoavelmente livre e justa.
Assim, o Pacto das Nações Unidas sobre os direitos humanos econômicos, soci-
ais e culturais de 1966 necessita, para a sua implementação efetiva, tanto dos estados
nacionais e de sua política cumpridora de acordos internacionais,21 como de sua trans-
formação em direito nacional com possibilidades de aplicação pelos tribunais e garan-
tias de acesso a outras prestações estatais para grupos em situação desvantajosa.
Exemplos de medidas nesse sentido são leis de proteção ao trabalho, incluindo garan-
tias para o exercício do direito de greve; programas de garantia de renda mínima para
as famílias; medidas contra a corrupção, incluindo políticas preventivas que estimu-
lem a participação popular na fiscalização do uso dos recursos públicos; reforma agrá-
ria e reforma fundiária nas áreas urbanas; e campanhas de alfabetização. A presença
do Estado é crucial, também, para uma política educacional e científica que não se
sujeite servilmente às coações inerentes ao objetivo da “eficiência”, em termos da con-
corrência econômica mundial. É preciso reconhecer que a concentração do poder eco-
nômico privado, entrementes, tornou-se “tão tirânica e tão totalitária” (Noam
123
Friedrich Müller
Chomsky) que torna urgente a implementação de políticas públicas que sejam mais do
que coadjuvantes para a realização dos interesses de capitais privados.22
Os modos pelos quais a monetarização global ameaça a democracia já foram
mencionados. Cumpre salientar que o ataque mais profundo nessa direção provém da
exclusão social, a qual se amplia e agrava graças à globalização, como indicam as evi-
dências empíricas. A exclusão se afirma inequivocamente às expensas do Estado
Democrático de Direito e do Estado de Bem-Estar Social; ela deslegitima o governo,
pois faz com que o povo ativo, o povo enquanto instância de atribuição e o povo-des-
tinatário degenerem em “povo“ como ícone.
Num grau mais acentuado, a exclusão chega até a “desestatizar” o Estado consti-
tucional exigente, que só pode ser justificado como Estado universal e não como um
Estado ao qual se sobrepõe tiranicamente o metacódigo inclusão/exclusão.23 E no grau
no qual os mercados globais ditam a política e tornam inoperantes as chances de
monitoramento por parte dos governos, o conceito de democracia cai no vazio, como
freqüentemente tem ocorrido.
Especificamente, com vistas ao caso brasileiro, Celso Furtado, para citar um
exemplo, afirmou que a sujeição ao capital estrangeiro causaria um “risco crescente de
ingovernabilidade do país”.24 Num mercado global sem Estado(s), o capital móvel
sobrepoe-se a parlamentos e governos eleitos, minando, conseqüentemente, o com-
prometimento destes com o Estado de Direito e o Estado de Bem-Estar Social, com a
proteção ambiental e a distribuição defensável e responsável de bens escassos. A con-
cretização da ameaça de “mudança de localização” depende somente do cálculo de
benefícios do respectivo grupo empresarial; mas ela solapa (eventuais) motivações e
compromissos dos governos destarte chantageados, com o bem-estar da coletividade.
E com isso se subtrai o fundamento, precisamente, àqueles métodos democráticos
pelos quais conquistas – como, por exemplo, os direitos humanos – e objetivos políti-
cos – como, por exemplo, a proteção ambiental – deveriam ser tratados e assegurados.
A dominação dos «mercados» tornou-se tão despótica que os seus representantes
nem se dão mais ao trabalho de velar esses fatos escandalosos. Assim, o porta-voz de
política exterior dos democratas-cristãos alemães escreve no jornal Le Monde que a
política deveria “ser orientada com vistas a uma realidade supranacional. Os mercados
financeiros internacionais são expressão disso”; e Yves-Thibault de Silguy, até recen-
temente comissário francês junto à União Européia, declara que os políticos finalmen-
22 Ver análises abrangentes em N. Chomsky. Haben und Nichthaben, 1998; J. Saul. Der Markt frisst seine
Kinder, 1997. Ver, também, os pertinentes trabalhos de J. K. Galbraith, P. Bourdieu, A. Gorz, R. Heilbroner,
J. Rifkin, E. Luttwak („Turbocapitalismo“) e P. Drucker, além dos autores do „Grupos de Lisboa“ e outros.
Sobre os profundos efeitos do dogma do mercado e de suas ideologias de gerenciamento dentro das empre-
sas, ver R. Sennett. A corrosão do caráter. 2000.
23 Cf. F. Müller. Wer ist das Volk? 1997, pp. 47 ss. e 57 ss. [traduzido para o português como Quem é o povo.
São Paulo, Max Limonad, 1998]
24 In: O capitalismo global. 1998, pp. 73 s.
124
A Democracia em Face da Exclusão Social
25 Ambos citados em DIE ZEIT de 12.9.1997, p. 39. Em uma perspectiva analítica, N. Luhmann (in: Die
Gesellschaft der Gesellschaft. 1998, p. 808) menciona que “[...] os centros da sociedade mundial (sobretudo
naturalmente [!] os mercados financeiros internacionais)”. O ponto de exclamação não figura no texto de
Luhmann.
26 O Tratado de Amsterdã é o mais recente acordo que procura definir a forma legal da Comunidade Européia,
válido nos 15 países membros da Comunidade. Este Tratado substituiu o Tratado de Maastricht.
27 L. Thurow, ap. DIE ZEIT, de 26.11.1998, pp. 27 s., 28.
28 Sobre isso e sobre o que segue, ver H. J. Puhle. Demokratisierungsprobleme in Europa und Amerika, in: H.
Brunkhorst/P. Niesen (edd.). Das Recht der Republik. 1999, pp. 317 ss.; a citação subseqüente no texto:
ibid., p. 322; sobre a América Latina, inclusive o Brasil, p. 334 ss.
125
Friedrich Müller
nem todas as forças de oposição existentes na sociedade civil são internamente demo-
cráticas; muitas delas são, por vezes, autoritárias ou constituídas por via clientelista.
Mesmo assim, a atuação dessas forças pode contribuir, ao menos, para o pluralismo do
conjunto.
O Brasil teve de distanciar-se de um regime militar precedente e a elaboração e
promulgação de sua constituição, como se sabe, ocorreram no contexto de uma tran-
sição pactuada, e não revolucionária. O peso quase opressivo do seu regime presiden-
cialista conduz, em uma sociedade civil ainda insuficientemente organizada e mobili-
zada, ao que se chama, nas pesquisas sobre os processos de transição, democracia
“defeituosa“, uma vez que a exeqüibilidade de uma política democrática fica prejudi-
cada pela falta de estruturas próprias ao Estado de Direito. Infelizmente, o País já
experimentou formas intermediárias entre a democracia e a dominação mais ou
menos autoritária; felizmente, os brasileiros não carecem de reflexão acerca dessas
experiências, como indicam termos como ditabranda ou democradura. Uma base
ainda forte dessas formas híbridas é a estrutura política, em grande parte arcaica: ela
é constituída por uma casta de régulos estaduais, “caciques“ que agem de forma clien-
telista nos Estados-Membros; por “representantes do povo”, cujo comportamento
político nestes Estados, e também no plano da federação é, praticamente, não-contro-
lável e que, por sua vez, conformam-se ao clientelismo regional e presidencialista.
Para fazer frente a esse quadro, é importante que na esfera das “massas” mais ou
menos organizadas, ou organizáveis, existam um interesse e um empenho reais pela
democratização exitosa, ao menos com vistas ao longo prazo. Sem comunicação e coo-
peração com esse fator, nenhuma elite consegue manter-se no poder, indefinidamente.
A democratização, que se constrói com mais chances de êxito «de baixo» do que «de
cima», processa-se precisamente a partir de uma multiplicidade de iniciativas de auto-
ajuda, de auto-proteção, de afirmação dos direitos civis e de outras formas de resistên-
cia. Mas, justamente aqui a exclusão social é gravemente impeditiva e deve ser comba-
tida com todas as forças, com vistas à realidade (futura) de um sistema democrático.29
V. Conclusão
A questão colocada pelo tema deste texto não deve ser respondida apenas em ter-
mos éticos; daí que tenha sido necessário operacionalizar melhor conceitos centrais,
de modo a possibilitar enunciados quantitativos. Nessa perspectiva, a miséria maciça,
29 Há uma vasta bibliografia sobre o processo de transição democrática, e.g.: S. M. Lipset. Some Social
Requisites of Democracy, in: American Political Science Review 53 (1959), pp. 69 ss.; D. Share/S.
Mainwaring. Transition through Transaction: Democratization in Brazil and Spain, in: W. Selcher (ed.).
Political Liberalization in Brazil. Boulder, 1986, pp. 175 ss.; A. Przeworski. Democracy and the Market.
Cambridge, 1991; J. J. Linz/A. Velenzuela (ed.). The Failure of Presidential Democracy. Comparative
Perspectives, vol. 1. Baltimore, 1994; Id. A. Stepan. Problems of Democratic Transition and Consolidation;
Southern Europa, South America, and Post Communist Europe. Baltimore, 1996.
126
A Democracia em Face da Exclusão Social
30 Cf. a análise política de S. Halimi. Les élections américaines n’ont pas eu lieu, in: LE MONDE DIPLOMA-
TIQUE de 10.12.1998, p. 10.
127
Friedrich Müller
diante do fato de que os 60% dos votos necessários à alteração constitucional são atin-
gidos mais rapidamente do que o limite de 66,67%. Tudo tem seu preço: e este é, aqui,
o preço a ser pago pelo fato de termos de mobilizar um potencial democrático menor
do que o previsto em outros sistemas constitucionais para alterar a constituição.
Uma outra dificuldade está na sobreposição de parâmetros distintos. Tais parâ-
metros, em princípio, devem ser somados – e isso justamente com vistas à democra-
cia. Nesse tocante, e em virtude da reação em cadeia por demais familiar, os fenôme-
nos de exclusão econômica, social, sócio-cultural e jurídica não são problemáticos,
quando somados. Afinal de contas, eles se complementam de modo fatal na realidade
cotidiana, enquanto distorções feitas contra o povo-destinatário e o povo enquanto
instância de atribuição. Quando afetam a maioria da população, o Estado não passa de
um aparelho formalista que pode, se for o caso, ser constitucionalmente legal, mas não
será jamais democraticamente legítimo.
As coisas são mais complicadas no comportamento eleitoral do povo ativo.
Quando alguém não votou, a probabilidade da sua exclusão é apenas medianamente
elevada; as razões da abstenção nas eleições podem estar, também, ligadas a algum tipo
de protesto ou a uma postura preguiçosa e genericamente apolítica de titulares de
direitos perfeitamente integrados — quiçá, até, superintegrados (privilegiados). Mas
quando alguém está excluído, a probabilidade de não comparecer às eleições deve ser
estimada num nível muito elevado. A área de intersecção dos parâmetros me conduz
à idéia de propor como limite global não a maioria absoluta, mas sim, o limite da
maioria que altera a constituição. Nesse caso, as conseqüências da exclusão não são
mais toleráveis para um sistema democrático; a constituição alterou-se, efetivamente,
de qualquer modo e a alteração não se refere, em termos semióticos, aos signos da
carta constitucional, mas, em termos de política constitucional, à avaliação política do
sistema. A constituição alterou-se, então, de democracia legítima para aparelho de
Estado não mais democraticamente legitimável.
Somados pelo modo proposto, os dados estatísticos (12% de pobreza excludente
na média dos estados-membros da União Européia, mais um terço de não-votantes)
resultam, para a Europa, em um nível de exclusão decerto alarmante, mas não atin-
gindo o mencionado limiar da alteração informal da constituição.31 Esse limiar é, em
contrapartida, transposto nos EUA. A isso subjaz, por um lado, o mencionado índice
oficial de pobreza de 13,7%: por outro lado, a média da abstenções das eleições para o
Congresso em 1994 (62%), nas eleições presidenciais de 1996 (51%) e nas eleições para
o Congresso em 1998 (64%)32 – o que resulta em uma média de 59% de não-eleitores,
como foi mencionado.
31 Trata-se, aqui, de um conceito diferente – e mais preciso, em termos de teoria constitucional – do que o
conceito de alteração formal da constituição. Sobre esse tema, cf. F. Müller. Strukturierende Rechtslehre.
2ª ed. 1994, pp. 309 s., 363 ss. e 369 ss.
32 Cf. a análise política de S. Halimi. Les élections américaines n’ont pas eu lieu, in: LE MONDE DIPLOMA-
TIQUE de 10.12.1998, p. 10.
128
A Democracia em Face da Exclusão Social
33 Indicado segundo: Relatório Nacional Brasileiro. Brasília, 1996, para o ano de 1990. Não tive acesso a esta-
tísticas oficiais de data mais recente.
129
La Cláusula de la Sociedad Democrática y la
Restricción de Derechos Humanos
en el Sistema Interamericano
Jesús M. Casal H1
Sumarioo: I. Introducción II. Funciones generales de la cláusula III. Alcance general del control democrático basado
en dicha cláusula IV. Criterios para un control democrático de las restricciones a derechos humanos V. Perspectivas.
I. Introducción
1 Abogado summa cum laude de la Universidad Católica Andrés Bello, Caracas, Venezuela. Doctor en
Derecho, mención honorífica de la Universidad Complutense de Madrid, Madrid, España. Especialista en
Derecho Administrativo Universidad Central de Venezuela, Caracas, Venezuela Decano de la Facultad de
Derecho de la Universidad Católica Andrés Bello, Caracas, Venezuela y Profesor de Derecho
Constitucional. Miembro de la Comisión Andina de Juristas. Actual Presidente de la Asociación Venezolana
de Derecho Constitucional.
2 Según el artículo 1 de la Carta Canadiense de Derechos y Libertades (Constitution Act, 1982), estos dere-
chos y libertades quedan sujetos únicamente a aquellas limitaciones razonables previstas por la ley que
“estén justificadas de manera comprobable en una sociedad libre y democrática”.
3 Cfr. Vegleris, P., “Valeur et signification de la clause ‘dans une société démocratique’ dans la Convention
Européenne des Droits de l’ Homme”, Revue des Droits de l´Homme, 1968, pp. 219 y ss.; Garibaldi, Oscar,
“On the ideological content of human rights instruments: the clause ‘in a democratic society’”, en
Buergenthal, Contemporary issues in international law, Kehl, Engel, 1984, pp. 23 y ss.
131
Jesús M. Casal H
aunque no siempre dentro de una norma general sobre las restricciones a los derechos,
los principales tratados de derechos humanos de ámbito universal y de ámbito regio-
nal europeo e interamericano. El contexto de la alusión a la sociedad democrática con-
tenida en dicha Declaración es la previsión de los presupuestos bajo los cuales los dere-
chos proclamados pueden ser objeto de restricciones, y su función específica es incluir
la noción de sociedad democrática como un condicionante de la facultad tácitamente
reconocida a los Estados de fijar tales limitaciones. Esas limitaciones han de pasar por
el tamiz de la noción de sociedad democrática, pues sólo aquellas que habiendo sido
establecidas por la ley para alcanzar los fines indicados en el artículo 29.2 y que, ade-
más, sean compatibles con una sociedad democrática pueden considerarse válidas.
La cláusula de la sociedad democrática encuentra su primera expresión formal en
el artículo XXVIII de la Declaración Americana de los Derechos y Deberes del
Hombre, aprobada en mayo de 1948.4 Si bien la redacción de este artículo no traslu-
ce completamente el sentido garantista de la alusión a la democracia, ése fue un pri-
mer paso hacia la consagración de la cláusula en la Declaración Universal de Derechos
Humanos.
El artículo 32.2 de la Convención Americana sobre Derechos Humanos adopta-
ría luego el giro del artículo 29.2 de la Declaración Universal e incorporaría nítida-
mente la referencia a la sociedad democrática como barrera a las posibilidades de res-
tricción de los derechos reconocidos. Una cláusula general similar figura en el
Protocolo adicional a la Convención Americana en materia de Derechos Económicos,
Sociales y Culturales (art. 5), a lo cual hay que agregar normas especiales de la
Convención Americana (arts. 15, 16.2 y 22.3) y de ese Protocolo (art. 8.2) alusivas a
la posibilidad de limitación de algunos de los derechos regulados.
La relación de estas normas particulares con las respectivas cláusulas generales
es la existente entre la disposición especial y la general, por lo que la primera preva-
lece, lo cual carece de alcance práctico en lo que atañe a la cláusula de la sociedad
democrática, dada la coincidencia sustancial en la referencia a la misma contenida en
unas y en otras. La cuestión adquiere significación cuando se considera la relación
entre la cláusula general y otras normas especiales de restricción. Así, al consagrar la
libertad personal, la libertad de conciencia y de religión y la libertad de pensamiento
y expresión, la Convención Americana incluye normas relativas a las posibilidades de
restricción de estos derechos (arts. 7.2, 12.3, 13.2) sin hacer mención a la sociedad
democrática. En estos casos la cláusula de la sociedad democrática del artículo 32.2 de
la Convención Americana sólo es aplicable y opera como fuente de criterios interpre-
tativos que pueden reforzar la protección de los derechos humanos. Esto implica que
las restricciones en principio admisibles según los artículos de la Convención antes
citados (7.2, 12.3, 13.2) dejan de serlo si resultan incompatibles con una sociedad
democrática. Ello ha sido expresamente reconocido por la jurisprudencia.
4 “Los derechos de cada hombre están limitados por los derechos de los demás, por la seguridad de todos y
por las justas exigencias del bienestar general y del desenvolvimiento democrático”.
132
La Cláusula de la Sociedad Democrática y la Restricción
de Derechos Humanos en el Sistema Interamericano
5 Unas reflexiones previas sobre la fundamentación de tal control pueden verse en Casal H, Jesús M.,
“Condiciones para la limitación o restricción de derechos fundamentales”, Revista de Derecho de la
Universidad Católica del Uruguay, No. III, 2002, pp. 133 y ss.
6 Cfr. Grabenwarter, Christoph, Europäische Menschenrechtskonvention, München, Beck, 2008, p. 116;
Wahl, Reiner, “Das Verhältnis der EMRK zum nationalen Recht”, en Human Rights, Democracy and the
Rule of Law, Liber amicorum Luzius Wildhaber, Baden-Baden, Nomos, 2007, p. 867; Schyff, G., “The con-
cept of democracy as an element of the European Convention”, The Comparative and International Law
Journal of Southern Africa, 2005, pp. 355 y ss.
133
Jesús M. Casal H
7 Vid. García de Enterría, Eduardo y otros, El sistema europeo de protección de los derechos humanos,
Madrid, Civitas, 1983, pp. 61 y ss.
8 Sobre la tensión entre este principio y el propósito mencionado en la Carta de promover la democracia
representativa vid. Aguiar, Asdrúbal, El derecho a la democracia, Caracas, EJV, 2008, pp. 105 y ss.
9 Vid. Gros, Estudios sobre derechos humanos II, Madrid, Civitas, 1988, pp. 128 y ss.; Buergenthal y otros, La
protección de los derechos humanos en las Américas, Madrid, Civitas/IIDH, 1990, pp. 31 y ss.; Aguiar, op.
cit., pp. 84 y ss.
134
La Cláusula de la Sociedad Democrática y la Restricción
de Derechos Humanos en el Sistema Interamericano
135
Jesús M. Casal H
ducido en una medida no desdeñable una aproximación entre los respectivos ordena-
mientos jurídicos. Nos referimos no a la comunidad de instituciones jurídicas previa
al funcionamiento del sistema interamericano, tradicional entre los ordenamientos
latinoamericanos, sino a logros posteriores atribuibles a ese sistema. Ello resulta pal-
mario en materias como la libertad de expresión, en la cual ha sido rica la jurispru-
dencia de dicha Corte, y en otros temas en los que ha sido igualmente modélica, como
los mecanismos de protección frente a la posible desaparición forzada de personas; las
garantías de la libertad personal; las garantías del debido proceso y el derecho a un
recurso efectivo frente a violaciones a derechos humanos; la prohibición de las leyes
de amnistía en caso de graves violaciones a los derechos humanos; y el régimen jurí-
dico y límites de los estados de excepción. Igualmente, el tratamiento jurisprudencial
de un principio esencial para el control de las injerencias estatales en los derechos
humanos, como lo es la proporcionalidad, sin duda repercutirá en los sistemas jurídi-
cos americanos. Éste y otros recientes avances jurisprudenciales de la Corte
Interamericana de Derechos Humanos y, en especial, la invocación de la Carta
Democrática Interamericana en algunos de sus pronunciamientos permiten vislum-
brar una intensificación del efecto integrador de la organización, que consolide un
acervo jurídico-político común a los Estados americanos.
No es característico, en todo caso, de la jurisprudencia de esa Corte acudir a la
comparación jurídica entre los ordenamientos jurídicos americanos para resolver cues-
tiones interpretativas referidas a tales derechos, como sí ocurre en el ámbito europeo.
De allí que la cláusula de la sociedad democrática de la Convención Americana no haya
sido una válvula por la cual fluya a menudo una comparación entre sistemas jurídicos
que favorezca, en medio de la legítima diversidad, cierta integración jurídica.
Al margen de la posible función integradora de la cláusula de la sociedad demo-
crática, es preciso señalar que ésta ha tenido significación en la temática de las restric-
ciones a los derechos humanos. La utilización de la noción de sociedad democrática
como un parámetro para la determinación de la licitud de las limitaciones a derechos
humanos ha sido palpable básicamente en materia de libertad de expresión, dada su
íntima y recíproca conexión con la democracia. La jurisprudencia interamericana ha
reconocido además la trascendencia general de tal cláusula, pues ha afirmado, como
veremos, que la compatibilidad de la limitación de algún derecho con la sociedad
democrática es un requisito de licitud válido para la restricción de cualesquiera de los
derechos protegidos por la Convención Americana. La noción de sociedad democrá-
tica también le ha permitido fundamentar la conexión entre el principio de legalidad
y la legitimidad política que debe brindarle soporte.12
Es importante, sin embargo, advertir que con frecuencia la referencia jurispru-
dencial a la sociedad democrática, como concepto que respalda una determinada
12 Sobre esta vinculación entre la legalidad y la legitimidad cfr. La Expresión “Leyes” en el Artículo 30 de la
Convención Americana sobre Derechos Humanos. Opinión Consultiva OC-6/86 del 9 de mayo de 1986.
Serie A No. 6, párr. 32.
136
La Cláusula de la Sociedad Democrática y la Restricción
de Derechos Humanos en el Sistema Interamericano
13 La Expresión “Leyes” en el Artículo 30 de la Convención Americana sobre Derechos Humanos, op. cit.,
párr. 34.
14 Cfr., por ejemplo, La colegiación obligatoria de periodistas, Opinión Consultiva OC-5/85 del 13 de noviem-
bre de 1985. Serie A No 5, párr. 69; y el caso Ivcher Bronstein vs. Perú, sentencia de 6 de febrero de 2001.
Serie C No. 74, párr. 149.
15 Caso Castañeda Gutman vs. Estados Unidos Mexicanos, sentencia de 6 de agosto de 2008. Serie C No. 184,
párrs. 142 y 149.
16 Cfr., entre otros, el caso Castillo Petruzzi y otros , sentencia de 30 de mayo de 1999. Serie C No. 52,
párr. 184.
17 Cfr. La colegiación obligatoria de periodistas, op. cit., párr. 46.; y el caso Herrera Ulloa vs. Costa Rica, sen-
tencia del 2 de julio de 2004. Serie C No. 107, párrs. 120-123.
137
Jesús M. Casal H
tica ha servido para introducir limitaciones a los poderes extraordinarios que even-
tualmente ostentan los Estados durante un estado de excepción, adicionales a las
expresamente estipuladas en la Convención.18 También se han desarrollado valiosas
construcciones jurisprudenciales gracias a la vinculación establecida por la Corte
Interamericana entre la noción de democracia representativa o de sociedad democrá-
tica y el concepto de Estado de Derecho;19 en estos supuestos la idea de la sociedad
democrática no ha sido sólo fuente de límites a las facultades estatales de restricción
de los derechos proclamados, sino que en más de una ocasión ha sido un criterio
orientador de la interpretación de la significación o alcance de estos derechos.
18 El habeas corpus bajo suspensión de garantías, Opinión Consultiva OC-8/87 del 30 de enero de 1987. Serie
A No. 8, párrs. 26 y 42.
19 Caso Castillo Páez vs. Perú, sentencia del 3 de noviembre de 1997. Serie C No. 34, párr. 82.
20 Cfr. Garibaldi, op. cit., pp. 26 y ss.
21 La colegiación obligatoria de periodistas, op. cit., párr. 65.
138
La Cláusula de la Sociedad Democrática y la Restricción
de Derechos Humanos en el Sistema Interamericano
139
Jesús M. Casal H
La Corte Interamericana ha sostenido que para que una restricción sea per-
mitida a la luz de la Convención debe ser necesaria para una sociedad democrá-
tica. Este requisito, que la Convención Americana establece de manera explícita
en ciertos derechos (de reunión, artículo 15; de asociación, artículo 16; de circu-
lación, artículo 22), ha sido incorporado como pauta de interpretación por el
Tribunal y como requisito que califica a todas las restricciones a los derechos de
la Convención, incluidos los derechos políticos.24
24 Caso Yatama vs. Nicaragua, sentencia del 23 de junio de 2005. Serie C No. 127, párrs. 206 y ss.
140
La Cláusula de la Sociedad Democrática y la Restricción
de Derechos Humanos en el Sistema Interamericano
garantías y el Estado de Derecho constituyen una tríada, cada uno de cuyos compo-
nentes se define, completa y adquiere sentido en función de los otros”.25 En la actua-
lidad esta tríada encuentra reflejo en la Carta Democrática Interamericana, que ha
sido incorporada a la jurisprudencia de la Corte.26
De esta forma el Estado de Derecho y sus manifestaciones se incorporan a los
valores de la sociedad democrática e inciden en el examen de licitud de las restriccio-
nes a los derechos humanos. Así, el principio de proporcionalidad, generalmente aso-
ciado al concepto de Estado de Derecho, pertenece al acervo dogmático de la jurispru-
dencia interamericana, en la cual entró de la mano de la cláusula de la sociedad demo-
crática. Estas implicaciones de tal cláusula no serán tratadas con mayor detenimiento
en el presente estudio, en atención al objeto que le es propio. Nos centraremos en los
criterios más cercanos al caudal conceptual específicamente democrático,27 los cuales
son todavía escasos pero están en vías de fructificar. Ello sin perjuicio de la relevan-
cia de éstos para el desarrollo del juicio de proporcionalidad, en especial de la ponde-
ración, lo cual será analizado de manera particular.
141
Jesús M. Casal H
De este modo el bien común, expresión que considerada en abstracto pudiera dar
lugar a visiones comunitaristas que enfatizaran la subordinación de la persona y de sus
derechos a las exigencias colectivas, al estilo de la cláusula de comunidad en su día
defendida por algunos en el Derecho alemán,31 fue pasado por un tamiz democrático
del cual resulta un orden social basado en la dignidad de la persona y en sus derechos:
Algo similar ocurrió con el concepto de orden público, noción que en su gene-
ralidad cabría identificar con el mantenimiento de la tranquilidad pública o con prin-
cipios o deberes jurídicos inderogables. La Corte, al determinar su alcance en el con-
142
La Cláusula de la Sociedad Democrática y la Restricción
de Derechos Humanos en el Sistema Interamericano
“el mismo concepto de orden público reclama que, dentro de una sociedad
democrática, se garanticen las mayores posibilidades de circulación de noticias,
ideas y opiniones, así como el más amplio acceso a la información por parte de
la sociedad en su conjunto. La libertad de expresión se inserta en el orden públi-
co primario y radical de la democracia, que no es concebible sin el debate libre
y sin que la disidencia tenga pleno derecho de manifestarse”.33
143
Jesús M. Casal H
De esta forma parece reconocerse una cierta posición preferente a los derechos
directamente vinculados al proceso político democrático, lo cual puede repercutir en
la ponderación que se efectúa en el examen de la proporcionalidad de la restricción
de algún derecho. En cualquier caso, tal posición preferente no posee, a la luz de una
apreciación de conjunto de las sentencias pertinentes de la Corte, un carácter defini-
tivo ni general, sino que solamente se manifiesta cuando mediante la correspondien-
te restricción quede comprometido el proceso democrático.
Al margen de la posible prevalencia de los derechos mencionados, importa
observar las consecuencias que tiene en el plano interpretativo el anclaje democráti-
co de esos derechos. En relación con los derechos políticos el caso Yatama vs.
Nicaragua es bastante representativo de tales implicaciones.39 La controversia plan-
teada se refería principalmente a la posible vulneración de derechos políticos y de la
igualdad ante la ley originada por la exclusión de un partido político regional indíge-
na, denominado de manera abreviada YATAMA, de unas elecciones municipales
celebradas en las Regiones Autónomas de la Costa Atlántica de Nicaragua.
Lo que interesa destacar de la correspondiente sentencia de la Corte
Interamericana es que las disposiciones legales cuya aplicación motivó la exclusión
comentada no fueron consideradas en sí mismas contrarias a los derechos políticos y
a la igualdad ante la ley, sino en atención a la situación de las comunidades indígenas
y étnicas de la Costa Atlántica de Nicaragua, lo cual fue iluminado por la significación
reconocida al derecho al voto y, en general, a la participación política en una demo-
cracia. La legislación electoral establecía que la postulación de candidatos para el res-
pectivo proceso electoral estaba reservada a los partidos políticos, lo que obligó a algu-
nos integrantes de comunidades indígenas o étnicas de la región a organizarse como
partido político y a cumplir los requisitos normativamente fijados para la obtención
de personalidad jurídica. Esto supuso, a juicio de la Corte, desconocer los usos, cos-
tumbres y tradiciones organizativas de esas comunidades, que se vieron forzadas a
adoptar las formas de un partido político para poder realizar postulaciones, en detri-
mento de los derechos políticos y de la igualdad ante la ley.
38 Caso Castañeda Gutman vs. Estados Unidos Mexicanos, op. cit., párr. 140.
39 Caso Yatama vs. Nicaragua, op. cit.
144
La Cláusula de la Sociedad Democrática y la Restricción
de Derechos Humanos en el Sistema Interamericano
145
Jesús M. Casal H
146
La Cláusula de la Sociedad Democrática y la Restricción
de Derechos Humanos en el Sistema Interamericano
La condena fue finalmente anulada, pero para entonces ya se habían dictado medidas
que afectaron los derechos de Canese, entre ellos la libertad de expresión. Para la
Corte Interamericana de Derechos Humanos la vulneración de este derecho se produ-
jo porque la sanción penal impuesta había sido innecesaria en una sociedad democrá-
tica y desproporcionada, pues desconocía las circunstancias en las cuales se habían
realizado las afirmaciones que podían repercutir en la reputación de algunas personas:
“El Tribunal estima que en el proceso seguido contra el señor Canese los
órganos judiciales debieron tomar en consideración que aquel rindió sus decla-
raciones en el contexto de una campaña electoral a la Presidencia de la República
y respecto de asuntos de interés público, circunstancia en la cual las opiniones y
críticas se emiten de una manera más abierta, intensa y dinámica acorde con los
principios del pluralismo democrático. En el presente caso, el juzgador debía
ponderar el respeto a los derechos o a la reputación de los demás con el valor que
tiene en una sociedad democrática el debate abierto sobre temas de interés o
preocupación pública”.46
147
Jesús M. Casal H
“En torno a estos hechos las partes presentaron diversos alegatos en los que
subyace un conflicto entre el derecho a la libertad de expresión en temas de inte-
rés público y la protección de la honra de los funcionarios públicos. La Corte
reconoce que tanto la libertad de expresión como el derecho a la honra, acogidos
por la Convención, revisten suma importancia. Es necesario garantizar el ejerci-
cio de ambos. En este sentido, la prevalencia de alguno en determinado caso
dependerá de la ponderación que se haga a través de un juicio de proporcionali-
dad. La solución del conflicto que se presenta entre ciertos derechos requiere el
examen de cada caso, conforme a sus características y circunstancias, para apre-
ciar la existencia e intensidad de los elementos en que se sustenta dicho juicio”.
periodistas de dos diarios nacionales, en su carácter de candidato presidencial. Al publicar las declaraciones
del señor Canese, los diarios ‘ABC Color’ y ‘Noticias’ jugaron un papel esencial como vehículos para el ejer-
cicio de la dimensión social de la libertad de pensamiento y de expresión, pues recogieron y transmitieron
a los electores la opinión de uno de los candidatos presidenciales respecto de otro de ellos, lo cual contri-
buye a que el electorado cuente con mayor información y diferentes criterios previo a la toma de decisio-
nes”; idem, párr. 94.
48 Sentencia del 2 de mayo de 2008. Serie C No. 177, párr. 51.
148
La Cláusula de la Sociedad Democrática y la Restricción
de Derechos Humanos en el Sistema Interamericano
149
Jesús M. Casal H
que implica tolerancia y espíritu de apertura, sin los cuales no existe una socie-
dad democrática”.52
52 Casos Ríos y otros vs. Venezuela y Perozo y otros vs. Venezuela, sentencias del 28 de enero de 2009. Serie
C No. 194 y 195, párr. 105 y 116, respectivamente.
53 Caso Herrera Ulloa vs. Costa Rica, op. cit., párr. 116.
150
La Cláusula de la Sociedad Democrática y la Restricción
de Derechos Humanos en el Sistema Interamericano
151
Jesús M. Casal H
59 Caso Herrera Ulloa vs. Costa Rica, op. cit., párr. 101.2.
60 Idem, párr. 101.4.
61 Idem, párr. 95.mm.
62 Según el resumen de la declaración elaborado por la Corte: “Los procesos penales y la inscripción en el
Registro Judicial de Delincuentes ocasionaron al testigo un grave daño en el ejercicio profesional y un sen-
timiento de constante incertidumbre, de temor acerca de las consecuencias y de los resultados de todo ese
proceso sobre su persona, su carrera y su familia. Todo esto tuvo un efecto ‘tremendo, terrible, devastador’
en su ejercicio profesional, no solamente por la sentencia condenatoria sino por el proceso en sí mismo, en
el cual fue criminalizado y tratado como un delincuente. Para un periodista ‘el proceso mismo es una san-
ción, es una desacreditación pública por cumplir’ con sus deberes profesionales. A partir de esa sentencia se
ha sentido profundamente estigmatizado al punto de que cada vez que hace una entrevista a un personaje
que está de alguna manera cuestionando, nunca falta la muletilla de ‘ah, usted es el periodista condenado’,
y son frecuentes las advertencias de ‘cuidado, usted podría volver a ser demandado’, todo lo cual es para el
señor Mauricio Herrera Ulloa ‘como andar con una etiqueta en la frente de periodista condenado o
difamador’. En lo profesional el señor Herrera Ulloa se ha visto obligado a rechazar ofertas de trabajo fuera
de Costa Rica, ha tenido que interrumpir sus estudios como consecuencia de los procesos penales y ha teni-
do que dejar de trabajar temporalmente en el periódico ‘La Nación’.
152
La Cláusula de la Sociedad Democrática y la Restricción
de Derechos Humanos en el Sistema Interamericano
Una postura similar se ha mantenido en otros casos,64 en los que salta igualmen-
te a la vista el control democrático que está presente en la evaluación de la licitud de
la restricción.
V. Perspectivas
La autocensura ha sido uno de los efectos más perniciosos y directos de la sentencia condenatoria, por lo
cual la presunta víctima ha dejado de publicar notas cuya veracidad tenía confirmada por el miedo a tener
que enfrentar una nueva denuncia penal”; idem, párr. 66.
63 Idem, párr. 133.
64 Casos Ríos y otros vs. Venezuela y Perozo y otros vs. Venezuela, op. cit., párrs. 341 y 369, respectivamente.
65 Cfr. el caso Castañeda Gutman vs. Estados Unidos Mexicanos, op. cit., párrs. 186 y ss.
153
Promovendo a Democracia no Mercosul:
Desafios Teóricos, Institucionais e Políticos
Andrea Ribeiro Hoffmann1
Sumáárioo: I. Introdução II. Promoção e defesa da democracia no Mercosul III. Desafios para a consolidação do papel
do Mercosul na promoção da democracia nos seus Estados-Membros IV. Conclusões.
I. Introdução
1 Profa. Assistente Instituto de Relações Internacionais, Universidade Católica do Rio de Janeiro (em licen-
ça); Guest Teacher , Departamento de Relações Internacionais, London School of Economics.
2 Ribeiro Hoffmann A. “Democracia e Integración Regional: el caso del Mercosur”, in von Bogdandy, Armin,
César Landa Arroyo & Mariela Morales Antoniazzi (eds) ¿Integración suramericana a través del derecho? Un
análisis interdisciplinario y multifocal. Heidelberg & Madrid: Max Planck Institute for Comparative Public
Law and International Law & Centro de Estudios Políticos y Constitucionales de Madrid, 2008, pp. 343-345.
155
Andrea Ribeiro Hoffmann
Em termos jurídicos, o ápice foi sua consolidação pelo Protocolo de Ushuaia, concluí-
do em julho de 1998, e em vigor desde janeiro de 2002, parcialmente reproduzido a
seguir (ênfase da autora):
156
Promovendo a Democracia no Mercosul: Desafios Teóricos, Institucionais e Políticos
5 Para detalhes sobre a metodologia adotada para elaboração do banco de dados veja Mapa da Estabilidade.
Informe Semestral sobre a Estabilidade e Violência Política na América do Sul. N.6 2 semestre de 2008.
Disponível online em: http://observatorio.iuperj.br/pdfs/7_mapaestabilidade_mapa_2008_2.pdf (acesso em
02/06/09).
6 Para detalhes sobre o Freedom House veja http://www.freedomhouse.org/ (acessado em 05/06/09).
7 Sacasa, Maruricio Herdocia (2005) Soberanía Clásica, un Princípio Desafiado…¿Hasta Dónde? Managua:
Mauricio Herdocia Sacasa, p.151. Para o papel da OEA na promoção e defesa da democracia veja também
Massote, H. (2007) A Organização dos Estados Americanos e o Compromisso coletivo com a democracia
representativa. Dissertação de Mestrado, Instituto de Relações Internacionais, PUC-Rio.
157
Andrea Ribeiro Hoffmann
ser mencionada entre as duas é a membrezia, notando-se que na OEA está presente os
Estados Unidos, o que torna a dinâmica política desta organização bem diferenciada
do Mercosul. Finalmente, para elaboração da tabela sobre as ações do Mercosul a favor
da promoção e defesa da democracia foram consultadas análises qualitativas da litera-
tura secundária.
A partir da análise dos dados do OPSA/IUPERJ, da Freedom House, das ações da
OEA e da literatura secundária, tem-se uma visão geral das crises democráticas sofri-
das pelos Estados-membros do Mercosul. Como pode ser observado a partir de uma
comparação entre as três tabelas, pode-se mensurar a qualidade de democracia de
diversas formas, o que leva a interpretações diversas sobre a existência ou gravidade
de cada evento de instabilidade ou crise. A mera observação das informações nas três
primeiras tabelas torna óbvio o problema da interpretação de fatos. Indicadores tais
como golpes de Estados ou interrupções de mandato presidencial não afirmam por si
só a gravidade da instabilidade ou da dinâmica política e percepção da necessidade
externa de se agir. Algumas crises foram resolvidas domesticamente satisfatoriamen-
te, como, por exemplo, a interrupção do mandato do Presidente Collor de Mello no
Brasil em 1992. Por outro lado, situações complexas como no caso da Venezuela, não
são claramente capturadas nos dois bancos de dados. O relatório do mapa de instabi-
lidade do segundo semestre de 2008, por exemplo, afirma que tanto a Venezuela como
o Equador “estão atravessando processos de reforma institucional profunda em um
ambiente político de disputa acirrada e de ativa participação popular (mas) não apre-
sentaram sinais de instabilidade”.8 A mais recente análise da Freedom House afirma
que “The run-up to Venezuela’s state and local elections in November 2008 was cha-
racterized by politically motivated disqualifications of opposition candidates and the
abuse of state resources, though the balloting itself was orderly and the vote count
appeared fair”.9 O tema dos problemas relacionados a definição de democracia e seu
mensuramento será retomado na próxima sessão.10
158
Promovendo a Democracia no Mercosul: Desafios Teóricos, Institucionais e Políticos
2008 E C B,E
2007 E C B
2006 E C B C,E
2004 E E C B E A,C,D,E
1998 E E B E A
1996 A E C B,C C E
159
Andrea Ribeiro Hoffmann
160
Promovendo a Democracia no Mercosul: Desafios Teóricos, Institucionais e Políticos
Fonte: Atualizado pela autora a partir de Sacasa op. cit., p. 151, e Arrighi, Jean Michel, OEA –
Organização dos Estados Americanos. São Paulo: Manole, 2004, p. 132.
Arg Bra Par Uru Chi Bol Per Col Equ Ven
12 Ações incluem invocação formal da Resolução 1080 e da Carta Democrática Interamericana, assim como
atuações preventivas por parte do Conselho Permanente (veja Sacasa op. cit., p. 151).
13 Veja, por exemplo Valenzuela, A.The collective defense of democracy. Lessons from the Paraguayan crisis
of 1996. Report to the Carnegie Comission on Prevently Deadly Conflict. Carnegie Corporation of New
York, 1999. Disponível online em http://www.wilsoncenter.org/subsites/ccpdc/pubs/valenz/valefr.htm
(acesso em 06/06/09), Strömberg, Th. Did regional integration save democracy in Paraguay? Working Paper
for the Bertil Ohlin Institutet, 1997 Oslo. Disponível em http://www.ohlininstitutet.nu/skrifter/para-
guay.doc (acesso em 06/06/09), e Ribeiro Hoffmann op. cit.
161
Andrea Ribeiro Hoffmann
14 Sobre o Peru veja por exemplo Coutinho, Marcelo, Intentona de Ano Novo: uma análise da crise institucio-
nal do Peru. OPSA/IUPERJ. Análise de Conjuntura n. 2 2005, Vecchione, Marcela, Eleições e violência
Política no Peru. OPSA/IUPERJ. Observador Online v. 1, n. 2 Abr 2006 e Cruz Jr, Ademar, Novos rumos,
velhos problemas – as tortuosas vias de negociação e conciliação no segundo mandato de Alan Garcia.
OPSA/IUPERJ Análise de Conjuntura 11 2007; e sobre a Bolívia, veja por exemplo Taboyo, Juan R.Q.,
Bolivia, entre La crisi y El caos¿Existe una salida negociada? OPSA/IUPERJ Análise de Conjuntura 11 2005,
Guimarães, Cesar, J.M.Domingues e Maria Moreno, A História sem fim. OPSA/IUPERJ Análise de
Conjuntura 5 2005, Zucca Jr., Cesar, Bolívia: Política Doméstica e Inserção Regional. OPSA/IUPERJ
Estudos e Cenários. Ago 2008, Zucca Jr, Cesar, O legislativo no conflito político Boliviano. OPSA/IUPERJ
Papéis Legislativos Abr 2009, Domingues, J. M., A Bolívia às vésperas do futuro. OPSA/IUPERJ Análise de
Conjuntura n. 9 2008.
15 Note-se que o Equador somente aderiu ao Protocolo de Ushuaia em 29/06/2007.
16 Como não todos os documentos oficiais do Mercosur encontram-se online, um levantamento completo
necessitaria uma pesquisa mais abrangente de fontes primárias.
17 Sobre a Venezuela veja, por exemplo, Pinheiro, Flávio (2009) Incorporação da Venezuela ao Mercosul:
razões para o impasse no Legislativo brasileiro. OPSA/IUPERJ. Observador On-line v. 4, n. 3, mar. 2009,
Flores, Fidel Pèrez , A Venezuela depois do referendo: avanços e recuos do projeto socialista de Hugo
Chávez. OPSA/IUPERJ. Observador On-line, v. 3, n. 7, jul. 2008, Alvarez, Angel, Los dilemas de la revolu-
ción a la Chávez. OPSA/UPERJ. Papéis Legislativos, ano 2, n. 2, maio 2008, Lima, M.Regina Soares &
Regina Kfuri, Política Externa da Venezuela e Relações com o Brasil. OPSA/IUPERJ. Papéis Legislativos, n.
6, out. 2007, Santos, Fabiano & Márcio Vilarouca, Adesão da Venezuela ao Mercosul: Des-ideologizar como
forma de atingir o interesse Nacional. OPSA/IUPERJ. Papéis Legislativos, n. 4, ago. 2007.
18 Para uma detalhada análise do processo de ratificação do protocolo no Brasil veja Pinheiro op.cit..
Conforme afirma este autor, o Protocolo de Adesão da Venezuela ao Mercosul foi ratificado pouco depois
pela Assembléia Nacional da Venezuela, e também na Argentina e no Uruguai. Até junho de 2009 o acor-
do não havia sido apreciado pelo Legislativo no Paraguai. No Brasil, foi aprovado em 18/12/2008 pela ple-
nária da Câmara de Deputados, após debates polêmicos durante o trâmite interno, e ainda precisa ser apro-
vado pelo Senado. A lentidão na aprovação no Brasil já levou a crises diplomáticas, tendo o Presidente
Chávez inclusive acusado o Congresso de repetir “como um papagaio o que dizem em Washington” (Valor
Econômico 01/07/07). A situação de impasse continua e se tornou mais complexa quando o senador José
Sarney, opositor declarado do presidente Chávez, assumiu a presidência do Senado em fevereiro de 2009
(Pinheiro, op. cit., p. 3).
162
Promovendo a Democracia no Mercosul: Desafios Teóricos, Institucionais e Políticos
2. Desafios Teóricos
163
Andrea Ribeiro Hoffmann
direitos sociais e econômicos, por outro, foi central na diferenciação das plataformas
políticas socialistas, sociais-democráticas e liberais.22 O resgate deste debate deve-se
ao fim das quase duas décadas de hegemonia do paradigma liberal, que havia se forta-
lecido após o fim do comunismo, tanto em seu aspecto econômico como político. Em
meados dos anos 2000, o descontentamento com o neoliberalismo havia deixado de
ser um movimento restrito ao Fórum Social Mundial e já estava na agenda de institui-
ções internacionais tais como o Banco Mundial,23 e na plataforma de vários novos
governos na América Latina. A partir da oposição ao modelo liberal, no entanto, não
surgiu um consenso normativo sobre novos modelos de desenvolvimento ou de orga-
nização social e política, pode-se dizer que, no momento, vivemos um período de
busca e experimentação, e, conseqüentemente, polêmica e incerteza. Jorge Castaneda
descreve duas trajetórias dentro da ‘virada à esquerda nas Américas’:24
“Starting with Hugo Chávez’s victory in Venezuela eight years ago, and
poised to culminate in the possible election of Andrés Manuel López Obrador in
Mexico’s July 2 presidential contest, a wave of leaders, parties, and movements
generically labeled “leftist” have swept into power in one Latin American
country after another. After Chávez, it was Lula and the Workers’ Party in
Brazil, then Néstor Kirchner in Argentina and Tabaré Vázquez in Uruguay, and
then, earlier this year, Evo Morales in Bolivia. If the long shot Ollanta Humala
wins the April presidential election in Peru and López Obrador wins in Mexico,
it will seem as if a veritable left-wing tsunami has hit the region. Colombia and
Central America are the only exceptions, but even in Nicaragua, the possibility
of a win by Sandinista leader Daniel Ortega cannot be dismissed.
The rest of the world has begun to take note of this left-wing resurgence,
with concern and often more than a little hysteria. But understanding the rea-
sons behind these developments requires recognizing that there is not one Latin
American left today; there are two. One is modern, open-minded, reformist, and
internationalist, and it springs, paradoxically, from the hard-core left of the past.
The other, born of the great tradition of Latin American populism, is nationa-
list, strident, and close-minded. The first is well aware of its past mistakes (as
well as those of its erstwhile role models in Cuba and the Soviet Union) and has
changed accordingly. The second, unfortunately, has not.”
164
Promovendo a Democracia no Mercosul: Desafios Teóricos, Institucionais e Políticos
165
Andrea Ribeiro Hoffmann
importante mencioná-lo com outro fator que desafia o papel do Mercosul na defesa e
promoção da democracia em seus Estados-Membros. Como argumentado nesta outra
publicação, fatores exógenos podem oferecer estímulos positivos, e podem até ter efei-
tos significativos determinantes no curto prazo, mas a consolidação profunda da
democracia requer o desenvolvimento de uma verdadeira cultura democrática, ou
seja, um complexo processo sócio-cultural que necessita do envolvimento da socieda-
de doméstica e que pode levar gerações.
2. Desafios Institucionais
Além dos desafios no nível teórico e analítico, pode-se destacar desafios institu-
cionais para a consolidação do papel do Mercosul na promoção da democracia em seus
Estados-Membros. Assim como todas as instituições internacionais, uma das condi-
ções necessárias para que o Mercosul possa cumprir um papel significante é que ele
tenha credibilidade e legitimidade.30 Embora não seja possível elaborar uma avaliação
empírica da credibilidade e legitimidade do bloco neste artigo, o que consistiria em
uma pesquisa bastante abrangente, pode-se afirmar com base na literatura secundária
disponível31 que no que se refere à legitimidade de input, o bloco tem ampliado o
espaço institucional de representação e participação com, entre outros, a criação do
Parlamento do Mercosul e apoio ao programa Somos Mercosur, embora nem sempre
com o resultado imediato satisfatório. No que se refere à legitimidade de output, ou
seja, de resultados, tomando-se por base dois objetivos centrais do bloco (além da pro-
moção da democracia), i.e. promover o desenvolvimento econômico, e otimizar a
inserção internacional de seus Estados-Membros, pode-se afirmar que o Mercosul
também apresenta resultados positivos. Dada a dimensão dos problemas sociais e eco-
nômicos de seus Estados-membros, e que a integração regional não pode ser vista
como uma panacéia, pode-se dizer que o Mercosul pelo menos não tem sido um fator
negativo, ou seja, não tem sido rejeitado pelos governos e cidadãos de seus estados-
membros. Não há hoje, a despeito de problemas graves tais como os baixos índices de
internalizarão de normas32 e mau uso dos mecanismos de solução de controvérsias,
como por exemplo durante a crise das “papeleras”33 movimentos significativos contra
o Mercosul, nem governos pregando a saída do bloco. Mesmo o debate acerca das assi-
30 Sobre a legitimidade das instituições internacionais veja, por exemplo, Habermas, Jurgen, The
Constitucionalization of International Law and the Legitimation Problems of a Constitution for a World
Society, Constellations, 15:4, 2008, Fonseca Jr., Gelson, O interesse e a regra: ensaios sobre o multilateralis-
mo. São Paulo: Paz e Terra, 2008, e Ribeiro Hoffmann A. and Van der Vleuten, A. (eds) Closing or Widening
the Gap? Legitimacy and Democracy in Regional Integration Organizations. Aldershot: Ashgate, 2007.
31 Veja por exemplo Ratton, Medeiros e Malamud em Ribeiro Hoffmann & van der Vleuten op. cit.
32 Ventura, Deisy & Alejandro Perotti, El Proceso Legislativo Del Mercosur. Montevideo: Mastergraf, 2004.
33 Magalhães, Bruno, O Papel do Mercosul: a crise das papeleras e o processo de integração regional sul-ame-
ricano. OPSA/IUPEJ. Observador Online v. 1, n. 6, 2006. Disponível em http://observatorio.iuperj.br/archi
ve/Observador_v_1_n_6.pd. (acesso em 06/06/09).
166
Promovendo a Democracia no Mercosul: Desafios Teóricos, Institucionais e Políticos
metrias internas, avançado principalmente pelo Uruguai e Paraguai, e que poderia ter
levado a uma crise grave do bloco, resultou na criação de instrumentos tais como o
Fundo de Convergência Estrutural (FOCEM), em 2004. A partir desta breve análise,
pode-se dizer que o bloco goza de um nível aceitável de credibilidade e legitimidade.
Outra dimensão institucional importante para que o Mercosul cumpra um papel
na promoção da democracia dos seus Estados-Membros é que ele disponha de instru-
mentos específicos eficazes. Os instrumentos atualmente disponíveis, i.e. Protocolo de
Ushuaia, mecanismo de observação eleitoral e Observatório da Democracia parecem
ser adequados no sentido em que têm um elemento preventivo de coleta e dissemina-
ção de informações e análises, e um elemento punitivo com a cláusula democrática. A
eficácia, sobretudo das missões de observação eleitoral e do Observatório, depende da
disponibilidade de recursos financeiros e vontade política de utilizá-los, e não de
capacidade técnica em si.
2. Desafios políticos
34 Sobre estas teorias veja por exemplo Burchill, Scott, Andrew Linklater, Richard Devetak, Jack Donelly,
Terry Nardin, Matthew Paterson, Christian Reus-Smit, Jacqui True , Theories of International Relations,
Basingstone & NY: Palgrave Macmillan, 2009.. O restante desta sessão se baseia fortemente no trabalho
coletivo desta autora com Anna van der Vleuten: Ribeiro Hoffmann A. and Van der Vleuten, A. Explaining
the Enforcement of Democracy by Regional Organizations: Comparing EU, Mercosur and SADC, Journal
of Common Market Studies (no prelo)
35 Keck, M.E. and Sikkink, K., Activists beyond Borders. Ithaca: Cornell University Press, 1998.
167
Andrea Ribeiro Hoffmann
IV. Conclusões
168
Promovendo a Democracia no Mercosul: Desafios Teóricos, Institucionais e Políticos
169
La Cláusula Democrática y el Parlamento del Mercosur.
Contextualización de su Alcance y Dimensionalidad
Mariela Morales Antoniazzi1
Sumarioo: I. Introducción II. Integración y valores democráticos en el contexto suramericano III. ¿La democracia
como valor sine qua non de la integración jurídica en Suramérica? IV. El Parlamento del Mercosur y la democracia
V. Conclusiones en tesis
I. Introducción
1 Abogada summa cum laude de la Universidad Católica Andrés Bello de Caracas, Venezuela. Magíster
Legum (LL.M) de la Universidad de Heidelberg, Alemania, Referentin para Suramérica del Instituto Max
Planck de Derecho Público Internacional y Derecho Público Comparado, Heidelberg, Alemania. Profesora
de Postgrado de Derecho Constitucional de la UCAB. Coordinadora académica del Proyecto de
Constitucionalización del orden jurídico, Universidad de Bonn, Alemania-Universidad de los Andes,
Colombia. Miembro de la Asociación de Derecho Constitucional de Venezuela.
2 A. A. Cançado Trindade, El derecho internacional de los derechos humanos en el siglo XXI, Barcelona, ed.
Jurídica de Chile, 2001, pp. 147-183.
3 Un análisis detallado en, N. Petersen, Demokratie als teleologisches Prinzip. Zur Legitimität von
Staatsgewalt im Völkerrecht, Beiträge zum ausländischen öffentlichen Recht und Völkerrecht, Bd. 204,
2008, pp. 2 ss.
4 G. Fox, Democracy, Right to, International Protection, Max Planck Encyclopedia of Public International
Law, http://www.mpepil.com/sample_articles.
171
Mariela Morales Antoniazzi
5 Art. 1 Declaration on Democracy of the Inter-Parliamentary Union (IPU) describes democracy as ‘a basic
right of citizenship’. Dejando de lado el contexto interamericano, se encuentran otras iniciativas como por
ejemplo The Great Lakes Pact Protocol on Democracy and Good Governance, Cfr. http://www.icglr.org.
172
La Cláusula Democrática y el Parlamento del Mercosur.
Contextualización de su Alcance y Dimensionalidad
6 W. Hummer, “Integration in Lateinamerika und in der Karibik. Aktueller Stand und zukünftige
Entwicklungen” en Verfassung und Recht in Übersee, 38. Jahrgang, 1. Quartal 2005, p. 6. Ver también W.
Matiaske, H. Brunkhorst, G. Grözinger, M. Neves (eds.), The European Union as a Model for the
Development of Mercosur? Transnational Orders between Economic Efficiency and Political Legitimacy,
Zentrum und Peripherie, Volumen 4, München, 2007, p. 9 ss.
7 La integración tiene múltiples significados y conceptualizaciones. Ver H. Arbuet-Vignali, Claves jurídicas
de la integración, en los sistemas del Mercosur y la Unión Europea, 2004, pp. 180 ss; M. Klumpp, “La efec-
tividad del sistema jurídico del Mercosur”, en Mercosur-Mercosul, M. Basso (ed.), São Paulo, 2007, p. 53 ss.
8 El regionalismo abierto, como noción gestada y desarrollada por la CEPAL, se basaba en una manera de dar
cuenta de los cambios estructurales de la mayoría de los países latinoamericanos y que pretendía conciliar
las políticas explícitas de integración con las políticas tendentes a elevar la competitividad internacional.
Ver R. Prebisch, “Sobre la dependencia y el desarrollo”, en Crisis y desarrollo alternativo en América
Latina, 1985, pp. 13 y ss. Ver también M. Mols (ed.), Regionalismus und Kooperation in Lateinamerika und
Südostasien, Münster, Bd. 7, 1993, p. 47 ss.
9 D. Nohlen, “Caudillismo, nación/nacionalismo e integración”, en A. von Bogdandy, C. Landa Arroyo, M.
Morales Antoniazzi (eds.), ¿Integración Sudamericana a través del Derecho? Un análisis interdisciplinario
173
Mariela Morales Antoniazzi
A mediados del siglo XX los esfuerzos de integración tomaron curso, pasando por
diversas concepciones basadas en los pensamientos panamericanos e interamericanos,
en especial cuando ellas envolvían la participación de los Estados Unidos. Las impli-
caciones y expectativas eran divergentes sobre la forma y la intensidad de la coope-
ración, fuertemente marcadas por las relaciones políticas y económicas asimétricas
entre los EEUU y los países latinoamericanos.10 Desde el surgimiento de la Comisión
Económica para América Latina (CEPAL),11 pasando por el regionalismo abierto,12 las
ideas de integración regional han jugado un papel protagónico y en los últimos años
han adquirido una connotación política que ha dado lugar al denominado
“renacimiento” de los procesos integracionistas a nivel regional y subregional.13 Se
habla incluso de un nuevo regionalismo.14
Uno de los principales interrogantes que emergen en estos tiempos, en especial,
por las paradojas que se evidencian en la integración suramericana, está dada por la
dicotomía entre la integración “proclamada” y la integración “efectiva”.15 Las
asimetrías y barreras existentes generan un crítico cuestionamiento a las diferentes
iniciativas de integración. Pareciera que los latinoamericanos siendo mucho menos
diversos que los europeos, no logran consolidar instituciones de integración, y, por
tanto, es todavía una tarea pendiente. Por otro lado, los procesos “inacabados”, que se
ponen de manifiesto en la firma de nuevos Tratados16 y la creación de nuevas institu-
y multifocal, CEPC/Max Planck Institut für ausländisches öffentliches Recht und Völkerrecht, Madrid,
2009, p. 35 ss.
10 R. Zimmerling, “Die USA – “externer Föderator” für die lateinamerikanische Integration?”, en Nord und
Süd in Amerika, 1992, p. 154 ss.
11 En relación a la CEPAL, véase www.eclac.org. Igualmente, E. Díaz Porta, M. Hebler, W. Kösters, Mercosur.
Probleme auf dem Weg zu einer Zollunion, Arbeitshefte des Lateinamerika-Zentrums, 60, 2001, p. 3 ss.
12 M. Cristini, Mercosur-Europäische Union. Grundlagen und Perspektiven der Verhandlungen, Rio de
Janeiro, Konrad Adenauer Stiftung, Juli 2003, p. 5 ss.
13 N. Werz, Lateinamerika. Eine Einführung, Studienkurs Politikwissenschaft, 2005, p. 383-384; J. Briceño
Ruiz, “Del ALCSA a la Comunidad Sudamericana de Naciones. Explicando el nuevo regionalismo
caribeño”, en J. Briceño Ruiz, H. Gorodeckas (eds.), El ALCA frente al regionalismo Sudamericano. Las
opciones para Venezuela. San Cristóbal, Universidad de los Andes – CEFI, Universidad de Carabobo –
CELAC, p. 126.
14 H. Preusse, The New American Regionalism, Eberhard-Karls University, Tübingen, Germany, 2004.
15 Basta revisar los informes de la CEPAL sobre los obstáculos a vencer para una verdadera integración. J. E.
Durán/F. Masi, Diagnóstico de las asimetrías en los procesos de integración de América del Sur, documen-
tos de proyectos, Santiago de Chile, Nº 132 (LC/W.132), 2007. M. Vaillant, Heterogénea evolución de la
integración económica en América del Sur: entre la complementariedad y el conflicto, Santiago de Chile,
Comisión Económica para América Latina y el Caribe (CEPAL). Serie de Comercio Internacional No. 83;
O. Rosales, J. E. Durán Lima, S. Sáez, “Recent trends in Latin American integration: an overview”, Texas,
Baylor University, en J. A. Mackiney/H. S. Gardner, Economic Integration in the Americas. Routledge
Studies in the Modern World Ecnomy, 2008, Parte III, p. 133 ss.
16 También la firma de Tratados de Libre Comercio (TLC) se califican como resquebrajamientos de los mo-
delos de integración. Véase A. Fairle Reinoso, “Integración regional y tratados de libre comercio: Algunos
escenarios para los países andinos”, en Fairle Reinoso, Alan (ed.), Países andinos frente al TLC y la
Comunidad Sudamericana de Naciones, Lima, Red Latinoamericana de Política Comercial (LATN) –
Friedrich Ebert Stiftung, 2006, p. 194.
174
La Cláusula Democrática y el Parlamento del Mercosur.
Contextualización de su Alcance y Dimensionalidad
ciones, sin haber alcanzado los objetivos iniciales, es decir, sin cumplirse a cabalidad
los pasos de la integración, producen serios déficit en el sistema de integración.17
Esto conduce a revisar la situación actual frente a la existencia en paralelo del
Mercosur y Unasur, como iniciativas más recientes. Primero nació Mercosur. A
través del Tratado de Asunción (TA) surgió el Mercosur como bloque regional
suscrito por Argentina, Brasil, Paraguay y Uruguay en 1991.18 Han ingresado con
el status de miembros asociados Chile y Bolivia (1996), Perú (2003), Colombia y
Ecuador (2004). Venezuela está en proceso de adhesión en la condición de miem-
bro pleno (aceptada desde 2005). El objetivo principal del Mercosur es la confor-
mación de un mercado común (art. 1 TA).19 No interesa aquí desarrollar toda la
doctrina controvertida sobre la naturaleza del TA como tratado marco,20 lo impor-
tante es destacar la fundación de un mercado común como piedra fundamental
para este proceso de integración.
En el Mercosur, conforme al art. 2 del Protocolo de Ouro Preto, los órganos con
capacidad decisoria son de naturaleza “intergubernamental”, carácter éste que se con-
firma con la propia composición de dichos órganos por miembros designados por los
respectivos gobiernos21 así como por la toma de decisiones por consenso (más severo
a veces que la propia unanimidad) y que requiere la presencia de todos los Estados
Partes.22 Respecto al carácter intergubernamental (contrario a la supranacionalidad),
es catalogado por algún sector de la doctrina como una debilidad que somete el dere-
cho del Mercosur a las reglas del Derecho Internacional y a los Derechos
Constitucionales de cada Estado Parte, privándolo de autonomía.23 Se argumenta así
que en el sistema sólo cuentan los intereses particulares de los Estados, la suma de
17 Caso del Mercosur, véase J. Briceño Ruiz, O MERCOSUL: Reflexões sobre a Crise de seu Modelo de
Integração e seu Relançamento, Cadernos do PROLAM, USP, 6, No. 1, 2007, pp. 187-209.
18 Sobre el origen del Mercosur y su carácter económico, ver F. Fuders, Die Wirtschaftsverfassung des
Mercosur, Berlín, 2008; A. Haller, Mercosur, Bd. 7, 2001, p. 42. Simonsen y Asociados, Mercosur: El Desafío
del Marketing de Integración, São Paulo, 1992, p. 17. En alemán existe abundante bibliografía sobre el
Mercosur. Sólo como ejemplos, J. Samtleben, Der Südamerikanische Gemeinsame Markt: eine rechtliche
Analyse des Mercosur (Teil I). Zeitschrift für Wirtschafts- und Bankrecht. Frankfurt am Main, 46.
Jahrgang, Heft 33, 1992. p. 1345-1352; J. M. Olivares Tramón, Das Vorabentscheidungsverfahren des EuGH
als Vorbild des Mercosur, Baden-Baden, 2006; U. Wehner, Der Mercosur: Rechtsfragen und
Funktionsfähigkeit eines neuartigen Integrationsprojektes und die Erfolgsaussichten der interregionalen
Kooperation mit der Europäischen Union, Baden-Baden, 1999. p. 253.
19 En el Cono Sur la firma del Tratado de Asunción concretaba los anteriores intentos de fortalecer la inte-
gración desde la segunda mitad de la década de los ochenta. En 1988 se firmó el Tratado de Integración,
Cooperación y Desarrollo y el Acta de Buenos Aires de 1990, entre otros documentos. Ver L. Dromi San
Martino, Derecho Constitucional de la Integración, Argentina, 2002, p. 244.
20 D. Ventura, Las asimetrías entre el Mercosur y la Unión Europea. Los desafíos de una asociación interre-
gional, KAS, Montevideo, 2005.
21 Art. 4, 11, 17 del Protocolo de Ouro Preto.
22 Art. 37 del Protocolo de Ouro Preto.
23 U. Wehner, “Spezifische Rechtsfragen des Mercosul und der EU-Mercosul-Beziehungen”, en Die
Beziehungen zwischen der EU und den Mercosur-Staaten, Schriftenreihe des Arbeitskreises Europäische
Integration e.V. 48, 2002, p. 86.
175
Mariela Morales Antoniazzi
éstos o una mezcla negociada de los mismos.24 Otros autores afirman sin embargo, que
ese formato institucional, donde los Estados no ceden competencias a los órganos
comunes sino que mantienen el control del proceso en sus manos, es lo que ha dota-
do de flexibilidad al Mercosur para avanzar en el proceso.25 En el Mercosur se habla
de un derecho de integración26 y ello representa un avance jurídico determinante. El
Mercosur tiene por tanto éxitos que mostrar, no sólo en lo económico sino también
en lo político. Su rol en el fortalecimiento de la democracia27 es, por ejemplo, uno de
los logros más trascendentes, como se explicará más adelante.
Sin embargo ahora surge Unasur. El último intento integracionista en
Suramérica está representado por la Unión de Naciones Suramericanas (Unasur).
Aunque se gestó desde 200028 y tuvo como primera concreción la Comunidad
Sudamericana de Naciones (CSN),29 fue durante la primera cumbre energética de
Suramérica en la Isla de Margarita, Venezuela,30 cuando los Jefes de Estado bauti-
zaron el proyecto. En el Tratado constitutivo se mencionan las Declaraciones de
Cusco (8 de diciembre de 2004), Brasilia (30 de septiembre de 2005) y Cochabamba
(9 de diciembre de 2006) como fuentes de inspiración de esta iniciativa. Su finalidad
es acometer un proceso innovador que incluya todos los avances del Mercosur y la
CAN, así como la experiencia de Chile, Guyana y Suriname, yendo más allá de la con-
vergencia de los mismos.
Unasur se encuentra en status nascendi.31 En el art. 2 del Tratado constitutivo de
la Unión de Naciones Suramericanas se establece que tiene como objetivo “construir,
24 H. Arbuet-Vignali, “La historia, la filosofía y el nuevo realismo frente a la política internacional”, en Revista
Ejército de la República Oriental del Uruguay, Año VI, Nº 9, 1991, p. 53 ss.
25 Un análisis detallado de la institucionalidad, Cfr. M. J. Filadoro, “Eficacia de las instituciones en el
Mercosur. El caso de la Secretaría Técnica”, en Anuario de Derecho Constitucional Latinoamericano, 2006,
p. 667 ss.
26 Para el Derecho Europeo, véase R. Alonso García Sistema jurídico de la Unión Europea, Madrid, 2007. G.
Isaac, Manual de derecho comunitario general, 3ª ed., Barcelona, Ariel, 1995; F. Diez Moreno, Manual de
Derecho de la Unión Europea, Cizur Menor, Thomson-Civitas, 2006. En sentido del Derecho
Constitucional Europeo A. von Bogdandy, “Constitutional principles”, en A. von Bogdandy/J. Bast (eds.),
Principles of European Constitutional Law, Oxford, 2007, p. 3-52.
27 El Mercosur contribuyó y debe seguir contribuyendo a la consolidación democrática de la región. Según el
Protocolo de Ushuaia, la democracia es una condición sine qua non para participar en el proceso regional.
El caso de Paraguay, durante el fallido intento de golpe de Estado promovido por el General José María
Oviedo en 1996 fue paradigmático. Ahora vuelve a tener vigencia con los debates surgidos en torno al caso
venezolano.
28 Fue una propuesta de Fernando Henrique Cardoso por intensificar la cooperación de los países de la región
(I Cumbre de los países de América del Sur en Brasilia, agosto de 2000).
29 El 8 de diciembre 2004, se proclamó en Cusco, Perú (Declaración de Cusco). Los participantes son los
miembros del Mercosur (Argentina, Brasil, Paraguay, Uruguay y Venezuela) y de la CAN (Bolivia,
Colombia, Ecuador y Perú) más Chile, Guyana y Suriname.
30 Ver opiniones en Correo Sindical latinoamericano: I Cumbre Energética Suramericana. Boletín Temático,
No. 3, abril 2007. http://library.fes.de/pdf-files/bueros/uruguay/04360/csla-tematico03-esp.pdf (25 de Julio
de 2009).
31 La Unión de Naciones Suramericanas tiene una población de 383 millones de habitantes. Esto es aproxi-
madamente 79 millones de habitantes más que la población de Estados Unidos y 108 millones menos que
176
La Cláusula Democrática y el Parlamento del Mercosur.
Contextualización de su Alcance y Dimensionalidad
177
Mariela Morales Antoniazzi
35 Acerca de la noción de democracia no sólo existe abundante bibliografía desde todas las perspectivas (filosó-
fica, política, jurídica), sino que constituye uno de los temas más dinámicos y con permanente actualidad.
Desde el siglo de las luces pasando por la revolución francesa y el tiempo entre guerras (C. Schmitt,
Verfassungslehre, Berlín, 1928) hasta la fase iniciada en la década de los 80 del siglo XX, ha estado presente
el debate sobre la democracia. La última etapa ha estado signada por el fenómeno de la “desdibujación” de
los límites de la estatalidad (K. P. Sommermann, “Der entgrenzte Verfassungsstaat”, KritV 81, 1998, p. 404-
412). Ver también R. Arango Rivadeneira (ed.), Filosofía de la democracia, fundamentos conceptuales,
Bogotá, 2007.
36 Basta revisar todos los Tratados Constitutivos (ALADI, SELA; CAN, Mercosur, Unasur, por citar sólo
algunos).
37 La palabra democracia tiene larga historia, pero su vinculación en el ámbito internacional es un fenómeno
que puede catalogarse de reciente. Véase por todos, J. M. Arrighi, “Democracia, derechos humanos y dere-
cho internacional”, en R. Méndez-Silva (Coord.), Derecho Internacional de los derechos humanos. Culturas
y sistemas jurídicos comparados, tomo II, pp. 79-87.
38 Dentro de los antecedentes se cita particularmente la Conferencia de Chapultepec en México en 1945,
donde ya se incluían declaraciones sobre derechos como la libertad de información. Igualmente, Cfr.
Declaración de Santiago de 1959, Resolución XXVII de la Quinta Reunión Consultiva de los Ministros de
Relaciones Exteriores, Acta Final, OEA/Ser.C/II.5, p. 4-6.
178
La Cláusula Democrática y el Parlamento del Mercosur.
Contextualización de su Alcance y Dimensionalidad
39 Sobre las condiciones económicas generales del Mercosur y su valoración en el contexto inicial, ver H.
Sangmeister, “Wirtschaftliche Rahmrnbedingungen und ökonomische Bewertung des Mercosur”, en W.
Zippel (ed.), Die Bezihungen zwischen der EU und den Mercosur-Staaten, Baden-Baden, 2001/2002, pp. 57
ss. También más reciente, F. Peña, Gobernabilidad e integración de espacios geográficos regionales: Una
aproximación a la comparación de las experiencias sudamericana y europea. Universidad Nacional de Tres
de Febrero (UNTREF) con la colaboración del INTAL, Buenos Aires, 13 de noviembre de 2007.
http://www.felixpena.com.ar/.
40 P. Huber, Die Rolle des Demokratieprinzips im europäischen Integration, Jahrbuch zur Staats- und
Verwaltungswissentschaft, tomo 6, 1992/93, ps. 179 ss.; Y. Mény, De la démocratie en Europe: Old
Concepts and New Challenges, JCMS 21, 2002, pp. 1-8; R. Hrbek, Der Vertrag von Maastricht und das
Demokratiedefizit der Europäischen Union – Auf dem Weg zu stärkerer demokratischer Legitimation, en
A. Randelzhofer y otros (eds.), Gedächtnisschrift für Eberhard Grabitz, München, 1995, pp 171-194; P. G.
Kilmannsegg, “Integration und Demokratie”, en M. Jachtenfuchs/B. Kohler-Koch, Europäische Integration,
pp. 47-72. S. Oeter, “Souveränität und Demokratie als Probleme in der “Verfassungsentwicklung” der
Europäischen Union”, en ZaöRV, 55 (1995) 3, S. 659-712. Un análisis reciente e integral sobre la legitimi-
dad democrática en B. Kohler-Koch/B. Rittberger, Debating the democratic legitimacy of the European
Union, USA, 2007.
41 Véase entre otros, Mensch und Politik, Gymnasium 11, Hannover, 2006, p. 188 s.
42 Declaración de París de 1972, Bol. CE 10/1972.
43 Algunas disposiciones del Tratado sí tenían contenidos coincidentes con los derechos humanos; por ejem-
plo, el Art. 48.1 TCEE relativo a la no discriminación por razón de la nacionalidad entre los trabajadores.
Para conocer con detalle los derechos insertos a este respecto en el TCEE, ver A. G Chueca Sanch, Los
Derechos Fundamentales en la Comunidad Europea, Barcelona, 1989, pp. 10-15 y 20-23. En la cumbre de
Niza de diciembre de 2000 se adoptó solemnemente la Carta de Derechos Fundamentales consensuada en
el Consejo Europeo de Biarritz de octubre de 2000, que mantuvo un carácter jurídico no vinculante hasta
179
Mariela Morales Antoniazzi
el Tratado de Lisboa, el cual conserva los derechos ya existentes e introduce otros nuevos. En particular,
garantiza las libertades y los principios enunciados en la Carta de los Derechos Fundamentales, cuyas dis-
posiciones pasan a ser jurídicamente vinculantes al concederle rango de derecho primario. La Carta con-
tiene derechos civiles, políticos, económicos y sociales. El propio Tribunal de Justicia (TJCE) en 1969 sen-
tenciaba que la protección de los derechos fundamentales formaba parte integrante de los principios ge-
nerales del ordenamiento jurídico comunitario, ver STJCE de 12 de noviembre de 1969, Eric Stauder vs.
Stadt UCM-SOZIALAMT (as. 29/69), Rec. 1969, par. 7.
44 M. Zuleeg, Der rechtliche Zusammenhalt der Europäischen Union, Baden-Baden, 2004; T. Gehring, Die
Europäische Union als komplexe internationale Organisation, Baden-Baden, 2002; M. Strunz, Strukturen
des Grundrechtsschutzes der Europäischen Union in ihrer Entwicklung, Baden-Baden, 2006; D.
Blumenwitz, Die Europäische Union als Wertegemeinschaft, Berlin, 2005; A. Zimmermann, Die Charta der
Grundrechte der Europäischen Union zwischen Gemeinschaftsrecht, Grundgesetz und EMRK, Baden-
Baden, 2002; J. A. Frowein, “Der europäische Grundrechtsschutz und die deutsche Rechtsprechung”, en
NVwZ, 21 (2002) 1, pp. 29-33; idem, Völkerrecht - Menschenrechte - Verfassungsfragen Deutschlands und
Europas, Berlin-Heidelberg, 2004. Crítico M. Nettesheim, Grundfreiheiten und Grundrechte in der
Europäischen Union - auf dem Weg zur Verschmelzung?, Boon, 2006. Basta citar el argumento de la
Democracia: 1) El Principio del Discurso puede realizarse aproximadamente a través de la instituciona-
lización jurídica de procedimientos democráticos de formación de la opinión y la voluntad, y sólo por este
medio, 2) Una democracia en la que las exigencias de racionalidad discursiva pueden realizarse aproximada-
mente sólo es posible si los derechos humanos y políticos fundamentales rigen y pueden ejercitarse con
igualdad de oportunidades y 3) El ejercicio de tales derechos con igualdad de oportunidades presupone el
cumplimiento de algunos derechos fundamentales no políticos: derecho a la vida, al mínimo existencial y
a la enseñanza”. En este sentido, Cfr. J. Habermas, Facticidad y validez. Sobre el derecho y el Estado
democrático de derecho en términos de teoría del discurso, Madrid, 2005, pp. 184 ss. Véase también R.
Alexy, Teoría del discurso y derechos humanos, Universidad Externado de Colombia, 2004, pp. 129 ss.
45 Bol. CE 12/1973, pto. 2501.
46 Bol. CE 3/1978, Capítulo Liminar.
180
La Cláusula Democrática y el Parlamento del Mercosur.
Contextualización de su Alcance y Dimensionalidad
cuyo no respeto entraña la nulidad del acto de que se trate.”47 En la afirmación de los
europeos de “promover conjuntamente la democracia, fundándose en los derechos
fundamentales reconocidos en las Constituciones y leyes de los EM, en el Convenio
Europeo para la protección de los derechos humanos48 y la Carta social europea,49 y
especialmente la libertad, la igualdad y la justicia social”, se destaca la Declaración de
Stuttgart de 1983.50 Desde su origen la democracia y la protección de los derechos
fundamentales han constituido para la Unión Europea dos de sus máximas,51 logran-
do con el devenir de las reformas su respectiva obligatoriedad.
En los Tratados constitutivos de la Comunidad Europea no figura la palabra
“democracia”. Un pronunciamiento a favor de la democracia, como se observa en las
Constituciones de los Estados miembros,52 era desconocido al inicio. La evolución cons-
titucional del principio democrático en la Unión Europea puede sintetizarse en tres
momentos claves: el primero, en el Considerando Quinto del Tratado de Maastricht, que
utiliza el concepto democracia para aludir a su pertinencia en un modelo supranacional;
el segundo momento es el de la consagración del art. F del Tratado de la Unión Europea
(TUE), que, sin llegar a considerar la democracia como fundamento de la Unión, sí lo
consagra en relación a los sistemas de gobierno de los Estados miembros (EM); y el últi-
mo paso, ahora determinante para la propia Unión Europea, se constata en Ámsterdam,
en el art. 6 del TUE.53 Como se sostiene en la doctrina, este desarrollo normativo encuen-
tra su consolidación también externa a través del art. 3. 1 del Protocolo Adicional del
Convenio Europeo de Derechos Humanos.54 Dicha norma regula el derecho a elecciones
libres: Las Altas Partes Contratantes se comprometen a organizar, a intervalos razo-
47 STJCE de 29 de octubre de 1980, Maizena Gmgh vs. Council (as. 139/79), Rec. 1980, par. 34. Vid. también,
por ejemplo, STJCE de 29 de octubre de 1980, SA Roquétte Fréres vs. Conseil des Communautés
Européennes (as. 138/79), Rec. 1980, par. 33; STJCE de 22 de mayo de 1990, Parlamento Europeo vs.
Consejo de las Comunidades Europeas (as. C-70/88), Rec. 1990, párs. 21-31.
48 Firmado en Roma el 4 de noviembre de 1950 bajo los auspicios del Consejo de Europa.
49 Adoptada por el Consejo de Europa en 1961 y revisada en 1996.
50 Bol. CE 6/1983, pto. 1.6.1.
51 Especialmente interesante, H. Brunkhorst, Recht auf Menschenrechte, Menschenrechte, Demokratie und
internationale, Politik, Frankfurt am Main, 1999. Ver también S. Breitenmoser (ed.) Human rights, demo-
cracy and the rule of law, Zürich, 2007; L. Aguiar de Luque, Los derechos fundamentales en el proceso de
integración europea, idem, pp. 199 y ss.
52 A título de ejemplos, véanse el art. 20. 1 y 2 de la Ley Fundamental alemana (1. La República Federal
Alemana es un Estado Federal democrático y social. 2. Todo poder estatal emana del pueblo, quien lo
ejercerá en las elecciones y votaciones y a través de órganos especiales de legislación, de ejecución y de
jurisdicción), el art. 1 de la Constitución española el art. 1 (España se constituye en un Estado social y
democrático de Derecho, que propugna como valores superiores de su ordenamiento jurídico la libertad, la
justicia, la igualdad y el pluralismo político) y el art. 1 de la Constitución francesa (Francia es una República
indivisible, laica, democrática y social).
53 Algunos documentos que merecen ser mencionados son la Declaración de París de 1972, la Declaración
sobre la Identidad Europea de Copenhague de 1973, la Declaración de Copenhague sobre la Democracia de
1978, la Declaración de Stuttgart de 1983.
54 Protocolo No 1 al Convenio Europeo para la Protección de los Derechos Humanos y de las Libertades
Fundamentales.
181
Mariela Morales Antoniazzi
nables, elecciones libres con escrutinio secreto, en condiciones que garanticen la libre
expresión de la opinión del pueblo en la elección del cuerpo legislativo.
Con motivo del Tratado de Lisboa aprobado en diciembre del 2007, en el
Preámbulo se ha añadido el Segundo Considerando con el texto siguiente: “Inspirándose
en la herencia cultural, religiosa y humanista de Europa, a partir de la cual se han desa-
rrollado los valores universales de los derechos inviolables e inalienables de la persona,
así como la libertad, la democracia, la igualdad y el Estado de Derecho,…”55
Sin duda, el valor de la democracia se fortalece en el Tratado de Lisboa con la
inserción del art. 1 bis “La Unión se fundamenta en los valores de respeto de la dig-
nidad humana, libertad, democracia, igualdad, Estado de Derecho y respeto de los
derechos humanos, incluidos los derechos de las personas pertenecientes a minorías.
Estos valores son comunes a los Estados miembros en una sociedad caracterizada por
el pluralismo, la no discriminación, la tolerancia, la justicia, la solidaridad y la igual-
dad entre mujeres y hombres”.56 Simultáneamente, los principios democráticos
adquieren una dimensión específica en el Título II, que en esencia contiene las dis-
posiciones acordadas en la CIG de 2004 en materia de igualdad democrática, demo-
cracia representativa, democracia participativa57 e iniciativa ciudadana, así como un
reforzamiento de la función de los Parlamentos nacionales.58
Dado que el futuro del Tratado de Lisboa (después de que fuera rechazado en el
referéndum celebrado en Irlanda en junio de 2008 y del período de reflexión abierto ante
la crisis) todavía no está despejado de obstáculos,59 la perspectiva sistemática que debe
plantearse está dada por la normativa vigente. El art. 6 parágrafo 1º del Tratado de la
Unión Europa (TUE)60 tiene un significado tridimensional: en primer lugar la democra-
55 Véase, Tratado de Lisboa, por el que se modifican el Tratado de la Unión Europea y el Tratado Constitutivo
de la Comunidad Europea. Diario Oficial de la Unión Europea 17.12.2007. http://eur-lex.europa.eu/
es/treaties/index.htm (25 de julio de 2009).
56 La Unión Europea, pegada todavía a sus orígenes iusinternacionalistas, “ha de pasar por la democracia nacional
para crear la democracia europea. Así, un texto constitucional negociado en el nivel supranacional por los
actores políticos europeos resultó paralizado por los Referenda negativos de dos Estados miembros”; F.
Aldecoa Luzarraga y M. Guinea Llorente, en Revista General de Derecho Europeo Nº 13, Mayo 2007, “¿Hacia
dónde va la Unión Europea? La salida del laberinto constitucional ante el Consejo Europeo de junio de 2007”.
57 Cfr. S. Kadelbach (ed.), Europäische Verfassung und direkte Demokratie, Baden-Baden, 2006.
58 Ver directamente las disposiciones incorporadas en el Título II sobre los principios democráticos. Además
de ampliarse las competencias de los Parlamentos nacionales (necesidad expresada de modo reiterado en la
Convención constitucional), la transparencia y la participación de la sociedad civil, en general se contem-
pla que el funcionamiento de la Unión se basa en la democracia representativa, la representación de los ciu-
dadanos en la Unión a través del Parlamento Europeo. Asimismo, se dispone que los Estados miembros
estarán representados en el Consejo Europeo por su Jefe de Estado o de Gobierno y en el Consejo por sus
Gobiernos, que serán democráticamente responsables, bien ante sus Parlamentos nacionales, bien ante sus
ciudadanos. Con ello se confirma la tesis de la doble legitimidad democrática de la Unión. En este sentido,
A. von Bogdandy, “Die europäische Demokratie – Skizzen ihrer rechtlichen Konsolidierung”, en A. Kaiser,
Demokratie – Chancen und Herausforderungen im 21. Jahrhundert, Münster, 2005, p. 183.
59 Las ratificaciones y las grandes líneas se encuentran disponibles en la siguiente dirección electrónica:
http://europa.eu/lisbon_treaty/news/index_es.htm (21 de Julio de 2009)
60 Art. 6.1 TUE: La Unión se basa en los principios de libertad, democracia, respeto de los derechos humanos y
de las libertades fundamentales y el Estado de Derecho, principios que son comunes a los Estados miembros.
182
La Cláusula Democrática y el Parlamento del Mercosur.
Contextualización de su Alcance y Dimensionalidad
61 B. Beutler, art. 6 TUE, en Von der Groeben/Schwarze (eds.), Kommentar zum Vertrag der Europäischen
Union und zur Gründung der Europäischen Gemeinschaft, 6. Auf., Baden-Baden, 2003, p. 70.
62 En el debate constitucional, este aspecto ocupó grandes espacios y se calificaba incluso el propio art. 6.1
TUE bajo el título “Valores de la Unión”. Cfr. A. von Bogdandy, JZ, 2004, 53 (58).
63 Véase art. 7 de la versión del Tratado de la Unión Europea-Lisboa.
64 Art. 49 TUE: Cualquier Estado europeo que respete los principios enunciados en el apartado 1 del artículo
6 podrá solicitar el ingreso como miembro en la Unión. Dirigirá su solicitud al Consejo, que se pronuncia-
rá por unanimidad después de haber consultado a la Comisión y previo dictamen conforme del Parlamento
Europeo, el cual se pronunciará por mayoría absoluta de los miembros que lo componen.
65 Art. 177.2 TCE: La política de la Comunidad en este ámbito contribuirá al objetivo general de desarrollo y
consolidación de la democracia y del Estado de Derecho, así como al objetivo de respeto de los derechos
humanos y de las libertades fundamentales.
66 Entre numerosos artículos, ver T. Freixes Sanjuán, Derechos fundamentales en la Unión Europea. Evolución
y prospectiva: la construcción de un espacio jurídico europeo de los derechos fundamentales, www.ugr.es.
67 G. Ress, “Das Europäische Parlament als Gesetzgeber. Der Blickpunkt der EMRK”, en ZEuS, 199, p. 219, 226.
68 Vea Declaración del Consejo de Europa de 1978 en Copenhague, Boletín de la CE 3-1978, 5; Conclusiones
del Consejo de Europa de 1993 en Copenhague, Boletín de la CE 6-1993, 13.
69 En los Considerandos primero y quinto del preámbulo del TCE y en el Considerando tercero del preámbu-
lo del TUE, así como en los comentarios a la normativa de la Unión. E.W. Böckenförde, “Demokratie als
Verfassungsprinzip”, § 2, en Handbuch des Staatsrechts der Bundesrepublik Deutschland, Heidelberg,
2004, p. 429-496. Sobre los principios constitucionales de la UE, véase C. D. Classen, “Europäische
Integration und demokratische Legitimation”, en Archiv des öffentlichen Rechts. Tübingen, 119 (1994), 2,
pp. 238 – 260; W. Matiaske, H. Brunkhorst, G. Grözinger, M. Neves (eds.): The European Union as a Model
for the Development of Mercosur? Transnational Orders between Economic Efficiency and Political
Legitimacy. Zentrum und Peripherie, Volume 4, München, 2007, p. 4 ss.
183
Mariela Morales Antoniazzi
184
La Cláusula Democrática y el Parlamento del Mercosur.
Contextualización de su Alcance y Dimensionalidad
77 Según el art. 189.1 del TUE, el PE no representa a un pueblo europeo sino a los pueblos de los Estados
miembros.
78 A. von Bogdandy, “A Disputed Idea Becomes Law: Remarks on European Democracy as a Legal Principle”,
en Kohler-Koch, Beate, (eds.), Debating the democratic legitimacy of the European Union, USA, 2007, p. 38.
79 M. Kaufmann, Europäische Integration und Demokratieprinzip. Studien und Materialien zur
Verfassungsgerichtsbarkeit, 71, Baden-Baden, 1997, p. 99.
80 C 306/14 ES Diario Oficial de la Unión Europea 17.12.2007.
81 Conclusiones de la Presidencia del Consejo Europeo, Bruselas, 21/ 22 de junio de 2007, 11177/1/07, REV
1, CONCL 2.
82 Documento 10659/07 de 14 de junio de 2007, el cual se elaboró a raíz del mandato que se le confirió a la
Presidencia en junio de 2006.
83 En el punto 45 de las Conclusiones se dispone: El Consejo Europeo reitera la importancia primordial de la
política europea de vecindad, que tiene por objetivo consolidar un anillo de prosperidad, estabilidad y
seguridad basado en los derechos humanos, la democracia y el Estado de Derecho, así como apoyar el pro-
ceso de reformas y de modernización de los socios vecinos de la Unión.
84 Anexo I, 11177/1/07, REV 1, CONCL 2, pp. 12, 1, 24.
185
Mariela Morales Antoniazzi
186
La Cláusula Democrática y el Parlamento del Mercosur.
Contextualización de su Alcance y Dimensionalidad
89 AG/Res 1080 (xxi-0/91). Véase B. Sovereignty, Collectively Defending Democracy in the Americas, The
Johns Hopkins University Press, Baltimore, 1996 (editado por Tom Farer).
90 A-56: Protocolo de Reformas a la Carta de La Organización de Los Estados Americanos “Protocolo De
Washington”, http://www.oas.org/juridico/spanish/firmas/a-56.html (Nov. 21, 2009).
91 OEA, Carta Democrática Interamericana, AG/Res.1 (XXVIII-E/01) (11.09.2001). La CID está dividida en
seis capítulos, a saber: I. la democracia y el sistema interamericano; II. La democracia y los derechos
humanos; III. Democracia, desarrollo integral y combate a la pobreza; IV. Fortalecimiento y preservación
de la institucionalidad democrática; V. la democracia y las misiones de observación electoral; y VI.
Promoción de la cultura democrática. Se señala que los tres primeros capítulos constituyen la parte dog-
mática de la Carta, mientras los tres últimos definen los mecanismos relativos a los procedimientos de la
OEA para su aplicabilidad.
92 Así lo han manifestado los líderes de la región, Véase http://www.america.gov/st/washfile-
spanish/2005/June/20050607161600ASrelliM0.734173.html .
93 Véase, N. Bellshaw-Hógg, P./C. A. Corao, “Defensa colectiva de la Democracia: definiciones y mecanismos”,
en Serie Difusión de la Carta Democrática Interamericana 5. Lima. Comisión Andina de Juristas, (2006).
http://www.cartercenter.org/documents/defensacolectivadelademocracia.pdf (21 de Julio de 2008)
187
Mariela Morales Antoniazzi
94 E.Lagos/T.Rudy, “In defense of democracy”, The University of Miami interAmerican Law Review, 35
(2004), 283, 304.
95 CIDH, Herrera Ulloa vs. Costa Rica, del 02. 07.2004, Serie C, núm. 107, párrafo 115; Ricardo Canese vs.
Paraguay, de 31.08.2004, Serie C, núm. 111, párrafo 85; Caso Yatama vs. Nicaragua, de 23.06.2005, Serie C,
núm. 127, párrafos 193, 207 y215.
96 El contexto de la democracia y los procesos de constitucionalización juegan un papel importante en
América del Sur. Ya algunas críticas se aprecian en M. Alcántara/I. Crespo (eds.), Los Límites de la
Consolidación Democrática en América Latina, Salamanca, 1995. También M. Neves, “Symbolische
Konstitutionalisierung und faktische Entkonstitutionalisierung: Wechsel von bzw. Änderung in
Verfassungstexten und Fortbestand der realen Machtverhältnisse”, en Verfassung und Recht in Übersee,
29 (1996) 3, p. 309 ss. A. R. Brewer-Carías, “El derecho administrativo y el derecho a la democracia: una
nueva perspectiva para el necesario equilibrio entre los poderes de la Administración y los derechos del
administrado”. Videoconferencia en las Jornadas Académicas inaugurales del Departamento de Derecho
Administrativo 2008, Facultad de Derecho, Universidad Externado de Colombia, New York-Bogotá, 13
de febrero de 2008.
97 La Comunidad Andina (CAN) también aprobó en la década de los 90 el Compromiso de la Comunidad
Andina con la Democracia, con el carácter de protocolo complementario del documento constitutivo,
el Acuerdo de Cartagena (versión consolidada en ILM 28 (1989), 1165). Las Cumbres presidenciales
andinas (Quirama, 2003, Quito, 2004, Lima, 2005 y Tarija, 2007) han mencionado dentro de los ejes
para la integración la estabilidad democrática. A nivel andino se cuenta tanto con el Compromiso de
la Comunidad Andina por la Democracia del 2000 como con la Carta Andina para la Promoción y
Protección de los Derechos Humanos del 2002. El Compromiso por la Democracia se orienta a garan-
tizar la plena vigencia de la democracia en la Comunidad Andina mediante procedimientos a seguir en
caso de ruptura del orden democrático en algún país. La Carta Andina de los Derechos, que no consti-
tuye un instrumento formalmente vinculante bajo el ordenamiento jurídico de la Comunidad, con-
tiene regulaciones indicativas para los países de la subregión sobre una amplia gama de derechos, afir-
mando la universalidad, indivisibilidad e interdependencia de los mismos. Adicionalmente, en el art.
13 de la Carta de los Derechos Humanos de la CAN se establece expresamente el derecho de los pue-
blos andinos a la democracia, el cual se precisa más claramente en los arts. 14 a 18. W.
Hummer/Markus Frischhut, Derechos Humanos e integración, Colección Temas, vol. 11, Quito, 2004.
También J. M. Casal, Desafíos de los procesos de integración en materia de derechos humanos, Consejo
Consultivo Laboral Andino. Programa Laboral de Desarrollo, V Curso Regional Andino de Derechos
Humanos organizado por la Comisión Andina de Juristas, Abril 2006. La Decisión 551 que crea el
Consejo Electoral Andino como un órgano Comunitario del SAI también debe considerarse como un
paso para impulsar la transparencia y la democracia.
188
La Cláusula Democrática y el Parlamento del Mercosur.
Contextualización de su Alcance y Dimensionalidad
98 A. Ribeiro Hoffmann, Avaliando a influência das organizações regionais de integração sobre o caráter
democrático dos regimes de seus Estados Partes: o caso do Mercosur e o Paraguai, Cena internacional (UnB),
Brasilia, v. 2, 2005; M. Morales Antoniazzi, “Federalismo supranacional y democracia: la Unión Europea
como fuente de inspiración de la CAN y el Mercosur”, en C. Tablante/ M. Morales Antoniazzi (eds.),
Descentralización versus Neocaudillismo, Anuario para la descentralización, Caracas, Venezuela, 2009.
99 Protocolo de Ushuaia sobre Compromiso Democrático en el Mercosur, la República de Bolivia y la
República de Chile (24.07.1998), 2177 UNTS 373.
100 Protocolo de Ushuaia sobre Compromiso Democrático en el Mercosur, la República de Bolivia y la
República de Chile (24.07.1998), 2177 UNTS 373.
101 Declaración Presidencial sobre Compromiso Democrático en el Mercosur, 25.06.1996, http://www.MER-
COSUR.int/msweb/portal%20intermediario/es/index.htm (21 de Julio de 2009).
102 El contexto de la democracia y los procesos de constitucionalización juegan un papel importante en
América del Sur. Ya algunas críticas se aprecian en M. Alcántara/I. Crespo (ed.), Los Límites de la
Consolidación Democrática en América Latina, Salamanca, 1995. También M. Neves, Symbolische
Konstitutionalisierung und faktische Entkonstitutionalisierung: Wechsel von bzw. Änderung in
Verfassungstexten und Fortbestand der realen Machtverhältnisse, en Verfassung und Recht in Übersee, 29
(1996) 3, p. 309 ss.
189
Mariela Morales Antoniazzi
103 R. Martins, Mercosur: Der Südamerikanische Gemeinsame Markt im Überblick, Recht der Internationalen
Wirtschaft (RIW), Heft 11/1999, p. 855.
104 Al respecto, véase J. Samtleben “Der Südamerikanische gemeinsame Markt (Mercosur) und seine neue
Verfassung”, en Wertpapiermitteilungen 50, 1996, pp. 1997-2005.
190
La Cláusula Democrática y el Parlamento del Mercosur.
Contextualización de su Alcance y Dimensionalidad
105 H. Barrios, „Regieren im Mercosur“, en P. Bendel (ed.), Wie erfolgreich ist der Mercosur?, Saarbrucken,
1999, p. 51 ss. Sobre las posturas del Bloque y de Brasil ver, J. Briceño Ruiz, “The New Regionalism in South
America and the South American Community of Nations”, Paper presented at the annual meeting of the
International Studies Association 48th Annual Convention, Feb 28, 2007; G. E. Reyes/J. Briceño Ruiz,
Actualidad de la integración en América Latina y el Caribe, viejos dilemas, nuevos desafíos, Mérida, 2006.
106 En 2005 se aprueba la Decisión CMC/ Nº 29/05 y el texto del “Acuerdo Marco para la Adhesión de la
República Bolivariana de Venezuela al Mercosur. Como único caso hasta el presente, para su ingreso es
absolutamente vinculante que cumpla la cláusula democrática.
107 Declaración de la Unasur, 12 de setiembre de 2008, “Las Naciones Suramericanas anhelan fervientemente
que, a la brevedad posible, se restablezca el orden y la convivencia ciudadana pacífica, y el diálogo orien-
tado a normalizar el funcionamiento de la vida democrática”; Declaración de La Moneda, Santiago de Chile,
15 de septiembre de 2008, Considerando que el tratado Constitutivo de Unasur, firmado en Brasilia el 23
de mayo de 2008, consagra los principios del irrestricto respeto a la soberanía, a la no injerencia en asuntos
internos, a la integridad e inviolabilidad territorial, a la democracia y a sus instituciones y al irrestricto
respeto a los derechos humanos.
191
Mariela Morales Antoniazzi
108 Véase entre otros J. Carpizo, Concepto de democracia y sistema de gobierno en América Latina, IIJ-UNAM,
México, 2007.
109 El caso más reciente es la suspensión de la pertenencia de Honduras a la OEA, de fecha 05/07/2009, como
consecuencia del golpe de Estado que expulsó del poder al presidente José Manuel Zelaya. Cfr.
http://scm.oas.org/doc_public/SPANISH/HIST_09/AG04682S02.doc
110 L. Burgorgue-Larsen/A. Ùbeda de Torres, Las decisiones básicas de la Corte Interamericana de Derechos
Humanos. Estudio y Jurisprudencia, Thomson Reuters, 2009.
111 A. Ribeiro Hoffmann, “Political conditionality and democratic clauses in the EU and MERCOSUR”, en A.
Ribeiro Hoffmann/A. van der Vleuten (eds.), Closing or Widening the Gap? Legitimacy and Demcoracy of
Regional International Organizations, Hampshire, Ashgate Publishing Group, 2007.
112 Posturas críticas en J. Trujillo Cabrera, Sicherung der Demokratie in Südamerika: Vergleichende
Annäherung zur Andengemeinschaft und Mercosur mit der Europäischen Union, Int. Law: Rev. Colomb.
Derecho Int., Bogotá, Colombia, Nº 9, 11-43, mayo de 2007; W.Hummer, Demokratiesicherungsklauseln in
regionalen Präferenzzonen, Berlin, 2001.
113 Entre la abundante literatura sobre el tema de los DDHH en el contexto interamericano, D. Hauser, “La
protección de los derechos económicos, sociales y culturales a partir de la Declaración americana sobre los
Derechos y Deberes del hombre”, en C. Courtis,/D. Hauser /G. Rodríguez Huerta (eds.), Protección inter-
nacional de los derechos humanos. Nuevos desafíos, Porrúa-ITAM, México, 2005, pp. 123-146. Sobre el tra-
bajo de la Comisión, ver H. Faúndez Ledesma, “Los derechos económicos, sociales y culturales en el Sistema
Interamericano”, en AA.VV, El Sistema Interamericano de Protección de los Derechos Humanos: su
jurisprudencia sobre debido proceso. DESC, libertad personal y libertad de expresión, Instituto
Interamericano de Derechos Humanos, San José, T. II, 2005, pp. 91-180. En la perspectiva internacional, S.
García Ramírez, “Protección jurisdiccional internacional de los derechos económicos, sociales y culturales”,
en Cuestiones constitucionales, (2003) 9, México, 2003, pp. 127-157.
114 En el Tratado de Asunción de 1991, cuando se creó el Mercosur, se estableció solamente una estructura
institucional provisional consistente en el Consejo de Mercado Común y el Grupo Mercado Común. De
192
La Cláusula Democrática y el Parlamento del Mercosur.
Contextualización de su Alcance y Dimensionalidad
modo que la estructura orgánica ha ido configurándose a través de sucesivos actos jurídicos de distinto valor
y fuerza normativa. En efecto, la arquitectura institucional se fortalece con los Protocolos de Ouro Preto
(1994) y de Olivos (2002), dando lugar a tres órganos con poder de decisión (el Consejo del Mercado
Común, el Grupo Mercado Común y la Comisión de Comercio), un órgano de representación parlamentaria
(antes Comisión Parlamentaria Conjunta y ahora Parlamento), un órgano consultivo (Foro Consultivo
Económico y Social), un órgano de apoyo administrativo (Secretaría Administrativa del Mercosur) y final-
mente los órganos de solución de controversias (Tribunal Arbitral Ad Hoc y Tribunal permanente de
Revisión. Véase C.E. Delpiazzo, Fuentes del Derecho de la Integracion, en H. Gros Espiell, El derecho de la
Integracion del Mercosur, 1999, p. 69; A. Loschky, Mercosur und EU, Berlín, 1998, p. 28. Sobre el fuerte
papel de los Presidentes, ver A. Malamud, “Jefes de gobierno y procesos de integración: las experiencias de
Europa y América Latina”, en Philippe de Lombaerde, Shigeru Kochi/José Briceño Ruiz (eds.), Del regio-
nalismo latinoamericano a la integración interregional, Madrid, Fundación Carolina/siglo XXI, 137-62; A.
Malamud, “Presidential Diplomacy and the Institutional Underpinnings of Mercosur. An Empirical
Examination”, Latin American Research Review 40(1), 138-64. Ante la ausencia de transferencia de com-
petencias en sentido estricto se califica la estructura institucional como “minimalista”, D. Ventura, Las
asimetrías entre el MERCOSUR y la Unión Europea, los desafíos de una asociación interregional, Uruguay,
2005, p. 55 ss. Otros hallan fragilidad, Cfr. J. A. Alonso, “América Latina: las trampas del progreso”, en C.
Freres/J. A. Sanahuja (coord.), América Latina y la Unión Europea, Barcelona, 2006, p. 321-341. Véase tam-
bién M. J. Filadoro, “Eficacia de las instituciones del Mercosur. El caso de la Secretaría Técnica”, en Anuario
de Derecho Constitucional Latinoamericano, KAS, 12º año, tomo I, 667 ss; C. M. Russo Cantero, El
Mercosur ante la necesidad de organismos supranacionales, Asunción, Intercontinental, 1999. Sobre el
TPR, R. P.Ripoll, “Fuegos fatuos en Villa Rosalba. Alcance de la jurisdicción del Tribunal Permanente de
Revisión del Mercosur”, en Anuario de Derecho Constitucional Latinoamericano, KAS, 12º año, tomo I, p.
616; D. Pavón Piscitello/J. P. Schmidt, “Der EuGH als Vorbild: Erste Entscheidung des ständigen Mercosur-
Gerichts”, Europäische Zeitschrift für Wirtschaftsrecht, 17 (2006) 10, pp. 301-304; A. Dreyzin, “El
Protocolo de Olivos”, en Revista de Derecho Privado y Comunitario, Argentina, Rubinzal Culzoni, 2003-1,
pp. 579-621; .J.C. Rivera, “La opinión consultiva en el sistema de solución de controversias del Mercosur”,
en Estudios en homenaje a la doctora Berta Kaller Orchansky, Poder Judicial de la Provincia de Córdoba,
Tribunal Superior de Justicia, Córdoba, 2004.
115 M. A. Guedes de Oliveira, “Mercosur: Desarrollo político y temas comparativos con la Unión Europea”, en
F. Peña (comp.), La Unión Europea y la integración regional, Perspectivas comparadas y lecciones para las
Américas, Buenos Aires, 2005, p. 243.
116 El antecedente de un Parlamento Regional se encuentra en el Parlatino. Ver al respecto R.D. Labrano Ruíz,
Mercosur, Integración y Derecho, Buenos Aires, 1998, p. 441.
117 PO Art. 25.
193
Mariela Morales Antoniazzi
para la conformación de un Parlamento común del Mercosur han tenido lugar hasta
llegar a su configuración en el año 2006.118 Comenzó a funcionar en diciembre de
2006, pero su Protocolo Constitutivo data de 2005.119 Sin tratar de hacer un análisis
detallado de las normas de dicho Protocolo, basta resaltar que en sus propósitos (art.
2), principios (art. 3) y competencias (art.4), se pone de relieve la preservación del
régimen democrático como eje transversal de la institución.
El Parlamento del Mercosur tiene la función de promover la democracia.120
Hace ya más de dos años, el 7 de mayo de 2007, en su primera sesión, el Presidente de
Uruguay utilizó el eslogan “Queremos más y mejor Mercosur.” En esa ambiciosa agen-
da ocupa un lugar privilegiado el reforzamiento institucional. La integración ha
provocado un considerable spillover en un cierto sentido de construcción comuni-
taria, ubicando entre sus desafíos la reforma institucional. El Parlamento, como
órgano de legitimidad democrática, debe aparecer como prioridad.121
En el Preámbulo de Protocolo constitutivo del Parlamento,122 los Estados
Partes manifiestan ser conscientes “de que la instalación del Parlamento del
Mercosur, con una adecuada representación de los intereses de los ciudadanos de los
Estados Partes, significará un aporte a la calidad y equilibrio institucional del
Mercosur,123 creando un espacio común en el que se refleje el pluralismo y las diver-
sidades de la región, y que contribuya a la democracia, la participación, la represen-
tatividad, la transparencia y la legitimidad social en el desarrollo del proceso de inte-
gración y de sus normas,” así como reafirmar “los principios y objetivos del Protocolo
de Ushuaia sobre Compromiso Democrático en el Mercosur, la República de Bolivia
y la República de Chile, del 24 de julio de 1998, y la Declaración Presidencial sobre
Compromiso Democrático del Mercosur, del 25 de junio de 1996”. Sin duda, la
creación del Parlamento significa una manera de concretar el principio democrático
en la región, lo cual está clara y expresamente estipulado en el Protocolo. El art. 2
del Protocolo define como propósito del Parlamento “asumir la promoción y defen-
sa permanente de la democracia”. En el art. 3 se consagran en los números 1, 2 y 4
118 R. Correa Freitas, “Los órganos del Mercosur: hacia la conformación de un Parlamento común”, en Anuario
de Derecho Constitucional Latinoamericano, 2005, Uruguay, p. 809 ss.
119 Véase Decisión 23/05, XXIX CMC – Montevideo, 08/XII/05.
120 Para conocer en detalle los documentos que acompañaron todo el proceso, ver Hacia el Parlamento del
Mercosur, Fundación Konrad Adenauer y Comisión Parlamentaria Conjunta del Mercosur, 2ª. Edi.,
Uruguay, 2006.
121 S. Gratius (ed.), Mercosur y Nafta. Instituciones y mecanismos de decisión en procesos de integración
asimétricos, Madrid-Frankfurt am Main, 2008, 301 ss.
122 F. Farinella, “Las instituciones del Mercosur: la creación del Parlamento del Mercado Común”, Revista de
direito internacional e do MERCOSUL, 10 (2006) 1, pp. 69-77.
123 Una corriente más crítica, al referirse a los Parlamentos nacionales, destaca que en América Latina, los par-
lamentos y los tribunales nacionales han estado al margen en los procesos de integración. Así, los bloques
regionales se han caracterizado por un “magro nivel de participación de la sociedad civil y sus represen-
tantes y por un bajo grado de institucionalización”. Ver A. Malamud, “Jefes de gobierno y procesos de inte-
gración regional: las experiencias de Europa y América Latina”, en P. de Lombaerde/ S. Kochi/J. Briceño
Ruiz (eds.), Del regionalismo latinoamericano a la integración interregional. Madrid, 2008.
194
La Cláusula Democrática y el Parlamento del Mercosur.
Contextualización de su Alcance y Dimensionalidad
los principios que le dan contenido al objetivo mencionado supra, como el pluralis-
mo y la tolerancia como garantías de la diversidad de expresiones políticas, sociales
y culturales de los pueblos de la región, la transparencia de la información y de las
decisiones para crear confianza y facilitar la participación de los ciudadanos y el
respeto de los derechos humanos en todas sus expresiones respectivamente.
Absolutamente categórica es la competencia del Parlamento para “velar por la
preservación del régimen democrático en los Estados Partes, de conformidad con las
normas del Mercosur, y en particular con el Protocolo de Ushuaia sobre Compromiso
Democrático en el Mercosur, la República de Bolivia y la República de Chile”.
De lo anteriormente expuesto es interesante destacar que el Protocolo, en con-
sonancia con la doctrina del contexto interamericano (para la CorteIDH no puede
haber democracia si no hay protección efectiva de derechos humanos, del mismo
modo que sin derechos humanos no hay democracia)124 y la experiencia europea
(donde los retos del siglo XXI se centran en el respeto y garantía de los derechos
humanos, la democracia y el Estado de Derecho),125 enumera entre sus propósitos,
principios y competencias la garantía de la democracia y tiene un papel preponde-
rante en la promoción del principio democrático, tanto a nivel del Mercosur como a
nivel de los Estados miembros. Aun cuando el Parlamento del Mercosur no tiene las
funciones esenciales de un órgano legislativo en sentido estricto,126 pues no legisla
(sólo cuenta con atribuciones cuasi-legislativas)127 y no controla,128 sí puede ser
entendido como un avance al representar un foro para la democracia. Si se comparte
con Habermas su sugerencia de interpretar la democracia como un proceso histórico
de autocorrección de la Constitución,129 donde la democracia sirve para la rea-
lización y actualización de los valores constitucionales,130 resulta necesario contex-
tualizar este análisis. Por una parte, el Parlamento al no tener competencias legisla-
124 P. Carazo, “El sistema interamericano de derechos humanos: democracia y derechos humanos como fac-
tores integradores en Latinoamérica”, en A. von Bogdandy, C. Landa, M. Morales Antoniazzi (eds.),
¿Integración Sudamericana a través del Derecho? Un análisis interdisciplinario y multifocal, CEPC/Max
Planck Institut für ausländisches öffentliches Recht und Völkerrecht, Madrid, 2009, p. 231 ss.
125 Memorandum del Gobierno alemán sobre el Tratado de Lisboa, del 13.12.2007, http://www.auswaertiges-
amt.de/diplo/de/Europa/Downloads/Denkschrift-lissabon.pdf (25 de julio de 2009).
126 Refiriéndose a la Comisión Parlamentaria, ver D. A. Sabsay, “Federalismi e integrazioni sopranazionali. La
experiencia del Mercosur: comparación con la Unión Europea”, en P. Bilancia, Federalismi e integrazioni
sopranazionali nell’arena della globalizzazione: Unione Europea e Mercosur, Milano, 2006, p. 370. También
M. C. Drummond, “The evolution of the competence and functions of the Joint Parliamentary Committee
of Mercosur”, en PER 23 (2003), pp. 233-251.
127 Concretamente, el procedimiento preferencial previsto en el numeral 12 del art. 4 del Protocolo constitu-
tivo, así como la iniciativa legislativa contemplada en el numeral 13 ejusdem y la labor que puede cumplir
en torno a la armonización de las legislaciones nacionales le imprimen este carácter.
128 Contrastarlo con el Parlamento Europeo, S. Dreischer, Das Europäische Parlament und seine Funktionen
eine Erfolgsgeschichte aus der Perspektive von Abgeordneten, Dresden, 2004.
129 J. Habermas, Constitutional democracy. A paradoxical union of contradictory principles?. Political Theory,
Vol. 29, No. 6, 2001, p. 29.
130 C. Closa Montero, “Constitución y democracia en la Unión Europea”, en C. Closa Montero/ N. Fernández
Sola (coords.), La Constitución de la Unión Europea, Estudios constitucionales, CEPC, Madrid, 2005, p. 21.
195
Mariela Morales Antoniazzi
131 Aun cuando la doctrina coincide en el débil papel que ha jugado el Parlamento europeo hasta el momento.
Véase D. Ventura/A. Perotti, El proceso legislativo del Mercosur, Montevideo, 2004, p. 20 ss.
132 El Protocolo del Tratado de la Comunidad Económica Africana relativo al establecimiento del Parlamento
Panafricano fue aprobado en Sirte, Libia, en marzo de 2001. El proceso de ratificación y depósito ha pre-
sentado diversas dificultades. No obstante, el órgano tiene facultades consultivas y de asesoramiento. Entre
las funciones del Parlamento se halla la de estudiar cuestiones relacionadas con los derechos humanos, el
buen gobierno y el Estado de derecho, así como la armonización y coordinación de las leyes entre los
Estados miembros. Informe de Amnistía internacional, http://www.amnesty.org/es/library/info/
AFR01/007/2004 (21 de Julio de 2009), Sitio oficial http://www.africa-union.org/root/au/organs/Pan-
African_Parliament_en.htm (25 de Julio de 2009).
133 El Parlacen también tiene atribuida la competencia para ejercer un liderazgo eficaz orientado al
fortalecimiento de la democracia representativa. El pasado 20 de febrero de 2008 se acordó la refor-
ma al Tratado Constitutivo de este Parlamento, procurando ampliar sus competencias en cuanto a
la iniciativa legislativa, conocer de los nombramientos de altos directivos de los órganos de inte-
gración, conocer del presupuesto del Sica. Ver http://www.parlacen.org.gt/index-portada.html (25
de julio de 2009).
134 Disposiciones transitorias del Protocolo Constitutivo: la primera, relativa a las etapas: A los fines de lo
previsto en el artículo 1 del presente Protocolo se entenderá por “primera etapa de la transición”, el
período comprendido entre el 31 de diciembre de 2006 y el 31 de diciembre de 2010; en cambio, la
“segunda etapa de la transición”, es el período comprendido entre el 1 de enero de 2011 y el 31 de
diciembre de 2014. La segunda disposición transitoria acerca de la integración establece que en “la
primera etapa de la transición, el Parlamento estará integrado por dieciocho (18) parlamentarios por
cada Estado Parte. Lo previsto en el artículo 5, inciso 1, relacionado con la integración del Parlamento,
de conformidad a un criterio de representación ciudadana, aplicable a partir de la segunda etapa de la
transición, será establecido por Decisión del Consejo del Mercado Común, a propuesta del Parlamento
adoptada por mayoría calificada”.
196
La Cláusula Democrática y el Parlamento del Mercosur.
Contextualización de su Alcance y Dimensionalidad
135 Basta analizar la Primera Opinión Consultiva y sus “estridencias”. Véase A. Dreyzin, “La primera Opinión
Consultiva en Mercosur. ¿Germen de cuestión prejudicial?”, Civitas, Revista Española de Derecho Europeo
Nº 23, 2007, p. 437-461.
136 Tal como ocurrió con Europa, cuando en un principio era una “Asamblea” hasta que en el año 1962 adquir-
ió el nombre de Parlamento (DO 1962, p. 1045. Ver por ejemplo E. Gómez Corona, “El Parlamento
Europeo: por fin un Poder Legislativo para la Unión Europea”, en E. Gómez Corona y otros (coord.), Una
Constitución para la ciudadanía de Europa, Navarra, 2004, p. 251 ss.
137 Entre otros aspectos, no ha sido posible todavía encontrar consenso sobre la ponderación proporcional,
porque esto daría un peso mucho mayor a los diputados brasileños en comparación a los paraguayos o
uruguayos y esto continúa abierto al debate.
138 La Eurocámara no ha cesado en esta labor, ver DO, núm. C 69, 20 de marzo de 1989 o DO núm. 371, 8 de
diciembre de 1971. Igualmente son de destacar las propuestas del Parlamento en la constitucionalización
de la Unión Europea. Para el denominado proyecto Spinelli/Bieber, “The institutions and the decision-mak-
ing procedure in the Draft Treaty establishing the European Union”, en Bieber/Jaque/Weiler, An ever clos-
er Union, 1985, p. 31 ss.
139 Véase Noticias Mercosur Nº 21/09, 03/09/09 “Especial: Corte de Justicia del MERCOSUR”, editado por
Alejandro Perotti. Cfr. http://www.cij.csjn.gov.ar/conferencia-cortes-mercosur.html.
197
Mariela Morales Antoniazzi
198
La Cláusula Democrática y el Parlamento del Mercosur.
Contextualización de su Alcance y Dimensionalidad
143 A. R. Brewer-Carías, “El derecho administrativo y el derecho a la democracia: una nueva perspectiva para
el necesario equilibrio entre los poderes de la Administración y los derechos del administrado”, Video
Conferencia en las Jornadas Académicas inaugurales del departamento de Derecho Administrativo, 2008,
Facultad de Derecho, Universidad Externado de Colombia, New York-Bogotá, 13 de febrero de 2008.
144 P. Nikken, “La Cooperación Internacional para la promoción y Defensa de la Democracia”, en Agenda para la
consolidación de la Democracia en América Latina, San José de Costa Rica, IIDH/CAPEL, 1990, pp. 493-526.
145 Entre otros, véase R. Chacón De Albuquerque, “El MERCOSUR y la adhesión de Venezuela”, Revista de
Derecho Público Nº 11/2007, pp. 43-60.
146 S. Gratius, op. cit., pp. 327, 328.
147 A. Mähler, “Wie autoritär ist Lateinamerika?”, GIGA Focus Lateinamerika, Nummer 8, 2008, pp. 1-8. Sobre
la obligatoriedad para Venezuela de cumplir con el principio democrático, véase A. Brewer-Carías,
“Reflexiones críticas sobre la Constitución de Venezuela de 1999”, en el libro de D. Valadés/ M. Carbonell
(coord.), Constitucionalismo Iberoamericano del Siglo XXI, Cámara de Diputados. LVII Legislatura,
Universidad Nacional Autónoma de México, México 2000, pp. 171-193; idem, en Revista de Derecho
Público, Nº 81, Editorial Jurídica Venezolana, Caracas, enero-marzo, 2000, pp. 7-21; idem, en Revista
Facultad de Derecho, Derechos y Valores, Volumen III Nº 5, Universidad Militar Nueva Granada, Santafé
de Bogotá, D.C., Colombia, julio 2000, pp. 9-26; idem, La Constitución de 1999, Biblioteca de la Academia
de Ciencias Políticas y Sociales, Serie Eventos 14, Caracas, 2000, pp. 63-88.
148 A. Hadenius/J. Teorell, „Pathways from Authoritarianism“, en Journal of Democracy, Nr. 1, 2007, p. 143-156.
149 Para el caso Venezuela, entre otros, véase CIDH, Informe anual 2006, ibid., § 211, p. 1352; CIDH, Informe
anual 2007, § 222, punto 313. Para la valoración sobre la situación del Estado de Derecho en Venezuela,
véase Rule of Law, Konrad Adenauer Foundation (Ed.), The KAF Democracy Report 2006, Berlin, 2006, p.
283 ss. Informes 2000 y 2007, Venezuela como Estado parcialmente garante de la democracia al igual que
Paraguay en el 2007, mientras Brasil, Argentina y Uruguay aparecen bien ubicados. Fuente: Freedom
House: Freedom in the World, en www.freedomhouse.org (03.11.08). Zippel (ed.), Die Bezihungen
Zwischen der EU und den Mercosur-Staaten, Baden-Baden, 2001/2002, pp. 57 ss. También más reciente, F.
Peña: Gobernabilidad e integración de espacios geográficos regionales: Una aproximación a la comparación
de las experiencias sudamericana y europea. Universidad Nacional de Tres de Febrero (UNTREF) con la
colaboración del INTAL - Buenos Aires, 13 de noviembre de 2007. http://www.felixpena.com.ar/.
199
Mariela Morales Antoniazzi
V. Conclusiones en tesis
200
La Cláusula Democrática y el Parlamento del Mercosur.
Contextualización de su Alcance y Dimensionalidad
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Mariela Morales Antoniazzi
202
Estado Democrático de Direito
e Constitucionalismo na América do Sul1
Marcelo Neves2
Sumáárioo: I. Introdução II. Conceito de Estado Democrático de Direito III. Constitucionalismo na América do Sul
IV. Transição e Consolidação Democráticas e Constituciolização simbólica V. “Constitucionalismo Bolivariano” e seu
impacto VI. Mercosul e Desafios da Integração Supra-nacional VII. Conclusões.
Guillermo O’Donnell3
I. Introdução
1 Este artigo corresponde à palestra proferida no Seminário “El Derecho de Integración Suramericano en su
Contexto”, promovido pelo Max Planck-Institut für ausländisches öffentliches Recht und Völkerrecht,
Heidelberg, 6 e 7 de dezembro de 2007.
2 Professor de Teoria do Estado da Universidade de São Paulo e de Teoria do Direito da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo e do Instituto Brasiliense de Direito Público.
3 Polyarchies and the (Un)Rule of Law in Latin America: A Partial Conclusion, in: Juan E. Méndez/Gillermo
O’Donnell/Paulo Sérgio Pinheiro (orgs.), The Un(Rule) of Law and the Underprivileged in Latin America,
Notre Dame 1999, 303-37, 312.
203
Marcelo Neves
204
Estado Democrático de Direito e Constitucionalismo na América do Sul
decisões do sistema político estão subordinadas ao direito”.4 Não implica, porém, uma
indiferenciação do político sob o jurídico. O que resulta é uma interdependência entre
esses sistemas.5 Da presença do segundo código não decorre a superposição das prefe-
rências ‘poder’ e ‘lícito’ ou ‘não-poder’ e ‘ilícito’, mas sim que “as disjunções
poder/não-poder e lícito/ilícito referem-se reciprocamente.”6 Assim como as decisões
políticas subordinam-se ao controle jurídico, o direito positivo não pode prescindir,
por exemplo, de legislação controlada e deliberada politicamente.7 Da mesma manei-
ra, enquanto a força física no âmbito da política submete-se ao controle do direito, ela
depende, como coação jurídica, de variáveis políticas.
Portanto, o conceito sistêmico de Estado de Direito não se refere a um tipo de
relação qualquer entre o jurídico e o político. Nas formas pré-modernas de domina-
ção, assim como no absolutismo do início da era moderna e nas autocracias contem-
porâneas, configura-se a relação de subordinação do direito à política. A relevância do
jurídico para o poder é parcial, determinada pela hierarquia política dominante. O
código de preferência ‘lícito/ilícito’ só é vinculante para os que estão no pólo inferior
da relação de poder. O detentor de poder (casta, estamento, monarca, junta etc.) não
está, no caso-limite, subordinado a essa distinção. Em princípio, as suas decisões não
são avaliadas de acordo com o código jurídico, mas antes pressupostas como intrinse-
camente lícitas. A referência do direito aos súditos é unilateralmente prescritiva de
deveres, ônus e responsabilidades jurídicas perante o Estado; no que concerne ao
soberano, unilateralmente atributiva de direitos, competências e, sobretudo, prerro-
gativas. Nesse sentido, no período absolutista tinha um relevância especial o princípio
“Princeps legibus solutus est” (“o príncipe está isento da lei”). Embora na prática os
reis absolutistas não estivessem totalmente desvinculados de condicionamentos jurí-
dicos,8 esse princípio apontava para uma assimetria na relação entre soberano e súdi-
to, resultando em uma prevalência hierárquica do poder sobre o direito.
No Estado de Direito, a inserção do código de preferência ‘lícito/ilícito’ como
segundo código do poder, conduz a uma relação sinalagmática entre sistemas político
e jurídico. Se, de um lado, o direito é posto basicamente por decisões políticas, de
outro, a diferença entre lícito e ilícito passa a ser relevante para os órgãos políticos
supremos, inclusive para os procedimentos eleitorais de sua escolha. Disso resulta
também uma relação sinalagmática entre Estado como pessoa jurídica ou governantes
(em sentido amplo) e cidadãos. Por um lado, o ordenamento jurídico constitucional
confere competências, direitos e prerrogativas para o Estado ou governantes, mas
4 Niklas Luhmann, Die Codierung des Rechtssystems, in: Rechtstheorie 17 (1986), 171-203, 199.
5 Interdependência entendida como simultaneidade paradoxal de dependência e independência recíprocas;
cf. Niklas Luhmann, Machtkreislauf und Recht in Demokratien, in: Zeitschrift für Rechtssoziologie 2
(1981), 158-67, 165.
6 Niklas Luhmann, Macht, 2ª ed., Stuttgart 1988, 56.
7 Cf. Luhmann (nota 3), 165.
8 Cf. Niklas Luhmann, Das Recht der Gesellschaft, Frankfurt am Main 1993, 271.
205
Marcelo Neves
9 G. Spencer Brown, Laws of Form, London 1972 (reimpressão da 1.ª edição, de 1969), 56 s. e 69 ss.
10 Niklas Luhmann, Verfassung als evolutionäre Errungenschaft, in: Rechtshistorisches Journal 9 (1990), 176-
220, 193 ss.; idem (nota 6), esp. 470 ss.; idem, Die Gesellschaft der Gesellschaft, Franfurt am Main 1997,
tomo 2, 782 s.; idem, Die Politik der Gesellschaft, Frankfurt am Main 2000, 389-92. Ver também Marcelo
Neves, Zwischen Themis und Leviathan: Eine schwierige Beziehung - Eine Rekonstruktion des demokra-
tischen Rechtsstaates in Auseinandersetzung mit Luhmann und Habermas, Baden-Baden 2000, 80 ss.
11 Luhmann (nota 6), 440 s.
12 Luhmann (nota 6), 441.
13 Cf. ibidem.
14 Cf. Luhmann, Verfassung als evolutionäre Errungenschaft (nota 8), 202.
15 Cf. Luhmann (nota 6), 442.
16 Luhmann, Verfassung als evolutionäre Errungenschaft (nota 8), 202. Cf., no mesmo sentido, idem (nota 6), 478.
17 Cf. Luhmann (nota 3), 159 s.; idem, Rechtssoziologie, 3.ª ed., Opladen 1987, 168 ss.
206
Estado Democrático de Direito e Constitucionalismo na América do Sul
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Marcelo Neves
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Estado Democrático de Direito e Constitucionalismo na América do Sul
27 Cf. Oliveira Vianna, O Idealismo da Constituição, 2ª ed., São Paulo/Rio de Janeiro/Porto Alegre 1939, esp.
7 ss. e 303 ss.; Reale, Miguel, Momentos decisivos do constitucionalismo brasileiro, in: Revista de
Informação Legislativa, ano 20, Nº 77, Brasília 1983, 57-68; Alberto Torres, A organização nacional:
Primeira parte, A Constituição, 3ª ed., São Paulo 1978 (1ª ed. 1914), 160 ss.
28 Karl Loewenstein, Teoría de la Constitución, trad. espanhola de A. G. Anabitarte, Barcelona 1976, 76 e 78;
ou Verfassungslehre, trad. alemã de Rüdiger Boerner, 3ª ed., Tübingen 1975, 53 e 55; “En general, el régi-
men autoritario se satisface con el control político del Estado sin pretender dominar la totalidad de la vida
socioeconómica de la comunidad, o determinar su actitud espiritual de acuerdo con su propia imagen” (ibi-
dem, 76 ou 53).
29 Niklas Luhmann, Positives Recht und Ideologie, in: idem, Soziologische Aufklärung 1: Aufsätze zur
Theorie sozialer Systeme, 5ª ed., Opladen 1984, 178-203, 193 ss.
30 A respeito, cf., em outro contexto, Niklas Luhmann, Inklusion und Exklusion, in: idem, Soziologische
Aufklärung 6: Die Soziologie und der Mensch, Opladen 1995, 237-264, 255.
31 Assim, Karl Loewenstein, Brazil under Vargas, Nova York 1942, 122, caracteriza a Carta Constitucional de
1937 ironicamente de „tuttifrutti internacional” ou “coquetel constitucional”.
209
Marcelo Neves
Nos regimes militares dos anos sessenta e setenta, pode-se observar a mistura de
uma retórica nacionalista, que também se infiltrava na elaboração dos textos normati-
vos, com a política real subordinada aos interesses estratégicos da potência mais forte
na região, os Estados Unidos da América,32 e das companhias multinacionais. Além
disso, a política de eficiência econômica, apresentada no palco estatal, submete-se a
uma prática política de subsídios para grupos economicamente privilegiados que não
suportam assumir o risco da economia de mercado. Ao mesmo tempo, contudo, as
estruturas e relações sociais excludentes, combinadas com a falta de políticas socais
sérias e eficazes, impõem relações clientelistas não apenas com os grupos privilegiados,
mas também com as camadas inferiores. Sob pressão direta de “dentro” e de “fora”, de
“baixo” e “de cima”, os regimes militares surgiram e persistiram sem suficiente identi-
dade para construir um Estado forte. Ao contrário, no contexto dos regimes militares
autoritários constituídos nos anos sessenta e setenta, pode-se constatar que não houve
as condições para que fossem impostas as fronteiras entre o estatal e o privado. Mas não
se trata aqui de patrimonialismo tradicional, oriundo de representações morais abran-
gentes, mas sim de privatização difusa, dependente sobretudo de interesses concretos
dos privilegiados e, contudo também, de necessidades imediatas dos “marginalizados”.
Em um outro plano, aquele das relações entre política e direito, manifesta-se uma
hipertrofia da dominação estatal em detrimento dos direitos humanos. Isso pode ser
interpretado como sobreposição direta da política ao direito. Ela é “direta” no sentido
de que os direitos fundamentais, a “separação de poderes” e as eleições livres com sufrá-
gio igual e universal, enquanto instituições mais importantes do Estado democrático de
Direito, são prejudicados imediatamente no âmbito em que se estatui o direito (“pro-
dução do direito”). De fato, essa situação não exclui que, nos diplomas constitucionais
dos regimes autoritários, estejam contidos a declaração de direitos fundamentais, o pro-
cedimento eleitoral e o princípio da “separação de poderes”. No entanto, tendo em vista
outros preceitos constitucionais, assim como leis de exceção com força jurídico-consti-
tucional, essas instituições do Estado de Direito são tão limitadas em seu significado
prático que cabe falar de sua distorção manifesta através da legislação constitucional.
Além disso, qualquer controle juridicamente relevante ou alternância de poder fica
praticamente excluído em virtude das mutações do texto constitucional e das leis de
exceção conforme constelações concretas de interesses dos detentores do poder.
Refletindo-se precisamente, trata-se aqui de constituições semânticas no sentido de
Loewenstein, as quais denomino ‘instrumentalistas’. Nesse caso, as leis constitucionais
não servem à limitação do poder, mas antes atuam como instrumento dos detentores
fácticos do poder,33 que se apresentam personalistamente ou como “burocracia” impes-
32 Cf., com base no exemplo do golpe militar de 1964 no Brasil, com vastas provas documentais, Marcos Sá
Corrêa, 1964 visto pela Casa Branca, Porto Alegre 1977; abrangentemente sobre o golpe, ver René Armand
Dreifuss, 1964: A Conquista do Estado - Ação Política, Poder e Golpe de Classe, Petrópolis 1981.
33 Loewenstein (nota 26), 218 s. ou 153 s.; idem., Gedanken über den Wert von Verfassungen in unserem
revolutionären Zeitalter, in: Arnold J. Zurcher (org.), Verfassungen nach dem Zweiten Weltkrieg, trad.
alemã de Ebba Vockrodt, Meisenheim am Glan 1956, 223.
210
Estado Democrático de Direito e Constitucionalismo na América do Sul
34 Como exemplos, cabe citar, respectivamente, a autocracia chilena, fortemente vinculada à pessoa do
General Augusto Pinochet, e o regime autoritário brasileiro, tão intimamente identificado com a “burocra-
cia militar” que a alternância periódica do chefe de Estado dentro das forças armadas podia ocorrer sem
maiores dificuldades e riscos para a estrutura de poder.
35 Uma expressão marcante de Raymundo Faoro, Os donos do poder: formação do patronato político brasilei-
ro, 6ª ed., Porto Alegre 1984-1985, 2 vols.
36 Mercelo Neves, Verfassung und Positivität des Rechts in der peripheren Moderne: Eine Theoretische
Betrachtung und eine Interpretation des Falls Brasilien, Berlin 1992, 69.
211
Marcelo Neves
37 Fala-se de “uma outra institucionalização” (Guillermo O’Donnell, Uma outra institucionalização, in: Lua
Nova - Revista de Cultura e Política, Nº 37, São Paulo 1996, 5-31).
38 Ver, entre outros, Guillermo O’Donnell/Philippe C. Schmitter/Laurence Whitehead (orgs.), Transitions
from Authoritarian Rule: Latin America, Baltimore 1986; Scott Mainwaring/Guillermo O’Donnell/J.
Samuel Valenzuela (orgs.), Issues in Democratic Consolidation: The New South American Democracies in
Comparative Perspective, Notre Dame 1992; Manuel Alcántara/Ismael Crespo (orgs.), Los Límites de la
Consolidación Democrática en América Latina, Salamanca 1995; Guillermo O’Donnell, Illusions About
Consolidation, in: Journal of Democracy, Vol. 7, Nº 2, Abril 1996, 34-51.
39 Cf. Friedrich Müller, Juristische Methodik, 6ª ed., Berlin 1996, 122 ss.; idem, Strukturierende Rechtslehre,
2ª ed., Berlin 1994, esp. 147-67 e 234-40; idem, Die Positivität der Grundrechte: Fragen einer praktischen
Grundrechtsdogmatik, 2ª ed., Berlin 1990, 126 ss.
40 Friedrich Müller, Essais zur Theorie von Recht und Verfassung, Berlin 1990, esp. 20. Cf. ibidem, 127 e 29;
Bernd Jeand’Heur, Gemeinsame Probleme der Sprach- und Rechtswissenschaft aus der Sicht der
Strukturierenden Rechtslehre, in: Friedrich Müller (org.), Untersuchungen zur Rechtslinguistik, Berlin
1989, 17-26, esp. 22 s.
41 Müller, Friedrich, Juristische Methodik - ein Gespräch im Umkreis der Rechtstheorie, ein Interview mit
Jan Möller aus Anlaß des Erscheinens der 5. Auflage des gleichnamigen Werkes von F. Müller, in:
Verwaltungsrundschau 4 (1994), 133-36, 134.
42 Müller, Juristische Methodik (nota 37), 183 ss. e 272 s.
43 Marcelo Neves, Symbolische Konstitutionalisierung und faktische Entkonstitutionalisierung: Wechsel von
bzw. Änderung in Verfassungstexten und Fortbestand der realen Machtverhältnisse, in: Verfassung und
Recht in Übersee 29 (1996) 3, 309-23, 312 ss.
212
Estado Democrático de Direito e Constitucionalismo na América do Sul
44 Nesse contexto, não é oportuna a seguinte afirmação: “Um tribunal é neutro, desinteressado, orientado
objetivamente e obrigado somente perante o direito – se há realmente justiça terrena, então ela é de encon-
trar-se aqui” (Ulrich K. Preuß, Einleitung: Der Begriff der Verfassung und ihre Beziehung zur Politik, in:
idem, Zum Begriff der Verfassung: Die Ordnung des Politischen, Frankfurt am Main 1994, 7-33, 7).
45 Refiro-me aqui à definição de direito formulada por Luhmann (nota 15), 105: “[...] estrutura de um sistema
social baseada na generalização congruente de expectativas normativas de comportamento”. Ou simples-
mente: “expectativas normativas de comportamento congruentemente generalizadas” (ibidem, 99).
Formulando de maneira diferente, afirma-se que “o direito preenche amplas funções de generalização e
estabilização de expectativas normativas” (idem, Rechtssystem und Rechtsdogmatik, Stuttgart 1974, 24). Cf.
também idem (nota 6), 131 ss.
213
Marcelo Neves
46 Cf. Luhmann (nota 6), 445 e passim; idem, Organisation und Entscheidung, Opladen 2000, 295-7.
47 Cf. Marcelo Neves, Von der Autopoiesis zur Allopoiesis des Rechts, in: Rechtstheorie 34 (2003) 2, 245-68
(De la Autopoiesis a la Alopoiesis del Derecho, in: Doxa – Cuadernos de Filosofía del Derecho 19, Alicante
1996, 403-20); idem, Vom Rechtspluralismus zum sozialen Durcheinander: Der Mangel an Identität der
Rechtssphäre(n) in der peripheren Moderne und seine Implikationen in Lateinamerika, in: Hauke
Brunkhorst/Wenzel Matiaske (orgs.), Peripherie und Zentrum in der Weltgesellschaft, München/Mering
2004, 165-94. O próprio Luhmann (nota 6), 82, reconhece que, “em caso extremo” de “corrupção sistêmi-
ca”, “não se pode mais falar de fechamento autopoiético[...]”, mas não retira daí as devidas conseqüências
empíricas para a sua construção teórica, tendo em vista que insiste fortemente na tese do primado da dife-
renciação funcional na sociedade mundial do presente (ibidem, 572; idem, Die Gesellschaft der Gesellschaft
[nota: 8], 43 ss.).
48 Marcelo Neves, Zwischen Subintegration und Überintegration: Bürgerrechte nicht ernst genommen, in:
Kritische Justiz 32 (1999) 4, 557-77 (Entre Subintegração e Sobreintegração: A Cidadania Inexistente”, in:
Dados – Revista de Ciências Sociais, Vol. 37, Nº 2, Rio de Janeiro 1994, 253-75); idem (nota 34), 94 ss. e
155 ss.
214
Estado Democrático de Direito e Constitucionalismo na América do Sul
49 Cf. Marcelo Neves, A Constitucionalização Simbólica, 2ª ed. São Paulo 2007 (1ª ed., 1994); ou Symbolische
Konstitutionalisierung, Berlin 1998. Cf. também idem (nota 34), 61-5 e 104-6; idem (nota 41), 316; Brun-
Otto Bryde, Verfassungsentwicklung: Stabilität und Dynamik im Verfassungsrecht der Bundesrepublik
Deutschland, Baden-Baden 1982, 27-9.
50 Jens Newig, Symbolische Umweltgesetzgebung: Rechtssoziologische Untersuchungen am Beispiel des
Ozongesetzes, des Kreislaufwirtschafts- und Abfallgesetzes sowie der Großfeuerungsanlagenverordnung,
Berlin 2003; Winfried Hassemer, Das Symbolische am symbolischen Strafrecht, in: Bernd Schünemann,
Festschrift für Claus Roxin zum 70. Geburtstag am 15. Mai 2001, Berlin 2001, 1001-19; Brun-Otto Bryde,
Effektivität von Recht als Rechtsproblem, Vortrag gehalten vor der Juristischen Gesellschaft zu Berlin am
17. März 1993 (Schriftenreihe der Juristischen Gesellschaft zu Berlin, H. 135), Berlin/Nova York 1993,
12 ss.; Alessandro Baratta, Jenseits der Strafe – Rechtsgüterschutz in der Risikogesellschaft: Zur
Neubewertung der Funktionen des Strafrechts”, in: Strafgerechtigkeit: Festschrift für Arthur Kaufmann
zum 70. Geburtstag, Heidelberg 1993, 393-416, 411 ss.; Monika Voß, Symbolische Gesetzgebung: Fragen
zur Rationalität von Strafgesetzgebungsakten, Ebelsbach am Main 1989; Harald Kindermann, Symbolische
Gesetzgebung, in: Dieter Grimm/Werner Maihofer (orgs.), Gesetzgebungstheorie und Rechtspolitik
(Jahrbuch für Rechtssoziologie und Rechtstheorie 13), Opladen 1988, 222-45; idem, Alibigesetzgebung als
symbolische Gesetzgebung, in: Rüdiger Voigt (Hrsg.), Symbole der Politik, Politik der Symbole, Opladen
1989, 257-73; Peter Noll, Symbolische Gesetzgebung, in: Zeitschrift für Schweizerisches Recht (N.F.) 100
(1981), 347-64; , Rainer Hegenbarth, Symbolische und instrumentelle Funktionen moderner Gesetze, in:
Zeitschrift für Politik 14 (1981), 202-4. Esse debate remonta a Joseph R. Gusfield, Symbolic Crusade: Status
Politics and the American Temperance Movement, Urbana 1963; cf. também idem., Moral Passage: The
Symbolic Process in Public Designations of Deviance, in: Social Problems, Vol. 15, Nº 2, 1967, 175-88.
51 Cf., p. ex., Georges Burdeau, Zur Auflösung des Verfassungsbegriffs, in: Der Staat 1 (1962), 389-404, 398;
Murray Edelman, The Symbolic Uses of Politics, Urbana/Chicago/London 1967, 18 s.; Massing Otwin,
Identität als Mythopoem. Zur politischen Symbolisierungsfunktion verfassungsrechtlicher
Spruchweisheiten, in: Rüdiger Voigt (org.), Politik der Symbole, Symbole der Politik, Opladen 1989, 235-
56; Jürgen Habermas, Faktizität und Geltung (nota 23) 342; André Brodocz, Die symbolische Dimension
der Verfassung: Ein Beitrag zur Institutionentheorie, Opladen 2003; Dieter Grimm, Integration durch
Verfassung: Absichten und Aussichten im europäischen Konstitutionalisierungsprozess, in: Leviathan:
Zeitschrift für Sozialwissenschaft 32 (2004) 4, pp. 448-63, 454.
52 Bryde (nota 47), 27.
215
Marcelo Neves
216
Estado Democrático de Direito e Constitucionalismo na América do Sul
57 “Der lebenswichtige Bedarf muß auf alle Fälle gedeckt sein, so daß jedermann warten kann” [“As necessi-
dades vitais precisam ser, em qualquer caso, supridas, para que cada um possa esperar”] (Niklas Luhmann,
Legitimation durch Verfahren, Frankfurt am Main 1983, 198).
217
Marcelo Neves
58 Marie DELCAS, “Opposition et officiers rebelles appellent à «libérer» le Venezuela”, in: Le Monde, nº 17962,
25.10.2002, 5.
59 Guillermo O’Donnell (nota 1), 324.
218
Estado Democrático de Direito e Constitucionalismo na América do Sul
O Mercosul foi criado pelo Tratado de Assunção em 1991 e obteve a sua persona-
lidade internacional com o Protocolo de Ouro Preto, de 1994, adicional ao tratado ori-
ginário. Cabe aqui apontar para as assimetrias entre os processos de integração da
União Européia e do Mercosul.60 Enquanto a União Européia pode ser caracterizada
como uma entidade jurídico-política supranacional, afastando-se dos modelos jurídicos
clássicos do direito internacional público e das meras formas políticas intergoverna-
mentais, o Mercosul ainda permanece uma organização jurídica de direito internacio-
nal e se desenvolve politicamente em termos de decisões intergovernamentais. A falta
da supranacionalidade deixa a dinâmica do Mercosul, ao contrário da européia, forte-
mente “calcada na dinâmica de seus próprios Estados”.61 Nesse sentido, Deisy Ventura
acentua que “o bloco adota uma estrutura típica das organizações internacionais de
caráter regional [...], paradoxalmente movida por uma dinâmica institucional que se
assemelha ao funcionamento de um simples entendimento intergovernamental”.62
Essa situação pode ser observada claramente quando se considera a estrutura
orgânica do Mercosul, na qual os processos decisórios ficam intimamente vinculados
aos representantes dos Estados-Membros. Conforme o Protocolo de Ouro Preto, entre
os órgãos que detêm “capacidade decisória, de natureza intergovernamental”, a saber,
o Conselho do Mercado Comum, o Grupo Mercado Comum e a Comissão de
Comércio do Mercosul (art. 2º), o primeiro é caracterizado como o “órgão superior do
Mercosul” (art. 3º) e reúne os Ministros das Relações Exteriores e da Economia dos
Estados-Membros (art. 4º), devendo os Presidentes dos Estados Partes participar de
suas reuniões pelo menos uma vez por semestre (art. 6º). As decisões desse órgão,
como de qualquer outro órgão do Mercosul, só pode ser tomada por unanimidade,
com a presença de todos os Estados-Membros (art. 37). Esse modelo intergoverna-
mental de decisão faz o Mercosul dependente das instabilidades políticas internas dos
seus Estados-Membros, com efeitos danosos ao seu desenvolvimento. Os bloqueios
casuísticos vinculados a interesses particularistas de grupos políticos e econômicos
dificultam um modelo de continuidade e de cooperação. Parece que o Mercosul apre-
senta-se muito mais como um instrumento das estratégias dos Estados Partes do que
como um modelo para a cooperação.
Isso se torna ainda mais problemático quando se considera, além da exigência
da decisão unânime em todos os níveis orgânicos, o problema da transposição de
normas, decorrente do art. 42 do protocolo de Ouro Preto: “As normas emanadas
dos órgãos do Mercosul previstos no Artigo 2 deste Protocolo terão caráter obriga-
60 A respeito, ver, de maneira abrangente, Deisy Ventura, As assimetrias entre o Mercosul e a União Européia:
Os desafios de uma associação inter-regional, São Paulo 2003.
61 Ibidem, 75.
62 Ibidem, 3. Cf. também Marcos Aurelio Guedes de Oliveira, Political Development and Comparative Issues
with EU, in: Wenzel Matiaske/Hauke Brunkhorst/Gerd Grözinger/Marcelo Neves (orgs.), The European
Union as a Model for the Development of Mercosur? Transnational Orders between Economic Efficiency
and Political Legitimacy, Hamburgo 2007, 9-17, 13.
219
Marcelo Neves
220
Estado Democrático de Direito e Constitucionalismo na América do Sul
VII. Conclusões
69 Cf. Christian Joerges/Joseph Neyer, From Intergovernmental Bargaining to Deliberative Political Processes:
The Constitutionalisation of Comitology, in: European Law Journal 3 (1997), 273-99.
70 Ventura (nota 58), 590, distinguindo, também nesse aspecto, o Mercosul da União Européia, pois, nesta, o
problema do “déficit democrático” só se apresentaria no plano da União, não dos Estados-membros.
71 Cf., p. ex., Joseph H. H. Weiler, The Constitution of Europe: “Do the New Clothes have an Emperor?” and
other Essays on European Integration, Cambridge 1999, esp. 28.
221
Marcelo Neves
zado com a experiência da União Européia pode ajudar a América Latina.72 Mas isso
não deve levar a mais um caso de transporte acrítico de modelos políticos e jurídicos
para contextos sociais nos quais não estão presentes os pressupostos mínimos para a
sua realização. A cópia ou imitação poderá significar simplesmente um supranacio-
nalismo simbólico, carente de força normativa generalizada. Mas alguns pontos
podem servir de exemplo.
Assim como ocorreu na experiência européia, impõe-se, antes de tudo, que haja
desenvolvimentos internos no caminho da concretização normativa da Constituição.
Isso exige uma luta intensiva contra a corrupção sistêmica (Estado de Direito) e um
forte esforço pela inclusão social de amplas parcelas ainda marginalizadas (direitos
fundamentais). Além disso, é fundamental a superação das desigualdades econômicas
regionais internas e entre os países, que ainda são abismais. Só sob esses pressupostos,
é possível construir um modelo de integração que se oriente pela rule of law e possa
desenvolver-se no sentido de um supranacionalismo sul-americano. Trata-se de um
caminho longo e íngreme, que implicará a confrontação com resistências culturais,
econômicas e políticas de difícil superação.
Em um aspecto, porém, pode-se vislumbrar avanços em curto prazo. Isso se refe-
re à possibilidade de uma atuação do Mercosul como bloco que venha a defender de
forma mais eficaz os interesses dos países sul-americanos perante outros blocos. Ele já
se vem construindo lentamente com um núcleo nas novas relações entre América
Latina e Europa, que é apresentado como “um aliado decisivo para a consolidação do
Mercosul”.73 Nesse particular, o Mercosul pode ter um papel decisivo na fortificação
da América Latina nas negociações e relações internacionais com a Europa e a
América do Norte, contribuindo para a redução de assimetrias que remontam ao
período colonial perduraram em formas “neocoloniais” de sua integração no mercado
mundial.
72 Agustín Gordillo, The Future of Latin America: Can EU Help?, London 2003; idem, The Future of Latin
America: Can EU Help?, in: Matiaske/Bunkhorst/Grözinger/Neves (orgs.) (nota 60), 185-200.
73 Ventura (nota 58), 325 ss. e 455 ss.
222
PARTE II
SISTEMAS REGIONAIS E PARÂMETROS SUPRANACIONAIS
DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
La Política de Minorías de la Unión Europea:
una Contribución a la Teoría Jurídica
de la Gobernanza Supraestatal
Sumarioo: I. Introducción II. Gobernanza de las minorías en el proceso de ingreso III. La gobernanza de las minorías
frente a los Estados miembros IV. Valoración final
I. Introducción
1 Director del Max Planck Institute for Comparative Public Law and International Law (Heidelberg) y
Profesor del Derecho Publico en la Goethe-Universität (Frankfurt/Main). Presidente del OECD Nuclear
Energy Tribunal. Fue miembro del German Science Council (Wissenschaftsrat). En 2008 recibió el premio
Berlin-Brandenburgian Academy of Sciences Prize. Miembro del Scientific Committee of the European
Union Agency for Fundamental Rights (2008-2013). Fue Professor de Global Law en New York University
School of Law en 2005 y 2009.
Por las útiles discusiones y comentarios el autor agradece a Anuscheh Farahat, Stefan Kadelbach, Petra
Lancos, Maja Smrkolj, Franziska Sucker, Gabriel Toggenburg y Rüdiger Wolfrum.
Texto traducido por Federico Fernández-Crehuet, Modesto Saavedra López.
2 Reglamento 168/2007/CE del Consejo de 15 de febrero de 2007, por el que se crea una Agencia de la Unión
Europea para la protección de los derechos fundamentales. DO 2007 L 53/1.
3 Sobre este campo político, G. TOGGENBURG, Menschenrechtspolitik, en: WEIDENFELD/WESSELS (EDS.),
Jahrbuch der Europäischen Integration 2006, p. 187. Sobre la protección de las minorías como una cuestión
de derechos humanos, Art 1. del Convenio-Marco para la Protección de las Minorías Nacionales del
Consejo de Europa de 01.02.1995,BGBl, II, 1997, 1408.
4 Esta ya era la misión del Observatorio Europeo del Racismo y la Xenofobia, Reglamento (CE) 1035/97 DO.
151/1, sustituido por la Agencia para la protección de los derechos fundamentales
5 En este sentido, la Thematic Comment, núm 3. The Protection of Minorities in the European Union,
25.04.2005, CFR-CDF.ThemComm2005, ver http://ec.europa.eu/justice_home/cfr_cdf/doc/thematic_com-
ments_2006_en.pdf, consulta (02.04.2007), especialmente, pp. 20, 92 y ss.; de modo similar, Cómite de
Derechos Humanos, General Comment No. 23, Art. 27, §§ 5.1, 5.2 (UN Doc. CCPR/C/21/Rev.1/Add.5
(08.04.1994); R. WOLFRUM, The Emergence of „New Minorities“ as a Result of Migration, en: BRÖLMANN
(EDS.), Peoples and Minorities in International Law, 1993, p. 153; Para un análisis completo del tema, F.
CAPOTORTI, Study on the Rights of Persons Belonging to Ethnic, Religious and Linguistic Minorities, UN
Doc. E/CN.4/Sub.2/384/Rev.1 (1979), § 57.
225
Armin von Bogdandy
6 Véase S KUSICKE, Nicht noch ein Amt: Die EU plant die Gründung einer Grundrechteagentur, der
Bundestag will das verhindern, Frankfurter Allgemeine Zeitung (en adelante, FAZ) de 03.01.2007, p. 3;
Bauchschmerzen, Glosse in der FAZ de 05.01.2007, p. 10, S. KUSICKE, Entrevista con Matthias Wissmann
sobre la futura Agencia de Derechos Humanos: „Die Bedenken bleiben bestehen fort“, FAZ vom
06.01.2007, p. 4; M. Frank, Die Alibi-Agentur, Süddeutsche Zeitung de 05.01.2007; para la crítica de la
Agencia de Derechos y su valoración también G. TOGGENBURG, Die Grundrechteagentur der Europäischen
Union: Perspektiven, Aufgaben, Strukturen und Umfeld einer neuen Einrichtung im Europäischen
Rechtsraum, MRM 12 (2007), pp. 86, 88 y ss.
7 Considerando 8, Art. 2, apartado 3.
8 Directiva 2003/86/CE de 22 de septiembre de 2003 sobre el derecho a la reagrupación familiar, DO 2003
L251/12 y Directiva 2003/109/CE de 25 de noviembre 2003, relativa al estatuto de los nacionales de terce-
ros países residentes de larga duración, DO, 2004 L 16/44.
9 Directiva 2000/43 CE de 29 junio de 2000, relativa a la aplicación del principio de igualdad de trato de las
personas independientemente de su origen racial o étnico, DO 2000 L 180/22, así como la Directiva
2000/78/CE de 27 noviembre de 2000, relativa al establecimiento de un marco general para la igualdad de
trato en el empleo y la ocupación, DO 2000 L 303/16.
10 O. DE SHUTTERT/A VERSTICHEL, The Role of the Union in Integrating the Roma: Present and Possible Future,
Edap 2 (2005), http://www.eurac.edu/documents/edap/2005_edap02.pdf consulta (25.04.2007).
11 Por ejemplo, respecto del derecho al nombre, Rs.-148/02, García Avello, Sammlung der Rechtsprechung des
Gerichtshofes (en adelante, Slg). 2003, I-11613, número márginal. 40; esto se corresponde con la lógica nor-
226
La Política de Minorías de la Unión Europea: Una Contribución
a la Teoría Jurídica de la Gobernanza Supraestatal
to de los intereses de grupos especiales, cuando existen razones válidas para la protec-
ción de la identidad individual; el interés de los Estados miembros a favor de la inte-
gración de los inmigrantes en este caso es subsidiario. De este modo, el Tribunal de
Justicia (Tribunal de Justicia de las Comunidades Europeas-TJCE) se aproxima a la con-
cepción del Comité de los Derechos Humanos, según la cual el Art. 27 del Pacto
Internacional para los Derechos Civiles y Políticos12 exige medidas diferenciadas.
No obstante, por lo que se refiere a las formas del método comunitario, es decir,
con instrumentos soberanos, falta una política amplia de la Unión orientada a la pro-
tección de las personas que pertenecen a minorías. Aunque, ciertamente, existe tal
política bajo la forma de gobernanza. Esta noción describe aquí un contexto en el que
la política supraestatal opera con éxito de manera constructiva incluso sin competen-
cias soberanas.13 El presente trabajo trata, concretamente, de la conexión entre insti-
tuciones estatales y supraestatales, actores no estatales, procedimientos e instrumentos
para lograr la protección de las minorías, un campo en el que la Unión, aún sin com-
petencias soberanas, ejerce una presión considerable frente a los Estados en aras a la
consecución de este objetivo perteneciente al bien común. El derecho correspondien-
te se presenta como una parte de las estrategias políticas mediante las que la Unión
explora, a través de la protección de las minorías, dos campos políticos espinosos: la
formación de la unidad estatal y la protección general de los derechos fundamentales.
mativa del Art. 11 apartado 1 del Convenio-Marco para la Protección de las minorías nacionales. Con más
detalle, U. HALTERN, Europarecht und das Politische, 2005, pp. 372 y ss.
12 Comité para los Derechos Humanos, General Comment No. 23 (véase nota. 4), §§ 6.2., UN Doc.
CCPR/C/21/Rev.1/Add.5 (08.04.1994); S. van den Bogaert, State Duty Towards Minorities: Positive or
Negative? How Policies Based on Neutrality and Non-discrimination Fail, en Zeitschrift für ausländisches
öffentliches Recht und Völkerrecht (en adelante, ZaöRV) 64 (2004), p. 42.
13 A. BENZ, Governance in Mehrebenensystemen, en: SCHUPPERT (EDS.), Governance-Forschung, 2. Aufl. 2006,
p. 95; H. H. TRUTE/W. DENKHAUS/D. KÜHLERS, Governance in der Verwaltungsrechtswissenschaft, Die
Verwaltung 37 (2004), p. 451. Este concepto de la gobernanza es de naturaleza analítica y no se debe con-
fundir con el concepto normativo Good Governance. Sobre éste último, Europäische Kommission,
Europäisches Regieren – Ein Weißbuch, KOM (2001) 428.
14 Además, ha llamado continuamente la atención la dramática situación de los romaníes, para esto, R.
WOLFRUM, The legal status of Sinti and Roma in Europe; a case study concerning the shortcomings of the
protection of minorities, Annuaire européen 33 (1985), p. 75; R. GUGLIELMO, Human Rights in the
Accession Process: Roma and Muslims in an Enlarging EU, en: TOGGENBURG (ED.), Minority Protection and
the Enlarged EU: The Way Forward, 2004, p. 37.
227
Armin von Bogdandy
15 Acta Final de la Conferencia sobre la Seguridad y la Cooperación en Europa, Helsinki, 01.08. 1975,
http://www.osce.org/documents/mcs/1975/08/4044_de.pdf, consulta (02.04.2007).
16 El principio se marca con el documento final del encuentro de Viena de 15.01.1989 (números 18 y 19
de la parte de principios), cuyos impulsos se han desarrollado, sobre todo, en el Documento del
Encuentro de Copenague de 29.06.1990 (números. 30-40), pero también en la Carta de París de
21.11.1990, pp. 5 y ss.
17 Ninguna decisión de la CSCE o de la OSCE puede ser calificada como una obligación de derecho interna-
cional público, C. HÖHN, Zwischen Menschenrechten und Konfliktprävention: Der Minderheitenschutz im
Rahmen der Organisation für Sicherheit und Zusammenarbeit in Europa (OSZE), 2005, pp. 211 y ss.; T.
BUERGENTHAL, The CSCE Rights System, George Washington Journal of International Law and Economics
25 (1991), pp. 333, 378. Pero contra la opinón mayoritaría S. BREITMOSER/ D. RICHTER, Die Verwirklichung
der KSZE-Grundsätze zum Schutze nationaler Minderheiten durch Organleihe beim EGMR, EuGRZ 18
(1991), p. 141, donde se califica como principio jurídico de validez general una parte del contenido rele-
vante de las decsiones de la CSCE/OSCE sobre protección de las minorías, http://www.uni-koeln.de/jur-
fak/ostrecht/minderheitenschutz/Vortraege/internationaler_minderheitenschutz_brunner.htm, consulta
(24.04.2007).
18 Conclusiones de la Presidencia, 21-22.2006 (190/193), p. 13.
19 Conclusiones de la Presidencia, 21-22.2006 (190/193), p. 13.
20 De la Declaración de Viena de 09.10. 1993.
21 En relación con la interacción de las organizaciones, G. TOGGENBURG, The Union’s Role vis-à-vis Minorities.
After the Enlargement Decade, EUI Working Papers, Law No. 2006/15, pp. 24 y ss.
228
La Política de Minorías de la Unión Europea: Una Contribución
a la Teoría Jurídica de la Gobernanza Supraestatal
Esta gobernanza se puede entender con la ayuda de sus rasgos estructurales, ins-
tituciones y funciones.22 Una primera comprensión es posible a través de sus rasgos
estructurales: supraestatalidad, multilateralidad, inclusión, voluntariedad, diferencia-
ción y hegemonía colectiva. La gobernanza tiene un carácter supraestatal y multilate-
ral porque sus instituciones operativas son organizaciones supraestatales y multilate-
rales: la OSCE, el Consejo de Europa y la Unión Europea. Esto impide que ella apa-
rezca como expresión de los intereses hegemónicos de un Estado, de modo distinto,
quizá, a la gobernanza ejercida por el Banco Mundial, que, en no pocas ocasiones, se
vincula a los intereses de los Estados Unidos.23 En relación con el rasgo estructural de
la inclusión, los estándares operativos para la protección de las minorías se concretan
en instrumentos que se elaboraron en el Consejo de Europa y en la OSCE y, por tanto,
en organizaciones en las que los Estados en transformación ya eran miembros en con-
diciones de igualdad, aquí también se deja notar el contraste frente al Banco Mundial.
Este rasgo estructural de la inclusión explica también el mecanismo de implementa-
ción del Alto Comisionado para las Minorías Nacionales, diseñado como un instru-
mento de la OSCE y, por tanto, de una organización inclusiva.24 El rasgo estructural
de la voluntariedad sustenta la gobernanza en general y se muestra, especialmente, en
que el fundamento de su funcionamiento reside en una meta política auto-impuesta
por los Estados en transformación: el ingreso en la Unión Europea. Otro rasgo estruc-
tural, que condujo a mucho descontento, es la diferenciación: los Estados del
Occidente de Europa, pero también Grecia y Turquía, no se someten a la gobernanza
de la misma manera.25 En esta diferenciación se muestra un rasgo más, como es la
hegemonía colectiva de Europa Occidental. Los Estados de Europa Occidental, al
menos hasta la entrada de aquellos Estados en la Unión Europea, han dispuesto colec-
tivamente de una hegemonía política, económica y cultural frente a los Estados en
transformación, y han configurado la gobernanza sobre esa base.26
Desde un punto de vista institucional, esta gobernanza descansa sobre las tres
organizaciones supraestatales mencionadas: la Unión Europea, el Consejo de Europa
y la OSCE.27 Su operatividad se logra gracias a un conjunto de órganos e instituciones
que disponen de un grado muy distinto de autonomía frente a los gobiernos de los
22 Ciertamente esta reconstrucción no puede incluir todos los aspectos de una praxis parcialmente confusa. La
pretensión de las siguientes reflexiones es tan sólo la de desvelar la lógica básica de tal gobernanza.
23 B. BROWN, The United Stated and the Politization of the World Bank, 1992.
24 Art. 2 del Mandato del Alto Comisionado para las minorías nacionales, Documento de Helsinki, pp. 22 y ss.
25 No se ha podido imponer una propuesta temprana de recoger los estándares en un protocolo sobre el
Convenio para la Protección de los Derechos Humanos y de las Libertades fundamentales y someterlos a l
TEDH. Véase sobre esto, el apartado 3. a.
26 R. COOPER, The breaking of Nation, 2003, p. 71 y ss.
27 Con esto no se quiere afirmar que entre las tres organizaciones no se produzcan fricciones. Particularmente,
el Consejo de Europa ha seguido con especial preocupación la construcción europea.
229
Armin von Bogdandy
Estados miembros: el espectro se extiende desde las organizaciones ocupadas por los
Estados miembros a modo de foro de las posiciones nacionales, hasta la Comisión
Europea y el Alto Comisionado para las Minorías Nacionales, cuya autonomía opera-
tiva frente a los Estados es el requisito de funcionamiento de la gobernanza. Éste es
otro ejemplo de que los Estados deben conceder una autonomía parcial a la política
supraestatal si quieren que funcione.
Para continuar reconstruyendo la gobernanza sirve de ayuda orientarse con la
teoría de las funciones convencionales del Estado,28 aunque con la modificación de
que estas funciones convencionales son ejercidas de modo no convencional en un
contexto no institucionalizado. Conforme a eso, la función legislativa se encuentra
distribuida entre diversas organizaciones e instituciones. El punto de partida norma-
tivo de esta gobernanza son los criterios de admisión a la Unión Europea del Art. O
TUE, en conformidad con los criterios materiales del Art. 6, apartado 1 TUE fijados
desde Ámsterdam, que al principio no estaban escritos. Èste fue formulado por los
Estados miembros de la Unión, saludando el principio hegemónico de esta gobernan-
za.29 Un primer nivel de concreción se obtiene, a partir de ahora de manera inclusi-
va,30 por medio del Convenio-Marco para la Protección de las Minorías Nacionales,
elaborado por el Consejo de Europa entre los años 1993 y 1995.31 Su ratificación y
transposición son una exigencia esencial para el cumplimiento de los criterios de
Copenhage y del Art. O TUE en el tema de la protección de las minorías.32 Otras con-
creciones legislativas tienen lugar por medio de instrumentos de soft law de diversos
actores. De especial importancia resulta el instrumento de soft law consistente en las
recomendaciones generales de la OSCE.33 La preponderancia de la OSCE se puede
explicar por el hecho de que los Estados en trasformación participaron desde el prin-
28 Para este aspecto, C. MÖLLERS, Gewaltengliederung, 2005, p. 253 y ss. A. V BOGDANDY, Law and Politics in
the WTO, en Max Planck Yearbook of UN Law 5 (2001), pp. 609 y ss.
29 Sin embargo, los criterios del Art. O del Tratado de la Unión Europea en relación con el Art. F del TUE
están ya recogidos en el documento CSCE de 29.06.1990, Documento de la Segunda reunión de Copenague
de 29 de junio de 1990 de la Conferencia sobre la dimensión humana de la CSCE, Punto 1.
30 A decir vedad, existen caminos de participación para terceros Estados, como muestran el Espacio
Económico Europeo y la Convención Europea (Verfassungskonvent). Sin embargo, la Unión no habría
podido asumir esta tarea debido a la ausencia de competencia. Ésta requiere para la elaboración de acuer-
dos de derecho internacional competencia, vid art 24 y 38 TUE. Para las razones de la ausencia de la cor-
respondiente competencia, vid infra, apartado 3b.
31 De fecha 01. 02. 1995, que entro en vigor el 01.02.1998. Acerca de las negociaciones, con más detalle, R.
HOFMANN, Minderheitenschutz in Europa. Völker- und staatsrechtliche Lage im Überblick, 1995, pp. 200
y ss.; Sobre el valor añadido del Convenio-Marco S. SPILIOPOULOU ?KERMARK, The added value of the FCNM.
The Framework Convention for the Protection of National Minorities: a useful Pan-European instrument?.
32 G. SASSE, Minority Rights and EU Enlargement: Normative Overstretch or Effective Conditionality?, en:
TOGGENBURG (EDS.), Minority Protection and the Enlarged EU: The Way Forward, 2004, pp. 61, 68, 72. La
Carta europea de idiomas regionales y minoritarios, que incluso a final de febrero de 2007 sólo habían rati-
ficado 21 Estados, ocupa sólo un significado secundario en la gobernanza.
33 Véase sólo OSCE 1996, Recomendaciones de la Haya relativas a los derechos educativos de las minorías
nacionales; OSCE 1998, Recomendaciones de Oslo relativas a los derechos lingüísticos de las minorías
nacionales; OSCE 1999, Recomendaciones de Lund sobre la participación efectiva de las minorías naciona-
les en la vida pública.
230
La Política de Minorías de la Unión Europea: Una Contribución
a la Teoría Jurídica de la Gobernanza Supraestatal
34 Véase sólo Rec. (2001) 17 on improving the economic and employment situation of Roma/Gypsies and
Travellers in Europe; Rec. (2006)10E Recommendation of the Committee of Ministers to member states on
better access to health care for Roma and Travellers in Europe; Rec. (2005)4E on improving the housing
conditions of Roma and Travellers in Europe; Rec. (2004)14E on the movement and encampment of
Travellers in Europe; Rec. (2001)17E on improving the economic and employment situation of
Roma/Gypsies and Travellers in Europe; Rec. (2000)4E on the education of Roma/Gypsy children in
Europe; Rec. (92)10E on the implementation of rights of persons belonging to national minorities.
35 Véase sólo, Rec 1623 (2002 ) on the rights of national minorities; Rec. 1557 (2002) on the legal situation of
Roma in Europe; Rec. 1492 (2001) on the rights of national minorities; Rec. 1345 (1997) on the protection
of national minorities; Rec. 1285 (1996) on the protection of national minorities; Rec. 1255 (1995) on the
protection of the rights of national minorities.
36 Con más detalle, S. RÜLKE, Venedig-Kommission und Verfassungsgerichtsbarkeit, 2003; J. L. JOWELL, The
Venice Commission: Disseminating democracy through law, Public law 2001, p. 675.
37 D GALBREATH, The Politics of European Integration and Minority Rights in Estonia and Latvia, Perspectives
on European Politics & Society 2003, pp. 35, 44 y ss.; M. SARV, Integration by Reframing Legislation:
Implementation of the Recommendations of the OSCE High Commissioner on National Minorities to
Estonia, 1993-2001, en: ZELLNER/OBERSCHMIDT/NEUKIRCH (EDS.), Comparative Case Studies on Effectiveness
of the OSCE High Commissioner on National Minorities, 2002, pp. 29 y ss., 41y ss., 47 y ss.
38 K SMITH., Western Actors and the Promotion of Democracy, en: ZIELONKA/PRAVDA (EDS.), Democratic
Consolidation in Eastern Europe. Bd. II. International and Transnational Factors, 2001, p. 31; J. ZIELONKA,
Conclusions. Foreign Made Democracy, en: PEERS/WARD (EDS.), The EU Charter of Fundamental Rights.
Law Context and Policy, 2004, p. 511
231
Armin von Bogdandy
39 Art. 26 del Tratado Marco; más ampliamente, R. HOFMAN, Das Überwachungssystem der
Rahmenkonvention des Europarates zum Schutz nationaler Minderheiten, en ZEuS 2 (1999), p. 379.
40 En profundidad sobre la OSCE y su Alto Comisionado, GALBREATH, (nota 37) pp. 36, 40 y ss.
41 Art. 3 del Mandato del Alto Comisionado para la Protección de las Minorías, Documento de Helsinki, pp.
22 y ss.
42 Un ejemplo de esto lo ofrece el proceso de incorporación de Croacia debido al affaire Gotovina, con todo
detalle, M. RÖTTING, Das verfassungsrechtliche Beitrittsverfahren zur Europäischen Union, 2007. Este tema
estaba también en el centro de atención del Tribunal de Competencia Jessup Moot 2007. El Art. 230 CEE
no permite ningún control de las lesiones del Art. 49 TUE ni de ninguna disposición, con base en el trata-
do de asociación, por parte del TJCE a petición de un país candidato.
43 R. HOFMANN, The Framework Convention for the Protection of National Minorities: An Introduction, en:
WELLER (ED.), The Rights of Minorities in Europe, 2005, p. 1, 5.
232
La Política de Minorías de la Unión Europea: Una Contribución
a la Teoría Jurídica de la Gobernanza Supraestatal
b. Valoración
44 En detalle, K. E. SMITH, The use of political conditionality in the EU relations with third countries, EFA
Rev. 3 (1998), p. 253; H. GRABBE, The EU’s transformative power: Europeanization through conditionality
in Central and Eastern Europe, 2006; más matizado, J. HUGHES/G. SASSE/C. GORDON, Conditionality and
Compliance in the EU´s Eastward Enlargement: Regional Policy and the Reform for Sub-national
Governance, JCMS 42 (2004), p. 523.
45 Particularmente, E. SCHMID-ASSMANN, Das allgemeine Verwaltungsrecht als Ordnungsidee. Grundlagen
und Aufgaben der verwaltungsrechtlichen Systembildung, 2. Aufl. 2004, pp. 235 y ss.
46 P. DANN, Grundfragen eines Entwicklungsverwaltungsrechts, en: MÖLLERS/VOßKUHLE/WALTER (EDS.),
Internationales Verwaltungsrecht, 2007.
47 Explicación sobre los Derechos Humanos (Consejo Europeo en Luxemburgo, 28./29.06.1991), Anexo V, Bol.
UE, 6.1991, I. 45; sobre esto, F. HOFFMEISTER, Menschenrechts- und Demokratieklauseln in den vertragli-
chen Außenbeziehungen der Europäischen Gemeinschaft, 1998, p. 103.
48 Por ejemplo, el Art. 2 del Acuerdo de estabilización y asociación entre las Comunidades Europeas y sus
Estados miembros, por una parte, y la República de Croacia, por otra, DO 2005 L 26/3.
49 P. LUCKE, Der Internationale Währungsfond, 1997, p. 97.
233
Armin von Bogdandy
50 Sobre el umbral de la relevancia jurídica, vid. Yearbook of the International Law Commission, 1966, Bd.II,
p. 245 y ss.; R. G. WETZEL/D. RAUSCHNING: The Vienna Convention on the Law of the Treaties: Travaux
Préparatoires, 1978, p. 357 y ss.
51 Con todo detalle RÖTTING, (nota 42).
52 M. KRYGIER, Introduction, en: SADURSKI/CZARNOTA/KRYGIER (EDS.), Spreading Democracy and the Rule of
Law?, 2005, pp. 3, 12; este reproche ya se hizo constar frente al sistema de minorías en el tiempo de entre-
guerras, sobre ello, A. MEIJKNECHT, The Minority Protection System between World War I and World War
II, en: WOLFRUM (ED.), Max Planck Encyclopedia of Public International Law, C 1, publicación en 2008.
53 A la vista de la notoria dificultad de hacer afirmaciones sobre las consecuencias reales de las normas, se limi-
ta este trabajo a “suposiciones fundadas”, sobre este problema, G. LÜBBE-WOLFF, Rechtsfolgen und
Realfolgen, 1981; especialmente para la protección de la diversidad SASSE (nota 32), pp. 61 y 71.
234
La Política de Minorías de la Unión Europea: Una Contribución
a la Teoría Jurídica de la Gobernanza Supraestatal
54 En detalle, en relación con Croacia Rötting, (nota 42) B IV 4 b; en relación con Hungría SASSE (nota 32), p. 74.
55 SASSE (nota 32), pp. 64 y ss. Más positivo H. KÜPPER, Minority Rights, en: FELDBRUGGE (EDS.), Law in
Transition, 2002, pp. 81 y 88.
56 Calcada con todo detalle por la EU Network of Independent Experts on Fundamental Rights.
57 Sobre la situación de Rumania y Bulgaria, Comunicación de la Comisión de 26.09.2006. Informe de segui-
miento sobre los preparativos de ingreso de Bulgaria y Rumanía, COM, 2006, 549, pp. 8, 25, 47 y ss.
58 Sobre este concepto, D. THÜRER, Minorities and majorities: managing diversity, SZIER 15 (2005), p. 659.
59 Véase, A. V. BOGDANDY, Zweierlei Verfassungsrecht. Europäisierung als Gefährdung des gesellschaftlichen
Grundkonsenses?, Der Staat 39 (2000), p. 163.
235
Armin von Bogdandy
es que los Estados miembros permanecen con autonomía frente a la Unión tanto res-
pecto a los mecanismos esenciales de la formación de unidad estatal, como también
en la organización de la protección nacional de los derechos fundamentales.60
Esto se puede aclarar mediante algunas referencias. En relación con la formación
de la unidad estatal se debe recordar que, hasta la fecha, la Unión no ha asumido papel
alguno en conflictos internos, cuando lo que se juega en ellos es la autodeterminación
de minorías, ya sea en Irlanda del Norte, Cataluña, el País Vasco o, anteriormente, el
Tirol meridional.61 Cada Estado miembro decide a quién acoge como sus nacionales;
la ciudadanía europea se construye sobre una incuestionada pertenencia nacional.62
La política educativa y cultural, como instrumentos claves de formación de la unidad
nacional, están sustraídos a la armonización de la Unión, según el Art. 149, pfo. 4
TCE, y el Art. 151, pfo. 5 TCE. Ciertamente los instrumentos para la formación de la
unidad política no son completamente extraños a la Unión: así, los ciudadanos de la
Unión y los de terceros países con permiso de residencia deben estar incluidos sin dis-
criminación en los grandes sistemas de solidaridad nacional.63 Sin embargo, esto ape-
nas limita la libertad de configuración de los Estados miembros en lo que respecta a
lo esencial de la formación de la unidad nacional.64 Grados similares de autonomía de
los Estados miembros existen frente a la Unión en relación con la protección nacio-
nal de los derechos fundamentales. La Carta Europea de Derechos Fundamentales
establece expresamente que los derechos fundamentales de la Unión obligan, princi-
palmente, a la Unión. Los Estados miembros son mencionados tan sólo en la denomi-
nada “constelación de ejecución” (Durchführungkonstellation), Art. 51, par. 1 TCE.65
El Tratado de Lisboa no modifica nada en éste ámbito.
60 J. H. H. Weiler, Fundamental rights and fundamental boundaries, en: J. H. H. Weiler, The Constitution of
Europe, 1999, pp. 102 ss. Esto no excluye que algunos Estados miembros orienten sus derechos fundamen-
tales hacia las ventajas europeas, véase P. M. HUBER, Offene Staatlichkeit: Vergleich, en: VON
BOGDANDY/CRUZ VILLALÓN/HUBER (Eds.), Handbuch Ius Publicum Europaeum, Bd. II, § 26 número margi-
nal. 98 y ss.
61 Igualmente precavido el TJCE, véase Asunto C-C-432/1994, Anastasiou I, Slg. 1994 I-3116, número margi-
nal. 47. Incluso en el tratado constitucional se encontraba sólo una vaga alusión a las minorías y a la diver-
sidad interna de los Estados ni preveía competencia alguna (Art. I-2 del fracasado Tratado Constitucional).
62 S. KADELBACH, Unionsbürgerschaft, en: V. BOGDANDY (Eds ), Europäisches Verfassungsrecht, 2003, pp. 539,
548; TJCE, Asunto. C-200/02, Chen, Slg. 2004, p. I-09925, número marginal. 37-39. No obstante, en este
supuesto la red quiere aplicar la Directiva contra la discriminación 2000/43/CE e impedir una política de
ciudadanía discriminatoria, E.U. Network of Independent Experts on Fundamental Rights, pp. 20 y ss.
63 De la prolija jurisprudencia, TJCE, Caso. C-184/99, Grzelczyk, Slg. 2001, p. I-6193, Número. 46; Caso C-
209/03 Bidar, Slg. 2005, I-2119, número marginal. 56.
64 Bajo nuevas perspectivas, G TOGGENBURG, Who is Managing Ethnic and Cultural Diversity in the European
Condominium?, JCMS 43 (2005), p. 717.
65 Esto es incluso más estricto que el estado de la jurisprudencia, véase TJCE Caso. C-260/89, ERT, Slg. 1991,
p. I-02925, número marginal. 41-45, Caso. C-479/04, Laserdisken ApS, de 12.09.2006, n.n.v., número mar-
ginal. 61. Sobre la jurisprudencia J. KÜHLING: Grundrechte, en: V. BOGDANDY (ED.), Europäisches
Verfassungsrecht. Theoretische und dogmatische Grundzüge, 2003, pp. 583, 608 y ss.
236
La Política de Minorías de la Unión Europea: Una Contribución
a la Teoría Jurídica de la Gobernanza Supraestatal
66 R. GROTE, International Law and the Protection of Minorities in the 21st Century, en: International Law
Today: New Challenges and the Need for Reforms?, 2007.
67 No obstante, está el proyecto austríaco de un protocolo anexo al Convenio Europeo para la Protección de
los Derechos Humanos y las Libertades Fundamentales. Véase R. HOFMANN, Minderheitenschutz in Europa.
Völker- und staatsrechtliche Lage im Überblick, 1995, p. 43.
237
Armin von Bogdandy
cialmente las relaciones federales entre la Unión y sus Estados miembros y de men-
guar considerablemente la diversidad y la autonomía nacionales.
La Unión Europea y sus Estados miembros se encuentran frente a una difícil
decisión. El mantenimiento del status quo jurídico apunta, más bien, hacia la prime-
ra alternativa. Como ya se ha expuesto al inicio, el cometido de la Agencia de la Unión
Europea para los Derechos Fundamentales se circunscribe al ámbito de aplicación del
derecho de la Unión.68 Sin embargo, existen ya avances por parte de la Comisión y del
Parlamento en la situación jurídica vigente que sólo pueden ser entendidos a la luz
de la segunda alternativa.69
Hay algunas competencias de la Unión que permiten iniciar una política de
armonización para la protección de las personas pertenecientes a minorías, especial-
mente los arts. 7, 34, y 29 TUE y los arts. 13 y 63 TCE. A la vista del titubeo de los
Estados miembros, la política correspondiente de la Unión se muestra más bien como
una gobernanza. Para su configuración existen algunos puntos de apoyo, aun cuando,
en general, tal gobernanza es más rudimentaria que aquella otra que se ejerce frente
a los Estados en transformación.
Las metas de esta gobernanza las formulan Philip Alston y Joseph H. Weiler en
un trabajo encargado por un Parlamento Europeo que está a la búsqueda de una polí-
tica de derechos fundamentales.70 La Unión Europea debe transformarse en un mode-
lo internacional para una política sobre los derechos fundamentales coherente, enér-
gica y orientada hacia el futuro, especialmente en relación con el racismo y la xeno-
fobia así como también con los derechos económicos, sociales y culturales de los gru-
pos perjudicados y de las minorías.71 En una política progresiva de los derechos fun-
damentales, implementada menos a través de los tribunales que por una burocracia
especializada con inclusión de las organizaciones no gubernamentales, deben confluir
la política de las minorías, la política de los movimientos migratorios y la de la no dis-
criminación en general.72
Institucionalmente, la gobernanza interna de la Unión sobre protección de las
minorías que se está abriendo paso se apoya, sobre todo, en las instituciones de la
68 Considerando 3 y 8, Art. 2 Reglamento (CE) 168/2007 del Consejo de 15 de febrero de 2007, por el que se
crea una Agencia de los Derechos Fundamentales de la Unión Europea. DO 2007 L53/1; véase para una
amplia interpretación de estas disposiciones G. TOGGENBURG (nota 6), pp. 98 y ss.
69 La propuestas la E.U. Network of Independent Experts on Fundamental Rights indican qué posibilidades
existen de construir esto, a partir de la situación jurídica vigente.
70 P. ALSTON/J. H. H. WEILER, An ,Ever Closer Union‘ in Need of a Human Rights Policy, en: ALSTON (ED.), The
EU and Human Rights, 1999, p. 3. Su impulso ha influido considerablemente en el Comité de Sabios y su
“Human Rights Agenda For the European Union for the Year 2000. Leading by Example“, impreso en:
ALSTON, Ibid., Annex (tras la p. 917). En sentido crítico, A. V. BOGDANDY, The European Union as a Human
Rights Organization?, CMLRev. 37 (2000), p. 1307, 1310 ss., que corrijo a la luz de las siguientes reflexiones.
71 ALSTON/WEILER (nota 70), pp. 14 y ss.
72 En este sentido también se expresa la E.U. Network of Independent Experts on Fundamental Rights, espe-
cialmente p. 20, 92 y ss. La influencia se muestra igualmente en que el autor Olivier de Schutter mantiene
una estrecha relación con Philip Alston. ALSTON/DE SCHUTTER (EDS.), Monitoring Fundamental Rights in the
EU: The Contribution of the Fundamental Rights Agency, 2005.
238
La Política de Minorías de la Unión Europea: Una Contribución
a la Teoría Jurídica de la Gobernanza Supraestatal
239
Armin von Bogdandy
seno de la Unión, parece estar firmemente anclado, como para que la gobernanza
pueda seguir otra lógica.
Mientras que el componente legislativo de esta gobernanza se delinea con una
cierta amplitud, el componente ejecutivo tan sólo se puede reconocer en un esbozo. Su
posible punto de partida normativo, es decir, lo análogo a la perspectiva de ingreso para
la gobernanza de las minorías respecto del Este, pudieran ser las sanciones del Art. 7,
apartado 1 TUE.77 Así pues, esta gobernanza podría resultar ya desde el principio más
débil que la del Este, puesto que en la esfera supraestatal los estímulos positivos suelen
funcionar mejor que los negativos.78 Como instrumentos de implementación internos
de la Unión se cuentan los informes y otros instrumentos de implementación “blan-
dos”, que son conocidos por su relación con el método de la coordinación abierta
(MCA), por ejemplo, la identificación de “best practices”.79 Desde hace muchos años,
el Parlamento Europeo toma posición acerca de la situación de las minorías en los
Estados miembros.80 Entretanto la Comisión también ha asumido este tema.81 Entre las
agencias, el Observatorio para el Racismo y la Xenofobia formaba parte de esta gober-
nanza hasta el 2007.82 Como institución híbrida de la gobernanza hay que citar la Red
de Expertos Independientes de la UE en materia de Derechos Humanos, de carácter
independiente.83 Ella observa la situación de los derechos fundamentales también en
los Estados miembros, incluyendo los derechos de las minorías; sus informes críticos
disfrutan de una considerable publicidad. Mas el futuro de esta entidad es incierto.84
Otras instituciones con funciones ejecutivas que hay que contemplar son los ya
citados órganos e instituciones del Consejo de Europa y de la OSCE; en particular, la
77 Sobre la posibilidad de llevar a cabo un proceso de vigilancia de los Estados miembros sobre la base del Art.
7 de la TUE, véase la Comunicación de la Comisión al Consejo y al Parlamento Europeo, de 15 de octubre
de 2003, sobre el Art. 7 del Tratado de la la Unión Europea. Respeto y promoción de los valores en los que
está basada la Unión, COM (2003) 606, p. 8, F. SCHORKOPF, en: GRABITZ/HILF (EDS.), Das Recht der
Europäischen Union. Kommentar I, Stand Januar 2004, TUE Art. 7, número marginal. 53 y ss.
78 R. WOLFRUM, Means of Ensuring Compliance with and Enforcement of International Environmental Law,
Recueil des Cours 272 (1999), p. 272.
79 Toggenburg (nota 64), p. 730 y 732.
80 Resolución sobre una Carta Europea de las Lenguas Regionales o Minoritarias y una Carta Comunitaria de
los Derechos de las minorías étnicas DO. 1981 C 287/106; Resolución del Parlamento Europeo sobre media-
das a favor de las lenguas minoritarias y culturas, DO. 1983 C 68/103; Resolución del Parlamento sobre las
leguas y culturas de las minorías regionales y étnicas en la Unión Europea, DO. 1987 C 318/160; Resolución
sobre las minorías lingüísticas y culturales en la Unión Europea, DO. 1994 C 61/110; Resolución del
Parlamento Europeo sobre las lenguas regionales y menos extendiditas, DO. 2002 C 177E/334. Además:
Resolución del Parlamento Europeo sobre Protección de las minorías y sobre políticas de lucha contra la
discriminación en la Unión Europea ampliada DO. 2006 C 124E/405.
81 Comunicación de la Comisión de 3 de junio de 2003 sobre inmigración, integración y empleo, COM (2003),
336; Comunicación de la Comisión de 16 de julio de 2004, Primer informe anual sobre migración e integra-
ción, COM (2004) 508.
82 Resolución EU/1035/97 (nota 4).
83 A partir de los documentos accesibles no se desprende una base jurídica. Según la opinión de O. De Schutter
la base es la resolución del Parlamento 2000/2231 de 05.06.2001; O. DE SCHUTTER/V. VAN GOETHEM, The
Fundamental Rights Agency: Towards an Active Rights Policy of the Union, ERA-Forum 2006, pp. 587, 589.
84 Toggenburg (nota 3), p. 187. Vid. Art. 10 de la Resolución 168/2007/CE (nota 2).
240
La Política de Minorías de la Unión Europea: Una Contribución
a la Teoría Jurídica de la Gobernanza Supraestatal
85 Con detalle, S. OETER/A. WALKER, The Case of the Federal Republic of Germany, en: SPILIOPOULOU/ ?KER-
MARK/HUSS/OETER/WALKER (EDS.), International Obligations and National Debates: Minorities around the
Baltic Sea, 2006, pp. 227 y ss.
86 Más explícito, J. BAST, Grundbegriffe der Handlungsformen der EU, 2006, pp. 389 y ss.
87 Qué aspecto podría tomar este asunto lo ha señalado el TJCE en el caso Carpenter. C 60/00 Slg. 2002, I-
06279; en sentido crítico, U. MAGER, Dienstleistungsfreiheit und Schutz des Familienlebens, Anmerkung zu
der Entscheidung EuGH, Rs. 60/00 - Mary Carpenter, JZ 58 (2003), p. 204.
88 Aunque la lucha contra la marginación social junto con la integración de los inmigrantes es una política que
se realiza en el marco del método de coordinación abierta, Ver Conclusiones de la Presidencia del Consejo
Europeo en Lisboa de 24.03.2000.
89 Sobre su primera aplicación, Conclusiones de la Presidencia del Consejo de Europa de Lisboa de 24.03, 2000
(nota 88), núm 7.
241
Armin von Bogdandy
242
La Política de Minorías de la Unión Europea: Una Contribución
a la Teoría Jurídica de la Gobernanza Supraestatal
96 Con más detalle, A. V. BOGDANDY, Supranationaler Föderalismus als Wirklichkeit und Idee einer neuen
Herrschaftsform, 1999, pp. 14 y ss.
97 Así la concepción de la la Comisión en la nota al pie nº 3 del Commission’s Regular Report vom 09.10.2002.
Véase también la respuesta a la cuestión E-2583/01 (Vitorino) OJ C 147 E, 20.06.2002: 28. Igualmente con-
sultar P-0395/02 (Reding), OJ C 160, 04.07.2002: 214. También la jurisprudencia del Tribunal Europeo de
Derechos Humanos apunta a que los derechos de las minorías están comprendidos en el principio demo-
crático, TEDH, Sentencia de 17.02.2004, Gorzelik y otros/Polonia, Nr. 44158/98, número marginal. 57;
TEDH, Sentencia de 13.08.1981, Young, James y Webster/Reino Unido, Nr. 7601/76 y 7806/77, Número
máginal. 63; TEDH (Gran Sala), Sentencia de 29.04.1999, Chassagnou y otros/Francia, Nr. 25088/94,
28331/95 u. 28443/95, número marginal. 112.
98 Véase G. BIAGGINI, Grundlagen und Grundzüge staatlichen Verfassungsrechts: Schweiz, en: V.
BOGDANDY/CRUZ VILLALÓN/HUBER (nota 60), § 10 número marginal. 100; H. DREIER, Grundlagen und
Grundzüge staatlichen Verfassungsrechts: Deutschland, IBID., § 1 número marginal. 110; M. MEDINA
GUERRERO, Grundlagen und Grundzüge staatlichen Verfassungsrechts: Spanien, IBID., § 11 número margi-
nal. 77; TULEJA Grundlagen und Grundzüge staatlichen Verfassungsrechts: Polen, IBID., § 8 número margi-
nal. 62; también P. CRUZ VILLALÓN, Grundlagen und Grundzüge staatlichen Verfassungsrechts: Vergleich,
IBID., § 13 número marginal. 107; L. BESSELINK, Grundlagen und Grundzüge staatlichen Verfassungsrechts:
Niederlande, IBID., § 6 númeto marginal. 125; G. HALMAI, Grundlagen und Grundzüge staatlichen.
243
Armin von Bogdandy
99 Mas próximo al tema, K. HÖCHSTETTER Die offene Koordinierung in der EU, Bestandsaufnahme, Probleme
und Perspektiven, 2007, p. 231 ss.
244
La Protección de los Derechos Humanos
y la Prohibición de la Tortura en Europa y América:
Un Análisis Comparado
Carlos Fernández de Casadevante Romani1
Sumarioo: I. A Modo de Introducción: El Contexto Socio-Historico de las Normas como Modo para Conocerlas Mejor.
II. Examen Comparado del Convenio Europeo de Derechos Humanos (1950) y de la Convención Americana de
Derechos Humanos (1969): Caracteristicas Generales. III. La Lucha contra la Tortura en los Sistemas Regionales
Europeo y Americano: regímenes particulares. IV. Conclusión
245
Carlos Fernández de Casadevante Romani
chos humanos; derechos que habían sido violados gravemente en el suelo europeo por
el régimen nacionalsocialista de la Alemania hitleriana.3
El primer fruto de ese compromiso es precisamente el Convenio europeo de dere-
chos humanos, de 4 de noviembre de 1950,4 que será completado progresivamente por
distintos protocolos adicionales. Unos, modificativos del propio Convenio europeo. Otros,
añadiendo nuevos derechos y libertades al Convenio europeo. Es el caso del Protocolo adi-
cional, de 20 de marzo de 1952,5 del Protocolo nº 4, de 16 de septiembre de 1963,6 del
Protocolo nº 6 relativo a la abolición de la pena de muerte, de 28 de abril de 1983, del
Protocolo nº 7, de 22 de noviembre de 19847, el Protocolo nº 12, de 4 de noviembre de
2000, relativo a la prohibición general de discriminación, y el Protocolo nº 13, de 3 de
mayo de 2002, relativo a la abolición de la pena de muerte en toda circunstancia.8
La Convención americana de derechos humanos, por el contrario, data del 22 de
noviembre de 1969 y no entrará en vigor hasta el 18 de julio de 1978. Con anteriori-
dad, y en el ámbito general o universal de la ONU, habían nacido ya los dos primeros
grandes tratados en materia de derechos humanos: el Pacto Internacional de Derechos
Civiles y Políticos y el Pacto Internacional de Derechos Económicos, Sociales y
Culturales; ambos del XX de diciembre de 1966.
La Convención americana también alude, en su preámbulo, al contexto socio-
histórico. Aunque más joven que el Convenio europeo, la Convención americana
menciona en él tanto la Declaración Universal de Derechos Humanos, de 10 de
diciembre de 1948, como la Declaración americana de los Derechos y Deberes del
Hombre, de 1948. Ahora bien, a diferencia del Convenio europeo, la Convención
3 Este contexto socio-histórico aparece reflejado en el preámbulo del Estatuto del Consejo de Europa:
“Convencidos de que la consolidación de la paz, basada en la justicia y la cooperación internacional, es de
interés vital para la preservación de la sociedad humana y de la civilización; Reafirmando su adhesión a los
valores espirituales y morales que son patrimonio común de sus pueblos y la verdadera fuente de la liber-
tad individual, la libertad política y el imperio del Derecho, principios sobre los cuales se funda toda autén-
tica democracia;” (párrafos tercero y cuarto).
4 Del que son Partes los 47 Estados miembros del Consejo de Europa. Esto es, todos los miembros.
5 Que añade la protección de la propiedad y que protege a la persona de la privación de la propiedad salvo si
la privación se realiza por causa de utilidad pública, en las condiciones previstas por la ley nacional o, en
los caos en que afecte a extranjeros, según los principios generales del Derecho Internacional. En relación
con el Convenio europeo y con este Protocolo, desde la perspectiva de España vid. nuestros trabajos:
“Democracia y Derechos Humanos: una realidad amenazada”, en la obra colectiva, Libro Homenaje al Prof.
J.A. Pastor Ridruejo, Servicio de Publicaciones de la Facultad de Derecho de la Universidad Complutense
de Madrid, Madrid, 2005, pp. 85-100; “El derecho de la democracia a defenderse: la ilegalización de parti-
dos políticos”, en la obra colectiva Soberanía del Estado y Derecho Internacional. Homenaje al Profesor
Juan Antonio Carrillo Salcedo, Servicios de Publicaciones de las Universidades de Córdoba, Sevilla y
Málaga, Sevilla, 2005, Tomo I, pp. 551-567;”Derechos Humanos y orden interno: las consecuencias de la
asunción de obligaciones internacionales”, en la obra colectiva Pacis Artes. Obra Homenaje al Prof. J.D.
González Campos, Universidad Autónoma de Madrid y Eurolex, Madrid, 2005, tomo I, pp. 229-248.
6 Que incluye los siguientes derechos: la prohibición de prisión por deudas, la libertad de circulación, la pro-
hibición de la expulsión de nacionales y la prohibición de las expulsiones colectivas de extranjeros.
7 Que contempla garantías de procedimiento en caso de expulsión de extranjeros, el derecho a indemniza-
ción en caso de error judicial, el derecho a no ser juzgado o castigado dos veces y la igualdad entre esposos.
8 Vid. el texto del Convenio y de los distintos protocolos en www.coe.int.
246
La Protección de los Derechos Humanos y la Prohibición de la Tortura
en Europa y América: Un Análisis Comparado
“Todo acto de tortura u otro trato o pena cruel, inhumano o degradante cons-
tituye una ofensa a la dignidad humana y será condenado como violación de los pro-
pósitos de la Carta de las Naciones Unidas y de los derechos humanos y libertades
fundamentales proclamados en la Declaración Universal de Derechos Humanos”.
9 En efecto, de acuerdo con el art. 2.1 de este Protocolo: “los Estados Partes en este instrumento podrán decla-
rar que se reservan el derecho de aplicar la pena de muerte en tiempo de guerra conforme al derecho inter-
nacional por delitos sumamente graves de carácter militar”.Vid. los textos íntegros en www.oas.org.
10 Esta resolución fue adoptada sin votación. Vid. el texto en HERVADA, J., y ZUMAQUERO, J.M., Textos
Internacionales de Derechos Humanos, Eunsa, Pamplona, 1978, pp. 660-663. Vid. también, COCCIA, M.,
“A controversial declaration on the Convention against Torture”, European Journal of International Law
(EJIL), vol. 1, nº !/2, 1990, pp. 314-335.
247
Carlos Fernández de Casadevante Romani
248
La Protección de los Derechos Humanos y la Prohibición de la Tortura
en Europa y América: Un Análisis Comparado
nales toda vez que el sistema europeo ha sido desarrollado por más protocolos que el
sistema americano. En todo caso, y en relación con esta cuestión, hay que tener en
cuenta que en ambos sistemas regionales los distintos Estados son libres de obligarse
o no por los protocolos (algunos, todos o ninguno) que desarrollan los convenios res-
pectivos. Sobre este particular, la casuística es variada dependiendo, en última instan-
cia, de la voluntad de cada Estado.
International Law, 2000, vol. 32, nº 1, pp. 39-77; TIGROUDJA, H., y PANOUSSIS, I.K., La Cour
Interaméricaine des droits de l’homme. Analyse de la jurisprudence consultative et contentieuse, Bruxelles,
Bruylant, 2003; BURGORGUE-LARSEN, L., Las decisiones básicas de la Corte Interamericana de Derechos
Humanos, Thomson&Civitas, Cizur Menor, 2009.
249
Carlos Fernández de Casadevante Romani
Sobre este particular, la afinidad entre ambos sistemas regionales es total. Tanto
el Convenio europeo como la Convención americana contemplan las tres técnicas de
control clásicas en el Derecho Internacional de los Derechos Humanos:14 los infor-
mes,15 las denuncias interestatales16 y las denuncias individuales.17 La afinidad entre
ambos sistemas regionales es, además, completa ya que la misma también existe en el
modo en el que es concebida la técnica de los informes. En el Derecho Internacional
de los Derechos Humanos esta técnica de control viene impuesta por el propio trata-
do que impone al Estado la obligación de presentar periódicamente, al órgano inter-
nacional de control previsto por el propio tratado, un informe indicando las medidas
que ha adoptado para cumplir con las obligaciones que ha contraído al ratificar el tra-
tado en cuestión. En los sistemas regionales europeo y americano, sin embargo, la téc-
nica de control de los informes está concebida de otro modo: en ambos sistemas tales
informes sólo deben presentarse a petición del Secretario General del Consejo de
Europa (en el caso del Convenio europeo18) o a petición de la CIDH (en el caso del
sistema americano19).
14 Sobre este particular vid. C. Fernández de Casadevante Romani, Derecho Internacional de los Derechos
Humanos, obra colectiva coordinada, Ed. Dilex, 3ª ed., Madrid, 2007.
15 Cf., respectivamente, arts. 52 y 43.
16 Cf., respectivamente, arts. 34 y 45.
17 Cf., respectivamente, arts. 35 y 44.
18 Sobre este particular, el art. 52 dice: “A requerimiento del Secretario general del Consejo de Europa, toda
Alta Parte Contratante suministrará las explicaciones pertinentes sobre la manera en que su derecho inter-
no asegura la aplicación efectiva de cualesquiera disposiciones de este Convenio”.
19 Sobre este particular, el art. 43 dice: “Los Estados Partes se obligan a proporcionar a la Comisión las infor-
maciones que ésta les solicite sobre la manera en que su derecho interno asegura la aplicación efectiva de
cualesquiera disposiciones de esta Convención”.
250
La Protección de los Derechos Humanos y la Prohibición de la Tortura
en Europa y América: Un Análisis Comparado
Sobre este particular, ambos sistemas regionales comparten los mismos rasgos: el
carácter obligatorio de las sentencias del TEDH y de la Corte IDH y el carácter defi-
nitivo de las mismas. Lo que me interesa destacar aquí es el modo en el que ambos tra-
tados conciben la ejecución de las sentencias de los respectivos tribunales. El
Convenio europeo de derechos humanos encomienda la tarea de la ejecución de las
sentencias a un órgano político: el Comité de Ministros del Consejo de Europa.20 La
Convención americana no atribuye la ejecución a ningún órgano en concreto, limi-
tándose a precisar que los Estados Partes se comprometen a cumplir la sentencia de la
Corte IDH en todo caso en que sean partes.21 Ahora bien, a diferencia del sistema
europeo, la Convención americana contiene una precisión de gran utilidad en orden
a dotar de eficacia a las sentencias de la Corte IDH en el orden interno de los Estados
Partes. En efecto, de conformidad con el art. 68.2 de la Convención americana:
20 De conformidad con el art. 46, que dice: “1. Las Altas Partes Contratantes se comprometen a acatar las sen-
tencias definitivas del Tribunal en los litigios en que sean partes. 2. La sentencia definitiva del Tribunal será
transmitida al Comité de Ministros, que velará por su ejecución”.
21 De conformidad con el art. 68.1, que dice: “1. Los Estados Partes en la Convención se comprometen a cum-
plir la decisión de la Corte en todo caso en que sean partes”.
251
Carlos Fernández de Casadevante Romani
22 Es el caso del Pacto Internacional de Derechos Civiles y Políticos de 16 de diciembre de 1966 que contie-
ne la prohibición de la tortura en el art. 7.
23 Sobre la prohibición de la tortura en Derecho Internacional vid. in extenso mi trabajo “Régimen Jurídico
Internacional de la Lucha contra la Tortura”, en Derecho Internacional de los Derechos Humanos, op. cit.,
pp. 299-367.
252
La Protección de los Derechos Humanos y la Prohibición de la Tortura
en Europa y América: Un Análisis Comparado
Ahora bien, esta técnica de control que se impone a todo Estado que sea Parte en
la Convención puede ser objeto de reserva. En efecto, de conformidad con el art. 28:
253
Carlos Fernández de Casadevante Romani
27 Sobre este convenio, en la doctrina iusinternacionalista española, vid. RUILOBA ALVARIÑO, J., El
Convenio europeo para la Prevención de la Tortura y de las Penas o Tratos Inhumanos o Degradantes, de
26 de noviembre de 1987. Su aplicación en España, Dykinson, Madrid, 2005.
254
La Protección de los Derechos Humanos y la Prohibición de la Tortura
en Europa y América: Un Análisis Comparado
28 Art. 2. Las visitas que pueden ser de dos tipos: periódicas y ad hoc (puntuales, para una situación concreta).
La procedencia de estas últimas la determina el propio CPT. Sobre el CPT vid. KELLY, M., “Perspectives
from the European Committee for the Prevention of Torture and Inhuman or Degrading Treatment or
Punishment” (CPT), HRLJ, vol. 21, nº 8, November 2000, pp. 301-306.
29 El art. 9 contempla la posibilidad de que en circunstancias excepcionales el Estado Parte pueda formular al
CPT objeciones a la visita en el momento determinado por el Comité o al lugar determinado que éste tiene
la intención de visitar. Tales objeciones sólo pueden hacerse por motivos de defensa nacional o de seguri-
dad pública o a causa de disturbios graves en los lugares donde se encuentren las personas privadas de liber-
tad, del estado de salud de una persona o de un interrogatorio urgente en una investigación en curso, en
relación con una infracción penal grave. Sin embargo, el Estado está obligado a tomar las medidas necesa-
rias para permitir la visita. Por ejemplo, trasladando a la persona que el CPT desea visitar a otro lugar en el
que la entrevista sea posible.
30 Art. 10, párrafos 1 y 2.
255
Carlos Fernández de Casadevante Romani
propio CPT el que determina si las condiciones de la detención en cuestión son con-
formes o no con las obligaciones derivadas del propio Convenio.
El segundo bloque de obligaciones tiene por objeto la cooperación con el CPT,
con el fin de aplicar el Convenio.
Como ya he señalado, la Convención Interamericana para la prevención y casti-
go de la tortura, de 9 de diciembre de 1985, se sitúa más en la línea de la Convención
de las Naciones Unidas contra la tortura y otros tratos o penas crueles, inhumanos o
degradantes, de 10 de diciembre de 1984, estableciendo una definición de tortura y
un conjunto de obligaciones convencionales a cargo de los Estados Partes aunque, a
diferencia de esta, carece de órgano internacional de control y de técnicas de control.
Respecto a las obligaciones que contiene, el art. 1 impone la obligación de preve-
nir y castigar la tortura con arreglo a los términos de la propia Convención. A diferen-
cia de la Convención de las Naciones Unidas, la Convención Interamericana desglosa
la definición de tortura en dos artículos: en el art. 2, párrafo primero, define el concep-
to de “tortura”. En el art. 3 precisa que ese comportamiento tiene que haber sido come-
tido por funcionario público o a instigación suya.31 Como aquella, la Convención
Interamericana tampoco admite causas de justificación del crimen de tortura.32
Aunque la Convención Interamericana no contenga órgano internacional de con-
trol ni técnicas de control, no por ello carece de relevancia pues los Estados Partes asu-
men un catálogo de obligaciones concretas. Es el caso de las recogidas en los arts. 6 a
17. Entre ellas, la obligación de adoptar medidas efectivas para prevenir y castigar la
tortura dentro de la jurisdicción del Estado. Esta obligación implica tanto tipificar el
delito de tortura y la tentativa con penas severas como adoptar medidas efectivas para
prevenir y castigar otros tratos o penas crueles, inhumanos o degradantes dentro de la
jurisdicción del Estado Parte.33 Asimismo, la obligación de adoptar medidas para que
en la formación de los oficiales de policía y otros oficiales públicos responsables de la
custodia de personas temporal o definitivamente privadas de su libertad, se haga espe-
cial énfasis en la prohibición del uso de la tortura en interrogatorios, detenciones o
arrestos e, igualmente, para prevenir otros tratos o penas crueles, inhumanos o degra-
dantes.34 Igualmente, la obligación de garantizar el derecho a un examen imparcial del
caso de cualquier persona que realice una acusación de haber sido sometido a tortura
dentro de su jurisdicción y que las autoridades respectivas procedan de oficio inmedia-
tamente a investigar el asunto iniciando, en su caso, el proceso penal correspondien-
te;35 la obligación de incorporar al ordenamiento nacional normativa que garantice la
compensación adecuada a las víctima de tortura, sin que esto afecte al derecho de la
31 Concepción que también recoge la definición contenida en el art. 1 de la Convención de las Naciones
Unidas contra la tortura.
32 Cf. los arts. 4 y 5.
33 Cf. el art. 6.
34 Cf. el art. 7.
35 Cf. el art. 8.
256
La Protección de los Derechos Humanos y la Prohibición de la Tortura
en Europa y América: Un Análisis Comparado
36 Cf. el art. 9.
37 Cf. el art. 10.
38 Sobre este particular cf. los arts. 11 a 14 de la presente Convención.
39 Cf. el art. 21.
40 Art. 21.
257
Carlos Fernández de Casadevante Romani
41 De conformidad con el art. 17.3, se excluyen de la visita por el CPT los lugares que los representantes o
delegados de potencias protectoras o del Comité Internacional de la Cruz Roja visiten efectiva y regular-
mente en virtud de los Convenios de Ginebra de 12 de agosto de 1949 y de sus Protocolos Adicionales de 8
de junio de 1977.
258
La Protección de los Derechos Humanos y la Prohibición de la Tortura
en Europa y América: Un Análisis Comparado
“3. Después de haber agotado todos los procedimientos legales y las corres-
pondientes apelaciones del Estado en cuestión, el asunto puede ser sometido al
foro internacional cuya competencia ha sido reconocida por ese Estado”.
A primera vista, la remisión que realiza el art. 8.3 resulta llamativa. Sin embargo,
todo tiene su explicación. En efecto, como recuerda la propia Corte IDH, el origen de
este art. 8.3 reside en el hecho de que “como todavía existían algunos países miembros
de la Organización de los Estados Americanos que no eran Partes en la Convención
americana y no habían aceptado la competencia de la Corte, los redactores de la
Convención contra la Tortura decidieron no incluir en ésta un artículo que hiciera
referencia expresa y exclusiva a la Corte Interamericana para no vincularlos indirecta-
mente a la primera de dichas Convenciones y al órgano jurisdiccional mencionado”.42
En consecuencia, la Convención Interamericana para la prevención y castigo de
la tortura, de 9 de diciembre de 1985, carece de técnicas propias de control limitán-
dose a hacer una remisión a aquellas que hubiera podido aceptar el Estado en cuestión
en el marco de otros tratados internacionales de derechos humanos.
42 Organization of American States, Permanent Council, Report of the Committee on juridical and Political
Affairs on the Draft Convention Defining Torture as an International Crime, OEA/Ser. G cp/doc. 1524/84,
18 October 1984, Original: Spanish, Appendix VIII, p. 61 y Appendix IX, p. 71. Citado por la Corte IDH en
su Sentencia de 19 de noviembre de 1999 (Fondo), Caso de los “Niños de la Calle” (Villarán Morales y otros)
Vs. Guatemala, parágrafo 247.
259
Carlos Fernández de Casadevante Romani
43 Compuesto por un número de miembros igual al de los Estados Partes en el Convenio (cf. a este respecto el
art. 4). Los miembros del CPT son elegidos por el Comité de Ministros del Consejo de Europa por mayoría
absoluta de votos, sobre una lista de nombres establecida por la mesa de la Asamblea Consultiva del Consejo
de Europa; la delegación nacional de cada Parte en la Asamblea Consultiva presenta tres candidatos de los
cuales al menos dos son de su nacionalidad (cf. el art. 5).
44 Art. 7.1.
45 En el cumplimiento de su tarea el CPT está guiado por los tres principios siguientes: 1. la prohibición de
malos tratos a personas privadas de libertad reviste un carácter absoluto; 2. los fundamentos sobre los cua-
les reposa todo comportamiento civilizado hacen repugnar los malos tratos, incluso los que revisten las for-
mas más moderadas; 3. los malos tratos no perjudican sólo a la víctima sino que también son degradantes
para todo responsable que los inflige o autoriza (cf. a sobre este particular CPT/Inf (1991), p. 3. También
nuestro trabajo Derecho Internacional de los Derechos Humanos, op. cit., pp. 334-339. En esta misma obra,
la situación de España en relación con este Convenio en pp. 339-350).
260
La Protección de los Derechos Humanos y la Prohibición de la Tortura
en Europa y América: Un Análisis Comparado
de técnicas propias de control limitándose su art. 8.3 a remitir “al foro internacional
cuya competencia ha sido reconocida por ese Estado”.46
El resultado de esta construcción contenida en el art. 8.3 de la Convención
Interamericana para Prevenir y Sancionar la Tortura es que la misma es irrelevante
para todos aquellos Estados que ya son Partes en la Convención Americana (que tam-
bién prohíbe la tortura) pues, aunque aquellos no hubieran aceptado la jurisdicción
facultativa de la Corte IDH, por el mero hecho de ser Estados Partes en la Convención
Americana, están ya sometidos a la competencia de la Comisión IDH respecto de las
demandas individuales, por lo que el recurso a estas es posible.
Del mismo modo, como es lógico, también es irrelevante para aquellos Estados
que ni son Partes en la Convención Americana ni lo son en la Convención
Interamericana para la prevención y castigo de la tortura ni han aceptado la compe-
tencia de ningún órgano internacional de control previsto en otros tratados interna-
cionales de derechos humanos que contienen la prohibición de la tortura. Su situación
a este respecto nada cambia.47
Para quienes sí tendría consecuencias la ratificación de la citada Convención
Interamericana para la prevención y castigo de la tortura es para aquellos Estados que
no son Parte de la Convención Americana. En este supuesto, tales Estados estarían
vinculados por las obligaciones internacionales que les impone la Convención
Interamericana para la prevención y castigo de la tortura aunque, eso sí, no podrían
ser objeto de ninguna técnica de control prevista por la Convención Americana que-
dando únicamente la hipótesis de que esos Estados hubieran aceptado la competencia
de órganos internacionales de control previstos bien por la Convención de la ONU, de
1984, contra la tortura, bien por el Protocolo Facultativo al Pacto Internacional de
Derechos Civiles y Políticos, de 16 de diciembre de 1966. Si no hubieran aceptado
ninguno de ellos, el control internacional no sería posible aunque el Estado en cues-
tión sí estaría vinculado por las obligaciones internacionales que les impone la
Convención Interamericana para la prevención y castigo de la tortura. Menos es nada.
261
Carlos Fernández de Casadevante Romani
IV. Conclusión
48 Ya que estos Estados tampoco son Partes ni en el Protocolo Facultativo al Pacto Internacional de Derechos
Civiles y Políticos de 1966 ni en la Convención de la ONU, de 1984, contra la Tortura. En consecuencia no
están sometidos a la competencia de los órganos de control previstos en ambos tratados. Como ya he señala-
do, se trata de los Estados siguientes: Antigua y Barbuda, Bahamas, Belice, Estados Unidos de América,
Guyana, San Kitts y Newis, Santa Lucía, y Trinidad y Tobago. Canadá y San Vicente y Granadinas no son Parte
en la Convención Americana pero sí en el Protocolo Facultativo al Pacto. Ninguno de estos 10 Estados es Parte
en la Convención Interamericana para la prevención y castigo de la tortura, de 9 de diciembre de 1985.
262
La Protección de los Derechos Humanos y la Prohibición de la Tortura
en Europa y América: Un Análisis Comparado
cia del Convenio europeo de derechos humanos (que concebía a la Comisión Europea
de Derechos Humanos con competencia facultativa tanto respecto de las denuncias
interestatales como de las denuncias individuales), en la Convención Americana de
derechos humanos la competencia de la Comisión IDH es obligatoria para todos los
Estados Partes en relación con las denuncias individuales. Como es sabido, el
Protocolo nº 11 al Convenio europeo de derechos humanos modificó el sistema euro-
peo suprimiendo la Comisión Europea de Derechos Humanos y configurando al
TEDH con jurisdicción obligatoria. La Convención Americana no ha sido modificada.
Únicamente ha sido completada por otros dos tratados: el Protocolo adicional en
materia de derechos económicos, sociales y culturales, de 17 de noviembre de 1988, y
el Protocolo relativo a la abolición de la pena de muerte, adoptado el 8 de junio de
1990, que, en realidad, no la suprime pues, la permite en tiempo de guerra
En lo demás, ambos tratados internacionales son muy semejantes si bien desta-
caría como aspectos positivos de la Convención Americana (frente al Convenio euro-
peo) las precisiones y matices que contiene en relación con la regla del agotamiento
previo de los recursos internos, así como lo dispuesto en el art. 68.2 en el sentido de
que la parte del fallo que disponga indemnización compensatoria se podrá ejecutar en
el respectivo país por el procedimiento interno vigente para la ejecución de senten-
cias contra el Estado. Estimo que esta disposición es muy útil y facilita la ejecución de
la sentencia de la Corte IDH a los efectos de la indemnización compensatoria que la
misma contenga.
El Convenio europeo de derechos humanos carece de una disposición de ese
tipo, lo que plantea problemas a la hora de la ejecución de las sentencias del TEDH en
los ordenamientos internos de los Estados Partes.
En lo que a la lucha contra la tortura se refiere, las similitudes entre ambos sis-
temas regionales desaparecen. De un lado, en cuanto al objetivo que persigue cada
uno de los tratados. De otro, en cuanto al modo en que se proponen combatirlo. Así,
respecto del objetivo, mientras que el Convenio europeo para la prevención de la tor-
tura y de las penas o tratos inhumanos o degradantes, se centra en la prevención (tra-
tando de evitar la tortura y las penas o tratos inhumanos o degradantes), la
Convención Interamericana para la prevención y castigo de la tortura, de 9 de diciem-
bre de 1985, se sitúa –a pesar de su título- más en la línea de la represión si bien los
mecanismos represores apenas existen, pues no existen ni órgano internacional de
control ni técnicas de control.
Respecto del modo en el que ambos tratados se proponen combatir la tortura y
las penas o tratos inhumanos o degradantes, mientras que el Convenio europeo crea
un órgano internacional de control (el CPT) y cuenta con una técnica de control (el
sistema de visitas a los centros de detención), la Convención Interamericana –deudo-
ra de las reticencias de los Estados Americanos respecto de la jurisdicción de la Corte
IDH- carece de órgano internacional de control y técnicas de control. No los tiene
porque de lo contrario la Convención no hubiera nacido. De ahí que la remisión que
263
Carlos Fernández de Casadevante Romani
264
La Drittwirkung de los Derechos
Fundamentales de la Unión Europea
Juan Ignacio Ugartemendia Eceizabarrena1
Sumarioo: I. Introducción II. La expresión “Derechos Fundamentales de la Unión Europea” III. La eficacia horizontal
de los DFUE
I. Introducción
Estas páginas que ahora se presentan tienen como finalidad reflexionar sobre la
posible influencia o eficacia horizontal que despliegan los Derechos Fundamentales
de la Unión Europea (DFUE).
El punto de partida de este análisis reside en la idea de que los DFUE, al igual
que los reconocidos por otros sistemas iusfundamentales, son susceptibles de generar
tanto una eficacia vertical como otra de carácter horizontal. Si aquella, la vertical, es
la eficacia que suelen esgrimir o blandir frente al poder público, funcionando como
límites de la actuación de ese poder, ésta, la eficacia horizontal, que es la que aquí
interesa, es la que desarrollan esos derechos en las relaciones entre particulares o fren-
te a terceros (Drittwirkung).
El planteamiento del análisis es muy simple. Describiré, en primer lugar, el sen-
tido conceptual con el que se va a utilizar el sintagma “Derechos Fundamentales de la
Unión Europea” así como la eficacia vertical que desarrollan esos derechos, para abor-
dar posteriormente una breve exposición del fenómeno de la eficacia horizontal de los
mismos.
1 Profesor Titular de Derecho Constitucional de la Universidad del País Vasco UPV/EHU. Este trabajo ha sido
desarrollado en el marco de la dinámica del Grupo de Investigación Consolidado de la UPV dedicado al
tema de los “Derechos Fundamentales y Unión Europea” (GIC07/86-IT-448-07), siendo también fruto de
una estancia de investigación en el Max-Planck-Institut für ausländisches öffentliches Recht und
Völkerrecht (Heidelberg).
265
Juan Ignacio Ugartemendia Eceizabarrena
2 La expresión “derecho fundamental” según la Constitución española (CE) de 1978 recibe diversas acepcio-
nes, principalmente dos, las cuáles reposan sobre una idea común: los derechos fundamentales son derechos
reconocidos por la Constitución (derechos constitucionales, prelegislativos) y garantizados en cuanto tales
por ella (art. 53.1 CE). La distinción entre ambas acepciones reside en que la primera entiende que no todos
los derechos constitucionales son derechos fundamentales, solo los derechos constitucionales más fuerte-
mente protegidos por la Constitución (derechos del Tit. I, Cap. II, Sec. 1 CE). Por su parte, la segunda con-
cepción sostiene que todos los derechos constitucionales son fundamentales porque todos ellos están con-
figurados por el Constituyente (con carácter previo a todo poder constituido) y se imponen y protegen
como tales frente al Legislador.
3 Al respecto, por ejemplo, L.M. DÍEZ-PICAZO, Sistema de derechos fundamentales, Civitas, Madrid, 2008,
3ª ed. El hecho es que entre los “derechos fundamentales” y los “derechos humanos” existe una bastante
intensa relación de comunicación. Y ello, como recuerda la doctrina especializada (p.e. ibid., p. 38), al
menos por las siguientes razones: por una parte, la tendencial identidad entre los valores protegidos, esto
es, en las “pretensiones” en que consisten unos y otros; y por otra, la creciente internacionalización de la
protección de los derechos. Esta interrelación resulta particularmente clara en el ámbito regional europeo,
ámbito en el que se da una aplicación cada día más intensa del ya mencionado Convenio Europeo de
Derechos Humanos ó CEDH. “De ahí que, al menos en Europa, lo más correcto sea afirmar que unos mis-
mos derechos son protegidos por distintos ordenamientos (internacional, comunitario, interno); ordena-
266
La Drittwirkung de los Derechos Fundamentales de la Unión Europea
Es importante tener en cuenta que cada uno de esos tres ordenamientos jurídi-
cos (Internacional, de la Unión Europea, y el de cada Estado miembro de la Unión)
tiene previsto, como no podía ser menos, un sistema normativo y jurisdiccional pro-
pio para la defensa de los derechos reconocidos, un sistema con sus normas y órganos
diferenciados (por ejemplo, la institución encargada de la defensa del CEDH es el
Tribunal Europeo de Derechos Humanos o TEDH, con sede en Estrasburgo; el defen-
sor de los derechos fundamentales nacionales –pongamos por caso, en España- lo será
el Juez nacional y, en última instancia, el Tribunal Constitucional; y por su parte, las
instancias que actúan como garantes jurisdiccionales de los derechos fundamentales
reconocidos por el ordenamiento jurídico de la Unión Europea: el Tribunal de Justicia
de las Comunidades Europeas o TJCE, con sede en Luxemburgo, y también el Juez
nacional, esto es, el Juez de cada Estado miembro). Y obviamente, cada uno de los tres
ordenamientos iusfundamentales de los que venimos hablando tiene su propio ámbi-
to de aplicación. Los derechos fundamentales nacionales actúan en el ámbito estatal.
Y los “derechos humanos” rigen también, como es sabido, en el ámbito estatal, pero
de forma subsidiaria a la tutela estatal, a la ofrecida por los derechos fundamentales
nacionales. Por su parte, el ámbito de aplicación de los Derechos Fundamentales de la
UE se identifica como aquella esfera o conjunto de actuaciones consistentes en la crea-
ción o aplicación del Derecho Comunitario o del primer pilar de la Unión así como
del Derecho relativo al Tercer Pilar (el de la Cooperación Policial y Judicial en mate-
ria Penal). Dicho de otra manera, los DFUE vinculan tanto la actuación de las institu-
ciones comunitarias en el primer y tercer pilar, así como la actuación estatal de apli-
cación4 de ese Derecho de la Unión.5 6
mientos que por perseguir unos mismos fines en un mismo espacio, están llamados a colaborar. Esta con-
clusión, por lo demás, es inevitable en España, donde el art. 10.2 CE obliga a interpretar las normas consti-
tucionales sobre derechos fundamentales ‘de conformidad con la Declaración Universal de Derechos
Humanos y los tratados y acuerdos internacionales sobre las mismas materias ratificados por España’” (entre
ellos, obviamente, el CEDH)
4 La jurisprudencia del TJCE que “inaugura” con claridad esta expansión de los DFUE al ámbito nacional (esto
es, a que vinculen, además de la actuación institucional comunitaria, la actividad de los poderes del Estado
cuando actúan aplicando el Derecho comunitario) es la que comienza a concretarse a partir de las senten-
cias WACHAUF, de 13 de julio de 1989 y ERT, de 18 de junio de 1991.
5 La vinculación de los DFUE sobre la actividad institucional y estatal relativa al tercer pilar es muy recien-
te [Cfr. SSTJCE: PUPINO, de 16 de junio de 2005, C-105/03 (respecto a la vinculación de la actividad esta-
tal que entra en el radio de acción del tercer pilar); y ADVOCATEN VOOR DE WERELD, de 3 de mayo
de 2007, C-303/05 apdos. 45-47 (respecto a la vinculación iusfundamental de la actividad institucional en
el tercer pilar)], y además de una intensidad menor que la que se produce en el pilar comunitario, pues
menos intenso es también el control jurisdiccional que puede desplegar el TJCE al respecto (Sobre la cues-
tión, por todos, R. ALONSO GARCÍA, Sistema Jurídico de la Unión Europea, Thomson-Civitas, Madrid,
2007, pp. 181 y ss. y 264 y ss.).
6 La actuación del poder público en el segundo pilar o pilar PESC (Política Exterior y Seguridad Común)
debería estar también sometida a los DFUE –el artículo 6 TUE no discrimina o discierne entre pilares a efec-
tos del debido respeto a los DFUE; pero no existe, al menos de momento, competencia jurisdiccional euro-
pea para asegurar dicha vinculatoriedad.
267
Juan Ignacio Ugartemendia Eceizabarrena
Para dejarlo claro desde un inicio, conviene señalar que entenderé la expresión
“Derechos Fundamentales de la Unión Europea” en un sentido amplio o muy amplio,
englobando dos tipos de pretensiones jurídicas subjetivas:
Por una parte, utilizaré dicho sintagma para referirme a los derechos fundamen-
tales que la jurisprudencia del TJCE viene identificando y reconociendo como parte de
los principios generales del Derecho comunitario.7 Se trata, como es sabido, de una
268
La Drittwirkung de los Derechos Fundamentales de la Unión Europea
269
Juan Ignacio Ugartemendia Eceizabarrena
10 La Carta, proclamada solemnemente por parte del Parlamento Europeo, el Consejo y la Comisión el 12 de
diciembre de 2007 (víspera de la firma del Tratado de Lisboa), fue publicada en el DO de la UE el 14 de
diciembre del mismo año: 2007/C 303/01; puede consultarse en: http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/
LexUriSer.do?uri=OJ:C:2007:303:0001:0016:ES:PDF. Al respecto, entre otros: R. ALONSO GARCÍA y D.
SARMIENTO, La Carta de los Derechos Fundamentales de la Unión Europea. Explicaciones, concordancias
y jurisprudencia, Thomson/Civitas, Madrid, 2006; A. MANGAS MARTÍN (Dir.), Carta de los Derechos
Fundamentales de la Unión Europea. Comentario artículo por artículo, Fundación BBVA, Bilbao, 2008.
11 Según el artículo 6.3 del reformado TUE: “Los derechos fundamentales que garantiza el Convenio Europeo
para la Protección de los Derechos Humanos y de las Libertades Fundamentales y los que son fruto de las
tradiciones constitucionales comunes a los Estados miembros formarán parte del Derecho de la Unión como
principios generales.”
12 En cualquier caso, a la espera de la mencionada ratificación de la reforma de Lisboa, la situación actual, a
efectos de reconocimiento y garantía de los derechos fundamentales de la Unión Europea, sigue estando
regida por el, si se me permite la expresión, “Catálogo jurisprudencial de los derechos fundamentales de la
UE”, esto es, por el “catálogo” elaborado caso por caso por la Jurisprudencia del Tribunal de Justicia de
Luxemburgo (TJCE) al respecto. En otras palabras, a pesar de que podemos contar con una flamante “Carta
de los derechos fundamentales de la UE” proclamada en Niza (pero solo a título declarativo, no jurídica-
mente vinculante), una Carta que fue incorporada a una “Constitución Europea” (pero una Constitución
que no llegó a “nacer”), una Carta que, según prevé la reforma de Lisboa, puede alcanzar el mismo valor o
eficacia jurídica vinculante que los Tratados (si el Tratado de reforma aprobado en Lisboa es ratificado por
todos los estados), la verdad es que todavía, a efectos prácticos, la protección normativamente vinculante
de los derechos fundamentales de la UE es la que sigue estando fundamentada y organizada desde aquella
jurisprudencia del TJCE. Por cierto, es interesante señalar en este contexto y con referencia a las mencio-
nes que venimos haciendo al CEDH, que la reforma que Lisboa hace al TUE no sólo pretende dar valor jurí-
dico (mediante la remisión hecha en el artículo 6.1 TUE) a la Carta de de los derechos fundamentales de
Niza, sino que además (en el art. 6.2 TUE) establece, de forma idéntica al arriba mencionado art. I-9.2 del
Tratado Constitucional, que: “La Unión se adherirá al Convenio Europeo para la protección de los Derechos
Humanos y de las Libertades Fundamentales. Esta adhesión no modificará las competencias de la Unión que
se definen en los Tratados”.
13 “Libre circulación de mercancías” (arts. 23-31 TCE); “Libre circulación de personas, servicios y capitales”
(arts. 39-60 TCE).
14 Véase el artículo 141.1 TCE (prohibición de discriminación salarial por razón de sexo); y también el art. 13
TCE (el cual establece una base jurídica para la adopción por el Consejo –por unanimidad- de actuaciones
normativas destinadas a combatir las discriminaciones –por motivos de sexo, de origen racial o étnico, reli-
gión o convicciones, discapacidad, edad u orientación sexual– allí enunciadas).
270
La Drittwirkung de los Derechos Fundamentales de la Unión Europea
15 Sobre la polémica doctrinal respecto a la ubicuidad dogmática de estos derechos públicos subjetivos, espe-
cialmente de las libertades fundamentales: X. ARZOZ SANTISTEBAN, “La relevancia del Derecho de la
Unión Europea para la interpretación de los derechos fundamentales constitucionales” (Revista Española de
Derecho Constitucional, 74, 2005, pp. 63 y ss., espec. 70 y ss.).
16 Véase el artículo 21, relativo a la “no discriminación”; o los derechos del capítulo V, referido a la
“Ciudadanía” (arts. 39-46). Vale la pena recordar también al respecto el dictado del artículo 52.2 de la Carta
cuando señala que “los derechos reconocidos por la presente Carta que constituyen disposiciones de los
Tratados se ejercerán en las condiciones y dentro de los límites determinados por éstos”.
17 Un ejemplo de alusión del TJCE a los principios generales como fuente de legalidad de la actuación comu-
nitaria en STJCE BRASSERIE DU PÉCHEUR Y FACTORTAME (“Factortame IV”), de 5 de marzo de 1996,
asuntos acumulados C-46 y 48/93, pp. 1029, apdos. 24-30. En relación al respeto de los derechos fundamen-
tales (en cuanto prinicipios generales del Derecho comunitario) como «un requisito para la legalidad de los
actos comunitarios»: apartados 33 y 34 del ya mencionado Dictamen 2/94 del TJCE, de 28 de marzo de 1996.
En idéntico sentido, por ejemplo, SSTJCE: X v. COMISION, de 5 de octubre de 1994, C-404/92, apdos. 17-
25; GRANT, de 17 de febrero de 1998, C-249/96, pp. 621 y ss., apdo. 45; o el asunto KADI (de 3 de septiem-
bre de 2008, asuntos acumulados C-402/05 P y 415/05 P, apdo. 284)], sentencia en la que, además, el TJCE
ha reconocido el carácter de “principio constitucional del Tratado CE” al hecho de que “todos los actos
comunitarios deben respetar los derechos fundamentales, y que el respeto de esos derechos constituye un
requisito de legalidad de dichos actos, cuyo control incumbe al Tribunal de Justicia, en el marco del siste-
ma completo de vías de recurso establecido por dicho Tratado” (apdo. 285).
18 “Los principios de protección de la confianza legítima y de seguridad jurídica forman parte del ordenamien-
to jurídico comunitario. Por esta razón, deben ser respetados por las instituciones comunitarias y también
271
Juan Ignacio Ugartemendia Eceizabarrena
por los Estados miembros en el ejercicio de los poderes que les confieren las directivas” (STJCE ELMEKA NE,
de 14 de septiembre de 2006, asuntos acumulados C-181 a 183/04, apdo. 31; en sentido similar, las SSTJCE:
STICHTING “GOED WONEN”, de 26 de abril de 2005, C-376/02, p. 3445, apdo. 32; MARKS & SPENCER PLC,
de 11 de julio de 2002, C-62/00; BELGOCODEX, de 3 de diciembre de 1998, C-381/97, p. 8153, apdo. 26).
19 Véanse, por ejemplo, las sentencias: JOHNSTON, de 15 de mayo de 1986, 222/84 (control jurisdiccional
efectivo en el contexto del «requisito profesional» como justificación para una diferencia de trato entre
hombres y mujeres); WACHAUF, de 13 de julio de 1989, C-5/88 (derecho a la propiedad en el contexto de
la organización común de mercados en el sector de la leche y de los productos lácteos); o CARPENTER, de
11 de julio de 2002, C-60/00 (derecho al respeto de la vida familiar en el contexto de una restricción poten-
cial a la libre prestación de servicios). Para un estudio comparado de los Derechos Fundamentales econó-
micos (reconocidos por el Derecho comunitario vs. USA a nivel federal) como límites a la actividad de los
Estados (miembros de la Unión / federados) véase: T. DE LA QUADRA SALCEDO JANINI, Unidad econó-
mica y descentralización política, Tirant lo Blanch, Valencia, 2004.
20 Sentencia RODRÍGUEZ CABALLERO, de 12 de diciembre de 2002, C-442/00, apdos. 30-32. Otros casos de
control de la compatibilidad con el principio general de igualdad de disposiciones nacionales adoptadas al
ejecutar un acto comunitario, en concreto, reglamentos, pueden verse en las sentencias: KLENSCH y otros,
de 25 de noviembre de 1986, asuntos acumulados 201/85 y 202/85, apdos. 9-10; GRAFF, de 14 de julio de
1994, C-351/92, apdos. 15-17; y EARL DE KERLAST, de 17 de abril de 1997, C-15/95, apdos. 35-40.
21 Véanse, por ejemplo, las sentencias: GRAVIER, de 13 de febrero de 1985, C-293/83 (acceso a la formación
profesional); BLAIZOT, de 2 de febrero de 1988, C-24/86 (acceso a la educación universitaria); COMISIÓN
c. BÉLGICA de 27 de septiembre de 1988, C-42/87 (asignación por escolaridad); PHIL COLLINS, de 20 de
octubre de 1993, C-92/92 y C-326/92 (derechos de propiedad intelectual); o DATA DELECTA Y FORS-
BERG, de 26 de septiembre de 1996, C-43/95 (procedimiento judicial).
22 Sobre los efectos jurídicos que la misma está ya generando, aun careciendo de fuerza jurídica vinculante: R.
ALONSO GARCÍA y D. SARMIENTO, La Carta de los Derechos Fundamentales de la Unión Europea.., op.
cit., pp. 50 y ss. y 461 y ss.; véase también las Conclusiones de la Abogado General Verica Trstenjak, pre-
sentadas el 3 de mayo de 2007, C-62/06, espec. apdo. 43.
23 No obstante, el TJCE seguiría, como ahora, careciendo de competencia para controlar las disposiciones rela-
tivas al segundo pilar (PESC) así como sobre los actos adoptados sobre la base de éstas (primer párrafo del
272
La Drittwirkung de los Derechos Fundamentales de la Unión Europea
art. 275 TFUE, leído desde la reforma de Lisboa), de forma que no habría manera de contrastar juris-
diccionalmente su conformidad con respecto a los DFUE, con la excepción (y esto sí es una novedad
respecto a la situación vigente) de lo establecido en el segundo apartado de dicho artículo acerca de
que, “no obstante, el Tribunal de Justicia será competente para [...] pronunciarse sobre los recursos
interpuestos en las condiciones contempladas en el párrafo cuarto del artículo 263 del presente Tratado
y relativos al control de la legalidad de las decisiones adoptadas por el Consejo en virtud del capítulo
2 del título V del Tratado de la Unión Europea por las que se establezcan medidas restrictivas frente a
personas físicas o jurídicas”.
24 Cfr. STJCE BRASSERIE DU PÉCHEUR Y FACTORTAME (“Factortame IV”), 5 de marzo de 1996, asuntos
acumulados C-46 y 48/93, pp. 1029, apdos. 24-30. En relación al respeto de los derechos fundamentales (en
cuanto prinicipios generales del Derecho comunitario) como «un requisito para la legalidad de los actos
comunitarios»: apartados 33 y 34 del ya mencionado Dictamen 2/94 del TJCE, de 28 de marzo de 1996. En
idéntico sentido, por ejemplo, SSTJCE: STJCE X v. COMISION, de 5 de octubre de 1994, C-404/92, apdos.
17-25; GRANT, de 17 de febrero de 1998, C-249/96, pp. 621 y ss., apdo. 45.
25 STJCE TÖPFER v. COMISIÓN, 3 de mayo de 1978, C-112/1977, pp. 1019, apdo. 19.
26 Sentencia de 3 de mayo de 2007, C-303/05.
27 Sentencia de 16 de junio de 2005, C-105/03.
273
Juan Ignacio Ugartemendia Eceizabarrena
suele encerrar tanto una cuestión procesal como otra de carácter sustantivo.28 La prime-
ra, cuestión hace referencia al tema de la existencia de suficientes mecanismos procesa-
les para exigir la tutela jurisdiccional de los DF en las relaciones inter privatos. La segun-
da, la cuestión sustantiva, que es la que aquí más nos interesa ahora, tiene que ver con
la forma y la medida con la que los DF inciden en las relaciones entre los particulares.
Existen diversas posiciones doctrinales al respecto, las cuales van desde aquella
minoritaria que niega la Drittwirkung de los DF en las relaciones jurídico-privadas
(pues ello se casaría mal con la defensa de la autonomía privada y la seguridad jurídi-
ca), hasta la mayoritaria seguida por quienes la afirman. La posición mayoritaria, a su
vez, abarca desde quienes sostienen que esa eficacia horizontal solo puede producir-
se, en su caso, de forma indirecta o mediata (mittelbare Drittwirkung), a través de la
intermediación de algún poder público (el legislador, especialmente, y los jueces y tri-
bunales), que sí está directamente vinculado por esos derechos (eficacia vertical),
hasta quienes defienden una vinculación constitucional directa e inmediata de los
particulares por parte de los DF de modo que estos puedan ser invocados directamen-
te ex constitutione en las relaciones inter privatos o unmittelbare Drittwirkung29
28 Sobre ésta y/u otras cuestiones relativas al tema véanse, entre otros: J. M. BILBAO UBILLOS, La eficacia de
los derechos fundamentales frente a particulares. Análisis de la jurisprudencia del Tribunal Constitucional,
CEPC, Madrid, 1997; A. CLAPHAM, Human rights in the private sphere, Clarendon Press, Oxford, 1993;
B. MARKESINIS, “Privacy, Freedom of Expresión and the Horizontal Effect of the Human Rights Bill:
Lessons from Germany”, The Law Quarterly Review, 115, 1999, pp. 47 y ss.; R. BRINKTRINE, “The
Horizontal Effect of Human Rights in German Constitucional Law: The British debate on horizontality and
the possible role model of the German doctrine of ‘mittelbare Drittwirkung der Grundrechte’”, European
Human Rights Law Review, 4, 2001, pp. 421 y ss.; C. STARCK, “Derechos fundamentales y Derecho priva-
do”, REDC, 2002, 22, pp. 65 y ss.; G. TAYLOR, “The horizontal effect of Human Rights Provisions, the
German model and its applicability to Common-Law jurisdiction”, Kings College Law Journal, 13 (2), 2002,
pp. 187 y ss.; P. DE VEGA, “La eficacia frente a particulares de los derechos fundamentales (la problemáti-
ca de la Drittwirkung der Grundrechte)”, en AAVV, Constitución, Estado de las autonomías y Justicia
Constitucional (libro homenaje al profesor Gumersindo Trujillo), Tirant lo Blanch, Valencia, 2005, pp. 801
y ss.; P. ALSTON (ed.), Non-State Actors and Human Rights, Oxford University Press, Oxford, 2005; L. M.
DÍEZ-PICAZO, Sistema de derechos fundamentales, Thomson/Civitas, Madrid, 2008 (3ª ed.), pp. 152 y ss.;
J. H. KNOX, “Horizontal Human Rights Law”, American Journal of International Law, 2008, 102, pp. 1 y
ss.; véanse, igualmente, los artículos dedicados al respecto en el volumen 16, nº 5, 2008 de la European
Review of Private Law.; T. GIEGERICH, “Injecting Fundamental Rights into Private Law Relations: The
U.S. Approach from a Comparative Perspective”, en A. Hoyer et alii (edts.), Gedächtnisschrift für Jörn
Eckert, Nomos Verlagsgesellschaft, Baden-Baden, 2008, pp. 251 y ss.
29 “Frente a lo que opinan los partidarios de la eficacia mediata, que no dudan en señalar que la intervención
del legislador «es condición para el reconocimiento mismo del derecho en este plano», creemos que la
mediación del legislador, que es el modo normal de extender la eficacia de los derechos fundamentales fuera
del contexto tradicional de las relaciones de Derecho público, no puede considerarse un trámite indispen-
sable (como no lo es en el campo de las relaciones individuo/Estado). La intervención del legislador no
tiene, a mi juicio, un carácter constitutivo, sino meramente declarativo. En no pocos casos, el derecho fun-
damental se podrá invocar directamente, en ausencia de una regulación legal, y podrá obtenerse la oportu-
na satisfacción, una vez que el juez lleve a cabo, de acuerdo con sus propios criterios, la preceptiva ponde-
ración. A nuestro juicio, un derecho cuyo reconocimiento depende del legislador, no es un derecho funda-
mental. Es un derecho de rango legal, simplemente. El derecho fundamental se define justamente por la
indisponibilidad de su contenido por el legislador” (J. M. BILBAO UBILLOS, La eficacia de los derechos
fundamentales..., op. cit., pp. 296-297).
274
La Drittwirkung de los Derechos Fundamentales de la Unión Europea
30 “La doctrina de la eficacia inmediata implica, pues, que, con normativa legal de desarrollo o sin ella, es la
norma constitucional la que se aplica como «razón primaria y justificadora» (no necesariamente la única)
de una determinada decisión” (J M. BILBAO UBILLOS, ibidem, p. 327).
31 El texto constitucional español no ofrecería, en este sentido, datos concluyentes para acoger la tesis de la
eficacia directa frente a terceros de los DF (aunque cláusulas como la del mandato de igualdad sustancial
del art. 9.2, la declaración del art. 10.1 sobre la dignidad de la persona y el respeto a los derechos de los
demás, o especialmente, el reconocimiento expreso de la sujeción de los ciudadanos a la Constitución del
art. 9.1, suelen esgrimirse a tal efecto) ni tampoco para rechazarla rotundamente. En cualquier caso, y lejos
de generalizaciones, lo que sí parece clara es la existencia de una “Drittwirkung” inmediata de algunos
Derechos fundamentales, por ejemplo de algunos que rigen en el ámbito laboral (derechos que se ejercen
normalmente en las relaciones entre particulares) como el derecho de huelga y el derecho a la libertad sin-
dical dentro de la empresa. Sobre todo ello, entre otros: J M. BILBAO UBILLOS, ibidem, pp. 339 y ss.; L.
M. DÍEZ-PICAZO, Sistema de derechos fundamentales, op. cit., pp. 152 y ss.
La cuestión de la “Drittwirkung” también ha sido y es debatida en el ámbito del Convenio Europeo de
Derechos Humanos o CEDH. Aunque es verdad que el art. 25 del mismo excluye la posibilidad de promo-
ver una demanda contra un sujeto distinto de los Estados contratantes, de modo que aquella que fuera diri-
gida contra un particular sería inadmitida ratione personae, no es menos cierto que el TEDH habría admi-
tido cierta eficacia –desde el punto de vista procesal- indirecta del Convenio cuando condena a un Estado
por no haber protegido a sus ciudadanos de forma suficientemente efectiva frente las agresiones causadas
por terceros. El fundamento residiría en que el CEDH no solo genera en los Estados obligaciones negativas
o prohibiciones de no vulnerar directamente los derechos allí reconocidos. El Convenio puede generar tam-
bién en los Estados, sobre la base de la obligación general de respeto de los derechos fundamentales ex art.
1 CEDH, obligaciones positivas de tutela de esos derechos, obligaciones de impedir la violación de los mis-
mos por parte de terceros. Véanse en esta línea, por ejemplo, los casos: YOUNG, JONES y WEBSTER c.
REINO UNIDO (13 de agosto de 1981); el asunto X e Y c. PAÍSES BAJOS (26 de marzo de 1985); LOPEZ
OSTRA c. ESPAÑA (de 9 de diciembre de 1994); MORENO GÓMEZ c. ESPAÑA (de 16 de noviembre de
2004); o EVANS c. REINO UNIDO (10 de abril de 2007); y los casos señalados al final de este trabajo. Sobre
el tema, entre otros: A. CLAPHAM, Human rights in the private sphere, op. cit., pp. 178 y ss.; D. SPIEL-
MANN, L’effet potentiel de la Convention Européenne des Droits de l’Homme entre personnes privées,
Droit et Justice, 14, Bruylant, Bruselas, 1995, pp. 19 y ss. (quien señala que el efecto indirecto se puede pro-
ducir en la medida en que el Convenio forma parte del Derecho interno y los jueces y tribunales aplican las
disposiciones del mismo en las relaciones entre particulares); M. E. GARCÍA JIMÉNEZ, El Convenio
Europeo de Derechos Humanos en el umbral del siglo XXI, Universitat de Valencia, Valencia, 1998, pp. 120
y ss.; A. MOWBRAY, The Development of Positive Obligations under the European Convention on
Human Rights by the European Court of Human Rights, Hart Publishing, Oxford, 2004; L. GARLICKI,
“Relations between private actors and the ECHR”, en A. SAJÓ y R. UITZ, The Constitution in Private
Relations: expanding constitutionalism, Eleven Int. Publishing, Utrecht, 2005, pp. 129 y ss. En especial
sobre la eficacia del CEDH a la hora de generar obligaciones positivas en el ámbito de la tutela penal vid.
E. NICOSIA, Convenzione Europea dei Diritti dell’Uomo e Diritto Penale, Giappichelli, Turin, 2006; F.
VIGANÓ, “Diritto penale sostanziale e Convenzione Europea dei Diritti dell’Uomo”, Rivista Italiana di
Diritto e Procedura Penale, 2007, pp. 42 y ss.
275
Juan Ignacio Ugartemendia Eceizabarrena
ocasiones, esa eficacia sólo puede ser desplegada a través de una necesaria e imprescin-
dible intermediación del legislador. Este es el caso que acontece, por ejemplo, cuando
la eficacia de los Derechos Fundamentales frente a los ataques de terceros es/debe con-
cretarse en una protección de carácter penal de determinados bienes jurídicos32 (la
protección penal de determinados bienes jurídicos como forma de eficacia horizontal
de los Derechos Fundamentales).33 En efecto, existen determinados bienes jurídicos,
como los reconocidos por algunas normas iusfundamentales o normas que atribuyen
derechos fundamentales (v. gr.: vida, integridad física, intimidad, honor, etc.) cuya
protección, dada la naturaleza del bien y/o la gravedad de las agresiones de que pueden
ser objeto, exige la previsión de una sanción penal. Una previsión que exige, a su vez,
la actuación del legislador (penal), sea porque la regulación de las sanciones penales
implica determinar límites al ejercicio de algunos derechos fundamentales, sea, en
general, porque la regulación de los delitos y las penas debe hacerse respetando el prin-
cipio de legalidad penal. Dicho en otras palabras, existen casos en los que la eficacia
horizontal de los Derechos Fundamentales no solo aconseja sino que exige necesaria-
mente la actuación del legislador penal,34 o viceversa, la legislación penal estaría res-
Para un análisis de la cuestión en el ámbito comparado, entre otros muchos: I. LEIGH “Horizontal Rights,
the Human Rights Act and Privacy: Lessons from the Commonwealth”, The International and Comparative
Law Quarterly, 48(1), 1999, pp. 57 y ss.; T. GIEGERICH, “Injecting Fundamental Rights into Private Law
Relations: The U.S. Approach from a Comparative Perspective”, op. cit., pp. 251 y ss.; S. GARDBAUM, “The
‘horizontal effect’ of Constitutional Rights”, en Michigan Law Review, 102 (3), 2003, pp. 387 y ss.; J.
MIJANGOS, “The doctrine of the Drittwirkung der Grundrechte in the case law of the Inter-American
Court of Human Rights”, en Indret (www.InDret.com, enero 2008); o J. CORRIN, “From Horizontal and
Vertical to Lateral: extending the effect of Human Rights in post colonial legal systems of the South
Pacific”, en Internacional & Comparative Law Quarterly, 58, 1, 2009, pp. 31 y ss.
32 Sobre la relación entre Constitución y Derecho penal, entre Derechos Fundamentales y Derecho penal,
véase, entre otros: K. TIEDEMANN, “Constitución y Derecho penal” (REDC, 33 1991, pp. 145 y ss.), quien,
sin perjuicio de recordar la idea de que “el orden de valores jurídico-constitucional y el orden legal jurídi-
co-penal son espacios relativamente autónomos” (p. 148), aborda el tema de los mandatos constitucionales
para legislar penalmente, y señala que “en lo que se refiere al ordenamiento penal de bienes jurídicos, desde
el punto de vista constitucional, se puede proponer lo siguiente: un reducido ámbito de ese ordenamiento,
en especial el de la protección de la vida y de la integridad corporal, así como de otros bienes jurídicos fun-
damentales, como la libertad ambulatoria y la propiedad, coinciden sustancialmente con valores constitu-
cionales fundamentales. En este ámbito corresponde al Estado un deber de protección penal que deriva de
los derechos fundamentales y del orden de valores que éstos materializan... (p. 167)”. Vid. también: L. FEL-
DENS, “Direitos fundamentais e deveres de proteção penal: a intervenção penal constitucionalmente obri-
gatória”, Iustel, Revista General de Derecho Constitucional 6, 2008, pp. 1-67.
33 Es interesante observar, en este sentido, que, mientras la eficacia vertical de los Derechos Fundamentales
(de cualquier sistema iusfundamental) sobre el ámbito penal se predica, no exclusiva pero sí de forma pre-
dominante respecto de aquellos Derechos Fundamentales relacionados con las garantías que debe tener el
posible imputado-acusado-procesado-... (e.g.: principio de legalidad, irretroactividad de la norma penal,
presunción de inocencia, prohibición de analogía, non bis in idem, etc.), los Derechos Fundamentales que
se ven involucrados cuando hablamos de eficacia horizontal (penal) son, de forma principal, los relaciona-
dos con las pretensiones jurídicas subjetivas iusfundamentales atinentes a la posición de la víctima de la
agresión merecedora de sanción penal (e.g.: derecho a la vida, inviolabilidad de domicilio, intimidad, etc.).
34 A este respecto, conviene señalar que entender como necesaria esta actuación no significa decantarse por
una determinada postura en el debate acerca de si la intervención legislativa en materia de eficacia hori-
zontal de los DF es simplemente declarativa o, de otro modo, viene a constituir la eficacia erga omnes de
276
La Drittwirkung de los Derechos Fundamentales de la Unión Europea
un DF (por ejemplo: derecho a la vida), de aquel que es tutelado (frente a terceros) a través de la protección
penal de un determinado bien jurídico (e.g., vida). Ello es debido a que, aunque no parece posible deducir
ilícitos penales directamente de la Constitución, bien se podría afirmar la existencia de mandatos constitu-
cionales de criminalización en el sentido de mandatos constitucionales que estarían impidiendo que el legis-
lador despenalizase o dejase de penalizar determinadas conductas, como las agresiones a la vida o a la invio-
labilidad del domicilio, etc. (sobre ello, por ejemplo, vid. J. M. BILBAO UBILLOS, La eficacia de los
Derechos Fundamentales..., op. cit., p. 294).
35 Puede ser interesante no perder de vista aquellas ideas que recuerdan que, en los Estados con democracia
consolidada, las agresiones a los derechos humanos provienen, en general, no de parte de los poderes públi-
cos, sino de personas privadas; o que el Derecho Penal no debe ser entendido sólo como “límite a la liber-
tad”, sino también como instrumento de tutela de los derechos del hombre; que el garantismo penal no debe
ser unilateral, poniendo más el acento en los derechos del reo que en los de la víctima; etc. (Cfr. sobre ello,
F. MANTOVANI, “La proclamazione dei diritti umani e la non effettività dei diritti umani”, en Rivista
Italiana di Diritto e Procedura Penale, 2008 (pp. 40 y ss.), pp. 42 y ss.; quien se remite, al respecto, a otro
previo artículo suyo en la misma revista: “La criminalità: il vero limite all’effettività dei diritti e libertà nello
Stato di diritto”, 1999, pp. 201 y ss.)
36 Reconocido como principio general del Derecho comunitario en numerosas sentencias del TJCE, como por
ejemplo: JOHNSTON (de 15 de mayo de 1986, C-222/84); HEYLENS (de 15 de octubre de 1987, C-222/86);
BORELLI (de 3 de diciembre de 1992, C-97/91); COOTE (de 2 de septiembre de 1998, C-185/97); UPA (de
25 de julio de 2002, C-50/00 P); PROMUSICAE (de 29 de enero de 2008, C-275/06).
37 Cfr. SSTJCE: KIRK (de 10 de julio de 1984, C-63/83): FEDESA (de 13 de noviembre de 1990, C-331/88) o
Procesos penales c. X. (de 12 de diciembre de 1996, asuntos acumulados C-74 y 129/95).
38 Sobre la eficacia horizontal de los Derechos Fundamentales comunitarios: A. CLAPHAM, Human rights in
the private sphere, op. cit., pp. 245 y ss.; B. DE WITTE, “The past and future role of the European Court of
Justice in the protection of Human Rights”, en P. ALSTON (ed.), The EU and Human Rights, Oxford
University Press, Oxford, 1999, pp. 859 y ss., espec. p. 874; T.O. GANTEN, Die Drittwirkung der
Grundfreiheiten: die EG -Grundfreiheiten als Grenze der Handlungs- und Vertragsfreiheit im Verhältnis
zwischen Privaten, Berlin, Duncker und Humblot, 2000; M. AVBELJ, “Is there Drittwirkung in EU Law?”,
en A. SAJÓ y R. UITZ, The Constitution in Private Relations: expanding constitutionalism, op. cit., pp. 145
y ss.; A. FERRARO, “Le disposizioni finali della Carta di Nizza e la multiforme tutela dei diritti dell’uomo
nello spazio giuridico europeo”, Riv. Ital. Dir. Pubbl. Comunitario, 2005, pp. 503 y ss., espec. 525 y ss.; T.
277
Juan Ignacio Ugartemendia Eceizabarrena
TRIDIMAS, The General Principles of EU Law, Oxford University Press, Oxford, 2006, 2ª ed., pp. 47 y ss.; P.
CRAIG, EU Administrative Law, Oxford University Press, Oxford, 2006, pp. 498 y ss.; X. GROUSSOT y H. H.
LIDGARD, “Are There General Principles of Community Law Affecting Private Law?”, en U. BERNITZ, J. NER-
GELIUS et alii (edts.), General Principles of EC Law in a Process of Development, Kluwer Law International,
Austin, Boston, etc., 2008, pp. 155 y ss.; M. D. SÁNCHEZ GALERA, “Fundamental Rights and Private Law in
Europe: A Fundamental Right to Environment”, en European Review of Private Law, 16, 5, 2008, pp. 759 y ss.;
M. SCHILLIG, “The interpretation of European Private Law in the Light of Market Freedoms and EU
Fundamental Rights”, Maastricht Journal of European and Comparative Law, 15, 2008, pp. 285 y ss.
Muy interesantes son, también, respecto a este tema, las Conclusiones de algunos Abogados Generales
como, por ejemplo, las de M. Poiares Maduro, de 23 de mayo de 2007, en el asunto THE INTERNATIO-
NAL TRANSPORT WORKERS’ FEDERATION, C-438/05, apdos. 29 y ss.; o las de E. Sharpston, presenta-
das el 22 de mayo de 2008, en el asunto B. BARTSCH, C-427/06, apdos. 78 y ss. Cabe recordar la opinión
de dicha Abogado General según la cual “parece inexacto utilizar los términos «efecto directo» (ya sea ver-
tical u horizontal) para describir el impacto de un principio general de Derecho comunitario. El «efecto
directo» de un artículo del Tratado o de la disposición de una Directiva significa que el individuo puede
tomar el claro, preciso e incondicional texto de Derecho comunitario y apoyarse en él para dejar sin efec-
to alguna disposición contraria de Derecho nacional (o para rellenar una laguna). Por el contrario, un prin-
cipio general de Derecho comunitario se aplica a un conjunto de normas legislativas, y afecta a la interpre-
tación que debe darse a éstas. Algunas veces, puede significar que no puede permitirse determinada inter-
pretación. Pero el principio general no actúa, como tal, para sustituir a un texto legislativo existente. En
consecuencia, opino que no tiene «efecto directo», aunque pueda inequívocamente afectar, y a veces afec-
te, a la solución jurídica adecuada.” (apdo. 78).
39 Si la STJCE W. WILHELM (de 13 de febrero de 1969) ya le reconocía efecto directo a tal precepto, la recaí-
da en el asunto WALRAVE (de 12 de diciembre de 1974) entendió que éste tenía incluso efecto directo
horizontal, esto es, entre particulares.
40 En el caso ANGONESE, que trataba sobre el acceso al empleo en la banca privada, el TJCE declaró que la
prohibición de discriminación por razón de la nacionalidad establecida en el artículo 39 TCE regía, igual-
mente, en las relaciones entre particulares (de 6 de junio de 2000, C-281/98, apdo. 36).
41 Cfr. SSTJCE: DEFRENNE II (de 8 de abril de 1976, C-43/75); COLOROLL PENSION TRUSTEES (de 28 de
septiembre de 1994, C-200/91), en la que se señala que dicho artículo (ex 119) “genera derechos para los
particulares que los órganos jurisdiccionales nacionales deben salvaguardar. Habida cuenta del carácter
imperativo de dicha disposición, la prohibición de discriminaciones entre trabajadores masculinos y feme-
ninos se impone no únicamente a la actividad de las autoridades públicas, sino que se extiende asimismo a
los contratos entre particulares, así como a todos los convenios que se formalizan para regular, de forma
colectiva, el trabajo por cuenta ajena”; véanse, igualmente: GERSTER (de 2 de octubre de 1997, C-1/95);
SUSANNE LEWEN (de 21 de octubre de 1999, C-333/97).
42 El Abogado General M. Poiares Maduro señala al respecto (cfr. las conclusiones ya citadas al asunto C-
438/05, apdo. 44), por ejemplo, los asuntos HAG GF (de 17 de octubre de 1990, C-10/89, apdos. 15 y ss.) o
IHT (de 22 de junio de 1994, C-9/93, apdos 41 y ss.)
278
La Drittwirkung de los Derechos Fundamentales de la Unión Europea
tario. Y no por falta de apoyo doctrinal al respecto, sino por la ausencia –al menos por
ahora- de una casuística jurisprudencial clara que lo corrobore (el reconocimiento de
dicha eficacia al principio general a la igualdad de trato se ha hecho siempre existien-
do una disposición normativa comunitaria en la que apoyarse).43 No obstante, y
pasando al plano hipotético, no parece descabellado pensar en una posible eficacia
horizontal directa de un DF (en cuanto principio general del Derecho comunitario)
como el derecho a formar parte de un sindicato y a participar en las actividades sin-
dicales.44 Por otra parte, tampoco cabe descartar que algunos de los derechos recono-
cidos en la Carta de Niza, como el derecho a emprender medidas o acciones de con-
flicto colectivo, incluida la huelga (del artículo 28 de la misma), puedan llegar a tener
efectos erga omnes, siempre que dicha Carta alcance eficacia jurídica vinculante45 [si
bien, es justo recordarlo, una lectura “estricta” del ya recordado artículo 51.1 de la
Carta, parece descartar el efecto horizontal “directo” -aunque no el indirecto- de las
disposiciones allí contenidas al establecer expresamente como (¿únicos?) destinatarios
de la misma a las instituciones, órganos y organismos de la Unión y a los Estados
miembros únicamente cuando apliquen Derecho de la Unión46].47
Pero al margen de estos casos, hay que entender que, al igual que sucede con los
Derechos Fundamentales reconocidos en las Constituciones nacionales, la eficacia de
los DFUE en las relaciones entre particulares (la eficacia protectora de los mismos
frente a los ataques de terceros) tiene vocación de ser articulada a través de la actua-
ción del poder público, especialmente del legislador.48 Y hay que colegir igualmente
43 Véanse los casos apuntados al hilo del párrafo anterior del texto principal. Cabría mencionar, quizás, a títu-
lo de salvedad el reconocimiento de eficacia horizontal al derecho a la igualdad de trato con independen-
cia de la edad (no discriminación por razón de la edad) como principio general del Derecho comunitario en
el asunto MANGOLD (de 22 de noviembre de 2005, C-144/04), resolución en la que se reconoció (en cuan-
to principio general) la prohibición de discriminación por razón de la edad en una relación inter privatos
aunque no existía una disposición normativa con efecto directo horizontal al efecto. Véase, al respecto, por
ejemplo, las Conclusiones de la Abogado General V. Trsrenjak, en el asunto CARP Snc DI L. MOLERI, C-
80/06, de 29 de marzo de 2007, apdos. 69 y 70. Sobre la aplicación horizontal de los principios generales del
Derecho comunitario véase también las ya aludidas Conclusiones de la Abogado General E. Sharpston al
asunto B. BARTSCH (C-427/06), apdos. 78 y ss. Sobre la impedancia del case law a establecer obligaciones
inter privatos derivadas de los principios generales sin apoyo en disposiciones de los Tratados: T. TRIDI-
MAS, The General Principles of EU Law, op, cit., pp. 47 y ss.
44 Derecho reconocido en SSTJCE como: RUTILI (de 28 de octubre de 1975, C-36/75); o UNION SINDICA-
LE (de 8 de octubre de 1974, C-175/73).
45 El TJCE viene invocando el 28 de la Carta aun antes de que está adquiera fuerza jurídica vinculante. Así,
por ejemplo, en la STJCE INTERNATIONAL TRANSPORT WORKERS’FEDERATION (de 11 de diciem-
bre de 2007, C-438-05, apdos. 43 y 44).
46 Teniendo en cuenta, eso sí, la noción comunitariamente amplia o allargata de la State action o State ema-
nation.
47 Al respecto, por ejemplo: P. CRAIG, EU Administrative Law, op. cit., pp. 498 y ss.; FERRARO, “Le dispo-
sizioni finali della Carta di Nizza e la multiforme tutela...”, op. cit., pp. 525 y ss.
48 Es usual señalar, en este sentido, que las normas relativas a los derechos fundamentales, normas iusfunda-
mentales que se reconocen para articular las relaciones entre los particulares y el poder público, se trans-
forman en normas jurídicas que se aplican entre particulares, ilustrando que dicho poder público “es el ter-
cero en todo litigio entre particulares y lo es a través de la propia Ley y del Juez que la aplica” [M. SHAPI
279
Juan Ignacio Ugartemendia Eceizabarrena
que, en ocasiones, esa intermediación legislativa debería ser no sólo aconsejable sino,
además, necesaria, al menos siempre que las medidas de tutela frente a ataques de ter-
ceros pasen por prever limitaciones al ejercicio de los Derechos Fundamentales (no
obstante un eventual relajado entendimiento de lo establecido al respecto por el art.
52.1 de la propia Carta de Niza).49
En cualquier caso, llegados aquí es necesario constatar una cuestión básica: la efi-
cacia horizontal de los DFUE se articula normalmente a través del necesario concur-
so o intermediación del legislador “estatal”, pese a que pueda existir, en su caso, una
eventual participación del legislador europeo. Ello es debido a que la Unión Europea
carece de una competencia in genere para regular en materia de Derechos
Fundamentales (sin perjuicio de de facultades específicas para la regulación de algu-
nos de ellos).50 La UE, que está capacitada para imponer que los DFUE actúen como
RO y A. STONE SWEET, On Law, Politics & Judicialization, Oxford University Press, Oxford, 2002, p. 35;
cita tomada de las ya señaladas Conclusiones del Abogado general M. Poiares en el asunto C-438/05, apdo.
39. En estas conclusiones, se entiende además (apdo. 38), que el conocido caso SCHMIDBERGER (de 12 de
junio de 2003, C-112/00), caso que se activo y desarrolló como una acción de un particular frente al Estado,
fue un asunto que el TJCE vino a resolver contraponiendo la eficacia horizontal del principio fundamental
de libre circulación –de mercancías- al derecho a la libre circulación de unos manifestantes; un asunto que
demuestra, a la postre, la inexistencia de diferencias esenciales entre el efecto horizontal directo e indirec-
to. Véase, también, al respecto: M. KUMM y V. FERRERES, “What Is So Special about Constitutional
Rights in Private Litigation? A Comparative Analysis of the Function of State Action Requirements and
Indirect Horizontal Effect”, en A. SAJÓ y R. UITZ, The Constitution in Private Relations, op. cit., pp. 241
y ss., espec. 253]; T. GIEGERICH, “Injecting Fundamental Rights into Private Law Relations: The U.S.
Approach from a Comparative Perspective”, op. cit., pp. 251 y ss.;
49 El art. 52.1 de la Carta establece que “cualquier limitación del ejercicio de los derechos y libertades reco-
nocidos por la presente Carta deberá ser establecida por la ley y respetar el contenido esencial de dichos
derechos y libertades. Dentro del respeto del principio de proporcionalidad, sólo podrán introducirse limi-
taciones cuando sean necesarias y respondan efectivamente a objetivos de interés general reconocidos por
la Unión o a la necesidad de protección de los derechos y libertades de los demás.” Y según parece, la ini-
cial introducción del término “ley” en este artículo (Carta 4149/00, Convención 13) se hizo desde la idea de
entenderla en la misma línea que lo hace el TEDH (respecto los arts. 8, 9, 10 y 11) del CDH, esto es, como
ley en sentido material y no en sentido formal (cfr. T. GROPPI, “Art. 52. Portata dei diritti garantiti”, en
R. BIFULCO, M. CARTABIA y A. CELOTTO, L’Europea dei diritti. Commento alla Carta dei diritti fonda-
mentali dell’Unione Europea, Il Mulino, Bologna, 2001, p. 354. Es importante señalar, en cualquier caso,
que ni las Explicaciones a la Carta elaboradas por la Iª Convención, ni las que derivan de los retoques dados
por la Convención que elaboró el Tratado Constitucional (2004), ni obviamente las del 2007 (2007/C
303/02; DOCE 14 de diciembre de 2007) establecen nada en este sentido.
50 Es verdad que los Tratados constitutivos reconocen a las instituciones capacidades de actuación comunita-
ria en materias relativas a derechos fundamentales; pero se trata básica y especificadamente de capacidades
relativas a las libertades fundamentales, a la igualdad de trato (arts. 12, 13 y 141.3 TCE), a los derechos de
ciudadanía o a la capacidad regulativa dentro de la acción exterior comunitaria en la política de coopera-
ción al desarrollo (art. 177 TCE). El Derecho comunitario y la UE no tienen una competencia normativa
general para regular en materia de derechos fundamentales. Tal y como señaló el TJCE: “ninguna disposi-
ción del Tratado confiere a las Instituciones comunitarias, con carácter general, la facultad de adoptar nor-
mas en materia de derechos humanos o de celebrar convenios internacionales en este ámbito” (apdo. 27 del
Dictamen 2/94 del TJCE, de 28 de marzo de 2006, sobre la Adhesión de la Comunidad Europea al Convenio
para la Protección de los Derechos Humanos y de las Libertades Fundamentales).
Por otra parte, es posible señalar la existencia de una Agencia de los Derechos Fundamentales de la Unión
Europea, con sede en Viena (Fundamental Rights Agency o FRA, creada mediante Reglamento del Consejo
280
La Drittwirkung de los Derechos Fundamentales de la Unión Europea
barreras de la actuación del poder público estatal, que lo está también para actuar nor-
mativamente en materia de libertades de mercado o en lo que se refiere a la igualdad
de trato, carece sin embargo de una competencia para regular y limitar la libertad
individual, la libertad de expresión, el derecho de reunión o cualquiera de los
Derechos Fundamentales clásicos. La Unión y el legislador sólo podrán actuar norma-
tivamente en este campo, y por tanto, también en la articulación normativa de una
eficacia inter privatos de los DFUE, en la medida que haya atribuciones competencia-
les específicas al respecto por parte de los Estados, atribuciones, a la postre, para regu-
lar (tutelar y limitar) derechos fundamentales en determinadas situaciones. El legisla-
dor de la Unión puede participar más o menos en la articulación de una eficacia hori-
zontal de los DFUE (no expresamente reconocidos en los Tratados), pero esa eficacia
solo se perfeccionará con la actuación del legislador estatal de los derechos fundamen-
tales. Llegados aquí, hay que señalar que la inexistencia de una competencia general
de la UE en materia de regulación de Derechos Fundamentales puede hacer pensar
que los DFUE solo tienen eficacia vertical y carecen de eficacia horizontal cuando ésta
deba articularse a través de la ley. Sin embargo, eso sería tanto como admitir que esos
derechos solo rigen en ocasiones o parcialmente. Lo que en realidad ocurre es que su
eficacia horizontal, que existe, se vehicula y actúa (normalmente, salvo atribución
específica a la Unión) a través del legislador nacional, que es el competente en mate-
ria de regulación de los DF. Pero ello no solo es una posibilidad o una componenda.
Es una obligación del legislador estatal. Ello significa que la desprotección civil o
penal (o la no suficiente protección) de un determinado Derecho Fundamental, como
por ejemplo, pongamos por caso, la que podría producirse al despenalizar el allana-
miento de morada, no solo sería inconstitucional, sino que, tratándose del ámbito de
aplicación del Derecho de la UE, y por tanto de los DFUE, sería en primer lugar, con-
trario a ese Derecho, generando un evidente incumplimiento estatal (que puede dar
lugar a la correspondiente responsabilidad extracontractual estatal).
Por lo demás, resta apuntar que la eficacia horizontal de los DFUE no solo se
articula, en su caso, a través del legislador sino que también hace lo propio con el Juez
nacional encargado de aplicar el Derecho de la Unión,51 Derecho que debe ser acor-
281
Juan Ignacio Ugartemendia Eceizabarrena
de con los DFUE. Ese Juez (“el juez nacional como Juez comunitario”), que está vin-
culado vertical o negativamente a desarrollar su labor desde el respeto a esos derechos,
está también obligado a hacerlos respetar cuando tenga que intervenir en el ámbito de
las relaciones entre particulares. Y en este sentido, como es conocido, uno de los ins-
trumentos de los que dispone el juez nacional en cuestión a la hora de tutelar los
DFUE es el de realizar (o estar obligado a realizar) una interpretación del Derecho que
debe aplicar que sea “conforme” a los mismos, a su eficacia también en las relaciones
entre particulares.52
52 Sobre la interpretación conforme: R. ALONSO GARCÍA, “La interpretación del Derecho de los Estados
conforme al Derecho Comunitario: las exigencias y los límites de un nuevo criterio hermenéutico”, Revista
Española de Derecho Europeo, 28, 2008, pp. 385 y ss.; M. SCHILLIG, “The interpretation of European
Private Law in the Light of Market Freedoms and EU Fundamental Rights”, op. cit., pp. 285 y ss., espec.
297 y ss. y 308 y ss.
282
Diversidade Cultural no Direito Internacional
em um Horizonte de Justiça Internacional
Fabiana de Oliveira Godinho1
Sumáárioo: I. Introdução: Diversidade Cultural e Justiça Internacional II. Diversidade cultural como um conceito do
direito internacional positivo III. Diversidade Cultural e Direitos Humanos IV. Reflexões Finais – Diversidade
Cultural no Direito Internacional: justiça internacional?
283
Fabiana de Oliveira Godinho
6 Dentre esses fatores, destacam-se tanto experiências concretas de desenvolvimento de Estados multicultu-
rais quanto reflexões teóricas sobre direitos de grupos e multiculturalidade. Para um panorama geral, ver G.
Nolte, Kulturelle Vielfalt als Herausforderung für das Völkerrecht, in: Nolte/Keller/von Bogdandy et.al.
(Ed.) Pluralistische Gesellschaften und Internationales Recht, 2008, p. 1 ss. Ver, ainda, A. von Bogdandy,
Die Europäische Union und das Völkerrecht kultureller Vielfalt – Aspekte einer wunderbaren
Freundschaft in: Nolt/Keller/von Bogdandy et. al. (Ed.), 69 ss.
7 Sobre esse desenvolvimento no âmbito da UNESCO, ver S. von Schorlemer, Cultural Diversity, in: R.
Wolfrum (Ed.) Max Planck Encyclopedia of Public International law, Oxford 2008, em edição.
8 UNESCO Universal Declaration on Cultural Diversity, Paris, 2 November 2001, UNESCO Doc. 31C/Res.25,
Annex I; ILM 41, 57 (2002).
9 Artigo 1º.
10 Ibid.
11 Artigo 3.
12 Artigo 4.
284
Diversidade Cultural no Direito Internacional
em um Horizonte de Justiça Internacional
13 As reflexões aqui propostas não consideram, portanto, os importantes fundamentos filosóficos e filosófico-
jurídicos do conceito de justiça internacional.
14 UNESCO Doc. 33C/23, 4.8.2005, Paris 2005, Annex V.
15 Para um panorama geral, ver S.v. Schorlemer, Kulturpolitik im Völkerrecht verankert, in: Deutsche UNES-
CO-Kommission e.V. (Ed.) Übereinkommen über Schutz und Förderung der Vielfalt kultureller
Ausdrucksformen, 2006, p. 40 ss.
16 De forma geral, sobre o conflito entre cultura e comércio mundial, ver T. Voon, Cultural Products and the
World Trade Organization, Cambridge 2007, p. 3 ss. Ver, ainda, R. J. Neuwirth, United in Divergency: A
Commentary on the UNESCO Convention on the Protection and Promotion of the Diversity of Cultural
Expression, ZaöRV 66(2006), p. 820-862 (821 ss.).
285
Fabiana de Oliveira Godinho
17 Esses movimentos encontraram sua primeira expressão pragmática no contexto da doutrina da “cultural
exception”. Ver I. Bernier, A UNESCO International Convention on Cultural Diversity, in: C. B. Graber
(Ed.) Free Trade versus Cultural Diversity, Zürich 2004, p. 65-77 (68 ss.). Também J. Musitelli, L’Invention
de la Diversité Culturelle, Annuaire Francais de Droit International, 51(2005), p. 512-523.
18 A. Kolliopoulos, La Convention de L’UNESCO sur la Protection et la Promotion de la Diversité des
Expressions Culturelles, Annuaire Francais de Droit International, 51 (2005), p. 487-511 (488ss).
19 Sobre isso, ver G. Nolte, p. 6. Sobre o debate nesse contexto, C. B. Graber, Audio-visual policy: the stum-
bling block of trade liberalization? In: D. Geradin (Ed.), The WTO and global convergence in telecommu-
nications and audio-visual services, 2004, p. 165-214.
20 O último parágrafo do preâmbulo da Convenção da UNESCO faz referência expressa ao respeito aos prin-
cípios da Declaração Universal da UNESCO de 2001.
21 Artigo 1º da Declaração Universal de 2001. Para argumentos contrários à referência à diversidade biológi-
ca como fundamento para a proteção da diversidade cultural, ver G. Nolte, p. 12 ss.
286
Diversidade Cultural no Direito Internacional
em um Horizonte de Justiça Internacional
22 Sobre os desiguais “custos ambientais” como aspecto da justiça distributiva no âmbito da justiça ambiental,
ver M. Kloepfer, Umweltgerechtigkeit, Environmental Justice in der deutschen Rechtsordnung, Berlin
2006, p. 30. Ver, ainda, Bosselmann/Schröter no sentido de que a justiça intrageracional aspira a uma justa
distribuição do aproveitamento e do desgaste (ambientais). K. Bosselmann/M. Schröter, Umwelt und
Gerechtigkeit, Baden-Baden 2001, p. 48.
23 De maneira similar, no contexto da justiça ambiental, M. Kloepfer, p. 31.
24 Ibid, p. 39.
25 Artigo 2, 7 da Convenção da UNESCO. Nesse dispositivo, “diversidade” é tratada tanto como processo quan-
to resultado de um processo. Nesse contexto, não só o acesso equitativo “a uma rica e diversificada gama de
expressões culturais provenientes de todo o mundo”, como também o acesso das culturas “aos meios de expres-
são e de difusão” são previstos. O resultado desse processo é a própria “valorização da diversidade cultural”.
26 Sobre o conceito de justiça intergeracional no âmbito da proteção ambiental, ver Bosselmann/Schröter, p.
49ss.
27 Artigo 2, 6 da Convenção. De forma geral, sobre o fundamento ético da noção de “desenvolvimento susten-
tátvel”, ver U. Beyerlin, Gedanken zur ethischen Fundierung internationaler Umweltschutznormen am
Beispiel des Konzepts “nachhaltige Entwicklung”, in: A. Fischer-Lescano (Ed.) Frieden in Freiheit, Baden-
Baden 2008, p. 581-594.
28 Artigos 6 a 8 da Convenção da UNESCO.
287
Fabiana de Oliveira Godinho
29 Artigo 2, 3 da Convenção.
30 Artigo 1 c).
31 Artigo 1 d).
32 Artigo 2, 1.
33 Artigo 1 i) e Artigo 2, 4.
34 Como, por exemplo, nos Artigos 7, 1 e 2, Artigo 10 c), Artigos 12, 13 e 14. Observam-se, ainda, enunciados
como “os Estados facilitarão” (Artigo 16) ou “os Estados reconhecem” (Artigo 11).
35 Sobre essa dinâmica, ver U. Beyerlin, Umweltvölkerrecht, München 2000, p. 37 ss.
36 Compare, aqui, G. Nolte, p. 6.
288
Diversidade Cultural no Direito Internacional
em um Horizonte de Justiça Internacional
tes não teriam demonstrado disposição de obrigar-se, de forma mais ampla e vinculan-
te, à preservação imediata e específica da diversidade cultural.37 Essa suposição coloca
a existência de uma convicção sólida e holística em torno do conceito da diversidade
cultural como um dos fins últimos da comunidade internacional, no mínimo, em dúvi-
da, e transfere as reflexões para um outro plano: pode a Convenção e seus “bons obje-
tivos”, independentemente do caráter do primeiro consenso adquirido, influenciar,
efetivamente, a ordem jurídica internacional e as relações no âmbito dessa ordem em
direção a uma maior justiça internacional no contexto da diversidade cultural?
37 C. B. Graber, The New UNESCO Convention on Cultural Diversity: A Counterbalance to the WTO? In:
Journal of International Economic Law, 9, Nº 3, 2006, p. 553-574 (563).
38 Ver a lista atualizada das ratificações da Convenção em http://portal.unesco.org/la/conven-
tion.asp?KO=31038&language=E&order=alpha.
39 Schorlemer, Kulturpolitik im Völkerrecht verankert, p. 59.
40 Artigo 20, (1) a).
41 Artigo 20 (1) b) e (2).
289
Fabiana de Oliveira Godinho
290
Diversidade Cultural no Direito Internacional
em um Horizonte de Justiça Internacional
291
Fabiana de Oliveira Godinho
55 Artigo 16.
56 Compare M. Iovane, p. 231-262. Ver, ainda, W. Schmale, Human Rights in the Intercultural Perspective
and the Reorganisation of the International Debate, in: W. Schmale (Ed.), Human Rights and Cultural
Diversity, Goldbach 1993, p. 3-27.
57 O preâmbulo da Declaração ressalta que “o respeito à diversidade das culturas, à tolerância, ao diálogo e à
cooperação, em um clima de confiança e de entendimento mútuos estão entre as melhores garantias da paz
e da segurança internacionais” (7º parágrafo). Ver, ainda, Artigos 1 e 3 da Declaração.
58 De forma geral, sobre o conflito Universalismo x Relativismo, ver A. Bayefsky, Cultural sovereignty, rela-
tivism, and international human rights: new excuses for old strategies, in: E. Bulygin (Ed.), Changing struc-
292
Diversidade Cultural no Direito Internacional
em um Horizonte de Justiça Internacional
tures in Modern Legal Systems and the Legal State Ideology, Berlin 1998, p. 249 267. Também J. J. Tilley,
Cultural Relativism, Human Rights Quarterly, 22(2000)2, p. 501-547.
59 De forma expressa, no Artigo 4 da Declaração da UNESCO.
60 Ver D. Kugelmann, The Protection of Minorities and Indigenous Peoples Respecting Cultural Diversity,
Max Planck Yearbook of United Nations law, 11(2007), p. 233-263. Os efeitos do conceito de diversidade
cultural sobre o desenvolvimento de direitos de grupos ainda não é claro. Diferentes tendências podem ser
observadas; tanto no sentido do fortalecimento do caráter jurídico individual dos direitos culturais no âmbi-
to do artigo 27 do Pacto Internacional sobre Direitos Divis e Politicos e de sua extensão aos grupos cultu-
rais em determinados casos; como também no desenvolvimento de marcos específicos no Direito
Internacional para a proteção e a promoção desses grupos. Ver S. von Schorlemer, Cultural Diversity.
61 De forma geral sobre essa ponderação no campo da relação entre proteção de grupos e proteção individual
no Direito Internacional, ver N. Wenzel, Das Spannungsverhältnis zwischen Gruppenschutz und
Individualschutz im Völkerrecth, Berlin/Heidelberg 2008.
62 Essa declaração foi definitivamente adotada em setembro de 2007, após muitos anos de intensa discussão
marcados pela forte participação de representantes dos povos indígenas. A/RES/61/295 de 13 de setembro
de 2007.
63 Nos termos da própria Declaração, ela contém o standard mínimo de direitos e princípios, os quais possibi-
litam aos povos indígenas a integridade física e cultural necessárias a uma vida digna. Uma das inovações
desse Instrumento é o reconhecimento da subjetividade internacional dos povos indígenas e de sua corres-
pondente titularidade de direitos individuais e coletivos. A Declaração da ONU consagra, também, o direi-
to dos povos indígenas à autodeterminação (autogoverno e participação política). Para um panorama geral,
ver V. Prasad, The UN Declaration on the Rights of Indigenous Peoples, Chicago Journal of International
Law, 9(2008)1, p. 297-322. Também J. Gilbert Indigenous rights in the making, International Journal on
Minority and Group Rights, 14(2007) 2/3, p. 207-230, e A. Xanthaki, Indigenous Rights and United Nations
Standards, Cambridge 2007.
64 Ver Artigo 2 a 5 da Declaração da ONU de 2007.
293
Fabiana de Oliveira Godinho
tão.65 Em primeiro plano destacam-se, aqui, os esforços por uma justiça compensató-
ria em favor dessas culturas.
A autonomia dos povos indígenas prevista na Declaração da ONU apóia-se sobre
o autogoverno e a participação política desses grupos. Ela inclui, dentre outros, o reco-
nhecimento das instituições indígenas e a aplicação do direito costumeiro indígena às
questões que os afetem. A observação da concorrência de fatores e de direitos que per-
meiam o exercício desse direito costumeiro oferece, a seguir, exemplo concreto dos
desafios à realização de justiça no contexto mais amplo de direitos humanos e diver-
sidade cultural.
65 Ver F. de Oliveira Godinho, The United Nations Declaration on the Rights of Indigenous Peoples and the
Protection of Indigenous Rights in Brazil, Max Planck Yearbook of United Nations law, 12(2008), p. 247-
286 (55ss.).
66 Para uma discussão geral sobre as diversas possibilidades, ver A. Shachar, Multicultural Jurisdictions:
Cultural Differences and Women’s Rights, Cambridge 2002.
67 Veja os exemplos de costumes de mutilação genital ainda praticados por diversas tribos sobretudo no con-
tinente africano, bem como as restrições de direitos de participação no grupo a mulheres que se casam com
não-indígenas.
294
Diversidade Cultural no Direito Internacional
em um Horizonte de Justiça Internacional
295
Fabiana de Oliveira Godinho
rais, potenciais conflitos só podem resolvidos, de forma “justa” e equilibrada, por meio
de processos de reavaliação das práticas culturais pelos próprios grupos.72
72 O reconhecimento da diversidade cultural significa, senão, que direitos humanos universais devam acomodar
diferentes tradições culturais. Isso não implica, no entanto, o questionamento da universalidade dos direitos
humanos. Significa, antes, que certa margem de apreciação deve ser acordada ao grupo para o exercício de seus
processos próprios de interpretação e de tomada de decisões na aplicação das normas universais de direitos
humanos. Ver S. J. Anaya, Indigenous Peoples in International Law, Oxford 2004 (2. ed.), p. 133 ss.
73 De forma geral sobre o conceito de margem de apreciação dos Estados no âmbito dos direitos humanos, ver
S. Greer, The margin of appreciation: interpretation and discretion under the European Convention on
Human Rights, 2000. Ver ainda J.A. Brauch, The margin of appreciation and the jurisprudence of the
European Court of Human Rights, The Columbia Journal of European law, 11(2004-2005) 1, p. 113-150.
Para discussão mais abrangente sobre o significado da margem de apreciação dos Estados para o Direito
Internacional (em diferentes áreas), ver Y. Shany, Towards a general margin of appreciation doctrine in
international law?, European Journal of International Law, 16(2005)5, pp. 907-940.
74 Compare, aqui, as diferentes decisões dos órgãos das convenções de direitos humanos em N. Wenzel, p.
407s.
75 Sentença de 10 de Setembro de 1993 – Reparações e Custas.
296
Diversidade Cultural no Direito Internacional
em um Horizonte de Justiça Internacional
297
Fabiana de Oliveira Godinho
298
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos1 2
Christof Heyns3 e Magnus Killander4
Sumáárioo: I. Introdução II. A União Africana o os Direitos Humanos III. As Normas Reconhecidas na Carta Africana
de Direitos Humanos e Direitos dos Povos IV. Normas Reconhecidas em outros Tratados V. Orgãos Estabelecidos
para a Implementação dos Direitos Humanos VI. Conclusão.
I. Introdução
1 Este artigo é baseado em um artigo de Christof Heyns publicado em (2004) 108 Penn State Law Review 679,
também publicado em espanhol de F Gomez Isa (ed): La protección internacional de los derechos humanos
en los albores del siglo XXI, Universidade de Deusto, Bilbao, 2003.
2 O artigo foi traduzido para o português por Roberto Yamato, Mestre em Direito pela London School of
Economics e Mestre em Relações Internacionais pela PUC/PS e por Deborah Stokler.
3 Professor de Direitos Humanos e Diretor do Centro de Direitos Humanos, Universidade de Pretória.
4 Pesquisador do Centro de Direitos Humanos, Universidade Pretória
5 Para uma interpretação da semelhança que os direitos humanos e a luta legítima são dois lados de uma
mesma moeda, ver C Heys ‘A “struggle approach” to human rights’ em A Soeteman (ed) Pluralism and Law
(2001) 171.
6 Para a coleção inicial de material relacionado com leis sobre direitos humanos na África ou nas Nações
Unidas, níveis regional, sub-regional e doméstico para todos os países da África, ver C Heyns (ed) Human
Rights Law in Africa (2004). Ver também C Heyns (ed) Compendium of key human rights documents of
the African Union (2005).
299
Christof Heyns e Magnus Killander
2.1. Histórico
300
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos
na União Africana (‘UA’).10 Todos os estados da África são membros da UA, exceto o
Marrocos que deixou a organização em 1984, quando a Organização da Unidade
Africana reconheceu o Sahara Ocidental, alcançando o número de 53 membros.
Enquanto a Carta da OUA de 1963 fazia pouca referência ao conceito de direitos
humanos, o Ato Constitutivo da UA de 2000 (que entrou em vigor em 2001) colocou
os direitos humanos no centro da agenda da nova organização regional.11
O Ato Constitutivo da UA, no seu Preâmbulo, refere-se à luta africana por inde-
pendência e dignidade humana, “por nossos povos”, e à determinação dos Chefes de
Estado e Governo “para promover e proteger os direitos humanos e os direitos dos
povos”. O artigo 3 dispõe sobre os “Objetivos” da UA, como segue: “os objetivos da
União deverão... (e) encorajar a cooperação internacional, considerando devidamente
a Carta das Nações Unidas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos;” e “...(h)
promover e proteger direitos humanos e direitos dos povos de acordo com a Carta
Africana de Direitos Humanos e Direitos dos Povos e outros instrumentos de direitos
humanos relevantes...”.
O artigo 4 cuida dos “Princípios”, estabelecendo que:
10 O Ato Constitutivo da União Africana CAB/LEG/23.15, entrou vigor em 26 de Maio de2001. Para uma visão
geral da AU, ver C Heyns, E Baimu & M Killander ‘The African Union’ (2003) 46 German Yearbook of
International Law 252. Sobre a transformação de OAU para AU sob uma perspectiva dos direitos humanos,
ver R Murray Human Rights in Africa (2004).
11 Para o debate, ver E Baimu ‘The African Union: Hope for better protection of human rights in Africa?’
(2001) 1 African Human Rights Law Journal 299. O Ato Constitutivo está reimpresso na página 315 deste
mesmo volume. Ver também B Manby ‘The African Union, NEPAD, and Human Rights: The Missing
Agenda’ (2004) 26 Human Rights Quarterly 983.
301
Christof Heyns e Magnus Killander
302
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos
Africana de Direitos Humanos e Direitos dos Povos sobre os Direitos das Mulheres na
África, adodato em 2003, o qual entrou em vigor em novembro de 2005.16
Em adição a esses instrumentos, o sistema regional africano de direitos humanos
é composto pela Convenção da OUA sobre Governança de Aspectos Específicos dos
Problemas de Refugiados na África de 1969,17 a qual entrou em vigor em 1974 (com
44 ratificações); e a Carta Africana sobre os Direitos e o Bem-Estar da Criança (“Carta
Africana das Crianças”) de 1990,18 que entrou em vigor em 1999 (com 37 ratificações).
Um órgão especial de monitoramento da Carta Africana das Crianças, o Comitê sobre
os Direitos e o Bem-estar da Criança, a ser mais analisado adiante, reuniu-se pela pri-
meira vez em 2002.19
A relativamente desconhecida Carta Cultural para África, de 1976, entrou em
vigor em 1990.20 Outro tratado relevante para os direitos humanos é a Convenção
para Prevenção e Combate à Corrupção, adotada em 2003.21 Até outubro de 2005, tal
Convenção ainda não havia entrado em vigor. Há ainda dois tratados regionais africa-
nos que cuidam do meio ambiente.22
303
Christof Heyns e Magnus Killander
24 Para os documentos que levam à adoção da Carta Régia Africana, ver Human Rights Law in Africa 1999
65-105.
25 Ver UO Umozurike The African Charter on Human and Peoples’ Rights (1997) 27-28.
26 Em seu endereço para a recepção do Encontro de Especialistas Africanos em 1979, preparando o projeto da
Carta Africana em Dakar, Senegal, Leopold Senghor, Presidente do Senegal, referiu-se ao exemplo dado
pelos instrumentos internacionais dos direitos humanos, e ele disse: “Como Africanos, não deveremos nem
copiar, ou esforçar-nos para obtermos originalidade, para o bem da originalidade em si... Vocês devem man-
ter constantemente em suas mentes os valores de nossa civilização e as reais necessidades da África”
Reprinted in Human Rights Law in Africa 1999 78 at 79.
27 Para uma discussão completa, ver C Heyns ‘Civil and political rights in the African Charter’ in M Evans &
R Murray (eds) The African Charter on Human and Peoples’ Rights (2002) 137.
304
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos
28 Não há, por exemplo, referência explícita sobre o direito à audiência pública, ao direito deinterpretação, ao
direito contra a auto incriminação e ao direito contra o perigo duplo. Contudo, a Comissão tem interpreta-
do a proteção da Carta Régia ao incluir alguns desses direitos.
29 Enquanto art. 13 (1) a Carta Régia reconhece o direito ‘de cada cidadão a participar livremente no gover-
no de seu país’, não é estipulado se isto deva ser feito por intermédio de eleições regulares, livres, baseadas
no sufrágio universal.
30 Associação Africana de Malawi e Outros versus Mauritania (2000) AHRLR 149 (ACHPR 2000).
31 Commission Nationale des Droit de l’Homme et des Libertés v Chad (2000) AHRLR 66 (ACHPR 1995). Ver
também O Centro de Ação dos Direitos Econômicos e Sociais (SERAC) e Outros versus Nigéria (2001)
AHRLR 60 (ACHPR 2001).
32 Amnesty International and Others v Sudan (2000) AHRLR 297 (ACHPR 1999).
33 (2000) AHRLR 200 (ACHPR 1998).
305
Christof Heyns e Magnus Killander
306
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos
A forma com que a Carta lida com as questões de gênero tem sido bastante con-
troversa. O artigo 18(3) prevê o seguinte:
O estado deve garantir a eliminação de toda discriminação contra a mulher e
também garantir a proteção dos direitos da mulher e da criança, como estipulado nas
declarações e convenções internacionais.
Esta inclusão, de mulheres e crianças, num artigo que lida originalmente da
família, reforça antigos esteriótipos sobre o lugar e a função apropriada da mulher na
sociedade, e foi parcialmente responsável pelo movimento de adoção do Protocolo da
Carta Africana sobre os Direitos das Mulheres na África.46 O Protocolo foi adotado
cionados, declarados em termos quase absolutos, são reconhecidos, enquanto outros candidatos óbvios para
a inclusão não estão presentes. O Protocolo sobre os Direitos das Mulheres, adotado em 2003, e discutido
mais adiante, qualifica a provisão dos direitos sócio-econômicos através da exigência de que o governo tome
medidas apropriadas em relação à maioria dos direitos sócio-econômicos. Contudo, fornece alojamento para
um direito inadequado (artigo 16).
42 Centro de Ação dos Diretos Sociais e Econômicos e Outros versus Nigéria (2001) AHRLR 60 (ACHPR 2001).
43 Para 60.
44 Para 65.
45 C Heyns ‘The African regional human rights system: In need of reform?’ (2001) 1 African Human Rights
Law Journal 155.
46 M Nsibirwa ‘A brief analysis of the Draft Protocol to the African Charter on Human and Peoples’ Rights
on the Rights of Women’ (2001) 1 African Human Rights Law Journal 40. Ver também, J Oder ‘Reclaiming
women’s social and economic rights in Africa – The Protocol to the African Charter on Human and
Peoples’ Rights on the Rights of Women in Africa’ ESR Review vol. 5 no. 4. Outro importante desenvolvi-
307
Christof Heyns e Magnus Killander
No que tange à proteção dos direitos dos povos, a Carta foi além do que qualquer
outro instrumento internacional.47
Todos os “povos”, de acordo com a Carta, têm o direito de serem iguais (art. 19);
à existência e à autodeterminação (art.20); a dispor livremente de sua riqueza e recur-
sos naturais (art. 21); aos desenvolvimentos econômico, social e cultural (art. 22); à
paz e à segurança (art. 23); e a um meio ambiente satisfatório (art. 24). Claramente,
parte da motivação para reconhecerem “direitos dos povos” encontra-se no fato de
que “povos” inteiros foram colonizados e, de outra forma, explorados na história da
África.
O conceito de “povos” tem sido mencionado em alguns dos casos perante a
Comissão, incluindo o seguinte:
mento para o direito das mulheres foi a adoção, pelos chefes de estado da AU e governos, da ‘ Declaração
Solene sobre Igualdade de Sexos na África’ em julho de 2004.
47 Ver R Murray and S Wheatley ‘Groups and the African Charter on Human and Peoples’ Rights’ (2003) 25
Human Rights Quarterly 213.
308
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos
A forma com que a Carta Africana lida com as restrições de todos os direitos,
incluindo direitos civis e políticos, apresenta um obstáculo significativo. A Carta Africana
não contém uma cláusula de limitação geral (ainda que, como é notado abaixo, o artigo
27(2) esteja começando a fazer este papel). Isto significa que não há diretrizes gerais na
Carta sobre como seus direitos devem ser limitados – não há um claro “limite às limita-
ções”. Um sistema bem definido de limitações é importante. Uma sociedade na qual os
direitos não podem ser limitados é ingovernável, mas, ao mesmo tempo, é essencial que
normas adequadas de direitos humanos sejam estabelecidas para as limitações.
Alguns dos artigos da Carta estabelendo direitos civis e políticos específicos con-
têm provisões de limites aplicáveis aqueles direitos. Algumas dessas limitações inter-
nas claramente estabelecem as normas procedimentais e substantivas com as quais as
limitações devem cumprir,52 enquanto outras só descrevem os requisitos substantivos
que as limitações devem satisfazer.53
309
Christof Heyns e Magnus Killander
54 A Comissão tem influênciado, por exemplo, Media Rights Agenda and Others v Nigeria (2000) AHRLR 200
(ACHPR 1998), para 66: ‘Permitir que leis nacionais tenham condições prévias sobre leis internacionais da
Carta Régia iria malograr o propósito dos direitos e liberdades conservadas na Carta Régia. Normas dos
Direitos Humanos Internacionais devem sempre prevalecer sobre leis nacionais contraditórias’.
55 Comissão Nacional dos Direitos dos Homens e das Liberdades versus a República do Tchad, nº 27 acima,
para. 21.
310
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos
56 Ver, M Mutua ‘The Banjul Charter and the African cultural fingerprint’ (1995) 35 Virginia Journal of
International Law 339.
57 Artigos 27, 28 e 29.
58 Artigo 25. Ver também artigo 26.
59 Ver Media Rights Agenda and Others v Nigeria, n. 28 acima, para. 68. Ver também Projeto dos Direitos
Constiucionais e Outros versus Nigéria (2000) AHRLR 227 (ACHPR 1999), para. 41.
60 Inerente a um ser humano’, nas palavras do artigo 5 da Carta Régia, em respeito a dignidade.
61 Convenção da OAU, artigo 1 (1), Convenção das Nações Unidas sobre Refugiados, artigo 1 (a) (2) a ser lido
acompanhado do Protocolo que relata o estado dos refugiados (1967) artigo 1 (2). Para um debate ver
Advogados para Direitos Humanos African exodus (1995).
311
Christof Heyns e Magnus Killander
A Carta Africana das Crianças, adotada em 1990, em muitos aspectos tem provi-
sões similares a Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança (CDC), adotada
menos de um ano antes do que o instrumento africano. Em relação a proteção das
crianças, a Carta Africana vai além da CDC. Nenhuma pessoa menor de 18 anos deve
ser recrutada ou fazer parte de hostilidades. A CDC estabelece o limite de idade como
15 anos, apesar do Protocolo de 2000 aumentá-lo para 18 anos. A Carta Africana das
Crianças vai além da CDC também em outros aspectos, por exemplo, ao proibir os
casamentos de crianças.63 A implementação da Carta Africana das Crianças e de res-
ponsabilidade do Comitê Africano de Experts sobre os Direitos e o Bem-Estar da
Criança, como veremos adiante.
62 Ver, por exemplo, Organização Mundial contra a Tortura e Outros versus Ruanda (2000) AHRLR 282
(ACHPR 1996) e Encontro Africano para a Defesa dos Direitos do Homem versus Zambia (2000) (2000)
AHRLR 321 (ACHPR 1996).
63 F Viljoen ‘Introduction to the African Commission’ in Human Rights Law in Africa 491.Ver também DM
Chirwa ‘The merits and demerits of the African Charter on the Rights and Welfare of the Child’ 10
International Journal of Children’s Rights (2002) 157.
64 Conveção da UA para a Prevenção e Combate à Corrupção, artigo 2 (4).
65 Como mencionado anteriormente, artigo 9.
66 Como mencionado anteriormente, artigo 22.
67 A Lloyd & R Murray ‘Institutions with responsibility for human rights protection under the African Union’
(2004) 48 Journal of African Law 165.
312
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos
68 Ato Constitutivo da UA, artigo 5. O PSC não está incluso como um órgão principal da AU em seu Ato
Constitutivo Original, mas o será sob emendas que ainda não entraram em vigor. Para debate, ver Heyns e
outros, n. 6 acima , 252.
69 Ato Constitutivo da AU, artigo 17 (1). As funções do Parlamento são previstas no Protocolo do Tratado
Estabelecendo a Comunidade Econômica Africana Relativo ao Parlamento Pan Africano, adotado pela
Assembléia da OUA em Março de 2001 e que passou a vigorar em 2003. Reimpresso em Human Rights Law
in Africa 212. Ver, KD Magliveras & GJ Naldi ‘The Pan-African Parliament of the African Union: An
overview’ (2003) 3 African Human Rights Law Journal 222 and T Demeke ‘The new Pan-African
Parliament: Prospects and challenges in view of the experience of the European Parliament’ (2004) 4
African Human Rights Law Journal 53.
70 Protocolo sobre o Parlamento Pan Africano, artigo 3 (2).
313
Christof Heyns e Magnus Killander
71 Resolução sobre a Deliberação do Parlamento Pan Africano sobre a Missão de Paz na Costa do Marfim no
início do mês de maio de 2005 (PAP-Res. 005/05), adotada em 11 de abril de 2005; Resolução sobre a
Deliberação do Parlamento Pan Africano sobre a Missão de Paz na República Democrática do Congo duran-
te a primeira quinzena de Maio(PAP-Res. 006/05), adotada em 11 de abril de 2005. http://www.iss.
co.za/AF/RegOrgunity_to_union/pdfs/pap/3rdres.pdf (acessado em 26 de setembro de 2005).
72 Recomendações sobre a nova Parceria para o Desenvolvimento Africano e o Mecanismo de Exame da
Emergência Africana, adotadas na segunda sessão ordinária do Parlamento Pan Africano, 16 de setembro –
1 de outubro 2004, PAP-Rec 002/04. http://www.iss.co.za/AF/RegOrg/unity_to_union/pdfs/pap/3rdres.
pdf(acessado em 26 September 2005).
73 Ato Constitutivo da AU artigo 22 (1).
74 Estatuto do ECOSOCC, artigo 2 (5).
75 http://www.africa-union.org/organs/ecosocc/home.htm. ECOSOCC possui 150 organizações membros que
constituem a Assembléia Geral, e um Comitê permanente de 18 membros. Para facilitar a diretriz de absor-
ção dentro de outros órgãos da AU, o Conselho tem dez comitês de agrupamentos setoriais, aproximada-
mente correspondendo aos departamentos da Comissão da AU (obrigações políticas; paz e segurança;
infraestrutura e energia; obrigações sociais e saúde; recursos humanos; ciência e tecnologia; comércio e
indústria; economia rural e agricultura; afazeres econômicos; mulheres e gênero; e questões interdiscipli-
nares. Direitos Humanos são considerados sob obrigações políticas).
76 Ver Declaração para o Estabelecimento de um Mecanismo de Preveção contra Conflitos, Gerenciamento e
Resoluções, AHG/DECL. 3 (XXIX). O Órgão Central deste Mecanismo estava incluso como um órgão da AU
na 37ª Assembléia da OAU em 2001, AHG/Dec. 160 (XXXVII). De acordo com o artigo 22 do Protocolo
Relativo ao Estabelecimento do Conselho de Paz e Segurança da África, ASS/AU/Dec. 2(I), este Conselho
substituirá o mecanismo anterior.
314
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos
entrou em vigor em 2003. O CPS e composto por 15 membros. O critério para parti-
cipação inclui “respeito por governança constitucional… bem como pela regra do
direito e direitos humanos...”.77
O artigo 4º do Protocolo sobre CPS estabelece que o Conselho deve ser guiado
pelo Ato Constitutivo da UA, pela Carta da ONU e pela Declaração Universal dos
Direitos Humanos. O Protocolo ainda estabelece como um dos objetivos do Conselho:
315
Christof Heyns e Magnus Killander
Os Comissionários
O Procedimento de Reclamações
81 Artigo 31.
82 Artigo 33.
83 Artigo 45(1) & (2) Ver V Dankwa ‘The promotional role of the African Commission on Human and Peoples’
Rights’ in Evans and Murray ( número 23 acima) 335.
84 BC/OLC/66/Vol.XVIII.
85 Os quatro membros eleitos foram: senhorita Peine Alapini-Gansou, advogada e ativista em uma ONG no
Benin; senhor Musa Ngary Bitaye, presidente da Associação de Advogados da Gâmbia; senhorita Faith
Pansy Tlakula, chefe do Escritório Eleitoral e da Comissão Eleitoral Independente da África do Sul e senhor
Mumba Malila, presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Zâmbia.
86 Artigos 47-54.
87 Comunicação 227/99 , República Democrática do Congo versus Burundi, Ruanda e Uganda. Num caso tra-
zido por uma organização do Burundi contra um número de Estados vizinhos, a Comissão julgou que o plei-
teante estava em essência representando o Estado. Contudo, a comunicação foi considerada perante o pro-
cedimento de comunicação individual visto que a posição da organização em trazer a queixa não foi ques-
316
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos
tionada pelos governos acusados. Notificação 157/96, Associação para a Salvaguarda da Paz no Burundi ver-
sus Tanzânia, Quênia, Uganda, Ruanda, Zaire e Zâmbia, 17º Relatório de Atividade Anual da Comissão
Africana.
88 Seguindo diretamente às prescrições sobre comunicações interestatais, artigo 55 provém para “outras comu-
nicações”. A Comissão tem agido a partir da suposição que isto refere-se a comunicações individuais. Ver
Jawara versus Gâmbia (2000) AHRLR 107 (ACHPR 2000), parágrafo 42.
89 Associação Africana de Malawi e Outros versus Mauritânia (2000) AHRLR 149 (ACHPR 2000), paragráfo
78.
90 Número 38, parágrafo 49.
91 A Comissão recebeu cerca de 300 comunicações individuais desde seu início em 1987, muitas delas subme-
tidas por ONGs.
92 L Louw, An analysis of state compliance with the recommendations of the African Commission on Human
and Peoples’ Rights (2005) LLD tese, Universidade de Pretória.
93 Como acima, 314.
317
Christof Heyns e Magnus Killander
Assim como outros sistemas de reclamações, a Carta Africana coloca certos cri-
térios de admissibilidade antes que a Comissão possa conhecer as denúncias.95 Tais
critérios incluem o requerimento de exaustão dos remédios locais. Assim, a Comissão
deverá ser demandada tão somente quando a matéria já tiver sido discutida, sem
sucesso ou sem perspectiva de sucesso, perante a suprema corte do país em questão.
A Comissão decidiu que, para que um caso não seja admitido, remédios locais
devem ser disponíveis, efetivos, suficientes, e não (indevidamente) prolongados.96 No
caso Purohit and Moore v the Gâmbia,97 a Comissão deu uma decisão potencialmen-
te abrangente sobre a exaustão de remédios locais quando manteve que:
A categoria das pessoas representadas na presente comunicação é, provavelmen-
te, a de pessoas de rua ou de pessoas pobres, e como tais não se pode dizer que os remé-
dios disponíveis, de acordo com a Constituição, são remédios realistas para eles na
ausência de serviços jurídicos gratuitos.98
A Carta ainda tem um requisito de que as comunicações “não sejam escritas em
linguagem desrespeitosa ou insultante, contra o estado em questão e suas instituições,
ou contra a Organização da Unidade Africana”.99
Quando uma denúncia é apresentada, o estado em questão é convidado a responder
as alegações contra ele. Caso o estado não responda, a Comissão dará prosseguimento ao
caso com base nos fatos, tais como apresentados pelo reclamante.100 Caso a decisão da
Comissão seja de que, de fato, houve violação ou violações da Carta, a Comissão por vezes
também recomendará o fim de violações continuadas (por exemplo, os prisioneiros deve-
rão ser soltos);101 ou que leis específicas devam ser alteradas.102 Mas, muitas vezes, as reco-
318
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos
Cada estado-parte deve submeter, a cada dois anos, um relatório sobre seus esfor-
ços para cumprir com a Carta Africana.111 Apesar de não estar estabelecido na Carta
Africana que os relatórios devem ser submetidos especificamente para a Comissão
103 Constitutional Rights Project and Others versus Nigéria, número 55 acima.
104 Huri-Laws versus Nigeria (2000) AHRLR 273 (ACHPR 2000).
105 Ver, por exemplo, Malawi African Association and Others versus Mauritania, número 26 acima; Social and
Economic Rights Action Centre (SERAC) and Another versus Nigeria, número 38 acima.
106 Ver, por exemplo, Legal Resources Foundation versus Zambia, número 35 acima.
107 Parece que a Comissão estará apta a fazer alusão de tais casos com o PSC (artigo 9 do Protocolo do PSC, ver acima).
108 Regra 111. Para o debate ver, GJ Naldi ‘Interim measures of protection in the African system for the pro-
tection of human and peoples’ rights’ (2002) 2 African Human Rights Law Journal 1.
109 International Pen and Others (on behalf of Saro-Wiwa) versus Nigeria, número 98 acima
110 Contudo, em uma decisão recente a Comissão estabeleceu que o artigo 1 poderia ser violado apenas se “ o
Estado não legalizar o decreto-lei legislativo necessário”. Interights and Others (on behalf of Bosch) versus
Botswana, nùmero 34 acima, parágrafo 51.
111 Artigo 62. Para o debate, ver M Evans e outros ‘The reporting mechanism of the African Charter on Human
and Peoples’ Rights’ em Evans & Murray (número 23 acima) 36 e GW Mugwanya ‘Examination of state
reports by the African Commission: A critical appraisal’ (2001) 1 African Human Rights Law Journal 268.
319
Christof Heyns e Magnus Killander
Africana, a Comissão recomendou para a Assembléia que a própria Comissão deveria ter
o mandato para considerar os relatórios. A Assembléia endossou esta recomendação.112
As ONGs podem submeter relatórios de resposta ou alternativos, mas o impacto desta
via é prejudicado pela falta de acesso das ONGs aos relatórios estatais que supostamen-
te buscam responder. Os relatórios são considerados pela Comissão em sessões públicas.
Os relatórios de estados-partes devem seguir os parâmetros adotados pela Comissão.
Atualmente, há dois conjuntos de parâmetros: um, adotado em 1988,113 é longo e com-
plexo e outro, adotado em 1998,114 é extramente breve.115 O relacionamento entre estes
diferentes parâmetros não é claro, devendo ser uma prioridade da Comissão esclarecer
a situação no que se refere aos parâmetros sobre relatórios estatais.116
Os relatórios no âmbito da Carta, assim como em outros sistemas, têm como pro-
pósito facilitar tanto a introspecção quanto a inspeção. A “Introspecção” refere-se ao
processo em que o estado, ao escrever o relatório, submete a sua própria realidade
doméstica a análise, tendo em vista as normas da Carta. A “Inspeção” refere-se ao pro-
cesso em que a Comissão analisa o desempenho do estado em questão, tendo em vista a
Carta. O propósito é favorecer um “diálogo construtivo” entre a Comissão e os estados.
Os relatórios têm sido muito lentos, e 18 dos 53 estados-membros nunca subme-
teram nenhum relatório. Em 2001, a Comissão começou a emitir obervações finais em
relação aos relatórios considerados. Seus significados são diminuídos pelo fato de que
nem os relatórios estatais, e nem as observações finais, são publicados pela Comissão.
112 Ver, AHG/Res 176 (XXIV) 1988, reimpressa em Human Rights Law in Africa 1999, 128.
113 Reimpressa em Human Rights Law in África 507.
114 Reimpressa em Human Rights Law in África 569
115 Evans e outros, número 107 acima, 45.
116 O Grupo de Trabalho da Comissão em Direitos Sociais, Culturais e Econômicos tem em seu mandato “ela-
borar um projeto examinando diretrizes relativas a direitos sociais, culturais e econômicos, para relatar ao
Estado”. Resolução sobre Direitos Sociais, Culturais e Econômicos na África, ACHPR/Res.73(XXXVI)04,
adotada pela Comissão Africana de Direitos do Povo e Direitos Humanos, em dezembro de 2004.
117 Tem se discutido que a justificativa legal pode ser encontrada no artigo 46, o qual permite para “qualquer
método apropriado de investigação”. Para o debate, ver J Harrington ‘Special rapporteurs of the African
Commission on Human and Peoples’ Rights’ (2001) 1 African Human Rights Law Journal 247 e M Evans &
R Murray ‘The special rapporteurs in the African system’ in Evans & Murray (número 23 acima) 280. Para
os mandatos de especiais rapporteurs, ver www.achpr.org.
320
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos
Visitas no Local
Resoluções
118 Países associados da Comissão que conduziram missões promocionais ou coletadoras de fatos a serem inclu-
sos: Burkina Faso (2001), República do Tchad (2000), Congo (2004), Costa do Márfim (2001, 2003), República
Democrática do Congo (2004), Djibouti (2000, 2002), Líbia (2002), Mauritânia (1996), Moçambique (2000),
Niger (2002), Nigéria (1997, 2005), Senegal (1996, 2002), Seychelles (2001), Serra Leone (2000, 2004), África
do Sul (2001), Sudão (1996, 2002), Togo (1995), Zâmbia (2001) e Zimbabwe (2002).
119 Ver, R Murray ‘Evidence and fact-finding by the African Commission’ in Evans & Murray (número 23 acima) 100.
120 Para os textos das resoluções ver, Human Rights Law in Africa and www.achpr.org.
121 Ver, A Motala ‘Non-governmental organisations in the African system’ in Evans & Murray (número 23
acima) 246 e CE Welch Protecting Human Rights in Africa: Strategies and Roles of Non-governmental
Organisations (1995).
122 Ver a resolução reimpressa em Human Rights Law in África, 572. Instituições Nacionais em Direitos Hu-
manos podem também registrar-se como observador/afiliado. Ver resolução reimpressa em Human Rights
Law in África, 574.
321
Christof Heyns e Magnus Killander
mentais para trazer casos a Comissão; elas algumas vezes submetem relatórios-respos-
ta (ou relatórios-sombra); propõem itens para a agenda desde o início das sessões da
Comissão; e fornecem suporte logístico e outros para a Comissão, como por exemplo
fornecendo estagiários a Comissão e providenciando suporte para relatores especiais e
missões da Comissão. As ONGs, muitas vezes, organizam sessões de trabalhos espe-
ciais, para ONGs em geral, antes das sessões da Comissão, e participam ativamente nas
sessões públicas da Comissão. As ONGs também colaboram com a Comissão no desen-
volvimento de resoluções normativas e novos protocolos para a Carta Africana.
123 Decisão no 16º Relatório de Atividade Anual da Comissão em Direitos do Povo e Direitos Humanos,
Documento na Assembléia/AU/7 (II), Julho 2003, parágrafo 5.
124 Carta Patente Africana sobre Direitos do Povo e Direitos Humanos, artigo 59 (3).
125 O primeiro volume cobrindo o período 1987-2000 foi publicado em 2004.
126 Entre os mais notáveis estão: E Ankumah The African Commission on Human and Peoples’ Rights: Practice
and Procedures (1996); UO Umozurike The African Charter on Human and Peoples’ Rights; Evans &
322
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos
Inúmeras razões têm sido desenvolvidas para explicar porque apenas uma
Comissão, e não uma Corte, foi estabelecida pela Carta Africana, em 1981, como órgão
responsável pelo monitoramento da complacência de Estados Membros com a Carta.
Por um lado, há uma explicação mais idealista que a maneira tradicional de resolver dis-
putas na África deve ser através de mediação e conciliação, e não através do mecanismo
de adversários, de “ganhar ou perder” da corte. Por outro lado, existe uma visão de que
os Estados Membros da OAU estavam enciumados de sua recém fundada soberania.128
A noção de uma corte sobre Diretos Humanos para África teria sido tomada pela
OAU 13 anos após a adoção da Carta Africana, quando, em 1994, a Assembléia ado-
tou a resolução requerendo ao Secretário Geral da OAU a convocação de um Encontro
de Especialistas para considerar o estabelecimento de uma Corte Africana sobre
Direitos Humanos e Direitos dos Povos.129
Aparentemente, o conceito de direitos humanos foi aceito de maneira suficien-
temente ampla na África no início dos anos 90, para a decisão a ser tomada de dar mais
“dentes” (eficácia) ao sistema Africano de direitos humanos, na forma de uma Corte.
Isto veio na esteira das diferentes ondas de Democratização em nível nacional, sinte-
tizado pelas paradigmáticas eleições em Benin, em 1991, e o advento da democracia
na África do Sul, em 1994. No mundo todo, é claro, a idéia de direitos humanos tam-
bém havia ganhado proeminência após o fim da Guerra Fria.
Murray (eds), número 23 acima; e F Ouguergouz The African Charter on Human and Peoples’ Rights: a
comprehensive agenda for human rights (2003). Para uma visão detalhada, ver: F Viljoen ‘Introduction to
the African Commission and the regional human rights system’ em Human Rights Law in Africa 385.
Progressos no sistema são acompanhados regularmente em African Human Rights Law Journal,desde 2001.
127 www.achpr.org; www.africa-union.org; www.chr.up.ac.za.
128 J Harrington ‘The African Court on Human and Peoples’ Rights’ in Evans & Murray (eds), número 23
acima , 306. Para comentário na Corte considerada, ver também GJ Naldi & K Magliveras ‘Reinforcing the
African system of human rights: The Protocol on the Establishment of a Regional Court of Human and
Peoples’ Rights’ (1998) 16 Netherlands Quarterly of Human Rights 431; NJ Udombana ‘Towards the
African Court on Human and Peoples’ Rights: Better late than never’ (2000) 3 Yale Human Rights and
Development Law Journal 45; M Mutua ‘The African Human Rights Court: A two-legged stool?’ (1999) 21
Human Rights Quarterly 350; ‘The African Court on Human and Peoples’ Rights’ em Evans & Murray
(número 23 acima) 305; e F Viljoen ‘A Human Rights Court for Africa, and Africans’ (2004) 30 Brooklyn
Journal of International Law 1.
129 AHG/Res 230 (XXX) 1994. Reimpresso em Human Rights Law in Africa 1999, 139.
323
Christof Heyns e Magnus Killander
…
2. ... a minuta de um instrumento legal relativo ao estabelecimento da nova
corte (fundida), incluindo a Corte de Direitos Humanos e a Corte de Justiça, deve
ser completado para apreciação, até a próxima reunião ordinária do Conselho
Executivo e da Assembléia... 3. Também se determina que todas as medidas
necessárias para o funcionamento da Corte de Diretos Humanos sejam tomadas,
incluindo particularmente, a eleição dos juízes, a determinação do orçamento e
a operalização do Secretariado;
4. Ademais, decide-se que o Assento proveniente desta nova corte (fundi-
da) deve ser em um lugar a ser decidido pelos Estados-Membros da Região Leste,
o qual também deverá servir como assento para a Corte de Direitos Humanos,
enquanto a fusão estiver pendente.133
Uma vez que a Corte Africana de Direitos Humanos esteja funcionando, ela
irá ‘complementar’ o mandato protetivo da Comissão, de acordo com a Carta.134
De acordo com o Protocolo de 1998, a Corte será constituída de 11 juízes, servin-
do em suas capacidades individuais, 135 nomeados pelos Estados-Partes do
130 Os documentos que conduzem à adoção do Protocolo da Corte sobre Direitos Humanos Africanos estão
reimpressos em Human Rights Law in Africa 1999, 233-296. O Protocolo está reimpresso em Human
Rights Law in Africa (2004) 170.
131 Protocolo da Corte de Justiça da União Africana, adotado pela AU Assembléia dos Chefes de Estado e
Governos, Maputo, Julho 2003.
132 Anistia Internacional “União Africana: O estabelecimento de uma Corte Africana independente e efetiva
referente aos Direitos do Povo e Direitos Humanos deve ser uma prioridade máxima”, IOR 30/002/2005, 28
de janeiro de 2005.
133 Decisão na fusão da Corte Africana em Direitos do Povo e Direitos Humanos e da Corte de Justiça da União
Africana, Assembléia/AU/dec.83 (v).
134 Artigo 2 do Protocolo da Corte Africana de Direitos Humanos.
135 Artigo 11.
324
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos
325
Christof Heyns e Magnus Killander
147 Ver Naldi & Magliveras (número 124 acima) 435; Udombana (número 124 acima) 90; e Mutua (número
124 acima) 354.
148 Deve ser percebido, contudo, que tecnicamente artigos 60 e 61 da Carta Patente Africana apenas previnem
que isto deva ser feito pela Comissão Africana.
149 AP van der Mei ‘The advisory jurisdiction of the African Court on Human and Peoples’ Rights’ (2005) 5
African Human Rights Law Journal 27.
150 A Convenção Americana de Direitos Humanos estabelece no artigo 64 (1) que a Corte Interamericana pode
dar ‘interpretação sobre esta Convenção ou sobre outros tratados que dizem respeito a proteção dos direi-
tos humanos nos Estados Americanos’. A Corte Interamericana tem interpretado ‘outros tratados’ de manei-
ra a incluir ‘qualquer provisão que trate da proteção dos direitos humanos estabelecida em qualquer trata-
do internacional aplicável nos Estados Americanos...’ Veja Opinião Consultiva OC-1/82 de 24 de setembro
de 1982, Séries A No 1, parágrafo 52, citado em Van der Mei, número 145 acima, 38.
151 Heyns, número 41 acima, 166-167.
152 African Human Rights Court Protocol art. 4.
326
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos
153 Não está claro quantos Estados-partes têm de fato submetido relatórios estatais. Entretanto o Comitê tem
adotado seus procedimentos para considerar relatórios Estatais e tem indicado que comecará a considerar
relatórios Estatais em suas reuniões. Report of the African Committee on the Rights and Welfare of the
Child, EX.CL/200 (VII), relatório apresentado no encontro do Conselho Executivo da AU, 28 de junho – 2
de julho de 2005, 1.
154 Como mencionado acima, 11.
155 Isto estaria de acordo com a presente iniciativa de unir os Comitês dos tratados de direitos humanos das
Nações Unidas. Ver o plano de ação submetido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas em Direitos
Humanos, A/59/2005/Add.3, parágrafo 99.
156 AHG/235(XXXVIII) Anexo I.
157 Como citado acima, parágrafo 28.
327
Christof Heyns e Magnus Killander
O processo APRM consiste em uma auto-avaliação pelo país signatário a ser revis-
ta, e uma revisão feita por uma equipe de revisão internacional. Neste aspecto ele e
158 A Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (NEPAD): Mecanismo de Revisão da Emergência
Africana (APRM), AHG/235(XXXVIII) Anexo II (APRM documento de base), parágrafo 15.
328
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos
similar ao relatório estatal da Carta Africana. Entretanto, existem claras diferenças, tais
como visitas ao país pelo time de revisores da APRM; e o palco político, quando o líder
do país discute o resultado da revisão com seus iguais em outros países participantes.
O mais alto organismo decisório na APRM é o Fórum ARI, que consiste nos che-
fes de Estado e Governo dos Estados-membros. Um painel de pessoas eminentes, com
sete membros, inspeciona o processo de revisão e um membro deste painel é escolhi-
do para liderar o time de revisão em sua missão no país.
O processo internacional de revisão consiste em cinco etapas.159 Primeiro, um
estudo do histórico é conduzido pelo secretariado e amparado por seus consultores.
Este estágio também inclui uma missão de auxílio ao país que será examinado. Na
segunda etapa, um time de revisores liderado por uma das pessoas eminentes visita o
país para debates com todos os participantes envolvidos, em depois do que a equipe
prepara seu relatório (terceiro estágio). Algumas instituições parceiras e consultores
independentes auxiliam no processo. O quarto estágio consiste na submissão do rela-
tório para o Fórum da ARI e na discussão entre os iguais. O último estágio é a publi-
cação do relatório e demais discussões em outras instituições da UA, como o
Parlamento Pan-Africano.
A APRM lida com governança política, econômica e corporativa e desenvolvi-
mento sócio-econômico. Inicialmente, havia um debate quanto à inclusão de aspectos
da governança política, incluindo direitos humanos, mas como assinalado por Cilliers:
‘Sem que se faça da governança política o núcleo do foco da NPDA, a Parceira não
causará um impacto no continente’.160
A APRM é voluntária, e até o presente 23 dos 53 Estados-membros da UA assi-
naram o Memorando de Entendimento (ME)161 que forma a base legal para a revisão.
No parágrafo 24 da ME, o Estado signatário concorda em ‘tomar quantas providências
forem necessárias para a implementação das recomendações adotadas na conclusão do
processo de revisão...’ O ME não lida com o material contratual de seus signatários,
mas, em vez disto, refere-se a Declaração da Governança. A Declaração da
Governança faz referência a padrões que já foram empregados pelos Estados partici-
pantes em outras declarações e tratados, incluindo instrumentos de direitos humanos
globais e regionais. A Declaração da Governança compreende apenas 28 parágrafos e
abrange todas as áreas que estão sendo revistas, por exemplo: governança política,
econômica e corporativa, bem como desenvolvimento sócio-econômico. Documentos
adicionais têm sido desenvolvidos com a preocupação de padrões e indicadores,
329
Christof Heyns e Magnus Killander
162 Veja, por exemplo, A Kajee ‘NEPAD’s APRM: A progress report’ in South African Yearbook of
International Affairs 2003/2004.
163 O principal organismo Africano de direitos humanos, a Comissão Africana de Direitos Humanos e Direitos
do Povos, submete seu Relatório Anual de Atividades ao Conselho Executivo da União Africana, o qual o
submete à Assembléia para a adoção. Embora o relatório em 2003 tenha provocado um certo debate, este
não se deu pela tentativa de implementação de sugestões do relatório mas em vez disso proteger o Zimbábue
do criticismo.
164 Em seu discurso dirigido à Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas no dia 7 de abril de 2005,
o Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan declarou que o trabalho da Comissão tem ‘sido
minado pela politização de seus encontros e pela seletividade de seu trabalho’. Ele propôs a adoção do
Conselho Permanente de Direitos Humanos, o qual deveria ‘ter uma função explícita e definida como
uma chamber of peer review, e sua tarefa principal deveria ser avaliar todos as realizações dos Estados,
em relação a todas suas obrigações de direitos humanos...’ Secretary General elaborates on reform of
human rights structures in address to Commission on Human Rights’ United Nations press release, 7
April 2005, www.ohchr.org.
165 APRM, numero 154 acima, para. 24.
330
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos
VI. Conclusão
166 Algumas das idéias desenvolvidas aqui estão contadas em LR Helfer and A Slaughter ‘Towards a theory of
effective supranational adjudication’ (1997) 107 Yale Law Journal 275. Ver também, H Koh ‘Why do
nations obey international law’ (1997) 106 Yale Law Journal 2599.
167 Veja por exemplo, C Heyns, D Padilla & L Zwaak ‘A schematic comparison of regional human rights
systems: An update’ (2005) 5 African Human Rights Law Journal.
331
Christof Heyns e Magnus Killander
332
O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos
Quanto mais atrativo for o conjunto de benefícios por ser membro do órgão
regional, mais provável será a disposição dos Estados em aceitar uma super-
visão efetiva de direitos humanos, como parte do acordo. Na Europa, o cri-
tério de direitos humanos para participação na Comunidade Européia, com
todos os benefícios financeiros associados, levou a reformas em diversos
Estados candidatos.
• O componente de “direitos humanos” das atividades do Órgão Regional de
Direitos Humanos é bem subsidiado, no que se refere a recursos financei-
ros e humanos (tanto em relação ao número de pessoas envolvidas, como
também suas habilidades em campo).
• Os Estados membros seguem uma abordagem de indicar especialistas inde-
pendentes e capazes para serem membros dos organismos de supervisão?
• Os membros dos organismos supervisores mantêm padrões elevados de
independência e imparcialidade, e eles desenvolvem uma jurisprudência
que seja persuasiva e atrativa em termos principiológicos?
• Existe correspondência suficiente ou ‘ressonância normativa’ entre os valo-
res das sociedades em questão e os valores reconhecidos nos sistemas regio-
nais? Por exemplo, se o conceito do grupo é importante entre as pessoas da
região, alguma ênfase nos direitos dos povos e seus deveres podem ser
importantes para assegurar a legitimidade e, como resultado, a aceitação
espontânea dos sistemas.
• Existe consonância entre caminhos tradicionais de resolução de disputas na
região e os métodos seguidos pelos organismos supervisores. Por exemplo,
na Europa a ênfase tradicional no processo judiciário poderia auxiliar o
papel central da Corte Européia dos Direitos Humanos naquele sistema,
enquanto a ênfase em métodos não-judiciais para resolução de conflitos, na
África, poderia requerer um sistema de supervisão mais misto, por exem-
plo, não apenas promovido por uma corte, mas também por uma comissão
quase judicial e também por instituições com um forte componente políti-
co como o APRM.
• Existe publicidade eficaz para o trabalho dos organismos regionais de direi-
tos humanos? Isto parece ser essencial em um sistema baseado na pressão
pública e na de iguais (peer).
• Existe comércio e outras ligações entre os Estados envolvidos? Sem tais liga-
ções, Estados parecem ter pouca influência uns sobre os outros, para imple-
mentar pressão de iguais (peer pressure).
• Os mecanismos em questão estão focados e bem-coordenados para assegu-
ras a máxima eficiência no uso de recursos? A primeira vista, parece haver
uma proliferação desnecessária de sistemas na região africana.
• A sociedade civil é ativa no campo de direitos humanos? Isto se aplica para
as ONGs, mas também a outras instituições como universidades.
333
Christof Heyns e Magnus Killander
334
Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos
Humanos: Impacto, Desafios e Perspectivas à Luz
da Experiência Latino-Americana1
Flávia Piovesan2
Sumáárioo: I. Introdução II. Sistema interamericano de proteção dos direitos humanos: origem, perfil e objetivos
III. Impacto do sistema interamericano de proteção dos direitos humanos na experiência latino-americana, sobretu-
do brasileira IV. Sistema interamericano de proteção dos direitos humanos: desafios e perspectivas.
I. Introdução
1 Um especial agradecimento é feito à Alexander von Humboldt Foundation pela fellowship que tornou pos-
sível este estudo e ao Max-Planck Institute for Comparative Public Law and International Law por prover
um ambiente acadêmico de extraordinário vigor intelectual.
2 Professora doutora em Direito Constitucional e Direitos Humanos da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, Professora de Direitos Humanos dos Programas de Pós Graduação da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e da Universidade Pablo de Olavide
(Sevilha, Espanha); visiting fellow do Human Rights Program da Harvard Law School (1995 e 2000), visi-
ting fellow do Centre for Brazilian Studies da University of Oxford (2005), visiting fellow do Max Planck
Institute (Heidelberg, 2007-2008), sendo atualmente Humboldt Foundation Georg Forster Research Fellow
no Max Planck Institute (Heidelberg - 2009-2011); procuradora do Estado de São Paulo, membro do
Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e membro da SUR – Human Rights University
Network.
335
Flávia Piovesan
3 Na Guatemala, após o golpe militar, estima-se que em média 30.000 pessoas tenham desaparecido. Na
Nicarágua a prática dos desaparecimentos forçados foi uma constante no governo Somoza; no Brasil, após o
golpe militar de 1964; no Chile, após o golpe militar de 1973; e na Argentina, particularmente após o golpe
militar de 1976, estima-se que mais de 9000 pessoas desapareceram. Na década de 80, estas práticas se esten-
deram a El Salvador, Peru e persistem ainda hoje na Colômbia. (Mario Novelli e Berenice Celeyta, Latin
America: The Reality of Human Rights, In: Rhona K.M.Smith e Christien van den Anker (eds). The essen-
tials of Human Rights. London, Hodder Arnold, 2005, p. 219)
4 Guillermo O’Donnell, Transitions, continuities, and paradoxes, In: Scott Mainwaring, Guillermo O’Donnel
e J. Samuel Valenzuela, Org., Issues in democratic consolidation: the new south american democracies in
comparative perspective, Notre Dame, University of Notre Dame Press, 1992, p. 18.
336
Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: Impacto,
Desafios e Perspectivas à Luz da Experiência Latino-Americana
5 A respeito, afirma Christina M. Cerna: “Todos os instrumentos internacionais de direitos humanos pressu-
põe um Estado democrático como condição para o exercício de direitos humanos. A Comissão
Interamericana tem sido um ator fundamental no processo de democratização das Américas. A OEA, cria-
da em 1959, foi o primeiro organismo internacional a definir os atributos de uma Democracia, em sua pri-
meira Declaração de Santiago, (...) embora muitos Estados da região à época não fossem democráticos.”
(Christina M. Cerna, The Inter-American Commission on Human Rights, In: Rhona K.M.Smith e Christien
van den Anker (eds). The essentials of Human Rights. London, Hodder Arnold, 2005, p.184).
6 Como realça o ECLAC: “A desigualdade na América Latina não é apenas a maior, se comparada com outras
regiões, mas permanece estável desde os anos 90.” (ECLAC, Social Panorama of Latin America - 2006, chap-
ter I, p.84. http://www.eclac.org/cgibin/getProd.asp?xml=/publicaciones/xml/4/27484/P27484.xml&xsl=/
dds/tpli/p9f.xsl&base=/tpl-i/top-bottom.xslt. Para Cesar P. Bouillon e Mayra Buvinic: “(…) No que se refe-
re à renda, os países da região latino-americana estão dentre os mais desiguais do mundo. Nos anos 90, os
20% mais ricos da população concentravam 60% da renda, enquanto que os 20% mais pobres apenas deti-
nha 3%.” (Cesar P. Bouillon and Mayra Buvinic, Inequality, Exclusion and Poverty in Latin America and
the Caribbean: Implications for Development, Background document for EC/IADB “Seminar on Social
Cohesion in Latin America,” Brussels, June 5-6, 2003, p. 3-4, par. 2.8). http://www.iadb.org/sds/doc/soc-
idb-socialcohesion-e.pdf, accessed on July 26, 2007.
7 Note-se que o sistema interamericano consiste em dois regimes: um baseado na Convenção Americana e o
outro baseado na Carta da Organização dos Estados Americanos. O enfoque do presente artigo se concen-
trará exclusivamente no regime instaurado pela Convenção Americana de Direitos Humanos.
8 Cf. Thomas Buergenthal: “A Convenção Americana de Direitos Humanos foi adotada em 1969 em uma
Conferência inter-governamental celebrada pela Organização dos Estados Americanos (OEA). O encontro
ocorreu em San José, Costa Rica, o que explica o porquê da Convenção Americana ser também conhecida
como “Pacto de San José da Costa Rica”. A Convenção Americana entrou em vigor em julho de 1978, quan-
do o 11º instrumento de ratificação foi depositado”. (The inter-american system for the protection of
human rights, In: Theodor Meron, Ed., Human rights in international law: legal and policy issues, Oxford,
Claredon Press, 1984, p. 440).
9 De acordo com: http://www.cidh.oas.org/Basicos/English/Basic4.Amer.Conv.Ratif.htm (acesso em
06/04/09)
337
Flávia Piovesan
10 Prefácio de Thomas Buergenthal, Jo M. Pasqualucci, The Practice and Procedure of the Inter-American
Court on Human Rights, Cambridge, Cambridge University Press, 2003, p.XV. Em 2009, 22 Estados havi-
am reconhecido a competência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. De acordo com:
http://www.cidh.oas.org/Basicos/English/Basic4.Amer.Conv.Ratif.htm (acesso em 06/04/09)
11 Na visão de Hector Gross Espiell: “Os direitos previstos no capítulo II são: o direito à personalidade jurídi-
ca, o direito à vida, o direito ao tratamento humano, a proibição da escravidão e servidão, o direito à liber-
dade pessoal, o direito a um julgamento justo, o princípio da não retroatividade, o direito à compensação, o
direito de ter a própria honra e dignidade protegidas, a liberdade de consciência e religião, a liberdade de
pensamento e expressão, o direito de resposta, o direito de assembléia, a liberdade de associação, o direito
de se casar e de fundar uma família, o direito ao nome, os direitos da criança, o direito à nacionalidade, o
direito à propriedade privada, a liberdade de movimento e residência, direitos políticos, igualdade perante
a lei e o direito à proteção judicial (arts. 4º a 25). (...) O artigo 26 trata dos direitos sociais, econômicos e cul-
turais”. (The Organization of American States (OAS), In: Karel Vasak (Editor), The international dimen-
sions of human rights, revisado e editado para a edição inglesa por Philip Alston, Connecticut, Greenwood
Press, 1982, vol. 1, p. 558-559). Ver ainda David Harris e Stephen Livingstone, The Inter-American System
of Human Rights, Oxford, Clarendon Press, 1998.
338
Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: Impacto,
Desafios e Perspectivas à Luz da Experiência Latino-Americana
12 Até 2009 o Protocolo de San Salvador contava com 14 Estados-partes. De acordo com:
http://www.cidh.oas.org/Basicos/English/Basic6.Prot.Sn%20Salv%20Ratif.htm (acesso em 06/04/09).
Dentre os direitos enunciados no Protocolo, destacam-se: o direito ao trabalho e a justas condições de tra-
balho; a liberdade sindical; o direito à seguridade social; o direito à saúde; o direito ao meio ambiente; o
direito à nutrição; o direito à educação; direitos culturais; proteção à família; direitos das crianças; direitos
dos idosos; e direitos das pessoas portadoras de deficiência. Note-se que, além do Protocolo de San Salvador
(1988), outros tratados de direitos humanos foram adotados no âmbito do sistema interamericano, com des-
taque ao Protocolo para a Abolição da Pena de Morte (1990); à Convenção Interamericana para Prevenir e
Punir a Tortura (1985); à Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de Pessoas (1994);
à Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (1994); e à
Convenção Interamericana sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra Pessoas com
Deficiência (1999).
339
Flávia Piovesan
340
Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: Impacto,
Desafios e Perspectivas à Luz da Experiência Latino-Americana
ao competente órgão de controle o estado de seu direito interno em relação aos compromissos assumidos
em decorrência do tratado e a prática que tem se verificado com respeito às situações compreendidas no tra-
tado, no sistema interamericano, os informes são elaborados pela Comissão Interamericana de Direitos
Humanos. Além de se constituir em um método para determinar atos, precisar e difundir a objetividade de
uma situação, os informes da Comissão servem para modificar a atitude de Governos resistentes à vigência
dos direitos humanos, através do debate interno que eles proporcionam ou, a depender do caso, do debate
internacional. A CIDH elabora dois tipos de informes: um sobre a situação dos direitos humanos em um
determinado país e outro que encaminha anualmente à Assembléia da OEA. Os informes sobre a situação
dos direitos humanos em um Estado membro da OEA são decididos pela própria Comissão ante situações
que afetem gravemente a vigência dos direitos humanos. (...) Por outro lado, os informes anuais para a
Assembléia Geral da OEA, atualizam a situação dos direitos humanos em distintos países, apresentam o tra-
balho da Comissão, elencam as resoluções adotadas com respeito a casos particulares e revelam a opinião da
Comissão sobre as áreas nas quais é necessário redobrar esforços e propor novas normas”. (Derecho inter-
nacional de los derechos humanos: breve visón de los mecanismos de protección en el sistema interameri-
cano, In: Derecho internacional de los derechos humanos, Comision Internacional de Juristas, Colegio de
Abogados del Uruguay, 1993, p. 84-85).
15 Para Christof Heyns e Frans Viljoen: “Ao utilizar métodos inovadores, como as investigações in loco, a
Comissão Interamericana teve uma importante atuação na transição de ditaduras militares para regimes
democráticos na América Latina, na década de 80.” (Christof Heyns e Frans Viljoen, An Overview of
Human Rights Protection in Africa, South African Journal on Human Rights, vol.11, part 3, 1999, p. 427).
Note-se que, em 1961, a Comissão Interamericana começou a realizar visitas in loco para observar a situa-
ção geral de direitos humanos no país, ou para investigar uma situação particular. Desde então, foram rea-
lizadas 83 visitas a 23 Estados membros. A respeito de suas observações gerais sobre a situação de um país,
a Comissão Interamericana publica informes especiais, havendo publicado 57 até final de 2004.
16 São eles: a) caso Gilson Nogueira Carvalho, referente à denúncia de assassinato de defensor de direitos
humanos por grupo de extermínio no Rio Grande do Norte; b) caso Damião Ximenes Lopes, referente à
denúncia de morte por espancamento em clínica psiquiátrica no Ceará; c) caso Presídio Urso Branco, refe-
341
Flávia Piovesan
Em um dos casos contenciosos – caso Damião Ximenes Lopes – a Corte proferiu a pri-
meira sentença condenatória contra o Brasil, em 04 de julho de 2006, em virtude de
maus tratos sofridos pela vítima, portadora de transtorno mental, em clínica psiquiá-
trica no Ceará. A decisão da Corte condenou o Brasil pela violação aos direitos à vida,
à integridade física e à proteção judicial, eis que a vítima, pela violência sofrida, fale-
ceu três dias após sua internação na clínica.17 A sentença constitui uma decisão para-
digmática para a defesa dos direitos das pessoas com deficiência mental e para avan-
ços na política pública de saúde mental.
Quanto aos casos submetidos à Comissão Interamericana, foram encaminhados,
via de regra, por entidades não-governamentais de defesa dos direitos humanos, de
âmbito nacional ou internacional e, por vezes, pela atuação conjunta dessas entidades.
O universo destes casos pode ser classificado em 8 (oito) categorias, que correspondem
a casos de:
rente à denúncia de morte e maus tratos de detentos no presídio de Rondônia; d) caso relativo à Febem,
denunciando maus tratos sofridos por adolescentes; e e) caso relativo à penitenciária de Arararaquara, a res-
peito da violação aos direitos dos detentos. Os três últimos casos referem-se a medidas provisórias, em vir-
tude da extrema gravidade e urgência e para evitar dano irreparável à vítima (ver art. 63 (2) da Convenção
Americana e art.74 do Regulamento da Comissão Interamericana).
17 Caso Damião Ximenes Lopes vs. Brasil, Sentença e 04 de julho de 2006, Série C, n.150. A Corte ressaltou
que a sentença constitui per se uma forma de reparação. A Corte ainda determinou ao Estado: a) garantir,
em um prazo razoável, que o processo interno destinado a investigar e sancionar os responsáveis pelos fatos
deste caso surta seus devidos efeitos; b) publicar, no prazo de seis meses, no Diário Oficial e em outro jor-
nal de ampla circulação nacional, uma só vez, o Capítulo VII relativo aos fatos provados da sentença da
Corte; c) continuar a desenvolver um programa de formação e capacitação para o pessoal médico, de psi-
quiatria e psicologia, de enfermagem e auxiliares de enfermagem e para todas as pessoas vinculadas ao aten-
dimento de saúde mental, em especial sobre os princípios que devem reger o trato das pessoas portadoras
de deficiência mental, conforme os padrões internacionais sobre a matéria e aqueles dispostos na Sentença;
d) pagar em dinheiro para os familiares da vítima, no prazo de um ano, a título de indenização por dano
material e imaterial, as quantias fixadas em sentença; e e) pagar em dinheiro, no prazo de um ano, a título
de custas e gastos gerados no âmbito interno e no processo internacional perante o sistema interamericano
de proteção dos direitos humano. A Corte ressaltou também que supervisionará o cumprimento íntegro da
sentença, cabendo ao Estado, no prazo de um ano, apresentar à Corte relatório sobre as medidas adotadas
para o seu cumprimento.
342
Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: Impacto,
Desafios e Perspectivas à Luz da Experiência Latino-Americana
Note-se que 50% dos casos referem-se à violência da polícia militar, o que
demonstra que o processo de democratização foi incapaz de romper com as práticas
autoritárias do regime repressivo militar, apresentando como reminiscência um
padrão de violência sistemática praticada pela polícia militar, que não consegue ser
controlada pelo aparelho estatal. Tal como no regime militar, não se verifica a puni-
ção dos responsáveis. A insuficiência, ou mesmo, em alguns casos, a inexistência de
resposta por parte do Estado brasileiro é o fator que enseja a denúncia dessas violações
de direitos perante a Comissão Interamericana.
Ao lado dos casos de violência da polícia militar, constata-se que os casos restan-
tes revelam violência cometida em face de grupos socialmente vulneráveis, como os
povos indígenas, a população afro-descendente, as mulheres, as crianças e os adoles-
centes. Em 90% dos casos examinados, as vítimas podem ser consideradas pessoas
socialmente pobres, sem qualquer liderança destacada, o que inclui tanto aqueles que
viviam em favelas, nas ruas, nas estradas, nas prisões, ou mesmo, em regime de traba-
lho escravo no campo, com exceção aos casos de violência contra defensores de direi-
tos humanos e contra lideranças rurais. As denúncias se concentram fundamentalmen-
te em casos de violações a direitos civis e/ou políticos, sendo ainda incipiente a apre-
sentação de denúncias atinentes à violação a direitos sociais, econômicos ou culturais.
Quanto ao impacto da litigância internacional no âmbito brasileiro, os casos sub-
metidos à Comissão Interamericana têm apresentado relevante impacto no que tange
à mudança de legislação e de políticas publicas de direitos humanos, propiciando sig-
nificativos avanços internos. A título ilustrativo, cabe menção a 8 avanços:
343
Flávia Piovesan
da Lei 11.340/2006 (“Lei Maria da Penha”), que cria mecanismos para coi-
bir a violência doméstica e familiar contra a mulher;
f) os casos envolvendo violência contra defensores de direitos humanos con-
tribuíram para a adoção do Programa Nacional de Proteção aos Defensores
de Direitos Humanos;
g) os casos envolvendo violência rural e trabalho escravo contribuíram para a
adoção do Programa Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo; e
h) casos envolvendo direitos dos povos indígenas foram essenciais para a
demarcação e homologação de suas terras.
344
Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: Impacto,
Desafios e Perspectivas à Luz da Experiência Latino-Americana
to.20 Se a Corte fixar uma compensação à vítima, a decisão valerá como título execu-
tivo, em conformidade com os procedimentos internos relativos à execução de sen-
tença desfavorável ao Estado.21
Até 2009, dos 25 Estados-partes da Convenção Americana de Direitos Humanos,
22 Estados haviam reconhecido a competência contenciosa da Corte. O Estado
Brasileiro finalmente reconheceu a competência jurisdicional da Corte Interame-
ricana em dezembro de 1998, por meio do Decreto Legislativo n. 89, de 3 de dezem-
bro de 1998.22
Considerando a atuação da Corte Interamericana, é possível criar uma tipologia
de casos baseada em decisões concernentes a 5 (cinco) diferentes categorias de viola-
ção a direitos humanos:
20 Na lição de Paul Sieghart: “a Corte Européia de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos
Humanos têm o poder de proferir decisões juridicamente vinculantes contra Estados soberanos, condenan-
do-os pela violação de direitos humanos e liberdades fundamentais de indivíduos, e ordenando-lhes o paga-
mento de justa indenização ou compensação às vítimas”. (Paul Sieghart, International human rights law:
some current problems, op. cit., p. 35).
21 No exercício de sua jurisdição contenciosa, até julho de 2005, a Corte Interamericana havia proferido 127
sentenças – dentre as quais 28 são decisões sobre exceções preliminares; 57 são sentenças de mérito (que
avaliam fundamentalmente se houve violação ou não); 23 são sentenças sobre reparação; e 2 sentenças sobre
cumprimento das recomendações; 17 atêm-se a outros temas (interpretação de julgamento, pedido de inter-
pretação, etc). Em relação às medidas provisórias, foram publicadas 212 decisões versando sobre 56 casos.
22 O Decreto Legislativo n. 89, de 3 de dezembro de 1998, aprovou a solicitação de reconhecimento da com-
petência obrigatória da Corte Interamericana de Direitos Humanos em todos os casos relativos à interpre-
tação ou aplicação da Convenção Americana de Direitos Humanos, para fatos ocorridos a partir do reconhe-
cimento, de acordo com o previsto no parágrafo primeiro do artigo 62 da Convenção Americana.
23 Velasquez Rodriguez Case, Inter-American Court of Human Rights, 1988, Ser. C, No. 4.
24 Loayza Tamayo vs. Peru case. Judgment of 17 September 1997.
345
Flávia Piovesan
ra. Estas decisões enfatizaram o dever do Estado de investigar, processar e punir os res-
ponsáveis pelas violações, bem como de efetuar o pagamento de indenizações.
No plano consultivo, merecem menção as opiniões a respeito da impossibilidade
de adoção da pena de morte pelo Estado da Guatemala25 e da impossibilidade de sus-
pensão da garantia judicial de habeas corpus inclusive em situações de emergência, de
acordo com o artigo 27 da Convenção Americana.26
346
Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: Impacto,
Desafios e Perspectivas à Luz da Experiência Latino-Americana
bem como por afrontar os deveres do Estado de investigar, processar, punir e reparar
graves violações de direitos humanos que constituem crimes de lesa humanidade.
Cite-se, ainda, o caso argentino, em que decisão da Corte Suprema de Justiça de
2005 anulou as leis de ponto final (Lei 23.492/86) e obediência devida (Lei 23.521/87),
adotando como precedente o caso Barrios Altos.
29 Aguirre Roca and others vs. Peru case (Constitutional Court Case). Judgment of 31 January 2001.
30 Mayagna (Sumo) Awas Tingni Community vs. Nicaragua, Inter-American Court, 2001, Ser. C, No. 79.
31 Yakye Axa Community vs. Paraguay, Inter-American Court, 2005, Ser. C, No. 125.
347
Flávia Piovesan
cionais. Adicionou que para os povos indígenas a saúde apresenta uma dimensão cole-
tiva, sendo que a ruptura de sua relação simbiótica com a terra exerce um efeito pre-
judicial sobre a saúde destas populações.
No caso dos direitos das crianças, cabe menção ao caso Villagran Morales contra
a Guatemala (1999),32 em que este Estado foi condenado pela Corte, em virtude da
impunidade relativa à morte de 5 meninos de rua, brutalmente torturados e assassina-
dos por 2 policiais nacionais da Guatemala. Dentre as medidas de reparação ordena-
das pela Corte estão: o pagamento de indenização pecuniária aos familiares das víti-
mas; a reforma no ordenamento jurídico interno visando à maior proteção dos direi-
tos das crianças e adolescentes guatemaltecos; e a construção de uma escola em
memória das das vítimas.
Adicione-se, ainda, as opiniões consultivas sobre a condição jurídica e os direi-
tos humanos das crianças (OC 17, emitida em agosto de 2002, por solicitação da
Comissão Interamericana de Direitos Humanos) e sobre a condição jurídica e os direi-
tos de migrantes sem documentos (OC18, emitida em setembro de 2003, por solicita-
ção do México).
Mencione-se, também, o parecer emitido, por solicitação do México (OC16, de
01 de outubro de 1999), em que a Corte considerou violado o direito ao devido pro-
cesso legal, quando um Estado não notifica um preso estrangeiro de seu direito à assis-
tência consular. Na hipótese, se o preso foi condenado à pena de morte, isso constitui-
ria privação arbitrária do direito à vida. Note-se que o México embasou seu pedido de
consulta nos vários casos de presos mexicanos condenados à pena de morte nos
Estados Unidos.
Com relação aos direitos das mulheres, destacam-se relevantes decisões do siste-
ma interamericano sobre discriminação e violência contra mulheres, o que fomentou
a reforma do Código Civil da Guatemala, a adoção de uma lei de violência doméstica
no Chile e no Brasil, dentre outros avanços.33
Finalmente, nesta quinta categoria de casos emergem decisões da Corte que pro-
tegem direitos sociais. Importa reiterar que a Convenção Americana de Direitos
Humanos estabelece direitos civis e políticos, contemplando apenas a aplicação pro-
gressiva dos direitos sociais (artigo 26). Já o Protocolo de San Salvador, ao dispor sobre
direitos econômicos, sociais e culturais, prevê que somente os direitos à educação e à
liberdade sindical seriam tuteláveis pelo sistema de petições individuais (artigo 19,
parágrafo 6º).
32 Villagran Morales et al versus Guatemala (The Street Children Case), Inter-American Court, 19 November
1999, Ser. C, No. 63.
33 A respeito, ver caso María Eugenia versus Guatemala e caso Maria da Penha versus Brasil decididos pela
Comissão Interamericana.
348
Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: Impacto,
Desafios e Perspectivas à Luz da Experiência Latino-Americana
34 Villagran Morales et al versus Guatemala (The Street Children Case), Inter-American Court, 19 November
1999, Ser. C, No. 63.
35 Caso de las ninas Yean y Bosico v. Republica Dominicana, Inter-American Court, 08 November 2005, Ser.
C, N.130
36 Albán Cornejo y otros v. Ecuador, Inter-American Court, 22 November 2007, serie C n. 171.
37 Myrna Mack Chang v. Guatemala, Inter-American Court, 25 November 2003, serie C n. 101.
38 Baena Ricardo y otros v. Panamá, Inter-American Court, 02 February 2001, serie C n. 72.
349
Flávia Piovesan
39 Caso Trabajadores cesados del congreso (Aguado Alfaro y otros) v. Peru, Inter-American Court, 24
November 2006, serie C n. 158.
40 Caso “cinco pensionistas” v. Peru, Inter-American Court, 28 February 2003, serie C n. 98.
350
Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: Impacto,
Desafios e Perspectivas à Luz da Experiência Latino-Americana
41 James L. Cavallaro, Toward Fair Play: A Decade of Transformation and Resistance in International Human
Rights Advocacy in Brazil, In: Chicago Journal of International Law, v. 3, n. 2, fall 2002, p. 492.
42 Ver Kathryn Sikkink, Human rights, principled issue-networks, and sovereignty in Latin America, In:
International Organizations, Massachusetts, IO Foundation and the Massacussetts Institute of Technology,
1993, p. 414-415.
43 Kathryn Sikkink e Thomas Risse, Conclusions, In: Thomas Risse, Stephen C. Ropp e Kathryn Sikkink, The
Power of Human Rights: International Norms and Domestic Change, Cambridge, Cambridge University
Press, 1999, p. 275.
351
Flávia Piovesan
44 Antônio Augusto Cançado Trindade e Manuel E. Ventura Robles, El Futuro de la Corte Interamericana de
Derechos humanos, 2ª ed. atualizada e ampliada, San José/Costa Rica, Corte Interamericana de Direitos
Humanos e ACNUR, 2004, p. 10-11.
352
Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: Impacto,
Desafios e Perspectivas à Luz da Experiência Latino-Americana
45 Antônio Augusto Cançado Trindade e Manuel E. Ventura Robles, El Futuro de la Corte Interamericana de
Derechos humanos, 2ª ed. atualizada e ampliada, San José/Costa Rica, Corte Interamericana de Direitos
Humanos e ACNUR, 2004, p. 36. Sobre o tema, defende o autor a necessidade de se avançar “no sentido da
evolução do locus standi in judicio ao jus standi dos indivíduos ante a Corte” (op. cit., p. 96).
46 Para uma análise comparativa dos sistemas regionais, ver Flávia Piovesan, Direitos Humanos e Justiça
Internacional: Um estudo comparativo dos sistemas regionais europeu, interamericano e africano, São
Paulo, ed. Saraiva, 2006.
353
Flávia Piovesan
354
Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: Impacto,
Desafios e Perspectivas à Luz da Experiência Latino-Americana
355
Dignidad Humana y Protección de los Derechos
Económicos Sociales y Culturales en la Jurisprudencia
de la Corte Interamericana de Derechos Humanos:
el Nuevo Concepto del Derecho a una Vida Digna
Enzamaria Tramontana1
Sumarioo: I. Introducción II. Los derechos económicos, sociales y culturales en el marco del sistema interamericano:
los instrumentos de tutela III. El enfoque interpretativo de la Corte IV. La protección jurídica de la vida en el siste-
ma interamericano V. La evolución del concepto de derecho a una vida digna en la jurisprudencia de la Corte de San
José: las orígenes en el caso de los Niños de la Calle VI. La obligación estatal de garantizar condiciones dignas de vida
a reclusos y personas bajo su tutela VII. Vida digna y comunidades indígenas: la protección del derecho a las tierras
ancestrales en el marco de la interpretación extensiva del derecho a la vida VIII. La indemnización del daño al pro-
yecto de vida como garantía de la autorrealización plena de la persona IX. Conclusiones
I. Introducción
El concepto del derecho a una vida digna representa una de las elaboraciones
más relevantes en el marco de la jurisprudencia de la Corte interamericana de dere-
chos humanos.
De acuerdo con esta noción, el alcance de protección del derecho a la vida no se
limita a la prohibición de la privación arbitraria de ésta, sino, también, incluye el
derecho de vivir en condiciones compatibles con la dignidad de la persona.
La especial significación de este concepto es, al mismo tiempo, teórica y practi-
ca. Desde el primer punto de vista, esta relevancia desciende del hecho que la protec-
ción ampliada de la vida consagrada por la Corte abarca, en el marco de tutela de un
derecho civil –el mas fundamental de ellos– , aspectos de los derechos económicos,
sociales y culturales. Se trata, por lo tanto, de un reconocimiento de la importancia
357
Enzamaria Tramontana
2 Imposible pensar de dar cuenta, en este lugar, de la variedad de significados que, desde Cicerón a Kant, les han
sido atribuidos. V. entre otros, Y. Arieli, On the Necessary and Sufficient Conditions for the Emergence of the
Doctrine of the Dignity of Man and his Rights, en D. Kretzmer and E.Klein (eds.), The Concept of Human
Dignity in Human Rights Discourse, The Hague, Kluwer Law International, 2002, p. 1 ss.; C. Ruiz Miguel,
Human Dignity: History of an Idea, en P. Häberle (ed.), Jahrbuch des öffentlichen Rechts der Gegenwart,
Neue Folge, 50, 2002, pp. 281-299. En el debatito contemporáneo, se señala, entre otros, R. Adorno, The
Paradoxical Notion of Human Dignity, en Rivista internazionale di filosofia del diritto, 2, 2001, pp. 151-168.
3 El Preámbulo de la Carta de la Naciones Unidas (San Francisco, 26 de junio de 1945) consagra el valor de
la dignidad humana al punto 2. La Declaración universal de los derechos humanos, adoptada por la
Resolución de la Asamblea General 217 A (iii) del 10 de diciembre de 1948, hace mención de la dignidad
en el Preámbulo y en los artículos 1, 22, 23; v., en argumento, K. Dicke, The Founding Function of Human
Dignity in the Universal Declaration on Human Rights, en D. Kretzmer and E.Klein (eds.), The Concept of
Human Dignity cit., p. 111 ss.
4 Sobre el punto, v. P. C. Carbonari, Human dignity as a Basic Concept of Ethics and Human Rights, en B.
Klein Goldewijk et al. (eds.), Dignity and Human Rights: the Implementation of Economic, Social and
Cultural Rights, Ardsley, Transational Publishers, p. 35 ss.; A. Chaskalson, Human Dignity as a
Constitutional Value, en D. Kretzmer and E.Klein (eds.), The Concept of Human Dignity cit., p. 133 ss.
5 En general v. C. McCrudden, Human Dignity and Judicial Interpretation of Human Rights, en EJIL, 19(4),
2008, p. 655 ss; sobre la jurisprudencia de la Corte Europea de Derechos Humanos v., entre otros, J. A.
Frowein, Human Dignity in International Law, en D. Kretzmer and E.Klein (eds.), The Concept of Human
Dignity cit., pp. 124-131; acerca de la jurisprudencia de la Corte de Justicia de las Comunidades Europeas,
v. A. Tancredi, L’emersione dei diritti fondamentali “assoluti” nella giurisprudenza comunitaria, Rivista di
diritto internazionale, 3, 2006, pp. 661 ss.; finalmente, sobre el uso del principio de dignidad por algunos
tribunales supremos nacionales, v. en general, D. Feldman, Human Dignity as a Legal Value: Part 1, en
Public Law, 1, 1999, p. 9 ss.
358
Dignidad Humana y Protección de los Derechos Económicos Sociales y Culturales en la Jurisprudencia
de la Corte Interamericana de Derechos Humanos: el Nuevo Concepto del Derecho a una Vida Digna
359
Enzamaria Tramontana
American Human Rights System, en Hastings International and Comparative Law Review, 31 (1), 2008,
p.7. Contra T.Melish, The Inter-American Court of Human Rights. Beyond Progressivity, en J. Langford
(ed.), Social Rights Jurisprudence: Emerging Trends in Comparative and International Law, New York,
Cambridge University Press, 2007, p. 5. Para una exposición sistemática acerca de la evolución de los DESC
en el marco normativo interamericano v., entre otros, M. Pinto, Los derechos económicos, sociales y cul-
turales y su protecion en el sistema interamericano, en Revista instituto interamericano de derechos huma-
nos, 40, 2004, pp. 26-86.
11 El cursivo no es del original. Esta disposición refleja la formulación del artículo 2.1 del Pacto Internacional
sobre derechos económicos, sociales y culturales. Sobre el tema, véase, A. Eide, Economic, Social and
Cultural Rights as Human Rights, en A.Eide et al. (eds.), Economic, Social and Cultural Rights cit., p. 22 ss.
12 Este enfoque se encuentra en J.L. Cavallaro, E.J. Schaffer, Less as More: Rethinking Supranational Litigation
of Social Rights in the Americas, en Hastings Law Journal, 56, 2004, p. 268.
13 El artículo 1 y el artículo 2 establecen, respectivamente, el deber de los Estados Partes de respetar los dere-
chos y las libertades reconocidos en la Convención y la obligación de adoptar las medidas legislativas o de
otro carácter que fueren necesarias para hacer efectivos tales derechos y libertades.
14 Es la opinión, entre otros, de F. Costamagna, Corte interamericana e tutela dei diritti economici, sociali e
culturali: il diritto ad una vida digna, pendiente de publicacion, pp. 5-6, 8-9; y, también, T. Melish,
Rethinking the ‘Less as More’ Thesis: Supranational Litigation of Economic, Social and Cultural Rights in
the Americas, en New York Journal of International Law and Politics, 39 (2), 2006, pp.204-208. En esta
óptica, además, al fin de establecer el contenido de los DESC protegidos por la Convención, habría que
hacerse referencia, junto a las normas de la Carta de la OEA (principalmente sus artículos 34, 45 y 52), al
catálogo de derechos económicos, sociales y culturales reconocidos por la Declaracion Americana de los
Derechos y Deberes del Hombre. Esta, en efecto, según lo establecido por la Corte en su Opinion Consultiva
n. 10, determina los derechos humanos a los que se refiere la Carta de la Organización; v., H. Faundez
360
Dignidad Humana y Protección de los Derechos Económicos Sociales y Culturales en la Jurisprudencia
de la Corte Interamericana de Derechos Humanos: el Nuevo Concepto del Derecho a una Vida Digna
Ledesma, El sistema interamericano de protección de los derechos humanos. Aspectos institucionales y pro-
cesales, San José, IIDH, 1999, p. 212.
15 Protocolo adicional a la Convención interamericana sobre derechos humanos en materia de derechos eco-
nómicos, sociales y culturales, San Salvador, El Salvador, 17 noviembre 1988.
16 A.A Cançado Trindade juzga positivamente la entrada en vigor del Protocolo, v. Reflexiones sobre el futu-
ro del sistema interamericano de protección de los derechos humanos, en J. Mendex-F.Cox (eds.), El futu-
ro del Sistema interamericano de protección de los derechos humanos, San José, IIDH, 1998, pp. 576-577;
de acuerdo con este enfoque también, F. Costamagna, Corte interamericana e tutela dei diritti economici,
sociali e culturali: il diritto ad una vida digna cit., p. 6. Contra C.Urquilla Bonilla, Los derechos económi-
cos, sociales y culturales en el contesto de la reforma del sistema interamericano de protección de los dere-
chos humanos, en Rev. IIDH, 2000, pp. 267-268.
17 Esta es la reconstrucción de la doctrina mayoritaria, v., por ejemplo, J.L. Cavallaro y E.J. Schaffer, Less as
More: Rethinking Supranational Litigation of Social Rights in the Americas cit., p. 268-269. Contra la tesis
según la cual el artículo 19.6 no sería suficiente para descartar la utilización de los otros derechos recono-
cidos en el Protocolo de acuerdo con el sistema de peticiones individuales ex artículo 44 de la convención
americana, v. H. Faundez Ledesma, El sistema interamericano de protección de los derechos humanos cit.,
p. 212.
18 Sobre el punto, M. Scalabrino, I diritti economici nel sistema interamericano di protezione dei diritti
dell’uomo: risultati e prospettive, en Jus, 2, 2002, p. 217; F. Costamagna, Corte interamericana e tutela dei
diritti economici, sociali e culturali: il diritto ad una vida digna cit., p. 6.
19 Caso “Cinco Pensionistas” vs. Perú. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 28 de febrero de 2003. Serie
C No. 98. Todas las sentencias de la CIDH fueron retiradas de la página web de la Corte: www.cor-
teidh.or.ch.
361
Enzamaria Tramontana
20 La Comisión había, desde 2001, constantemente admitido su competencia ratione materiae para conocer de
peticiones individuales sobre violaciones presuntas a derechos económicos, sociales y culturales a través de
la infracción al artículo 26 de la Convencion (v., por ejemplo, Caso Jorge Odir Miranda Cortex et al. V El
Salvador, No. 12.249, Reporte No. 29/01, 2001, paras. 45-46). Para un análisis comprensivo del enfoque de
la Comisión en materia, antes y después de la decisión de la Corte en el caso “Cinco Pensionistas”, v. T. J.
Melish, The Inter-American Commission on Human Rights. Defending Social Rights through Case-Based
Petitions, en J. Langford (ed.), Social Rights Jurisprudence cit., pp. 16 ss.
21 Caso “Cinco Pensionistas” , cit., para. 147.
22 Ha sido convincentemente observado como, desde una óptica mas política que jurídica, este enfoque se
explicaría con la voluntad de la Corte de moverse con prudencia en un sector, el de la política en materia
económica y social, tradicionalmente considerado de dominio estadal y especialmente conflictivo en el
entorno latinoamericano, v. F. Costamagna, Corte interamericana e tutela dei diritti economici, sociali e
culturali: il diritto ad una vida digna cit., p. 7.
23 Caso “Cinco Pensionistas”, cit., para 103.
24 Ibidem, paras. 93-121.
25 V., por ejemplo, T. Melish, A Pyrrhic Victory for Peru’s Pensioners: Pensions, Property, and the Perversion
of Progressivity, en CEJIL Revista: Debates sobre derechos humanos y el sistema interamericano, 1(1),
2005, pp. 51-66.
362
Dignidad Humana y Protección de los Derechos Económicos Sociales y Culturales en la Jurisprudencia
de la Corte Interamericana de Derechos Humanos: el Nuevo Concepto del Derecho a una Vida Digna
26 V., entre otros, M.Feria Tinta, Justiciability of Economic, Social and Cultural Rights in the Inter-American
System of Protection of Human Rights: Beyond Traditional Paradigms and Notions, en Human Rights
Quarterly, 29, 2007, p.443 ss. Tambien la Corte Europea de Derechos Humanos ha hecho uso de este enfo-
que, considerándolo una aplicación del principio de la interpretación evolutiva y sistemática de las normas
de la Convención; v., entre otros, M. Scheinin, Economic, Social and Cultural Rights as Legal Rights, en
A.Eide et al. (eds.), Economic, Social and Cultural Rights cit, p. 34 ss. y C. Warbrick, Economic and Social
Interests and the European Convention on Human Rights, en M.A. Baderin and R. McCorquodale (eds.),
Economic, Social and Cultural Rights in Action, Oxford, Oxford University Press, 2007, pp. 241-252.
27 Sobre este principio, v. J. Benvenuto Lima Jr., The Expanding Nature of Human Rights and the Affirmation
of their Indivisibility and Enforceability, en B. Klein Goldewijk et al. (eds.), Dignity and Human Rights:
the Implementation of Economic, Social and Cultural Rights cit., p.45 ss; A.A. Cançado Trindade,
L’interdépendance de tous les droits de l’homme et leur mise en oeuvre: obstacles et enjeux, Revue inter-
nationale des sciences sociales, 158, 1998, pp. 571-582.
28 La referencia es al artículo 1.5 de la Declaración y Programa de Acción de Viena. La primera etapa de esta
evolución, como es notorio, fue marcada en la Conferencia de Teherán, de 22 de abril a 13 de mayo de 1968.
29 El principio en examen había ya sido afirmado por la Corte Interamericana, en su Informe Anual de 1986,
v. CIDH, Informe Anual de la Corte Interamericana de Derechos Humanos 1986, OEA/Ser.L/III.15.Doc.13
(1986), pp. 42-43.
30 Caso Baena Ricardo y otros vs. Panamá. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 2 de febrero de 2001.
Serie C No. 72; v. también, Caso Acevedo Jaramillo y otros vs. Perú. Excepciones Preliminares, Fondo,
Reparaciones y Costas. Sentencia de 7 de febrero de 2006. Serie C No. 144.
31 El primer caso de esta serie es el Caso de la Comunidad Mayagna (Sumo) Awas Tingni vs. Nicaragua. Fondo,
Reparaciones y Costas. Sentencia de 31 de agosto de 2001. Serie C No. 79; v., sobre el tema, J. M.
Pasqualucci, The Evolution of the International Indigenous Rights in the Inter-American Human Rights
System, en Human Rights Law Review, 2, 2006, pp. 295-306.
363
Enzamaria Tramontana
32 El artículo 4.1 establece que “Toda persona tiene derecho a que se respete su vida. Este derecho esta-
rá protegido por la ley y, en general, a partir del momento de la concepción. Nadie puede ser privado
de la vida arbitrariamente”. El enfoque tradicional en materia se encuentra, en doctrina, en Y.
Dinstein, The Right to Life, Physical Integrity and Liberty, en L.Henkin (ed.), The International Bill
of Human Rights, New York, Columbia University, 1981, pp. 114-116; F.Przetacznik, The Right to Life
as a Basic Human Right, en Human Rights Journal, 9, 1976, pp. 585-609. Contra, F. Menghistu, The
Satisfaction of Survival Requirements, en B.G. Ramcharan (ed.), The Right to Life in International
Law, Dordrecht, Boston, M. Nijhoff, 1985, p. 6; B. G.Ramcharan, The Concept and Dimensions of the
Right to Life, ibidem, p.1.
33 Véase, por ejemplo, Comité de derechos humanos de la ONU, General Comment No. 06, 30 abril 1982, y,
también, S. Joseph y otros (eds.), The International Covenant on Civil and Political Rights, Oxford, 2005,
p. 184-185. El mismo enfoque había sido adoptado, ya en 1978, por la Comisión Europea de Derechos
Humanos, v. Decision sobre admisibilidad, Application no. 7154/75, de 12 de julio 1978, Decisions and
Reports 14, p. 31, y, también, F.G.Jacobs-R.White, The European Convention on Human Rights, Oxford,
Oxford University Press, 2006, pp.62-65. Acerca de la evolución del derecho a la vida en el marco jurídico
internacional, en general, v., entre otros, Bertrand Mathieu, The Right to Life in European Constitutional
and International Case-Law, Strasbourg, Council of Europe Publishing, 2006, p. 11 ss.
34 Caso Velásquez Rodríguez vs. Honduras, Fondo. Sentencia de 29 de julio de 1988, Serie C No. 4, par.
188. En la misma línea de razonamiento, el mencionado General Comment n.06 del Comité de las
Naciones Unidas sobre derechos humanos, al par. 4. Lo mismo ha sido afirmado por la Corte Europea
de Derechos Humanos, por ejemplo, en McCann v United Kingdom, Series A, No.324, sentencia del 27
setiembre 1995, para.161.
35 V., por ejemplo, Caso de los Hermanos Gomez Paquiyauri vs Perú. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia
de 8 de julio de 2004. Serie C No.110, paras. 129-33; Caso de la “Masacre Mapiripan” vs. Colombia. Fondo,
Reparaciones y Costas. Sentencia de 15 de septiembre de 2005, Serie C No.134, paras 219-223.
364
Dignidad Humana y Protección de los Derechos Económicos Sociales y Culturales en la Jurisprudencia
de la Corte Interamericana de Derechos Humanos: el Nuevo Concepto del Derecho a una Vida Digna
Una ulterior etapa en la evolución del contenido del derecho a la vida en la juris-
prudencia de la Corte, sin embargo, se ha abierto a partir de la decisión del caso
Villagrán Morales y otros vs. Guatemala, en 1999.36
Juzgando este caso, de hecho, la Corte de San José ha inaugurado el enfoque
según lo cual el derecho a la vida se considera violado no solo en presencia de la
muerte física, sino también cuando no sean garantizadas condiciones dignas de vida.
Es un cambio de perspectiva profundo: el derecho a la vida, desde entonces, no
pertenece más, exclusivamente, a la categoría de los derechos civiles. Eso se sustan-
cia, también, de aquellos derechos económicos, sociales y culturales que componen
la noción básica de un nivel de vida compatible con la dignidad del ser humano.
36 Caso de los “Niños de la Calle” (Villagran Morales y otros) vs. Guatemala. Fondo. Sentencia de 19 de
noviembre 1999. Serie C No.63.
37 Ibid., par.79. Comentario del caso v., M. Feria Tinta, The Landmark Rulings of the Inter-American Court
of Human Rights on the Rights of the Child, Leiden, M. Nijhoff Publishers, 2008, pp. 13-33; G. Citroni y
T. Scovazzi, “Vos vas a aparecer muerto como aparecieron tus amigos, los demas”, en L.Pineschi (ed.), La
tutela internazionale dei diritti umani. Norme, garanzie, prassi, Milano, Giuffrè Editore, 2006, pp. 616-635.
38 M. Scalabrino, I diritti economici nel sistema interamericano di protezione dei diritti dell’uomo: risultati e
prospettive, cit., p. 190; F. Costamagna, Corte interamericana e tutela dei diritti economici, sociali e cultu-
rali: il diritto ad una vida digna cit., p. 17.
365
Enzamaria Tramontana
366
Dignidad Humana y Protección de los Derechos Económicos Sociales y Culturales en la Jurisprudencia
de la Corte Interamericana de Derechos Humanos: el Nuevo Concepto del Derecho a una Vida Digna
tar un proyecto de vida que debe ser cuidado y fomentado por los poderes públicos
para que se desarrolle en su beneficio y en el de la sociedad a la que pertenece”.44
44 Caso de los “Niños de la Calle” cit., para 191. V. también Caso de los Hermanos Gómez Paquiyauri Vs. Perú
cit., paras. 162-163 y Caso de la Masacre de Mapiripán Vs. Colombia cit., paras. 159-162.
45 Caso Neira Alegría y otros Vs. Perú. Excepciones Preliminares. Sentencia de 11 de diciembre de 1991. Serie
C No. 13, para. 60; v. también, Caso Durand y Ugarte Vs. Perú. Reparaciones y Costas. Sentencia de 3 de
diciembre de 2001. Serie C No. 89, para. 78. En la misma línea de razonamiento, v. Comité de las Naciones
Unidas sobre Derechos Humanos, Dermit Barbato v Uruguay (84/81), paras 9.2.-10-11 y Latsov v Russian
Federation (763/97), para 9.2, comentados en S. Joseph et al. (eds.), The International Covenant on Civil
and Political Rights: Cases, Materials and Commentary, 2005, Oxford, Oxford University Press, pp. 181-
184. Sobre la jurisprudencia de la Corte Europea de Derechos Humanos en argumento, v. J. A. Frowein,
Human Dignity in International Law, cit., pp. 128-129.
46 Caso “Instituto de Reeducación del Menor” vs. Paraguay. Excepciones Preliminares, Fondo, Reparaciones
y Costas. Sentencia de 2 de septiembre de 2004. Serie C No. 112, para. 164.
367
Enzamaria Tramontana
368
Dignidad Humana y Protección de los Derechos Económicos Sociales y Culturales en la Jurisprudencia
de la Corte Interamericana de Derechos Humanos: el Nuevo Concepto del Derecho a una Vida Digna
51 Caso Comunidad Indígena Yakye Axa vs. Paraguay. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 17 de junio
2005. Serie C No. 125; Caso Comunidad Indígena Sawhoyamaxa vs. Paraguay. Fondo, Reparaciones y
Costas. Sentencia de 29 de marzo 2006, Serie C No. 146.
52 De aquí la significativa atención que, estos órganos han constantemente dedicado al tema, dando vida al
mas avanzado de los sistemas regionales de protección de los derechos indígenas y contribuyendo al pro-
gresivo desarrollo de los estándares internacionales en materia.
53 La relación entre derecho a la vida y tierras ancestrales ha sido subrayada también por la Comisión Africana
de Derechos Humanos, v. Social and Economic Rights Action Centre and the Centre for Economic and
Social Rights vs Nigeria, Communication No 155/1996, 27 de mayo de 2002, para. 67.
369
Enzamaria Tramontana
54 Caso Comunidad Indígena Yakye Axa cit., para. 168. Un comentario a la sentencia, v., entre otros, E.Salazar
Ortuño, Caso Comunidad Indígena “Yakye Axa” vs. Paraguay: los derechos colectivos a la vida y la identi-
dad étnica vs. Derecho a la propiedad privada: ¿una suerte de función ancestral de la propiedad privada?,
www.idea.org.py/rda/html/COMENTARIO.doc.
55 Caso Comunidad Indígena Yakye Axa cit., paras. 130-131.
56 Sobre el punto, v., también, la opinión crítica de F.Costamagna, según lo cual la decisión en examen, y asimis-
mo la decisión del Caso Sawoyamaxa, no parecen acabar todas la potencialidades del concepto del derecho a la
vida, omitiendo de configurarlo como elemento constitutivo el derecho de los pueblos indígenas a la propia
identidad cultural, en Corte interamericana e tutela dei diritti economici, sociali e culturali, cit., p. 22 y 27.
57 Caso Comunidad Indígena Yakye Axa cit., para 172. Sobre el punto, M. Feria Tinta, The Landmark Rulings
of the Inter-American Court of Human Rights on the Rights of the Child, cit., p. 284 ss.
58 Caso Comunidad Indígena Sawhoyamaxa cit., para. 155. El cursivo no es original.
370
Dignidad Humana y Protección de los Derechos Económicos Sociales y Culturales en la Jurisprudencia
de la Corte Interamericana de Derechos Humanos: el Nuevo Concepto del Derecho a una Vida Digna
59 Caso Comunidad Indígena Sawhoyamaxa cit., para.176. El test es ampliamente utilizado en materia de
DESC, por ejemplo, por el Comité de los Derechos Económicos, Sociales y Culturales de la ONU; sobre el
tema, F. Costamagna, op. cit., pp. 24-26.
60 Caso Comunidad Indígena Sawhoyamaxa cit., Voto Razonado del Juez Sergio García Ramírez, paras. 17-23;
Voto Razonado del Juez Cançado Trindade, paras. 67-74.
371
Enzamaria Tramontana
IX. Conclusiones
El derecho a una vida digna es, en primer lugar, fruto de la aplicación del prin-
cipio de la interpretación dinámica o evolutiva de las normas de protección de los
derechos humanos. Este, que permite extender la protección a situaciones nuevas en
61 Caso Loyaza Tamayo cit., paras. 144-154. En el caso en examen, sin embargo, la Corte no traduce este daño
en términos económicos. Es en el Caso Cantoral Benavides que se asistió, por primera vez, a una indemni-
zación referente al daño al proyecto de vida, v. Caso Cantoral Benivades v Perù, Reparaciones, Serie C No.
88, de 3 de diciembre de 2001, para.54. Cabe precisar que la Corte ha enfatizado constantemente que no
todas las lesiones al proyecto de vida merecen de ser indemnizadas, sino solo las que configuren una lesión
grave con amplia trascendencia. En argumento, vease, entre otros, C. Sessarego, El daño al proyecto de vida
en una reciente sentencia de la Corte Interamericana de derechos humanos, en Themis, 1995, p. 453 ss; S.
García Ramírez, Las reparaciones en el sistema interamericano de derechos humanos, en Anuario iberoa-
mericano de justicia constitucional, 3, 1999, pp. 342-343.
62 Caso de los “Niños de la Calle” (Villagrán Morales y otros) Vs. Guatemala. Reparaciones y Costas. Sentencia
de 26 de mayo de 2001. Serie C No. 77, para. 90.
63 Ibidem, paras. 101-103. Una respuesta adecuada, la de la Corte, a la miope postura del representante del
Gobierno paraguayano, que había afirmado que “en cuanto al proyecto de vida, la precaria situación de las
víctimas hace altamente previsible que no tuvieran un proyecto de vida por consumar y solicita que la Corte
desestime la petición planteada por la Comisión de establecer por separado reparaciones económicas por
este concepto”, Ibidem, para. 87 c); sobre el tema v. G. Citroni y T. Scovazzi, “Vos vas a aparecer muerto
como aparecieron tus amigos, los demas” cit., p. 630 ss.
372
Dignidad Humana y Protección de los Derechos Económicos Sociales y Culturales en la Jurisprudencia
de la Corte Interamericana de Derechos Humanos: el Nuevo Concepto del Derecho a una Vida Digna
64 El Derecho a la Información sobre la Asistencia Consular en el marco de las Garantías del Debido Proceso
Legal. Opinión Consultiva OC-16/99 de 1 de octubre de 1999. Serie A No. 16, para. 114. V., sobre el punto,
la análisis de A.A. Cançado Trindade, en La interpretación de tratados en el derecho internacional y la espe-
cificidad de los tratados de derechos humanos, en Z. Drnas de Clement (coord.), Estudios de derecho inter-
nacional en homenaje al profesor Ernesto J. Rey Caro, Cordoba, Lerner, 2002, p. 768 ss. En la misma línea,
la Corte Europea de derechos humanos afirmó, en la decisión del caso Tyrer vs Regno Unido, que la
Convención Europea “es un instrumento vivo que debe ser interpretado a la luz de las condiciones de vida
actuales”, sentencia del 25 de abril de 1978, serie A, n. 26, para. 31, comentada en v. R. Bernhardt, Evolutive
Treaty Interpretation, especially of the European Convention on Human Rights, German Yearbook of
International Law, 42, 1999, pp. 11-25.
65 Caso de los “Niños de la Calle”, Fondo, cit., Voto concurrente conjunto de los jueces A.A. Cançado Trindade
y A. Abreu Burelli, para.6.
66 Condición Jurídica y Derechos de los Migrantes Indocumentados. Opinión Consultiva OC-18/03 de 17 de
Septiembre de 2003. Serie A No. 18, para. 120. Se hace referencia, por ejemplo, a la lectura conjunta de los
artículos 4 y 19 de la Convención, este ultimo interpretado a la luz de la Convención de la ONU sobre lo
Derechos del Niño (para.5 del presente ensayo); o, ancora, la utilización del Convenio No. 169 de la OIT en
los casos pertinentes a comunidades indígenas (v. para.7). Todo esto es pertinente con el enfoque constan-
temente reiterado por la Corte, según lo cual, “al dar interpretación a un tratado no sólo se toman en cuen-
ta los acuerdos e instrumentos formalmente relacionados con éste (inciso segundo del artículo 31 de la
Convención de Viena), sino también el sistema dentro del cual se inscribe (inciso tercero del artículo 31)”,
v. El Derecho a la Información sobre la Asistencia Consular cit., para. 113.
67 Entre otros, T. Melish, The Inter-American Court cit., p. 3.
68 Se hace referencia, entre otros, al artículo 25.1 de la Declaración Universal de los derechos del hombre y al
artículo 11 del Pacto Internacional sobre Derechos Civiles y Políticos, sobre los cuales se envía a la análisis
373
Enzamaria Tramontana
en A. Eide, The Right to an Adequate Standard of Living including the Right to Food, en A. Eide et al.
(eds.), Economic, Social and Cultural Rights cit., pp. 133-134. También la Declaración Americana y el
Protocolo de San Salvador hacen referencia a condiciones dignas de vida (respectivamente, en los términos
de “digna subsistencia” y “vida decorosa” - artículos 12 y 23 de la Declaración - y “vida digna y decorosa” -
artículos 6 y 9 - o “subsistencia digna y decorosa” - artículo 7 del Protocolo).
69 Comité sobre los derechos económicos, sociales y culturales de la ONU, General Comment no. 16 (Rev.1),
1991, para. 1.
70 El mismo enfoque ha sido frecuentemente utilizado por corte supremas nacionales, como la Corte Suprema
de la india, la Corte Costitucional úngara y la Corte Constitucional Surafricana; v., extensivamente, C.
McCrudden, Human Dignity and Judicial Interpretation of Human Rights, cit., pp. 693-694.
71 Caso Ximenes-Lopes Vs Brazil, cit. para.103. Sobre el tema, v. J.M. Pasqualucci, The rights to a Dignified
Life (Vida Digna) cit., pp. 17-22.
72 Ibidem.
374
Dignidad Humana y Protección de los Derechos Económicos Sociales y Culturales en la Jurisprudencia
de la Corte Interamericana de Derechos Humanos: el Nuevo Concepto del Derecho a una Vida Digna
derecho en favor de las personas mas débiles parece emerger, de hecho, de lo afirma-
do por la Corte en el caso Yakye Axa, o sea que “una de las obligaciones que ineludi-
blemente debe asumir el Estado en su posición de garante...es la de generar las condi-
ciones de vida mínimas compatibles con la dignidad de la persona humana...en espe-
cial cuando se trata de personas en situación de vulnerabilidad y riesgo, cuya atención
se vuelve prioritaria”.73
Finalmente, el análisis efectuado nos parece haber demostrado el asunto inicial de
este ensayo, o sea que la noción de dignidad humana es el eje de la ampliación jurispru-
dencial del derecho a la vida. Por lo tanto, cabe responder ahora, a la luz de los resulta-
dos alcanzados, a las preguntas puestas en el párrafo introductivo acerca de la concep-
ción y del rol que esta noción desarrolla en el marco del sistema interamericano.
La Corte de San José ha constantemente afirmado la estrecha vinculación entre
dignificación de la persona y reconocimiento de los derechos a esta inherentes, empe-
zando por la decisión Velásquez Rodríguez, cuando afirmó que “los derechos huma-
nos son atributos inherentes a la dignidad humana”.74
Este enfoque es coherente con el marco normativo interamericano. Los preámbu-
los de la Declaración americana y de otros instrumentos de carácter específico que for-
man parte del sistema, de hecho, hacen una genérica alusión a la dignidad del ser
humano. La formulación de estas normas, además de la mencionada colocación, indi-
ca absolutamente que la dignidad es entendida como un atributo esencial de la perso-
na y el eje de los derechos innatos de ésta. Lo demuestra, por otro lado, también la cir-
cunstancia que este concepto sea utilizado, asimismo, para explicar el contenido de
algunas garantías particulares, como el derecho a la integridad personal, la prohibición
de la esclavitud, el derecho a la educación, al trabajo o a una justa remuneración.75
En la misma línea, de las decisiones analizadas en las páginas anteriores parece
emerger la configuración de la dignidad no como un derecho humano entre los
demás, sino como un principio inspirador en el sistema de tutela de estos derechos.
Nos parece que esto sea demostrado por la utilización del concepto de dignidad huma-
na como un instrumento para la interpretación de estos últimos, con el fin de ampli-
ar su contenido en el marco de un catálogo abierto de garantías fundamentales para la
protección del ser humano.
El uso que la Corte hace de esta noción, merece la pena añadir finalmente, es
conforme a lo que, según parte de la doctrina, sería el contenido mínimo común del
375
Enzamaria Tramontana
76 Entre las utilizaciones de esta formulacion, hay que señalar la del Bundesverfassungsgericht (v., por ejem-
plo, la decisión del 15 de febrero de 2006, 1 BvR 357/05, en tema de abatimiento de aviones civiles secues-
trados por terroristas, Neue Juristische Wochenschrift, 2006, p. 751).
77 Esta configuración del principio de dignidad se encuentra afirmada por el Tribunal Penal Internacional para
la ex Yugoslavia (TPIY) en la decisión del caso Furundzija del 10 de diciembre de 1998. El Tribunal ha espe-
cificado que: “The general principle of respect for human dignity is the basic underpinning and indeed the
very raison d’être of international humanitarian law and human rights law; indeed in modern times it has
become of such paramount importance as to permeate the whole body of international law” (at para. 183).
78 Entre otras, Sentencia T-926/99 (18 noviembre de 1999) acerca del alcance del derecho a la vida digna;
Sentencia T-593/03 (17 junio de 2003), sobre el derecho a la vida digna del menor; T-928/03 (7 febrero de
2003) sobre el derecho a la vida digna de persona de tercera edad; T-092/03 (7 febrero de 2003), acerca del
derecho a la vida digna de persona invalida; T-626/04 (1 julio de 2004), acerca del derecho a la vida digna
del trabajador. Sentencias retiradas de la pagina web: http://www.corteconstitucional.gov.co/.
79 V, por ejemplo, Maria Cristina García Seminario de Canepa, EXP. N. 01384-2008 (8 agosto de 2008); Sixto
Guillermo Ludena Luque, EXP.N.3072-2006 (27 febrero de 2008). Sentencias retiradas de la página web:
http://www.tc.gob.pe/.
80 V., Sánchez, María del Carmen c/ ANSeS s/reajustes varios, S. 2758. XXXVIII, (17 mayo de 2005); R. A., D.
c/ Estado Nacional, R. 350. XLI (4 setiembre de 2007). Sentencias retiradas de la página web:
http://www.csjn.gov.ar/.
81 V., entre otras, las decisiones N. 0045/2007 (2 octubre de 2007), N. 0018/2007 (9 mayo de 2007), N.
0349/2007 (2 mayo 2007). Sentencias retiradas de la página web: http://www.tribunalconstitucio-
nal.gov.bo/.
82 Sentencia T-926/99 cit., paras. 3-4.
376
Dignidad Humana y Protección de los Derechos Económicos Sociales y Culturales en la Jurisprudencia
de la Corte Interamericana de Derechos Humanos: el Nuevo Concepto del Derecho a una Vida Digna
83 Como ejemplo, se puede considerar la jurisprudencia del Supremo Tribunal Federal de Brasil en materia de
derechos económicos y sociales, V. las decisiones en los casos RE 271286, RE 232335, AI 232469, RE-
236200, AI-236644, entre otros; en tema, v. F. Piovesan y R. Stanziola Vieira, Justiciabilidade dos direitos
sociais e economicos: desafios y perspectivas, Revista Iberoamericana de Filosofía, Política y Humanidades,
15, 2006, http://www.institucional.us.es/araucaria/nro15/monogr15_3.htm.
377
Los Derechos Sociales en Iberoamérica:
Estado de la Cuestión y Perspectivas de Futuro
Rodolfo Arango Rivadeneira1
Sumarioo: I. Introducción II. La situación actual de los derechos sociales III. La problemática de los derechos sociales
en América Latina IV. Estrategias para la realización de los derechos sociales V. Conclusiones
I. Introducción
1 Doctor en Filosofía del Derecho y Derecho Constitucional de la Universidad de Kiel Alemania. Master en
Filosofía de la Universidad Nacional de Colombia y abogado de la Universidad de los Andes. Ex Magistrado
Auxiliar de la Corte Constitucional; profesor asistente de la Facultad de Derecho, Ciencias Políticas y Sociales
de la Universidad Nacional de Colômbia. Profesor Asociado y Director de la Maestría en Filosofía de la
Universidad de los Andes, Bogotá. Agradezco especialmente al Max-Planck-Institut für Ausländisches
Öffentliches Recht und Völkerrecht de Heidelberg en cabeza de su director el Prof. Dr. Armin von Bogdandy
el apoyo para la elaboración de este escrito, así como a las editoras del libro Mariela Morales y Flavia Piovesan.
2 L. M. Diez-Picazo y M. C. Ponthoreau (eds.), The Constitutional Protection of Social Rights: Some
Comparative Remarks, Florence 1991; C. S. Nino, “On Social Rights”, en: A. Aarnio et al. (eds.),
Rechtsnorm und Rechtswirklichkeit, Berlin 1993, pp. 295-299; R. Arango, “Los derechos sociales funda-
mentales como derechos subjetivos”, en: Pensamiento Jurídico 8, Bogotá, 1997, pp. 63-72; J. J. Gomes
Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Comibra 1997; G. Peces-Barba, “Los derechos
económicos, sociales y culturales: su génesis y su concepto”, en: Revista Derechos y Libertades, Año III,
Num. 6, Madrid, 1998, pp. 15-34; G. Pisarello, “Los derechos sociales en el constitucionalismo moderno: por
una articulación compleja de la relaciones entre política y derecho”, en: M. Carbonell, J. A. Cruz Parcero y
R. Vazquez (comp.), Derechos sociales y derechos de las minorías, México, 2001, pp.113-138; C. R.
Sunstein, “Social and Economic Rights? Lessons from South Africa”, U. of Chicago Public Law Working
Paper No. 12, Chicago 2001; V. Abramovich y C. Courtis, Los derechos sociales como derechos exigibles,
Madrid, 2002; R. Arango, El concepto de derechos sociales fundamentales, Bogotá, 2005; C. Queiroz,
Direitos fundamentais sociais, Coimbra, 2006; C. Courtis, Ni un paso atrás. La prohibición de regresividad
en materia de derechos sociales, Buenos Aires, 2006; G. Escobar Roca, Protección de la Salud, Trama,
Madrid, 2006; G. Pisarello, Los derechos sociales y sus garantías. Elementos para una reconstrucción,
Madrid, 2007; L. E. Pérez, C. Rodríguez y R. Uprimny, Los derechos sociales en serio: hacia un diálogo entre
derechos y políticas públicas, Bogotá, 2007; A. M. Chacón Mata, Derechos económicos, sociales y cultura-
les. Indicadores y justiciabilidad, Bilbao, 2007; R. Alexy, Derechos sociales y ponderación, Madrid 2007; C.
Pereira De Souza Neto y D. Sarmiento (coords.), Direitos sociais, Río de Janeiro, 2008.
3 M. C. R. Craven, The international covenant on economic, social and cultural rights: a perspective on its
development, Oxford, 1995; C. Fabre, Social Rights under the Constitution. Government and the Decent
Life, Oxford 2000; A. Eide, C. Krause y A. Rosas (eds.), Economic, social and cultural rights: a textbook, 2ª
ed., Dordrecht, 2001; A. Chapman y S. Russell (eds.), Core obligations: building a framework for economic,
social and cultural rights, Mortsel, 2002.
4 Naciones Unidas. Consejo Económico y Social. El nuevo orden económico internacional y la promoción de
los derechos humanos. Los derechos económicos, sociales y culturales. Bogotá 1993; Oficina del Alto
379
Rodolfo Arango
Comisionado de las Naciones Unidas para los Derechos Humanos, Los derechos económicos, sociales y cul-
turales. Manual para las instituciones nacionales de derechos humanos, Nueva York y Ginebra, 2004.
5 Corte IDH, Caso Villagrán Morales y Otros (Caso de los “Niños de la Calle”), Sentencia del 19 de noviem-
bre de 1999 (Sec. C) No. 63.
6 T. Pogge, La pobreza en el mundo y los derechos humanos, Barcelona, 2005; B. Milanovic, La era de las
desigualdades, Madrid, 2006; A. Baderin y R. McCorquodale (eds.), Economic, social and cultural rights in
action, Oxford, 2007; E. S. Reinert, La globalización de la pobreza, Barcelona, 2007.
380
Los Derechos Sociales en Iberoamérica:
Estado de la Cuestión y Perspectivas de Futuro
381
Rodolfo Arango
382
Los Derechos Sociales en Iberoamérica:
Estado de la Cuestión y Perspectivas de Futuro
de Estado (en Cuba, en Alemania Oriental y en los países de la Cortina de Hierro) res-
tan esperanzas a esta opción histórica. La formula político-económica del Estado
social de derecho enfrenta en Europa los embistes de la globalización de la economía
desde hace décadas, la cual presiona por el desmonte de las garantías sociales a las cla-
ses trabajadoras y a los sectores deprimidos que van quedando en el camino de la
homogenización del mercado laboral así como de la sociedad (ver para la muestra la
generalización de la televisión gringa y la basura cultural que exporta homogénea-
mente a todos los rincones de la tierra).
2.1 La insuficiencia de la respuesta del Estado social de derecho en materia de
protección, promoción y garantía de los derechos sociales, es manifiesta frente a las
cifras de pobreza, trabajo informal (ca. el 60 por ciento de la población) o desnutri-
ción y mortalidad infantil.9 El aumento de las demandas ciudadanas y la manifiesta
incapacidad de los sistemas de justicia en Iberoamérica para tramitar las demandas por
realización mínima de Derechos sociales, esclarecen la situación real de estos dere-
chos en la práctica.
2.2 El abandono de la economía social de mercado y el desmonte del Estado
social de derecho en Europa son igualmente manifestaciones preocupantes del retro-
ceso de las garantías institucionales a los derechos sociales. Parece cuestión de tiem-
po que las conquistas políticas en el ámbito laboral y de seguridad social se desvanez-
can sin que encuentren un discurso, un proyecto y un modelo alternativo al liberalis-
mo capitalista compatible con la realización de los derechos sociales.
3. Ante el cierre de alternativas al modelo del capitalismo liberal y al del socia-
lismo de Estado, es comprensible el renacer del interés por las obras de Marx. No sólo
sus análisis sobre las crisis cíclicas del capitalismo o sobre la acumulación creciente de
capital en pocas manos en desmedro de la participación de las clases oprimidas cobran
decidida actualidad. También lo hace su denuncia de la manipulación que mediante
el discurso de los derechos humanos se hace con fines de legitimar regímenes políti-
cos despóticos.10 El renovado interés por Marx y el coqueteo con modelos totalitarios
de Estado asentados en economía centralizada y aparato burocrático administrativo,
se ven como una opción no del todo descartable para jóvenes desesperanzados frente
a la dureza e injusticia de la realidad actual.
3.1. Un primer hecho que reafirma el interés por Marx y por su denuncia de los
derechos individuales como expresión de la ideología burguesa, es la negativa a reco-
nocer el igual estatus de los derechos económicos, sociales y culturales (DESC) frente
a los derechos civiles y políticos (DCP).11
9 L. J. Garay y A. Rodríguez (eds.), Colombia: Diálogo pendiente. Bogotá 2005, pp. 225 ss.
10 K. Marx, “Sobre la cuestión judía”, en: id., Escritos de Juventud. Fondo de Cultura Económica, México 1982,
pp. 463-490.
11 Ver entre otros autores a E.-W. Böckenförde, “Los derechos fundamentales sociales en la estructura de la
Constitución”, en: Escritos sobre derechos fundamentales, Nomos 1993; F. Laporta, “Los derechos sociales
y su protección jurídica: introducción al problema”, en: Constitución y derechos fundamentales. J. Betegón
et al. (coords.), Madrid, 2004, pp. 297-326.
383
Rodolfo Arango
Los renovados pero fallidos intentos en Europa de dotar a los DESC de igual fun-
damentalidad que la reconocida a los DCP, por ejemplo al incorporar una ambiciosa
Carta de Derechos Sociales al proyecto de Constitución de Europa,12 reafirman el aná-
lisis de clases sociales y formas de producción popularizado en sus escritos por Marx.
Mientras que los derechos civiles y políticos son reconocidos como fundamentales en
cabeza de los nacionales con ciertos privilegios (clase burguesa), los derechos sociales
son degradados a meras aspiraciones del proletariado (clase proletaria), que deben
conquistarse en la arena política y recibir consagración legal como derechos de desar-
rollo progresivo, no exigibles directamente ante los jueces. Este trasfondo político e
ideológico que diferencia entre tipos de derechos ha sido proscrito a nivel de las decla-
raciones internacionales de derechos humanos.13 No obstante, falta aún mucho tre-
cho para que tal proscripción se traduzca en una efectiva igualdad de trato jurídico en
su reconocimiento judicial y su goce efectivo por parte de toda la población.
3.2. Las dificultades en la expedición de un tímido Protocolo Facultativo adicio-
nal al Pacto Internacional de Derechos Económicos, Sociales y Culturales (PISDEC)
para proteger más efectivamente los derechos sociales, entre otras mediante la consa-
gración de la posibilidad jurídica de elevar reclamaciones individuales por vulnera-
ción de los compromisos internacionales adoptados por los Estados que han ratifica-
do el Protocolo, también alimentan el escepticismo hacia la realización de estándares
mínimos de justicia social en el Estado capitalista.
3.3. La angustia social como consecuencia de los procesos de ajuste estructural que
buscan reducir el tamaño del Estado; el desmonte de garantías laborales por vía de la
tercerización de las relaciones laborales; el auge de las empresas de servicios temporales
que escamotean los derechos y las garantías sociales de los trabajadores; la pérdida de
poder adquisitivo del salario en estratos asalariados con ingresos laborales más bajos por
el hecho de que la inflación golpea con mayor fuerza a los sectores desfavorecidos de la
población; el abandono de los ideales y de los principios de una política social humanis-
ta; los retrocesos en el cubrimiento de la seguridad social en salud y pensiones; todos
estos son síntomas innegables de que la lógica de negocios y del enriquecimiento indi-
vidual triunfa por el momento sobre la vigencia efectiva de derechos humanos.
Pero veamos de qué forma se refleja la situación descrita sobre la realidad de los
países emergentes de Ibero América.
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Los Derechos Sociales en Iberoamérica:
Estado de la Cuestión y Perspectivas de Futuro
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Rodolfo Arango
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Los Derechos Sociales en Iberoamérica:
Estado de la Cuestión y Perspectivas de Futuro
20 G. Pisarello, “Los derechos sociales y sus garantías: por una reconstrucción democrática, participativa y
multinivel”, en: id., Los derechos sociales y sus garantías (…), op. cit. nota 2, pp. 123 ss.; C. Courtis, “Judicial
Enforcement of Social Rights: Perspectives from Latin America”, en: R. Gargarella et al. (eds.), Courts and
Social Transformation in New Democracies: an Institutional Voice for the Poor?, Aldershot, 2006, pp. 169-
184.
21 M. Tushnet, “An Essay on Rights”, en: Texas Law Review, vol. 62, No. 4. pp. 1363-1403; M. García, “El
derecho como esperanza: constitucionalismo y cambio social en América Latina, con algunas ilustraciones
a partir de Colombia”, en: ¿Justicia para todos? Sistema judicial, derechos sociales y democracia en
Colombia, R. Uprimny, C. Rodríguez y M. García (eds.), Bogotá 2006, pp. 201-233, aquí pp. 221 s.
22 R. Nozick, Anarquía, Estado y Utopía, 1ª reimpr., México 1990, p. 7.
23 A. K. Sen, “Economía del bienestar y dos aproximaciones a los derechos”, en: Estudios de Filosofía y
Derecho No. 2, Universidad Externado de Colombia, Bogotá, 2002, pp. 11-42. C. Ari Mello (coord.), “Os
Desafios dos Directos Sociais”, en: Revista do Ministerio Público do Rio Grande do Sul, no. 56- set./dez.
2005.
24 E.-W. Böckenförde, op. cit., nota 11.
25 J. Habermas, Facticidad y validez, Madrid 1998, p. 489; J. Habermas, La inclusión del otro, Barcelona 1999,
p. 197.
26 F. Laporta, op. cit., nota 11.
27 F. Atria, “¿Existen los derechos sociales?”, en: Doxa. Discusiones: Derechos Sociales, núm. 4 (2004), pp. 15-59.
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Rodolfo Arango
28 R. Arango. “Basic Social Rights, Constitutional Justice, and Democracy”, en: Ratio Juris, Vol. 16, Num. 2,
Oxford, 2003, pp. 141-154; R. Uprimny, “The Enforcement of Social Rights by the Colombian Constitutional
Court: Cases and Debates”, en: R. Gargarella et al. (eds.), Courts and Social Transformation in New
Democracies: an Institutional Voice for the Poor?, Aldershot, 2006, pp. 127-152; R. Gargarella, “¿Los parti-
darios de la democracia deliberativa deben defender la protección judicial de los derechos sociales?” en: R.
Arango, Filosofía de la democracia. Fundamentos conceptuales, Bogotá, 2007, pp. 377-408; M. P. Saffon,
“Can Constitutional Courts be a Counter-Hegemonic Powers vis-à-vis Neoliberalism? The Case of the
Colombian Constitutional Court”, Seattle Journal for Social Justice. Volume 5, No. 2, 2007, pp. 533-567.
29 R. Uprimny, op. cit. nota 28; M.P. Saffón, op. cit. nota 28.
30 Sobre estrategias para realizar el Estado social de derecho, en general, y los derechos sociales, en particular,
ver K. Tomasevski, Education denied. Costs and Remedies, London 2003; V. Abramovich, op. cit., nota 19;
R. Arango, Derechos, constitucionalismo y democracia, Bogotá, 2004, pp. 59-94; L. E. Pérez, C. Rodríguez
y R. Uprimny, op. cit., nota 2; L. E. Pérez et al. (eds.), Seis ciudades, cuatro países, un derecho: análisis com-
parativo de políticas educativas, Bogotá 2007.
388
Los Derechos Sociales en Iberoamérica:
Estado de la Cuestión y Perspectivas de Futuro
31 Sobre el particular consultar el libro de C. Coutis, Ni un paso atrás. La prohibición de regresividad en mate-
ria de derechos sociales, Buenos Aires, 2006.
32 La primera sentencia de la Corte Constitucional colombiana que reconoce el derecho innominado al míni-
mo vital, inspirada en la jurisprudencia alemana del Existenzminimum, es la T-426 de 1992, en la que se
ampararon los derechos a la vida, a la dignidad, a la integridad personal, a obtener una pronta y oportuna
respuesta a las peticiones, y al mínimo vital de un adulto mayor sin medios económicos a quien las autori-
dades públicas competentes no daban respuesta a una solicitud pensional.
389
Rodolfo Arango
caso concreto, y ello en virtud de la doctrina constitucional que reconoce carácter fun-
damental al derecho al mínimo vital como parte integrante de los derechos sociales.32
1.3. En relación con los derechos sociales, la Corte Constitucional diferencia
entre titulares individuales y titulares colectivos. En el primer caso, los titulares pue-
den ser todas las personas (titularidad universal), los nacionales y residentes en
Colombia (titularidad general abierta), los colombianos que hayan cumplido condi-
ciones establecidas en la ley (titularidad general cerrada), según se trate de derechos
económicos, sociales o culturales. En el caso de los derechos sociales de naturaleza
colectiva, la Corte Constitucional y el Consejo de Estado (máximo tribunal de la juris-
dicción del Contencioso Administrativo) han reconocido titularidad de derechos
sociales en cabeza de comunidades indígenas o grupos de personas organizados.33
1.4. Obligados de los derechos sociales en Colombia no son exclusivamente las
autoridades públicas por su acción u omisión, sino igualmente los particulares respec-
to de los cuales el titular del derecho está en una relación de subordinación o de inde-
fensión. Las autoridades públicas pasibles de acciones constitucionales por violación o
amenaza de los derechos sociales cuando estos exhiben naturaleza de derechos funda-
mentales incluyen a la administración, al legislador y a los jueces, así como a las demás
organismos o servidores públicos del Estado.
1.5. Principios fundamentales incluidos en los pactos y tratados internacionales
de derechos humanos (PIDESC, Convención Americana sobre Derechos Humanos,
etc.) establecen la obligación de los Estados que hacen parte del sistema mundial o
regional de derechos humanos de garantizar la efectividad de los derechos sociales
hasta el límite de los recursos disponibles. La jurisprudencia constitucional ha reco-
nocido igualmente que el ámbito de protección de los derechos sociales debe ser tan
amplio como lo determina el límite de lo posible fáctica y jurídicamente, sin que en
ningún caso dejen de asegurarse el derecho fundamental al mínimo vital.34
2. Las estrategias políticas se relacionan fundamentalmente con las reformas de
diseño institucional a favor de los derechos sociales y su mayor grado de realización;35
con el activismo de organizaciones sociales y la movilización ciudadana en el proceso
político y en la lucha por el reconocimiento de los derechos sociales;36 y con la pro-
tección multinivel utilizada para satisfacer este tipo de derechos.37
33 Por ejemplo, la Corte Constitucional en sentencia T-380 de 1993 reconoció el derecho fundamental colec-
tivo en cabeza de la comunidad indígena a la vida como comunidad cultural y étnica. En ella la Corte orde-
nó cesar la explotación maderera que una empresa venía adelantando en territorios de la comunidad indí-
gena.
34 Sobre la conexión entre derechos sociales y derecho al mínimo vital, ver R. Arango y J. Lemaitre, op. cit.,
nota 18.
35 T. Pogge, “Reconocidos y violados por la ley internacional: los derechos humanos de los pobres globales”, en:
F. Cortés y M. Giusti (eds.), Justicia global, derechos humanos y responsabilidades, Bogotá 2007, pp. 27-76.
36 J. Habermas, Facticidad y validez, op. cit., nota 25; V. Abramovich, op. cit., nota 19.
37 G. Pisarello, op. cit., nota 20.
390
Los Derechos Sociales en Iberoamérica:
Estado de la Cuestión y Perspectivas de Futuro
2.1 Para la teoría constitucional de sociedades donde los derechos sociales han
tenido un desarrollo legislativo y un reconocimiento efectivo por parte de la adminis-
tración pública, en particular los Estados sociales europeos, es difícilmente compren-
sible el apalancamiento y el activismo de la jurisdicción constitucional para la reali-
zación de los derechos sociales.38 A la falta de un contexto sociológico que explique el
auge de los derechos sociales y su relevancia constitucional, los teóricos del viejo con-
tinente carecen de igual forma de experiencia en el diseño y funcionamiento de una
jurisdicción constitucional que reconoce y protege esta clase de derechos sin por ello
convertirse en colegislador o coadministrador y hacer saltar por los aires los funda-
mentos del Estado de derecho democrático.
2.1.1 El diseño institucional consistente en un control difuso de constitucionali-
dad –todos los jueces del país son jueces constitucionales para la defensa de los dere-
chos fundamentales–, unificado mediante los pronunciamientos de una Corte
Constitucional encargada de la interpretación última de la Carta Política en su calidad
de órgano de cierre, ha mostrado sus bondades a la hora del reconocimiento de dere-
chos sociales como en materia salarial, pensional, de salud, de vivienda o de asisten-
cia pública. Desde sus inicios en el año 1992, la Corte Constitucional formuló la doc-
trina del mínimo vital con el fin de señalar el ámbito constitucional inaplazable y
directamente exigible de los derechos prestacionales y distinguirlo del ámbito legal de
desarrollo de los derechos sociales cuya protección corresponde a los jueces ordina-
rios. Trazar esta línea entre el derecho constitucional y el derecho ordinario no ha
sido tarea fácil, pero dieciocho años de jurisprudencia muestran ya sus frutos en el
campo. Es así como en una reciente sentencia la Corte Constitucional declaró contra-
rio a los derechos fundamentales (civiles y sociales) de recicladores de basuras la lici-
tación pública celebrada para la explotación del servicio público de aseo por firmas
privadas. Ello porque la administración, al diseñar y ejecutar el plan de privatización
de la prestación de dicho servicio público, no tuvo en cuenta el derecho constitucio-
nal fundamental de las personas que con su oficio digno se encargaban de la selección,
clasificación y reventa de desechos. Ya en otra ocasión la misma Corte había encon-
trado contraria a los derechos fundamentales de las personas con alguna discapacidad
el diseño y la ejecución de la política pública de servicio de transporte urbano
Transmilenio en la ciudad de Bogotá porque no se contemplaron suficientemente las
necesidades de las personas en situación de desventaja manifiesta.39
Una segunda exitosa decisión en el diseño de los mecanismos judiciales de pro-
tección de derechos fundamentales fue la adopción de una acción de tutela (de ampa-
ro en otros países) con alto grado de informalidad y generalidad para garantizar el
acceso efectivo de todos habitantes a la jurisdicción constitucional.40 Al no restringir-
38 Lo afirmado es manifiesto en los escritos, entre otros, de F. Laporta, op. cit., o de E.-W. Böckenförde, op.
cit., ambos en nota 11.
39 Corte Constitucional Colombiana, sentencia T-595 de 2002.
40 Constitución Política de Colombia, artículo 86, desarrollado legalmente por el Decreto 2591 de 1991.
391
Rodolfo Arango
41 Un calificado comentario a esta sentencia se encuentra en A. E. Yamin y O. Parra, “How do Courts set
Health Policy? The case of the Colombian Constitucional Court”, en: PLoS Med 6(2): e1000032.doi:10.
1371/journal.pmed.1000032.
42 R. Arango, op. cit., nota 30, pp. 71-78; M.P. Saffon, op. cit., nota 28.
43 Corte Constitucional Colombiana, sentencias C-700 de 1999 y C-747 de 1999.
44 Corte Constitucional Colombiana, sentencia C-776 de 2003.
45 Corte Constitucional Colombiana, sentencia T-025 de 2004.
46 Corte Constitucional Colombiana, sentencia T-291 de 2009.
392
Los Derechos Sociales en Iberoamérica:
Estado de la Cuestión y Perspectivas de Futuro
393
Rodolfo Arango
51 M. E. Cárdenas, Justica pensional y neoliberalismo. Un estudio de caso sobre la relación entre derecho y
economía, Bogotá 2004.
394
Los Derechos Sociales en Iberoamérica:
Estado de la Cuestión y Perspectivas de Futuro
les. Estudios de expertos como “El Conflicto, callejón con salida”,52 o como
“Colombia: Diálogo pendiente. Documentos de política pública para la paz”,53 sumi-
nistran numerosos elementos para tal fin. En especial, la perspectiva del desarrollo
humano planteada con la participación de todos los actores sociales destinatarios de
las políticas públicas, así como una visión de los problemas sociales a la vez histórica-
mente fundada e imaginativa y científicamente estructurada para encontrar solucio-
nes a los múltiples problemas que impiden la realización plena de todos los derechos
humanos, permiten guardar esperanzas de un futuro mejor. Una buena muestra de
que la inteligencia con algo de voluntad política permite enfrentar viejos y complejos
problemas sociales es la sentencia de la Corte Constitucional de Colombia54 en la que
se adopta una amplia serie de medidas para tutelar a los millones de habitantes des-
plazados forzadamente como consecuencia de la acción de los grupos armados ilega-
les. En la mencionada decisión judicial, así como en los autos de cumplimiento de la
sentencia, se diseña, ordena y vigila la política pública de desplazamiento interno, se
involucra a la sociedad civil en el monitoreo y control de su ejecución, se protege en
forma prioritaria a las personas o a los grupos especialmente desfavorecidos y se
emplean criterios de cumplimiento sensibles a las diferencias de género, edad, cultu-
ra, identidad étnica y demás diferencias constitucionalmente relevantes.55
V. Conclusiones
52 Informe Nacional de Desarrollo Humano – 2003, Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo,
Bogotá 2003.
53 Op. cit., nota 9.
54 Sentencia T-025 de 2004, Magistrado Ponente Manuel José Cepeda Espinosa.
55 Para una evaluación académica del cumplimiento de la sentencia T-025 de 2004, ver entre otros los artícu-
los de J. Cepeda, “The Constitutional Protection of Internal Displaced Persons” y C. E. Reales, “Design and
Implementation of the Orders Imparted in Decision T-025 of 2004: An Assessment of the Process”, ambos
artículos en: R. Arango (ed.), Internal Displacement in Colombia, Brookings Institute (en prensa).
395
Rodolfo Arango
ver las diferentes problemáticas que se ciernen sobre los derechos sociales. El voto de
confianza hacia el derecho constitucional (comparado), la doctrina y la jurisprudencia
de los organismos y tribunales nacionales e internacionales, así como el aumento de la
sensibilidad en la doctrina jurídica sobre la pobreza, la exclusión y la inequidad, per-
miten vislumbrar nuevos campos de investigación, con importantes aplicaciones en el
diseño, en la ejecución y en el control de las políticas públicas de derechos sociales.
La principal conclusión de este corto estudio puede formularse con ayuda de una
comparación: mientras que la historia es fuente de conocimiento y de acción para el
político, el derecho, internacional y constitucional comparado, de los derechos funda-
mentales es fuente de conocimiento y de acción para estadistas y reformadores que bus-
can por medio del derecho construir las condiciones que permitan la aclimatación y la
permanencia de la paz, así como una vida digna y plena en oportunidades para todos.
Las perspectivas de futuro para los derechos sociales, y con ellos para millones
de personas excluidas y condenadas a vivir con miedo por no poder salir de la trampa
de la pobreza, dependen de un uso óptimo e inteligente de diversas estrategias, tanto
políticas, sociales, jurídicas y económicas, con miras a realizar efectivamente los dere-
chos humanos en contextos desventajosos por ausencia del diseño institucional ade-
cuado, por la falta de voluntad política y por la carencia de un trabajo intelectual
constante e imaginativo para resolver los problemas sociales56 que aquejan el abiga-
rrado y complejo mundo actual.
56 En este contexto es imprescindible recordar la concepción de democracia de John Dewey. Para el filósofo
americano la democracia es la condición previa para la aplicación plena de la inteligencia a la solución de
los problemas sociales. Ver Hilary Putnam, Cómo renovar la filosofía, Madrid 1994, p. 247.
396
Emergencia y Consolidación de un Derecho
Americano de los Derechos Humanos
Gonzalo Aguilar Cavallo1
Sumarioo: I. Introducción II. Emergencia y consolidación del Derecho Americano de los Derechos Humanos III. La
influencia del sistema interamericano de protección de los derechos humanos sobre los órdenes nacionales y sus
interacciones IV. Conclusiones
I. Introducción
397
Gonzalo Aguilar Cavallo
398
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
8 Loewenstein, Karl: Teoría de la Constitución. Trad. Cast. de Alfredo Gallego Anabitarte, Ariel, Barcelona,
2ª ed., 3ª reimp., 1983, pp. 217 y 219.
399
Gonzalo Aguilar Cavallo
Humanos, debe entenderse efectuada dicha referencia al grupo de países y los órde-
nes jurídicos que se han mencionado.
Este estudio se encuentra dividido en dos partes principales, la primera aborda-
rá el desarrollo del proceso de emergencia del DADH y los rasgos o características
principales de este orden jurídico y, con posterioridad, se examinará la influencia e
interacción del sistema interamericano de promoción y protección de los derechos
humanos sobre los órdenes nacionales, como elemento principal en el surgimiento de
este DADH.
400
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
1. Forjamiento
10 “El reconocimiento explícito, por parte de nuestra más elevada instancia jurisdiccional constitucional, del
carácter «sistemático» de nuestra tabla de derechos fundamentales deja abierta la consideración de impor-
tantes cuestiones” […] “La Constitución (sic), como norma suprema de un Estado de derecho desarrollado,
al apelar a la noción de ordenamiento jurídico no hace sino reconocer que el conjunto de reglas que inte-
gran su Derecho positivo objetivo responde a los principios básicos de: unidad, plenitud y coherencia”.
Pérez Luño, Antonio-Enrique: “Dogmática de los derechos fundamentales y transformaciones del sistema
constitucional”, en Teoría y Realidad Constitucional, núm. 20, 2007, pp. 495-511, especialmente, p. 498.
11 Tribunal Constitucional de Chile: Requerimiento de inplicabilidad deducido por Silvia Peña Wasaff respec-
to del artículo 38 ter de la Ley Nº 18.933, conocida como Ley de Isapres, en recurso de protección contra
Isapre ING Salud S.A., Rol de Ingreso Nº 4972-2007,de la Corte de Apelaciones de Santiago. Rol Nº 976-
2007. Sentencia de fecha 26 de junio de 2008, par. 25º.
12 “Hoy día es posible constatar todo un proceso de internacionalización e integración progresiva del sistema
de derechos fundamentales en los diferentes ordenamientos nacionales”. Álvarez Conde, Enrique y Tur
Ausina, Rosario: “Los derechos en el constitucionalismo: tipología y tutela «multilevel»”, en Teoría y
Realidad Constitucional, núm. 20, 2007, pp. 231-276, especialmente, p. 232; Vid. Aguilar Cavallo, Gonzalo:
“La internacionalización del Derecho Constitucional”, en Estudios Constitucionales, Año 5, núm. 1 (2007),
pp. 223 a 281
13 “[…] a partir del presente deberá acomodar su óptica de enfoque hacia unos ordenamientos jurídicos poli-
céntricos. Esta nueva perspectiva metodológica para asumir el significado actual de los sistemas jurídicos,
denuncia la crisis del iuspositivismo kelseniano. Impone sustituir la imagen piramidal, es decir, jerarquiza-
da del orden normativo, por un horizonte en el que la totalidad del sistema se obtendrá por la intersección
de una pluralidad de estructuras normativas, de procedencia heterogénea y que hacinadas formarán un
panorama del ordenamiento jurídico bastante parecido a una bóveda”. Pérez Luño, Antonio-Enrique:
“Dogmática de los derechos fundamentales y transformaciones del sistema constitucional”, en Teoría y
Realidad Constitucional, núm. 20, 2007, pp. 495-511, especialmente, p. 510.
14 Martín-Retortillo Baquer, Lorenzo: Vías concurrentes para la protección de los derechos huma-
nos.Thomson-Civitas, Navarra, 2006, p. 46.
401
Gonzalo Aguilar Cavallo
15 Cruz Villalón, Pedro: “Formación y Evolución de los Derechos Fundamentales”, en Revista Española de
Derecho Constitucional, Año 9. núm. 25 (1989), pp. 35-62, especialmente, p. 41.
16 Pérez Luño, Antonio-Enrique: “Dogmática de los derechos fundamentales y transformaciones del sistema
constitucional”, en Teoría y Realidad Constitucional, núm. 20, 2007, pp. 495-511, especialmente, pp. 510-511.
402
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
presenta con mayor o menor intensidad en los distintos países de América Latina. Con
todo, aun cuando este patrón se revele, en algunos Estados, ser de baja intensidad, es
un hecho que las sentencias de la Corte IDH y sus enseñanzas y jurisprudencia están
presentes en las experiencias constitucionales y en la jurisprudencia constitucional de
los países de la región.17
Finalmente, creciente interacción y sinergia entre la Corte IDH y las institucio-
nes constitucionales y democráticas de los Estados americanos. Luego de un inicio
complejo en cuanto a la relación entre la Corte IDH y los Estados, hoy en día se puede
argumentar que existe un verdadero diálogo entre la Corte IDH y sus enseñanzas y los
órganos de los Estados, en particular, con la justicia ordinaria y constitucional, aun-
que muchas veces no muy fluido o desprovisto de obstáculos. Este diálogo entre el
juez interamericano y el juez constitucional resulta singularmente relevante en la
construcción coherente y uniforme de este verdadero corpus iuris interamericano que
nosotros hemos denominado el Derecho Americano de los Derechos Humanos.
17 Por ejemplo, para el caso Argentino, vid. Simón, Julio Héctor y otros – Corte Suprema de Justicia de la
Nación (CS) -2005-06-14 – Fallos: 328:2056; Para el caso de Perú, el Tribunal Constitucional ha señalado
que “Para la resolución del caso es oportuno recordar que la Corte Interamericana de Derechos Humanos
ha tenido oportunidad de condenar y sancionar a Estados que han ratificado la Convención Americana de
Derechos Humanos por permitir que sus máximos órganos jurisdiccionales electorales se encuentren exen-
tos de un control jurisdiccional frente a aquellas decisiones que contravengan los derechos fundamentales
de las personas. En efecto, en el Caso Yatama vs. Nicaragua, la Corte Interamericana de Derechos Humanos
sostuvo que : “Si bien la Constitución de Nicaragua ha establecido que las resoluciones del Consejo Supremo
Electoral en materia electoral no son susceptibles de recursos ordinarios o extraordinarios, esto no signifi-
ca que dicho Consejo no deba estar sometido a controles judiciales, como lo están los otros poderes del
Estado. Las exigencias derivadas del principio de independencia de los poderes del Estado no son incompa-
tibles con la necesidad de consagrar recursos o mecanismos para proteger los derechos humanos.
Independientemente de la regulación que cada Estado haga respecto del órgano supremo electoral, éste
debe estar sujeto a algún control jurisdiccional que permita determinar si sus actos han sido adoptados al
amparo de los derechos y garantías mínimas previstos en la Convención Americana, así como los estableci-
dos en su propia legislación, lo cual no es incompatible con el respeto a las funciones que son propias de
dicho órgano en materia electoral. Este control es indispensable cuando los órganos supremos electorales,
como el Consejo Supremo Electoral en Nicaragua, tienen amplias atribuciones, que exceden las facultades
administrativas, y que podrían ser utilizados, sin un adecuado control, para favorecer determinados fines
partidistas. En este ámbito, dicho recurso debe ser sencillo y rápido, tomando en cuenta las particularida-
des del procedimiento electoral. Por todo lo expuesto, la Corte concluye que el Estado violó el derecho a la
protección judicial consagrado en el artículo 25.1 de la Convención Americana”. Tribunal Constitucional
de Perú: Caso Colegio de Abogados del Callao (demandante) c. Congreso de la República (demandado). Rol
00007-2007-PI/TC. Resolución del 19 de Junio de 2007; Para el caso de Chile, se ha indicado en el Informe
entregado al Consejo de Derechos Humanos para el Examen Periódico Universal, que “De acuerdo a la
reforma introducida al Art. 5 inciso 2 de la Constitución, ya mencionada, los derechos humanos estableci-
dos en los tratados internacionales de derechos humanos tienen rango constitucional. Así se ha reconocido
por los propios tribunales internos, los cuales han recurrido a la normativa internacional para fundamentar
sus fallos. Cabe mencionar que la Corte Suprema ha citado el fallo de la Corte Interamericana de Derechos
Humanos en el “Caso Almonacid”, reafirmando que la prohibición de crímenes de lesa humanidad es una
norma de ius cogens”. Informe nacional de Chile presentado de conformidad con el párrafo 15 a) anexo a
la resolución 5/1 del Consejo de Derechos Humanos. Doc. N.U. A/HRC/WG.6/5/CHL/1, de fecha 16 de
febrero de 2009, par. 18; Vid. Corte Suprema: Secuestro calificado de Ricardo Troncoso Muñoz y otros.
Causa Rol Nº 3452-06. Sentencia de fecha 10 de mayo de 2007.
403
Gonzalo Aguilar Cavallo
Además, este Derecho Americano de los Derechos Humanos tiene en sí mismo una
virtualidad propia de los derechos humanos, cual es asegurar el principio democráti-
co de no discriminación en el sentido que todos los individuos, grupos y pueblos de
América, tendrían asegurado, al menos, un estándar básico de respeto y goce de los
derechos humanos. En esta construcción del Derecho Americano de los Derechos
Humanos, el Derecho Constitucional -del Estado democrático y comunitario del ter-
cer milenio- juega un rol clave.
18 Preámbulo de la Carta de la Organización de los Estados Americanos, suscrita en Bogotá en 1948 y refor-
mada por el Protocolo de Buenos Aires en 1967, por el Protocolo de Cartagena de indias en 1985, por el
Protocolo de Washington en 1992, y por el Protocolo de Managua en 1993.
19 Preámbulo de la Declaración Americana de los Derechos y Deberes del Hombre (aprobada en la Novena
Conferencia Internacional Americana), Bogotá, Colombia, 1948.
404
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
adelante, la CIDH), que posee competencia para conocer de las denuncias de particu-
lares respecto de Estados miembros de la OEA y la Corte Interamericana de Derechos
Humanos (en adelante, la Corte IDH) que posee competencia para conocer de
demandas presentadas por la propia Comisión o por los Estados partes contra otros
Estados que han aceptado expresamente su jurisdicción.
En consecuencia, se puede observar la consolidación de un Derecho Americano
de los Derechos Humanos, cuyas características, en términos muy generales, se
podrían esbozar en las siguientes: a) se trata de un derecho dinámico, en permanente
creación y evolución. Tal como lo ha sostenido el juez Cançado Trindade, “al fin y al
cabo, tarde o temprano, aún frente a los más crueles crímenes de Estado, el Derecho
reacciona”,20 sobre todo el DADH por su carácter esencialmente vivo y dinámico,
aportando protección, reconocimiento y reparación al ser humano; b) el DADH con-
figura un derecho cuyo fin natural es penetrar e incorporarse en los órdenes jurídicos
internos por la vía del Derecho Constitucional de los Estados; c) por esta vía de recep-
ción natural, el Derecho Americano de los Derechos Humanos debiera tender a uni-
formar los contenidos y la aplicación de los derechos humanos en los diversos órde-
nes constitucionales americanos, el cual se configuraría como el estándar mínimo en
materia de derechos humanos exigible a los Estados del Continente.21
Por otra parte, esta suerte de umbral mínimo de derechos humanos, que el
Derecho Americano de los Derechos Humanos, por la vía del Derecho Constitucional
de los Estados, tiende a asegurar a todos los individuos y grupos de la región, permi-
tiría resolver las chocantes diferencias y discriminaciones que se presentan hoy en día
tanto a nivel intraestatal como a nivel extraestatal.
A nivel intraestatal, el estándar mínimo asegura un respeto homogéneo elemen-
tal de todos los derechos humanos, esto es, civiles y políticos y además, económicos,
sociales y culturales, respecto de todas las capas de la sociedad. De esta manera, en tér-
minos de derechos, se reduciría aunque no se eliminaría, la abismante diferencia de
desarrollo humano entre las capas de la sociedad, y este último, sería un avance en
relación con elevados índices de igualdad y combate a la discriminación, ya que esta-
ría asegurado, al menos, el acceso igualitario de todos a este umbral mínimo.
20 Corte I.D.H.: Caso Goiburú y otros vs. Paraguay. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 22 de septiem-
bre de 2006. Serie C No. 153. Voto razonado del juez A. A. Cançado Trindade, par. 68, p. 23.
21 Comparativamente hablando en relación con el sistema europeo de derechos humanos, la Corte Europea de
Derechos Humanos, argumentando respecto de la Carta de Derechos Fundamentales de la Unión Europea,
ha afirmado que pese a no ser plenamente vinculante, las disposiciones de la Carta se inspiraron esencial-
mente en las del Convenio Europeo de Derechos Humanos, reconociendo aquella que éste establece están-
dares mínimos de derechos humanos. “Although not fully binding, the provisions of the Charter of
Fundamental Rights of the European Union were substantially inspired by those of the Convention, and
the Charter recognises the Convention as establishing the minimum human rights standards”. ECHR: Case
of Bosphorus Hava Yollari Turizm Ve Ticaret Anonim Sirketi vs. Ireland (Application no. 45036/98).
Judgment, 30 June 2005, par. 156; Alonso García, Ricardo y Sarmiento, Daniel: La Carta de los Derechos
Fundamentales de la Unión Europea. Thomson-Civitas, Navarra, 2006, p. 47.
405
Gonzalo Aguilar Cavallo
22 Solozábal Echavarría, Juan José: “Algunas cuestiones básicas de la teoría de los derechos fundamentales”, en
Revista de Estudios Políticos (Nueva Época), núm. 71, enero-marzo 1991, pp. 87-109, especialmente, p. 88.
23 Idem.
24 Corchete Martín, María José: “Los nuevos derechos”, en Teoría y Realidad Constitucional, núm. 20 (2007),
pp. 535-556, especialmente, p. 554.
406
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
25 Zarini, Helio Juan: Derecho constitucional. Astrea, Buenos Aires, 2ª edición, 1999, p. 435.
26 Rawls, John: Teoría de la justicia. Trad. de María Dolores González Soler. Ed. Fondo de Cultura Económica,
México, Segunda Edición, 1995, p. 229.
27 Para un enfoque centrado en Europa, vid. Alonso García, Ricardo y Sarmiento, Daniel: La Carta de los
Derechos Fundamentales de la Unión Europea. Thomson-Civitas, Navarra, 2006, p. 27.
28 González González, Rossana: “Límites a la construcción de un «orden público europeo» en materia de dere-
chos fundamentales (A propósito de la sentencia del TJCE Krombach c. Bamberski, de 28 de marzo de
2000)”, en Revista de Derecho Comunitario Europeo, núm. 8, julio-diciembre 2000, pp. 593-617, especial-
mente, p. 614.
407
Gonzalo Aguilar Cavallo
29 Vid. cómo el profesor Ortega Santiago habla de un Derecho Constitucional de los derechos fundamentales.
Ortega Santiago, Carlos: “Las nuevas fronteras de los derechos fundamentales en el ordenamiento italiano:
crónica de un lento avance”, en Teoría y Realidad Constitucional, núm. 20,2007, pp. 569-582.
30 Corchete Martín, María José: “Los nuevos derechos”, en Teoría y Realidad Constitucional, núm. 20 (2007),
pp. 535-556, especialmente, p. 556.
31 Pérez Luño, Antonio-Enrique: “Dogmática de los derechos fundamentales y transformaciones del sistema
constitucional”, en Teoría y Realidad Constitucional, núm. 20, 2007, pp. 495-511, especialmente, p. 500.
32 Vid. Declaración de Compromiso de Puerto España, Quinta Cumbre de las Americas, realizada del 17 al 19
de abril de 2009, en Puerto España, Trinidad y Tobago, par. 83.
408
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
33 Vid. Declaración de San Salvador “Juventud y Desarrollo”, efectuada con ocasión de la XVIII Cumbre
Iberoamericana de Jefes de Estado y de Gobierno, realizada en la ciudad de San Salvador, República de El
Salvador, el 29, 31 de octubre de 2008, par. 4.
34 Además, la Declaración de Santiago agrega, “Fortalecer la promoción y respeto de todos los derechos huma-
nos como un componente indispensable en la adopción y ejecución de las políticas destinadas a lograr la
cohesión social”.Vid. Declaración de Santiago, efectuada en la XVII Cumbre Iberoamericana de Jefes de
Estado y de Gobierno, realizada en Chile, 8, 9 y 10 de noviembre de 2007, pars. 3 y 13.
35 Biaggini, Giovanni: “La idea de constitución: ¿nueva orientación en la época de la globalización?”, en
Anuario Iberoamericano de Justicia Constitucional, núm. 7, 2003, pp. 43-75, especialmente, p. 47.
409
Gonzalo Aguilar Cavallo
410
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
Política de la República, preceptúa que el ejercicio de la soberanía aparece limitado por "los derechos esen-
ciales de la persona humana" siendo "deber de los órganos del Estado respetar y promover tales derechos
garantizados por esta Constitución así como por los tratados internacionales ratificados por Chile que se
encuentren vigentes". Valores que son superiores a toda norma que puedan disponer las autoridades del
Estado, incluido el propio Poder Constituyente derivado, lo que impide que sean desconocidos (Fallos del
Mes Nº 446, sección criminal, página 2.066), aún en virtud de consideraciones de oportunidad en la políti-
ca social o de razones perentorias de Estado para traspasar esos límites. Otorgándole rango constitucional a
los tratados que garantizan el respeto de los derechos humanos, concediéndoles una jerarquía mayor que a
los demás tratados internacionales, en cuanto regulan los derechos esenciales que emanan de la naturaleza
humana”. “En definitiva los derechos humanos asegurados en un tratado se incorporan al ordenamiento
jurídico interno, formando parte de la Constitución material adquiriendo plena vigencia, validez y eficacia
jurídica, no pudiendo ningún órgano del Estado desconocerlos y debiendo todos ellos respetarlos y promo-
verlos, como asimismo, protegerlos a través del conjunto de garantías constitucionales destinadas a asegu-
rar el pleno respeto de los derechos. Esta obligación no sólo deriva del mentado artículo 5º, sino también
del 1º, incisos primero y cuarto, y 19, Nº 26º, de la Carta Magna y de los mismos tratados internacionales,
entre éstos del artículo 1º común a los Cuatro Convenios de Ginebra, que establece el deber de los Estados
Partes de respetar y hacer cumplir el derecho internacional humanitario”. Corte Suprema: Zapata Reyes,
Basclay H. y otros s/ Secuestro calificado. Recurso de casación en el fondo. Rol Nº 3452-06. Sentencia de
fecha 10 de mayo de 2007. Considerando 66º.
40 En este sentido Ruipérez ha señalado que “no puede ignorarse que se trata de un Derecho Internacional
que, al no poder presentarse como el fruto de la voluntad de un pueblo soberano mundial, que, por lo
demás, no existe, nunca podrá ocupar la posición que tenían las Constituciones estatales, y, en consecuen-
cia, carecerá de esa naturaleza de Derecho Fundamental que le permita conducir adecuadamente la vida
política y jurídica de la hipotética aldea global”. Ruipérez Alamillo, Javier: “El transfondo teórico-ideológi-
co de la “libertad civil” y su eficacia”, en Teoría y Realidad Constitucional, núm. 20 (2007), pp. 175-230,
especialmente, p. 228.
41 Solozábal Echavarría, Juan José: “Constitución y orden constitucional en la Unión Europea”, en Revista de
Estudios Políticos (Nueva Época), núm. 119, enero-marzo 2003, pp. 57-79, especialmente, p. 63.
42 Para un desarrollo de esta idea, aplicada al continente Europeo, vid. Innerarity Grau, Daniel: “El espacio
público europeo”, en Claves de razón práctica, núm. 175 (2007), pp. 24-31.
411
Gonzalo Aguilar Cavallo
es, de un ‘orden público americano’, compuesto por los valores y principios de los
derechos humanos, y en cuya cúspide se encontrarían las normas de ius cogens.
Así, como ha sido reconocido, tanto en el ámbito europeo como en el ámbito
americano, la existencia de un orden público constitucional, el sistema de derechos
humanos admite y reconoce las particularidades culturales de las distintas comunida-
des y pueblos.43 En virtud de este reconocimiento, es posible que las orientaciones o
los énfasis impresos al orden público europeo no sea el mismo que aquel aplicado al
orden público americano, si bien, en gran medida, ambos órdenes coincidirán en su
contenido. Con todo, en lo que dice relación con aquellas normas que se encuentran
fuera del acuerdo convencional, y que vinculan al individuo, a las comunidades y pue-
blos, en todo momento y bajo cualquier circunstancia, dichas normas imperativas
conforman omnium gentium un orden público internacional.
De este modo, la Declaración Americana de Derechos y Deberes del Hombre y
la Convención Americana de Derechos Humanos, son los instrumentos constitucio-
nales principales del orden público americano, por la particular naturaleza de estos
instrumentos, por el carácter objetivo de sus disposiciones y por la instauración de un
sistema de garantía colectiva del respeto a los derechos humanos. Este orden público
se funda, además, en que los Estados Americanos han declarado que “la consagración
americana de los derechos esenciales del hombre unida a las garantías ofrecidas por el
régimen interno de los Estados, establece el sistema inicial de protección que los
Estados americanos consideran adecuado a las actuales circunstancias sociales y jurí-
dicas, no sin reconocer que deberán fortalecerlo cada vez más”44 y que han tenido el
“propósito de consolidar en este Continente, dentro del cuadro de las instituciones
democráticas, un régimen de libertad personal y de justicia social, fundado en el res-
peto de los derechos esenciales del hombre”.45
En un cierto aspecto, más bien internacional, Pérez Luño se refiere a una
supraestatalidad normativa en el ámbito de los derechos humanos como un nuevo ius
comune.46 Sin embargo, nuestro enfoque no se queda en la supraestatalidad normati-
43 “Todos los derechos humanos son universales, indivisibles e interdependientes y están relacionados entre
sí. La comunidad internacional debe tratar los derechos humanos en forma global y de manera justa y equi-
tativa, en pie de igualdad y dándoles a todos el mismo peso. Debe tenerse en cuenta la importancia de las
particularidades nacionales y regionales, así como de los diversos patrimonios históricos, culturales y reli-
giosos, pero los Estados tienen el deber, sean cuales fueren sus sistemas políticos, económicos y culturales,
de promover y proteger todos los derechos humanos y las libertades fundamentales”. Vid. Declaración y
Programa de Acción de Viena, aprobada por la Conferencia Mundial de Derechos Humanos el 25 de junio
de 1993. Doc. A/CONF.157/23, de fecha 12 de julio de 1993, par. 5.
44 Cfr. Preámbulo, Declaración Americana de los Derechos y Deberes del Hombre (Aprobada en la Novena
Conferencia Internacional Americana, Bogotá, Colombia, 1948).
45 Cfr. Preámbulo, Convención Americana sobre Derechos Humanos, suscrita en la Conferencia Especializada
Interamericana sobre Derechos Humanos, San José, Costa Rica 7 al 22 de noviembre de 1969 (Pacto de San José).
46 “La supraestatalidad normativa supone la adopción de reglas jurídicas comunes en el ámbito de ordena-
mientos diferentes, por efecto de explícitos actos de aceptación de la estructura normativa de determinadas
organizaciones internacionales o supranacionales, o bien por el reconocimiento implícito de normas jurídi-
412
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
va, ya que el Derecho Americano de los Derechos Humanos del que hablamos se
encuentra en la confluencia entre el Derecho Internacional y el Derecho
Constitucional y en su enriquecimiento recíproco. ¿Qué Derecho Constitucional? Las
tradiciones constitucionales comunes de los Estados de América Latina.
En el ámbito europeo, De Salvia ha expresado esta idea, cuando ha señalado que
“[f]rente al ius propium de cada uno de los Estados Partes del CEDH, «aparecen cla-
ramente los contornos de un derecho europeo de los derechos humanos» (...) –«un ius
commune»– que representa el núcleo irreductible de los derechos fundamentales, en
continuo crecimiento, alrededor de los cuales puede y debe forjarse la unidad de
espíritus, condición necesaria de la unión política”.47 González, a pesar de manifes-
tar que la noción de orden público europeo es ambigua o incierta, se atreve a seña-
lar que esta noción “reflejaría una categoría sui generis de ius cogens europeo en
materia de derechos fundamentales, cuyo referente normativo es el Convenio
Europeo de Derechos Humanos, y su fuente de determinación, la jurisprudencia del
Tribunal Europeo de Derechos Humanos dictada en el marco de los contenciosos por
responsabilidad del Estado”.48
La jurisprudencia de la Corte Europea de Derechos Humanos ha expresamente
reconocido la noción de orden público europeo, basado, fundamentalmente, en la
Convención Europea de Derechos Humanos, en el caso Loizidou vs. Turquía y, pos-
teriormente, en el denominado caso Bosphorus, donde, bajo determinadas circunstan-
cias, las obligaciones derivadas de la cooperación internacional podrían ceder frente
cas fuera del área en la que inicialmente fueron promulgadas. Este fenómeno se ha expresado con particular
eficacia en las experiencias y tentativas dirigidas a establecer un nuevo ius commune, es decir, un Derecho
común que, a semejanza del forjado por las universidades medievales, representa una especie de tejido conec-
tivo que une los ordenamientos jurídicos modernos y que encuentra expresión en el plano del Derecho posi-
tivo en documentos y acuerdos sobre derechos humanos, persecución de organizaciones delictivas interna-
cionales y reglas generales del tráfico económico. Al propio tiempo que se afirma por vía jurisprudencial a
través de la presencia en distintos ordenamientos estatales nacionales de modelos jurídicos que tienen un ori-
gen cultural común. Puede concluirse, a partir de estas consideraciones, que en las actuales sociedades inter-
dependientes e interconectadas se ha erosionado y, en ocasiones, se ha llegado a abolir, el protagonismo
hegemónico y monopolístico de los Estados nacionales, en la creación del sistema de fuentes del derecho”.
Pérez Luño, Antonio Enrique: “Estado constitucional y generaciones de derechos humanos”, en Corte I.D.H.:
Liber Amicorum Héctor Fix-Zamudio, Volumen II, Corte Interamericana de Derechos Humanos, San José,
1998, pp. 1241-1264, especialmente, pp. 1243-1244; Delmas-Marty, Mireille et Izorche, Marie-Laure:
“Marge nationale d’appréciation et internationalisation du droit”, en Revue Internationale de Droit
Comparé, vol. 52, núm. 4 (2000), pp. 753-780; Halpérin, Jean-Louis: “L’approche historique et la probléma-
tique du jus commune”, en Revue Internationale de Droit Comparé, vol. 52, núm. 4 (2000), pp. 717-731.
47 De Salvia, M.: «L'élaboration d'un «ius commune» des droits de l'homme et des libertés fondamentales dans
la perspective de l'unité européenne: l'oeuvre accomplie par la Commission et la Cour européennes des
Droits de l'Homme», Protection des droits de l'homme: la dimension européenne, Mélanges en l'honneur
de G. J. Wiarda, Cari Heymanns Verlag KG, Berlín, 1988, pp. 555-563, p. 563.
48 González González, Rossana: “Límites a la construcción de un «orden público europeo» en materia de dere-
chos fundamentales (A propósito de la sentencia del TJCE Krombach c. Bamberski, de 28 de marzo de
2000)”, en Revista de Derecho Comunitario Europeo, núm. 8, julio-diciembre 2000, pp. 593-617, especial-
mente, p. 610.
413
Gonzalo Aguilar Cavallo
Dentro de los avances que se han producido en estas últimas tres décadas, se
encuentra el lento posicionamiento, en un lugar de relevancia en la agenda político-
constitucional de los países de la región, de los derechos económicos, sociales y cultu-
rales. No es que los Estados de la región hayan superado con éxito todas las exigencias
derivadas de la plena satisfacción de los derechos civiles y políticos, y muestra de ello
son los defectos que aun subsisten en muchos países en relación con el derecho al
debido proceso, pero se ha posicionado, en términos relativamente equivalentes, el
debate constitucional en torno a los derechos económicos, sociales y culturales.
En esta línea, la superación de la tradicional distinción entre derechos fundamen-
tales y derechos humanos contribuiría a la adquisición de ‘ciudadanía plena’ de los DESC
en el orden estatal y permitiría la desaparición definitiva de la distinción, que ha predo-
minado en los ordenes estatales, en cuanto al carácter mismo de derechos, de los DESC.
El orden internacional, mucho más dinámico que el orden constitucional en esta
materia, ha evolucionado progresivamente a través de la adopción de un nuevo
Protocolo Facultativo al Pacto Internacional de Derechos Económicos, Sociales y
Culturales, que contempla la posibilidad de aceptar la competencia del Comité de
Derechos Económicos, Sociales y Culturales, para recibir denuncias individuales.51
49 “In addressing this issue the Court must bear in mind the special character of the Convention as an instru-
ment of European public order (ordre public) for the protection of individual human beings and its mis-
sion, as set out in Article 19 (art. 19), "to ensure the observance of the engagements undertaken by the High
Contracting Parties”. ECHR: Case of Loizidou v. Turkey (Preliminary Objections) (Application no.
15318/89). Judgment, 23 March 1995, par. 93; “In such cases, the interest of international cooperation
would be outweighed by the Convention's role as a “constitutional instrument of European public order”
in the field of human rights”. ECHR: Case of Bosphorus Hava Yollari Turizm Ve Ticaret Anonim Sirketi vs.
Ireland (Application no. 45036/98). Judgment, 30 June 2005, par. 156.
50 Corte I.D.H.: Caso Del Penal Miguel Castro Castro vs. Perú. Interpretación de la Sentencia de Fondo,
Reparaciones y Costas. Sentencia de 2 de agosto de 2008 Serie C No. 181. Voto razonado del juez Antônio
Augusto Cançado Trindade, par. 153.
51 El Protocolo Facultativo al Pacto Internacional de Derechos Económicos Sociales y Culturales fue adopta-
do por la Asamblea General de las Naciones Unidas, en ocasión del 60º aniversario de la Declaración Univer-
414
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
sal de los Derechos Humanos, el 10 de diciembre de 2008, mediante la resolución A/RES/63/117. En dicha
resolución, la Asamblea General recomienda que el Protocolo Facultativo sea abierto a la firma en una cere-
monia el año 2009; “Artículo 2. Comunicaciones: Las comunicaciones podrán ser presentadas por personas
o grupos de personas que se hallen bajo la jurisdicción de un Estado Parte y que aleguen ser víctimas de una
violación por ese Estado Parte de cualquiera de los derechos económicos, sociales y culturales enunciados
en el Pacto. Para presentar una comunicación en nombre de personas o grupos de personas se requerirá su
consentimiento, a menos que el autor pueda justificar que actúa en su nombre sin tal consentimiento”.
Protocolo Facultativo del Pacto Internacional de Derechos Económicos, Sociales y Culturales, adoptado por
la Asamblea General mediante resolución A/RES/63/117 adoptada el 10 de diciembre de 2008.
52 Corte I.D.H.: Caso Goiburú y otros vs. Paraguay. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 22 de septiem-
bre de 2006. Serie C No. 153. Voto razonado del juez A. A. Cançado Trindade, par. 68, p. 23.
53 Corte I.D.H.: Condición Jurídica y Derechos de los Migrantes Indocumentados. Opinión Consultiva OC-
18/03 del 17 de septiembre de 2003. Serie A No. 18.
54 Todos los países de América del Sur, salvo Chile y Venezuela, han ratificado el Protocolo de San Salvador.
“Artículo 19: Medios de Protección: 6. En el caso de que los derechos establecidos en el párrafo a) del artí-
culo 8 y en el artículo 13 fuesen violados por una acción imputable directamente a un Estado parte del pre-
sente Protocolo, tal situación podría dar lugar, mediante la participación de la Comisión Interamericana de
Derechos Humanos, y cuando proceda de la Corte Interamericana de Derechos Humanos, a la aplicación
del sistema de peticiones individuales regulado por los artículos 44 a 51 y 61 a 69 de la Convención
Americana sobre Derechos Humanos”. Protocolo Adicional a la Convención Americana sobre Derechos
Humanos en materia de Derechos Económicos, Sociales y Culturales "Protocolo de San Salvador" (Suscrito
en San Salvador, El Salvador, el 17 de noviembre de 1988, en el decimoctavo período ordinario de sesiones
de la Asamblea General). Entrada en vigor: 16 de noviembre de 1999.
415
Gonzalo Aguilar Cavallo
55 “Artículo 8: Derechos Sindicales: 1. Los Estados partes garantizarán: a. el derecho de los trabajadores a orga-
nizar sindicatos y a afiliarse al de su elección, para la protección y promoción de sus intereses. Como pro-
yección de este derecho, los Estados partes permitirán a los sindicatos formar federaciones y confederacio-
nes nacionales y asociarse a las ya existentes, así como formar organizaciones sindicales internacionales y
asociarse a la de su elección. Los Estados partes también permitirán que los sindicatos, federaciones y con-
federaciones funcionen libremente”; “Artículo 13: Derecho a la Educación: 1. Toda persona tiene derecho
a la educación. 2. Los Estados partes en el presente Protocolo convienen en que la educación deberá orien-
tarse hacia el pleno desarrollo de la personalidad humana y del sentido de su dignidad y deberá fortalecer
el respeto por los derechos humanos, el pluralismo ideológico, las libertades fundamentales, la justicia y la
paz. Convienen, asimismo, en que la educación debe capacitar a todas las personas para participar efectiva-
mente en una sociedad democrática y pluralista, lograr una subsistencia digna, favorecer la comprensión,
la tolerancia y la amistad entre todas las naciones y todos los grupos raciales, étnicos o religiosos y promo-
ver las actividades en favor del mantenimiento de la paz. 3. Los Estados partes en el presente Protocolo
reconocen que, con objeto de lograr el pleno ejercicio del derecho a la educación: a. la enseñanza primaria
debe ser obligatoria y asequible a todos gratuitamente; b. la enseñanza secundaria en sus diferentes formas,
incluso la enseñanza secundaria técnica y profesional, debe ser generalizada y hacerse accesible a todos, por
cuantos medios sean apropiados, y en particular por la implantación progresiva de la enseñanza gratuita; c.
la enseñanza superior debe hacerse igualmente accesible a todos, sobre la base de la capacidad de cada uno,
por cuantos medios sean apropiados y en particular, por la implantación progresiva de la enseñanza gratui-
ta; d. se deberá fomentar o intensificar, en la medida de lo posible, la educación básica para aquellas perso-
nas que no hayan recibido o terminado el ciclo completo de instrucción primaria; e. se deberán establecer
programas de enseñanza diferenciada para los minusválidos a fin de proporcionar una especial instrucción
y formación a personas con impedimentos físicos o deficiencias mentales. 4. Conforme con la legislación
interna de los Estados partes, los padres tendrán derecho a escoger el tipo de educación que habrá de darse
a sus hijos, siempre que ella se adecue a los principios enunciados precedentemente. 5. Nada de lo dispues-
to en este Protocolo se interpretará como una restricción de la libertad de los particulares y entidades para
establecer y dirigir instituciones de enseñanza, de acuerdo con la legislación interna de los Estados partes”.
56 “Esta Corte ha manifestado, en relación al daño material en el supuesto de víctimas sobrevivientes, que el
cálculo de la indemnización debe tener en cuenta, entre otros factores, el tiempo que éstas permanecieron
sin trabajar. La Corte considera que dicho criterio es aplicable en el presente caso, y para tal efecto dispo-
ne que el Estado debe pagar los montos correspondientes a los salarios caídos y demás derechos laborales
que correspondan a los magistrados destituidos, de acuerdo con su legislación”. Corte I.D.H.: Caso del
Tribunal Constitucional vs. Perú. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 31 de enero de 2001. Serie C
No. 71, par. 121, p. 54.
57 “158. Esta Corte considera que la libertad de asociación, en materia sindical, reviste la mayor importancia
para la defensa de los intereses legítimos de los trabajadores y se enmarca en el corpus juris de los derechos
humanos. 159. La libertad de asociación, en materia laboral, en los términos del artículo 16 de la
Convención Americana, comprende un derecho y una libertad, a saber: el derecho a formar asociaciones
416
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
los Trabajadores Cesados del Congreso (Aguado Alfaro y otros) vs. Perú, la Corte, sin
pronunciarse derechamente sobre derechos sociales violados, ordenó, como medida
reparatoria, la creación de un órgano independiente e imparcial para que revise los des-
pidos de los trabajadores del Congreso.58 Finalmente, en el caso "Cinco Pensionistas"
vs. Perú, la Corte IDH tuvo la gran oportunidad –lamentablemente perdida- de pro-
nunciarse sobre una violación del derecho al desarrollo progresivo de los derechos eco-
nómicos, sociales y culturales, en particular, en lo relativo al derecho a la pensión.59 En
nuestra opinión, este último caso refleja una cautela excesiva respecto de los DESC.
Sin embargo, la competencia consultiva de la Corte IDH ha constituido una her-
ramienta eficaz para la construcción, en cierne, de una doctrina jurisprudencial sobre
los DESC, en particular, sobre los derechos sociales. En efecto, en su Opinión Consultiva
sobre la Condición Jurídica y Derechos de los Migrantes Indocumentados, la Corte IDH
tuvo la oportunidad de afirmar que “son numerosos los instrumentos jurídicos en los
que se regulan los derechos laborales a nivel interno e internacional, la interpretación
de dichas regulaciones debe realizarse conforme al principio de la aplicación de la
norma que mejor proteja a la persona humana, en este caso, al trabajador”.60
sin restricciones distintas a las permitidas en los incisos 2 y 3 de aquel precepto convencional y la libertad
de toda persona de no ser compelida u obligada a asociarse. El Protocolo de San Salvador de 17 de noviem-
bre de 1988, en su artículo 8.3, recoge la misma idea y precisa que, en materia sindical, “[n]adie podrá ser
obligado a pertenecer a un sindicato”. Corte I.D.H.: Caso Baena Ricardo y otros vs. Panamá. Fondo,
Reparaciones y Costas. Sentencia de 2 de febrero de 2001. Serie C No. 72, pars. 158 y 159, p. 101
58 “148. Sin embargo, en el presente caso el Tribunal considera que la reparación consecuente con las viola-
ciones declaradas es disponer que el Estado garantice a los lesionados en el goce de sus derechos o liberta-
des conculcados, a través del efectivo acceso a un recurso sencillo, rápido y eficaz, para lo cual deberá cons-
tituir a la mayor brevedad un órgano independiente e imparcial que cuente con facultades para decidir en
forma vinculante y definitiva si esas personas fueron cesadas regular y justificadamente del Congreso de la
República o, en caso contrario, que así lo determine y fije las consecuencias jurídicas correspondientes,
inclusive, en su caso, las compensaciones debidas en función de las circunstancias específicas de cada una
de esas personas”. Corte I.D.H.: Caso Trabajadores Cesados del Congreso (Aguado Alfaro y otros) vs. Perú.
Excepciones Preliminares, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 24 de Noviembre de 2006. Serie C
No. 158, par. 148, p. 55.
59 “Los derechos económicos, sociales y culturales tienen una dimensión tanto individual como colectiva. Su
desarrollo progresivo, sobre el cual ya se ha pronunciado el Comité de Derechos Económicos, Sociales y
Culturales de las Naciones Unidas158, se debe medir, en el criterio de este Tribunal, en función de la cre-
ciente cobertura de los derechos económicos, sociales y culturales en general, y del derecho a la seguridad
social y a la pensión en particular, sobre el conjunto de la población, teniendo presentes los imperativos de
la equidad social, y no en función de las circunstancias de un muy limitado grupo de pensionistas no nece-
sariamente representativos de la situación general prevaleciente”. Corte I.D.H.: Caso "Cinco Pensionistas"
vs. Perú. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 28 de febrero de 2003. Serie C No. 98, par. 147, p. 64.
60 “El Estado tiene la obligación de respetar y garantizar los derechos humanos laborales de todos los trabaja-
dores, independientemente de su condición de nacionales o extranjeros, y no tolerar situaciones de discri-
minación en perjuicio de éstos, en las relaciones laborales que se establezcan entre particulares (empleador
-trabajador). El Estado no debe permitir que los empleadores privados violen los derechos de los trabajado-
res, ni que la relación contractual vulnere los estándares mínimos internacionales”. Corte I.D.H.: Condición
Jurídica y Derechos de los Migrantes Indocumentados. Opinión Consultiva OC-18/03 del 17 de septiembre
de 2003. Serie A No. 18, par. 148, p. 128.
417
Gonzalo Aguilar Cavallo
61 “Para responder con mayor precisión a la preocupación del Estado relativa al estudio previo de impacto
social y ambiental ordenado en la Sentencia, la Corte desarrollará con mayor detalle dicha garantía. Los
EISAs sirven para evaluar el posible daño o impacto que un proyecto de desarrollo o inversión puede tener
sobre la propiedad y comunidad en cuestión. El objetivo de los EISAs no es sólo tener alguna medida obje-
tiva del posible impacto sobre la tierra y las personas, sino también, como se señaló en el párrafo 133 de la
Sentencia, “asegura[r] que los miembros del pueblo Saramaka tengan conocimiento de los posibles riesgos,
incluidos los riesgos ambientales y de salubridad, a fin de que acepten el plan de desarrollo o inversión pro-
puesto con conocimiento y de forma voluntaria”. Corte I.D.H.: Caso del Pueblo Saramaka vs. Surinam.
Interpretación de la Sentencia de Excepciones Preliminares, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 12
de agosto de 2008 Serie C No. 185, par. 40-41, p. 11; Previamente, en el caso del Pueblo Saramaka vs.
Surinam, la Corte IDH había establecido que “[…] el objetivo y el fin de las medidas requeridas en nombre
de los miembros de los pueblos indígenas y tribales es garantizar que podrán continuar viviendo su modo
de vida tradicional y que su identidad cultural, estructura social, sistema económico, costumbres, creencias
y tradiciones distintivas serán respetadas, garantizadas y protegidas por los Estados”. Corte I.D.H.: Caso del
Pueblo Saramaka. vs. Surinam. Excepciones Preliminares, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 28
de noviembre de 2007. Serie C No. 172, par. 121, p. 38.
418
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
419
Gonzalo Aguilar Cavallo
“[l]a seguridad social, esto es, el sistema público de cobertura de necesidades sociales,
individuales y de naturaleza económica desarrollado en nuestro país a partir de la
acción histórica de la previsión social, estructurada en nuestro país sobre la base de las
pensiones y jubilaciones, de la mano de la intervención tutelar del Estado en el ámbi-
to de las relaciones de trabajo ha llegado a convertirse con el tiempo sin la menor reser-
va, en una de las señas de identidad principales del Estado social o de bienestar”.69
Además de estos pronunciamientos jurisprudenciales, cabe mencionar los
modernos procesos constitucionales en países como Venezuela con su nueva
Constitución en 1999, Ecuador con su nueva Constitución 2008 y Bolivia en el año
2009, donde los derechos económicos, sociales y culturales, y el derecho al medio
ambiente, ocupan un lugar destacado.70 A pesar de las críticas que se le puedan for-
mular a los procesos constituyentes de estos países, debe destacarse, sin lugar a dudas,
los notables avances y desarrollos que estas constituciones introducen al modelo cons-
titucional latinoamericano, concretizando y encarnando realmente una transición
hacia una democracia constitucional comunitaria, donde el factor social y la preocu-
pación por el ser humano como centro de la comunidad, es la principal consideración.
Otro elemento característico de las modernas democracias constitucionales comuni-
tarias de América Latina es su claro componente multicultural.
En este sentido, los pueblos indígenas, como colectivo organizado, han irrumpi-
do definitivamente en la escena político-constitucional de América Latina, y lo han
hecho para quedarse. A lo largo de las últimas tres décadas, estos pueblos han dejado
sentir la reivindicación de sus derechos específicos y, particularmente, sus derechos a
las tierras y territorios que tradicionalmente les han pertenecido. Los pueblos indíge-
nas han sido particularmente exitosos no sólo en el reconocimiento constitucional de
su existencia y de sus derechos, sino además, en los litigios ante órganos jurisdiccio-
nales, donde han reivindicado sus derechos.
Fruto de esta movilización, la identidad cultural ha pasado a ser un elemento
identificador de las democracias constitucionales comunitarias y multiculturales,
donde el individuo no pasa a tener derechos conforme a un patrón de derechos abs-
tracto homogéneamente definidos, sino donde el individuo tiene los derechos funda-
mentales básicos que la Constitución asegura a todos y además aquellos que le corres-
ponde conforme a su identidad cultural.71 Así, el individuo se encuentra reconocido
69 Caso Exp: 06-009116-0007-CO, Res. Nº 2007017971, Sala Constitucional de la Corte Suprema de Justicia de
Costa Rica, 14:51 hrs., del 12 de diciembre de 2007. Parte IV.
70 “[…] el proceso de constitucionalización de algún tipo de derecho en relación con el medio ambiente ha
recibido un impulso cada vez mayor a medida que los estados que, saliendo de diversos tipos de experien-
cias autoritarias o totalitarias, se dotaban de un sistema democrático y constitucional iban redactando sus
nuevas cartas magnas de acuerdo con las tendencias de evolución en el reconocimiento de los derechos
humanos en el plano internacional”. Vernet, Jaume y Jaria, Jordi: “El derecho a un medio ambiente sano:
su reconocimiento en el constitucionalismo comparado y en el derecho internacional”, en Teoría y Realidad
Constitucional, núm. 20, 2007, pp. 513-533, especialmente, p. 528.
71 Los Estados del Continente, reunidos en la Quinta Cumbre de las Americas en 2009, han señalado, a este
respecto, lo siguiente: “Reconociendo la diversidad y el carácter tradicional y ancestral de las culturas, his-
420
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
421
Gonzalo Aguilar Cavallo
Casi todos los países de América Latina han aceptado la jurisdicción de la Corte
Interamericana de Derechos Humanos. Esto ha permitido que en pocas décadas, la
Corte IDH haya desarrollado un abundante cuerpo de jurisprudencia –que ilustra el
comportamiento y la decisión constitucional de los Estados- y que abarca en profundi-
dad diversos tópicos de los derechos civiles y políticos, proporciona interesantes reglas
de interpretación en materia de derechos humanos y dilucida relevantes debates sobre
Derecho Internacional de los derechos humanos, tales como el dominio del ius cogens.
En términos generales, la incorporación de los Estados de América del Sur al sis-
tema interamericano ha ido revelando los problemas heredados de los regimenes
autoritarios anteriores, en particular, los problemas derivados de la imposición por
esos regímenes a las nuevas transiciones democráticas, de Constituciones de amar-
422
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
re.72 Sin duda, ésta es la situación de Chile, en los cuatro casos que, hasta ahora, ha
sido condenado ante la Corte IDH, donde se han develado graves problemas en mate-
ria de derecho a la libertad de expresión y de información, de excesiva competencia
de los tribunales militares, y de la impunidad derivada asimismo de la aplicación de la
normativa de amnistía creada por el gobierno militar.73
Desde el punto de vista judicial, es posible apreciar que se ha desarrollado una
enriquecedora dialéctica entre los jueces interamericanos y los jueces constitucionales
de América Latina. Por ejemplo, en Argentina, la jurisprudencia de la Corte IDH sirvió
de sustento a la anulación de las leyes de punto final. En efecto, en el caso Simón, en el
año 2005, la Corte Suprema de Justicia argentina examinó la constitucionalidad de las
leyes 23.492 denominada de “punto final” y 23.521 denominada de “obediencia debida”
que impedía la investigación y persecución de los crímenes cometidos durante la dicta-
dura. Finalmente, la Corte Suprema argentina declaró inconstitucionales dichas leyes y
las privó de cualquier efecto jurídico así como a cualquier acto fundado en ellas.74 En
este caso, de modo notable, la Corte Suprema siguió las enseñanzas derivadas de la Corte
IDH, inter alia, en el caso Barrios Altos contra Perú, el cual afirmó que “La promulga-
ción de una ley manifiestamente contraria a las obligaciones asumidas por un Estado
parte en la Convención constituye per se una violación de ésta y genera responsabilidad
internacional del Estado. En consecuencia, la Corte considera que, dada la naturaleza de
la violación constituida por las leyes de amnistía No. 26479 y No. 26492, lo resuelto en
la sentencia de fondo en el caso Barrios Altos tiene efectos generales”.75
Además, en este último caso, la Corte IDH reiteró el principio de que “son inad-
misibles las disposiciones de amnistía, las disposiciones de prescripción y el estableci-
miento de excluyentes de responsabilidad que pretendan impedir la investigación y
sanción de los responsables de las violaciones graves de los derechos humanos tales
72 Borea O., Alberto: “Nuevas perspectivas para el tratamiento de los Decretos-Leyes de los gobiernos de
facto”, en Revista del IIDH, núm. 22, julio-diciembre 1995, pp. 51-63.
73 Corte I.D.H.: Caso “La Última Tentación de Cristo“ (Olmedo Bustos y otros) vs. Chile. Fondo, Reparaciones
y Costas. Sentencia de 5 de febrero de 2001. Serie C No. 73; Corte I.D.H.: Caso Palamara Iribarne vs. Chile.
Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 22 de noviembre de 2005. Serie C No. 135; Corte I.D.H.: Caso
Claude Reyes y otros vs. Chile. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 19 de septiembre de 2006. Serie
C No. 151; Corte I.D.H.: Caso Almonacid Arellano y otros vs. Chile. Excepciones Preliminares, Fondo,
Reparaciones y Costas. Sentencia de 26 de septiembre de 2006. Serie C No. 154.
74 Simón, Julio Héctor y otros – Corte Suprema de Justicia de la Nación (CS) -2005-06-14 – Fallos: 328:2056.
75 El 3 de septiembre de 2001, la Corte Interamericana de Derechos Humanos se pronunció en el caso Barrios
Altos, respecto de los efectos de las leyes de amnistía, 26.479 y 26.492. El fallo se debió a una solicitud rea-
lizada por la Comisión Interamericana de Derechos Humanos en demanda de interpretación del fallo de la
Corte del 14 de marzo de 2001 (sentencia de fondo caso Barrios Altos), ya que el Estado peruano conside-
raba válidas las leyes de amnistía para todos los casos de violaciones de los derechos humanos, con excep-
ción del caso Barrios Altos. La Corte Interamericana resolvió que la sentencia de fondo en el caso Barrios
Altos tiene efectos generales, siendo nulas de nulidad absoluta las leyes de amnistía 26.479 y 26.492 para
todos los crímenes contra la humanidad cometidos por el Estado peruano, a través de sus subordinados. La deci-
sión de la Corte Interamericana zanjó así, definitivamente, el tema. Vid. Corte I.D.H.: Caso Barrios Altos vs. Perú.
Interpretación de la Sentencia de Fondo. Sentencia de 3 de septiembre de 2001. Serie C No. 83, par. 18, p. 6.
423
Gonzalo Aguilar Cavallo
76 Corte I.D.H.: Caso Barrios Altos vs. Perú. Fondo. Sentencia de 14 de marzo de 2001. Serie C Nº 75, par. 41, p. 15.
77 “[…] la Corte estima que los Estados no pueden sustraerse del deber de investigar, determinar y sancionar
a los responsables de los crímenes de lesa humanidad aplicando leyes de amnistía u otro tipo de normativa
interna. Consecuentemente, los crímenes de lesa humanidad son delitos por los que no se puede conceder
amnistía”. Corte I.D.H.: Caso Almonacid Arellano y otros vs. Chile. Excepciones preliminares, Fondo,
Reparaciones y Costas. Sentencia de 26 de septiembre de 2006. Serie C Nº 154, par. 114, p. 50.
78 Además, la Corte I.D.H. dispuso que el “Estado no podrá argüir ninguna ley ni disposición de derecho inter-
no para eximirse de la orden de la Corte de investigar y sancionar penalmente a los responsables de la muer-
te del señor Almonacid Arellano. Chile no podrá volver a aplicar el Decreto Ley No. 2.191 […]. Pero ade-
más, el Estado no podrá argumentar prescripción, irretroactividad de la ley penal, ni el principio ne bis in
idem, así como cualquier excluyente similar de responsabilidad, para excusarse de su deber de investigar y
sancionar a los responsables”. Corte I.D.H.: Caso Almonacid Arellano y otros vs. Chile. Excepciones preli-
minares, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 26 de septiembre de 2006. Serie C Nº 154, par. 151, p.
60.Corte I.D.H.: Caso Almonacid Arellano y otros vs. Chile. Excepciones preliminares, Fondo,
Reparaciones y Costas. Sentencia de 26 de septiembre de 2006. Serie C Nº 154, par. 147, p. 59.
79 “97. Respecto del artículo 13 de la Convención, la Corte considera que el Estado debe modificar su ordena-
miento jurídico con el fin de suprimir la censura previa, para permitir la exhibición cinematográfica y la
publicidad de la película “La Última Tentación de Cristo”, ya que está obligado a respetar el derecho a la
libertad de expresión y a garantizar su libre y pleno ejercicio a toda persona sujeta a su jurisdicción.
98. En relación con los artículos 1.1 y 2 de la Convención, las normas de derecho interno chileno que regulan
la exhibición y publicidad de la producción cinematográfica todavía no han sido adaptadas a lo dispuesto por la
Convención Americana en el sentido de que no puede haber censura previa. Por ello el Estado continúa incum-
pliendo los deberes generales a que se refieren aquéllas disposiciones convencionales. En consecuencia, Chile
debe adoptar las medidas apropiadas para reformar, en los términos del párrafo anterior, su ordenamiento jurí-
dico interno de manera acorde al respeto y el goce del derecho a la libertad de pensamiento y de expresión con-
sagrado en la Convención”. Corte I.D.H.: Caso “La Última Tentación de Cristo“ (Olmedo Bustos y otros) vs.
Chile. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 5 de febrero de 2001. Serie C No. 73, pars. 97-98, p. 38.
80 Ley Nº 19.742 Reforma constitucional que elimina la censura cinematográfica sustituyéndola por un siste-
ma de calificación y que consagra el derecho a la libre creación artística, D.O. 25.08.2001.
424
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
caso más reciente, el Estado de Chile dictó la ley 20.285 de 20 de agosto de 2008 sobre
Acceso a la información pública, adecuando su legislación a las disposiciones de la
CADH en materia de libertad de información y acceso a la información pública, de
acuerdo con lo dispuesto por la Corte IDH en el caso Claude Reyes y otros, de 2006.81
Según la óptica del impacto y seguimiento en la jurisprudencia constitucional,
como se ha visto, las interpretaciones y razonamiento de la Corte IDH son seguidas
por los jueces constitucionales sobre una base de aumento progresivo.
En efecto, en el caso de Chile, ocasionalmente, el Tribunal Constitucional invoca y
se apoya en decisiones de la Corte IDH mientras que, con mayor frecuencia, la jurispru-
dencia interamericana aparece en los votos disidentes de sus ministros. Desde la perspec-
tiva de los fallos del Tribunal Constitucional chileno, es importante destacar el
Requerimiento de inconstitucionalidad deducido en contra de algunas disposiciones de
las “Normas Nacionales sobre Regulación de la Fertilidad”, en donde el Tribunal
Constitucional invocó la doctrina establecida por la Corte IDH, en su Opinión Consultiva
nº 5 de 1985, al señalar que “para dilucidar el conflicto constitucional planteado y ante la
evidencia de estar estos jueces frente a una duda razonable, ha de acudirse a aquellos cri-
terios hermenéuticos desarrollados por la teoría de los derechos fundamentales, por ser
ésa la materia comprometida en el presente requerimiento. En tal sentido, parece inelu-
dible tener presente el principio “pro homine” o “favor libertatis” definido en la jurispru-
dencia de la Corte Interamericana de Derechos Humanos de la siguiente forma: “Entre
diversas opciones se ha de escoger la que restringe en menor escala el derecho protegido
(...) debe prevalecer la norma más favorable a la persona humana”.82
En cuanto a las opiniones disidentes, se pueden mencionar los votos de los
Ministros señores Hernán Vodanovíc Schnake y Jorge Correa Sutil, en el Requeri-
81 En este fallo, la Corte le reiteró a Chile que “[…] el deber general comprendido en el artículo 2 de la
Convención implica la supresión tanto de las normas como de las prácticas de cualquier naturaleza que
entrañen violaciones a las garantías previstas en la Convención, así como la expedición de normas y el
desarrollo de prácticas conducentes a la efectiva observancia de dichas garantías. Por ello, Chile debe adop-
tar las medidas necesarias para garantizar la protección al derecho de acceso a la información bajo el con-
trol del Estado, dentro de las cuales debe garantizar la efectividad de un procedimiento administrativo ade-
cuado para la tramitación y resolución de las solicitudes de información, que fije plazos para resolver y
entregar la información, y que se encuentre bajo la responsabilidad de funcionarios debidamente capacita-
dos”. Corte I.D.H.: Caso Claude Reyes y otros vs. Chile. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 19 de
septiembre de 2006. Serie C No. 151, par. 163, p. 62.
82 Tribunal Constitucional: Requerimiento de inconstitucionalidad deducido en contra de algunas disposicio-
nes de las “Normas Nacionales sobre Regulación de la Fertilidad”, aprobadas por el Decreto Supremo Nº 48,
de 2007, del Ministerio de Salud. Rol Nº 740-2007. Sentencia de fecha 18 de abril de 2008. Considerando
66º, p. 140; “En consecuencia, si a una misma situación son aplicables la Convención Americana y otro
tratado internacional, debe prevalecer la norma más favorable a la persona humana. Si la propia
Convención establece que sus regulaciones no tienen efecto restrictivo sobre otros instrumentos interna-
cionales, menos aún podrán traerse restricciones presentes en esos otros instrumentos, pero no en la
Convención, para limitar el ejercicio de los derechos y libertades que ésta reconoce”. Corte I.D.H.: La
Colegiación Obligatoria de Periodistas (Arts. 13 y 29 Convención Americana sobre Derechos Humanos).
Opinión Consultiva OC-5/85 del 13 de noviembre de 1985. Serie A No. 5, par. 52, p. 16.
425
Gonzalo Aguilar Cavallo
miento de inaplicabilidad deducido por Carolina Gajardo Salazar respecto del inciso
segundo del artículo 387 del Código Procesal Penal, en la causa RIT Nº 2015-2005,
seguida ante el Juzgado de Garantía de Talcahuano, por cuasidelito de homicidio, de
2008, quienes estuvieron por acoger el requerimiento sólo en cuanto se inaplica el
acápite del inciso segundo del artículo 387 del Código Procesal Penal que establece lo
siguiente: “Tampoco será susceptible de recurso alguno la sentencia que se dictare en
el nuevo juicio que se realizare como consecuencia de la resolución que hubiere aco-
gido el recurso de nulidad”. Para resolver aquello, consideraron dentro de su razona-
miento la doctrina establecida, en 2004, por la Corte IDH (Herrera Ulloa con Costa
Rica), al declarar que el derecho de recurrir del fallo, consagrado por la Convención,
“no se satisface con la mera existencia de un órgano del grado superior al que juzgó y
condenó al inculpado, ante el que éste tenga o pueda tener acceso. Para que haya una
verdadera revisión de la sentencia, en los términos de dichos instrumentos interna-
cionales, es preciso que el tribunal superior reúna las características jurisdiccionales
que lo legitiman para conocer del caso concreto”.83
En el caso de Perú, el seguimiento de las decisiones de la Corte IDH y la adopción
de los criterios provenientes del Derecho Internacional de los Derechos Humanos es muy
interesante. Así, podemos mencionar el caso del Colegio de Abogados del Callao c.
Congreso de la República, de 2007, cuyo fallo se apoya en el Caso Tribunal Constitucional
vs. Perú, ante la Corte IDH, de 1999, en cuanto a la “interpretación de los derechos fun-
damentales a la luz de los tratados internacionales sobre derechos humanos y de las deci-
siones de los tribunales internacionales sobre derechos humanos como Derecho Interno”,
señalando que “El respeto a los derechos humanos constituye un límite a la actividad esta-
tal, lo cual vale para todo órgano o funcionario que se encuentre en una situación de
poder, en razón de su carácter oficial, respecto de las demás personas. Es así, ilícita, toda
forma de ejercicio del poder público que viole los derechos reconocidos por la
Convención. (...). De conformidad con la separación de los poderes públicos que existe en
el Estado de derecho, si bien la función jurisdiccional compete eminentemente al Poder
Judicial, otros órganos o autoridades públicas pueden ejercer funciones del mismo tipo. Es
decir que cuando la Convención se refiere al derecho de toda persona a ser oída por un
juez o tribunal competente para la determinación de sus derechos, esta expresión se refie-
re a cualquier autoridad pública, sea administrativa, legislativa o judicial, que a través de
sus resoluciones determine derechos y obligaciones de las personas. Por la razón mencio-
nada, esta Corte considera que cualquier órgano del Estado que ejerza funciones de carác-
ter materialmente jurisdiccional, tiene la obligación de adoptar resoluciones apegadas las
garantías del debido proceso legal en los términos del artículo 8º de la Convención
83 Tribunal Constitucional: Requerimiento de inaplicabilidad deducido por Carolina Gajardo Salazar respecto
del inciso segundo del artículo 387 del Código Procesal Penal, en la causa RIT Nº 2015-2005, seguida ante
el Juzgado de Garantía de Talcahuano, por cuasidelito de homicidio. Rol 1130-2007. Sentencia de fecha 7
de octubre de 2008. Voto disidente de los Ministros señores Hernán Vodanovíc Schnake y Jorge Correa
Sutil. Considerando 17º, p. 33.
426
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
427
Gonzalo Aguilar Cavallo
88 Comisión des Droits de l’homme: Etude concernant le droit à restitution, à indemnisation et à réadaptation des
victimes de violations flagrantes des droits de l’homme et des libertés fondamentales. Rapport final présenté par
M. Theo van Boven, Rapporteur spécial. U.N. Doc. E/CN.4/Sub.2/1993/8, 2 juillet 1993, pars. 87-92; Vid.
Principios y directrices básicos sobre el derecho de las víctimas de violaciones manifiestas de las normas interna-
cionales de derechos humanos y de violaciones graves del derecho internacional humanitario a interponer recur-
sos y obtener reparaciones. Resolución 60/147 aprobada por la Asamblea General el 16 de diciembre de 2005.
89 “De otra parte, cabe observar que el Tribunal Constitucional de Bolivia ha sido consistente en declarar que los
instrumentos internacionales en materia de derechos humanos son parte del bloque de constitucionalidad, así
como la jurisprudencia emanada del sistema interamericano de protección a los derechos humanos es vinculan-
te para la jurisdicción interna de Bolivia. En este sentido, dicho Tribunal Constitucional ha considerado que “la
privación ilegal de la libertad […] es un delito permanente [y] consecuentemente para computar los delitos per-
manentes se debe empezar a contar desde el día en que cesa la ejecución del delito”. Esta Corte considera que el
Estado no podrá argüir ninguna ley ni disposición de derecho interno para eximirse de su obligación de investi-
gar y, en su caso, sancionar penalmente a los responsables de los hechos cometidos en perjuicio del señor Ticona
Estrada. En particular, al tratarse de graves violaciones de derechos humanos el Estado no podrá argumentar
prescripción o cualquier excluyente similar de responsabilidad, para excusarse de su deber de investigar y san-
cionar a los responsables”. Corte I.D.H.: Caso Ticona Estrada y otros vs. Bolivia. Fondo, Reparaciones y Costas.
Sentencia de 27 de noviembre de 2008. Serie C No. 191, par. 147, p. 42; “La jurisprudencia internacional refleja
también este entendimiento, al igual que varias Cortes Constitucionales de los Estados Americanos. Por ejemplo,
la Sala Penal Nacional del Perú ha declarado que “la expresión ‘desaparición forzada de personas’ no es más que
el nomen iuris para la violación sistemática de una multiplicidad de derechos humanos. […] Se distingue[n]
varias etapas en la práctica de la desaparición de personas como [pueden ser] la selección de la víctima, deten-
ción de la persona, depósito en un lugar de reclusión, eventual traslado a otro centro de reclusión, interrogato-
rio, tortura y procesamiento de la información recibida. En muchos casos ocurr[e] la muerte de la víctima y el
ocultamiento de sus restos”. Corte I.D.H.: Caso Heliodoro Portugal vs. Panamá. Excepciones Preliminares,
Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 12 de agosto de 2008. Serie C No. 186, par. 111, p. 31.
90 “Por tratarse de un delito de ejecución permanente, es decir, cuya consumación se prolonga en el tiempo, al
entrar en vigor la tipificación del delito de desaparición forzada de personas en el derecho penal interno, si
se mantiene la conducta delictiva, la nueva ley resulta aplicable. En este mismo sentido se han pronunciado
tribunales de la más alta jerarquía de los Estados del continente americano, como lo son, la Sala Penal
Nacional de Perú, el Tribunal Constitucional de Perú, la Suprema Corte de Justicia de México, el Tribunal
Constitucional de Bolivia, la Corte Suprema de Justicia de Panamá, el Tribunal Supremo de Justicia de
Venezuela y la Corte Constitucional de Colombia99, Estados que, al igual que Guatemala, han ratificado la
Convención Interamericana sobre Desaparición Forzada”. Corte I.D.H.: Caso Tiu Tojín vs. Guatemala.
Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 26 de noviembre de 2008. Serie C No. 190, par. 87, p. 30.
91 “Sobre la relación de esta jurisdicción [disciplinaria] con el derecho de acceso a la justicia, la Corte
Constitucional de Colombia ha entendido que “si bien la regla general indica que en el derecho disciplina-
428
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
Sin embargo, todo este proceso esperanzador, que tiende a alcanzar las condicio-
nes de plena autorrealización del ser humano, no ha estado ni está exento, como se
verá a continuación, de dificultades.
2. Luces y sombras
¿Cuál es uno de los problemas que presenta el funcionamiento del sistema inte-
ramericano de promoción y protección de los derechos humanos? El cumplimiento y
ejecución en el orden nacional de las sentencias de la Corte IDH. A pesar del grado de
evolución importante que han experimentado las Constituciones de los países de
América Latina, y del grado de reconocimiento que ellas le proporcionan al DIDH,
todavía en el tercer milenio surgen voces que esgrimen el argumento de la soberanía
nacional para rechazar el cumplimiento de las sentencias de la Corte IDH. Todo ello
a pesar del texto expreso que los propios Estados han aceptado de la CADH en el cual
se señala que las sentencias de la Corte IDH son obligatorias y, por lo tanto, ejecuto-
rias.92 Por lo demás, los países de la región deben tener presente que el record de satis-
facción pronta y oportuna de las sentencias de los tribunales internacionales de dere-
chos humanos, es un elemento relevante a considerar en el examen periódico univer-
sal que realiza el Consejo de Derechos Humanos.93
Digno de destacar es el caso reciente de Venezuela, con la sentencia dictada por
la Sala Constitucional de la Corte Suprema de Justicia que declara inejecutable la sen-
tencia de la Corte IDH y además, dispone que el Estado de Venezuela debe denunciar
la CADH. Además, existe el caso de Chile, que aun no da cumplimiento íntegro a la
sentencia Almonacid Arellano y a la sentencia Palamara Iribarne. En este contexto,
pero excediéndonos del marco geográfico del Cono Sur, resulta digno de destacar la
reciente sentencia de la Corte IDH, caso Tiu Tojin contra Guatemala, a raíz del reite-
rio no existen víctimas por cuanto las faltas remiten a infracciones de deberes funcionales y no a lesiones
de derechos, de manera excepcional puede hablarse de víctimas de una falta disciplinaria cuando de la
infracción del deber que la constituye surge, de manera inescindible y directa, la violación del derecho
internacional de los derechos humanos o del derecho internacional humanitario”. Corte I.D.H.: Caso de la
Masacre de la Rochela vs. Colombia. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 11 de de mayo de 2007.
Serie C No. 163, par. 207, p. 67.
92 “Artículo 68: 1. Los Estados Partes en la Convención se comprometen a cumplir la decisión de la Corte en
todo caso en que sean partes. 2. La parte del fallo que disponga indemnización compensatoria se podrá eje-
cutar en el respectivo país por el procedimiento interno vigente para la ejecución de sentencias contra el
Estado”.
93 “Chile mantiene una permanente cooperación con los mecanismos de supervisión del derecho internacio-
nal de los derechos humanos, presentando periódicamente sus informes a los órganos de tratados, procu-
rando hacer efectivas sus recomendaciones y adecuando su normativa interna a dichos instrumentos.
Asimismo, ha dado cumplimiento a las recomendaciones y sentencias de los órganos interamericanos de
derechos humanos, que en un caso significó reformar la Constitución (Caso “Última Tentación de Cristo”);
y en otro, la dictación de una Ley de Transparencia y Acceso a Información Pública (Caso “Claude Reyes y
otros”) que estableció procedimientos, recursos y un organismo -Consejo para la Transparencia- que vela-
rá por la aplicación de la citada ley”. Asamblea General: Informe Nacional presentado de conformidad con
el párrafo 15 A) Anexo a la resolución 5/1 del Consejo de Derechos Humanos. Doc. N.U.
A/HRC/WG.6/5/CHL/1, de fecha 16 de febrero de 2009.
429
Gonzalo Aguilar Cavallo
94 Corte I.D.H.: Caso Tiu Tojín vs. Guatemala. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 26 de noviembre
de 2008. Serie C No. 190.
95 “[…] la Corte considera que es inadmisible el pretendido retiro por el Perú de la declaración de reconoci-
miento de la competencia contenciosa de la Corte con efectos inmediatos, así como cualesquiera consecuen-
cias que se busque derivar de dicho retiro, entre ellas, la devolución de la demanda, que resulta irrelevan-
te”. Corte I.D.H.: Caso del Tribunal Constitucional vs. Perú. Competencia. Sentencia de 24 de septiembre
de 1999. Serie C No. 55 pars. 27 y 53, pp. 9 y 14.
430
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
96 Vid. Sala Constitucional del Tribunal Supremo de Justicia de Venezuela, Magistrado Ponente: Arcadio
Delgado Rosales, Expediente No. 08-1572. Sentencia de fecha 18 de diciembre de 2008; Corte I.D.H.: Caso
Apitz Barbera y otros (“Corte Primera de lo Contencioso Administrativo”) vs. Venezuela. Excepción
Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 5 de agosto de 2008. Serie C No. 182.
97 Vid. Sala Constitucional del Tribunal Supremo de Justicia de Venezuela, Magistrado Ponente: Arcadio
Delgado Rosales, Expediente No. 08-1572. Sentencia de fecha 18 de diciembre de 2008.
431
Gonzalo Aguilar Cavallo
98 Vid. Sala Constitucional del Tribunal Supremo de Justicia de Venezuela, Magistrado Ponente: Arcadio
Delgado Rosales, Expediente No. 08-1572. Sentencia de fecha 18 de diciembre de 2008. Voto disidente del
Magistrado Pedro Rafael Rondón Haaz, Considerando 9º.
99 Sergio García Ramírez, Sergio: “La jurisprudencia de la Corte Interamericana de Derechos Humanos en
materia de reparaciones”, en Corte IDH: La Corte Interamericana de Derechos Humanos: Un cuarto de siglo:
1979-2004, Corte Interamericana de Derechos Humanos, San José, 2005, pp. 1-85, especialmente, p. 75.
100 Se debe tener presente que el consenso común en Europa, recordado por el Parlamento Europeo reiterada-
mente, es que “la democracia se basa en el pleno respeto de los derechos humanos y las libertades funda-
mentales y en la plena aplicación del principio de la legalidad y en el Estado de Derecho; pide, por consi-
guiente, a los Estados miembros y a las instituciones de la UE que garanticen el pleno respeto de las dispo-
siciones de los tratados internacionales en materia de derechos humanos y, en particular, el Convenio
Europeo para la Protección de los Derechos Humanos y de las Libertades Fundamentales (CEDH) y sus pro-
tocolos, junto con sus respectivas constituciones y legislaciones”. Resolución del Parlamento Europeo sobre
la situación de los derechos fundamentales en la Unión Europea (2001) (2001/2014(INI)).
432
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
que buscan argumentos para justificar el incumplimiento de las decisiones de los órga-
nos internacionales, en este caso, de la Corte IDH, por parte de los jueces nacionales,
apoyándose en la doctrina del margen de apreciación nacional, que eventualmente le
proporcionaría un grado de discrecionalidad al juez del foro para decidir si cumple o
no cumple, cómo y cuándo cumple.101
Para la consolidación de un verdadero Estado constitucional democrático es
necesario avanzar en los proceso de respeto y protección creciente de los derechos
humanos. En este sentido Pérez Luño ha señalado que “el Estado constitucional no
sólo se caracteriza por ser la forma política que consagra la primacía de la
Constitución, la reserva de Constitución y el protagonismo de la jurisdicción consti-
tucional, sino que es también el marco jurídico-político de reconocimiento y garantía
de los derechos de la tercera generación”.102
En este sentido, resultaría conveniente que los Estados del continente regularan,
deseablemente mediante reformas constitucionales, la obligación que han asumido de
cumplir y ejecutar las sentencias de la Corte IDH. Sólo algunos Estado han incorporado
en sus ordenamientos normas en esta línea. Por ejemplo, se pueden citar Costa Rica, en
el Convenio de sede entre el Gobierno de la República de Costa Rica y la Corte
Interamericana de Derechos Humanos, de 10 de septiembre de 1981, ratificado por ley
6.889; Colombia, por medio de la ley 288, de 5 de julio de 1996, y el Decreto 321, de 25
de febrero de 2000; y Perú, artículo 115 del Código Procesal Constitucional -aprobado
por ley 28.237, publicada el 31 de mayo de 2004 – y ley 27.775, publicada el 7 de julio
de 2002. Se han presentado algunas otras iniciativas en este sentido, entre las que cabe
destacar el proyecto chileno de Acciones Protectoras de derechos fundamentales, apro-
bado por la Comisión de Derechos Humanos de la Cámara de Diputados y en discusión
ante la Comisión de Legislación, Constitución y Justicia de la misma Cámara, el cual
señala en su artículo 128 que las “sentencias de Cortes Internacionales o
Supranacionales en materia de derechos humanos a la que el Estado de Chile le haya
reconocido jurisdicción contenciosa vinculante son de obligatorio cumplimiento por los
órganos del Estado de Chile”. En este contexto, junto con el profesor Bazán, podemos
señalar que la voluntad política debiera concurrir para complementar el orden consti-
tucional de los derechos fundamentales, a través de la generación de una norma que
indicara de forma clara el procedimiento interno de ejecución de las recomendaciones
de la Comisión Interamericana de Derechos Humanos y de la Corte IDH.103
101 En el caso de la doctrina chilena, vid. Núñez Poblete, Manuel: “Introducción al concepto de identidad cons-
titucional y a su función frente al Derecho supranacional e Internacional de los Derechos de la persona”,
en Revista Ius et Praxis, año 14, núm. 2 (2008), pp. 331-372.
102 Pérez Luño, Antonio Enrique: “Estado constitucional y generaciones de derechos humanos”, en Corte
I.D.H.: Liber Amicorum Héctor Fix-Zamudio, Volumen II, Corte Interamericana de Derechos Humanos,
San José, 1998, pp. 1241-1264, especialmente, p. 1258.
103 Bazán, Victor: “La Corte Suprema de Justicia argentina y su rol en la articulación del Derecho Internacional
de los Derechos Humanos y el Derecho interno”, en Revista de Derecho Político, núm. 73, septiembre-
diciembre 2008, pp. 315-373, especialmente, p. 367.
433
Gonzalo Aguilar Cavallo
IV. Conclusiones
104 Sobre el principio de cooperación leal, vid. Nohlen, Nicolas: “Germany: The European Arrest Warrant
Case”, en International Journal of Constitutional Law, vol. 6, núm. 1 (2008), pp. 153-161; “26. "Pacta sunt
servanda". Todo tratado en vigor obliga a las partes y debe ser cumplido por ellas de buena fe”. Convención
de Viena sobre el derecho de los tratados, Viena, 1969.
434
Emergencia y Consolidación de un Derecho Americano de los Derechos Humanos
Para enfrentar estos desafíos en el tercer milenio, aparece como necesario seguir
avanzando por la senda del fortalecimiento y consolidación de una verdadera cultura
‘de a pie’ de los derechos humanos, en el sentido de que sean los individuos y pueblos
quienes se apropien de sus derechos y los reivindiquen ante los agentes del Estado y
ante terceros. En este ámbito, el Estado –ejecutivo, legislativo y judicial– tiene un rol
activo que jugar, precisamente en el área de los DESC, a través de la enseñanza de los
derechos humanos y la educación en derechos humanos.
Por último, un foco claro de preocupación dentro del espacio público americano
–que va contracorriente– son los episodios de rebeldía, y a veces de clara enemistad,
con respecto al sistema interamericano de derechos humanos, en particular, frente a
las sentencia de la Corte Interamericana de Derechos Humanos. No deja de sorpren-
der, y esto marca una clara diferencia con la cultura jurídico-constitucional de los paí-
ses de Europa occidental, los episodios de puesta en tela de juicio del sistema intera-
mericano de derechos humanos, cuando, en la ocurrencia, el Estado resulta vencido y
condenado por violación de la Convención Americana sobre Derechos Humanos. No
puede sino dejarnos perplejos la falta de madurez constitucional y la fragilidad de los
compromisos y del Estado constitucional-democrático, que ello demuestra, cada vez
que un Estado condenado, esgrime el argumento del abandono del sistema interame-
ricano de derechos humanos. La reflexión que se puede hacer aquí es: ¿qué Estado es
más democrático? ¿Aquel que se somete al escrutinio jurídico internacional o aquel
que lo rechaza? Nuestra perspectiva es que aquellos que se someten a grados elevados
de escrutinio jurisdiccional representan estadios más avanzados del proceso democra-
tizador. En consecuencia, se plantea como un desafío muy importante, el acatamien-
to y cumplimiento de buena fe, de las decisiones provenientes del sistema interame-
ricano de promoción y protección de los derechos humanos.
435
PARTE III
O PAPEL DOS TRIBUNAIS
CONSTITUCIONAIS NACIONAIS
Jurisdicción Constitucional y Consolidación
de la Democracia
Dieter Nohlen1
Sumáárioo: I. Introducción II. Multidimensionalidad de los factores en el proceso de consolidación III. Multidimen-
sionalidad de los conceptos IV. La relación interdependiente de los factores V. Funciones de la jurisdicción consti-
tucional VI. Requisitos y condiciones para la jurisdicción constitucional VII. Ámbitos de la jurisdicción constitucio-
nal VIII. Consideraciones finales.
I. Introducción
1 Estudios de ciencia política, historia y literatura francesa en las universidades de Colonia, Montpellier y
Heidelberg. Doctor en Ciencias Políticas de la Universidad de Heildelberg y Profesor titular emérito de la
misma Universidad. Especialista en instituciones políticas,temas electorales y justicia constitucional. Autor
y coordinador de numerosas publicaciones, entre otras la Enciclopedia del Tercer Mundo, Diccionario del
Tercer Mundo, Diccionario de la Política, Diccionario de la Ciencia Política, Enciclopedia Electoral
Latinoamericana y del Caribe, Tratado de derecho electoral comparado de América Latina. Honores:
Premio Max Planck de Investigación (1990), Premio Libro del Año (1995), Premio de Investigación sobre
España y América Latina (2000) y Diploma honoris causa de Administración Electoral de la Universidad
Panthéon Paris II (2005).Profesor titular emérito de la Universidad de Heidelberg, Alemania. Agradezco el
apoyo de José Reynoso Núñez en la revisión de éste estudio.
2 Véase Nohlen, D., Sistemas electorales y partidos políticos, tercera ed., México, Fondo de Cultura
Económica, 2004.
439
Dieter Nohlen
440
Jurisdicción Constitucional y Consolidación de la Democracia
sistema y en el proceso político. Tampoco nos interesa aquí el origen kelseniano o aus-
triaco de la jurisdicción constitucional y la diferencia de su versión europea con el
judicial review estadounidense, objetos tantas veces tratados y recapitulados en los
recientes trabajos comparativos.7 El enfoque funcionalista tiene en su centro el papel
real de la jurisdicción constitucional en el sistema político.8 Su aplicación se ve aún
más fundamentada por la reciente tendencia en el derecho público de tematizar no
tanto el Estado, ni el Estado de derecho, ni el Estado social, sino el Estado constitu-
cional en sus dimensiones funcionales.9 De igual manera, se observa en la Ciencia
Política la tendencia de tematizar no el Estado, sino las instituciones y la estructura
institucional, o sea, de observar lo público en un nivel, en el que es posible precisar
más los objetos de estudio y tratarles como variables en su interrelación causal. Así,
los tribunales constitucionales se encuentran en el mismo nivel de las demás institu-
ciones constitucionales (aunque la jurisdicción constitucional en América Latina no
siempre tiene un estatus autónomo, separado de la jurisdicción ordinaria).
441
Dieter Nohlen
ción constitucional en este proceso, cuya parte concomitante podría resultar en sobre-
cargarla con funciones que sencillamente no puede cumplir.
En las explicaciones causales que se han dado en la literatura científica para el
problema de la consolidación de la democracia en la región, se puede distinguir a
grandes rasgos entre (1) la hipótesis de la carencia económica que apunta al insufi-
ciente desarrollo económico, sustentada por la teoría de la modernización;10 (2) la
hipótesis de la carencia social, que se enfoca en la persistencia de la pobreza y la desi-
gualdad social;11 (3) la hipótesis de la carencia política, que se basa en los déficits de
la democracia de no cumplir, a los que los informes sobre el desarrollo humano de las
agencias de desarrollo llaman continuamente la atención; (4) la hipótesis de la caren-
cia político-institucional que hace hincapié en los problemas estructurales de los sis-
temas políticos, hipótesis con mayor consenso en el mundo académico, como señala
por ejemplo el estudio del PNUD12 sobre la democracia en América Latina; (5) la
hipótesis de la falta de confianza de la población en la democracia como el orden polí-
tico preferido y en la satisfacción con los resultados de la política;13 (6) la hipótesis de
la carencia de capital social que focaliza la sociedad y su capacidad de generar con-
fianza en los otros. Según esta última tesis tiene que existir una cierta medida de con-
fianza interpersonal para formar una comunidad eficiente, cuyo progreso económico
y social pueda producir un sistema político consolidado.14
En comparación con la variable jurisdicción constitucional, no cabe duda que los
seis factores o grupos de factores enumerados alcanzan un valor explicativo mayor
para el problema de la consolidación democrática. De esta manera no debe sorpren-
der que la jurisdicción constitucional – como ya decía antes – casi no entra en las con-
sideraciones politológicas sobre consolidación de la democracia en América Latina.
Véanse por ejemplo el libro más citado, el de Linz y Stepan15 sobre “Democratización
y consolidación de la democracia”, el estudio de J. Mark Payne y otros16 titulado “La
política importa”, así como el informe del PNUD17 sobre el desarrollo de la democra-
10 Jaguaribe, H., Political Development. A General Theory and a Latin American Case Study, Nueva York,
Harper & Row, 1973; Pasquino, G., Modernización y desarrollo político, Barcelona, Editorial Nova Terra,
1974; Graciarena, J. y Franco, R., Social Formation and Power Structures in Latin America, Londres/
Beverly Hills, Sage Publications, 1978.
11 Midlarsky, M. I. (Ed.), Inequality, democracy, and economic development, Cambridge, Cambridge
University Press, 1997; Lamounier, B., “Brazil: Inequalities against Democracy”, Diamond, L. et al. (Eds.),
Democracy in Developing Countries: Latin America, Boulder, Lynne Rienner, 1999, pp. 131-189.
12 UNDP, Democracy in Latin America. Towards a Citizens’ Democracy, Buenos Aires, Aguilar etc., 2004.
13 Véase Latinobarómetro de 1996 en adelante. Latinobarómetro 1996-2006, entregas anuales, Santiago de
Chile.
14 Putnam, R. D., Making Democracy Work: Civil Traditions in Modern Italy, Princeton, Princeton
University Press, 1993.
15 Linz, J.J. y Stepan, A., Problems of Democratic Transition and Consolidation, Baltimore, Johns Hopkins
University Press, 1996.
16 Payne, J.M./ Zovatto, D./ Carrillo Flórez, F./ Allamand, A., La política importa. Democracia y desarrollo en
América Latina, Washington, D.C., Banco Interamericano de Desarrollo, 2003.
17 UNDP 2004, op. cit., nota 11.
442
Jurisdicción Constitucional y Consolidación de la Democracia
cia en América Latina. Por cierto, se debate el control de las instituciones, especial-
mente del Ejecutivo, y la manera de poner límites al ejercicio del poder. Pero entran
en escena por sobre todo la sociedad civil y los medios de comunicación como prin-
cipales actores garantes del poder limitado. Por lo demás, se debate el ejercicio del
poder tal cual, no tanto el ejercicio del poder conforme a las normas constitucionales.
En el caso del sistema de partidos, existe un alto grado de consenso sobre el con-
cepto y sus dimensiones que hay que tomar en cuenta a la hora de medir el efecto que
el sistema electoral tenga sobre el mismo.18 En el caso de los conceptos de democra-
cia y de consolidación de la democracia no es así. Respecto a nuestras consideracio-
nes, lo importante es que la ambivalencia conceptual existente tiene altísima impor-
tancia sobre el posible efecto que puede atribuirse a la jurisdicción constitucional en
la vida política, así como a su medición y evaluación.
Si se define la democracia a la manera de Alain Touraine como “la lucha de los
sujetos, en su cultura y en su libertad, contra la lógica dominadora de los sistemas”,19
la jurisdicción forma parte del sistema a combatir. Cuando lo sustantivo de la demo-
cracia es la deconstrucción de su propia institucionalidad, no interesa la jurisdicción
constitucional, o sólo interesa desde un punto inverso, para pasar por encima de su
función en el proceso de liberación. Si se entiende la democracia en su sentido radi-
cal, de democracia directa, como la entienden algunos intelectuales y aquellos actores
que quieren sustituir la democracia representativa por la así llamada democracia par-
ticipativa, la jurisdicción constitucional tiene una importancia relativa, subordinada a
la toma de decisiones por parte del soberano popular mismo que en cada momento
puede imponerse sobre la constitución vigente y sus supuestos guardianes. Si se
entiende la democracia en su sentido representativo,20 entonces sí la jurisdicción
constitucional puede jugar un rol importante, sobre todo si se identifica la democra-
cia representativa con la democracia constitucional, tendencia que en los últimos años
ha recuperado fuerza ante la extensión del uso de los conceptos de contraste.
El concepto de la consolidación democrática, por su parte, es también multidi-
mensional y muy controvertido, vinculado por lo demás con diferentes conceptos de
legitimidad. Leonardo Morlino veía en 1986 la consolidación como un proceso que
tiene como consecuencia la continua adaptación de los actores políticos a las reglas del
juego democrático y, con ello, la continua ampliación de la legitimidad21 del orden
18 Véase Nohlen, D., Sistemas electorales y partidos políticos, op. cit., nota 1.
19 Touraine, A., ¿Podemos vivir juntos? Buenos Aires, Fondo de Cultura Económica, 1997, p. 114.
20 Para este y otros conceptos de la democracia véase Nohlen, D. et al., Diccionario de Ciencia Política. Teorías,
métodos, conceptos, dos tomos, México, Editorial Porrúa/ El Colegio de Veracruz, 2006, pp. 338-356.
21 La pretensión de legitimidad de un orden político apunta a un concepto normativo del mismo. Se puede
entender como cualidad objetiva de un sistema social o sistema político (por ej., la legitimidad que se le atri-
443
Dieter Nohlen
buye como inherente a un sistema político democrático en el marco de los horizontes mentales correspondien-
tes, o la legitimidad entendida como el mantenimiento de la legalidad) o estar basada en escalas normativas
externas, respecto a las cuales se compara esta pretensión. De acuerdo con esto, la legitimidad puede ser defi-
nida como: (1) la coincidencia de un orden político con el Derecho, en el cual está garantizada la realización de
determinados principios (en la democracia, pluralismo político, derechos democráticos de participación, Estado
de Derecho, etc.), o (2) la capacidad de un orden político de ser reconocido como legítimo, por lo cual la pre-
tención de un sistema político de gozar de legitimidad sólo existe, cuando las expectativas de comportamiento
elevadas a norma expresan intereses capaces de ser generalizados (Cf. Habermas, J., Problemas de legitimación
en el capitalismo tardío, Buenos Aires, Amorrortu, tercera edición, 1989, véase también Heidorn, J., Legitimität
und Regierbarkeit [Legitimidad y gobernabilidad], Berlín, Duncker & Humblot, 1982).
22 Linz, J.J. y Stepan, A., Problems of Democratic Transition and Consolidation, op. cit., nota 14, p. 30.
23 Schedler, A., “Los cálculos de consolidación democrática”, Republicana. Política y Sociedad 1 (1) 2002, p. 20.
444
Jurisdicción Constitucional y Consolidación de la Democracia
445
Dieter Nohlen
sólo hace valer en el caso concreto las decisiones generales previas de la constitución,
sino que toma también decisiones políticas por su cuenta. Puesto que muchas veces
estas decisiones tienen como objeto el comportamiento de los órganos superiores del
Estado y de los partidos políticos que actúan en ellos, la jurisdicción constitucional
participa, si se aplican criterios funcionales, en la dirección del Estado”. Siendo los tri-
bunales constitucionales instituciones políticas como las demás, aunque de legitimi-
dad democrática secundaria y carentes de un aparato propio para hacer ejecutar sus
decisiones, ellos disponen de importantes funciones en el proceso político con capa-
cidad de decisión última en asuntos de alta importancia en el juego político. Dolf
Sternberger27 puntualizó: “El derecho es en sí mismo un eminente factor político”.
En la perspectiva de la teoría de los jugadores de veto,28 los tribunales constitu-
cionales constituyen jugadores de veto institucionales dentro del sistema político.
Aunque en principio de racionalidad propia, pueden articularse dentro de ellos juga-
dores de veto individuales (o sea miembros de los tribunales) asociados con los parti-
dos políticos, de modo que se puede imponer la lógica de competencia política que a
su vez puede determinar decisiones en pro o en contra de otras instituciones del sis-
tema político, especialmente referidas a la voluntad política del gobierno. Es por esto
que se establece otra circularidad: al control constitucional que ejercen los tribunales
sobre el Ejecutivo se añade el intento por parte de los partidos políticos y especial-
mente del gobierno de hacerse del control del tribunal constitucional.
En la perspectiva de la teoría sistémica, se trata de una relación entre el sistema
político con su propia racionalidad, la racionalidad del poder, y de la jurisdicción
constitucional con la suya, la racionalidad del derecho, o sea entre un (marcado) sis-
tema y su entorno. Según el enfoque de la autopoiésis,29 la incidencia que tiene el fac-
tor externo, aquí la jurisdicción constitucional, es dependiente de la estructura del sis-
tema, aquí el sistema político, y del comportamiento de los actores institucionales. Las
decisiones de los tribunales constitucionales, en general (en el lenguaje sistémico) de
efecto “irritante”, pueden ser interpretadas como “estimulantes” y de esta manera asu-
midas por los actores, o percibidas como “perturbantes”. La última percepción puede
conducir a que el sistema (político) trate de compensarlas o impedir su cumplimiento
o tomar las precauciones pertinentes (por ejemplo sustitución de magistrados) para
que no se repitan situaciones “perturbantes” debido a decisiones del poder judicial.
De todos modos, resulta claro que la influencia del factor externo nunca será
determinante, sino relativo conforme a las estructuras del sistema y las mentalidades
de sus actores. Dentro de esta perspectiva sistémica es posible marcar diferencias entre
sistemas susceptibles de reaccionar acorde con la percepción “estimulante” o “pertur-
bante” de la labor de la jurisdicción constitucional. Respecto a esta disyuntiva, la
27 Sternberger, D., Lebende Verfassung [Constitución viviente], Meisenheim, Verlag Anton Hain, 1956, p. 24.
28 Tsebelis, George, Veto Players. How Political Institutions Work, Princeton, New Jersey, Russell Sage
Foundation New York, Princeton University Press, 2002.
29 Véase Maturana, H. y Varela, F., Der Baum der Erkenntnis [El árbol del conocimiento], Bern, Scherz, 1984.
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Jurisdicción Constitucional y Consolidación de la Democracia
30 Como lo definía en otro lugar, véase Nohlen, D. et al., Diccionario de Ciencia Política. Teorías, métodos,
conceptos, op. cit., nota 19, p. 204.
31 Zagrebelsky, G., “Jueces constitucionales”, Revista Iberoamericana de Derecho Procesal Constitucional 6,
2006, p. 324. Respecto a los conceptos de política y su relevancia para la jurisdicción constitucional véase
también Córdova Vianello, P. “La contraposición entre derecho y poder desde la perspectiva del control de
constitucionalidad en Kelsen y Schmitt”, Cuestiones Constitucionales 15, 2006, pp. 47-68.
447
Dieter Nohlen
32 Ahumada Ruiz, M., La jurisdicción constitucional en Europa. Bases teóricas y políticas, Navarra,
Universidad de Navarra-Civitas, 2005, pp. 302 y ss.
33 Véanse las entregas anuales desde 1996 de Latinobarómetro.
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Jurisdicción Constitucional y Consolidación de la Democracia
Requisitos irrenunciables
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Dieter Nohlen
36 Dahl, R.A., Poliarchy. Participation and Opposition, New Haven, Yale University Press, 1971.
37 Bobbio, N., El futuro de la democracia, México, Fondo de Cultura Económica, 1996.
38 Véase Salazar Ugarte, P., La democracia constitucional. Una radiografía teórica, op. cit., nota 8, pp. 136 y ss.
39 Núñez Muñoz, I. K., “La ciudadanía y su desempeño en los sistemas políticos democráticos”, Cuestiones
Políticas 37, 2007, p. 52.
40 Para América Latina véanse Valadés, D., Constitución y democracia, México, UNAM, 2000, pp. 39-44, y
Zovatto, D., “Las instituciones de democracia directa”, Nohlen, D./ Zovatto, D./ Orozco, J./ Thompson, J.
(Comp.), Tratado de derecho electoral comparado de América Latina, segunda edición, México, Fondo de
Cultura Económica, 2007, pp. 134-161.
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Jurisdicción Constitucional y Consolidación de la Democracia
Condiciones favorables
41 Véase Nohlen, D. y Nohlen, N., “El sistema electoral alemán y el Tribunal Constitucional Federal. La igual-
dad electoral a debate – con una mirada a Venezuela”, Revista de Derecho Público (Caracas), enero-marzo
2007, 109, pp. 7-26.
42 Valadés, D., El control del poder, México, Fondo de Cultura Económica, 1998, pp. 17 y 43.
43 Carpizo, J., Concepto de democracia y sistema de gobierno en América Latina, México, UNAM, 2007, pp.
99 y ss.
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Dieter Nohlen
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Jurisdicción Constitucional y Consolidación de la Democracia
49 Brewer-Carías, A.R., Golpe de Estado y proceso constituyente en Venezuela, México: UNAM, 2002 y
Brewer-Carías, A. R., Estudio sobre la reforma constitucional de 2007, mimeo, aún no publicado, 2007.
50 Véase al respecto la compilación de estudios de Ferrer Mac-Gregor, E. (Coord.), Interpretación
Constitucional, 2 tomos, México, Porrúa/UNAM, 2005.
51 Carpizo, J. y Fix-Zamudio, H., “Algunas reflexiones sobre la interpretación constitucional en el ordena-
miento mexicano”, op. cit., nota 24, p. 425 ss.
52 Ríos Álvarez, L., “La reforma de 2005 a la constitución chilena”, Anuario Iberoamericano de Justicia
Constitucional 10, 2006, pp. 617 y 637.
53 Abad Yupanqui, S.B., Constitución y procesos constitucionales, Lima, Editorial Palestra, 2005.
54 Cit. según Anuario Iberoamericano de Justicia Constitucional, 2006, p. 559.
55 Ibid., p. 558.
453
Dieter Nohlen
con Gustavo Zegrebelsky56 que “la ley de la buena vida de las constituciones es el
desarrollo en la continuidad. El instrumento normal es la jurisprudencia; la reforma
es un instrumento excepcional”, que en su caso hay que llevar a cabo con criterio y
mesura. La continuidad de la Constitución como condición favorable fortalece e
intensifica el papel de la jurisdicción constitucional en el proceso de consolidación de
la democracia.
La tercera condición favorable consiste en la extensión de valores concordantes
con el Estado democrático constitucional. Esto se refiere a la cultura democrática y
sus normas,57 a la cultura de la legalidad,58 a la cultura jurídica,59 y a la cultura de la
jurisdicción constitucional.60 En América Latina se observa que en la lucha por el
poder, la constitución no alcanza a ser un argumento para mantener encarrilada la
acción. A menudo, los actores individuales y colectivos están dispuestos a actuar con-
tra la constitución, priorizando el objetivo por sobre el procedimiento. Tampoco la
permanencia de la constitución parece importar mucho, pues el proyecto de elabora-
ción de una nueva tiende a rendir políticamente, como demuestran los casos de
Venezuela, Bolivia y Ecuador. En el caso ecuatoriano, el Tribunal Constitucional,
metido de lleno en el conflicto político, desobedecía incluso a la constitución que
tenía que defender.
En este sentido, Peter Häberle61 llama la atención a los límites de la defensa jurí-
dica de la Constitución. Extiende la función de ser guardianes de la Constitución a
todos los ciudadanos y remite a Konrad Hesse, citándolo:62 “Una Constitución sola-
mente puede ser protegida políticamente o en la profundidad cultural. Si bien los ins-
trumentos jurídicos son importantes, solamente son eficaces cuando todos poseen una
‘voluntad de Constitución’ y ésta desenvuelve duraderamente su fuerza normativa”.
En los tratados de Ciencia Política, se habla de la importancia de la necesaria vitali-
dad de una sociedad civil que apoye a la democracia,63 o del objetivo de desarrollar
una sociedad de ciudadanos, prerrequisito de una democracia de ciudadanos.64
Respecto a la democracia ciudadana, conviene comentar que es una visión sim-
pática del futuro de la democracia, fundamentada en el reciente debate social-filosó-
fico europeo, de la cual dista mucho la realidad y especialmente la realidad latinoa-
454
Jurisdicción Constitucional y Consolidación de la Democracia
65 Véase Simon, F.B., Einführung in Systemtheorie und Konstruktivismus [Introducción a la teoría sistémica
y al constructivismo], Heidelberg, Carl-Auer, 2006, p.65.
66 Véanse Bertelsmann Stiftung (ed.), Bertelsmann Transformation Index 2006, op. cit., nota 56, p. 228,
Nohlen, D., El institucionalismo contextualizado. La relevancia del contexto en el análisis y diseño institu-
cionales, op. cit., nota 4, p. 47 ss.
67 Véase Zovatto, D., Los estados de excepción y los derechos humanos en América Latina, San José, IIDH/
Editorial Jurídica de Venezuela, 1990.
68 Véase también Acuña, J.M., “Contribuciones de la jurisdicción constitucional para la eficacia jurídica de los
derechos sociales en la experiencia comparada”, Revista Iberoamericana de Derecho Procesal
Constitucional 6, (Julio-diciembre), 2006, pp. 7 ss.; Zagrebelsky, G., “Jueces constitucionales”, op. cit., nota
30, p. 312 ss.
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Dieter Nohlen
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Jurisdicción Constitucional y Consolidación de la Democracia
76 Véase Brewer-Carías, A. R., Estudio sobre la reforma constitucional de 2007, op. cit., nota 48; Nohlen, D.
y Nohlen, N., “El sistema electoral alemán y el Tribunal Constitucional Federal. La igualdad electoral a
debate – con una mirada a Venezuela”, op. cit., nota 40.
77 Lazarte, J., Bolivia. Nueva constelación de poder y gobernabilidad, La Paz, mimeo, 2006.
78 Orozco Henríquez, J.J., “La Suprema Corte de Justicia de la Nación a partir de 1995 y el nuevo orden cons-
titucional”, Anuario Iberoamericano de Justicia Constitucional 10, 2006, p. 290.
79 Véase Fix-Zamudio, H., “La Suprema Corte como tribunal constitucional” Las nuevas bases constituciona-
les y legales del sistema judicial mexicano. La reforma judicial de 1986, México, Editorial Porrúa, 1987, pp.
345-390.
457
Dieter Nohlen
la que impugnó la Ley Electoral del Estado de Querétaro por considerarla violatoria
de los derechos de los partidos políticos minoritarios al aumentar el umbral de 2.5%
a 3% de la votación total estatal para tener derecho a la asignación de Diputados. La
Suprema Corte decidió que dicha acción era infundada y reconoció la validez de la
Ley declarando que no era violatoria del principio de representación proporcional. (b)
Igualmente el amparo en revisión 43/2005 promovido por Jorge Castañeda Gutman en
contra de la ley electoral, impugnando el derecho de ser votado previsto en el artícu-
lo 35, fracción II, de la Constitución Federal. Acción que fue sobreseída. (c)
Finalmente, la acción de inconstitucionalidad 28/2005 presentada por el Partido de la
Revolución Democrática (PRD) que impugnaba las reformas hechas a la Constitución
Política del Estado de Colima, las cuales establecían, entre otras cosas, el procedimien-
to para elección de un gobernador interino, en caso de falta absoluta del gobernador
dentro de los primeros dos años de su cargo, y el procedimiento que se seguiría enton-
ces para la elección extraordinaria para un nuevo gobernador. Respecto de lo prime-
ro, la Corte desestimó la acción de inconstitucionalidad por no reunir los ocho votos
necesarios para conformar la mayoría calificada; respecto de lo segundo, sí declaró la
invalidez de las normas que establecían un periodo de tiempo considerado muy breve
para la realización de las elecciones extraordinarias.
Por su parte, el Tribunal Electoral del Poder Judicial de la Federación (TEPJF),
ha tomado decisiones (a) respecto a las candidaturas independientes, reconociéndoles
validez constitucional aunque las leyes electorales ordinarias omiten regular este
aspecto, (b) respecto a usos y costumbres en términos de admitir que los comicios se
llevan a cabo por usos, costumbres o derecho comunitario, siempre que estos no sean
incompatibles con los derechos fundamentales establecidos en la Constitución o ins-
trumentos internacionales suscritos y ratificados por México; (c) respecto a la desig-
nación de los integrantes del órgano de dirección de los procesos electorales, por
mayoría calificada de la respectiva asamblea legislativa, para evitar que un solo parti-
do político tome la decisión (como ocurrió en Yucatán en 2000/2001); (d) respecto a
la financiación de los partidos políticos. El Tribunal decidió que el Instituto Federal
Electoral (IFE) sí tiene atribuciones para acceder a la conformación bancaria, fiducia-
ria y fiscal para funciones de control, vigilancia y sanción del origen de los recursos
que reciben los partidos políticos.80 Sin embargo, a pesar de toda esta enorme labor
para procurar confiabilidad judicial, que debía generar seguridad y certeza jurídica, no
ha sido posible que las últimas elecciones generales en México quedaran fuera de
cualquier duda y protesta. La reforma electoral aprobada en septiembre de 2007 por
ambas cámaras y posteriormente por la mayoría de las legislaturas de las entidades
federativas, ampliando nuevamente el ámbito de control constitucional en materia
electoral, será un nuevo intento para superar realidades adversas a la consolidación a
80 Véase Orozco Henríquez, J.J. “Justicia constitucional electoral y democracia en México”, Anuario
Iberoamericano de Justicia Constitucional 7, 2003, pp. 340 ss.
458
Jurisdicción Constitucional y Consolidación de la Democracia
través del derecho. Sin duda, es este el camino que corresponde más, acorde con el
concepto europeo, articulado por la Comisión de Venecia del Consejo Europeo, cuyo
lema es: democratización por el derecho.
Es bien conocida la frase de Max Weber sobre la esencia de la política práctica,
que compara con la perforación de tablones gruesos (Bohren dicker Bretter). Hacer
justicia, hacer respetar la constitución, apoyar a la consolidación de la democracia a
través de los medios que son los pertinentes al quehacer jurisdiccional, es frente a los
retos de la política, de las demandas económicas y sociales de la gente y de la cultura
política de la elite, un proceso duro y paciente comparable al atribuido a la profesión
política.
459
Dieter Nohlen
460
La Abritrariedad Procesal en el Estado de Derecho:
El Debido Proceso ante la Juridicidad y Práctica
de las Constituciones1
Mario Fernández Baeza2
Sumarioo: I. Introducción II. Protección de los Derechos Fundamentales III. El debido proceso como garantia y
comoderecho IV. El debido proceso en el Sistema Interamericano V. El debido proceso y la Constitución de Chile
VI. Conclusiones3
I. Introducción
Conviene comenzar afirmando que para el año de 1980 se vivía otro mundo en
materia de Derechos Humanos. Sólo 4 años llevaban en vigor los Pactos
Internacionales de Derechos Civiles y Políticos y de Derechos Económicos, Sociales y
Culturales, después de transcurrir casi una década desde su firma en 1966
(Kimminich/ Hobe 2000, 344). La Convención Americana de Derechos Humanos, por
1 Ponencia presentada en el Simposio “La integración jurídica en América del Sur. El sistema de protección
de los derechos humanos como modelo exitoso”, organizado por el Instituto Max Planck de Derecho
Internacional Público y Derecho Público Comparado de Heidelberg, el 28 de noviembre de 2008. La pre-
sentación en el Simposio ha sido corregida y ampliada con bibliografía y jurisprudencia hasta principios de
junio de 2009.
2 Ministro del Tribunal Constitucional de Chile, Profesor de Derecho Constitucional en la Universidad de
Chile y de Ciencia Política y Comunicaciones en la Universidad Católica de Chile, Dr. Phil. y MA por la
Universidad de Heidelberg, Abogado de la Universidad de Chile.
3 Es para mí un gran honor participar como expositor en este Simposio. No sólo por el prestigio de nuestros
anfitriones, por la importancia del tema y por la calidad de los colegas que han concurrido desde América
Latina y Alemania. También hay motivos personales, que no puedo dejar de mencionar al iniciar esta
ponencia. Hace más de 28 años, el 15 de julio de 1980 recibí mi doctorado en la Universidad de Heidelberg.
Y en este Instituto Max Planck, en su antigua sede de la Berliner- Strasse, escribí gran parte de mi tesis en
Ciencia Política para entregar a mi profesor Dieter Nohlen, y preparé el examen doctoral en Derecho
Internacional Público sobre el sistema internacional de los Derechos Humanos con el profesor Karl
Döhring, ex Director de este Instituto, que a sus noventa años me dicen, lo sigue visitando diariamente. Así,
pues, en este retorno en las riberas del Neckar, el recuerdo para mí está vivo, no sólo por el lugar en el que
nos reunimos, sino por el tema que nos congrega. Durante la preparación de esta ponencia, sostuve inter-
cambios de opiniones con varios colegas que iluminaron el camino para su formulación. Agradezco espe-
cialmente al Director y al Subdirector del Centro de Derechos Humanos de la Universidad de Chile, profe-
sores José Zalaquett Daher y Claudio Nash; al profesor Humberto Nogueira, Director del Centro de Estudios
Constitucionales de la Universidad de Talca, a mis colegas Ministros del Tribunal Constitucional de Chile,
profesora Marisol Peña y Marcelo Venegas, y muy especialmente al Presidente de esta Magistratura, profe-
sor Juan Colombo Campbell, así como el profesor Rodrigo Pica, abogado asistente del Tribunal, quien me
proporcionó un manuscrito de su autoría sobre la jurisprudencia en la CIDH que resultó muy útil para el
apartado IV de esta presentación. A todos ellos mi reconocimiento. Por cierto, este trabajo es de mi entera
responsabilidad.
461
Mario Fernández Baeza
4 La Corte fue instalada en San José de Costa Rica el 3 de septiembre de 1979. Véase los documentos sobre
esa ocasión en la Memoria de Instalación, publicada en: OEA/CIDH: La Corte Interamericana de Derechos
Humanos. Un Cuarto de Siglo: 1979-2004, San José, 2005, 415 y ss.
5 Estos autores reconocen que a pesar de las restricciones de sus propios estatutos , el despliegue de los meca-
nismos interamericanos fue obteniendo en la práctica más atribuciones o campo de acción que los entrega-
dos por los respectivos instrumentos jurídicos fundantes: “ La Comisión procedió, por lo tanto, a realizar
actividades que no estaban explícitamente contempladas en el Estatuto, pero que podían entenderse como
el ejercicio de facultades implícitas necesarias para el mejor cumplimiento de sus funciones.”, agregando:
“... la Comisión tuvo éxito en su intento de crear, dentro de sus escasas facultades, mecanismos para la pro-
tección de los derechos humanos” ( Véase Cecilia Medina Quiroga y Claudio Nash: Sistema Interamericano
de Derechos Humanos. Introducción a sus Instrumentos de Protección, Centro de Derechos Humanos,
Facultad de Derecho, Universidad de Chile, Santiago de Chile, 2007, 96 y 98.)
6 Hablamos de la práctica, pues en la consagración escrita de los derechos fundamentales no existía gran dife-
rencia entre ambos mundos, tanto entre las legislaciones nacionales como entre las convenciones interna-
cionales. Como un ejemplo de lo anterior hay que señalar que en la Europa comunitaria recién en el año
2000 se adoptó la Carta Europea de Derechos Fundamentales, un catálogo escrito de derechos de tal índo-
le, resultante de la fusión de los diferentes tratados fundantes de las comunidades europeas, que conserva
un carácter no vinculante para los países miembros.
462
La Abritrariedad Procesal en el Estado de Derecho: El Debido
Proceso ante la Juridicidad y Práctica de las Constituciones
463
Mario Fernández Baeza
8 Esta primacía es elocuente en la convocatoria de la Unión Europea para la creación de la Agencia Europea
para la Gestión de la Fronteras Exteriores a través de la Propuesta del Reglamento del Consejo de 11 de
noviembre de 2003: “Esta propuesta se inscribe en el proceso de instauración de una política común en
materia de gestión integrada de las fronteras, una de las condiciones indispensables para el establecimien-
to de un espacio de libertad, seguridad y justicia”. En el texto se observa que la única lógica de a preemi-
nencia de la seguridad sobre la justicia es de importancia, no alfabética. http/Europa.eu.int/scad-
plus/leg/es/lvb/133216.htm.
9 En todo el mundo los centros comerciales y bancos la seguridad es provista por agencias privadas con auto-
rización de portar armas y mantener centros de detención provisorios. Incluso en los aeropuertos de
Norteamérica y Europa, la seguridad la provee una combinación de funcionarios policiales y aduaneros con
agencias privadas de seguridad dotadas de atribuciones punitivas. Las detenciones ilegales en los aeropuer-
tos han sido materia de incidentes diplomáticos cuando ellas han sido denunciadas o al ocurrir accidentes.
10 Este dilema es clásico en el pensamiento político. Recuérdese la advertencia de Thomas Hobbes en la dedi-
cación del Leviatán a Godolphin:” Pues estando amenazado por quienes reclaman una libertad demasiado
grande y, por el lado contrario, por quienes reclaman demasiada autoridad, se hace difícil cruzar indemne
ante las armas de ambos bandos.”
464
La Abritrariedad Procesal en el Estado de Derecho: El Debido
Proceso ante la Juridicidad y Práctica de las Constituciones
11 Véase Antonio- Carlos Pereira Menaut: Teoría Constitucional, Editorial LexisNexis, Santiago de Chile,
2006, 263.
12 Véase Humberto Nogueira: Derechos Fundamentales y Garantías Constitucionales, Librotecnia, CECOCH,
Santiago de Chile, Tomo II, 2008, 261.
13 Véase Juan Colombo Campbell: El debido proceso constitucional, Cuadernos del Tribunal Constitucional,
32, Santiago de Chile, 2006, 124.
465
Mario Fernández Baeza
14 Véase Reinhard Mussgnug: El control judicial del poder ejecutivo en la República Federal de Alemania, en:
Varios autores: Estado de Derecho y Reforma a la Justicia, Heidelberg Center y otros, Santiago de Chile,
2005. Esta garantía, sin embargo, como en toda la Unión Europea, no se hace efectiva para personas no
miembros de la Unión, detenidas en la zona de estadía de los aeropuertos. Allí las decisiones son discrecio-
nales administrativas, sin recurso posible.
15 Esta doble naturaleza está expuesta en un fallo de la Corte Suprema de Justicia de Chile de 31 de enero de
2003, y al cual volveremos en este trabajo. En la sentencia se lee, después de definir el debido proceso como
“ aquel, que cumpliendo con ciertos principios básicos y ritualidades elementales, garantiza a toda persona
un juicio justo”: “ En su expresión propiamente adjetiva, se le concibe como el conjunto de reglas que el
legislador y el ejecutor de la ley deben observar en el cumplimiento de sus funciones. A saber: la existen-
cia de un juicio oral y público, la prohibición de juzgar dos veces al mismo individuo por el mismo acto, la
prohibición de hacer declarar a una persona en contra de sí misma en causas criminales, el establecimien-
to de formalidades de notificación y audiencia del procesado en todo juicio o procedimiento. En su aspec-
to mas bien sustantivo se lo asume como un estándar o patrón de justicia que guía el actuar de los órganos
del Estado, considerando las circunstancias de tiempo y lugar en el que se desenvuelve el proceso.” Véase
referencias a este fallo en: Paulino Varas Alfonso, 2006, 32; y en: Pilar Fabiola Arellano Gómez, 2007, 479.
16 Véase publicación de la Comisión Interamericana de Derechos Humanos de la OEA, preparado por Vïctor
Abramovich: El acceso a la justicia como garantía de los derechos económicos, sociales y culturales. Estudio
de los estándares fijados por el Sistema Interamericano de Derechos Humanos, OEA, 7 de septiembre de
2007. Véase, además, el trabajo del mismo autor: Los Estándares Interamericanos de Derechos Humanos
como Marco para la Formulación de las Políticas Sociales, en: Anuario de Derechos Humanos 2006, Centro
de Derechos Humanos, Facultad de Derecho de la Universidad de Chile, 13-51.
466
La Abritrariedad Procesal en el Estado de Derecho: El Debido
Proceso ante la Juridicidad y Práctica de las Constituciones
17 Véase Martin Borowski: La restricción de los derechos fundamentales, en: Revista Española de Derecho
Constitucional, 20, 59, 2000, 29-56.
467
Mario Fernández Baeza
culo 7º se refiere al derecho a la libertad personal, que dice relación directa con el
tema. El artículo 8º contiene una extensa y detallada enumeración de ocho “garantías
mínimas”, entre ellas la “comunicación previa y detallada al inculpado de la acusación
formulada”, así como varias concernientes al derecho a la defensa. El artículo 25, por
su parte, se concentra en el derecho de “toda persona” al recurso de amparo “contra
actos que violen sus derechos fundamentales reconocidos por la Constitución, la ley,
o la presente Convención, aún cuando tal violación sea cometida por personas que
actúen en ejercicio de sus funciones oficiales”.
La Corte Interamericana de Derechos Humanos, por su parte, no se ha delimita-
do al tenor de la Convención para procurar la debida protección concreta de los dere-
chos amparados por ella. A través de la dictación de Reglamentos, la Corte ha intro-
ducido desde 1980, mecanismos procesales y de procedimiento que han perfecciona-
do la tramitación de las causas de que conoce y que han significado avances también
materiales en su quehacer jurisdiccional. (Gialdino 2006)
Las consecuencias jurisdiccionales de las normas señaladas y del celo ejercido por
la Corte, se ha manifestado a través de una serie de fallos, en los cuales los magistra-
dos han extendido y profundizado las definiciones convencionales, aplicadas a casos
concretos, y especialmente, a través de las “opiniones consultivas” evacuadas en con-
formidad con el artículo 64.1. de la Convención, que habilita al órgano jurisdiccional
a interpretar normas de la Convención o de otro tratado concerniente “a la protección
de los derechos humanos en los Estados americanos”. Vale señalar entre estas opinio-
nes consultivas, la OC-8 sobre el Hábeas Corpus Bajo Suspensión de Garantías, la OC
9 /87, sobre Garantías Judiciales en Estados de Emergencia, y la OC 11/90, sobre
Excepciones al Agotamiento de los Recursos Internos.
En la citada Opinión Consultiva OC 9/87 la Corte interpretó el sentido del artí-
culo 8º de la Convención como “el conjunto de requisitos que deben observarse en las
instancias procesales”, entendiéndose el sentido de “mínimas” de las garantías, el que
“en circunstancias específicas, otras garantías adicionales pueden ser necesarias si se
trata de un debido proceso legal”.18
En un fallo de 24 de junio de 2005, la Corte Interamericana señaló en su consi-
derando 92: “Este tribunal ha establecido que la salvaguardia de la persona frente al
ejercicio arbitraria del poder público es el objetivo primordial de la protección inter-
nacional de los derechos humanos”.19 En el mismo caso, el juez Antonio A. Cançado
Trindade declaró en su considerando 11: “Una detención arbitraria (como lo estable-
ció la Corte en el presente caso), sea por cinco años, o por cinco meses, por cinco
semanas, en las condiciones carcelarias prevalecientes sea en el continente america-
18 Información consignada atribuida a la OC-11/90, en el manuscrito sin publicar de Rodrigo Pica F.: Notas
sobre Garantías judiciales y Debido Proceso en la Jurisprudencia de la Corte Interamericana de Derechos
Humanos, Santiago de Chile, 2008
19 La sentencia alude en este considerando a los casos Tibi, Caso “Instituto de Reeducación del Menor” y
Baena Ricardo y otros. Competencia de la misma Corte.
468
La Abritrariedad Procesal en el Estado de Derecho: El Debido
Proceso ante la Juridicidad y Práctica de las Constituciones
La Constitución de Chile agrupa los requisitos del debido proceso, como los hemos
descrito aquí, en el número 3º del artículo 19 de su texto, bajo el encabezamiento “La
Constitución asegura a todas las personas…La igual protección de la ley en el ejercicio
de los derechos”. En su parte medular, la referencia al debido proceso se formula así en
el inciso quinto del citado numeral:”Toda sentencia de un órgano que ejerza jurisdicción
debe fundarse en un proceso previo legalmente tramitado. Corresponderá al legislador
establecer siempre las garantías de un procedimiento y una investigación racionales y
justos.”. Como lo expresó la Corte Suprema de Chile en sentencia de 31 de enero de
2003 (véase nota 14), esta fórmula para ubicar el “derecho al debido proceso” se encuen-
tra acotada “con una exigencia de carácter jurisdiccional – “toda sentencia” y otra de
índole legislativa “corresponderá al legislador…”, agregándose el más completo de los
catálogos de las garantías mínimas para un “racional y justo proceso”21
Para el interés de nuestro tema, quiero detenerme en dos aspectos de esta defi-
nición constitucional chilena. Por una parte, la remisión al legislador para el estable-
cimiento de las garantías – que se suman a las ya establecidas en la propia
Constitución- y el agregado de la investigación al procedimiento racional y justo.
469
Mario Fernández Baeza
“Es una garantía del proceso que el procedimiento sea racional y justo,
objetivo cuyo cumplimiento le constituyente encomienda al legislador.”
“La Constitución prevé la exigibilidad de la garantía a todo proceso, cual-
quiera sea su forma u oportunidad en que se traduce, al exigir su concurrencia
“siempre”; se trata de un mandato categórico al legislador no susceptible de cali-
ficación interpretación.”23
22 El artículo 93, Nº6 señala: “ (Son atribuciones del Tribunal Constitucional.)..Resolver, por la mayoría de sus
miembros en ejercicio, la inaplicabilidad de un precepto legal cuya aplicación en cualquier gestión que se
siga ante un tribunal ordinario o especial, resulte contraria a la Constitución”
23 En el mismo fallo de la causa 478-2006, el Tribunal Constitucional, cita otras sentencias de a misma magis-
tratura, causas 376, 389, 481, entre otras y de la Corte Suprema de Chile ( 258 de 2001) en la que establece
cuáles son las garantías de un proceso previo, legalmente tramitado, racional y justo, que la Constitución
asegura a todas las personas”.
470
La Abritrariedad Procesal en el Estado de Derecho: El Debido
Proceso ante la Juridicidad y Práctica de las Constituciones
24 Al momento de cierre de este manuscrito (8 de junio de 2009), aún no se dicta sentencia sobre la nueva Ley
Orgánica del Tribunal Constitucional de Chile.
471
Mario Fernández Baeza
VI. Conclusiones
25 Diario de Sesiones del Senado, Sesión Nº 53 ( anexo de documentos), de mayo de 1997, pág. 6200, citado en
Díez Urzúa, Sergio: Personas y Valores. Su Protección Constitucional, Editorial Jurídica de Chile, Santiago,
1999, 143
26 Véase la clase magistral: Arbitrariedad Legal y Derecho Supralegal: “ El principio “ la ley es la ley” no cono-
cía, al contrario, limitación alguna. Era la expresión del pensamiento jurídico positivista, que dominó
durante muchos decenios, casi sin ser contradicho, a los juristas alemanes” (Radbruch 1980, 127).
472
La Abritrariedad Procesal en el Estado de Derecho: El Debido
Proceso ante la Juridicidad y Práctica de las Constituciones
este contexto, creo que la defensa a todo trance del debido proceso, entendido desde
que el Estado empieza a actuar frente a una persona eventualmente imputada, es una
tarea que nos corresponde en primer lugar a los juristas. Es un deber profesional que
es necesario cumplir. Cada vez que se van admitiendo medidas seudo judiciales y poli-
ciales preliminares, que, por definición se encuentran fuera del proceso, es preciso
examinar su mérito constitucional y advertir en qué medida el poder del Estado se
desproporciona en relación con el de las personas y el de sus derechos fundamentales.
Cumplir con ese deber significará, también, restablecer día a día, por sobre el de la
seguridad, el reino de la libertad y de la justicia.27
27 Para ampliar las opiniones aquí contenidas, puede consultarse la siguiente bibliografía: Alexy, Robert:
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Derecho de la Universidad de Chile, 183-194.
475
El Bloque Constitucional de Derechos Fundamentales
y su Aplicación en Chile y América Latina
Humberto Nogueira Alcalá 1
Sumarioo: I. La dignidad humana como fundamento de los derechos fundamentales, los cuales constituyen límites a
la soberanía estatal II. Los derechos fundamentales como emanación de la dignidad humana III. El bloque constitu-
cional de derechos fundamentales en América Latina IV. El control de convencionalidad de las disposiciones de
derecho interno determinado por la Corte Interamericana de Derechos Humanos V. Consideraciones finales
1 El autor es Doctor en derecho por la Universidad Católica de Lovaina la Nueva, Bélgica. Profesor Titular de
Derecho Constitucional , Director Ejecutivo del Centro de Estudios Constitucionales de Chile de la
Universidad de Talca y del Magister de Derecho Constitucional de la misma Universidad, Campus Santiago.
Presidente de la Asociación Chilena de Derecho Constitucional. Vicepresidente del Instituto
Iberoamericano de Derecho Procesal Constitucional. Miembro Asociado de la Academia Internacional de
Derecho Comparado. nogueira@utalca.cl.
2 Esta posición es extendida en América Latina, pudiendo establecerse como ejemplo la Constitución de Brasil
de 1988, artículo 1º señala que la República Federal de Brasil tiene como fundamentos...III la dignidad de la
persona humana”; la Constitución de Colombia de 1991, artículo 1º, prescribe “Colombia es un estado social
de derecho [...] fundado en el respeto de la dignidad humana, en el trabajo y la solidaridad de las personas
que lo integran y en la prevalencia del interés general”; la Constitución Chilena, en su artículo 1º dedtermi-
na: “Las personas nacen libres e iguales en dignidad y derechos”; la Constitución Peruana de 1993, en su artí-
culo 1º, señala “la defensa de la persona humana y el respeto de su dignidad son el fin supremo de la socie-
dad y el Estado”; la Constitución de Honduras de 1982, artículo 5º, precisa: “la persona humana es el fin
supremo de la sociedad y del Estado. Todos tienen la obligación de respetarla y protegerla”; la Constitución
de Guatemala de 1985 establece en su artículo 1º “Protección de la persona. El Estado de Guatemala se orga-
niza para proteger a la persona y a su familia; su fin supremo es la realización del bien común”.
3 González Pérez, J. La dignidad de la persona. Ed. Civitas. Madrid, 1986, p. 25.
477
Humberto Nogueira Alcalá
4 Von Wintrich, Zur Problematik der Grundrecte (1957), citado por Fernández Segado, Francisco. 2003. “La
dignidad de la persona como valor supremo del ordenamiento jurídico español y como fuente de todos los
derechos”, en Revista Jus. Revista di Scienze Giuridiche, Anno L, Maggio-Agosto, 2003, Universita Católica
del Sacro Cuore, Milán, pág. 205.
5 González Pérez, J. 1986. La dignidad de la persona. Madrid, pág. 112.
478
El Bloque Constitucional de Derechos Fundamentales y su Aplicación en Chile y América Latina
6 Sentencia del Tribunal Constitucional, de 26 de junio de 2008, Rol Nº 976, considerando vigesimotercero.
7 Wolfgang Sarlet, Ingo. “Dignidade da pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de
1988”. Sétima edição revista e atualizada. Porto Alegre, Livraria Do Advogado, 2009, p. 67. Traducción libre
del autor.
8 Háberle. , Peter. “A dignidade humana como fundamento da comunidade estatal”, en Wolfgang Sarlet, Ingo
(Org.). Dimensões da Dignidade. Ed. Livraria Do Advogado. Porto Alegre. 2005, p. 104.
479
Humberto Nogueira Alcalá
“Que en tal orden de ideas cabe recordar, primeramente, por ser base del
sistema constitucional imperante en Chile, el artículo 1º inciso primero de la
Constitución, el cual dispone que “las personas nacen libres e iguales en digni-
dad y derechos”. pues bien, la dignidad a la cual se alude es aquel principio capi-
tal de nuestro Código Supremo es la cualidad de ser humano que lo hace acree-
9 Sentencia del Tribunal Constitucional chileno, 26 de junio de 2008, Rol Nº 976, considerando 35º.
10 Ríos Álvarez, Lautaro. 1985. La dignidad de la persona en el ordenamiento jurídico español. En obra colec-
tiva, XV Jornadas Chilenas de Derecho Público, Valparaíso, Universidad de Valparaíso, página 205.
480
El Bloque Constitucional de Derechos Fundamentales y su Aplicación en Chile y América Latina
dor siempre a un trato de respeto, porque ella es la fuente de los derechos esen-
ciales y de las garantías destinadas a obtener que sean resguardados.”11
11 Sentencia del Tribunal Constitucional, Rol Nº 389, de fecha veintiocho de octubre de 2003, considerando 17º.
12 Sentencia del Tribunal Constitucional, Rol Nº 943-07, de fecha diez de junio de dos mil ocho, consideran-
do 30º al 32º.
481
Humberto Nogueira Alcalá
13 Wolfgang Sarlet, Ingo. “As dimensões da dignidade da Pessoa Humana”, en Wolfgang Sarlet, Ingo (Org.).
Dimensões da Dignidade. Ed. Livraria Do Advogado. Porto Alegre. 2005, p. 26.
14 Sentencia Corte Interamericana de Derechos Humanos, Caso Velásquez Rodríguez vs. Honduras. Serie C
Nº 4, fundamento 158.
482
El Bloque Constitucional de Derechos Fundamentales y su Aplicación en Chile y América Latina
15 BvF 1/69, 2 BvR 629/68 y 308/69, citada por Schawe, Jürgen. 2003. Cincuenta años de jurisprudencia del
Tribunal Constitucional Federal Alemán. Montevideo. Ediciones Jurídicas Gustavo Ibáñez y KAS, pág. 17.
16 Delperée, Francis. “O Derecho a dignidade humana”, en Barros, S.R., Zilveti, F.A. (Coords). Direito
Constitucional. Estudos en Homenagem a Manuel Goncalves Ferreira Filho, Ed. Dialetica, São Paulo, 1999,
p. 153.
17 Alegre Martínez, M. A. La dignidad de la persona como fundamento del ordenamiento constitucional espa-
ñol. Universidad de León, León, España, 1996, p. 19. Pérez Luño, A.E. Derechos Humanos, Estado de
Derecho y Constitución. Quinta edición. Ed. Tecnos, Madrid, 1995. p. 318.
483
Humberto Nogueira Alcalá
18 Bidart Campos, Germán. 1998. La interpretación de los derechos humanos en la jurisdicción internacional
e interna. En V Congreso Iberoamericano de Derecho Constitucional. Ed. UNAM, México, pág. 98.
484
El Bloque Constitucional de Derechos Fundamentales y su Aplicación en Chile y América Latina
19 Maritain, Jacques. Acerca de la filosofía de los derechos del hombre. Ed. Debate. Madrid, España, 1991, pag. 116.
20 Ferrajoli, Luigi. Derechos y garantías. op. cit., pag. 65.
21 Ferrajoli, Luigi. Op. cit., pág. 63.
485
Humberto Nogueira Alcalá
de cada Estado en forma específica, sin considerar los derechos implícitos. A su vez,
derechos humanos ha sido utilizada tradicionalmente para identificar los derechos
asegurados por fuentes del derecho internacional.
Consideramos que esta perspectiva ha tendido a superarse en la doctrina y en el
derecho positivo, en la medida que en los ordenamientos constitucionales latinoame-
ricanos tradicionalmente han reconocido la existencia de derechos implícitos, ade-
más, se ha ido desarrollando una perspectiva de confluencia de los derechos asegura-
dos directamente en la Constitución con los derechos provenientes de fuente interna-
cional y constitucionalizados por la propia Carta Fundamental.
486
El Bloque Constitucional de Derechos Fundamentales y su Aplicación en Chile y América Latina
487
Humberto Nogueira Alcalá
La Constitución Boliviana de 2009, en su artículo 13, II, precisa que “Los dere-
chos que proclama esta Constitución no serán entendidos como negación de otros
derechos no enunciados”.
488
El Bloque Constitucional de Derechos Fundamentales y su Aplicación en Chile y América Latina
23 Bidart Campos, Germán, La interpretación del sistema de derechos humanos, Ed. Ediar, Buenos Aires,
Argentina, 1994 p. 58. En el caso chileno, ello ha sido aceptado por el Tribunal Constitucional, en su sen-
tencia ron nº 22 de 1995, en el que reconoció que si bien el texto literal constitucional del derecho a la liber-
tad de información (art. 19 Nº 12) no lo contempla, el derecho a ser informado es un derecho constitucio-
nal. Asimismo, la jurisprudencia de los tribunales superiores ordinarios (Cortes de Apelaciones y Corte
Suprema) en diversos fallos han reconocido el derecho a la propia imagen pese a no estar consignado en el
texto constitucional como derecho fundamental.
24 Häberle. Peter. El concepto de los derechos fundamentales. En Problemas actuales de los derechos funda-
mentales. Ed. Universidad Carlos III, Madrid, España, pág. 94.
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Humberto Nogueira Alcalá
A su vez, el profesor francés Louis Favoreu considera que por derechos funda-
mentales es necesario comprender “el conjunto de los derechos y libertades reconoci-
dos a las personas físicas como a las personas morales (de derecho privado o de dere-
cho público) en virtud de la Constitución pero también de los textos internacionales
y protegidos tanto contra el poder ejecutivo como contra el poder legislativo por el
juez constitucional o el juez internacional”.25
En este artículo utilizaremos el concepto de derechos fundamentales como dere-
chos reconocidos y asegurados jurídicamente a nivel nacional o internacional y que
vinculan a los Estados y a las personas.
Los derechos fundamentales pueden ser conceptualizados así como el conjunto
de facultades e instituciones que, concretan las exigencias de la dignidad, la libertad,
la igualdad y la seguridad humanas en cuanto expresión de la dignidad de los seres
humanos -considerados tanto en su aspecto individual como comunitario-, en un con-
texto histórico determinado, las cuales deben ser aseguradas, respetadas, promovidas
y garantizadas por los ordenamientos jurídicos a nivel nacional, supranacional e inter-
nacional, formando un verdadero subsistema dentro de estos.
La normativa jurídica constitucional chilena y comparada latinoamericana nos
permiten sostener que el derecho constitucional y el derecho internacional de los
derechos humanos no pueden seguir siendo considerados en forma compartímentali-
zada,26 sino que deben ser abordados como fuentes de un único sistema de protección
de los derechos que tiene por fundamento la dignidad de la persona humana, abor-
dándolos en forma integral, realizando una tarea de armonización e integración, eli-
minando prejuicios y visiones conflictuales, otorgándoles una visión convergente y
optimizadora de los derechos fundamentales.
Los atributos de los derechos fundamentales en el ámbito normativo están con-
formados por los elementos precisados tanto por la fuente normativa constitucional
como por la del derecho internacional. El derecho constitucional queda así delimita-
do por los contenidos de ambas normativas, aplicando siempre aquella que mejor pro-
tege el derecho, dándole la mayor fuerza expansiva, que constituye una exigencia insi-
ta en los mismos derechos.
Como señala Bidart Campos: “La fuente interna y la internacional se retroali-
mentan. Los egoísmos interpretativos, cualquiera sea su origen y cualquiera el méto-
do que empleen para reducir el sistema en vez de procurar su ampliación y plenitud,
no obedecen ni responden condignamente a la génesis y a la razón histórica del siste-
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ma de derechos, que nunca fue ni pudo ser – ni debe ser – de estrechez o angostamien-
to, sino de optimización en el marco histórico y situacional.”27
El Derecho Internacional de los Derechos Humanos es fuente del Derecho
Interno cuando contiene elementos que enriquecen al Derecho Interno, cuando agre-
gan un “plus” al contenido normativo de los derechos delimitados y configurados en
el derecho interno y viceversa, el sistema nacional de derecho enriquece al Derecho
Internacional de derechos humanos, buscando siempre la integralidad maximizadora
del sistema de derechos esenciales o humanos, todo lo que está reconocido en el artí-
culo 29 de la Convención Americana de Derecho Humanos y en el artículo 5º del
Pacto Internacional de Derechos Civiles y Políticos de Naciones Unidas.
El intérprete constitucional debe entender que existe una retroalimentación
recíproca entre fuente interna y fuente internacional recepcionada internamente en
materia de derechos fundamentales. En la misma perspectiva debe existir una retroa-
limentación entre el intérprete final del derecho interno y el intérprete final del dere-
cho regional o internacional de derechos humanos, especialmente, de aquel que el
Estado se ha comprometido a respetar y garantizar ante la comunidad internacional.
Por otra parte, los ordenamientos constitucionales latinoamericanos han ido
consolidando progresivamente en las constituciones del último tercio del siglo XX y
la primera década del siglo XXI la perspectiva que los derechos fundamentales no son
solo los derechos asegurados en el texto constitucional y los derechos implícitos, sino
que integran con rango constitucional los derechos en sus atributos y garantías que se
encuentran asegurados por los tratados internacionales ratificados y vigentes, sin per-
juicio de que una cantidad apreciable de constituciones otorgan a la fuente interna-
cional convencional de derechos humanos, en cuanto tal, jeraquía constitucional.
En esta perspectiva, a modo ejemplar pueden señalarse diversas constituciones
latinoaericanas.
La reforma constitucional argentina de 1994, incorpora a la Carta Fundamental,
en su artículo 75, numeral 22, que establece las atribuciones del Congreso, la especi-
ficación de los tratados de derechos humanos con jerarquía constitucional. Ellos son:
“la Declaración Americana de los Derechos y Deberes del Hombre, la Declaración
Universal de Derechos Humanos; la Convención Americana sobre Derechos
Humanos; el Pacto Internacional de Derechos Económicos Sociales y Culturales; el
Pacto Internacional de Derechos Civiles y Políticos y su protocolo Facultativo; la
Convención sobre la Prevención y la Sanción del delito de Genocidio; la Convención
Internacional sobre Eliminación de Todas las Formas de Discriminación Racial; la
Convención sobre la Eliminación de Todas las Formas de Discriminación contra la
Mujer; la Convención contra la Tortura y otros Tratos o Penas crueles, Inhumanas o
Degradantes; la Convención sobre los Derechos del Niño; en las condiciones de su
vigencia, tienen jerarquía constitucional, no derogan artículos alguno de la Primera
27 Bidart Campos, Germán. 1994. La interpretación de los derechos humanos, Buenos Aires, Ed. Ediar, pági-
nas 30-31.
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28 Dicha disposición establece lo siguiente: “Artículo 29. Normas de interpretación. Ninguna disposición de la
presente Convención puede ser interpretada en el sentido de: C) Excluir otros derechos o garantías que son
inherentes al ser humano o que se derivan de la forma democrática representativa de gobierno”
29 Sobre esta materia consultar Nogueira Alcalá, Humberto. 2003. Los derechos esenciales o humanos conte-
nidos en los tratados internacionales y su ubicación en el ordenamiento jurídico nacional: doctrina y juris-
prudencia. En Revista Ius et Praxis, año 9 Nº 1, páginas 403-466.
30 Ellos han sido incorporados al derecho interno mediante la Convención de Viena sobre Derecho de los
Tratados, ratificada por Chile y vigente desde 1981, cuyo artículo 53 determina: “una norma imperativa de
derecho internacional general es una norma aceptada y reconocida por la comunidad internacional de
Estados en su conjunto como norma que no admite acuerdo en contrario y que sólo puede ser modificada
por una norma ulterior de derecho internacional general que tenga el mismo carácter”.
31 La Convención de Viena establece en el artículo 26: “Todo tratado en vigor obliga a las partes y debe ser
cumplido por ellas de buena fe”, y en el artículo 27: “Una parte no podrá invocar las disposiciones de su
derecho interno como justificación del incumplimiento de un tratado.”.
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32 “Giroldi, Horacio y otro s/recurso de casación”, de 7 de abril de 1995. Fallos 318:514, considerandos 5 y 11º.
33 Hooft, Pedro Cornelio Federico c/ Buenos Aires, Provincia de s/ acción declarativa de inconstitucionalidad,
de 16 de noviembre de 2004. Fallos, 327:3294.
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“La Corte es conciente que los jueces y tribunales internos están sujetos al
imperio de la ley y, por ello, están obligados a aplicar las disposiciones vigentes
en el ordenamiento jurídico. Pero cuando un Estyado ha ratificado un tratado
internacional como la Convención Americana, sus jueces, como parte del aparta-
to del Estado, también están sometidos a ella, lo que les obliga a velar porque los
efectos de las disposiciones de la Convención no se vean mermadas por la aplica-
ción de leyes contrarias a su objeto y fin, y que desde un inicio carecen de efec-
tos jurídicos. En otras palabras, el Poder Judicial, debe ejercer una especie de ‘con-
trol de convencionalidad’ entre las normas jurídicas internas que aplican en los
casos concretos y la Convención Americana sobre Derechos Humanos. En esta
tarea el Poder Judicial debe tener en cuenta no solamente el tratado, sino también
la interpretación que del mismo ha hecho la Corte interamericana, intérprete
último de la Convención Americana”. Así la Corte suprema de Argentina aplica
la pauta de interpretación conforme a la Convención Americana como estandar
mínimo de respeto de derechos humanos, como asimismo el respeto y resguardo
de la jurisprudencia de la Corte Interamericana de Derechos Humanos.34
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“…forman parte del orden jurídico del sistema constitucional boliviano como parte
del bloque de constitucionalidad, de manera que dichos instrumentos internacionales
tienen carácter normativo y son de aplicación directa…” (así, SSCC 1494/2003-R,
1662/2003-R, entre otras).
A su vez, el Tribunal Constitucional de Bolivia, ha reconocido en su Sentencia
Constitucional 0664/2004-R de 6 de mayo de 2004, que la jurisprudencia de la Corte
Interamericana de Derechos Humanos es obligatoria para la jurisdicción interna:
35 Citada por Armijo, Gilbert. 2003. “La tutela supraconstitucional de los Derechos Humanos en Costa Rica”.
En Revista Ius et Praxis, año 9 Nº 1, Talca, Chile. Ed. Universidad de Talca, pág. 51.
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36 Sentencia del Tribunal Constitucional, Rol Nº 943-07-INA, de 10 de junio de 2008, considerando 16º.
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37 Sentencia del Tribunal Constitucional, Rol Nº 786-2007, de fecha trece de junio de 2007, considerandos 25º
a 28º.
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38 Sentencia del Tribunal Constitucional chileno, Rol Nº 740-07, de fecha 18 de abril de 2008, considerandos
45º, y 53º a 56º.
39 Sentencia de la Corte Suprema, Rol Nº 469-98, de fecha 9 de septiembre de 1998, citado por Cea Egaña, José
Luis. Derecho Constitucional Chileno. Tomo I, p. 236.
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40 Sentencia de la Corte Suprema, Rol Nº 559-04, de fecha 13 de diciembre de 2006, considerando 22º.
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En otra sentencia Rol Nº 4183-06, de dieciocho de abril de dos mil siete, la Corte
Suprema, reitera la misma perspectiva, señalando:
41 Sentencia de la Corte Suprema de Justicia, Sala Penal, Rol nº 3125 – 04, de fecha 13 de marzo de 2007. Las
negritas son nuestras.
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“Que tanto el artículo 187 del texto constitucional como su vigésimo sépti-
ma disposición transitoria deben ser interpretados en concordancia con la con-
sagración de las garantías judiciales del debido proceso que contiene la misma
Constitución ecuatoriana, que se han señalado en este fallo, y con las reconoci-
das en los instrumentos internacionales vigentes en materia de derechos huma-
nos, de obligatoria aplicación para el Ecuador y, por tanto, de todos los órganos
del Poder Público, incluyéndose, naturalmente, los que ejercen jurisdicción, tal
como lo ordenan los artículos 17 y 18 de la Constitución.
…………………
“Que, el artículo 8.1 de la Convención Americana sobre Derechos Humanos,
dentro de las garantías judiciales, establece que el juez o tribunal encargado de la
sustanciación de cualquier acusación penal debe ser competente, independiente e
imparcial, como elementos esenciales del debido proceso legal;
“Que, como lo ha señalado la Corte Interamericana de Derechos Humanos
‘la jurisdicción militar ha sido establecida por diversas legislaciones con el fin de
mantener el orden y la disciplina dentro de las fuerzas armadas. Inclusive, esta
jurisdicción funcional reserva su aplicación a los militares que hayan incurrido
en delito o falta dentro del ejercicio de sus funciones y bajo ciertas
circunstancias’, agregando el Alto tribunal que, ‘cuando la justicia militar asume
42 Sentencia de la Corte Suprema de Justicia, Rol Nº 4183-06, de deiciocho de abril de dos mil siete, conside-
rando 10º.
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43 Citada por Morales Tobar, Marcos. 2003. “Derechos Humanos y los tratados que los contienen en el dere-
cho constitucional y la jurisprudencia en el Ecuador”, en Revista Ius et Praxis, año 9 Nº 1, Talca, Chile, Ed.
Universidad de Talca, págs. 104-105.
44 Sala de lo Constitucional, Corte Suprema de Justicia de El Salvador, Caso Inconstitucionalidad de la ley anti
maras”, Sentencia 52-2003/56-2003/57-2003, de fecha 1º de abril de 2004, considerando 3º. Ver texto en
Revista Diálogo Jurisprudencial Nº 1 julio-diciembre 2006, Ed. IIDH-KAS-Instituto de Investigaciones
Jurídicas, UNAM, México, 2006, pp. 153-163.
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47 Sentencia de la Corte de Apelaciones de Santiago, Rol Nº 146-2006, de fecha 31 de julio de 2006, conside-
randos 5º y 6º. Revista Gaceta Jurídica Nº 313, Julio 2006, Ed. Lexis Nexis, Santiago, 2006, pp. 243-254. Las
negritas son nuestras.
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48 Sentencia de la Corte Suprema de Justicia, Sala Penal, Rol Nº 3125 – 04, de fecha 13 de marzo de 2007, con-
siderandos 31 – 33.
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Revista Fallos del Mes, septiembre de mil novecientos sesenta y nueve, páginas
223 a 224 y junio de mil novecientos setenta y cinco, página 90 y Alfredo
Etcheberry O.: “El Derecho Penal en la Jurisprudencia”, tomo I, Parte General,
Editorial Jurídica de Chile, reimpresión de la segunda edición, Santiago, Chile,
año dos mil dos, páginas 38 y 39).
Del mismo modo, la doctrina autorizada asevera que cuando se presenta
un posible conflicto con el derecho internacional, sea convencional o consue-
tudinario, el juez tiene en primer término la regla externa, toda vez que no es
de presumir que el legislador nacional haya querido infringir el derecho inter-
nacional. (Adolfo Veloso: “Algunos problemas acerca de las relaciones entre el
derecho internacional y el derecho chileno”, en Revista de Derecho de la
Universidad de Concepción, Nº 165, enero – diciembre de mil novecientos
setenta y siete, página 272 y Santiago Benadava: “Derecho Internacional
Público”, Editorial Jurídica de Chile, segunda edición, año mil novecientos
ochenta y dos, página 13). También la primacía de los Principios Generales del
Derecho Internacional ha sido reconocida desde los albores de nuestra
República, así la Lei de Garantías Individuales, de veinticinco de septiembre de
mil ochocientos ochenta y cuatro, Título Primero, que trata De las
Restricciones a la Libertad Individual en Jeneral refiere en su artículo 5º: las
disposiciones contenidas en los tres artículos precedentes no se aplican: 2º A
los que se dictaren en conformidad a tratados celebrados con naciones extran-
jeras o a los principios jenerales de derecho internacional, como, por ejemplo,
en el caso de extradición de criminales i de aprehensión de marineros deserto-
res (Pedro Javier Fernández: “Código Penal de la República de Chile, Explicado
y Concordado”, Imprenta Barcelona, segunda edición, Santiago, Chile, año mil
ochocientos noventa y nueve, página 426). En el mismo sentido Manuel Egidio
Ballesteros sostiene “y con ser sólo un cuerpo de doctrinas, el derecho interna-
cional es sin embargo, de aplicación preferente a las leyes positivas de carácter
interno, en aquellas cuestiones regidas por él” (Manuel Egidio Ballesteros: “La
Ley de Organización y Atribuciones de los Tribunales en Chile”, tomo I,
Santiago, Chile, año mil ochocientos noventa, página 571).
El gobierno chileno ha tomado la misma posición tanto en lo atinente al
derecho internacional convencional como del consuetudinario. Así, la Asesoría
Jurídica del Ministerio de Relaciones Exteriores, por ejemplo, en el caso en que
un Tribunal de Menores había decretado orden de arraigo por dos muchachos
que se encontraban, junto a su madre, asilados en una embajada con posteriori-
dad al pronunciamiento militar de septiembre de mil novecientos setenta y tres,
al considerar que: “por sobre la resolución judicial emanada del referido tribunal
de menores corresponde aplicar las normas de Derecho Internacional que
gobiernan la institución del asilo”. (Informe Nº 96 de la Asesoría Jurídica del
Ministerio de Relaciones Exteriores de Chile, de catorce de noviembre de mil
510
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49 Sentencia de la Corte Suprema de Justicia, Sala Penal, Rol Nº 3125 – 04, de fecha 13 de marzo de 2007, con-
siderando 36º. Las negritas son nuestras.
50 Sentencia de la Corte Suprema de justicia, Sala Penal, Rol Nº 559-04, de fecha 13 de diciembre de 2006,
considerandos 22 – 24.
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Humberto Nogueira Alcalá
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El Bloque Constitucional de Derechos Fundamentales y su Aplicación en Chile y América Latina
125. En esta misma línea de ideas, esta Corte ha establecido que “[s]egún
el derecho internacional las obligaciones que éste impone deben ser cumplidas
de buena fe y no puede invocarse para su incumplimiento el derecho interno”.
Esta regla ha sido codificada en el artículo 27 de la Convención de Viena sobre
el Derecho de los Tratados de 1969”.51
La Corte Interamericana establece así que constituye una obligación de las juris-
dicciones nacionales, a la luz del artículo 2º de la Convención Americana sobre
Derechos Humanos, aplicar preferentemente las normas convencionales sobre el
derecho interno cuando este último no alcanza los estándares mínimos exigidos por
el derecho internacional vinculante en materia de derechos humanos, estando dicha
obligación fundada en el cumplimiento de buena fe de las obligaciones internaciona-
les, el cual constituye principio imperativo de derecho internacional generando las
consiguientes responsabilidades internacionales.
V. Consideraciones finales
513
Humberto Nogueira Alcalá
dentro sus competencias, remover los obstáculos que posibiliten el libre y pleno ejer-
cicio de los derechos como asimismo maximizar el plexo de derechos y garantías de la
persona humana.
El deber de promover los derechos también se concreta a través de una adecua-
da interpretación de ellos, ya que los derechos no son las normas, por tanto, cuando
faltan normas debe producirse la integración para suplir la falta de reconocimiento
normonológico y no afirmar que porque no hay norma no hay derecho. El operador
jurídico debe tener la flexibilidad de buscar una solución acorde con el espíritu del sis-
tema de derechos, de acuerdo con su objeto y su finalidad, teniendo en consideración
el contexto y la razón histórica, como asimismo, los valores que explicita el sistema
jurídico. Ello implica negar la posición reduccionista para la protección de la persona
y de sus derechos esenciales.
Nada impide, en una perspectiva técnico jurídica, la introducción de garantías de
los derechos esenciales o humanos por vía de normas de derecho interno o provenien-
tes del derecho internacional que constituyan un “plus” respecto de las normas vigen-
tes, ya que ello cumple la finalidad de asegurar y de promover tales derechos que es
un deber constitucional de todos los órganos y agentes estatales. La introducción de
normas que mejoren el contenido de derechos y sus garantías no pueden ser conside-
radas inconstitucionales, si se aplican las reglas interpretativas “favor homine” o
“favor persona” y se tiene presente el desarrollo progresivo de los derechos.
514
Integração e Diálogo Constitucional na América do Sul
Virgílio Afonso da Silva1-2
Sumáárioo: I. Duas dicotomias II. Integração institucional-legal e integração argumentativa III. O significado da inte-
gração argumentativa: diálogos constitucionais IV. A experiência do diálogo constitucional na América do Sul
V. Conclusão.
1 Gostaria de aqui expressar o meu agradecimento ao Instituto Max Planck de Direito Público Comparado e
Direito Internacional Público, na pessoa de seu diretor, Prof. Dr. Armin von Bogdandy, pelo convite para
participar, em novembro de 2008, do colóquio Anspruch und Realität der Integration in Südamerika: Das
Menschenrechtssystem als erfolgreiches Beispiel. Não poderia também deixar de expressar, de forma espe-
cial, minha gratidão a Mariela Morales Antoniazzi, pelo empreendedorismo, pela paciência e pela hospita-
lidade incomparáveis. Agradeço também a Conrado Hübner Mendes, Diogo R. Coutinho e Evorah Lusci
Costa Cardoso a atenta leitura e os comentários a versões preliminares deste texto.
2 Professor Titular de Direito Constitucional na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
3 Anne-Marie Slaughter, "A Typology of Transjudicial Communication", University of Richmond Law
Review 29 (1994), p. 99.
4 Cf. Wolfram Goetz, "Kinder des Olymp", Die Zeit 61:50 (7.12.2006), p. 65.
515
Virgílio Afonso da Silva
no seminário que deu origem ao presente livro.5 Apenas procurei agregar alguns
dados concretos e números sobre a disseminação, no Brasil, de idéias constitucionais
produzidas nos outros países da América do Sul.
Para tentar alcançar seus modestos objetivos, este texto está estruturado em qua-
tro seções principais, às quais se segue uma conclusão. A primeira seção é dedicada a
expor brevemente as duas dicotomias que dominam o debate sobre integração jurídi-
ca. A seção seguinte procura demonstrar que essas dicotomias abrangem apenas aqui-
lo que aqui é chamado de integração institucional-legal, que, no entanto, não repre-
senta todo o processo de integração, que pode também adquirir formas que aqui foram
chamadas de argumentativas. A uma breve exposição do que poderia ser uma dessas
formas de integração formal - a livre migração de idéias constitucionais - é dedicada
a terceira seção. A quarta seção, por fim, ocupa-se com alguns fatos e números acerca
do livre trânsito de informações, idéias, teorias e critérios de decisão judicial entre o
Brasil e os outros países da América do Sul.
I. Duas dicotomias
5 Nesse sentido, como o presente texto tem origem nas exposições orais que fiz no colóquio mencionado na
primeira nota de rodapé, ele mantém certo caráter de informalidade, ainda que seja um texto um pouco
mais desenvolvido do que aquele apresentado oralmente.
6 Cf., por todos, Flávia Piovesan, Direitos humanos e o direito constitucional internacional, 7ª ed., São Paulo:
Saraiva, 2006, pp. 51-80.
7 Especialmente a partir de 1977, com a decisão no RE 80.004.
516
Integração e Diálogo Constitucional na América do Sul
8 Cf., apenas como exemplo, Paulo Borba Casella, União Européia: instituições e ordenamento jurídico, São
Paulo: LTr, 2002; Alberto Amaral Júnior & Michelle Ratton (orgs.), União Européia, São Paulo: Aduaneiras,
2002.
517
Virgílio Afonso da Silva
de integração mais sólida. Essa pergunta parece ser ainda mais procedente se tivermos
em mente a dificuldade que os países da América do Sul têm com a consolidação de
suas próprias instituições nacionais.
Neste ponto, uma indagação surge naturalmente: que tipo de integração é possí-
vel sem (ou com poucas) instituições comuns? A resposta é: um tipo talvez mais tími-
do, mas não menos real e efetivo, de integração jurídica. Uma integração baseada em
um diálogo constitucional transnacional, que pretendo explorar a seguir.
O debate sobre empréstimos constitucionais, ainda que não seja novo, cada vez
mais recebe a atenção dos constitucionalistas.9 Ainda assim, não há, até agora, um
conceito unívoco de empréstimo no âmbito constitucional. Em um sentido mais estri-
to, empréstimos constitucionais envolvem a importação de regras da constituição de
um país para a constituição de outro. Nesse sentido, empréstimo constitucional seria
o equivalente àquilo que Alan Watson, há mais de três décadas, chamou de transplan-
te legal.10 Ou seja: nesse sentido mais estrito, empréstimos constitucionais seriam o
mesmo que os transplantes legais sempre foram para o direito privado comparado em
geral.11 Ainda que essa idéia de empréstimo (como transplante) possa ter algum inte-
resse para a discussão sobre integração, esse interesse é muito limitado.
É possível, contudo, falar em empréstimo constitucional em um sentido mais
amplo. É nesse sentido mais amplo que já empreguei a expressão em outros traba-
lhos.12 Nessa acepção, empréstimos são mais do que um simples transplante de regras
escritas, e isso por duas razões principais: em primeiro lugar, porque os empréstimos
constitucionais podem se manifestar não apenas no âmbito constituinte, mas também,
9 Cf., por exemplo, os textos do simpósio "Constitutional Borrowing", publicados em International Journal of
Constitutional Law 1 (2003), pp. 177-324.
10 Cf. Alan Watson, Legal Transplants: An Approach to Comparative Law, Edinburgh: Scottish Academic
Press, 1974.
11 Para uma análise recente sobre transplantes constitucionais, cf. Morton J. Horwitz, "Constitutional
Transplants", Theoretical Inquiries in Law 10:2 (2009): 535-560.
12 Cf. Virgílio Afonso da Silva, A constitucionalização do direito: os direitos fundamentais nas relações entre
particulares, São Paulo: Malheiros, 2008, pp. 135-136; Virgílio Afonso da Silva, "Os direitos fundamentais
e a lei: a constituição brasileira tem um sistema de reserva legal?", in Cláudio Pereira Souza Neto, Daniel
Sarmento, & Gustavo Binenbojm (orgs.), Vinte anos da Constituição Federal de 1988, Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2009, pp. 607-615.
518
Integração e Diálogo Constitucional na América do Sul
Como visto acima, a idéia de transplante é pouco interessante para os fins deste
trabalho porque implica tão-somente uma cópia de um texto constitucional (ou legal).
O que interessa aqui - e, assim me parece, o que mais interessa no debate sobre inte-
gração por meio do diálogo - é algo muito distinto. Integração implica algo mais livre
e multilateral. Por isso, a metáfora da migração talvez seja mais clara, especialmente
porque não se fala de migração de regras ou de textos, mas de idéias constitucionais.15
A importância dessa metáfora é bem resumida por Neil Walker:
"Migração [...] é um útil conceito ecumênico no contexto do movimento inte-
restatal de idéias constitucionais. Ao contrário do que ocorre com outros termos cor-
rentes na literatura de direito comparado, como 'empréstimo', 'transplante' ou
'intercâmbio', ele não supõe nada acerca das atitudes do doador e do receptor, ou acer-
ca das propriedades ou do destino do objeto legal transferido. Ao contrário [...] ele
refere-se a todos os movimentos entre os sistemas, evidentes ou velados, episódicos ou
incrementais, planejados ou evolvidos, iniciados pelo doador ou pelo receptor, aceitos
ou rejeitados, adotados ou adaptados, relativos a doutrinas substantivas ou a desenho
institucional ou a algum outro ethos ou sensibilidade constitucional mais abstratos ou
intangíveis".16
Nesse sentido, pode-se dizer que analisar a questão da integração jurídica por
meio do conceito de migração de idéias constitucionais pode libertar o jurista do deba-
13 Cf. Sujit Choudhry, "Migration as a New Metaphor in Comparative Constitutional Law", in Sujit Choudhry
(org.), The Migration of Constitutional Ideas, Cambridge: Cambridge University Press, 2006, pp. 13-25.
14 Muitos desses autores, no entanto, salientam que migração não é uma espécie de empréstimo, como ficará
claro na citação de Walker feita adiante.
15 Embora, como já mencionado acima, o termo "empréstimo" também possa ser utilizado nessa acepção. Cf.,
por exemplo, Virgílio Afonso da Silva, "Os direitos fundamentais e a lei: a constituição brasileira tem um
sistema de reserva legal?, p. 608, quando faço menção a três tipos de empréstimos: constitucional-legal (que
seriam os transplantes de regras positivas), teórico (que seria a migração de idéias e teorias) e jurispruden-
cial (que seria o diálogo entre tribunais).
16 Neil Walker, "The Migration of Constitutional Ideas and the Migration of the Constitutional Idea: the case
of the EU", in Sujit Choudhry (org.), The Migration of Constitutional Ideas, Cambridge: Cambridge
University Press, 2006, pp. 320-321.
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Virgílio Afonso da Silva
520
Integração e Diálogo Constitucional na América do Sul
mica nos Estados Unidos, a começar pelo voto dissidente do juiz Antonin Scalia,24
espalhando-se por diversos artigos publicados em revistas acadêmicas.25
O segundo exemplo é ainda mais interessante, porque é um exemplo claro de que
até mesmo o debate sobre vinculação pode ir além da resposta binária "vinculante x
não-vinculante". Este segundo exemplo é a decisão Görgülü, do Tribunal Constitu-
cional Federal alemão.26
Segundo o Tribunal Constitucional alemão, as decisões da Corte Européia de
Direitos Humanos não vinculam os tribunais alemães. Isso, no entanto, não faz com que
seja possível imaginar que a questão se resume - ao contrário do que afirmei acima - a
uma questão binária (ou existe ou não existe vinculação). O problema é mais complexo.
Segundo o Tribunal Constitucional alemão, embora não haja vinculação formal estrita,
desconsiderar as decisões da Corte Européia de Direitos Humanos não seria compatível
com a proteção dos direitos humanos e com o princípio do Estado de Direito.27 Nesse
sentido, não levar em consideração as decisões da Corte Européia seria tão equivocado
quanto tentar aplicá-las diretamente, como se houvesse uma supremacia pura e simples
das decisões dessa corte em face das decisões dos tribunais nacionais.28
O valor das decisões da Corte Européia seria, segundo o tribunal alemão, sobre-
tudo um valor argumentativo. É claro que, enquanto decisão judicial, ela vincula as
partes envolvidas em cada caso concreto, mas apenas no caso concreto. Para além
dessa vinculação no caso concreto, o dever dos tribunais nacionais é de levar em con-
sideração, na medida do metodologicamente sustentável, as normas da Convenção
Européia de Direitos Humanos, na forma como a Corte Européia as interpreta.29 Nesse
sentido, pode-se afirmar que as decisões da Corte Européia impõem sobretudo um
ônus argumentativo. Em outras palavras: o binômio "vinculação vs. não-vinculação"
entre jurisdições não é suficiente para compreender o problema. Trata-se de uma
questão de vinculação argumentativa, isto é, trata-se de receber e reprocessar idéias
supranacionais. Em resumo: a integração pode existir (e, de fato, existe) ainda que não
exista uma vinculação formal estrita às decisões supranacionais.
521
Virgílio Afonso da Silva
Por várias razões, não é tarefa simples avaliar o quanto existe de diálogo na
América do Sul. A primeira delas é a possibilidade de haver mais diálogo entre deter-
minados países e menos diálogo entre outros. Uma segunda razão é a possibilidade de
maior diálogo em determinados âmbitos e menor em outros. Diante disso, a análise
que se segue nos próximos tópicos tem necessariamente um duplo viés: seu ponto de
vista é brasileiro e constitucionalista. Outros enfoques podem, portanto, levar a out-
ras conclusões.
Ao menos desse ponto de vista definido acima, parece-me que um claro déficit
na integração jurídica na América do Sul é uma grande ausência de diálogo constitu-
cional transnacional32 entre tribunais, o que resulta em uma quase total ausência de
30 Cf., por todos, Regina v. Secretary of State For The Home Department, Ex Parte Daly, [2001] UKHL 26.
31 Mattias Kumm, "Democratic Constitutionalism Encounters International Law: Terms of Engagement", p. 292.
32 É importante ressaltar que "diálogo constitucional transnacional" não é sinônimo de transconstitucionalis-
mo, embora ambos os fenômenos tenham ligações estreitas. Sobre este último, cf., por todos, Marcelo
Neves, Transconstitucionalismo, São Paulo: Tese USP, 2009.
522
Integração e Diálogo Constitucional na América do Sul
migração de idéias constitucionais na região. No Brasil, em boa parte dos casos, pouco
se sabe o que ocorre nos países vizinhos e o que decidem seus tribunais.33 Às vezes
sabemos o que é decidido no Tribunal Constitucional alemão ou na Suprema Corte
dos Estados Unidos, mas não temos a menor idéia do que (e como) se decide na Corte
Suprema de Justiça da Argentina, no Tribunal Constitucional do Chile ou na Corte
Constitucional da Colômbia.34 Nem mesmo por meio das decisões da Corte
Interamericana as idéias migram de um país a outro (como ocorreu, por exemplo, com
a idéia de proporcionalidade entre Alemanha e Inglaterra, por meio da jurisprudência
da Corte Européia de Direitos Humanos35). No Brasil, a jurisprudência da Corte
Interamericana de Direitos Humanos não tem ressonância nas decisões dos tribunais
nacionais.36 Como salienta Evorah Cardoso, "[a] principal deficiência do sistema inte-
ramericano hoje está no diálogo surdo que se estabelece entre suas decisões e as insti-
tuições domésticas",37 situação essa que, no caso brasileiro, é sedimentada pela falta de
familiaridade e, sobretudo, pela atitude refratária do judiciário brasileiro em relação
ao direito internacional em geral.38
Com isso, perde-se a oportunidade de, por meio da livre migração de idéias, forta-
lecer uma integração ainda insuficiente. Existem muitas causas para essa ausência de
diálogo. Pretendo aqui apenas apontar algumas, sem discutir possíveis soluções, porque
parece-me que, na maioria dos casos, a simples enunciação das possíveis causas é sufi-
ciente para imaginar as soluções. Como já foi ressaltado acima, meu foco de análise é a
experiência brasileira. Os 5 tópicos a seguir são bastante heterogêneos e pretendem
explorar diversas causas para o pequeno trânsito de idéias no continente. Inicia-se com
a causa mais geral, que não tem relação direta com o direito, mas que reflete a situação
com bastante precisão: o desconhecimento geral sobre nossos vizinhos (4.1). Os tópicos
seguintes (4.2 a 4.4) exploram diversas facetas desse desconhecimento no âmbito jurídi-
33 Embora com um pouco mais de freqüência se saiba o que escrevem os autores de alguns desses países vizi-
nhos, especialmente da Argentina.
34 Cf., sobre isso, o tópico 4.5, abaixo.
35 Cf. a decisão mencionada na nota 28. Cf. também Gordon Anthony, UK Public Law & European Law: The
Dynamics of Legal Integration, Oxford: Hart, 2002, pp. 170-177.
36 Para evitar mal-entendidos, é preciso salientar que essa afirmação restringe-se ao uso de decisões da
Corte Interamericana em âmbitos judiciais no Brasil. Não é objeto da análise a possível influência des-
sas e de outras espécies de decisões e recomendações - da Comissão Interamericana, por exemplo - na
elaboração de políticas públicas. Talvez o caso mais conhecido nesse último âmbito seja o da violência
contra as mulheres no Brasil, objeto de censura da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, e que
culminou com a elaboração da lei 11.340/2006, conhecida como "Lei Maria da Penha". Sobre a questão,
cf. o relatório 54/01 da Comissão Interamericana, disponível em http://www.cidh.oas.org/annual-
rep/2000port/12051.htm.
37 Evorah Lusci Costa Cardoso, Litígio estratégico e sistema interamericano de direitos humanos: análise de
casos da Corte Interamericana, mestrado, FD-USP, 2008, p. 124.
38 Nesse sentido, cf. Flávia Piovesan, "Brazil: Impact and Challenges of Social Rights in Courts", in Malcolm
Langford (org.), Social Rights Jurisprudence: Emerging Trends in International and Comparative Law,
Cambridge: Cambridge University Press, 2008, p. 190.
523
Virgílio Afonso da Silva
co, até culminar, no último tópico (4.5) com a constatação da total ausência de interes-
se do Supremo Tribunal Federal por um diálogo entre cortes na América do Sul.39
Ao longo deste texto, já se falou que integração (não apenas jurídica) não impli-
ca necessariamente a existência de instituições comuns. Integrar pressupõe conhecer
e compreender. Da mesma forma que, no âmbito jurídico, estamos mais abertos a
conhecer e a estudar o que vem dos Estados Unidos e da Europa do que aquilo que
vem dos países vizinhos, em outros âmbitos - político, cultural, social - o mesmo fenô-
meno se repete. A criação de uma espécie de identidade sul-americana ou de um sen-
timento de pertencimento a uma comunidade supranacional supõe conhecer o que se
passa nos países vizinhos. A imprensa, nesse âmbito, tem um papel determinante. Nos
jornais, revistas, TVs e rádios europeus, as notícias do continente ocupam um lugar de
destaque. Há canais de TV dedicados quase que exclusivamente a notícias européias
(Euronews, por exemplo), além de projetos conjuntos binacionais, como o caso da
emissora de TV arte, produto de uma cooperação franco-germânica.
No que diz respeito ao Brasil e à América do Sul, a "integração por meio da notí-
cia" é praticamente inexistente. Nos jornais, nem mesmo nos cadernos especialmente
dedicados às notícias internacionais é possível encontrar com freqüência alguma
informação sobre os outros países da América do Sul. Embora sem pretender qualquer
relevância estatística, um pequeno exemplo pode ser elucidativo. Na primeira semana
de junho de 2009, o maior jornal do país – a Folha de São Paulo - publicou apenas 6
textos sobre a América do Sul, totalizando 1968 palavras. Nessa primeira semana, em
4 dias não houve notícia alguma da região.40 Apenas para se ter uma idéia do que isso
significa, o mesmo jornal publicou, no mesmo período, 10 textos sobre a Inglaterra,
totalizando 3818 palavras. Ou seja: sobre um único país europeu, houve praticamen-
te o dobro de conteúdo informativo. Sobre a Coréia do Norte, foram publicados 5 tex-
tos, totalizando 1751 palavras, quase o mesmo espaço dedicado, no mesmo período, a
todos os países da América do Sul. Dentre as notícias sobre a América do Sul, não
havia nenhuma notícia sobre o Chile, o Uruguai, o Paraguai e o Equador.41
Mas, se a leitura do caderno dedicado às notícias internacionais já não é muito
favorável para se saber o que ocorre nos países vizinhos, o cenário é ainda menos pro-
missor nos cadernos de cultura, por exemplo. No mesmo período mencionado acima,
não se pode encontrar nenhuma notícia sobre a América do Sul. E o resultado não
seria muito diferente se o período fosse ampliado para um mês ou um ano de notícias.
39 Neste ponto, é interessante notar que, embora o STF e seus ministros estejam em freqüente contato com
membros de outros tribunais do continente, isso parece não refletir em sua jurisprudência.
40 Nos dias 1º, 2, 4 e 5 de junho.
41 E, claro, também nenhuma notícia sobre a Guiana, a Guiana Francesa e o Suriname.
524
Integração e Diálogo Constitucional na América do Sul
42 http://www.direitouerj.org.br/2005/index.php?id_pagina=1040200.
43 http://www.proacad.ufpe.br/cursos/perfis_08/direito_perfil_0805.pdf.
44 http://www1.ufrgs.br/graduacao/xInformacoesAcademicas/curriculo.php?CodCurso=310&
CodHabilitacao=57&CodCurriculo=177&sem=2009012.
525
Virgílio Afonso da Silva
45 https://www.siga.ufrj.br/sira/temas/zire/frameConsultas.jsp?mainPage=/repositorio-curriculo/9BAE61EE-
92A4-F713-002D-7A1004A03372.html.
46 http://www.serverweb.unb.br/matriculaweb/graduacao/curso_dados.aspx?cod=43.
47 http://sistemas2.usp.br/jupiterweb/jupColegiadoMenu.jsp?codcg=2&tipo=D&nomclg=Faculdade
+de+Direito.
48 Essa pesquisa não tem pretensão de relevância estatística. Em primeiro lugar, porque se ocupa de apenas
poucas faculdades de direito; e, em segundo lugar, porque não é possível saber com certeza, apenas pela lei-
tura de ementas e programas, o que de fato é ensinado, lido e discutido nos cursos em questão.
49 Além das bibliotecas do próprio Senado Federal, a base de dados inclui as bibliotecas da Advocacia Geral da
União, da Câmara dos Deputados, da Câmara Legislativa do Distrito Federal, do Ministério da Justiça, do
Ministério do Trabalho e Emprego, da Procuradoria Geral da República, do Superior Tribunal de Justiça, do
Superior Tribunal Militar, do Supremo Tribunal Federal, do Tribunal de Contas do Distrito Federal, do
Tribunal de Contas da União, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e do Tribunal Superior do Trabalho.
526
Integração e Diálogo Constitucional na América do Sul
Embora seja possível tentar explicar a pouca quantidade de artigos sobre a Corte
Interamericana por meio do fato de que o Brasil reconheceu a jurisdição da CIDH ape-
nas em 1998, essa explicação seria incompatível com a existência de um número maior
de artigos sobre a Corte Européia, já que, nesse caso, nem ao menos faz sentido em se
falar em reconhecimento de jurisdição.
A produção em nível de pós-graduação de uma das principais faculdades de
direito do país - a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - também é sin-
tomática. Uma pesquisa por "Corte Interamericana" no banco de dados de teses dessa
faculdade50 retorna apenas 3 obras.51
527
Virgílio Afonso da Silva
Por fim - e, de certa forma, como conseqüência das quatro razões anteriores - é
possível afirmar que há uma utilização muito pouco significativa de idéias constitu-
cionais desenvolvidas em outros países da América do Sul ou da América Latina, bem
como uma ínfima atenção às decisões da Corte Interamericana e de tribunais nacio-
nais de outros países da América do Sul no discurso jurídico brasileiro, sobretudo no
âmbito dos tribunais.
Uma pesquisa no banco de dados do Supremo Tribunal Federal52 dá uma idéia
do cenário atual. Foram procuradas decisões que fizessem menção à jurisprudência
dos seguintes tribunais: Corte Interamericana de Direitos Humanos,53 Corte Suprema
de Justiça da Argentina,54 Tribunal Constitucional do Chile55 e Corte Constitucional
da Colômbia.56 Além desses tribunais, foram também pesquisadas referências à
Suprema Corte dos Estados Unidos57 e ao Tribunal Constitucional Federal da
Alemanha,58 para se ter uma idéia da freqüência com que se citam decisões de tribu-
nais estrangeiros. Esse último passo é necessário porque um pequeno número de refe-
rências a decisões de tribunais de países da América do Sul ou à própria Corte
Interamericana de Direitos Humanos poderia significar apenas e tão-somente uma
prática decisória refratária à consideração de decisões estrangeiras em geral, como
ocorre em alguns países do mundo, especialmente nos Estados Unidos. O resultado,
52 http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/pesquisarJurisprudencia.asp.
53 Expressão de busca utilizada: corte adj interamericana.
54 Expressão de busca utilizada: corte adj2 suprema adj3 argentina.
55 Expressões de busca utilizadas: tribunal adj2 constitucional adj3 chile; tribunal adj2 constitucional adj3 chi-
leno; corte adj2 constitucional adj3 chile; corte adj2 constitucional adj3 chilena.
56 Expressões de busca utilizadas: tribunal adj2 constitucional adj3 colômbia; tribunal adj2 constitucional adj3
colombiano; corte adj2 constitucional adj3 colômbia; corte adj2 constitucional adj3 colombiana.
57 Expressões de busca utilizadas: suprema adj corte adj americana; suprema adj corte adj norte-americana;
"supreme court"; "suprema corte dos estados unidos".
58 Expressões de busca utilizadas: tribunal adj2 constitucional adj3 alemão; corte adj2 constitucional adj3
alemã; bundesverfassungsgericht.
528
Integração e Diálogo Constitucional na América do Sul
no entanto, parece mostrar que o cenário não é exatamente esse. A tabela a seguir
resume a situação:59
Aqui, mais uma vez, não faz sentido procurar explicar os dados por meio do
argumento segundo o qual o Brasil reconheceu a jurisdição da Corte Interamericana
de Direitos Humanos apenas em 1998 e que, desde então, foi parte em apenas duas
decisões contenciosas.63 Quando aqui se fala em referência a decisões de outros tri-
bunais, não se quer fazer menção à idéia de precedente vinculante. O que se preten-
deu aqui explicitar foi o uso argumentativo de decisões de outros tribunais, razão
pela qual foram incluídas decisões não apenas da Corte Interamericana, mas tam-
59 Três ressalvas são aqui necessárias: (1) Foram excluídas da amostra de análise as decisões em extradições e
cartas rogatórias, porque as referências a tribunais estrangeiros, nesses casos, não se relacionam com o obje-
to do presente estudo; (2) A presença de um dos termos de pesquisa mencionados nas notas anteriores em
alguma decisão do STF não significa necessariamente que haja uma referência específica a alguma decisão
dos tribunais em questão, porque (a) a referência pode ser genérica; e (b) o termo de pesquisa pode ser o
título de alguma obra sobre esses tribunais; e (3) o banco de dados do STF não abarca todas as suas decisões,
especialmente no caso das decisões monocráticas; isso significa que pode haver outras referências a decisões
de tribunais estrangeiros na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
60 Entre a exposição oral deste trabalho no seminário mencionado na primeira nota de rodapé do texto e o pre-
sente momento, foi proferida a decisão no RE 511.961, sobre a exigência de diploma de curso superior para
o exercício da profissão de jornalista. Em seu voto nessa decisão, o Min. Gilmar Mendes faz menção a prece-
dente da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Opinião Consultiva OC-5/85). No entanto, a decisão
no RE 511.961 não foi ainda publicada, razão pela qual não aparece nos resultados da pesquisa realizada.
61 Algumas das decisões citadas: Dread Scott v. Sandford (1857), Garrity v. New Jersey (1967), Linkletter v.
Walker (1965), Marbury v. Madison (1803), Mapp v. Ohio (1961), McCulloch v. Maryland (1819), Murray
v. United States (1988), Nardone v. United States (1939), Nix v. Williams (1984), Panhandle Oil Co. v. State
of Mississippi, (1928), Payton v. New York (1980), R.A.V. v. City of St. Paul (1992), Schenck v. United
States (1919), Segura v. United States (1984), Shaare Tefila Congregation v. Cobb (1987), Silverthorne
Lumber Co. v. United States (1920), Stovall v. Denno (1967), Sweezy v. New Hampshire (1957),
Terminiello v. Chicago (1949), Texas v. Johnson (1989), Virginia v. Black et al. (2003), Weeks v. United
States (1914), Wong Sun v. United States (1963).
62 Algumas das decisões citadas: BVerfGE 6, 32; BVerfGE 7, 198; BVerfGE 11, 218; BVerfGE 12, 113; BVerfGE
13, 318; BVerfGE 16, 130; BVerfGE 18, 85; BVerfGE 19, 268; BVerfGE 38, 288; BVerfGE 62, 117; BVerfGE
62, 230; BVerfGE 62, 338; BVerfGE 64, 389; BVerfGE 70, 288; BVerfGE 91, 93.
63 Nos casos Ximenes Lopes vs Brasil (julgado em 4 de julho de 2006) e Nogueira de Carvalho e outro vs Brasil
(julgado 28 de novembro de 2006). O Brasil também já foi parte em outros três casos que tramitam na
Comissão Interamericana e foram objeto de medidas provisórias por parte da Corte Interamericana: caso
Penitenciária Urso Branco, caso Penitenciaria "Dr. Sebastião Martins Silveira" e caso Complexo Tatuapé
(Febem).
529
Virgílio Afonso da Silva
V. Conclusão
64 Na América do Sul, talvez um dos casos mais atuais de diálogo fomentado por problemas jurídicos comuns
a vários países seja o debate sobre revisão de leis de anistia. Em alguns países - a Argentina talvez seja o prin-
cipal -, é perceptível a disposição para a interação com a jurisprudência da Corte Interamericana. Sobre a
questão, cf. Evorah Lusci Costa Cardoso, Litígio estratégico e sistema interamericano de direitos humanos:
análise de casos da Corte Interamericana, pp. 89-102.
65 O uso da primeira pessoa do plural, aqui, não é por acaso. Neste texto, sempre que se disse que há pouco
diálogo constitucional e menos trânsito de idéias entre o Brasil e os outros países da América, a intenção
não era simplesmente falar "dos outros", como se houvesse alguns culpados por esse fato, e como se o autor
do texto fosse uma ilha nesse mar de culpados. O texto, portanto, mais do que fazer uma crítica generaliza-
da "aos outros", faz uma auto-crítica.
66 Cf. Anne-Marie Slaughter, "A Typology of Transjudicial Communication", p. 119.
530
A Assim Designada Proibição de Retrocesso Social
e a Construção de um Direito Constitucional
Comum Latino-Americano1
Ingo Wolfgang Sarlet2
Sumáárioo: I. Considerações introdutórias II. Direitos Sociais e Proibição de Retrocesso: algumas aproximações
III. Conceito, fundamentação jurídico-constitucional e significado da proibição de retrocesso em matéria de direitos
sociais IV. Alguns parâmetros para aferição do alcance do princípio da proibição de retrocesso em matéria de direi-
tos sociais, com destaque para a evolução doutrinária e jurisprudencial latino-americana. V. Considerações finais:
alguns limites e desafios à formação de um direito constitucional comum latino-americano.
I. Considerações introdutórias
1 O texto constitui versão ligeiramente adaptada do original elaborado para integrar coletânea a ser publica-
da na Espanha em homenagem ao Professor Doutor Peter Häberle, mas que, considerando a temática e o
enfoque da abordagem, guarda intensa conexão com o tema da presente obra coletiva.
2 Doutor e Pós-Doutor pela Universidade de Munique, Alemanha. Professor Titular de Direito
Constitucional na Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, Brasil. Juiz de Direito e Professor da Escola Superior da Magistratura do Rio Grande do Sul.
Professor Visitante da Universidade Pablo de Olavide (Sevilha) e da Universidade Católica Portuguesa
(Lisboa). Bolsista e Pesquisador Visitante do Instituto Max-Planck de Direito Social Estrangeiro e
Internacional (Munique) e visiting researcher nas Faculdades de Direito da Universidade de Georgetown
e Harvard.
531
Ingo Wolfgang Sarlet
cional comum na esfera da América Latina, é algo que já iniciou, oferecendo um leque
de possibilidades viáveis, mas que segue esbarrando em dificuldades de expressiva
monta, que por vezes tendem a fazer fraquejar mesmo os mais otimistas. De qualquer
modo, é preciso reconhecer que a definição do que pode ser considerado um direito
constitucional comum não encontra necessariamente uma única resposta correta, a
depender dos parâmetros invocados.
Importante, ainda mais considerando o contexto no qual se situa a presente abor-
dagem, é a verificação de que, embora qualquer paralelismo direto e apressado entre
o quadro regional da Europa e o da América Latina seja equivocado, se não for objeto
de cuidadosa diferenciação e contextualização, se não é possível (ainda) se falar na
existência de um direito constitucional comum latino-americano similar ao que já
existe na Europa (embora mesmo no Velho Continente nem tudo esteja a correr da
forma idealizada por muitos!), a aproximação cada vez maior entre as diversas ordens
constitucionais nacionais constitui um fenômeno cada vez mais presente. Tal proces-
so ganhou relevo em especial após a derrocada (quase integral, já que não se podem
fechar os olhos em relação às manifestações autoritárias e populistas que seguem ocor-
rendo em alguns lugares) das ditaduras civis e militares que marcaram sua presença
por toda a América Latina em especial nos anos de 1960, 1970 e 1980, mediante a pro-
mulgação de um número expressivo de novas constituições, que demonstram a utili-
dade, não apenas, mas com particular destaque, da utilização mais efetiva, embora
sempre cautelosa, do direito comparado.
A demonstração, por sua vez, de que existem referenciais que indicam a forma-
ção de um direito constitucional comum no espaço latino-americano pode, por sua
vez, ser efetuada de diversas maneiras. Numa determinada perspectiva, é certo que a
análise dos textos constitucionais permite traçar um quadro comparativo e identificar
convergências e divergências. Em outro plano, também o labor da doutrina e da juris-
prudência, podem tanto contribuir para a construção de pontes e sua fortificação,
quanto ser causa de desintegração, mediante a recusa de um olhar atento e receptivo
para os lados. Em outras palavras, a sinergia textual pouco vale se não for correspon-
dida no plano da doutrina e (o que acaba, na prática, sendo inclusive mais grave) se
não for acompanhada de uma concretização pelo processo político e aplicação pela
jurisdição constitucional. Assim, é a partir da tríade dinâmica constituída de textos
normativos, doutrina (teorias) e jurisprudência, metódica difundida por Peter
Häberle,3 que necessariamente se poderá obter e avaliar adequadamente o processo
evolutivo do constitucionalismo, inclusive no que diz respeito à formação de um
direito constitucional comum.
De outra parte, é bom frisar que iremos nos centrar na análise de um instituto
jurídico em particular, objeto de incursões anteriores da nossa autoria, mas que agora
3 Cf. Peter Häberle, “Neue Horizonte und Herausforderungen des Konstitutionalismus”, in: EuGRZ 2006, p.
535, apenas para referir uma das mais recentes referências a respeito do tópico.
532
A Assim Designada Proibição de Retrocesso Social e a Construção
de um Direito Constitucional Comum Latino-Americano
Como bem averbou Peter Häberle, por ocasião de conferência organizada pelo
Instituto para o Federalismo de Friburgo, Suíça, em 1989, versando precisamente
sobre o tema dos direitos sociais no âmbito da reforma constitucional, embora o
necessário cuidado com uma inflação indesejável em matéria de direitos sociais (noção
que para ou autor abrange também os direitos culturais), tais direitos, em virtude de
sua umbilical relação com a dignidade da pessoa humana e a própria democracia,
constituem parte integrante de um autêntico Estado Constitucional de Direito,4 que,
por sua vez, assume a posição de tipologia modelar do moderno constitucionalismo, à
exceção daquilo que se pode designar de um constitucionalismo meramente textual ou
aparente.5 Com efeito, ainda de acordo com Peter Häberle, ao mesmo tempo em que
4 Cf. Peter Häberle, “Dignita’Dell’Uomo e Diritti Sociali nelle Costituzioni degli Stati di Diritto”, in:
Costituzione e Diritti Sociali, Éditions Universitaires Fribourg Suisse, 1990, p. 99-100-102.
5 Cf. Peter Häberle, in: EuGRZ 2006, cit., p. 533-34.
533
Ingo Wolfgang Sarlet
6 Cf., novamente, Peter Häberle, in: Costituzione e Diritti Sociali, cit., p. 100-101.
7 Cf. Peter Häberle, “Grundrechte im Leistungsstaat”, in: VVDStrL 30, 1972, p. 76.
8 Cf. Peter Häberle, in: EuGRZ 2006, p. 535
9 Com exceção da Constituição da Argentina, que não dispõe propriamente de um catálogo de direitos soci-
ais, além da previsão (artigo 14) da proteção do trabalho, bem como a previsão da competência do Congresso
para legislar em matéria de promoção de ações positivas para assegurar a igualdade de oportunidades em
diversos campos (art. 75, nº 23), as demais constituições latino-americanas consagraram, em menor ou
menor número, direitos sociais. Apenas para ilustrar, pois inviável a transcrição dos dispositivos de todas as
constituições, refere-se, por último, a nova Constituição da Bolívia (2009), que consagra, dentre outros, o
direito à proteção ambiental, o direito à saúde, o direito à seguridade social, a proteção do trabalhador, assim
como o direito à educação. Precisamente os direitos à saúde, educação, seguridade social e os direitos à pro-
teção do trabalhador são os direitos sociais mais reconhecidos no âmbito das constituições latino-america-
nas, com expressiva referência também à proteção da família e das crianças, assim como com crescente
inserção da proteção da cultura.
534
A Assim Designada Proibição de Retrocesso Social e a Construção
de um Direito Constitucional Comum Latino-Americano
10 Neste sentido, também a lição de Peter Häberle, in: Costituzione e Diritti Sociali, cit., p. 99. Dentre as cons-
tituições latino-americanas que contemplam cláusulas de abertura a outros direitos (embora não especifica-
mente em matéria de direitos sociais), citam-se, em caráter exemplificativo: Constituição da Nação
Argentina de 1853 (amplamente reformada em 1994): art. 33; Constituição Política do Estado da Bolívia de
2009: art. 13, II; Constituição Política da República do Chile de 1980 (com a reforma de 2005): art. 5º;
Constituição Política da Colômbia de 1991 (com a reforma de 2005): art. 94; Constituição Política da
República da Guatemala de 1985 (com a reforma de 1993): art. 44; Constituição Política da República da
Nicarágua de 1987 (com a reforma de 2007): art. 46; Constituição Política do Paraguai de 1992: art. 45;
Constituição Política do Peru de 1993 (com a reforma de 2005): art. 3º; Constituição da República do
Uruguai de 1967 (com as reformas até 1996): art. 6º; Constituição da República Bolivariana da Venezuela
de 1999: art. 22. Importante sinalar, que a Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, além de
uma cláusula geral de abertura a outros direitos (art. 5º, parágrafo 2º), refere expressamente uma abertura a
outros direitos dos trabalhadores (art. 7º, caput).
11 Com efeito, já se pode apontar como característica comum das constituições latino-americanas uma aber-
tura aos tratados internacionais em matéria de direitos humanos, mediante a previsão, em muitos casos, de
cláusulas expressas de recepção, ainda que variável a hierarquia atribuída aos documentos internacionais em
relação ao direito interno. Podemos citar, a título exemplificativo, a Constituição da República de Honduras
de 1982, disposto no artigo 16; a Constituição Política da República da Nicarágua de 1987, especificamente
no seu artigo 5º; a Constituição da Nação Argentina, no artigo 31; a Constituição Política do Estado da
Bolívia de 2009, no art. 13, IV, 410, II; a Constituição Política da República do Chile de 1980 ( reformada
de acordo com o plebiscito realizado em 1989), expresso no artigo 5º; a Constituição Bolivariana da
Venezuela de 1999, no art. 23; a Constituição Política do Paraguai de 1992, expresso no art. 145; a
Constituição Política da República do Equador de 2008, em seu art. 11.3, dentre outras.
12 Sobre o tema, v., em língua portuguesa, por último, Ricardo Lobo Torres, O Direito ao Mínimo Existencial,
Rio de Janeiro: Renovar, 2008.
13 Cf. a ponderação de Peter Häberle, in: Costituzione e Diritti Sociali, cit., p. 102, mediante expressa referên-
cia aos exemplos de Portugal e do Brasil, embora a possibilidade de ampliar o leque de exemplos, em se con-
siderando a evolução constitucional latino-americana mais recente.
14 Sobre José Casalta Nabais, Por uma liberdade com responsabilidade. Estudos sobre direitos e deveres fun-
damentais, Coimbra: Coimbra Editora, 2007, p. 103, que aponta para os riscos daquilo que designa de uma
panjusfundamentalização.
535
Ingo Wolfgang Sarlet
segue sendo um elemento caracterizador de uma face comum negativa. Tal crise, no
sentido de uma crise de efetividade, por sua vez, é comum – em maior ou menor esca-
la – a todos os direitos fundamentais, não podendo ser considerada uma espécie de
triste privilégio dos direitos sociais, precisamente pela conexão entre os direitos
sociais e o gozo efetivo dos assim designados direitos civis e políticos. Com efeito, tam-
bém a democracia, a cultura e o ambiente se ressentem da fragilidade dos direitos
sociais no que concerne à sua realização efetiva pelo menos para a ampla maioria dos
cidadãos latino-americanos.
Tais considerações, por sua vez, remetem já ao enfoque específico do nosso estu-
do, visto que também a noção de uma proibição de retrocesso, como se verá, é, em
certo sentido, comum a todos os direitos fundamentais. De outra parte, se considerar-
mos que a proibição de retrocesso em matéria de proteção e promoção dos direitos
sociais guarda relação com a previsão expressa de um dever de progressiva realização
contido em cláusulas vinculativas de direito internacional (como é o caso do pacto
internacional de direitos sociais, econômicos e culturais, de 1966, ratificado pela
ampla maioria dos estados latino-americanos, igualmente vinculados pela Convenção
Americana de 1969 e pelo Protocolo de San Salvador, que, por sua vez, complementa
a Convenção Americana ao dispor os direitos sociais15), poder-se-á mesmo afirmar
que pelo menos tanto quanto proteger o pouco que há em termos de direitos sociais
efetivos, talvez o que importa mesmo é priorizar o dever de progressiva implantação
de tais direitos e de ampliação da de uma cidadania inclusiva. Com efeito, progresso
como desenvolvimento sustentável, conciliando os eixos econômico, social e ambien-
tal, segue sendo possivelmente o maior desafio não apenas, mas especialmente para
Estados Constitucionais tidos como periféricos ou em fase de desenvolvimento.
De outra parte, independentemente de o quanto os deveres de progressividade
(em matéria de direitos sociais) e desenvolvimento possam (ou mesmo devam) ocupar
um lugar de destaque, segue sendo necessária uma preocupação permanente com a
consolidação e manutenção pelo menos dos níveis de proteção social mínimos, onde
e quando alcançados, nas várias esferas da segurança social e da tutela dos direitos
sociais compreendidos em toda a sua amplitude, inclusive como condição para a fun-
cionalidade da própria democracia e sobrevivência do Estado Constitucional. Ainda
mais em vista da instabilidade econômica que se verifica em escala global, assim como
em virtude dos efeitos perversos (já que não se pode desconsiderar uma série de con-
seqüências positivas16) da globalização, em particular no plano econômico, não se
pode simplesmente negligenciar a relevância do reconhecimento de uma proibição de
retrocesso como categoria jurídico-constitucional, ainda mais quando a expressiva
15 Sobre a evolução da proteção internacional dos direitos humanos, abrangendo o sistema interamericano, v.,
em especial, Flávia Piovesan, Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional, São Paulo:
Saraiva, 2006, designadamente p. 107 e ss. (parte I e II).
16 A própria formação de um direito constitucional comum, especialmente pela globalização da gramática dos
direitos humanos e fundamentais, pode ser citada como um exemplo.
536
A Assim Designada Proibição de Retrocesso Social e a Construção
de um Direito Constitucional Comum Latino-Americano
maioria das reformas não dispensa mudanças no plano das políticas públicas e da legis-
lação. Com efeito, dentre os diversos efeitos perversos da crise e da globalização eco-
nômica (embora não se possa imputar à globalização todas as mazelas vivenciadas na
esfera social e econômica), situa-se a disseminação de políticas de flexibilização e até
mesmo supressão de garantias dos trabalhadores (sem falar no crescimento dos níveis
de desemprego e índices de subemprego), redução dos níveis de prestação social,
aumento desproporcional de contribuições sociais por parte dos participantes do sis-
tema de proteção social, incremento da exclusão social e das desigualdades, entre
outros aspectos que poderiam ser mencionados. Assim, esquematizada, em termos
gerais e conscientemente sumários e incompletos, a relação entre os direitos sociais e
a assim designada proibição de retrocesso, passaremos, no próximo segmento, a enfo-
car mais de perto a proibição de retrocesso e seu possível papel no contexto da forma-
ção (e preservação) de um direito constitucional comum latino-americano.
537
Ingo Wolfgang Sarlet
17 Sobre o tema, v. o nosso A Eficácia dos Direitos Fundamentais, 9ª ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado,
p. 404 e ss. Para uma perspectiva de direito comparado, embora centrada na experiência norte-americana e
européia, v., em especial, Sergio M. Diaz Ricci, Teoria de la Reforma Constitucional, Buenos Aires, 2004.
No âmbito das constituições latino-americanas, verifica-se que pelo menos oito contemplam expressamen-
te limites materiais, como dão conta: Constituição da República de Honduras de 1982, art. 374; a
Constituição Política dos Estados Unidos Mexicanos de 1917, previsto no art. 136; a Constituição do Estado
Livre Associado de Porto Rico de 1952, art. 7º, seção 3; a Constituição Política da República do Equador de
2008, art. 441; a Constituição da República Dominicana de 1994, disposto no art. 119; a Constituição
Política de El Salvador de 1983, art. 248; a Constituição da República do Haiti, previsto no art. 284.4 e a
Constituição da República Bolivariana da Venezuela de 1999, art. 342. A Constituição Política da Colômbia
de 1991, da mesma forma como a Constituição da República de Cuba de 1976, embora não prevejam limi-
tes materiais, exigem, respectivamente nos artigos 337 e 137, um referendo quando as reformas se referi-
rem a direitos e garantias fundamentais.
18 Para o caso do Brasil, basta aqui recordar as contribuições indispensáveis, inclusive por terem influenciado
fortemente o discurso da efetividade constitucional que tem caracterizado especialmente o momento cons-
titucional posterior a 1988, de José Afonsa da Silva. Aplicabilidade das Normas Constitucionais, 7ª ed., São
Paulo: Malheiros, 2007, p. 117 e ss., neste particular, embora a significativa atualização da obra, mantendo-
se fiel, em termos gerais, ao entendimento sustentado nas edições publicadas ainda sob a égide da
Constituição de 1967-69. Trilhando a mesma linha argumentativa, v. Luís Roberto Barroso, O Direito
Constitucional e a Efetividade de suas Normas, Rio de Janeiro: Renovar, 1990, p. 106 e ss. (em edições mais
recentes, o autor também se refere à proibição de retrocesso como princípio implícito do direito constitu-
cional brasileiro). Igualmente associando a proibição de retrocesso à noção de eficácia negativa dos princí-
pios constitucionais, v. também Ana Paula de Barcellos, A eficácia jurídica dos princípios constitucionais,
O principio da dignidade da pessoa humana, Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 70 e ss.
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A Assim Designada Proibição de Retrocesso Social e a Construção
de um Direito Constitucional Comum Latino-Americano
19 Cf. Jorge Reis Novais, Direitos Fundamentais: Trunfos contra a maioria, Coimbra: Coimbra Editora, 2006,
p. 200.
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Ingo Wolfgang Sarlet
20 Cf., em especial, se pode inferir da maior parte das contribuições sobre o tema, versando sobre a experiên-
cia de diversos países, além da perspectiva internacional, que integram a excelente e atualizada coletânea
coordenada e organizada por Christian Courtis, Ní un paso atrás. La prohibición de regresividad en maté-
ria de derechos sociales, Buenos Aires, 2006 (com destaque para os relatórios da Argentina, Colômbia e
Perú), assim como, mais recentemente, com destaque igualmente para o caso colombiano, Rodrigo
Uprimny e Diana Guarnizo, “Es posible una dogmática adecuada sobre la prohibición de regresividad? Um
enfoque desde la jurisprudencia constitucional colombiana”, in: Revista Direitos Fundamentais & Justiça nº
3, 2008, Porto Alegre: HS Editora, p. 37 e ss.
21 Confira-se o nosso A Eficácia dos Direitos Fundamentais, op. cit., p. 436 e ss.
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A Assim Designada Proibição de Retrocesso Social e a Construção
de um Direito Constitucional Comum Latino-Americano
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Ingo Wolfgang Sarlet
Por outro lado, é preciso admitir que a própria segurança jurídica e os institutos
que lhe são inerentes, com destaque aqui para o direito adquirido, exigem uma com-
preensão que dialogue com as peculiaridades dos direitos sociais, inclusive no que diz
com a própria proibição de retrocesso, abandonando-se uma perspectiva individualista
e privilegiando-se, sem prejuízo da tutela dos direitos individuais, uma exegese afinada
com a noção de justiça social, razão pela qual, há quem sustente a necessidade de se
reconhecer um direito adquirido social,23 aspecto que, todavia, aqui não temos condi-
ções de aprofundar, mas que guarda relação com desenvolvimentos similares, como foi
o caso, na Alemanha, da releitura e ampliação do âmbito de proteção da garantia da pro-
priedade, no sentido de abranger algumas modalidades de direitos subjetivos públicos a
prestações na esfera da seguridade social, justamente com o intuito de atribuir a tais
posições jurídicas uma proteção jurídico-constitucional contra eventuais retrocessos.24
Neste mesmo contexto, afirmar que a proibição de retrocesso encontra funda-
mento também (embora jamais exclusivamente) na segurança jurídica e na dignidade
da pessoa humana, com as quais, embora guarde relação, não se confunde, também
não implica reconhecer à proibição de retrocesso caráter meramente instrumental.
Com efeito, além da circunstância de que a proibição de retrocesso não protege ape-
nas a dignidade da pessoa humana e o mínimo existencial, o que se afirma é que a pró-
pria noção de segurança jurídica, no âmbito de uma constituição que consagra direi-
tos sociais, não pode ficar reduzida às tradicionais figuras da tutela dos direitos adqui-
ridos ou da irretroatividade de certas medidas do poder público, exigindo, portanto,
uma aplicação em sintonia com a plena tutela e promoção dos direitos fundamentais
em geral, incluindo os direitos sociais. O reconhecimento de uma proibição de retro-
cesso como princípio-garantia jurídico (seja qual for o rótulo utilizado), se revela, por-
tanto, como necessário, pois parte das medidas que resultam em supressão e diminui-
ção de direitos sociais ocorre sem que ocorra uma alteração do texto constitucional,
sem que se verifique a violação de direitos adquiridos ou mesmo sem que se trate de
medidas tipicamente retroativas.
Dando seqüência à tentativa de definir os contornos da proibição de retrocesso,
é preciso lembrar aqui da hipótese – talvez a mais comum em se considerando as refe-
rências feitas na doutrina e jurisprudência – da concretização pelo legislador infra-
constitucional do conteúdo e da proteção dos direitos sociais, especialmente (mas não
exclusivamente) na sua dimensão positiva, o que nos remete diretamente à noção de
que o conteúdo essencial dos direitos sociais deverá ser interpretado (também!) no
23 Cf. Marcos Orione Gonçalves Correia, “Direito Adquirido Social”, in: Érica Paula Barcha Correia e Marcos
Orione Gonçalves Correia, Curso de Direito da Seguridade Social, 4ª ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 01 e ss.
24 Para maior desenvolvimento, v., de nossa autoria, “O Estado Social de Direito, a Proibição de Retrocesso e
a Garantia Fundamental da Propriedade”, in: Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, nº 17, Porto
Alegre, 1999, p. 111 e ss., trabalho no qual, contudo, centramos a nossa atenção na apresentação da “solu-
ção” germânica, com algumas considerações juscomparativas, inclusive apontando para a inadequação (pelo
menos em termos gerais) do modelo alemão ao sistema constitucional brasileiro.
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A Assim Designada Proibição de Retrocesso Social e a Construção
de um Direito Constitucional Comum Latino-Americano
25 Neste sentido, v. também Luis Fernando Calil de Freitas, Direitos Fundamentais: limites e restrições, Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 216.
26 Cf. Carlos Alberto Molinaro, Direito Ambiental. Proibição de Retrocesso, Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2007, especialmente p. 91 e ss.
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Ingo Wolfgang Sarlet
27 Cf., especialmente na seara dos direitos sociais, bem destaca Andreas Krell, Direitos Sociais e Controle
Judicial no Brasil e na Alemanha: os (Des) caminhos de um Direito Constitucional “Comparado”, Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2002, p. 42.
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A Assim Designada Proibição de Retrocesso Social e a Construção
de um Direito Constitucional Comum Latino-Americano
da por àqueles aos sistemas de seguridade social, o que, à evidência, não poderá dei-
xar de ser considerado nas linhas que se seguem. Assim, também a temática da proi-
bição de retrocesso reclama um tratamento constitucionalmente adequado e, portan-
to, nos termos da lição de Peter Häberle, também exige uma interpretação contextua-
lizada, referida à realidade (kontextbezogene Auslegung).28
Tal enfoque – diferenciado e contextualizado – assume feições ainda mais emer-
genciais quando nos damos conta que as constituições latino-americanas inserem-se
num ambiente significativamente diverso, por exemplo, do experimentado pelo cons-
titucionalismo europeu. Com efeito, além de as constituições terem, em boa parte e de
modo diferenciado entre si, um caráter marcadamente compromissário e dirigente,
importa endossar as palavras de Lenio Streck no sentido de que as promessas da
modernidade sequer foram minimamente cumpridas para a maioria dos habitantes da
América Latina, de tal sorte que a concepção de um Estado Constitucional, que mere-
ça a qualificação de um autêntico Estado Democrático (e social) de Direito, compreen-
dido como Estado da justiça material e que assegura uma igualdade de oportunidades
não passa, no mais das vezes, de um simulacro.29 Já por tais razões, verifica-se que se
a discussão em torno da proibição de retrocesso na esfera dos direitos sociais constitui
tarefa permanente, pelas mesmas razões resulta evidente que para as populações e
para o direito constitucional latino-americano, o problema maior ainda é o de dar
cumprimento eficiente e eficaz ao dever de progressiva concretização dos objetivos
sociais e dos direitos sociais constitucionalmente reconhecidos e assegurados, o que
não afasta a necessidade de se levar (muito) a sério a proibição de retrocesso, naquilo
onde mesmo o pouco que foi alcançado possa estar em risco. Pelo contrário, onde a
28 Cf. Peter Häberle, “Neue Horizonte und Herausforderungen des Konstitutionalismus”, in: EuGRZ 2006, p. 535
29 Neste contexto insere-se a (entre nós) célebre discussão a respeito da “sobrevivência” do constitucionalis-
mo dirigente, tal qual sustentado, originariamente, por José Joaquim Gomes Canotilho na sua obra
Constituição Dirigente e Vinculação do Legislador, Coimbra: Coimbra Editora, 1982, justamente em fun-
ção da revisão crítica levada a efeito pelo próprio Gomes Canotilho em diversos trabalhos mais recentes,
especialmente a contar da década de 1990, no que diz com as premissas basilares de sua antiga tese, bastan-
do aqui remeter o leitor ao prefácio redigido para a segunda edição da obra ora citada. Não sendo o caso de
adentrar aqui esta controvérsia, o que se verifica é que as mudanças no âmbito do pensamento do Professor
Gomes Canotilho sem dúvida devem ser enquadradas no seu devido contexto, já que nem o texto da
Constituição Portuguesa de 1976 guarda o mesmo perfil revolucionário e dirigente que lhe foi originaria-
mente atribuído, já que objeto de várias e relativamente profundas revisões, notadamente em face da inser-
ção de Portugal na União Européia e, portanto, seu enquadramento em uma ordem jurídica supranacional.
Por isso também nós – embora não de modo necessariamente coincidente com o de outros autores – segui-
mos sustentando que o paradigma da Constituição dirigente ainda cumpre um relevante papel no âmbito
do constitucionalismo pátrio e apresenta – mesmo hoje (e talvez por isso mesmo) – todo um potencial a ser
explorado. A respeito dessa temática, v., ainda, além do indispensável contributo de Lenio Luiz Streck,
Jurisdição Constitucional e Hermenêutica, Porto Alegre: Livraria do Advogado, especialmente p. 106 e ss.,
também as lições de Gilberto Bercovici, “A Problemática da Constituição Dirigente: algumas considerações
sobre o caso brasileiro”, in: Revista de Informação Legislativa, nº 142, Brasília: Senado Federal, abril/junho
de 1999, p. 35-51, assim como a oportuna coletânea organizada por Jacinto Nelson de Miranda Coutinho,
Canotilho e a Constituição Dirigente, Rio de Janeiro: Renovar, 2002, obra que reúne aportes de diversos
autores nacionais e retrata uma discussão sobre o tema travada com o próprio Gomes Canotilho.
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Ingo Wolfgang Sarlet
30 Cfr. Luís Roberto Barroso, O Direito Constitucional e a Efetividade de suas normas, 5ª ed., Rio de Janeiro:
Renovar, 2001, p. 158.
31 Neste sentido, aponta-se, entre outros, além do já referido entendimento de Luís Roberto Barroso, a lição
já clássica (mantida em edições mais recentes de sua obra) de José Afonso da Silva, Aplicabilidade das nor-
mas constitucionais, op. cit., p. 147 e 156 e ss.; Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, vol. IV,
op. cit., p. 397-99, Lenio Luiz Streck, Hermenêutica Jurídica e (m) crise, op. cit., p. 31 e ss., assim como,
Ana Paula de Barcellos, A eficácia dos princípios constitucionais..., op. cit., p. 68 e ss., que sustenta tratar-
se de um desdobramento de uma eficácia negativa dos princípios constitucionais. José Vicente dos S.
Mendonça, Vedação do Retrocesso..., op. cit., p. 218 e ss., muito embora sinalando que não se trata de uma
questão apenas atrelada à eficácia negativa das normas constitucionais.
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A Assim Designada Proibição de Retrocesso Social e a Construção
de um Direito Constitucional Comum Latino-Americano
do, para este efeito, a lição de Gomes Canotilho e Vital Moreira, as normas constitu-
cionais que reconhecem direitos sociais de caráter positivo implicam uma proibição
de retrocesso, já que “uma vez dada satisfação ao direito, este se transforma, nessa
medida, em direito negativo, ou direito de defesa, isto é, num direito a que o Estado
se abstenha de atentar contra ele”.32
De acordo com tal linha de entendimento, não é possível, portanto, admitir-se
uma ausência de vinculação do legislador (assim como dos órgãos estatais em geral) às
normas de direitos sociais, assim como, ainda que em medida diferenciada, às normas
constitucionais impositivas de fins e tarefas em matéria de justiça social, pois, se assim
fosse, estar-se-ia chancelando uma fraude à Constituição, pois o legislador – que ao
legislar em matéria de proteção social apenas está a cumprir um mandamento do
Constituinte – poderia pura e simplesmente desfazer o que fez no estrito cumprimen-
to da Constituição. Valendo-nos aqui da lição de Jorge Miranda (que, todavia, admite
uma proibição apenas relativa de retrocesso), o legislador não pode simplesmente eli-
minar as normas (legais) que concretizam os direitos sociais, pois isto equivaleria a
subtrair às normas constitucionais a sua eficácia jurídica, já que o cumprimento de um
comando constitucional acaba por converter-se em uma proibição de destruir a situa-
ção instaurada pelo legislador.33 Em outras palavras, mesmo tendo em conta que o
“espaço de prognose e decisão” legislativo seja variável, ainda mais no marco dos direi-
tos sociais e das políticas públicas para a sua realização,34 não se pode admitir que em
nome da liberdade de conformação do legislador o valor jurídico dos direitos sociais,
assim como a sua própria fundamentalidade, acabem sendo esvaziados.35 Tudo soma-
do, constata-se que também a problemática da proibição de retrocesso acaba guardan-
do forte relação com o tema da liberdade de conformação do legislador (em outras
palavras, da margem de ação legislativa) e as possibilidades e limites de seu controle,
em especial por parte da assim chamada jurisdição constitucional, no marco do Estado
Democrático de Direito.
A partir desta perspectiva e renunciando desde logo ao esgotamento e aprofun-
damento individualizado de todo o leque de razões passíveis de serem referidas, veri-
fica-se que, numa perspectiva jurídico-constitucional que pode ser considerada como
sendo substancialmente comum às diversas constituições latino-americanas, o princí-
pio da proibição de retrocesso social decorre – como já sinalizado – de modo implíci-
to do sistema constitucional,36 designadamente dos seguintes princípios e argumentos
32 Cfr. José Joaquim Gomes Canotilho e Vital Moreira, Fundamentos da Constituição, Coimbra: Coimbra
Editora, 1991, p. 131.
33 Cfr. Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, vol. IV, Coimbra: Coimbra Editora, 2000, p. 397 e ss.
34 Cf. Cristina Queiroz, Direitos Fundamentais Sociais, Coimbra: Coimbra Editora, 2006, p. 75.
Desenvolvendo o tópico no âmbito da proibição de retrocesso, v., da mesma autora, O Princípio da Não
Reversibilidade dos Direitos Fundamentais Sociais, Coimbra: Coimbra Editora, 2006, p. 83 e ss., cuidando
da vinculação do legislador aos direitos sociais.
35 Cf. Jorge Reis Novais, Direitos Fundamentais: Trunfos contra a maioria, op. cit., p. 190.
36 Neste sentido também Felipe Derbli, O Pricípio da Proibição de Retrocesso Social..., op. cit., p. 199 e ss.,
igualmente adotando a concepção de que se cuida de um princípio implícito e bem desenvolvendo o ponto.
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37 Aderindo a tal entendimento e enfatizando a relação entre o princípio da dignidade da pessoa humana e o
da proibição de retrocesso social, v., mais recentemente, Dayse Coelho de Almeida, “A fundamentalidade
dos direitos sociais e o princípio da proibição de retrocesso”, in: Inclusão Social, vol. 2, n. 1, out. 2006/mar.
2007, p. 118-124.
38 Cf. Peter Häberle, Nueve ensayos constitucionales y una lección jubilar, Lima: Palestra Editores, 2004, p.
95 e ss.
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A Assim Designada Proibição de Retrocesso Social e a Construção
de um Direito Constitucional Comum Latino-Americano
39 Cfr., dentre outros, Harmut Maurer,”Kontinuitätsgewähr und Vertrauensschutz”, in: Josef Isensee/Paul
Kirchhof (Org.), Handbuch des Staatsrechts der Bundesrepublik Deutschland, vol. III, p. 244 e ss., não obs-
tante o autor – assim como a doutrina e jurisprudência em geral – sejam bastante restritivos no que diz com
a admissão de uma auto-vinculação do legislador, temática que aqui não iremos desenvolver mas que tem
sido objeto de uma certa discussão na Alemanha, sob a rubrica de uma vinculação sistêmica do legislador,
desenvolvida essencialmente à luz do princípio da igualdade. Neste sentido, v., entre outros, Uwe Kischel,
“Systembindung des Gesetzgebers und Gleichheitssatz”, in: Archiv des öffentlichen Rechts, vol. 124, 1999,
p. 174-211. Entre nós, confira-se, sobre a proteção da confiança no Direito Público, o paradigmático con-
tributo de Almiro do Couto e Silva, “O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança) no Direito
Público brasileiro e o direito da administração pública de anular os seus próprios atos administrativos: o
prazo decadencial do art. 54 da lei do processo administrativo da União (Lei nº 9.784/99)”, in: Revista de
Direito Administrativo, Rio de Janeiro, nº 237, jul./set. 2004; Mais recentemente, v. Também a monografia
de Rafael Maffini, Princípio da Proteção Substancial da Confiança no Direito Administrativo Brasileiro,
Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2006.
40 Tal ponto de vista apenas poderia ser sustentado, em tese, em se partindo da premissa de que os direitos
sociais não podem (mesmo no que diz com seu conteúdo essencial) ser definidos em nível constitucional, a
exemplo do que parece propor Manuel Afonso Vaz, Lei e Reserva de Lei..., op. cit., p. 383-4, o que contra-
ria até mesmo a lógica do sistema jurídico-constitucional, notadamente no que diz com a função concreti-
zadora exercida pelo legislador e demais órgãos estatais.
41 Cfr. Luís Roberto Barroso, O direito constitucional e a efetividade de suas normas, op. cit., p. 158-9.
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42 Cf. Victor Abramovich e Christian Courtis, Los derechos sociales como derechos exigibles, Madrid: Trotta,
2002, p. 92 e ss. Aprofundando o tema, com destaque para o direito internacional e comparado, v., ainda,
Christian Courtis, “La prohibición de regresividad en materia de derechos sociales: apuntes introductorios”,
in: Christian Courtis (Ed), Ni un paso atrás, op. cit., p. 03-52., além dos demais ensaios constantes da cole-
tânea, destacando-se os trabalhos de Julieta Rossi (p. 79-116) e Magdalena Sepulveda (P. 117-152), ambos
versando sobre a jurisprudência do Comitê de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais, e de Magdalena
Sepúlveda, portanto, com especial atenção para a perspectiva internacional.
43 Em especial, v. a relação da noção de regressividade com a interpretação da noção de progressividade ado-
tada pela Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos, no âmbito das normas para a confec-
ção dos informes periódicos previstos no artigo 19 do Protocolo de San Salvador. Sobre o tema, v., por todos,
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A Assim Designada Proibição de Retrocesso Social e a Construção
de um Direito Constitucional Comum Latino-Americano
Christian Courtis, in: Ni un paso atrás, op. cit., p. 3-8, apresentando as diversas facetas da noção de regres-
sividade, bem como p. 11-17, onde apresenta a compreensão da noção de proibição de regressividade no sis-
tema americano de tutela dos direitos sociais.
44 Neste sentido, v. Rodrigo Uprimny e Diana Guarnizo, “Es posible uma dogmática adecuada sobre la prohi-
bición de regresividad? Un enfoque desde la jurisprudencia constitucional colombiana”, in: Direitos
Fundamentais & Justiça, Ano 2 – Nr. 3 – Abr./Jun. 2008, especialmente p. 40 e ss.
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Ingo Wolfgang Sarlet
45 Cf. José Carlos Vieira de Andrade, Os Direitos Fundamentais..., op. cit., p. 391 e ss.
46 Cfr. Andreas Krell, Direitos Sociais e Controle Judicial no Brasil e na Alemanha..., op. cit., p. 40.
47 Neste sentido, v. também, a reflexão de Patrícia do Couto Villela Abbud Martins, “A proibição do retroces-
so social como fenômeno jurídico”, in: Emerson Garcia, (Coord), A Efetividade dos Direitos Sociais, Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 408 e ss.
48 Neste sentido v. também João Caupers, Os Direitos Fundamentais dos Trabalhadores e a Constituição,
Coimbra: Almedina, 1985, p. 44, que, apesar de favorável à proibição de retrocesso social, considera que a
proteção dos sistemas prestacionais existentes não pode ser maior do que a concedida aos direitos de liber-
dade (direitos de defesa).
49 Cf., por todos, Rodrigo Uprimny e Diana Guarnizo, in: Direitos Fundamentais & Justiça, op. cit., p. 44 e ss.
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A Assim Designada Proibição de Retrocesso Social e a Construção
de um Direito Constitucional Comum Latino-Americano
orientação, como se percebe sem esforço, guarda relação com a dogmática de há muito
praticada no plano do controle das restrições dos direitos fundamentais em geral, visto
que condiciona a liberdade de conformação do legislador e a discricionariedade admi-
nistrativa aos critérios da proporcionalidade e razoabilidade, que balizam toda e qual-
quer restrição de direito fundamental. Neste sentido, verifica-se que (aqui sem maior
preocupação no que diz com a precisão terminológica) que a proibição de retrocesso
opera como espécie de limite dos limites dos direitos fundamentais sociais. Por outro
lado – o que inclusive é apontado como uma das principais vantagens desta metódica
de controle das medidas supressivas ou restritivas de direitos sociais – preserva-se a
necessária margem de ação e adequação do poder público em face dos câmbios sociais
e econômicos e mesmo no que diz com a manutenção do equilíbrio e coerência inter-
na do sistema jurídico-constitucional, além de se fomentar uma ampla e responsável
deliberação pública no sentido de justificar a necessidade dos ajustes no campo dos
direitos sociais.50
Precisamente neste contexto assume relevância o resgate e valorização da noção
de um status activus processualis, tal qual cunhada por Peter Häberle,51 visto que a
garantia da participação efetiva dos cidadãos nos processos de deliberação e decisão
sobre as prioridades a serem atendidas na esfera das políticas públicas, assim como na
discussão a respeito de eventuais ajustes e mesmo restrições, deveria necessariamente
ser considerada tanto no que diz com a implantação, pela via da organização e proce-
dimento, de mecanismos de participação e controle social, quanto por ocasião da
maior ou menor intensidade do controle jurisdicional dos atos do poder público quan-
do em causa uma medida de cunho regressivo.
Embora não se pretenda desenvolver aqui com a necessária profundidade os
aspectos ventilados, vinculados aos critérios da proporcionalidade e razoabilidade e ao
dever de justificação das medidas restritivas, assume-se como correta, pelo menos em
termos gerais, tal linha de entendimento, até mesmo pelo fato de que, em se cuidan-
do de controlar a atuação do poder público resultante em restrições de direitos funda-
mentais sociais, não se poderia aqui deixar de operar com os correlatos critérios para
o controle de tais restrições, ainda que com a eventualmente necessária adequação ao
regime e peculiaridades dos direitos sociais e do contexto jurídico-constitucional,
social, político e econômico.
De outra parte, também é perceptível que reduzir a proibição de retrocesso a um
mero controle da razoabilidade e proporcionalidade, assim como de uma adequada jus-
tificação das medidas restritivas, poderá não ser o suficiente, ainda mais se ao controle
da proporcionalidade não for agregada a noção de que qualquer medida restritiva deve-
rá preservar o núcleo (ou conteúdo essencial) do direito fundamental afetado, o que,
50 Sobre o tópico, v. também Rodrigo Uprimny e Diana Guarizo , in: Direitos Fundamentais & Justiça, op. cit.,
p. 55 e ss., à luz de diversos exemplos extraídos da rica jurisprudência constitucional colombiana.
51 Cf., por todos, Peter Häberle, Grundrechte im Leistungstaat, in: VVDStrL 30, 1972, em especial, p. 86 e ss.
553
Ingo Wolfgang Sarlet
por sua vez, guarda relação com a opção, no que diz com os limites aos limites dos direi-
tos fundamentais, entre a teoria externa e a teoria interna, sem prejuízo de outros
aspectos relevantes a serem considerados e que aqui não serão desenvolvidos. É preci-
samente aqui, no que diz com o alcance da proteção assegurada por conta de uma proi-
bição de retrocesso, que a dignidade da pessoa humana e o assim designado mínimo
existencial (assim como a garantia do núcleo essencial dos direitos) podem assumir par-
ticular relevância, tal como tem apontado relevante doutrina e jurisprudência.
Com efeito, adentrando a problemática central deste capítulo, colaciona-se lição
de Gomes Canotilho, a sustentar que o núcleo essencial dos direitos sociais concreti-
zado pelo legislador encontra-se constitucionalmente garantido contra medidas esta-
tais que, na prática, resultem na anulação, revogação ou aniquilação pura e simples
desse núcleo essencial, de tal sorte que a liberdade de conformação do legislador e a
inerente auto-reversibilidade encontram limitação no núcleo essencial já realizado.52
O legislador (assim como o poder público em geral) não pode, portanto, uma vez con-
cretizado determinado direito social no plano da legislação infraconstitucional,
mesmo com efeitos meramente prospectivos, voltar atrás e, mediante uma supressão
ou mesmo relativização (no sentido de uma restrição), afetar o núcleo essencial legis-
lativamente concretizado de determinado direito social constitucionalmente assegu-
rado. Assim, é em primeira linha o núcleo essencial dos direitos sociais que vincula o
poder público no âmbito de uma proteção contra o retrocesso e que, portanto, repre-
senta aquilo que efetivamente se encontra protegido.53
Muito embora tal concepção possa servir como ponto de partida para a análise da
problemática do alcance da proteção contra o retrocesso em matéria de direitos sociais,
não nos parece dispensável algum tipo de aprofundamento, notadamente no que diz
com a vinculação do problema às noções de dignidade da pessoa e da garantia das con-
dições materiais mínimas para uma vida digna, que, por sua vez, guardam relação com
a noção de núcleo essencial dos direitos sociais, embora não se confundam necessaria-
mente. Além disso, a noção de mínimo existencial, compreendida, por sua vez, como
abrangendo o conjunto de prestações materiais que asseguram a cada indivíduo uma
vida com dignidade, no sentido de uma vida saudável,54 ou seja, de uma vida que cor-
responda a padrões qualitativos mínimos, nos revela que a dignidade da pessoa atua
como diretriz jurídico-material tanto para a definição do núcleo essencial (embora não
necessariamente em todos os casos e da mesma forma), quanto para a definição do que
constitui a garantia do mínimo existencial, que, na esteira de farta doutrina, abrange
bem mais do que a garantia da mera sobrevivência física, não podendo ser restringido,
portanto, à noção de um mínimo vital ou a uma noção estritamente liberal de um míni-
52 Cfr. José Joaquim Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 7ª ed., Coimbra: Al-
medina, 2007, p. 338 e ss.
53 Neste sentido também, Cristina Queiroz, Direitos Fundamentais Sociais, op. cit., p. 81 e ss. e p. 101 e ss.
54 Sobre o ponto, v. o nosso Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal
de 1988, 6ª ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, p. 63.
554
A Assim Designada Proibição de Retrocesso Social e a Construção
de um Direito Constitucional Comum Latino-Americano
555
Ingo Wolfgang Sarlet
teúdo em dignidade humana do direito social objeto de restrição. Assim, se uma medi-
da restritiva de direito social deve passar pelos testes da razoabilidade e da proporcio-
nalidade, desafiando a declaração da sua ilegitimidade constitucional se não for ade-
quada e necessária, também deverá – ainda que adequada e necessária – respeitar as
barreiras do núcleo essencial e da dignidade da pessoa humana.58
Tais premissas, ainda que não mencionadas da mesma forma na fundamentação,
encontram-se na base de julgado do Tribunal Constitucional de Portugal, que, embo-
ra se trate de uma fonte externa ao constitucionalismo latino-americano, tem sido
amplamente referida pela doutrina brasileira, além de fornecer importantes subsídios
para o debate na América Latina. Trata-se do Acórdão nº 509/2002, que versa sobre
a inconstitucionalidade (por violação do princípio da proibição de retrocesso) do
Decreto da Assembléia da República que, ao substituir o antigo rendimento mínimo
garantido por um novo rendimento social de inserção, excluiu da fruição do benefício
(ainda que mediante a ressalva dos direitos adquiridos) pessoas com idade entre 18 e
25 anos. Em termos gerais e para o que importa neste momento, a decisão, ainda que
não unânime, entendeu que a legislação revogada, atinente ao rendimento mínimo
garantido, concretizou o direito à segurança social dos cidadãos mais carentes
(incluindo os jovens entre os 18 e 25 anos), de tal sorte que a nova legislação, ao
excluir do novo rendimento social de inserção as pessoas nesta faixa etária, sem a pre-
visão e/ou manutenção de algum tipo de proteção social similar, estaria a retroceder
no grau de realização já alcançado do direito à segurança social a ponto de violar o
conteúdo mínimo desse direito já que atingido o conteúdo nuclear do direito a um
mínimo de existência condigna, não existindo outros instrumentos jurídicos que o
possam assegurar com um mínimo de eficácia. Destaque-se, ainda, que o Tribunal
Constitucional português reiterou pronunciamentos anteriores, reconhecendo que no
âmbito da concretização dos direitos sociais o legislador dispõe de ampla liberdade de
conformação, podendo decidir a respeito dos instrumentos e sobre o montante dos
benefícios sociais a serem prestados, sob pressuposto de que, em qualquer caso a esco-
lha legislativa assegure, com um mínimo de eficácia jurídica, a garantia do direito a
um mínimo de existência condigna para todos os casos.59
Da análise da paradigmática decisão ora citada, que guarda harmonia com a argu-
mentação desenvolvida ao longo do presente texto, resulta que uma medida de cunho
retrocessivo, para que não venha a violar o princípio da proibição de retrocesso, deve,
58 Importa destacar que não desconhecemos a controvérsia que existe (cada vez mais forte) em relação à figu-
ra do núcleo essencial dos direitos fundamentais, que, para significativa doutrina, acaba sendo sempre
reconduzido ao controle da proporcionalidade, notadamente no que diz com a terceira fase, da assim desig-
nada proporcionalidade em sentido estrito. Neste sentido, precisamente questionando a noção de um núcleo
essencial na perspectiva de uma proibição de retrocesso (embora sem questionar o reconhecimento, em si,
de uma proibição de retrocesso), v. Rodolfo Arango, “La prohibición de retroceso en Colombia” in:
Christian Courtis (Comp), Ni un paso atrás, op. cit., p. 153 e ss.
59 Para quem deseja aprofundar a análise, vale a pena conferir na íntegra a fundamentação do já citado Acórdão
nº 509/2002, Processo nº 768/2002, apreciado pelo Tribunal Constitucional de Portugal em 19.12.2002.
556
A Assim Designada Proibição de Retrocesso Social e a Construção
de um Direito Constitucional Comum Latino-Americano
60 Sobre o mínimo existencial e a dignidade da pessoa humana como limites ao poder de tributar, v., no direi-
to brasileiro, Ricardo Lobo Torres, Tratado de Direito Constitucional Financeiro e Tributário: os direitos
humanos e a tributação – imunidades e isonomia, Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 144 e ss., bem como
Humberto Ávila, Sistema Constitucional Tributário, 3ª ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 331 e ss.
557
Ingo Wolfgang Sarlet
61 Cf. o nosso Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988, op. cit.,
p. 123 e ss.
62 Aqui bastaria apontar para o exemplo da proteção do mínimo existencial contra o poder de tributar do
Estado, atuando como um limite constitucional nesta seara.
63 Cf. sentença T-1318 de 2005, referida e comentada por Rodrigo Uprimny e Diana Guarizo, in: Direitos
Fundamentais & Justiça, op. cit., p. 48-49.
64 Sobre o princípio da proporcionalidade e a função da dignidade da pessoa humana neste contexto, v., entre
outros, Heinrich Scholler, “O princípio da proporcionalidade no direito constitucional e administrativo da
Alemanha”, in: Revista Interesse Público nº 2, 1999, p. 93-107.
558
A Assim Designada Proibição de Retrocesso Social e a Construção
de um Direito Constitucional Comum Latino-Americano
gindo, pelo contrário, uma proteção social compatível com as exigências da dignida-
de da pessoa humana no marco de um Estado Democrático e Social de Direito.65 A
conexão entre a proibição de retrocesso social e a assim designada proibição de prote-
ção insuficiente ou deficiente (o que abrange, no caso, a proteção social, em geral
representada pela concretização dos direitos sociais) resulta evidente, pois atua tanto
como parâmetro para o controle das omissões e ações insuficientes do poder público,
quanto serve de critério para o controle de medidas que venham a resultar na supres-
são ou diminuição de direitos sociais antes concretizados em nível satisfatório, ou seja,
em patamares correspondentes às exigências do mínimo existencial. Em outras pala-
vras, a proibição de retrocesso implica – como já frisado – não apenas a vedação da
recriação de um estado de omissão inconstitucional, mas também a proibição de uma
ação insuficiente.66
Em sintonia com tal linha argumentativa (de modo especial com a noção de uma
garantia de um mínimo existencial), embora a ausência de referência direta a uma
proibição de proteção insuficiente, como fundamento da decisão, é possível citar jul-
gado proferido por Tribunal da Argentina (Câmara de Apelações do Contencioso
Administrativo e Tributário da Cidade de Buenos Aires), onde igualmente estava em
causa a garantia de uma habitação (moradia) digna para pessoas submetidas a condi-
ções de vida precárias em ambiente marcado por forte exclusão social. No caso con-
creto (que envolvia a negação do acesso à moradia por parte do autor da demanda
judicial), o Tribunal argumentou que a descontinuidade das prestações sociais viola o
princípio da proibição de retrocesso, pois uma vez reconhecido e efetivado um direi-
to social, designadamente quando se trata de pessoas que se encontram em situação
econômica e social precária, não é possível eliminar pura e simplesmente esta condi-
ção básica de inclusão social, ainda mais quando da falta de alternativas razoáveis ado-
tadas por parte do poder público.67
Para além do exposto e tendo em conta que a dignidade da pessoa humana e a
correlata noção de mínimo existencial, a despeito de sua transcendental e decisiva
relevância, não são os únicos critérios a serem considerados no âmbito da aplicação do
princípio da proibição de retrocesso, importa relembrar aqui as noções de segurança
jurídica e proteção da confiança, igualmente referidas em muitas das decisões sobre o
tema, inclusive na decisão do Tribunal Constitucional de Portugal, já citada.68 Assim
65 Cf. bem apontado por Cristina Queiroz, Direitos Fundamentais Sociais, op. cit., p. 117. Da mesma autora,
com maior desenvolvimento, O Princípio da Não Reversibilidade dos Direitos Fundamentais Sociais, op.
cit., p. 76 e p. 100 e ss.
66 Cf., por todos, Jorge Pereira da Silva, Dever de legislar e protecção jurisdicional contra omissões legislati-
vas, Lisboa: Universidade Católica Editora, 2003, p. 282 e ss.
67 Cuida-se de caso julgado em 08.10.2003, referido por Christian Courtis, in: Ni un paso atrás, op. cit., p. 22-
23. Igualmente desenvolvendo o tema, com ênfase na experiência argentina, v. Horácio González, El desa-
rolllo de los derechos a la seguridad social y la prohibición de regresividad en Argentina, in: Christian
Courtis (Comp), Ni un paso atrás, op. cit., p. 193-253, mediante referência a outros casos.
68 Para o caso da Colômbia, v. o elenco de decisões referido por Rodrigo Uprimny e Diana Guarnizo, in:
Direitos Fundamentais & Justiça, op. cit., p. 37 e ss.
559
Ingo Wolfgang Sarlet
– mesmo que não se pretenda desenvolver estes aspectos – é certo que também na
esfera da proibição de retrocesso tal como versada, a noção de segurança jurídica pres-
supõe a confiança na estabilidade de uma situação legal atual.69 Com efeito, a partir
do princípio da proteção da confiança, eventual intervenção restritiva no âmbito de
posições jurídicas sociais exige, portanto, uma ponderação (hierarquização) entre a
agressão (dano) provocada pela lei restritiva à confiança individual e a importância do
objetivo almejado pelo legislador para o bem da coletividade.70 Que tais questões –
consoante já frisado – nos remetem novamente aos princípios da proporcionalidade e
da razoabilidade, mas também dizem respeito ao princípio da isonomia, os quais igual-
mente devem ser observados neste contexto, salta aos olhos embora aqui não venha a
ser mais desenvolvido.
De outra parte, na esfera das possíveis relações entre a proibição de retrocesso e
a segurança jurídica, relembre-se aqui a lição de Hartmut Maurer, ao afirmar que
segurança jurídica acaba por significar igualmente alguma garantia de continuidade
da ordem jurídica, que, evidentemente, não se assegura exclusivamente com a limita-
ção de medidas estatais tipicamente retroativas.71 Que o princípio da proibição do
retrocesso atua como relevante fator assecuratório também de um padrão mínimo de
continuidade no plano do ordenamento jurídico objetivo, constitui mais um dado ele-
mentar a ser levado em conta, que apenas reforça as demais dimensões exploradas
neste estudo. Com efeito, parece ter sido suficientemente demonstrado o quanto levar
a sério a eficácia e efetividade de um direito à segurança (incluindo a segurança jurí-
dica) também reclama certa proteção contra medidas do poder público que venham a
aniquilar ou reduzir de modo desproporcional e/ou ofensivo à dignidade da pessoa (já
69 Cfr. Winfried Boecken, Der verfassungsrechtliche Schutz von Altersrentenansprüche und Anwartschaften
in Italien und in der Bundesrepublik Deutschland sowie deren Schutz im Rahmen der Europäischen
Menschenrechtskonvention, Berlin: Duncker & Humblot, 1987, p 80.
70 Cfr., dentre tantos, Dietrich Katzenstein, “Die bisherige Rechtsprechung des Bundesverfassungsgerichts
zum Eigentumsschutz sozialrechtlicher Positionen”, in: Festschrift für Helmut Simon, Baden-Baden:
Nomos, 1987, p. 862, com apoio na jurisprudência do Tribunal Constitucional Federal. Neste contexto,
Hans-Jürgen Papier, “Der Einfluss des Verfassungsrechts auf das Sozialrecht”, in: Bernd Baron von
Maydell/Franz Ruland (Org), Sozialrechtshandbuch, 3ª ed., Baden-Baden: Nomos, 2003, p. 120, lembra que
no âmbito da ponderação de bens e interesses a ser procedida em cada caso, a regulação legislativa será
inconstitucional apenas quando se verificar que a confiança do indivíduo na continuidade da situação legal
atual pode ser tida como prevalente em face dos objetivos almejados pelo legislador com as alterações pro-
postas, destacando, todavia, que tais critérios assumem um papel secundário na aferição da constitucionali-
dade de medidas retroativas. Tal fórmula tem sido largamente adotada pelo Tribunal Constitucional Federal
da Alemanha (especialmente desde BVerfGE 24, p. 220, 230 e ss.), no sentido de que importa ponderar, em
cada caso, entre a extensão do dano à confiança do indivíduo e o significado da medida adotada pelo poder
público para a comunidade.
71 Cfr. Hartmut Maurer, “Kontinuitätsgewähr und Vertrauensschutz,”, in: Handbuch des Staatsrechts der
Bundesrepublik Deutschland, op. cit., p. 243 e ss., sinalando, todavia, a existência de uma distinção entre
proteção de confiança e a garantia de continuidade da ordem jurídica, aspecto que aqui não iremos desen-
volver e a respeito do qual, inclusive na doutrina germânica, não existe pleno consenso.
560
A Assim Designada Proibição de Retrocesso Social e a Construção
de um Direito Constitucional Comum Latino-Americano
que as duas situações nem sempre são coincidentes) os níveis já concretizados de pro-
teção social.
Cientes de que deixamos muitas questões em aberto, pois a pretensão não era a
de efetuar um inventário completo dos aspectos apresentados, seguem algumas con-
clusões e proposições, que, talvez, possam contribuir para o avanço no debate sobre as
possibilidades e limites da proibição de retrocesso no contexto da formação de um
direito constitucional comum latino-americano. Já que no que diz respeito ao reco-
nhecimento em si de uma proibição de retrocesso, a crescente convergência entre o
sistema internacional dos direitos humanos e a gradativa incorporação da noção de
proibição de retrocesso (insista-se, muitas vezes sob rótulo diverso e com manifesta-
ções distintas) à gramática jurídico-constitucional dos diversos países da América
Latina, revelam que já se trata de uma noção suficientemente compartilhada para fins
de caracterização de um direito constitucional comum, ainda que se trate de uma
noção carente de desenvolvimento em vários níveis.
De modo especial, atentando especialmente para os expressivos níveis de exclu-
são social e os correspondentes reclamos de proteção contra medidas que venham a
corroer, ainda mais, os deficitários patamares de segurança social vigentes no
“ambiente” latino-americano, é de reafirmar que a análise sóbria e constitucionalmen-
te adequada da temática ora versada neste ensaio (que não possui mais do que caráter
exploratório) assume caráter emergencial e segue reclamando uma atenção constante
da doutrina e da jurisprudência, em especial no que diz com a construção de uma sóli-
da e adequada dogmático jurídico-constitucional, definindo os contornos, os limites e
possibilidades da proibição de retrocesso.
Da mesma forma, se faz necessária também a reconstrução (mas não o abando-
no) da noção de constitucionalismo dirigente, que, portanto, impõe uma vinculação
do legislador ao postulado de uma eficiente e eficaz promoção e garantia dos direitos
fundamentais, mesmo (e talvez por isso mesmo, como já o lembramos ao tratar da
segurança jurídica) numa sociedade em constante processo de mudança. Com efeito,
considerando os desenvolvimentos antecedentes, seguimos acreditando que o reco-
nhecimento de um princípio constitucional (implícito) da proibição de retrocesso
constitui – pelo menos no que diz com a vinculação do legislador aos programas de
cunho social e econômico (nos quais se insere a previsão dos próprios direitos sociais,
econômicos, culturais e ambientais) – uma manifestação possível de um dirigismo
constitucional,72 que além de vincular o legislador de forma direta à Constituição,
72 Cf. o nosso “Proibição de retrocesso, dignidade da pessoa humana e direitos sociais: manifestação de um
constitucionalismo dirigente possível”, in: Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra,
vol. LXXXII, 2006.
561
Ingo Wolfgang Sarlet
73 Neste sentido, v. a referencial proposta de Lenio Luiz Streck, “A Concretização de Direitos e a Validade da
Tese da Constituição Dirigente em Países de Modernidade Tardia”, in: António Avelãs Nunes e Jacinto
Nelson de Miranda Coutinho (orgs), Diálogos Constitucionais: Brasil/Portugal, Rio de Janeiro: Renovar,
2004, p. 334, onde aponta – neste passo em sintonia com as lições de José Joaquim Gomes Canotilho – que
a noção de constituição dirigente não implica a admissão da possibilidade de um normativismo constitucio-
nal revolucionário, capaz de, por si só, operar transformações emancipatórias, mas sim, uma vinculação do
legislador aos ditames da materialidade constitucional e a afirmação do papel do Direito (notadamente do
direito constitucional) como instrumento de implementação de políticas públicas.
562
A Assim Designada Proibição de Retrocesso Social e a Construção
de um Direito Constitucional Comum Latino-Americano
vinculante (que, por si só, na sua qualidade de normas jurídicas, não implicam subs-
tancial e efetiva mudança da realidade social), dispensam o resgate do verdadeiro
papel da cidadania.74 Com efeito, sem o fortalecimento das bases da cidadania,
mediante a superação também da instabilidade político-institucional que ainda se
manifesta em boa parte do território latino-americano, um direito constitucional
comum terá dificuldades de frutificar em sua desejável extensão. Aliás, como já ante-
cipado, um direito constitucional comum pressupõe a existência de estados constitu-
cionais autênticos e não meros simulacros, como ainda se encontram disseminados
pelo Globo, inclusive na América Latina.
Tais considerações, ainda que singelas, demonstram, por sua vez, que tanto a
consagração do modelo do Estado Constitucional, quanto a formação de um direito
constitucional comum, de acordo com a lição de Peter Häberle, dependem de cons-
tante (re) afirmação, visto que permanentemente colocados à prova, de tal sorte que
também aqui se faz necessário ter em conta a relevância dos princípio da esperança
(Ernst Bloch) e da responsabilidade (Hans Jonas).75 Se este caminho será efetivamen-
te trilhado com o sucesso desejável não se pode antever; considerando, todavia, que se
trata de uma jornada já iniciada (como esperamos ter demonstrado à luz da problemá-
tica da proibição de retrocesso), há razões para crer que a esperança possa vir a ser
recompensada.
74 Cf. aponta, com acuidade, Gilberto Bercovici, Ainda Faz Sentido a Constituição Dirigente?, in: Revista do
Instituto de Hermenêutica Jurídica, Porto Alegre, 2008, p. 155 e ss.
75 Cf. Peter Häberle, in: EUGRZ 2006, p. 537.
563
La Protección de los Derechos Humanos en Argentina
Alberto Ricardo Dalla Vía1
Sumáárioo: I. La jerarquía constitucional de algunos tratados de derechos humanos y su interpretación. II. Condiciones
y limites de la jerarquía constitucional otorgada. III. La jurisdicción internacional en materia de Derechos Humanos.
565
Alberto Ricardo Dalla Vía
3 Citado por PEREZ LUÑO, Antonio en “Derechos Humanos, Estado de Derecho y Constitución”. Tecnos.
Madrid
566
La Protección de los Derechos Humanos en Argentina
Como bien ha observado Ernesto DE LA GUARDIA, los dos primeros no son tra-
tados propiamente dichos, por cuanto las declaraciones carecen de un elemento esen-
cial en ellos, cual es el acuerdo de voluntades destinado a producir efectos jurídicos y
cuyo incumplimiento acarrea responsabilidades internacionales.4 En cuanto al núme-
ro de convenciones, los autores difieren sobre si la constitución enumera ocho
(COLAUTTI) o nueve (CASTORINA DE TARQUINI). El primer criterio, del que par-
ticipamos, considera que el Protocolo Facultativo del Pacto de Derechos Civiles y
Políticos debe considerarse incluido en aquél por aplicación de las reglas internacio-
nales que rigen para los tratados (Convención de Viena), en tanto que el segundo cri-
terio parte de la enumeración por separado que realiza el texto constitucional.5
Entendemos que una regla hermenéutica apropiada en este caso impone interpretar
la relación protocolo-tratado conforme se realiza en el ámbito propio de las
Relaciones Internacionales, donde tales palabras tienen jerarquías y usos universal-
mente aceptados y no, necesariamente, caer en un apego de tipo textualista.
La primera observación evidente al sistema adoptado por la constitución en el
inciso 22 del artículo 75 ha sido, sin lugar a dudas, la diferencia que ha quedado esta-
blecida entre algunos tratados de derechos humanos con “jerarquía constitucional” ,
que son los de la lista antes expuesta más los que se vayan agregando por el sistema de
mayorías especiales del mismo inciso (2/3 de la totalidad de los miembros de ambas
cámaras), “…para gozar de la jerarquía constitucional”, conforme lo expresa la
4 DE LA GUARDIA, Ernesto “El Nuevo Texto Constitucional y los Tratados”. El Derecho año XXXII nº 8613
pag. 3.
5 COLAUTTI, Carlos “Los Tratados Internacionales y la Constitución Nacional”. La Ley. 1999, pag. 69. CAS-
TORINA DE TARQUINI, María Celia “Supremacía de la Constitución”. Trabajo publicado en la obra colec-
tiva del Instituto Argentino de Estudios Constitucionales y Políticos dirigido por Dardo PEREZ GUILHOU,
titulada “Derecho Constitucional de la Reforma de 1994”. Ediciones Depalma. Buenos Aires.
567
Alberto Ricardo Dalla Vía
568
La Protección de los Derechos Humanos en Argentina
569
Alberto Ricardo Dalla Vía
9 BIDART CAMPOS, Germán J. ”La Interpretación del Sistema de Derechos Humanos” .EDIAR Buenos
Aires.
10 RUBIO LLORENTE, Francisco “El Bloque de Constitucionalidad”. Revista Española de Derecho
Constitucional nº 27 pag. 15. Centro de Estudios Constitucionales. Madrid.
11 FAVOREAU, Louis “Le principe de constitutionnalité” en Recueil d’études en Hommage á Charles
Eisenman. Cujas. Paris 1977
12 RUBIO LLORENTE, Francisco , op. cit. pag. 15
570
La Protección de los Derechos Humanos en Argentina
cionales o, por el contrario, denunciarlos con las mayorías especiales que determina
el art. 75 inc. 22 de la Constitución Nacional.13
Es un hecho que puede comprobarse en la jurisprudencia de nuestros tribunales
que, a partir de la reforma de 1994 se ha producido una importante receptividad
directa del derecho internacional en el derecho interno que aplican los jueces en
muchas materias, como la referida a la pauta del “interés superior del menor” en los
procesos de familia y minoridad, como consecuencia de su consideración en la
Convención Internacional de los Derechos del Niño, como así también en cuanto al
derecho de los menores a ser oídos y a conocer su historia que han sido materia de
notoria receptividad convirtiéndose en verdaderos “paradigmas” que han llevado a
que el orden público establecido en la Constitución Nacional haya tornado hacia una
afirmación notable de la autonomía personal.14
Muchos temas como la adopción, así como las garantías en materia tributaria y
penal han recibido un impacto directo e inmediato de los principios consagrados en
los tratados sobre derechos humanos y que han producido importantes cambios de
posición y de criterio en nuestro orden jurídico, como el ocurrido en la sentencia de
la Corte Suprema de Justicia de la Nación en la causa “Giroldi” a la que nos referire-
mos más adelante.
Pero el importante valor moral de los derechos humanos y su indudable coinci-
dencia con los principios humanistas de nuestro ideario constitucional, no deben
hacernos perder de vista que el constituyente mantuvo incólume la vigencia del artí-
culo 27 que ocupa un lugar central en el régimen constitucional de los tratados, al ubi-
carse en la parte que la constitución dedica a los grandes principios y declaraciones.
Según el mismo, ningún tratado puede contrariar el orden público (interno), princi-
pio que ha reiterado el art. 75 inc. 22 al establecer que los tratados de derechos huma-
nos no pueden derogar ningún artículo de la primera parte y que deben considerarse
complementarios.
De tal manera que si bien la “jerarquía constitucional” tiene efectos jurídicos en
cuanto a que ningún juez podría declarar inconstitucional un tratado del art. 75 inc.
22 en las condiciones de su vigencia, tal jerarquía no significa identificación con el
principio de supremacía porque, como está dicho, supremacía es sinónimo de sobera-
nía y esta no admite condiciones ni limitaciones jerárquicas.
Los Tratados Internacionales de Derechos Humanos con jerarquía constitucional
(art. 75 inc. 22) están en el piso superior de la pirámide jurídica pero no exactamente
en el vértice porque, como indica el mismo inciso, están un escalón debajo del texto
constitucional al no poder derogar ningún artículo de la primera parte y tener carác-
ter complementario, que significa “accesorio”, y no principal como la Constitución
13 SAGUES, Néstor Pedro “Elementos de Derecho Constitucional”. Astrea. Buenos Aires. EKMEKDJIAN,
Miguel Angel “Tratado de Derecho Constitucional”. Depalma. Buenos Aires.
14 Véanse en tal sentido las conclusiones del X CONGRESO INTERNACIONAL DE DERECHO DE FAMILIA
realizado en la Ciudad de Mendoza en 1998.
571
Alberto Ricardo Dalla Vía
572
La Protección de los Derechos Humanos en Argentina
“Si no fuese así, importantes reservas, por ejemplo, las establecidas por el ex
presidente ALFONSIN al momento de ratificar el Pacto de San José de Costa Rica
o los pactos internacionales de Nueva York relativos a elementos tan importan-
tes como la soberanía sobre las Islas Malvinas y otras Islas del Atlántico Sur o
cómo se deben interpretar los términos de prisión por deudas, referencias a la
propiedad, al sistema de expropiación –que están en el Pacto de San José de Costa
Rica- no tendrían validez para nuestro sistema interno y estaríamos dando rango
constitucional a normas que pueden ser interpretadas en perjuicio de nuestros
derechos soberanos sobre las islas del sur o en contradicción con nuestro sistema
jurídico en relación con los puntos antes señalados.”16
No obstante, debe aclararse que se entiende por reserva toda aquélla que respon-
de a esa definición conforme la Convención de Viena sobre Derecho de los Tratados, de
modo que no son tal las meras declaraciones de un país a la firma de un Tratado. La
reserva debe revestir el mismo carácter contractual de los tratados y no ser meras mani-
festaciones unilaterales, como la que pretendió hacer valer el convencional antes citado
en relación a la firma de la Convención Americana de Derechos Humanos o Pacto de
San José de Costa Rica por parte de nuestro país, con el fin de justificar un principio
anti-abortista a partir de la consagración de derecho a la vida desde la concepción, cosa
que no está dicha en el texto del referido tratado internacional (arts. 3 y 4).
En la sentencia recaída en la causa “Giroldi, Horacio D. y otro” del 7 de abril de
1995, referida a un problema de doble instancia con respecto a la casación penal, la
Corte Suprema de Justicia de la Nación tuvo la oportunidad de aclarar al respecto que
“…la jerarquía constitucional de la Convención Americana ha sido establecida por la
voluntad expresa del constituyente en las condiciones de su vigencia.”, aclarando que
“…en las condiciones de su vigencia implica tal como la Convención citada efectiva-
mente rige en el ámbito internacional y considerando particularmente su efectiva
aplicación jurisprudencial por los tribunales internacionales competentes para su
interpretación y aplicación.”17
En cuanto a la denominada “complementariedad” de los tratados internaciona-
les sobre derechos humanos, cabe recordar que esa cualidad fue agregada por la
Comisión Redactora para dar respuesta a las prevenciones que se hacían sobre la liber-
tad de prensa y los temores de ciertos sectores a una consagración del “derecho de
réplica” o de rectificación o respuesta (art. 14 Convención Americana de Derechos
Humanos), como derivación directamente operativa de los tratados internacionales en
materia de derechos humanos.
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La Protección de los Derechos Humanos en Argentina
18 GARCIA DE ENTERRIA, Eduardo “La Constitución como Norma y el Tribunal Constitucional”. Tecnos.
Madrid.
575
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576
La Protección de los Derechos Humanos en Argentina
Organización, elegidos a título personal entre juristas de la más alta autoridad moral,
de reconocida competencia en materia de derechos humanos, que reúnan condicio-
nes requeridas para el ejercicio de las más elevadas funciones judiciales, conforme a la
ley del país del cual sean nacionales o del Estado que los proponga como candidatos.
No debe haber dos jueces de la misma nacionalidad (art. 52)
La Corte Interamericana de Derechos Humanos, con sede en San José de Costa
Rica ejerce su competencia en materia contenciosa (jurisdiccional strictu-sensu) y en
materia consultiva, que en opinión de Hector GROS ESPIELL, también constituiría
un procedimiento de carácter jurisdiccional.19
La competencia contenciosa de la Corte está regulada por los arts. 61 a 63 del
Pacto de San José y se manifiesta en su potestad de decidir respecto de la “interpreta-
ción y aplicación de la Convención”. Sólo los Estados Partes y la Comisión tienen
derecho a someter un caso a la Corte, de manera que no tienen tal capacidad, ni los
individuos, ni los organismos internacionales, ni ningún otro órgano del Sistema
Interamericano, ni ninguna entidad gubernamental.
El artículo 68 de la Convención Americana dispone: “1. Los Estados Partes en la
Convención se comprometen a cumplir la decisión de la Corte en todo caso en que
sean partes”.
2. La parte del fallo que disponga indemnización compensatoria se podrá ejecu-
tar en el respectivo país por el procedimiento interno vigente para la ejecución de sen-
tencias contra el Estado”.
Este último párrafo guarda relación con el art. 63 párrafo 1 de la misma
Convención, que dispone “…Cuando decida que hubo violación de un derecho o
libertad protegidos en la Convención, la Corte dispondrá que se garantice al lesiona-
do en el goce de su derecho o libertad conculcados. Dispondrá asimismo, si ello fuera
procedente, que se reparen las consecuencias de la medida o situación que ha confi-
gurado la vulneración de esos derechos y el pago de una justa indemnización a la parte
lesionada”.
La misma Convención prevé un recurso de interpretación contra la sentencia en
su artículo 67. En cuanto a la posibilidad de interponer un recurso de revisión ante la
misma Corte, coincidimos con GROS ESPIELL en cuanto a que el mismo es proceden-
te por aplicación de los principios generales del Derecho Internacional.20
En tal sentido, cabe resaltar que el estatuto de la Corte Internacional de Justicia
prevé la revisión de los fallos en el artículo 61, aunque es requisito fijar de manera
muy precisa la existencia de un hecho nuevo capaz e ejercer una influencia decisiva
y que antes del pronunciamiento del fallo fuera desconocido por la Corte y por la
parte que solicitó la revisión. El recurso de revisión está también previsto en el regla-
19 GROS ESPIELL, Héctor “Estudios sobre Derechos Humanos” Instituto Interamericano de Derechos
Humanos. Ed. Civitas.
20 GROS ESPIELL, Héctor. Op. cit.
577
Alberto Ricardo Dalla Vía
578
La Protección de los Derechos Humanos en Argentina
que quedaba al acusado era recurrir ante la Corte Suprema utilizando la vía del
Recurso Extraordinario, un recurso de tipo excepcional y sujeto a restricciones.23
Es de destacar que para superar el déficit señalado, nuestro país instrumentó un
sistema de casación en materia penal, que cumple con el requisito de la doble instan-
cia en materia penal (art. 8.2.h de la Convención Americana), en media en que la
facultad de revisión sea amplia, conforme lo ha determinado la Corte Suprema de
Justicia de la Nación en el ya citado caso “Giroldi”, de trascendente importancia para
el régimen constitucional de los tratados.
Un punto de particular interés es el que se refiere a la aplicación directa de las
disposiciones de la Convención en el orden jurídico interno de cada uno de los
Estados. El artículo 2 de la Convención Americana señala al respecto que los Estados
Partes se comprometen a adoptar, internamente, todas las medidas legislativas u otras
necesarias para hacer efectivos los derechos o libertades protegidos por ellas.
En ese sentido, destaca Rafael NIETO NAVIA que el denominado carácter “self
executing” de la Convención significa que, en los Estados en que un tratado ratifica-
do y en vigor adquiere el carácter de ley interna, como sucede en muchos Estados lati-
noamericanos, un juez podría aplicar directamente las disposiciones de la
Convención, destacando asimismo que el artículo fue una propuesta chilena de acuer-
do con la cual era necesario incluir una disposición que expresara la obligación de los
Estados Partes de adoptar todas aquéllas leyes internas necesarias para hacer efectivos
los derechos que la Convención protege.24
El carácter “self executing”, depende, en definitiva de la legislación interna de
cada país; en tal sentido los Estados Unidos consideran a la Convención “non self exe-
cuting”, circunstancia que reduce considerablemente su utilidad según se ha señala-
do.25 En nuestro país, la operatividad de la Convención fue consagrada por la Corte
Suprema de Justicia de la Nación en el caso “Ekmedkjián c/Sofovich”, conforme ya
fuera expuesto “ut supra”.
23 ALBANESE, Susana “Derechos Humanos. Estudio de casos y Opiniones Consultivas”. Vol II. Editorial de
Belgrano. Buenos Aires. 1997.
24 NIETO NAVIA, Rafael “Introducción al Sistema Interamericano de Protección de los Derechos Humanos”.
Instituto Interamericano de Derechos Humanos. Pontificia Universidad Javeriana. Programa de Estudios
Politicos. 1988.
25 BUERGENTHAL, Thomas “The Inter-American System for the Protection of Human Rights” en OEA.
Anuario Jurídico Interamericano. 1981. Washington.
579
La Defensa Judicial de la Constitución:
La Gran Fortaleza Colombiana1
Manuel José Cepeda2
Sumáárioo: I. Introducción II. Reformismo y control constitucional: la lucha por la supremacía de la Constitución y la
contribución del poder judicial a la pacificación III. La efectividad del principio de sometimiento a la Constitución:
la contribución del poder judicial a la estabilidad de las instituciones democráticas colombianas IV. Conclusión.
I. Introducción
1 Este ensayo fue publicado en 2004. Ver: Fernando, Cepeda Ulloa (ed.), Fortalezas de Colombia, Ariel
Ciencia Política – Banco Interamericano de Desarrollo, Bogotá, 2004. Se agradece que hubiere autorizado
la publicación de este ensayo en la presente obra.
2 Abogado (Magna Cum Laude) Universidad de los Andes. Master of Laws, Harvard Law School. Presidente
de la Corte Constitucional de Colombia (2005-2006). Magistrado de la Corte Constitucional de Colombia
(2001-2009). Ex-Decano de la Facultad de Derecho - Universidad de los Andes. Consejero Presidencial para
la Asamblea Constituyente. Embajador de Colombia ante la UNESCO (1993-1995) y, luego, ante la
Confederación Helvética (1995-1996). Profesor de Derecho Constitucional Universidad de los Andes.
3 Jesús María, Henao y Gerardo, Arrubla, Historia de Colombia, 2 vols. Academia de Historia/Plaza & Janés,
Bogotá, 1984. Manuel Antonio, Pombo y José Joaquín, Guerra. Constituciones de Colombia, 2 vols.,
Imprenta de la Luz, Bogotá, 1911. Diego, Uribe Vargas. Las Constituciones de Colombia, 2 vols., Ediciones
Cultura Hispánica, Madrid, 1977. Hernando, Valencia Villa. Cartas de Batalla, Universidad Nacional de
Colombia. Bogotá. 1987. Rivadeneira V. Antonio José. Historia Constitucional de Colombia 1510-1978.
Editorial Horizontes. Bogotá, 1978.
581
Manuel José Cepeda
4 Víctor, Uribe-Uhán. Honorable Lives: Lawyers, Family and Politics in Colombia (1780-1850). University
of Pittsburgh Press, Pittsburgh, 2000.
582
La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
5 Fernando, Carrillo Flórez (Ed.). Democracia en déficit: gobernabilidad y desarrollo en América Latina y el
Caribe, BID, Washington D.C., 2001, pág. 12.
6 Sobre el “éxito” del control constitucional ver C. Neal, Tate and Torbjörn, Vallinder, The Global Expansion
of Judicial Power, New York University Press, New York and London, 1995. Kenney J. Sally, M. William
Reisinger and C. John Reitz, Constitutional Dialogues in Comparative Perspective, ST. Martin’s Press, Inc.
New York, 1999. Héctor, Fix Zamudio, Los Tribunales Constitucionales y los Derechos Humanos, Editorial
Porrúa, S.A., México, 1985. Groupe d’Etudes et de Recherches sur la Justice Constitutionnelle Equipe asso-
ciée au CNRS (UMR 6055) Aix-en-Provence. Annuaire International de Justice Constitutionnelle. Ed.
Economica, París. Publicado anualmente. Luc, Heuschling, État de droit, Rechtsstaat, Rule of Law, Éditions
Dalloz, París. 2002.
583
Manuel José Cepeda
7 Alexis de, Tocqueville, La Democracia en América (1835), Edición de Fondo de Cultura Económica,
México, 1996, pág. 286.
584
La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
de paz, así estos hayan sido parciales. El objetivo es más sencillo: mostrar el desarrol-
lo de una de las fortalezas institucionales de Colombia.
Como este escrito está dirigido principalmente a personas que no conocen la evo-
lución de las normas constitucionales colombianas, la primera parte de este ensayo con-
tiene una descripción de lo relevante para colocar en contexto la presentación del ejer-
cicio de la función de control constitucional, primero, por la Corte Suprema de Justicia
y, segundo, por la Corte Constitucional. Quienes estén familiarizados con las reformas
constitucionales que se llevaron acabo en el siglo XX respecto de las instituciones de
control constitucional, pueden pasar directamente a la segunda sección de este ensayo
(La efectividad del principio de sometimiento a la Constitución: la contribución del
poder judicial a la estabilidad de las instituciones democráticas colombianas).
Antes de describir las reformas que sufrió la Constitución de 1886, el lugar que
ocupó la defensa judicial de la Constitución en tales reformas y su significado para los
intentos, exitosos o fallidos, de pacificación, es importante resaltar que antes de 1886
se presentó, grosso modo, un fenómeno distinto: en lugar de reformismo hubo dife-
rentes constituciones que se sucedían las unas a las otras, todo ello al vaivén de quie-
nes resultaran triunfadores en la guerras civiles.
Sin embargo, rebasaría el objeto de este escrito detenerse en lo que sucedió antes
de 1886 en esta materia. A manera de síntesis, se indican en el cuadro 1 los principa-
les eventos que marcan la diferencia entre lo que sucedió antes de 1886 y después de
esa fecha.8
8 Este cuadro es una adaptación del publicado en Olivier, Duhamel y Manuel José, Cepeda Espinosa. Las
Democracias Entre el Derecho Constitucional y la Política. T.M. Editores, Universidad de los Andes,
Bogotá, 1997.
585
Manuel José Cepeda
1886 Constitución centralista que durará 105 años. Reformada muchas veces para
encontrar la paz en una democracia representativa.9
Reforma 1910
Elección directa del presidente por 4 años sin reelección inmediata: garantías
electorales para encontrar la paz entre los partidos.
586
La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
10 “Se deposite en toda la Junta el Gobierno Supremo de este Reino interinamente, mientras la misma Junta
forma la Constitución que afiance la felicidad pública…; que protesta no abdicar los derechos imprescrip-
tibles de la soberanía del pueblo a otra persona que a la de su augusto y desgraciado Monarca don Fernando
VII, siempre que venga a reinar entre nosotros, quedando por ahora sujeto este nuevo Gobierno a la
Superior Junta de Regencia, interin exista en Península, y sobre la Constitución que le dé el pueblo…”
(…)
“‘Juramos por el Dios que existe en el Cielo, cuya imagen está presente y cuyas sagradas y adorables máxi-
mas contiene este libro, cumplir religiosamente la Constitución… trabajar con infatigable celo para formar
la Constitución bajo los puntos acordados…’” (Texto en Proceso histórico del 20 de Julio de 1810, Bogotá,
Banco de la República, 1960).
11 “En su artículo 188 que declaró ‘…en su fuerza y vigor las leyes que hasta aquí han regido en todas las mate-
rias y puntos que directa o indirectamente no se opongan a esta Constitución’…”
12 Lo mismo sucedió en las constituciones de las provincias en las cuales se reconoció el principio de supre-
macía constitucional y se contempló un mecanismo de objeción por el Ejecutivo. Sin embargo, las
Constituciones de algunas provincias consagraron el derecho de pedir ante el respectivo tribunal del distri-
to la anulación de todas o parte de las ordenanzas provinciales por razones de inconstitucionalidad. Por
ejemplo, ver la Constitución de Santander de 1853 (artículo 55).
587
Manuel José Cepeda
de los actos de las legislaturas de los estados federados. Este correspondió, por ejem-
plo, a la Corte Suprema de Justicia en la Constitución de 1863, pero en la modalidad
suspensiva. Entonces, la Corte podía suspender los actos de las legislaturas estaduales
dando cuenta al Senado para que éste decidiera “definitivamente sobre la validez o
nulidad de dichos actos”.13 La segunda excepción es anterior a esta fecha y se remon-
ta a los orígenes mismos de la República. Se trata, de un control ejercido por un órga-
no de carácter jurisdiccional al cual se le había confiado expresamente la función de
sostener la Constitución. Así sucedió en la primera Constitución de la provincia de
Cundinamarca adoptada el 4 de abril de 1811. Si bien esta Constitución fue monár-
quica, tiene el significado de ser la primera dentro del ámbito territorial de lo que
luego se denominaría “República de Colombia”, así como de ser la primera
Constitución en América Hispana. Cabe subrayar que este órgano jurisdiccional (artí-
culos 3 y 4), denominado “senado de censura y protección”, estaba compuesto de 5
miembros y ejercía su competencia no sólo de oficio sino a solicitud de “cualquiera
ciudadano” (artículo 9), lo cual es un antecedente claro de la acción popular de
inconstitucionalidad, luego consagrada en 1910. El control versaba sobre “cualquiera
infracción o usurpación de todos o cada uno de los tres poderes ejecutivos, legislativo
y judicial” (artículo 9). El Senado también obraba como una especie, en verdad no
muy clara, de árbitro en caso de conflicto entre el poder ejecutivo y el legislativo res-
pecto de los proyectos de leyes que fueren objetados tanto por vicios materiales como
por defectos de procedimiento (artículo 25).14
En conclusión, antes de 1886, durante varios momentos de la historia constitu-
cional colombiana marcada por guerras civiles y constituciones que se sucedían las
unas a las otras según quien fuera el triunfador, el principio de respeto a la
Constitución por parte del legislativo y del ejecutivo nacionales, no fue garantizado
por un órgano judicial, si bien en las constituciones se encuentran numerosas cláusu-
13 Artículo 50. Carlos, Restrepo Piedrahita, Tres Ideas Constitucionales, Universidad Externado de Colombia,
Bogotá, 1978, subraya que “esta modalidad de control bioorgánico (jueces y legislativo) fue practicada con
relativa frecuencia para la época. Entre los años 1875 y 1878, fueron tramitados cincuenta y dos (52) casos
de suspensión de leyes de los Estados Soberanos, de los cuales veintisiete (27) fueron resueltos por el Senado
con declaración de nulidad. Veinticuatro (24) resoluciones declararon la validez de las leyes demandadas y
en uno (1) el Senado se declaró en acuerdo con la Corte en el sentido de que “…estando derogada la leí de
que hacía parte la disposición denunciada, no había sobre qué ejercer la facultad reclamada”. Cfr. Estados
Unidos de Colombia, Resoluciones del Senado de la Unión, dictadas en los años de 1875 a 1878, sobre la
nulidad o validez de Actos Legislativos de los Estados. Edición Oficial, Bogotá, Imprenta de Agustín Núñez,
1878, 2 Tomos.”
14 Cabe anotar que en las otras constituciones de lo que se conoce como la Primera República también se pre-
vió la institución del Senado con atribuciones de sostener la Constitución, como sucedió en la Constitución
del estado de Cartagena de Indias de 1812 (“Senado conservador”) o en la segunda Constitución de
Cundinamarca de 1812 (“Senado”) y la Constitución del Estado de Mariquita de 1815 (“Senado”). Sin
embargo en estas Constituciones no es tan marcada la ubicación del Senado dentro de la Rama Judicial. Por
el contrario, se trata de la Primera Cámara del Legislativo, con excepción de la Constitución de Cartagena
de Indias (artículo 3). Esta institución del senado conservador proviene de la influencia francesa en espe-
cial de la Constitución del año VIII.
588
La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
589
Manuel José Cepeda
a resolver el conflicto, adoptando una decisión obligatoria para todos sobre la consti-
tucionalidad del proyecto objetado.15 De esta manera la cabeza del poder judicial
cumplía dos funciones que contribuían indirectamente a la pacificación: resolvía defi-
nitiva e institucionalmente el conflicto entre las dos ramas políticas del poder públi-
co y, en la visión de la época, aseguraba que el Congreso no prevaleciera, como suce-
día antes, sobre el Presidente de la República, en cuya autoridad la Constitución de
1886 confiaba para restablecer y mantener el orden.
Dos características de este control constitucional ilustran su trascendencia.
Primero, se trata de un control abstracto en el cual la Corte Suprema compara la ley
con la Constitución, al margen de cualquier controversia en un caso concreto. Para la
época, en los Estados Unidos ya existía un control constitucional pero éste sólo podía
efectuarse en caso de controversias concretas, usualmente entre un particular y el
Estado. En Europa aún faltaban cerca de cuatro décadas para que el Tribunal
Constitucional austriaco fuera creado con funciones de control abstracto.16 La segun-
da característica es que la sentencia de inconstitucionalidad proferida por la Corte
Suprema tenía efectos erga omnes, no inter pares como en el sistema estadounidense.
Al ser declarado inexequible un proyecto de ley, las normas incompatibles debían ser
excluidas, “archivadas”, y, por lo tanto, no podían ingresar al ordenamiento jurídico.
Estas innovaciones no fueron casuales. Por ellas ya había abogado en 1878 un
prestigioso jurista que estimaba que el control existente en Estados Unidos era dema-
siado limitado.17 Miguel Antonio Caro elogió el avance que esto significaba. Si bien
reconocía que el control judicial de constitucionalidad representaba la adopción del
“principio norteamericano que da al juez la facultad de aplicar la Constitución de pre-
ferencia a la ley, poniendo así un límite judicial a las leyes promulgadas”, exaltó que
convertir a la Corte Suprema en árbitro del desacuerdo entre el Congreso y el
Presidente, en caso de objeción de un proyecto de ley por razones de inconstitucio-
nalidad, era una innovación que “no se registra en ninguna Constitución, colombiana
ni extranjera.” Justificó su adopción “porque, aunque en otras constituciones no exis-
ta, no es contrario, antes conforme con los sanos principios de derecho constitucio-
nal, y se ha considerado como una preciosa garantía contra el contenido de las leyes
590
La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
antijurídicas, dado que la Constitución es la más alta y autorizada expresión del dere-
cho”.18 De esta manera Caro consideró que el poder del Presidente sería la garantía de
que “no habrá posibilidad moral de que se expidan leyes inconstitucionales”. Otros
pensadores, también de estirpe conservadora, expresaron su preocupación por la
amplitud de esta facultad atribuida a la Corte Suprema que consideraron “peligrosísi-
ma” y recordaron que en los Estados Unidos la Corte Suprema puede aplicar en un
caso concreto la Constitución de preferencia a la ley, “pero nunca la declara expresa-
mente nula”.19
Aunque la Constitución de 1886 no fue la primera en establecer un control de
las leyes previo, abstracto y con efecto erga omnes, sí es excepcional la claridad con la
cual se definió la atribución de la Corte Suprema de Justicia como único y exclusivo
juez de constitucionalidad, así como que esta competencia singular no se hubiera que-
dado en el papel sino que se haya empezado a ejercer desde 1887, como se verá pos-
teriormente, en procesos que llegaron a tener trascendencia para la resolución de con-
flictos entre fuerzas políticas.20
18 Diario oficial, No 6720-6721, julio 1 de 1886, p. 649. Carlos Restrepo Piedrahita critica el entusiasmo de
Caro respecto de esta innovación puesto que en las constituciones ecuatorianas de 1869 (art. 43) y 1878 (art.
60) la Corte Suprema ya obraba como árbitro en esta hipótesis. J.A.C. Grant, también considera que dicho
sistema no tenía especial novedad. Ver Judicial review by executive reference prior to promulgation: The
Colombian experience, Southern California Law Review, vol. 21, P.154, 1948. Sobre el origen y evolución
del control constitucional en Colombia ver del mismo autor: Judicial control of the constitutionality of
Statutes and administrative legislation in Colombia: Nature and evolution of the present system, Southern
California Law Review, vol. 23, July, 1950. Nº 4. El control de la constitucionalidad de las leyes a petición
del ejecutivo previamente la promulgación: la experiencia de Colombia, En Revista Mejicana de Derecho
Público, nº 3 enero-marzo de 1947, México, p. 244.
19 Son las palabras de Sergio Arboleda, citado por Carlos Restrepo Piedrahita, op. cit.
20 Lo anterior no significa que durante la regeneración la Corte Suprema hubiera asegurado la efectividad de
la Constitución. Recordando la llamada ley de los caballos (Ley 61 de 1888), Carlos Restrepo Piedrahita con-
cluye: “En la historia del Derecho Constitucional Colombiano el período llamado La Regeneración se des-
taca como el único durante el cual el principio de supremacía de la Constitución no tuvo vigencia”, op. cit.
591
Manuel José Cepeda
21 De hecho, desde 1904 una ley había creado la acción pública de inconstitucionalidad (Ley 2 de 1904); pero
sólo podía dirigirse contra decretos presidenciales expedidos durante estados de sitio. Sin embargo, los orí-
genes de esta acción pública se remontan incluso hasta las primeras constituciones de Colombia y
Venezuela. Ver, a este respecto: A. R, Brewer – Carias, “Judicial Review in comparative law”; Cambridge
University Press, Cambridge, 1989, p. 279, y Carlos, Restrepo Piedrahita: “Constituciones Políticas de
Colombia”. Universidad Externado de Colombia, Bogotá, 1995.
22 El debate sobre la excepción de inconstitucionalidad ya estaba presente en los círculos jurídicos colombia-
nos desde el siglo XIX. En efecto, desde 1887 una ley nacional (Ley 153 de 1887, art. 6) había obstaculiza-
do indirectamente la aplicación de las excepciones de inconstitucionalidad, al ordenar que las disposiciones
legales adoptadas después de la Constitución de 1886 se presumirían constitucionales, y debían ser aplica-
das incluso si aparentemente contradecían lo dispuesto por la Carta Política. Esta disposición normativa se
introdujo para modificar una ley previa (Ley 57 de 1887, art. 5) según la cual, en casos de conflicto entre la
Constitución y la ley, prevalecería aquella.
23 Los primeros artículos de Kelsen sobre el tema datan de finales de los años veintes. Hans, Kelsen. La
Giustizia Costituzionale. Giuffrè Editore. Milano, 1981.
592
La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
Por esos mismos años, los movimientos sociales ganaban fuerza con la industria-
lización de ciertas regiones, las migraciones en búsqueda de mejores salarios, el cam-
bio de las estructuras agrarias debido a la exportación del café y el desarrollo de las
corrientes socialistas. En 1910 se produjo la primera gran huelga en el puerto de
Barranquilla. Hubo muchas otras, hasta 1928, año de la masacre de los obreros de la
zona de producción bananera de la United Fruit, en Santa Marta. En 1916 los indíge-
nas se sublevaron en el Cauca bajo la dirección de Quintín Lame. En 1919 los campe-
sinos se unieron a los movimientos de reivindicación social. Los logros en materia de
pacificación política no respondían a las nuevas tensiones sociales. Hasta que llegó la
segunda gran reforma constitucional.
En 1936 el presidente liberal Alfonso López Pumarejo obtuvo de un Congreso
liberal (los conservadores habían rehusado participar en las elecciones), la introduc-
ción en la Constitución de la libertad religiosa, así como importantes garantías socia-
les: el derecho a la huelga, la asistencia pública, la libertad de asociación, la expropia-
24 “Organizar los poderes públicos, guardando la independencia y separación recíproca entre ellos; y hacer a
la Corte Suprema de Justicia árbitro e intérprete de la inteligencia y constitucionalidad de las leyes, a pedi-
mento del Ministerio Público o de los ciudadanos” (Texto en Orientación republicana del Dr. Carlos E.
Restrepo, Tomo I, Medellín, sin fecha, p. 176. Tales ‘bases’ fueron preparadas por Fidel Cano (liberal) y
Carlos E. Restrepo (conservador)).
25 Se trata de la Ley 2 de 1904 que tuvo una vigencia de meses puesto que fue derogada por la Ley 8 de 1905
cuando se estaba iniciando el quinquenio de Reyes.
26 Anales de la Cámara de Representantes Nº 3, 14 de agosto de 1909, pág. 22.
593
Manuel José Cepeda
ción por razones de interés social, y sin indemnización si ello fuese ordenado por
razones de equidad. Siguiendo al jurista francés Leon Duguit, la propiedad fue defini-
da como función social y la intervención del Estado en la economía fue legitimada
constitucionalmente. Estos cambios constituyeron el New Deal colombiano. El obje-
tivo era incorporar los movimientos sociales al aceptar estas reivindicaciones y al que-
brarle una vértebra ideológica a la Constitución de 1886. La revisión constitucional
favoreció las reformas sociales y agrarias, las cuales permitieron la paz con los movi-
mientos sociales de banderas socialistas. Los activistas de los movimientos sociales
volvieron a integrarse al Partido Liberal. El Partido Socialista de 1919 y el Partido
Revolucionario Socialista de 1926 desaparecieron rápidamente. Apenas subsistió su
escisión de 1930, el Partido Comunista de Colombia.
La reforma de 1936 no modificó el órgano de control constitucional, los meca-
nismos de acceso a la Corte Suprema, ni su competencia. Sin embargo, transformó un
elemento esencial del sistema de control constitucional: el referente constitucional de
dicho control. Este sufrió dos cambios cruciales: (i) hubo un aumento en los derechos
y garantías ciudadanas, lo cual incrementó las normas que establecen límites sustan-
tivos al ejercicio del poder público en especial en lo que respecta a las políticas eco-
nómicas y sociales, y (ii) se incorporó a la Carta una filosofía distinta a la predominan-
te en 1886 que en algunos casos convivía con la anterior, lo cual le ofreció al juez
constitucional un mayor margen de libertad en la interpretación constitucional y lo
responsabilizó de promover el desarrollo de esa nueva filosofía sobre cuyos alcances y
fuentes aún existe controversia.
Posteriormente, durante el periodo correspondiente al segundo mandato incon-
cluso del presidente Alfonso López Pumarejo, sí se modificó un aspecto orgánico y
competencial del sistema de control constitucional. En 1945,27 se atribuyó al Consejo
de Estado funciones de control constitucional, en particular con respecto a las accio-
nes públicas contra actos administrativos.28 Con ello se circunscribió la competencia
de la Corte Suprema de Justicia respecto del ejecutivo a sólo tres categorías de decre-
tos: los decretos de estado de sitio, los decretos extraordinarios dictados en ejercicio
de una delegación legislativa expresa, precisa y temporal, y los decretos que desarrol-
laran autorizaciones concedidas por el Congreso para negociar empréstitos y ejercer
otras funciones dentro de la órbita constitucional del Presidente. El origen de esta
reforma fue el conflicto que se suscitó entre la Corte Suprema de Justicia y el Consejo
27 Acto Legislativo N 1 de 1945 (artículo 41). Dicha reforma también describió de manera más detallada las
competencias de la Corte Suprema de Justicia con miras a distribuir claramente las competencias de esta y
del Consejo de Estado. También facultó a los gobernadores de departamento para objetar por motivos de
inconstitucionalidad, ilegalidad o inconveniencia los proyectos de ordenanzas (artículo 85 num. 6).
28 El Consejo de Estado también conocía de las “excepciones de ilegalidad”, raramente aplicadas por los jue-
ces y por otras autoridades en relación con actos administrativos que se consideraban incompatibles con la
ley en casos concretos, y podía aplicar una “excepción de inconstitucionalidad” frente a leyes y actos admi-
nistrativos. En 1945 también se le atribuyeron competencias contenciosas en relación con las peticiones de
indemnización de perjuicios presentadas por las víctimas de abusos estatales.
594
La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
de Estado en torno a cuál de las dos corporaciones era competente para conocer de un
decreto dictado en 1942 sobre un tema de alta sensibilidad política.29 Por medio de
dicho decreto el ejecutivo cambió la fecha en la cual habrían de reunirse las asambleas
departamentales. Como para entonces ya estaba en vigor el Código Contencioso
Administrativo30 que regulaba las competencias de los tribunales administrativos y
del Consejo de Estado, éste suspendió provisionalmente el decreto. A su turno, la
Corte Suprema de Justicia le planteó al Consejo de Estado un conflicto de competen-
cias, acogiendo la solicitud del Procurador General de la Nación en el sentido de que
era ella la que debía revisar la constitucionalidad de dicho decreto. La controversia de
gran intensidad, tanto política como jurídica, se resolvió el mismo año cuando la
Corte Suprema de Justicia declaró inexequible el artículo del Código Contencioso
Administrativo que había servido de fundamento al Consejo de Estado para asumir
competencia como órgano de control constitucional de los decretos del ejecutivo.31
Tres años después de esta reforma, cuando el 9 de abril de 1948 fue asesinado el
caudillo liberal Jorge Eliécer Gaitán, empezó un lapso crítico para la defensa judicial
de la Constitución: “La Violencia” entre liberales y conservadores y, luego, la dicta-
dura del General Gustavo Rojas Pinilla (1953-1957).
“La Violencia” terminó por un golpe de Estado llamado “golpe de opinión” por-
que era sostenido por una corriente moderada del Partido Conservador y por el
Partido Liberal. El presidente conservador, Laureano Gómez, fue obligado al exilio en
1953, y se refugió en la España franquista. Después del golpe de Estado, el general
Gustavo Rojas Pinilla ordenó un cese al fuego unilateral de los militares y ofreció una
amnistía general e incondicional. Al cabo de un año numerosos jefes de las guerrillas
abandonaron sus armas. Un pacto entre los dirigentes de los dos grandes partidos fue
entonces inscrito en la Constitución: alternación obligatoria de la presidencia entre
liberales y conservadores inicialmente durante doce años que luego se extendieron a
dieciséis años (1958-1974); repartición paritaria de las carteras ministeriales, de los
escaños en la Corte Suprema de Justicia, en el Consejo de Estado, en el Congreso, en
los Concejos Municipales y en las Asambleas Departamentales durante doce años, y
restauración de la Constitución de 1886, con sus reformas sucesivas. Lo esencial de
este pacto fue ratificado por plebiscito el 1 de diciembre de 1957 y luego por una
reforma constitucional. La junta militar provisional cedió entonces el poder al primer
presidente del Frente Nacional del gobierno de “responsabilidad compartida”, el libe-
ral Alberto Lleras Camargo.
595
Manuel José Cepeda
Así terminó el breve régimen militar y, sobre todo, la violencia entre liberales y
conservadores, una vez más gracias a un pacto constitucional. Pero los conflictos con-
tinuaron en algunos municipios. En la elección presidencial de 1970, la última bajo el
régimen del Frente Nacional, el movimiento político creado por el general Gustavo
Rojas (Alianza Nacional Popular, Anapo) estuvo a punto de ganar las elecciones.
Entonces una nueva guerrilla apareció, el M-19 (Movimiento 19 de Abril, fecha de las
elecciones). Las FARC y el ELN habían emergido en la década anterior como grupos
guerrilleros con banderas predominantemente rurales.
Con el Frente Nacional se buscó reducir la confrontación, aún política, entre los
partidos. Esto redundó en la despartidización de la Corte Suprema de Justicia con
miras a asegurar su independencia frente tanto al Congreso como al ejecutivo. Para
ello, como se anotó, se acudió a dos mecanismos: la paridad liberal conservadora y la
cooptación que marginó a las ramas políticas del poder público de la selección de los
magistrados. Con ello se avanzó en independencia judicial. La propia Corte Suprema
ejerció su misión de guardián de la Carta no solo para preservar el consenso constitu-
cional bipartidista sino para garantizar su gobernabilidad en un contexto de conviven-
cia entre las fuerzas políticas tradicionales.
Una de las consecuencias saludables de la paridad y de la cooptación fue la de
aumentar la independencia del juez constitucional ante los cambios en las tendencias
de la opinión política, sin bien su composición siempre habría de reflejar el predomi-
nio bipartidista. Este cambio también marca la culminación de la evolución de las
garantías a la independencia de la Corte Suprema de Justicia, que fue uno de los pro-
pósitos del constituyente de 1886.32 Es necesario subrayar que en 1991 se presentó
una transformación radical en todo el sistema de control constitucional, la cual estu-
vo acompañada de una recombinación de las garantías de independencia con el fin de
permitir la participación del Ejecutivo y el Legislativo en la integración de la Corte
Constitucional, sin disminuir su autonomía ni amenazar su imparcialidad. Por ello, las
dos terceras partes de los magistrados son postulados por la rama judicial, su periodo
es de ocho años sin posibilidad de reelección y el régimen de inhabilidades e incom-
patibilidades se hizo más severo. A su turno, la legitimidad de la Corte Constitucional
se fortaleció al ser todos sus miembros elegidos directamente por el Senado, e indirec-
32 Al respecto José María Samper dijo en su comentario de la época (1881): “Pero es claro que los jueces o magis-
trados, no son gobernantes, en la acepción constitucional de la palabra gobierno y de la función gubernati-
va, ni tienen carácter político, ni cosa alguna que hacer con la política, esto es, con la lucha de los partidos y
el predominio que la opinión nacional da a determinadas ideas en la dirección de la república. Por el contra-
rio, el juez o magistrado debe apartarse totalmente de las cosas políticas, no tomarlas en cuenta para sus fal-
los o resoluciones, cerrar ojos, oídos y boca delante de los partidos, y hacer cuenta que estos no existen. El es
una conciencia neutral e impasible que juzga sobre hechos que le son extraños personalmente (…). José
María, Samper. Derecho Público Interno de Colombia. Editorial Temis, 1982. (reimpresión)
596
La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
tamente por el pueblo ya que la cámara alta es elegida en circunscripción nacional por
todos los electores que conforman el censo electoral. Dicho fortalecimiento ha redun-
dado en una mayor independencia de la Corte Constitucional para adoptar decisiones
en casos difíciles y polémicos, como se verá posteriormente.
Tan solo tres años después de iniciado el Frente Nacional, se hizo manifiesto el
abuso del ejercicio de las facultades presidenciales basadas en el estado de sitio, el cual
se extendió desde 1944, con motivo del golpe frustrado de cuartel en la ciudad de
Pasto contra el Presidente Alfonso López Pumarejo, hasta 1957, cuando terminó la
dictadura militar. La respuesta ante esta fuente de confrontación política fue reformar
el mecanismo de acceso a la Corte Suprema de Justicia para controvertir tales decre-
tos. Antes de 1960 éstos podían ser demandados por cualquier ciudadano ante la
Corte. En 1960 se introdujeron dos cambios que revelan la importancia del control
constitucional para contribuir o mantener la convivencia pacífica. Primero, se facul-
tó al Congreso, por medio de proposición aprobada por mayoría absoluta de una y otra
cámara, para decidir que dichos decretos pasaran a la Corte Suprema de Justicia para
que se pronunciara sobre su constitucionalidad. De nuevo se establecía el acceso a la
Corte como un mecanismo de garantía para las fuerzas políticas que se sintieran lesio-
nadas por el poder presidencial, pero esta vez se hizo explícita su función política que
no era notoria en 1910. Segundo, ante la decisión del Congreso, la Corte quedaba obli-
gada a fallar dentro del término de 6 días. La consecuencia de no hacerlo era que los
magistrados incurrían en causal de mala conducta y podían ser destituidos. Además,
el decreto quedaba automáticamente suspendido, lo cual reforzaba el carácter garan-
tista del acceso a la Corte desde el punto de vista de los afectados.33
Después de una década de Frente Nacional, en 1968 una reforma introdujo el con-
trol de oficio, por la Corte Suprema de Justicia, de los decretos legislativos expedidos por
el Presidente de la República en ejercicio de sus poderes excepcionales bajo el estado de
sitio, y lo hizo extensivo por esta vía automática al nuevo estado de excepción creado en
esa misma reforma con el nombre de emergencia económica y social.34 La instauración
de un control oficioso de los decretos con fuerza de ley dictados por el Presidente de la
República durante el estado de sitio obedeció a la poca utilización por parte del
Congreso de la facultad que se le confirió en 1960 así como al propósito de erigir a la
597
Manuel José Cepeda
Corte Suprema como órgano de control del poder presidencial. Sin embargo, el balance
del control judicial de los decretos de estado de sitio apunta a que en realidad la Corte
fue deferente con el Ejecutivo y en no pocas ocasiones obró, quizás sin proponérselo,
como legitimador de la constitucionalidad de medidas excepcionales en extremo restric-
tivas de los derechos e invasoras de las competencias de la rama judicial.
35 Otras reformas al control constitucional fueron: la ampliación de decretos presidenciales sometidos a con-
trol, puesto que se agregaron los decretos para poner en vigencia los proyectos de leyes sobres planes y pro-
gramas de desarrollo económico así como los dictados con base en el estado de emergencia económica y
social; la creación de la sala constitucional, la exclusión de la acción pública para los decretos dictados con
base en el estado de excepción.
36 Los términos ordinarios eran los siguientes: 30 días para que el Procurador General de la Nación rindiera
su concepto sobre la constitucionalidad del acto controlado; 30 días para que la Sala Constitucional, creada
también en 1968, rindiera ponencia ante la Sala Plena y 60 días para que el Pleno de la Corte profiriera sen-
tencia (artículo 214 de la codificación de 1968).
37 Así sucedió con la demanda instaurada por Luis E. Nieto Arteta contra los decretos 1381 y 1382 de 1940
(Gaceta Judicial n. 2150, Tomo LXXIX, p. 412).
38 Carta de 14 de septiembre de 1956 dirigida a juristas de Medellín (Gaceta Judicial Nos 2171-2172-2173,
Tomo LXXXIII, p. 421).
39 Sentencia de septiembre 30 de 1970 (M.P. José Gabriel de la Vega). Gaceta Judicial 2338 Bis, Tomo
CXXXVII, p. 386 y ss. La sentencia de la Corte fue inhibitoria por sustracción de materia. La Corte argu-
mentó que el Congreso ya había reanudado sus sesiones desde 1951 y que el decreto había sido derogado
598
La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
miento en la formación de las leyes. Este avance, estimulado por los fallos inhibito-
rios de la Corte frente a cargos formales, también responde al propósito de conceder-
le a las minorías políticas garantías en los procesos decisorios que conducen a la expe-
dición de normas jurídicas, lo cual se inspira en la función de pacificación política que
cumple el control constitucional.
En cambio, en 1968 no se aprobó la propuesta de crear una Corte Constitucional
inspirada en el modelo europeo de control concentrado. La idea de introducir esta
transformación reapareció en varios momentos y tan solo se materializó parcialmen-
te en 1979 cuando una reforma constitucional atribuyó a la Sala Constitucional de la
Corte Suprema funciones autónomas de decisión. No obstante, esta reforma solo estu-
vo en vigor unos cuantos meses porque la Corte Suprema de Justicia la declaró incons-
titucional por vicios de forma.40
En resumen, para 1990 con el fin de cumplir sus funciones de trascendencia polí-
tica, en especial en lo atinente al mantenimiento de la convivencia pacífica mediante
la resolución institucional de conflictos y desacuerdos, las competencias básicas de la
Corte Suprema de Justicia - paritaria, elegida por cooptación, independiente, y com-
puesta de 24 magistrados - eran: (a) revisar los proyectos de ley objetados por motivos
de inconstitucionalidad por el Presidente de la República ante la insistencia del
Congreso; (b) llevar a cabo el control constitucional oficioso de los decretos legislati-
vos dictados por el Gobierno en ejercicio de sus poderes bajo estados de sitio o de emer-
gencia económica; y (c) resolver las acciones públicas de inconstitucionalidad presen-
tadas por los ciudadanos contra las leyes o contra los decretos con fuerza de ley adop-
tados por el Presidente en ejercicio de poderes legislativos expresamente delegados a él
por el Congreso mediante leyes de “facultades extraordinarias”. Adicionalmente, la
Corte Suprema expandió el alcance de sus propias funciones de control constitucional
en varias decisiones notorias, incluyendo las que declararon su jurisdicción sobre (d)
las acciones públicas de inconstitucionalidad contra reformas constitucionales aproba-
das por el Congreso,41 y (e) las leyes aprobatorias de tratados internacionales, que sólo
eran controladas en cuanto a la validez de su proceso de formación.42
En 1991 este sistema sufrió una transformación radical, también como parte de
un cambio constitucional orientado a conseguir la paz, esta vez con los grupos guerri-
porque se le “privó de efectos”, con el decreto que señaló la fecha para reanudar las sesiones en 1951.
También alegó la Corte que la demanda había sido presentada después de la reanudación de las sesiones del
Congreso. Respecto de la constitucionalidad de la ley que le dio carácter permanente, la Corte acogió la tesis
del Procurador de que se trataba de una “inadvertencia” del legislador. El fallo fue unánime.
40 Sentencia del 3 de noviembre de 1981, (M.P. Fernando Uribe Restrepo).
41 Sentencia del 5 de mayo de 1978, M.P. (José María Velasco Guerrero).
42 Sentencia del 12 de diciembre de 1986 (M.P. Jairo E. Duque Pérez).
599
Manuel José Cepeda
lleros que nacieron durante el Frente Nacional. Dicho cambio fue el más grande y pro-
fundo del siglo XX puesto que se tradujo en una Constitución completamente nueva y
diferente adoptada por una Asamblea Constituyente convocada por iniciativa ciudada-
na y elegida popularmente, lo cual fue propiciado y orientado por los gobiernos suce-
sivos de los presidentes Virgilio Barco (1986-1990) y César Gaviria (1990-1994).
Ambos presidentes acudieron a decretos de estados de sitio para facilitar que el
pueblo, como constituyente primario, convocara, eligiera y definiera el perfil de la
asamblea constituyente. La Corte Suprema de Justicia avaló la validez de tales decre-
tos con el argumento de que la convocatoria de la Asamblea contribuiría a la recon-
ciliación de los colombianos y podría conducir a la adopción de esos tratados de paz
denominados constituciones. La Constitución de 1991 fue también un tratado de paz
en un sentido mucho más amplio y de largo plazo: fue una tentativa de reformulación
del contrato social.
El argumento de la Corte sin duda se inspiró tácitamente en dos siglos de histo-
ria nacional, pero también respondió al contexto del momento puesto que había veni-
do avanzando con altas probabilidades de éxito un proceso de paz con el grupo gue-
rrillero M-19 y con el EPL.43
En efecto, dos decenios después de convertirse en partido político, el grupo gue-
rrillero M-19 se encuentra militarmente golpeado y casi sin apoyo popular después de
su toma por asalto en 1985 del Palacio de Justicia, donde tenía su sede la Corte
Suprema de Justicia, seguido del secuestro de un líder conservador en 1988 (Álvaro
Gómez Hurtado). El presidente Virgilio Barco Vargas dirige entonces un gobierno
liberal e invita a las demás fuerzas políticas a practicar una oposición leal. Critica la
permanencia de la coalición liberal-conservadora y preconiza paralelamente un plan
de lucha contra la pobreza. El M-19 firma un acuerdo de paz y participa en las elec-
ciones legislativas y presidenciales de 1990. Obtiene pocos votos pero suscita la con-
fianza en la seriedad de su mutación cívica. Ocho meses más tarde logra un amplio
progreso en el momento de la elección de una asamblea constituyente, al obtener 19
de los 70 escaños, y entra a formar parte de la troika que presidió la Asamblea.
Otros ex guerrilleros manifestaron también algunos meses después de la elección
de la Asamblea Constituyente (diciembre de 1990) su deseo de firmar la paz. El
Presidente César Gaviria Trujillo había liderado un proceso de acuerdos políticos para
definir las reglas de juego de convocatoria de la Asamblea Constituyente, así como la
agenda de la cual ésta habría de ocuparse.44 En dicho acuerdo, luego respetado en ese
punto por el reglamento de funcionamiento que adoptó autónomamente la Asamblea
Constituyente después de iniciar sus sesiones el 5 de febrero de 1991, se previó la posi-
bilidad de asignarle, por decisión presidencial, participación a los grupos guerrilleros
43 Rafael, Pardo Rueda, De primera mano. Colombia 1986-1994: entre conflictos y esperanzas, Cerec, Norma,
Bogotá, 1996.
44 Para una descripción detallada de este proceso ver Manuel José, Cepeda Espinosa, Introducción a la
Constitución de 1991, Presidencia de la República, Bogotá, 1992.
600
La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
45 La Rama Judicial colombiana ha sido organizada tradicionalmente en “jurisdicciones”, esto es, segmentos
especializados del aparato judicial, que se ubican jerárquicamente bajo una de las dos “altas Cortes”: la Corte
Suprema de Justicia (que encabeza la jurisdicción “ordinaria”, que abarca a los jueces civiles, penales, labo-
rales, agrarios, especializados de comercio y de familia) y el Consejo de Estado (que se ubica a la cabeza de
la jurisdicción “contencioso-administrativa”, a cargo de la resolución de los conflictos derivados del ejerci-
cio de la función pública administrativa). La Constitución de 1991 creó una nueva jurisdicción “constitu-
cional”, encabezada por la Corte Constitucional, que abarca a todos los jueces del país cuando deciden casos
de tutela, incluyendo a la Corte Suprema de Justicia y el Consejo de Estado. Otras “jurisdicciones” del país
incluyen la jurisdicción penal militar, la jurisdicción especial indígena y los “jueces de paz” (compuesta por
ciudadanos particulares a quienes la Constitución confiere funciones jurisdiccionales específicas para resol-
ver asuntos menores).
601
Manuel José Cepeda
46 Aunque la acción de inconstitucionalidad era pública en teoría, en la práctica hacían uso de ella principal-
mente los grupos económicos más poderosos, u otros grupos de presión (cuando ello fuera ventajoso para
sus intereses), demostrando así que el canal jurídico públicamente accesible que había sido diseñado origi-
nalmente se había convertido, de alguna manera, en un instrumento para la promoción de intereses priva-
dos encubiertos (La acción pública de inconstitucionalidad también era utilizada por los estudiantes de
Derecho para cumplir con requisitos académicos de sus cursos de Derecho Constitucional o con sus prácti-
cas de consultorio jurídico y judicatura en derecho público).
47 En consecuencia, varias medidas que hoy en día serían consideradas inaceptables encontraron una toleran-
cia judicial significativa –y sorprendente– (Como ocurrió, por ejemplo, con la represión de protestas por
medio de poderes presidenciales bajo un estado de sitio (decisión del 30 de octubre de 1978, M.P. Luis
Carlos Sáchica Aponte, y del 1º de diciembre de 1986, M.P. Fabio Morón Díaz). Pero tal vez la falla más
protuberante del sistema en este campo era la ausencia de mecanismos e instrumentos adecuados y accesi-
bles para asegurar la protección directa de los derechos fundamentales en situaciones concretas de la vida
cotidiana. La idea misma de derechos fundamentales de aplicación directa era ajena a nuestro sistema de
derecho constitucional, y en consecuencia, a la jurisprudencia de la Corte Suprema (Para un balance de las
decisiones de la Corte Suprema de Justicia sobre derechos fundamentales, en el que se resalta la importan-
cia de la carta de derechos y la acción de tutela que se introdujeron en 1991, se puede consultar: Manuel
José, Cepeda, Los Derechos Fundamentales en la Constitución de 1991, Editorial Temis, Bogotá, 1997).
48 Por ejemplo, cuando la Corte Suprema declaró la inexequibilidad de las reformas constitucionales promo-
vidas por los presidentes Alfonso López Michelsen (Sentencia del 5 de mayo de 1978, M.P. José María
Velasco Guerrero; la reforma constitucional preveía la convocatoria de una Asamblea Constituyente) y
Julio César Turbay Ayala (Sentencia del 3 de noviembre de 1981, M.P. Fernando Uribe Restrepo; la refor-
ma se refería principalmente a las ramas legislativa y judicial), cuando declaró inconstitucional la reforma
tributaria adoptada por el presidente Belisario Betancur en ejercicio de sus poderes bajo un estado de emer-
gencia económica (Sentencia del 23 de febrero de 1982, MM.PP. Ricardo Medina Moyano, Manuel Gaona
Cruz y Carlos Medellín Forero), cuando declaró la constitucionalidad del controvertido “Estatuto de
Seguridad” del presidente Julio César Turbay Ayala (Sentencia del 30 de octubre de 1978, M.P. Luis Carlos
Sáchica Aponte), cuando respaldó la validez de una ley que limitaba la inversión extranjera en el sector
financiero (la controvertida “ley de nacionalización de la banca”) (Sentencia del 16 de junio de 1976, M.P.
Eustorgio Sarria Morcillo), o cuando se declaró competente para examinar la constitucionalidad de las leyes
602
La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
603
Manuel José Cepeda
tuyente, los derechos se convirtieron en un asunto de consenso nacional, y su protección efectiva una cues-
tión de interés general, no ideológico.
(2) El segundo se refiere a la influencia prevaleciente de la escuela jurídica francesa. Aunque no cabe duda
de que la cultura jurídica francesa ha inspirado varias instituciones clave y algunas evoluciones importantes
dentro del orden jurídico colombiano, el derecho constitucional francés perdió su preeminencia global luego
de la década de los sesenta. El derecho constitucional francés fue sustituido en varias áreas cruciales, prime-
ro por el derecho constitucional italiano y alemán, y luego por el derecho constitucional español, luego de
la caída de Franco y de la instalación del Tribunal Constitucional. Aunque algunos constitucionalistas fran-
ceses –tales como Louis Favoreu y Olivier Duhamel, entre otros- se dieron cuenta de lo que estaba sucedien-
do y promovieron un progreso radical, no eran tan bien conocidos en Colombia como sus colegas del dere-
cho administrativo, por lo cual su influencia sólo empezó a sentirse después de 1991. Puede consultarse, en
este sentido, Manuel José, Cepeda, Derecho Constitucional Jurisprudencial, LEGIS, Bogotá, 2001.
52 Los miembros de la Corte Suprema, por supuesto, se opusieron, pero con base en argumentos centrados en
el desempeño pasado de la institución como guardiana de la agonizante Constitución de 1886.
53 También existieron serios desacuerdos al interior del gobierno del Presidente Gaviria sobre si el proyecto
que se iba a presentar a la Asamblea Constituyente debía incluir la propuesta de crear una Corte
Constitucional, o si era preferible mantener los poderes de control constitucional en manos de la Corte
Suprema de Justicia. Esta divergencia –que de hecho constituyó la discrepancia interna más intensa dentro
del Gobierno- fue finalmente resuelta por el Presidente Gaviria a favor de la creación de una Corte
Constitucional, en contra de la posición apoyada, entre otros, por su Ministro de Justicia, un exmagistrado
de la Corte Suprema.
604
La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
inspiraba la nueva Constitución de tal forma que pudiera desarrollar gradualmente los
contenidos específicos de la Constitución hasta su máxima amplitud, con base en el
origen ampliamente democrático e inclusivo de la Carta Política, y dentro del espíri-
tu de pluralismo, participación, igualdad y respeto por la dignidad humana que la
había inspirado; orientar con autoridad la interpretación, por los jueces de inferior
jerarquía, de las disposiciones constitucionales relativas a los derechos fundamentales;
y adoptar decisiones legítimas y definitivas para resolver disputas de alta trascenden-
cia política sobre el contenido y el alcance de la nueva Constitución. Aunque esta pro-
puesta se encontró con la oposición de algunos sectores conservadores, eventualmen-
te fue aceptada por un corto margen, y así se creó el nuevo tribunal constitucional.54
Un discurso contundente, oportuno y persuasivo por el Presidente Gaviria a los
delegados, en el cual los llamó a redefinir el sistema de control constitucional al que
iban a confiar la preservación de su principal creación, contribuyó a construir las
mayorías indispensables para efectuar este profundo cambio.55 Ello, junto con una
54 Para una comparación entre ciertas votaciones fáciles y otras difíciles en la Asamblea Constituyente, se puede
consultar: Manuel José, Cepeda, La Asamblea Constituyente por Dentro: Mitos y Realidades, Presidencia de
la República, Bogotá, 1993. La idea de crear una Corte encargada de la delicada y crítica función de salvaguar-
dar la integridad y supremacía de la Constitución ya había sido propuesta en varias oportunidades a lo largo
de las cuatro décadas precedentes (Entre las propuestas –fallidas- más notorias para crear un tribunal consti-
tucional independiente, se pueden incluir: (i) la que lanzó el Senador y jurista Carlos Restrepo Piedrahita
durante el proceso de reforma constitucional de 1968, que no obstante dio pie a la creación de una Sala
Constitucional en la Corte Suprema de Justicia (la cual, hasta entonces, había cumplido sus funciones de con-
trol constitucional a través de la Sala Plena, sin que ninguna sala especializada estuviera a cargo de proyectar
las decisiones); (ii) la que se había incluido en la propuesta de reforma constitucional abanderada por el pre-
sidente Alfonso López Michelsen y aprobada por el Congreso en 1976; y (iii) la que se había incluido inicial-
mente en el proceso de reforma constitucional iniciado por el presidente Julio César Turbay Ayala en 1979, la
cual fue rechazada por el Congreso durante la segunda vuelta de los debates correspondientes. Otras figuras
políticas notorias habían lanzados propuestas similares (como hizo el candidato presidencial Álvaro Gómez en
la década de los setenta, y el designado a la Presidencia Darío Echandía en los años cincuenta); sus defensores
la habían promovido con argumentos que iban desde la prevención de un “gobierno de los jueces”, hasta la
designación de expertos en derecho público para llevar a cabo el control constitucional. Sin embargo, desde
los años cincuenta estas propuestas habían sido presentadas simplemente como soluciones a determinados
excesos o deficiencias específicos en el trabajo de la Corte Suprema, y eran ideas meramente ocasionales que
no generaban mayor controversia pública, y rápidamente se desvanecían. A pesar de estos antecedentes, nin-
guno de los partidos y movimientos políticos representados en la Asamblea Constituyente presentó la pro-
puesta de establecer un tribunal constitucional – excepto el Gobierno del Presidente Gaviria. El Ministro de
Gobierno de ese momento, Humberto de la Calle Lombana, también jugó un rol crucial en la defensa de la
propuesta. Los debates relevantes pueden seguirse en la publicación oficial de la Asamblea Constituyente:
Gaceta Constitucional, números 36 (p. 7, 26), 56 (p. 5), 64 (p. 11), 72 (p. 9), 74 (p. 3), 75 (p. 16), 81 (p. 16), 82
(p. 2), 84 (p. 7), 85 (ps. 12, 14), 91 (p. 4), 95 (p. 2), 102 (p. 2), 109 (p. 31), 113 (p. 17), 115 (p. 19), 124 (ps. 3,
12), 127 (p. 32), 135 (p. 7), 137 (p. 4), 141 (p. 10), y 143 (ps. 7, 8).
55 “…Tarde o temprano habrá que responder las siguientes preguntas: ¿En manos de quién va a quedar la
inmensa responsabilidad de interpretar y desarrollar por vía jurisprudencial la nueva Constitución? ¿A
quién le van ustedes a confiar la tarea de impulsar en las próximas décadas las innovaciones constituciona-
les que surgirán del seno de esta asamblea? ¿Quién será el guardián de que esta Constitución nueva perdu-
re y que la adapte a la realidad dinámica de Colombia? Y sobre todo, ¿qué organismo tendrá a cargo la
misión de impedir que cualquier autoridad poderosa mediante leyes, decretos, resoluciones, órdenes u otros
actos o hechos administrativos detenga esta transformación que ustedes impulsan? …Pensemos en el futu-
ro. La nueva Constitución requiere, para su cabal aplicación, un nuevo sistema de control constitucional”
605
Manuel José Cepeda
(En: Manuel José, Cepeda, Los derechos fundamentales en la Constitución de 1991, Editorial Temis, Bogotá,
1997, p. 341).
56 Antonio Navarro Wolff, el líder del M-19 y co-presidente de la Asamblea Constituyente, emitió públi-
camente su voto negativo por las razones simbólicas atinentes a que en 1985 el M-19, siendo grupo
guerrillero, se tomó por asalto el Palacio de Justicia. En la actualidad, como miembro del Congreso, ha
apoyado activamente la existencia y el rol de la Corte Constitucional, como lo hizo cuando fue alcalde
de la ciudad de Pasto.
57 El número de magistrados, su sistema de elección y su período se encuentran regidos por los artículos 239
y 240 de la Constitución.
58 La primera Corte de transición (1992-1993) tenía siete magistrados, nombrados para un período de un
año como sigue: dos por el Presidente de la República, uno por la Corte Suprema de Justicia, uno por
el Consejo de Estado, uno por el Procurador General de la Nación, y dos por estos cinco magistrados,
de entre listas de tres candidatos elaboradas por el Presidente de la República (Artículo Transitorio 22
de la Constitución).
59 La independencia de la Corte Constitucional es garantizada adicionalmente por varias disposiciones
constitucionales específicas. Primero, un principio general de independencia que obedece a una tradición
de cincuenta años. Segundo, la autonomía financiera, ya que su presupuesto es presentado e implemen-
tado por otro organismo judicial (el Consejo Superior de la Judicatura). Tercero, los magistrados no pue-
den ser nombrados por el Ejecutivo para ningún cargo gubernamental, sino hasta un año después de su
retiro de la Corte. Cuarto, la remuneración de los magistrados debe aumentar al mismo ritmo que el pro-
medio de los incrementos anuales de todos los servidores públicos. Quinto, los magistrados no pueden
aceptar nombramientos para cargos, recompensas ni honores por parte de gobiernos extranjeros u orga-
nizaciones internacionales, ni pueden celebrar contratos con ellos sin autorización previa (artículo 129
de la Constitución). Sexto, a los Magistrados les está prohibido celebrar contratos ex parte. Séptimo, la
Corte Constitucional adopta sus propias reglas de procedimiento interno. Octavo, los Magistrados no
pueden ser destituidos ni suspendidos de sus cargos, a menos que tales medidas sean adoptadas luego de
un juicio político por el Congreso de la República –una vez el Senado acepte una acusación formal por la
Cámara de Representantes en pleno.
606
La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
60 Una serie de mecanismos e instituciones innovadores fueron introducidos con miras a garantizar que la
nueva Constitución, en particular su generosa Carta de Derechos, trascendiera el ámbito de las palabras para
permear directamente la realidad social. Este sistema de aplicación de la Constitución habría de estar com-
puesto de nuevos organismos, nuevos procedimientos y nuevos criterios para orientar la interpretación
constitucional: (i) se crearon nuevas entidades públicas, con las misiones específicas de salvaguardar la inte-
gridad y supremacía de la Carta Política –la Corte Constitucional (Título VIII, Capítulo 4 de la
Constitución)–, o promover y proteger los derechos fundamentales –tales como la Defensoría del Pueblo
(Artículos 281-283 de la Constitución)–; (ii) se introdujeron nuevos procedimientos para proteger distintos
tipos de derechos e intereses amparados por la Constitución, incluyendo aquellos diseñados para proteger
derechos fundamentales –acción de tutela (Artículo 86 de la Constitución) -, para ordenar a las autoridades
administrativas que cumplan con sus cometidos propios en situaciones específicas –acción de cumplimien-
to (Artículo 87 de la Constitución) -, para proteger derechos colectivos –acción popular (Artículo 88 de la
Constitución) -, y para garantizar los derechos de grupos sociales específicos –acción de grupo (Id)-; adicio-
nalmente, la Constitución dejó abierta la puerta para que el Congreso creara cualquier otro mecanismo o
procedimiento que considerara apropiado para resguardar los derechos constitucionalmente protegidos
(Artículo 89 de la Constitución); y (iii) nuevos criterios para orientar la interpretación de la Constitución,
que no fueron adoptados inicialmente por la Asamblea Constituyente (La propuesta de nueva Constitución
presentada por el Presidente Gaviria a la Asamblea Constituyente incluía algunos de esos criterios. En este
sentido, se puede consultar: “Proyecto de Acto Reformatorio de la Constitución Política” (Presidencia de la
República, Bogotá, 1991). Sin embargo, dos criterios sugeridos por el Gobierno sí fueron incluidos expresa-
mente en la Constitución: la aplicación directa e inmediata de ciertos derechos (aunque la lista finalmente
adoptada por la Asamblea es incompleta y antitécnica – ver Artículo 85 de la Carta), y la proporcionalidad
en el marco de los estados de excepción (art. 214, C.P.)) (y por ende no fueron incluidos en el texto cons-
titucional), pero que han sido desarrollados y aplicados por la Corte Constitucional, incluyendo los crite-
rios de proporcionalidad, razonabilidad, protección del “núcleo esencial” de los derechos fundamentales,
aplicación directa de derechos constitucionales incluso en ausencia de regulaciones legales que los desa-
rrollen, y referencia obligatoria a los tratados internacionales en relación con la interpretación de los dere-
chos fundamentales (este último criterio sí fue incluido en el artículo 93 de la Carta).
61 Bajo la Constitución de 1886, este procedimiento de revisión estaba restringido a los decretos expedidos
bajo estados de sitio o de emergencia económica, y se llevaba a cabo después de su promulgación. Hoy en
día, además de (i) los decretos adoptados bajo cualquiera de los “estados de excepción”, la Corte
Constitucional debe llevar a cabo un control automático de los siguientes tipos de normas: (ii) todas las leyes
que aprueban tratados internacionales, así como los tratados en sí mismos, que después de ser aprobados por
el Congreso son revisados por la Corte antes de que el Ejecutivo pueda ratificarlos; (iii) las leyes estatuta-
607
Manuel José Cepeda
rias –esto es, las leyes que regulan ciertos temas específicos enumerados en a Constitución, tales como los
derechos fundamentales, los mecanismos de participación, los estados de excepción, la Administración de
Justicia y otros temas importantes, que se consideran mejor protegidos dado el procedimiento especial de for-
mación de las leyes estatutarias, las cuales son revisadas por la Corte antes de que el Presidente las sancione–;
(iv) las leyes que convocan a una asamblea constituyente o a un referendo para modificar la Constitución,
que sólo pueden ser revisadas en cuanto a su validez procedimental; (v) los referendos celebrados para apro-
bar o derogar leyes, así como otros mecanismos de participación democrática, tales como las consultas popu-
lares nacionales o los plebiscitos nacionales (estos últimos sólo en relación con su validez formal).
62 La Corte tiene amplio acceso a cualquier fuente de información especializada que pueda contribuir a la
adopción de sus decisiones, incluida la posibilidad de solicitar opiniones expertas a individuos, universida-
des u organizaciones – una alternativa ampliamente utilizada cuando se requieren datos técnicos o valora-
ciones profesionales. La Corte también puede tener en cuenta la opinión de los Ministros del Gabinete, a
quienes se notifica toda acción pública de inconstitucionalidad, y convocar audiencias públicas para enri-
quecer sus decisiones con información sobre el contexto socio-político del tema a decidir. La introducción
de medios para estimular la participación de expertos, organizaciones sociales y funcionarios públicos en el
proceso de control constitucional también buscaba traer a la atención de la Corte los hechos y las percep-
ciones conflictivas de la realidad social, para así ayudarle al tribunal a cumplir con su función de evaluar la
constitucionalidad de las normas en el contexto real del país.
63 Artículo 86 de la Constitución.
64 El control constitucional concreto también fue ampliado a través de la creación de otros tres tipos de accio-
nes judiciales diseñadas para proteger tipos específicos de derechos o intereses: la acción de cumplimiento
(creada para exigir a los funcionarios públicos administrativos el cumplimiento de sus deberes legales en
casos particulares), la acción popular (creada para proteger derechos e intereses colectivos tales como el
medio ambiente o el patrimonio cultural), y la acción colectiva o de grupo (similar a las “acciones de clase”
–class actions- de los sistemas de derecho consuetudinario o common law). Sin embargo, los principales
pronunciamientos de la Corte en relación con el control constitucional concreto han sido adoptados en
relación con el primero de estos mecanismos, la acción de tutela.
608
La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
proferir una sentencia definitiva, de conformidad con las necesidades de cada situa-
ción concreta. Adicionalmente, cualquier decisión de tutela puede ser revisada por la
Corte Constitucional, que seleccionará aquellas que considere necesario corregir, o
que sean pertinentes para el desarrollo de su propia jurisprudencia, y proferirá el fallo
correspondiente. Salvo por las decisiones en las que la Corte busca unificar su doctri-
na sobre un tema específico, que se conocen como “SU” (Sentencias de Unificación) y
son adoptadas por la Sala Plena, las sentencias son proferidas por Salas de Revisión
compuestas de tres magistrados cada una, en orden alfabético; hay nueve Salas de
Revisión, cada una de las cuales es presidida por uno de los nueve magistrados.65
El acceso de los ciudadanos al sistema de control constitucional también es fácil
para pedir el control abstracto de normas. La acción pública de inconstitucionalidad
preexistente no solo se mantuvo sino que su alcance fue ampliado significativamente
en 1991. La acción pública de inconstitucionalidad puede ser ejercida por cualquier
ciudadano - con pocas formalidades, sin tener que actuar por medio de un apoderado,
y sin el deber de demostrar un interés jurídico específico en el tema objeto de la
demanda– contra las leyes, las reformas constitucionales (en relación con su validez
procedimental), y los decretos expedidos por el Gobierno en ejercicio de poderes
legislativos delegados. Las leyes anteriores a 1991 que aprueban tratados internacio-
nales también pueden ser demandadas por esta vía,66 pero no las leyes expedidas con
el mismo fin después de 1991 (éstas se someten a control automático por la Corte
desde antes de su promulgación).
Colombia tiene el sistema de control constitucional más abierto y de más fácil
acceso que existe en occidente. En resumen, según el artículo 241 de la Constitución,
existen cuatro mecanismos de acceso a la Corte: (i) la acción pública de inconstitucio-
nalidad, abierta a todo ciudadano, que puede dirigirse en contra de cualquier ley, refor-
ma constitucional, o decreto expedido por el Presidente de la República en ejercicio de
funciones legislativas delegadas;67 (ii) el control oficioso de cierto tipo de disposicio-
nes, principalmente de los decretos presidenciales expedidos bajo los estados de excep-
ción –o declarándolos-, las leyes que convocan a un referendo constitucional o a una
asamblea constituyente, las leyes que aprueban los tratados internacionales y las leyes
estatutarias; (iii) la revisión de los proyectos de ley en calidad de árbitro, cuandoquie-
ra que el Congreso rechaza las objeciones presidenciales formuladas contra tales pro-
65 El Decreto Legislativo 2591 de 1991 regula la acción de tutela. El Decreto Legislativo 2067 de 1991 regula
el procedimiento para el control constitucional abstracto de las leyes. La Ley Estatutaria 270 de 1996 regu-
la la organización y el funcionamiento de la Administración de Justicia, e introdujo algunas reformas a los
decretos citados.
66 Sentencia C-400 de 1998, M.P. Alejandro Martínez Caballero (salvamentos de voto por los Magistrados
Vladimiro Naranjo Mesa, Hernando Herrera Vergara y José Gregorio Hernández Galindo).
67 La Corte también puede revisar los referendos legislativos, las consultas populares y los plebiscitos, estos
últimos únicamente en relación con su validez formal. Pero hay debate en torno a si estos deben ser revi-
sados en forma oficiosa, o sólo cuando se ha presentado una demanda de inconstitucionalidad en su contra
(art. 241-3 de la Constitución).
609
Manuel José Cepeda
Si bien la Constitución de 1991 ha sido tomada muy en serio por el juez consti-
tucional, la Constitución de 1886 distó mucho de ser una Constitución de papel.
Empecemos por las estadísticas. Entre 1886 y 1991 la Corte Suprema profirió
2496 sentencias como juez constitucional, sin contar los fallos de simple cosa juzgada.
610
La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
Durante los 104 años en que ejerció efectivamente el poder de revisar la constitu-
cionalidad de normas, la Corte profirió 24 sentencias por año en promedio. Su carga de
trabajo creció en las últimas décadas en que ejerció dicho poder. En los 16 años com-
prendidos entre la terminación formal del Frente Nacional y la expedición de la
Constitución de 1991 (1975-1991), la Corte Suprema profirió cerca de 94 sentencias por
año. Desde que se inició el período de “La Violencia” hasta 1991, profirió 2085 senten-
cias, es decir, un promedio de 48 sentencias por año. Lo anterior significa que tan solo
el 16% de las sentencias de la Corte Suprema (411 fallos) como juez constitucional, fue-
ron proferidas entre 1887 y 1948. O sea, cerca de 7 sentencias por año en promedio.
Los actos sometidos con mayor frecuencia a control de la Corte Suprema de
Justicia fueron los decretos legislativos dictados al amparo de los estados de excepción
y de las leyes de facultades extraordinarias. 1489 sentencias versan sobre este tipo de
decretos, es decir, el 60%. Sin embargo, a pesar de que los decretos legislativos gene-
ralmente representan limitación de derechos o ejercicio presidencial de competencias
usualmente asignadas al Congreso de la República, solo en el 25% de las sentencias
hubo un pronunciamiento de inconstitucionalidad. El 60% de las sentencias sobre este
tipo de decretos encontraron las normas ajustadas a la Constitución. Donde la Corte fue
menos deferente, fue en el control de los proyectos de ley objetados por el Presidente
por razones de inconstitucionalidad. Aunque fueron relativamente pocas las sentencias
en estos casos (79), en el 71% de los fallos se declaró alguna inexequibilidad.
Cabe subrayar que las sentencias de inconstitucionalidad, vistas en conjunto,
representan una proporción elevada del total de fallos. Esto indica que la Corte Suprema
de Justicia en muchos casos tomó posiciones independientes frente a los poderes públi-
cos y a las fuerzas políticas predominantes. Del total de sentencias, un poco más de la
cuarta parte fueron de inexequibilidad. No es despreciable que más de la mitad de ellas
hayan recaído sobre decretos legislativos. Por otra parte, a lo largo del siglo, en 187 sen-
tencias se declaró inconstitucional, en todo o en parte, la norma de la ley acusada por
algún ciudadano. De tal manera que la quinta parte de las acciones públicas de incons-
titucional condujeron a un fallo favorable a lo pedido por los ciudadanos.
Resulta interesante observar la distribución de los fallos de inconstitucionalidad
a lo largo del siglo. Para ello las sentencias han sido agrupadas por periodos, tomando
como límites los momentos claves del desarrollo constitucional. También se separa
expresamente el periodo de “La Violencia” (1948-1953). Vale la pena resaltar un dato
sorprendente: entre 1886 y 1910, el 71% de las sentencias fueron de inconstitucionali-
dad. Ello muestra que desde sus inicios a finales del siglo XIX, el principio de someti-
miento a la Constitución fue aplicado de manera efectiva por la Corte Suprema.
Posteriormente se aludirá a los casos en que ello sucedió y se indicarán las controver-
sias sobre las cuales no pudo pronunciarse en razón a que durante dicho periodo sólo
estaba previsto el control previo de los proyectos de ley. También cabe anotar que en
todos los periodos anteriores a “La Violencia” el porcentaje de decisiones de inconsti-
tucionalidad supera el promedio del siglo. No debe sorprender que durante la dictadu-
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Manuel José Cepeda
68 Sentencia de marzo 21 de 1955, Gaceta Judicial, LXXXIV, pág. 27. Se trataba del artículo 4 del Decreto 251
de 1954. La Corte consideró que era inconstitucional modificar los requisitos para acceder a una asignación
de retiro de los miembros de la fuerza pública en perjuicio de los derechos adquiridos.
69 Una de estas sentencias fue especialmente importante. En 1955 la Corte Suprema declaró inconstituciona-
les las normas de la Ley 39 de 1946 (artículo 1 inc. 3 y 4) que establecían el sistema de acumulación de los
votos de los residuos menores que no recibieron curul a las listas que hubieren alcanzado más votos siem-
pre que pertenecieran al mismo partido. Sentencia de 14 de septiembre de 1955, Gaceta Judicial, Tomo
LXXXI, pág. 596. En esa misma sentencia la Corte declaró exequible el método del cociente electoral.
70 Dentro de los fallos de inconstitucionalidad cabe mencionar dos: el que invalidó una norma legal que hacía
efectivo los aumentos en las dietas y en los viáticos de los congresistas en la misma legislatura en que fue
votado (sentencia de noviembre 30 de 1950 Gaceta Judicial, Tomo LXVIII, pág. 519); así como la sentencia
en la cual se declaró inconstitucional una norma que facultaba al Presidente para nombrar los empleados
de inmediata dependencia del Procurador General (sentencia de enero 15 de 1953, Gaceta Judicial, Tomo
LXXIV, pág. 3).
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La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
71 La sentencia lleva el nombre de acuerdo como se usaba en la época para las decisiones del pleno en estas
materias. Se trata del Acuerdo Nº 45 adoptado el 6 de julio de 1887. Gaceta Judicial, Tomo I, pág. 235.
613
Manuel José Cepeda
del tesoro envío el proyecto a la Corte para que ella se pronunciara sobre su constitu-
cionalidad. La remisión se realizó por fuera del término establecido en la Ley 61 de
1886 para el efecto. En la audiencia convocada por la Corte, el miembro del Consejo
de Delegatarios que representó al cuerpo legislativo trató de impedir que la Corte se
pronunciara de fondo, seguramente temiendo que le diera la razón al Presidente.
Sostuvo que al haber sido enviado extemporáneamente el proyecto de ley a la Corte,
había “caducado la jurisdicción” de ésta para decidir. Los temores del delegatario no
eran infundados. La Corte le dio la razón al Presidente de la República y declaró
inconstitucional el proyecto porque la pensión concedida había violado la prohibición
constitucional de que el Congreso decretara a favor de una persona pensiones que no
estén destinadas a satisfacer derechos reconocidos con arreglo a ley preexistente (artí-
culo 78, num. 5). La prohibición buscaba impedir el otorgamiento de pensiones lla-
madas “gratuitas”. La Corte concluyó que la pensión decretada para O’Levy no era
remuneratoria a pesar de haber sido ascendido en los grados militares y “haber muer-
to de muerte natural estando en servicio de guarnición”, porque no había ley preexis-
tente aplicable ni se ajustaba a las condiciones generales de las leyes sobre la materia.
En uno de los pasajes de la sentencia la Corte Suprema defiende vehementemen-
te la vigencia del régimen constitucional e inclusive la integridad del poder legislati-
vo frente al ejecutivo. Sostuvo la Corte que de aceptarse el argumento del delegatario
que le pedía que se declarara incompetente para conocer del proyecto, se violaría el
principio según el cual “el ejercicio de la facultades inherentes a la soberanía nacio-
nal, en todos sus ramos y manifestaciones, no prescribe, sino tratándose de derecho
penal”. Agregó que la demora del ministro del tesoro “a lo más podrá aparejar respon-
sabilidad a dicho funcionario, pero no embaraza las atribuciones de este Supremo
Tribunal para dictar la resolución respectiva” sobre la validez del proyecto. Y en una
frase relativa a la supremacía de la Constitución que los jueces debían defender dijo:
“Si la Corte se declarara sin jurisdicción en un caso como el presente, la ley acusa-
da quedaría sin efecto (puesto que no había sido sancionada por el Presidente); pero
también quedaría establecido el más pernicioso antecedente en contra del régimen
constitucional, pudiéndose después anular el Poder Legislativo, con sólo retardar la pre-
sentación a la Corte de un proyecto objetado” (agregado y subrayado fuera de texto).
Uno de los siete magistrados salvó el voto.72 En su lenguaje fuerte se trasluce su
inquietud acerca de sí después de este fallo el poder ejecutivo volvería a enviar, así
fuere de manera extemporánea como en este caso, los proyectos de ley que hubiere
objetado de inconstitucionalidad. Advirtió que el Presidente no volvería a exponerse
a que la Corte Suprema de Justicia obrara como árbitro, ya que si no remitía el pro-
yecto después de la insistencia del Congreso en todo caso éste nunca podría entrar en
72 Los siete magistrados eran R. Antonio Martínez (Presidente), José María Samper (Vicepresidente), Manuel
J. Angarita, Francisco A Fernández, Antonio Morales, Benjamín Noguera y Manuel A Sanclemente.
Actuaba como Secretario Ramón Guerra A.
614
La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
vigor por carecer de la sanción presidencial. Por eso, concluyó, ante la actuación
extemporánea del ministro, que “es preferible que este respetable Tribunal llamé la
atención pública sobre la violación de la ley por parte del Gobierno”73, en lugar de
haberse pronunciado de fondo.
En conclusión, en la primera oportunidad que se le presentó a la Corte Suprema
de Justicia para obrar como juez constitucional ésta profirió una sentencia de incons-
titucionalidad, defendiendo la supremacía de la Constitución y el sometimiento del
poder al derecho. El hecho de que se le hubiere dado la razón al Presidente no le resta
trascendencia histórica a esta sentencia. Es más, como se ha resaltado hasta la sacie-
dad en el célebre caso Marbury v Madison, la Corte Suprema de los Estados Unidos
también llegó a un resultado favorable al más poderoso en la coyuntura política, lo
cual ha sido exaltado como una jugada maestra para afirmar el poder judicial de inter-
pretar la Constitución con autoridad frente todas las ramas del poder público, sin que
este paso gigante despierte la furia del poder.74
También se recuerda frecuentemente la prudencia con la cual la Corte Suprema
Norteamérica ejerció inicialmente esta facultad, puesto que pasaron cinco décadas antes
de que volviera a declarar inconstitucional una ley en el caso Dred Scott, donde deplo-
rablemente falló a favor de los esclavistas, lo cual contribuyó a desatar la guerra de sece-
sión.75 No sucedió lo mismo en Colombia. Después de la primera inexequibilidad no
hubo un prolongado silencio. Tan sólo doce años después, en 1898, cuando por segun-
da vez se le presentó la oportunidad de controlar la constitucionalidad de un proyecto
objetado, la Corte Suprema de Justicia volvió a declarar inexequibles las normas.76
El caso también versó sobre una pensión. En este evento se trataba de un traspa-
so de la que disfrutaba un coronel, a su viuda. La objeción también se basó en la pro-
hibición constitucional de que el Congreso decretara pensiones gratuitas. La Corte
sostuvo que las pensiones y recompensas por servicios prestados a la República eran
esencialmente personales y por lo mismo intrasmisibles, ya que son “una gracia que la
Nación concede”. Además, estimó que detrás del vocablo traspaso de pensión se
escondía “la esencial legal de las cosas”: “se ha tratado de crear una nueva pensión” a
favor de la viuda. Nadie salvó el voto. Tampoco se extiende la Corte en reafirmar la
supremacía de la Constitución. Ese mismo año se profieren otras dos sentencias, tam-
bién de inexequibilidad e igualmente sobre la violación de la misma prohibición cons-
titucional.77 En estas dos sentencias dos magistrados salvaron el voto puesto que esti-
maron que los familiares de los militares pensionados no estaban recibiendo una gra-
615
Manuel José Cepeda
cia, sino que como deudos tenían derecho a recibir la pensión de conformidad con las
leyes expedidas sobre la materia en 1890.78
Ante la frecuencia de inexequibilidades, es pertinente advertir que la primera
sentencia en la cual se declaró exequible el proyecto de ley controlado fue en 1909.
Se trataba también de una pensión, pero la Corte Suprema estimó que esta vez el caso
era distinto. Después de explicar la jurisprudencia sobre el tema, concluyó que en este
caso se había aplicado otra norma constitucional que permite rendir honores a perso-
nas ilustres. La dificultad del caso residió en que el homenajeado falleció antes de que
el proyecto de ley hubiere sido votado y, por lo tanto, la pensión fue asignada a sus
deudos. La Corte afirma que en materia de honores públicos la atribución del
Congreso es “alta e ilimitada” y que todo honor “implica erogaciones del tesoro”. Cabe
preguntarse si la decisión de la Corte hubiere sido la misma si el homenajeado no
hubiere sido Miguel Antonio Caro,79 expresidente y principal inspirador de la
Constitución de 1886.
No obstante, antes de ese año, en 1900, se declaró exequible un decreto de carác-
ter legislativo dictado por el Vicepresidente de la República, José Manuel Marroquín
encargado del poder ejecutivo, en reemplazo del Presidente Manuel Antonio
Sanclemente. Esta sentencia80 tiene tres peculiaridades desde el punto de vista histó-
rico. Primero, fue proferida en medio del conflicto entre estos dos personajes de la
historia nacional, que reflejó una crisis debido tanto al enfrentamiento entre dos fac-
ciones del partido conservador como a la guerra partidista “De los Mil Días”. Segundo,
la sentencia no recae sobre un proyecto de ley, que era el tipo de acto sobre el cual
tenía competencia la Corte Suprema según la Constitución vigente, sino sobre un
decreto presidencial que ya estaba en vigor y que tenía fuerza de ley. Ejerció enton-
ces la Corte Suprema un control posterior, respecto de una norma que ya había ingre-
sado al ordenamiento jurídico. Tercero, como no existía la acción pública de incons-
titucionalidad, la Corte asumió de oficio el conocimiento de la constitucionalidad del
decreto. La Corte argumentó que “para poder dar cumplimiento a este decreto, es pre-
ciso resolver antes sobre su exequibilidad”.
La guerra de los Mil Días había estallado el año anterior (17 de Octubre de 1899).
Para el periodo 1898-1904 había sido elegido Presidente Manuel Antonio
Sanclemente, en representación de una de las facciones conservadoras (los nacionalis-
tas), y Vicepresidente José Manuel Marroquín, en representación de la otra (los his-
tóricos). El Presidente tenía para entonces 85 años y su estado de salud hacia aconse-
jable que no gobernara desde Bogotá. Tardó en posesionarse y por eso el
Vicepresidente ejerció el Poder Ejecutivo del 7 de Agosto al 3 de Noviembre. Cuando
Sanclemente decidió posesionarse, por la insistencia de Miguel Antonio Caro, quienes
apoyaban a Marroquín, (los liberales unidos a los históricos) trataron de impedirlo.
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La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
617
Manuel José Cepeda
que la Corte era “incompetente para resolver la cuestión más política que jurídica”.84
Así, quienes abogaron porque la Corte fijara posición sobre el gobierno de Marroquín
invocaron el poder judicial para interpretar la Constitución y resolver las dimensio-
nes constitucionales de las cuestiones políticas. En cambio, quienes propusieron que
la Corte no se metiera en una cuestión política ni tomara partido, invocaron la auto-
ridad del Congreso par interpretar la Constitución y la primacía de la ley clara sobre
la Constitución. Una paradoja.
Al margen de quien tenía la razón, lo relevante para mostrar la importancia de
la Constitución para la vida política en Colombia es que unos y otros invocaron razo-
nes constitucionales, y que aún después de un golpe de Estado, en medio de una guer-
ra civil, se busco darle legitimidad constitucional a un gobierno de facto. Para eso, la
Corte Suprema aplicó por primera vez la facultad oficiosa de verificar la compatibili-
dad de las normas que habría de aplicar con la Constitución. Lo anterior sin perjuicio
de subrayar que en este caso los argumentos constitucionales obraron como escudo de
posiciones políticas que se hacen explícitas, tanto en la aclaración de voto de un
magistrado de la mayoría,85 como en los salvamentos individuales de voto de cada uno
de los tres disidentes, uno de los cuales hizo público que dos colegas que antes esta-
ban con su tesis, habían cambiado de opinión, “en materia de tanta gravedad”.86 Por
eso, uno de los disidentes concluyó: “La Corte Suprema (…) no puede, aunque lo
intente, convertir la razón política en razón jurídica, erigir el hecho en derecho”.87
Eran tiempos difíciles para ejercer el control constitucional, máxime frente a
leyes expedidas por el Congreso. Entonces, ninguna ley vigente fue juzgada por la
Corte Suprema. Tampoco invocó la excepción de inconstitucionalidad para ejercer un
control oficioso e incidental sobre leyes vigentes. Por eso, una de las leyes más repre-
sivas de que se haya tenido noticia en la historia nacional nunca fue controlada en su
validez. Se trata de la tristemente célebre “Ley de los Caballos”, restrictiva de las liber-
tades y garantías básicas que concedía poderes arbitrarios a las autoridades ejecutivas.
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La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
Para responder esta pregunta se tomó como criterio la primera vez que sucedió algo
nuevo, en virtud de una reforma constitucional o de una tesis de la Corte Suprema
sobre el alcance de sus competencias. Algunas de estas sentencias fueron polémicas
pero otras han pasado inadvertidas por la poca importancia que se le ha dado en nues-
tro medio al estudio de la jurisprudencia constitucional anterior a 1991.
La acción pública de inconstitucionalidad fue empleada por los ciudadanos a par-
tir del mismo año en que entró en vigor, 1911. El primer fallo sobre una ley vigente
fue de exequibilidad, pero en ese mismo año una ley fue declarada inconstitucional y,
además, interpretada de manera conforme a la Constitución, mediante un condicio-
namiento por el cual parte de la ley fue reinterpretada para armonizar la Constitución.
Al año siguiente se declaró inconstitucional el primer decreto legislativo. También
tempranamente la Corte Suprema se inhibe de pronunciarse sobre las leyes aprobato-
rias de tratados, en el caso del tratado con Estados Unidos sobre Panamá. En todos los
años al menos una norma ha sido invalidada por la Corte Suprema, con excepción de
tres: 1956, 1959 y 1968. Tercero, después de 1968 cuando se previó expresamente el
control constitucional por vicios de forma, las inhibiciones anteriores de desvanecen
lenta y gradualmente: primero respecto de reformas constitucionales (1978) y, segun-
do, respecto de leyes aprobatorias de tratados (1986).
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88 Fernando, Cepeda Ulloa, Instituciones Civiles y Militares, Cartagena de Indias, 3 a 5 de octubre de 2003.
Manuel José, Cepeda Espinosa, La Corte Constitucional y el Orden Público: Mitos y Realidades, pág 170 a
221.
89 Manuel José Cepeda Espinosa,. La Reforma de 1936 y las Libertades Públicas: ¿Qué ha hecho la Corte
Suprema?, en el libro de Álvaro Tirado Mejía, Estado y Economía 50 años de la Reforma del 36. Contraloría
General de la República, 1986.
90 Manuel José, Cepeda Espinosa, Las Sentencias de la Corte con Implicaciones Económicas: reflexiones con
ánimo constructivo (XXVIII Jornadas Colombianas de Derecho Tributario), Febrero de 2004.
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Miremos las primeras decisiones en las cuales se concretaron los avances intro-
ducidos en 1991.
Las innovaciones introducidas en 1991 no se han quedado escritas y que la Corte
ha sido una defensora independiente del respeto al Estado de Derecho y de la supre-
macía de la Constitución.
La contribución de la Corte Constitucional a la materialización y desarrollo de la
Constitución de 1991 ha tenido profundas implicaciones para la mayor parte de los
aspectos de la vida colombiana; sus sentencias, que han versado sobre todas las áreas del
derecho y todas las facetas de nuestra complicada realidad nacional, han llevado a la
Corte a convertirse en un punto de referencia necesario para quienquiera que busque
conocer en detalle lo que ha sucedido en nuestro país en el curso de la última década.
En primer lugar, la Corte ha ejercido una influencia sustancial sobre el fortale-
cimiento del Estado de Derecho y la transformación del ordenamiento jurídico como
un todo – una transformación que se hace evidente en asuntos tales como (i) el cam-
bio fundamental en el enfoque interpretativo general del derecho y los problemas
jurídicos, (ii) una profunda incorporación del derecho constitucional a las ramas
penal, civil, administrativa y otras especialidades jurídicas; (iii) la introducción de
temas y debates contemporáneos al constitucionalismo colombiano; (iv) el surgimien-
to, gracias a la acción de tutela, de una nueva “jurisdicción de equidad” en Colombia,
y (v) el ejercicio de una presión considerable para el desarrollo de cambios adiciona-
les en el sistema jurídico, en asuntos tan novedosos como la introducción de prece-
dentes judiciales en un sistema jurídico de tradición romano-germánica.
En segundo lugar, la Corte ha generado un impacto visible en el campo político.
En resumen, ha contribuido a la conversión de conflictos sociales en problemas cons-
titucionales, y en esa medida, a la resolución pacífica de conflictos dentro de la socie-
dad. Esto significa, en breve, que (i) la Constitución ha dejado de ser un código abstrac-
to, y ha permeado la realidad social; (ii) la Corte se ha convertido en un árbitro polé-
mico pero legítimo a quien se acude para que adopte decisiones difíciles; y (iii) la Corte
se ha convertido en un foro en el que la mayor parte de las controversias se someten a
una “segunda ronda” de decisión, con base en argumentos constitucionales.
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nos interesados en encontrar una respuesta a las situaciones que les afectan. Lo ante-
rior es posible por una razón institucional: se puede afirmar que Colombia cuenta con
el sistema de control constitucional más abierto y accesible del mundo, como ya se
advirtió. A estos factores políticos e institucionales se añade un tercero, que ha con-
tribuido a la movilización de toda la estructura de preservación de la Constitución: el
hecho de que algunos grupos sociales y un puñado de ciudadanos activistas rápida-
mente comprendieron las implicaciones de un sistema así de abierto, e hicieron uso
casi inmediato de los canales constitucionales para presentar sus peticiones a la Corte,
ya no en términos políticos sino jurídicos. No se trata de una movilización masiva,
puesto que las reglas del procedimiento constitucional no exigen que un número sig-
nificativo de ciudadanos se una en torno a una determinada demanda o petición. Dado
que los derechos protegen a cada individuo, es suficiente que un ciudadano activo se
tome el tiempo de redactar una breve demanda ante la Corte, o una corta petición de
revisión de una sentencia de tutela, para que la Corte quede obligada a adoptar una
decisión sobre el tema, incluso si no siempre entra a estudiar el fondo del asunto.
Esta transformación simple de los asuntos políticos y sociales en controversias
constitucionales puede ser explicada por un elemento cultural: Colombia ha sido tra-
dicionalmente un país de leyes. Es cierto que muchas de ellas no se aplican, pero están
ahí, y constantemente se están adoptando nuevas leyes con la ilusión de que los prin-
cipales problemas del país puedan ser resueltos con la promulgación de normas nue-
vas. Dado que casi cualquier problema tiene una ley correspondiente, es fácil formu-
lar cualquier conflicto social o político como un problema de regulación, y cuestionar
las normas pertinentes ante la Corte. Lo anterior se suma al hecho de que los derechos
constitucionales fundamentales son aplicables en todas las fases y aspectos de la vida
cotidiana, lo que permite que cualquier situación concreta sea formulada como un
caso constitucional.
Esto no ocurriría si quienes son responsables de la resolución de tales problemas
ejercieran en forma efectiva su autoridad para adoptar una decisión; pero cuando ello
no ocurre, por los motivos más diversos, se le pide a la Corte que lo haga, aplicando el
derecho constitucional. Sin embargo, una de las consecuencias persistentes y visibles
de este sistema es el que la Corte está sujeta a la formulación de duras críticas en su
contra: temas tales como la admisibilidad de las acciones de tutela contra sentencias, la
revisión de los decretos declarativos de estados de excepción, o la intervención del juez
constitucional en asuntos económicos, han generado una oposición abierta, significati-
va y sostenida por parte de otros tribunales, el Congreso y el Gobierno por igual. Pero
la tendencia se orienta claramente hacia un nivel creciente de legitimidad con cada
avance en la promoción de los derechos fundamentales por parte del tribunal.
Esta dinámica, y el sistema como un todo, generan interrogantes recurrentes. ¿La
Corte cuenta con la capacidad institucional necesaria para responder a tantos proble-
mas diferentes? ¿Cómo puede resolverlos sin invadir la esfera de competencias de
otras autoridades? ¿Es legítimo que la Corte intervenga en temas en los cuales hay
626
La Defensa Judicial de la Constitución: La Gran Fortaleza Colombiana
diversas soluciones posibles y las opiniones están divididas? ¿La Corte debe tener en
cuenta elementos extra-jurídicos al adoptar sus decisiones, tales como las visiones de
las partes en conflicto sobre la interpretación constitucional, o los costos políticos y
económicos de sus sentencias?
Tales preguntas no solo han sido objeto de reflexiones académicas durante déca-
das, sino que también han sido estudiadas por la propia Corte cuando ello ha sido per-
tinente. En torno de ellas, algunos de los fallos más sensibles, han dado pie a propues-
tas aisladas para reestructurar la Corte, o limitar sus poderes. Ninguna ha avanzado en
el Congreso de la República.
IV. Conclusión
627
Constitucionalismo Brasileiro:
Avanços, Desafios e Perspectivas
Marcelo Figueiredo1
Sumáárioo: I. De 1964 a 1988 II. A reforma do Estado no Brasil III. O sistema de governo e os partidos políticos
IV. O Poder Judicial, Constitucional e a Defesa dos Direitos Fundamentais V. Os Mecanismos de Defesa da
Constituição VI. Avanços e ameaças à Democracia VII. Conclusões.
I. De 1964 a 1988
Podemos dizer que a Constituição de 1988 inaugurou uma nova era no constitu-
cionalismo brasileiro rompendo com o ciclo autoritário que dominou o Brasil de 1964
(data da revolução militar que se implantou no país por mais de vinte anos), a meados
da década de 80.
As eleições dos Governadores em 1982 marcam o início do processo de abertura
política e institucional que culminou com a aprovação da Emenda Constitucional
número 26 (promulgada em 27.11.1985), convocando os membros da Câmara de
Deputados e do Senado Federal para se reunirem, em Assembléia Nacional
Constituinte, livre e soberana, no dia 01.02.1987, na sede do Congresso Nacional.
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a Constituição de 1988. No dizer de
José Afonso da Silva,2 “um texto razoavelmente avançado. É um texto moderno, com
inovações de relevante importância para o constitucionalismo brasileiro e até mun-
dial. Bem examinada, a Constituição Federal, de 1988, constitui, hoje, um documen-
to de grande importância para o constitucionalismo em geral.
Sua estrutura difere das constituições anteriores. Compreende nove títulos, que
cuidam: (1) dos princípios fundamentais; (2) dos direitos e garantias fundamentais,
segundo uma perspectiva moderna e abrangente dos direitos individuais e coletivos,
dos direitos sociais dos trabalhadores, da nacionalidade, dos direitos políticos e dos
partidos políticos; (3) da organização do Estado, em que estrutura a federação com
seus componentes; (4) da organização dos poderes: Poder Legislativo, Poder Executivo
e Poder Judiciário, com a manutenção do sistema presidencialista, derrotado o parla-
mentarismo, seguindo-se um capítulo sobre as funções essenciais à Justiça, com minis-
tério público, advocacia pública (da União e dos Estados), advocacia privada e defen-
soria pública; (5) da defesa do Estado e das instituições democráticas, com mecanis-
1 Diretor da Faculdade de Direito da PUC-SP, onde é também seu professor nos cursos de graduação e pós-
graduação. Presidente e Fundador da ABCD- Associação Brasileira de Constitucionalistas Democratas e
membro do Executive Comite do IACL.
2 Silva ,José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo, 29ª edição, 2006, São Paulo, Malheiros
Editores, página 89 e 90.
629
Marcelo Figueiredo
3 Segundo Barroso, Luís Roberto Temas de Direito Constitucional, Tomo II, Editora Renovar, Rio de Janeiro,
2003, página 274 e seguintes.
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Avanços, Desafios e Perspectivas
631
Marcelo Figueiredo
4 Nesta seção utilizaremos a argumentação e as conclusões (que encampamos) de Antônio Octávio Cintra,
retiradas do seu texto, “O sistema de Governo no Brasil”, Capítulo 2, da obra, “Sistema Político Brasileiro”
– Uma introdução, 2ª edição, Organizada por Lúcia Avelar e Antônio Octávio Cintra, Konrad Adenaur
Stiftung e Editora Unesp, página 59 a 77.
632
Constitucionalismo Brasileiro:
Avanços, Desafios e Perspectivas
dente do Conselho, que também poderia cair por moção de censura ou recusa de con-
fiança votada pela maioria absoluta da Câmara de Deputados.
Neste anteprojeto, previa-se ainda o gabinete duplamente responsável, perante a
Câmara, mas também perante o Presidente da República. Não se contemplavam
decretos –leis, medidas provisórias ou medidas de urgência.
Entretanto a opção final da Assembléia Nacional Constituinte foi pelo sistema
presidencialista. Prevista na mesma Constituição, realizou-se um plebiscito, cinco
anos após a sua promulgação, onde o eleitorado confirmou a opção republicana e pre-
sidencialista em detrimento à monarquia constitucional.
À ocasião, a decisão dos constituintes de levar a opção entre sistemas de gover-
no a plebiscito foi altamente questionável, pois essa consulta serve quando o assunto
a ser votado é redutível a quesitos simples, para resolver com o “sim” ou “não”, nunca
para assuntos extremamente complexos, sobre cujas opções divirjam, e muito, os pró-
prios especialistas, como é o caso de sistema de governo. Os delegados não quiseram
usar de sua delegação e se omitiram de decidir, devolvendo a responsabilidade ao
mandante. O plebiscito, realizado em setembro de 1993, deu a vitória ao presidencia-
lismo, por ampla margem.
Por que se deu a recusa ao parlamentarismo? São várias as causas, são fortes os
preconceitos relativos a esse sistema, que levam à sua previsível rejeição. Se, no plano
da elite, logra o parlamentarismo razoável apoio, seja em sua forma mais pura, seja,
crescentemente, sob a forma dos modelos híbridos, esse apoio não se repete na opi-
nião pública.
Acredita-se que a tarefa de desenvolver o país, modernizá-lo, romper os blo-
queios a seu progresso e desenvolvimento, requeira concentração de poder em um
líder carismático, ungido pelo mandato popular para mudar o sistema. Não se vê, no
parlamentarismo, liderança forte. Parece um sistema de poder muito diluído, um
governo de deputados que fazem e desfazem governos a seu livre critério. Os parla-
mentares representariam, em contraposição de interesses circunscritos, paroquiais,
em contraposição aos presidentes, supostamente mais sensíveis aos interesses moder-
nos, do país como um todo, pelo fato mesmo de se elegerem, em contraposição aos
deputados e senadores, na circunscrição nacional.
Junte-se a tais percepções o desprestígio do Poder Legislativo perante a opinião
pública, problema, aliás, de ordem mundial nas democracias contemporâneas. O
governo parlamentarista nos prenderia, portanto, de acordo com essas percepções, ao
atraso, aos poderes oligárquicos regionais e à inoperância institucional.
São percepções enganosas e, no seu conjunto, deixam transparecer exigências
conflitantes sobre nosso sistema de governo presidencial. Um presidente portador de
uma missão revolucionária, demiurgo, esbarraria no sistema político cheio de pontos
de bloqueio à tomada de decisões e, sobretudo, à implementação delas. O presidente
brasileiro tem de compor uma base de sustentação em um congresso pluripartidário,
sem uma agremiação majoritária suficiente, sequer, para garantir a aprovação de leis
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Marcelo Figueiredo
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Constitucionalismo Brasileiro:
Avanços, Desafios e Perspectivas
6 Conforme Cintra, Antonio Octávio e Lacombe, Marcelo Barroso “A Câmara dos Deputados na Nova
República: a visão da Ciência Política”, Capítulo 6 da obra já citada, “Sistema Político Brasileiro”, página 143
e seguintes.
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Marcelo Figueiredo
b) Os partidos políticos7
7 Segundo Fleischer, David “Os Partidos Políticos”, Idem, página 303 e seguintes.
8 Reis, Fábio Wanderley, “Dilemas da Democracia no Brasil”, São Paulo, ob. cit., página 476 e seguintes.
636
Constitucionalismo Brasileiro:
Avanços, Desafios e Perspectivas
ro perante a política e os assuntos públicos, alheamento este que se liga com a tendên-
cia geral ao desapreço pela democracia. Pesquisas por amostragem realizadas em 2002
em 17 países latino-americanos pelo Latinobarômetro, instituição sediada em Santiago
do Chile, mostram o Brasil com o país com menor proporção de respostas em que se
aponta a democracia como preferível a qualquer outra espécie de regime (37 por
cento). Não obstante certa recuperação relativamente a 2001, também nas pesquisas
de anos anteriores realizadas pelo mesmo instituto as proporções brasileiras de apoio
à democracia se situam entre as mais baixas da América Latina. É é talvez especial-
mente revelador observar que, no ano de 2002, a proporção de brasileiros que decla-
ram não saber o que significa a democracia ou simplesmente não responderam à per-
gunta a respeito é destacadamente mais alta que a dos nacionais de todos os demais
países latino-americanos, alcançando 63 por cento (em El Salvador, o segundo coloca-
do, a proporção correspondente não passa de 46 por cento).
Tais constatações têm certamente a ver com a grande desigualdade social brasi-
leira e seus reflexos nas deficiências educacionais do país, e pesquisas diversas mos-
tram a clara correlação positiva entre o apego à democracia (ou, em geral, a atenção e
o interesse pela política e o ânimo participante e cívico) e a escolaridade ou a sofisti-
cação intelectual geral dos eleitores.
De qualquer forma, duas observações permitidas por outros dados merecem des-
taque por sua relevância. A primeira mostra o substrato sociopsicológico com que apa-
rentemente continua a contar o populismo no Brasil, solapando a idéia de uma demo-
cracia capaz de operar institucionalmente de forma estável: somente entre os entre-
vistados de nível universitário não se encontrava, nos dados em questão, a concordân-
cia da ampla maioria com um item de claro ânimo antiinstitucional, e mesmo autori-
tário, em que se desqualificavam os partidos políticos e se afirmava que, em vez deles,
o que o país necessitava é “um grande movimento de unidade nacional dirigido por
um homem honesto e decidido”, abrindo assim uma margem para líderes “fortes”.
Esse tipo de mentalidade incrementa e incentiva a adoção de programas assisten-
cialistas, como o implementado no governo Lula. O “bolsa família”, que atinge 11
milhões de pessoas (aproximadamente 40 milhões de eleitores), serviu claramente
como instrumento poderoso de reeleição do Presidente, além dos resultados positivos
obtidos no cenário econômico (baixa inflação, mais acesso ao crédito, menos desem-
prego,etc).
637
Marcelo Figueiredo
9 Temos plena consciência que a rigor não existem duas jurisdições, apenas ressaltamos o aspecto didático-
estrutural da justiça.
10 CITTADINO, Gisele. “Judicialização da política, constitucionalismo democrático e separação de poderes”. In:
VIANNA, Luiz Werneck (Org.). A democracia e os três poderes no Brasil. Rio de Janeiro: IUPERJ/FAPERJ e
Belo Horizonte: UFMG, 2002, p. 17-42.
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Constitucionalismo Brasileiro:
Avanços, Desafios e Perspectivas
denúncias, a partir dos anos 90, das violações dos direitos fundamentais das camadas
populares.
Além disso, segundo Cittadino, o ativismo judicial teria se fortalecido também
em razão dos seguintes fatores: (a) o reforço das instituições garantidoras do Estado de
Direito, como a Magistratura e o Ministério Público, após o período autoritário; (b) a
constitucionalização de valores da comunidade, exigindo um compromisso da
Constituição no sentido de concretizá-los; (c) a conversão dos direitos fundamentais
no núcleo básico do ordenamento constitucional brasileiro e em critério de interpre-
tação constitucional; (d) a percepção dos cidadãos não apenas como destinatários, mas
como autores de seus direitos; (e) o alargamento do círculo de intérpretes da
Constituição (cidadãos, partidos políticos, associações, etc.); (f) a ampliação do rol dos
direitos fundamentais, que exigem não só a abstenção do Estado, mas, também, um
dever de ação estatal; (g) a ampliação das ações coletivas; (h) a inércia do Poder
Legislativo; (i) o incremento dos instrumentos de controle da constitucionalidade das
leis e dos atos normativos; (j) o controle da omissão do Estado pelo Poder Judiciário;
(k) a atividade construtiva da interpretação constitucional.
Contudo, o protagonismo dos tribunais traz problemas ligados especialmente ao
princípio da Separação dos Poderes e da legitimidade democrática do Poder Judiciário,
ou seja, acerca da neutralidade política deste órgão estatal.
Rebatendo as críticas dirigidas à judicialização da Política, Ana Paula de
Barcellos advertindo, de início, que a separação dos Poderes tem natureza instrumen-
tal, na medida em que existe para realizar o controle do poder, evitando o arbítrio.
Dessa forma, não se mostra como um obstáculo lógico ao controle pelo Judiciário das
omissões inconstitucionais do Poder Público.11 No tocante à democracia, a mesma
autora acentua que, para além da fórmula majoritária, é imprescindível o respeito “aos
direitos fundamentais de todos os indivíduos, façam eles parte da maioria ou não”.12
E, então, conclui que o Judiciário tem legitimidade para conferir eficácia positiva aos
direitos prestacionais pelos seguintes motivos: (a) o Judiciário, tendo em vista que foi
criado pela própria Constituição, compõe o poder político nacional da mesma forma
que o Legislativo e o Executivo; (b) os órgãos de cúpula do Judiciário têm alto grau de
representatividade, na medida em que são formados pela vontade do Executivo e do
Legislativo; (c) os magistrados estão aptos a agir com independência, pois, para tanto,
gozam de prerrogativas asseguradas constitucionalmente; (d) as atividades jurisdicio-
nais, além de públicas e motivadas, encontram fundamento e limites nas normas jurí-
dicas; (e) as decisões judiciais são passíveis de revisão por outros órgãos do Judiciário;
(f) o processo jurisdicional, uma vez que garante às partes amplo contraditório, é mais
participativo do que qualquer outro processo público; (g) os grupos minoritários “sem-
pre terão acesso ao Judiciário para a preservação de seus direitos”.13
11 BARCELLOS, Ana Paula A eficácia jurídica dos princípios constitucionais: o princípio da dignidade da pessoa
humana, p. 215-217.
12 Ibid., p. 227.
13 Ibid, p. 231-232.
639
Marcelo Figueiredo
14 Mandado de Injunção n. 585/TO, rel. Min. Ilmar Galvão, j. 15.05.2002. Em casos isolados o entendimento
não vinha sido esse, como se pode verificar das decisões proferidas no Mandado de Injunção 283/DF, rel.
Min. Sepúlveda Pertence, j. 20.03.1991; e no Mandado de Injunção n. 562/RS, rel. Min. Carlos Velloso, rel.
do acórdão Min. Ellen Gracie, j. 20.02.2003. Neste último caso, parte da ementa do acórdão tem o seguinte
teor: “Reconhecimento da mora legislativa do Congresso Nacional em editar a norma prevista no parágra-
fo 3º do art. 8º do ADCT, assegurando-se, aos impetrantes, o exercício da ação de reparação patrimonial, nos
termos do direito comum ou ordinário, sem prejuízo de que se venham, no futuro, a beneficiar de tudo
quanto, na lei a ser editada, lhes possa ser mais favorável que o disposto na decisão judicial. O pleito deve-
rá ser veiculado diretamente mediante ação de liquidação, dando-se como certos os fatos constitutivos do
direito, limitada, portanto, a atividade judicial à fixação do ‘quantum’ devido”.
15 PIOVESAN, Flávia. Proteção judicial contra omissões legislativas: ação direta de inconstitucionalidade por
omissão e mandado de injunção, p. 148.
16 Essa é a posição, por exemplo, de GRECO FILHO, Vicente. Tutela constitucional das liberdades, p. 182-4.
Esse autor afirma o seguinte: “Uma solução intermediária seria a de se admitir que, procedente o pedido, o
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Constitucionalismo Brasileiro:
Avanços, Desafios e Perspectivas
tribunal poderia determinar prazo para que a norma fosse elaborada sob pena de, passado esse lapso tempo-
ral, ser devolvida ao Judiciário a atribuição de fazê-la. É certo que, passado o prazo, retornar-se-ia à segun-
da alternativa, ou seja, o tribunal é que deveria fazer a norma. A solução adequada, portanto, parece a pri-
meira, admitida a alternativa de, antes, ser dada a oportunidade para que o poder competente elabore a
norma. Se este não a fizer o Judiciário a fará para que possa ser exercido o direito constitucional”.
17 O art. 103, § 2º, da Constituição, ao disciplinar a ação direta de inconstitucionalidade por omissão, prevê o
seguinte: “§ 2º Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma consti-
tucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se tratan-
do de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias”.
18 Nas palavras de Barroso, Luís Roberto (in: O controle da constitucionalidade no direito brasileiro cit. p.
106), essa interpretação seria inadmissível porque aceitaria a existência de “dois remédios constitucionais
para que seja dada ciência ao órgão omisso do Poder Público, e nenhum para que se componha, em via judi-
cial, a violação do direito constitucional pleiteado”.
19 BARROSO, Luís Roberto. O controle da constitucionalidade no direito brasileiro cit., p. 104.
20 Esse é o entendimento, por exemplo, de PIOVESAN, Flávia. Proteção judicial cit., p. 157 e segs.; TEMER,
Michel. Elementos de direito constitucional cit. p. 205; SILVA, José Afonso da. Curso de direito consti-
tucional positivo cit., p. 450 e também sempre foi o nosso entendimento, Cf. Figueiredo, Marcelo “O
mandado de injunção e a inconstitucionalidade por omissão”, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais
1991, (esgotado).
641
Marcelo Figueiredo
21 Tal artigo da Constituição brasileira estabelece o seguinte: “Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgâni-
ca, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros
da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na
Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos: [...] IV – número de Vereadores proporcional à
população do Município, observados os seguintes limites: a) mínimo de nove e máximo de vinte e um nos
Municípios de até um milhão de habitantes; b) mínimo de trinta e três e máximo de quarenta e um nos
Municípios de mais de um milhão e menos de cinco milhões de habitantes; c) mínimo de quarenta e dois e
máximo de cinqüenta e cinco nos Municípios de mais de cinco milhões de habitantes”.
642
Constitucionalismo Brasileiro:
Avanços, Desafios e Perspectivas
22 “Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando
à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.”
23 “II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.
24 “LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”.
25 A redação do art. 17, § 1º, da CF, era a seguinte: “É assegurada aos partidos políticos autonomia para defi-
nir sua estrutura interna, organização e funcionamento, devendo seus estatutos estabelecer normas de fide-
lidade e disciplina partidárias.” A Emenda Constitucional 52, de 2006 alterou tal dispositivo, que passou a
ter o seguinte teor: “§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna,
organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais,
sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou munici-
pal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.”
26 O art. 22, inciso I, estabelece a competência da União para legislar sobre direito eleitoral: “Art. 22. Compete
privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marí-
timo, aeronáutico, espacial e do trabalho”. O caput do artigo 48 tem a seguinte redação: “Art. 48. Cabe ao
Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta para o especificado nos arts.
49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União [...].”
643
Marcelo Figueiredo
d) Cláusula de barreira
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Constitucionalismo Brasileiro:
Avanços, Desafios e Perspectivas
e) Fidelidade partidária
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Marcelo Figueiredo
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Constitucionalismo Brasileiro:
Avanços, Desafios e Perspectivas
da gravidez quando constatada uma grave má-formação fetal. Com isso, evita-se o
sofrimento físico e psicológico não só da gestante, mas também dos outros membros
da família.
Ademais, o art. 5º, caput, da Constituição Federal procura garantir a inviolabili-
dade do direito à vida, mas, constatada a inviabilidade de vida extra-uterina do feto,
não há que se falar em preservação de tal direito. Aliás, o art. 1º, III, da Constituição,
também prevê que um dos fundamentos da República Federativa do Brasil é a digni-
dade da pessoa humana. E não parece digno exigir que uma mulher grávida, sabendo
que dará à luz um natimorto, não possa ter a liberdade de optar pela interrupção da
gravidez.
Aliás, em países onde existem restrições legais à interrupção da gravidez, os
abortos provocados têm sido apontados como uma das principais causas de mortalida-
de materna. Tais restrições levam mulheres de alta renda a clínicas particulares, que
utilizam técnicas modernas de interrupção da gravidez, ao passo que induzem mulhe-
res de baixa renda a recorrer a práticas de alto risco à saúde, como procurar um “abor-
teiro” ou se automedicar com drogas abortivas de eficácia não comprovada e, muitas
vezes, vendidas em farmácias, sem prescrição médica.
Contudo, houve casos, espalhados por vários Estados da Federação brasileira, em
que o Judiciário não admitiu a interrupção da gravidez, mesmo constatada a inviabi-
lidade de vida extra-uterina do feto.
Em junho de 2004, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS)
propôs, perante o Supremo Tribunal Federal, uma Argüição de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADFP) com o intuito de fazer cessar a divergência de decisões
judiciais sobre a possibilidade de gestantes de fetos anencefálicos (ausência total ou
parcial do cérebro) interromperem a gravidez.
Em abril de 2005, o Supremo Tribunal Federal admitiu, por 7 votos a 4, que a
ADPF proposta pela CNTS sobre a descriminalização do aborto nos casos de fetos
anencefálicos é um meio hábil para solucionar a divergência de jurisprudência, mas
ainda não apreciou o mérito da demanda.
A Constituição brasileira de 1988 contém vários mecanismos para que suas nor-
mas possam, quando violadas, serem o quanto possível restabelecidas. Tem no Poder
Judiciário em geral, e no Supremo Tribunal Federal em particular, o guardião de suas
normas e valores.29
29 Sobre o tema, confira-se o nosso trabalho: Figueiredo, Marcelo, “Una visión del control de constituciona-
lidad en Brasil”, Revista Jurídica de Castilla –La –Mancha, Toledo, número 41, Noviembre 2006, páginas
69 a 135.
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Marcelo Figueiredo
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Constitucionalismo Brasileiro:
Avanços, Desafios e Perspectivas
sabe, a partir do julgamento das ADIns números 2 e 438, o STF passou a firmar posi-
ção no sentido de não aceitar ações de inconstitucionalidade de leis anteriores à
Constituição. Agora, pelo disposto no inciso I do parágrafo único do artigo 1 da nova
Lei, também os atos normativos anteriores à Constituição são passíveis de declaração
de inconstitucionalidade. Também será possível que se intente argüição de descum-
primento de preceito fundamental preventivamente. A ADPF terá por objeto evitar
ou reparar lesão. Ou seja, o sistema passa a admitir não somente a modalidade repres-
siva, mas também a modalidade preventiva de controle de atos que possam colocar em
xeque preceitos fundamentais da Constituição.
De qualquer sorte, em face das peculiaridades que revestem a ADPF, no seu cará-
ter incidental, tudo está a indicar que a sede privilegiada desta nova ação será mesmo
o controle concentrado. É nessa direção que apontam as ações intentadas até este
momento no STF, podendo ser arroladas alguma delas, como a ADPF número 4, que
buscava desconstituir a Medida Provisória 2.019/2000, que fixou o valor do salário
mínimo, ainda sem decisão; a ADPF número 1, ajuizada contra ato do Prefeito do Rio
de Janeiro, por ter aposto veto parcial, de forma imotivada, a projeto de lei aprovado
na Câmara Municipal, elevando o valor do Imposto Predial e Territorial Urbano –
IPTU, que não foi conhecida sob o argumento de que o veto não se enquadra no con-
ceito de ato do poder público de que fala a lei, e a ADPF número 3, proposta pelo
Governador do Ceará, contra ato do Tribunal de Justiça daquele Estado que deferira o
pagamento de gratificações em “cascata”, a qual não foi conhecida sob o fundamento
de que não foi cumprido o esgotamento de todos os meios aptos a solver o conflito”.30
Entendeu ainda o STF que a ADPF pode ser conhecida como Ação Direta de
Inconstitucionalidade.
Portanto, além dos dois possíveis caminhos para se controlar a constitucionali-
dade de leis e atos normativos (sistema difuso e sistema concentrado), com suas
variantes, positiva e negativa, temos ainda a possibilidade da intervenção.
A ADIN interventiva apresenta-se como um dos pressupostos para a decretação
da intervenção federal, ou estadual, pelos Chefes do Executivo, nas hipóteses previs-
tas na Constituição de 1988.
Na ação direta de inconstitucionalidade interventiva, o Judiciário exerce, um
controle da ordem constitucional tendo em vista um caso concreto que lhe é subme-
tido a análise. O Judiciário não nulifica o ato, mas apenas verifica se estão presentes
os pressupostos para a futura decretação de intervenção pelo Chefe do Executivo.
É possível a intervenção da União nos Estados e dos Estados nos Municípios
desde que lei ou ato normativo, ou omissão, ou ato governamental desrespeitem os
princípios sensíveis da Constituição (forma republicana, sistema representativo e regi-
me democrático, direitos da pessoa humana, autonomia municipal, prestação de con-
30 Streck, Lênio Luiz, “Jurisdição Constitucional e Hermenêutica”, 2ª ed., revista, Editora Forense, Rio de
Janeiro, 2004, página 817.
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31 “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.
(...)”.
32 Curso de Direito Constitucional. 24ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2005, p. 119.
33 Ibid.
34 Elementos de teoria geral do Estado. 24ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 151.
650
Constitucionalismo Brasileiro:
Avanços, Desafios e Perspectivas
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Marcelo Figueiredo
36 “Art. 2º No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebisicito, a forma (república ou
monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigo-
rar no país. §1º Será assegurada gratuidade na livre divulgação dessas formas e sistemas, através dos meios
de comunicação de massa cessionários de serviço público. § 2º O Tribunal Superior Eleitoral, promulgada a
Constituição, expedirá as normas regulamentadoras deste artigo”.
37 “Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território nacional, salvo para
as entidades previstas no art. 6º desta Lei. § 1º Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá de aprova-
ção mediante referendo popular, a ser realizado em outubro de 2005. § 2º Em caso de aprovação do refe-
rendo popular, o disposto neste artigo entrará em vigor na data de publicação de seu resultado pelo Tribunal
Superior Eleitoral”.
38 Conforme informação disponível no sítio eletrônico da Câmara dos Deputados (www.camara.gov.br) e do
Senado Federal (www.senado.gov.br).
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Constitucionalismo Brasileiro:
Avanços, Desafios e Perspectivas
Por fim, o terceiro projeto de lei de iniciativa popular foi proposto em 1997 e con-
verteu-se na lei 9.840 de 1999, que alterou o Código Eleitoral para incluir disposição
que pune com a cassação o candidato acusado de comprar votos durante o pleito elei-
toral. O referido projeto foi encampado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil,
que lançou o projeto na campanha nacional “Combatendo a corrupção eleitoral”.
Na tentativa de reverter esse quadro de pouca participação popular nos rumos
legislativos do país, a Câmara dos Deputados criou em 2001 a Comissão de Legislação
Participativa (CLP) com o objetivo de facilitar a participação da sociedade no proces-
so de elaboração legislativa. Através da CLP, a sociedade, por meio de qualquer enti-
dade civil organizada, ONGs, sindicatos, associações, órgãos de classe, apresenta à
Câmara dos Deputados suas sugestões legislativas, que envolvem propostas de leis
complementares e ordinárias e até sugestões de emendas ao Plano Plurianual (PPA)
e à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).39
Os outros dois pontos fundamentais da Democracia mencionados por Dallari –
preservação da liberdade e à igualdade de direitos - são facilmente percebidos no
extenso rol de direitos e garantias fundamentais da Constituição Federal, mais especi-
ficamente em seu artigo 5º.40
É bem verdade, pois, que não existe governo democrático onde não existe res-
peito aos direitos fundamentais. Nem mesmo espectro de democracia. É o que conclui
Jorge Carpizo: “Los derechos humanos possen fuerza expansiva, la democracia goza de
esa misma característica y es natural, porque no puede existir democracia onde no se
respeten los derechos humanos, y éstos realmente solo se encuentran salvaguardados
y protegidos em um sistema democrático”.41
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Marcelo Figueiredo
42 “Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor
igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:”.
43 Ação declaratória de inconstitucionalidade.
44 Ação declaratória de constitucionalidade.
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Constitucionalismo Brasileiro:
Avanços, Desafios e Perspectivas
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Marcelo Figueiredo
governo. Com efeito, de um lado, teriam que ajustar suas instituições básicas de
maneira a prevenir ou dificultar os mecanismos correntes de seu desnaturamento e,
de outro – o que ainda seria mais importante – empenhar-se na transformação da rea-
lidade social buscando concorrer ativamente para produzir aquele mínimo de cultura
política indispensável à prática efetiva da democracia, única forma de superar os
entraves viscerais ao seu normal funcionamento”.47
Surge, portanto, a seguinte questão: Como produzir o mínimo de cultura políti-
ca indispensável à prática efetiva da democracia? Ao contrário do que pode parecer, a
resposta é conhecida de todas. Com o mínimo de renda para desenvolver uma vida
digna, educação de qualidade e acesso amplo à cultura e à informação diversificada. É
que afirma Bandeira de Mello: “Uma vez que a democracia se assenta na proclamação
e reconhecimento da soberania popular, é indispensável ‘que os cidadãos tenham não
só uma consciência clara, interiorizada e reivindicativa deste título jurídico político
que se lhes afirma constitucionalmente reconhecido como direito inalienável, mas
que disponham das condições indispensáveis para poderem fazê-lo valer de fato. Entre
estas condições estão não apenas (a) as de desfrutar de um padrão econômico-social
acima da mera subsistência (sem o que seria vã qualquer expectativa de que suas preo-
cupações transcendam as da mera rotina da sobrevivência imediata), mas também, as
de efetivo acesso (b) è educação e cultura (para alcançarem ao menos o nível de dis-
cernimento político traduzido em consciência real de cidadania) e (c) à informação,
mediante o pluralismo de fontes diversificadas (para não serem facilmente manipulá-
veis pelos detentores dos veículos de comunicação de massa)’”.48
Assim, exige-se do Estado uma postura ativa, pois a ele cumpre possibilitar aos
cidadãos condições mínimas para o exercício da democracia. Ao levar em conta a
Constituição Federal de 1988, é possível concluir que se trata de uma boa
Constituição. Necessário, contudo, efetivá-la. Nesse contexto, são valiosas as conclu-
sões de Jorge Carpizo, ao ponderar sobre a necessidade ou não de uma nova
Constituição no México: “No es correcto atribuir a la ley suprema los vícios y proble-
mas de nuestra realidad política, econômica, social e jurídica. Aquellos han crecido
precisamente por la inaplicación de la norma y por la falta de respeto al Estado de
derecho, tanto por parte de los gobernantes como de los gobernados. Ni en México,
ni em ninguna parte del mundo, los problemas se superan exclusivamente con el cam-
bio de la ley, sino primordialmente com la aplicación de la norma adecuada porque,
em caso contrario, se puede repetir la situación que nuestro país ya vivió en el siglo
XIX: la constante sustitución de Constituciones, al creerse ingenuamente que la expe-
dición de una nueva resolveria los problemas en forma mágica”.49
47 Ibid., p. 60.
48 Ibid, p. 60 e 61.
49 Concepto de democracia y sistema de gobierno em América Latina. México: Universidade Nacional
Autônoma de México, Instituto de Investigaciones Jurídicas, 2007, p. 130.
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Constitucionalismo Brasileiro:
Avanços, Desafios e Perspectivas
50 Ibid., p. 130.
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VII. Conclusões
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Constitucionalismo Brasileiro:
Avanços, Desafios e Perspectivas
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de América Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la
Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
Allan R. Brewer-Carías1
1 Advogado e Doutor em Direito, summa cum laude pela Universidad Central de Venezuela. Professor da
Universidad Central de Venezuela, da Universidad de Cambridge (Inglaterra), aonde foi Fellow do Trinity
College, e das Universidades de Rosario e Externado de Colombia en Bogotá. Professor Adjunto na
Universidade de Paris II; em Columbia Law School e na Universidad de Columbia em Nova York. Vice-pre-
sidente da Academia Internacional de Direito Comparado (Haya), e Membro da Academia de Ciências
Políticas e Sociales de Venezuela, da qual foi Presidente.
2 Véase Pedro Nikken, La protección internacional de los derechos humanos. Su desarrollo progresivo,
Instituto Interamericano de Derechos Humanos, Ed. Civitas, Madrid, 1987; Mónica Pinto, “El principio pro
homine. Criterio hermenéutico y pautas para la regulación de los derechos humanos”, en La aplicación de
los tratados sobre derechos Humanos por los tribunales locales, Centro de Estudios Legales y Sociales,
Buenos Aires, 1997, p. 163. Véase además, Humberto Henderson, “Los tratados internacionales de derechos
humanos en el orden interno: la importancia del principio pro homine”, en Revista IIDH, Instituto
Interamericano de Derechos Humanos, no. 39, San José 2004, p. 92.
3 Sentencia de 30-07-1996, en Revista de Derecho Público, No. 67-68, Editorial Jurídica Venezolana, Caracas
1996, p. 170.
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Allan R. Brewer-Carías
4 Sentencia de la antigua Corte Suprema de Justicia de Venezuela de 3 de diciembre de 1990, Caso: Mariela
Morales de Jiménez. Véase en Revista de Derecho Público, N0. 45, Editorial Jurídica Venezolana, Caracas,
1991, pp. 84-85. Véanse las referencias en la sentencia de 30-07-1996 en Revista de Derecho Público, No.
97-98, Editorial Jurídica Venezolana, Caracas 1996, p. 170.
5 Véase Iván Bazán Chacón, “Aplicación del derecho internacional en la judicialización de violaciones de
derechos humanos” en Para hacer justicia. Reflexiones en torno a la judicialización de casos de violaciones
de derechos humanos, Coordinadora Nacional de Derechos Humanos, Lima, 2004, p. 27; Humberto
Henderson, “Los tratados internacionales de derechos humanos en el orden interno: la importancia del
principio pro homine”, en Revista IIDH, Instituto Interamericano de Derechos Humanos, no. 39, San José
2004, p. 89, nota 27.
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La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
nacionales sino por los tribunales internacionales, en particular por los Tribunales
Constitucionales y por la Corte Interamericana de Derechos Humanos.
En efecto, en cuanto a los Tribunales Constitucionales, los mismos se han esta-
blecido en America Latina después de una larga tradición en materia de control de la
constitucionalidad de las leyes y demás actos estatales que se remonta al siglo XIX.
Desde 1865, por tanto, se comenzó a atribuir a los tribunales ordinarios en la gran
mayoría de los países, el control difuso de constitucionalidad; e igualmente, desde
1858 se comenzó a atribuir a muchas de las Cortes Supremas, la potestad de declarar
la nulidad de leyes inconstitucionales con efectos erga omnes, lo que a partir de 1965
se comenzó a asignar a Tribunales Constitucionales especialmente creados para tal fin.
Además, desde el mismo siglo XIX también se comenzó a desarrollar la acción de
amparo, de protección o de tutela, específicamente para la protección de los derechos
humanos, que hoy existe en todos los países latinoamericanos excepto en Cuba. Por
tanto, si en algún Continente hay una tradición de casi 200 años en materia de Justicia
Constitucional, es en America Latina; al menos en los textos.
En cuanto a los tribunales creados específicamente para ejercer la jurisdicción
constitucional, los mismos se han establecido en tres formas: sea como Tribunales
Constitucionales separados, como Salas Constitucionales de las Cortes Supremas
existentes; o atribuyendo a estas dicha Jurisdicción. En el primer caso, de Tribunales
y Cortes Constitucionales, las mismas se han establecido dentro o fuera del Poder
Judicial, en Guatemala, Chile, Perú, Ecuador, Colombia y Bolivia; En el segundo
caso, de Salas Constitucionales establecidas dentro de las Cortes o Tribunales
Supremos de Justicia, las mismas se han creado en Costa Rica, El Salvador, Paraguay,
Venezuela, y en Honduras, aún cuando en este último caso, con potestad decisoria
limitada por la regla de la unanimidad. El tercer caso, de Cortes Supremas de Justicia
que ejercen la Jurisdicción constitucional, están las de Nicaragua, aún cuando en
este país haya una Sala Constitucional como entidad ponente; y las de Brasil,
Panamá, Uruguay y México.
Además, como se dijo, dada la tradición de control difuso de la constitucionali-
dad de las leyes, los tribunales ordinarios actúan como jueces constitucionales en
Argentina, y en paralelo con el control concentrado, en Brasil, Perú, Colombia y
Venezuela; y en todos los países, cuando conocen de las acciones de amparo, como
sucede en todos los países suramericanos.
En todos esos supuestos, el rol de los tribunales constitucionales es garantizar la
Constitución y su supremacía,6 y a través de ella, la democracia, el control del poder
y la vigencia de los derechos humanos.
Por lo que se refiere a la Corte Interamericana de Derechos Humanos, la misma
fue creada en la Convención Americana de Derechos Humanos (Pacto de San José)
6 Véase Allan R. Brewer-Carías, “La Justicia Constitucional”, Revista Jurídica del Perú, Nº 3, 1995, Trujillo,
Perú, pp. 121 a 160.
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de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
8 En relación con esta clasificación general, véase: Rodolfo E. Piza R., Derecho internacional de los derechos
humanos: La Convención Americana, San José 1989; y Carlos Ayala Corao, “La jerarquía de los instrumen-
tos internacionales sobre derechos humanos”, en El nuevo derecho constitucional latinoamericano, IV
Congreso venezolano de Derecho constitucional, Vol. II, Caracas 1996 y La jerarquía constitucional de los
tratados sobre derechos humanos y sus consecuencias, México, 2003; Humberto Henderson, “Los tratados
internacionales de derechos humanos en el orden interno: la importancia del principio pro homine”, en
Revista IIDH, Instituto Interamericano de Derechos Humanos, No. 39, San José 2004, pp. 71 y ss. Véase
también, Allan R. Brewer-Carías, Mecanismos nacionales de protección de los derechos humanos, Instituto
Internacional de Derechos Humanos, San José, 2004, pp.62 y ss.
9 En la sentencia de 27 de mayo de 1997, en efecto, la Corte Constitucional resolvió una acción de amparo
presentada por una persona buscando protección judicial en relación con las noticias publicadas en dos
periódicos que se referían a ella como formando parte de una banda de criminales. El accionante solicitó a
la Corte que se respetara su derecho a exigir rectificación de las noticias por parte de los periódicos; y aún
cuando el derecho constitucional a la rectificación y respuesta en casos de noticias en periódicos que afec-
ten el honor, reputación o vida privada de las personas no estaba expresamente establecido en la
Constitución Guatemalteca, la Corte Constitucional aplicó directamente los artículos 11, 13 y 14 de la
Convención Americana que garantiza el derecho de las personas afectadas por informaciones o noticias
publicadas en periódicos, a la rectificación o respuesta “por el mismo órgano de difusión”, considerando
tales previsiones como formando parte del ordenamiento constitucional de Guatemala. Véase en Iudicum
et Vita, Jurisprudencia nacional de América Latina en Derechos Humanos, No. 5, Instituto Interamericano
de Derechos Humanos, San José, Costa Rica, Diciembre 1997, pp. 45 y ss.
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La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
11 La incorporación de este artículo en el texto de la Constitución, se hizo a propuesta nuestra. Véase Allan R.
Brewer-Carías, Debate Constituyente, (Aportes a la Asamblea Nacional Constituyente), Fundación de
Derecho Público, Caracas 1999, pp. 88 y ss y 111 y ss.
12 Véase los comentarios en Allan R. Brewer-Carías y Josefina Calcaño de Temeltas, Ley Orgánica de la Corte
Suprema de Justicia, Editorial Jurídica Venezolana, Caracas 1978.
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Allan R. Brewer-Carías
son más favorables, en lo que concierne al goce y ejercicio del citado derecho,
que la prevista en el artículo 49, numeral 1, de dicha Constitución; y que son de
aplicación inmediata y directa por los tribunales y demás órganos del Poder
Público”.13
13 Sentencia No. 87 del 13 de marzo de 2000, Caso: C.A. Electricidad del Centro (Elecentro) y otra vs.
Superintendencia para la Promoción y Protección de la Libre Competencia. (Procompetencia), en Revista
de Derecho Público, No. 81, Editorial Jurídica Venezolana, Caracas 2000, pp. 157. La Sala Constitucional
incluso resolvió el caso estableciendo una interpretación obligatoria, que exigía la re-redacción de la Ley
Orgánica, disponiendo lo siguiente: “En consecuencia, visto que el último aparte, primer párrafo, del artí-
culo 185 de la Ley Orgánica de la Corte Suprema de Justicia, dispone lo siguiente: “Contra las decisiones
que dicto dicho Tribunal en los asuntos señalados en los ordinales 1 al 4 de este artículo no se oirá recurso
alguno”; visto que la citada disposición es incompatible con las contenidas en el artículo 8, numerales 1 y 2
(literal h), de la Convención Americana sobre Derechos Humanos, las cuales están provistas de jerarquía
constitucional y son de aplicación preferente; visto que el segundo aparte del artículo 334 de la
Constitución de la República establece lo siguiente: “En caso de incompatibilidad entre esta Constitución y
una ley u otra norma jurídica, se aplicarán las disposiciones constitucionales, correspondiendo a los tribu-
nales en cualquier causa, aun de oficio, decidir lo conducente”, ésta Sala acuerda dejar sin aplicación la dis-
posición transcrita, contenida en el último aparte, primer párrafo, del artículo 185 de la Ley Orgánica en
referencia, debiendo aplicarse en su lugar, en el caso de la sentencia que se pronuncie, de ser el caso, sobre
el recurso contencioso administrativo de anulación interpuesto por la parte actora ante la Corte Primera de
lo Contencioso Administrativo (expediente Nº 99-22167), la disposición prevista en el último aparte, segun-
do párrafo, del artículo 185 eiusdem, y la cual es del tenor siguiente: ‘Contra las sentencias definitivas que
dicte el mismo Tribunal ... podrá interponerse apelación dentro del término de cinco días, ante la Corte
Suprema de Justicia (rectius: Tribunal Supremo de Justicia)’. Así se decide.” Idem p. 158.
14 Véase en Revista de Derecho Público, No 93-96, Editorial Jurídica Venezolana, Caracas 2003, pp. 136 y ss.
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La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
Sobre este tema, la sentencia de esta Sala Nº 1309/2001, entre otras, aclara
que el derecho es una teoría normativa puesta al servicio de la política que sub-
yace tras el proyecto axiológico de la Constitución y que la interpretación debe
comprometerse, si se quiere mantener la supremacía de la Carta Fundamental
cuando se ejerce la jurisdicción constitucional atribuida a los jueces, con la mejor
teoría política que subyace tras el sistema que se interpreta o se integra y con la
moralidad institucional que le sirve de base axiológica (interpretatio favor
Constitutione). Agrega el fallo citado: “en este orden de ideas, los estándares para
dirimir el conflicto entre los principios y las normas deben ser compatibles con
el proyecto político de la Constitución (Estado Democrático y Social de Derecho
y de Justicia) y no deben afectar la vigencia de dicho proyecto con elecciones
interpretativas ideológicas que privilegien los derechos individuales a ultranza o
que acojan la primacía del orden jurídico internacional sobre el derecho nacio-
nal en detrimento de la soberanía del Estado”.
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Allan R. Brewer-Carías
Por ello, la Sala concluyó en el caso concreto, que como Costa Rica había sido el
país que había requerido la Opinión Consultiva:
15 Véase en http://www.tsj.gov.ve/decisiones/scon/Diciembre/1939-181208-2008-08-1572.html.
16 Opinión Consultiva OC-5/85 de 13 de noviembre de 1985. La colegiación obligatoria de periodistas (arts. 13
y 29 Convención Americana sobre Derechos Humanos). En la misma, la Corte Interamericana fue de la opi-
nión: “que la colegiación obligatoria de los periodistas, en cuanto impida el acceso de cualquier persona al uso
pleno de los medios de comunicación social como vehículo para expresarse o para transmitir información, es
incompatible con el artículo 13 de la Convención Americana sobre Derechos Humanos”; y “que la Ley Nº 4420
de 22 de septiembre de 1969, Ley Orgánica del Colegio de Periodistas de Costa Rica, objeto de la presente con-
sulta, en cuanto impide a ciertas personas el pertenecer al Colegio de Periodistas y, por consiguiente, el uso -
pleno- de los medios de comunicación social como vehículo para expresarse y transmitir información, es
incompatible con el artículo 13 de la Convención Americana sobre Derechos Humanos”.
17 Sentencia No. 2312-05 de 09-05-1995. Consultada en original. Citada además en Rodolfo Piza R., La justi-
cia constitucional en Costa Rica, San José 1995; y en Carlos Ayala Corao, “Recepción de la jurisprudencia
internacional sobre derechos humanos por la jurisprudencia constitucional” en Revista del Tribunal
Constitucional, No. 6, Sucre, Bolivia, Nov. 2004, pp. 275 y ss.
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de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
Ley Nº 4420, en cuanto impide el acceso de las personas al uso de los medios de
comunicación, es incompatible con el artículo 13 de la Convención Americana
sobre Derechos Humanos, no puede menos que obligar al país que puso en mar-
cha mecanismos complejos y costosos del sistema interamericano de protección
de los derechos humanos”.
18 Para arribar a esta conclusión, la Sala Constitucional costarricense, al precisar su competencia para ejercer
el control de constitucionalidad de normas, indicó que: “La Sala Constitucional no solamente declara vio-
laciones a derechos constitucionales, sino a todo el universo de derechos fundamentales contenidos en los
instrumentos internacionales de derechos humanos vigentes en el país. Desde ese punto de vista, el reco-
nocimiento por la Sala Constitucional de la normativa de la Convención Americana de Derechos Humanos,
en la forma en que la interpretó la Corte Interamericana de Derechos Humanos en su Opinión Consultiva
OC-05-85, resulta natural y absolutamente consecuente con su amplia competencia. De tal manera, sin
necesidad de un pronunciamiento duplicado, fundado en los mismos argumentos de esa opinión, la Sala
estima que es claro para Costa Rica que la normativa de la Ley Nº 4420… es ilegítima y atenta contra el
derecho a la información, en el amplio sentido que lo desarrolla el artículo 13 del Pacto de San José de Costa
Rica, tanto como de los artículos 28 y 29 de la Constitución Política”. Ídem.
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Allan R. Brewer-Carías
19 Sentencia de 04-04- 1995, Caso Giroldi, H.D. y otros. Véase en Aida Kemelmajer de Caqrlucci y Maria
Gabriela Abalos de Mosso, “Grandes líneas directrices de la jurisprudencia argentina sobre material consti-
tucional durante el año 1995”, en Anuario de Derecho Constitucional latinoamericano 1996, Fundación
Konrad Adenauer, Bogotá, 1996, pp. 517 y ss.; y en Carlos Ayala Corao, “Recepción de la jurisprudencia
internacional sobre derechos humanos por la jurisprudencia constitucional” en Revista del Tribunal
Constitucional, No. 6, Sucre, Bolivia, Nov. 2004, pp. 275 y ss.
20 En una sentencia del 12 de marzo de 1990, en efecto, se declaró la inconstitucionalidad de un decreto ejecu-
tivo que establecía un condicionamiento arbitrario de carácter global al ejercicio de las libertades de expre-
sión y de prensa, para lo cual la Corte Suprema estableció que: “Con ese proceder se viola el artículo 4 de la
carta magna, que obliga al acatamiento de las normas de Derecho internacional por parte de las autoridades
nacionales. En el caso bajo examen, tal como lo señala el recurrente, se trata de la violación del pacto
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La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
Internacional de Derechos Civiles y Políticos y de la Convención Americana sobre Derechos humanos, apro-
bados por las leyes 14 de 1976 y 15 de 1977, respectivamente, convenios que rechazan el establecimiento de
la censura previa al ejercicio de las libertades de expresión y de prensa, en tanto que derechos humanos fun-
damentales”. Véase en Iudicum et Vita, Jurisprudencia nacional de América Latina en Derechos Humanos,
No. 5, Instituto Interamericano de Derechos Humanos, San José, Costa Rica, Diciembre 1997 pp. 80-82.
21 Sentencia 282-90, caso violación del artículo 8.2 de la Convención Americana por el derogado artículo 472
del Código de Procedimientos Penales. Consultada en original.
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Allan R. Brewer-Carías
22 Idem. Para ello, la Sala partió de la consideración de que:“Lo único que, obviamente, impone la Convención
Americana es la posibilidad de recurso ante un Tribunal Superior contra la sentencia penal por delito, de
manera que al declararse inconstitucionales las limitaciones impuestas por el artículo 474 incisos 1) y 2) del
Código de Procedimientos Penales, los requerimientos del artículo 8.2 inciso h) de la Convención estarían
satisfechos, con la sola salvedad de que el de casación no fuera el recurso ante juez o tribunal superior, en
los términos de dicha norma internacional” (Consultada en original). Se destaca, sin embargo, que en otra
sentencia No. 1054-94, la Sala Constitucional declaró sin lugar la impugnación por inconstitucionalidad del
artículo 426 del Código de Procedimientos Penales, por las mismas razones antes señaladas de negativa del
recurso en materia de contravenciones y no de delitos, por considerar que en su jurisprudencia, lo que ha
establecido la Sala con claridad es “que la citada Convención Americana establece la doble instancia como
derecho fundamental de todo ser humano, imputado en una causa penal por delito, de recurrir del fallo ante
un superior, y no indistintamente en todas las materias”
23 Es el caso de la sentencia de 17 de noviembre de 1994, dictada en un proceso en el cual un tribunal penal
decidió la detención preventiva de un antiguo comandante de las fuerzas armadas irregulares, en un juicio
que se le seguía por el delito de difamación. Véase en Iudicum et Vita, Jurisprudencia nacional de América
Latina en Derechos Humanos, No. 5, Instituto Interamericano de Derechos Humanos, San José, Costa Rica,
Diciembre 1997. La Sala decidió que “para la adecuada comprensión de las instituciones de la detención
provisional en nuestro sistema, debemos tener en cuenta además con fundamento en el artículo 144 de la
Constitución, los tratados internacionales ratificados por El Salvador” (p. 157), y en consecuencia, pasó a
analizar el artículo 11,1 de la Declaración Universal de Derechos Humanos y el artículo 9,3 del Pacto
Internacional de Derechos Civiles y Políticos que se refieren al derecho a la presunción de inocencia y al
carácter excepcional de la detención preventiva, la cual no debe considerarse como la regla general. La Sala
Constitucional también analizó el artículo XXVI de la Declaración Americana de Derechos Humano, que
también se refiere a la presunción de inocencia, y a los artículos 7,2 y 8,2 de la Convención Americana de
Derechos Humanos los cuales regulan los derechos de las personas en relación con las detenciones, parti-
cularmente el principio nulla pena sine lege. Conforme a todo ese análisis del derecho internacional de los
derechos humanos, la Sala concluyó señalando que “Es en ese contexto –constitucional e internacional- que
se ha de encuadrar el examen de la detención provisional, por cuanto tales normas, dada su superior ubica-
ción en la jerarquía normativa, obligan a su cumplimiento” (p. 157). En consecuencia, y fundamentándose
en las regulaciones internacionales en relación con la detención preventiva y los derechos de las personas,
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La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
Artículo 133.- Esta Constitución, las leyes del Congreso de la Unión que
emanen de ella y todos los Tratados que estén de acuerdo con la misma, celebra-
dos y que se celebren por el Presidente de la República, con aprobación del
Senado, serán la Ley Suprema de toda la Unión. Los jueces de cada Estado se
arreglarán a dicha Constitución, leyes y tratados, a pesar de las disposiciones en
contrario que pueda haber en las Constituciones o leyes de los Estados.
la Sala concluyó que “ésta no puede nunca constituir la regla general de los procesos penales –circunstan-
cia además expresamente prohibida en el artículo 9,3 del Pacto Internacional de Derechos Civiles y
Políticos- por lo que la misma , no puede funcionar automáticamente”(p. 158), porque no puede entender-
se como una sanción anticipada. Al contrario, a los efectos de decretar la detención, el juez en cada caso
necesita evaluar las circunstancias sobre la necesidad y conveniencia de la privación de la libertad para pro-
teger el interés público fundamental. Con fundamento en lo anterior, la Sala Constitucional concluyó en
relación con el caso que como en el mismo se había decidido la detención provisional, y “no se consignó
justificación alguna para dicha orden, esta deviene en inconstitucional” (158).
675
Allan R. Brewer-Carías
C/92, de 30 de junio de 1992, al señalar que ocupando las leyes y los tratados interna-
cionales, el mismo “rango inmediatamente inferior a la Constitución en la jerarquía
de las normas en el orden jurídico mexicano”, un
Pero este criterio ha sido abandonado por la propia Suprema Corte, en una sen-
tencia de revisión de amparo No. 1475/98, en la cual, al interpretarse el artículo 133
constitucional conforme a la Convención de Viena sobre Derecho de los Tratados de
1969, se determinó que en virtud de que “los compromisos internacionales son asu-
midos por el Estado mexicano en su conjunto y comprometen a todas sus autoridades
frente a la comunidad internacional” los tratados internacionales “se ubican jerárqui-
camente por encima de las leyes federales y, en un segundo plano, respecto de la
Constitución Federal”, adquiriendo entonces rango supra legal.25
Por otra parte, en este grupo de países que otorga rango supra legal a los tratados
en materia de derechos humanos también se puede ubicar el caso de Paraguay. La
Constitución contiene una cláusula de supremacía similar a la mexicana, con el
siguiente texto:
24 Tesis P. C/92, publicada en la Gaceta del Semanario Judicial de la Federación, No. 60, diciembre de 1992,
p. 27.
25 Véase la referencia en Guadalupe Barrena y Carlos Montemayor “Incorporación del derecho internacional
en la Constitución mexicana”, Derechos Humanos. Memoria del IV Congreso Nacional de Derecho
Constitucional, Vol. III, Instituto de Investigaciones Jurídicas, UNAM, México 2001; y en Humberto
Henderson, “Los tratados internacionales de derechos humanos en el orden interno: la importancia del
principio pro homine”, en Revista IIDH, Instituto Interamericano de Derechos Humanos, No. 39, San José
2004, p. 82, nota 15.
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La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
ran canjeados o depositados, forman parte del ordenamiento legal interno con la jerar-
quía que determina el Artículo 137.”26
Esta Constitución y las leyes de los Estados Unidos que deben sancionarse
conforme a la misma; y todos los tratados suscritos o que deban suscribirse bajo
la autoridad de los Estados Unidos, serán la suprema ley del país; y los jueces en
cada Estado se sujetarán a la misma, aún cuando exista algo en contrario en la
Constitución o leyes de los Estados.
26 Conforme a estas previsiones, por ejemplo, el Tribunal de Apelaciones en lo Criminal, Primera Sala de
Paraguay, en sentencia de 10 de junio de 1996, revocó una sentencia de un tribunal inferior que había dic-
tado una condena por el delito de difamación en el cual el querellante era una persona política y pública,
argumentando que “en una sociedad democrática los políticos están más expuestos a la crítica de la ciuda-
danía”, por lo que “en ningún caso el interés de los particulares primará sobre el interés público”, invocan-
do para la sentencia revocatoria, las normas constitucionales pertinentes así como el artículo 13 de la
Convención Americana de Derechos Humanos. Véase en Iudicum et Vita, Jurisprudencia nacional de
América Latina en Derechos Humanos, No. 5, Instituto Interamericano de Derechos Humanos, San José,
Costa Rica, Diciembre 1997 pp. 82-86.
27 El caso concreto trató sobre un delito de imprenta por críticas formuladas al Presidente del Paraguay, en el
cual el denunciante fue el Embajador del Paraguay en el Uruguay. El Ministerio Público denunció viola-
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La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
28 El caso se desarrolló como sigue: 1. La empresa demandante alegó que la decisión judicial del tribunal labo-
ral había violado su derecho a ser juzgado por el juez natural, a cuyo efecto solicitó a la Corte Suprema que:
primero, declarara en su sentencia que el amparo debía considerarse como una institución dominicana de
derecho público; y segundo, que la Corte Suprema, de acuerdo con las disposiciones de la Ley Orgánica
Judicial que le atribuye a la Corte el poder de resolver sobre el procedimiento aplicable en caso de que no
exista uno legalmente prescrito, disponiendo las normas respectivas, que en consecuencia estableciera dichas
normas en relación con los recursos de amparo. Adicionalmente, el recurrente solicitó a la Corte que dicta-
ra una medida cautelar suspendiendo los efectos de la sentencia laboral impugnada mientras durase el juicio
de amparo. 2. La Corte Suprema, a los efectos de decidir, estableció el criterio que los tratados internaciona-
les invocados por el recurrente, particularmente los artículos 8 y 25,1 de la Convención Americana de
Derechos Humanos, eran parte del derecho interno de la República Dominicana, y tenían la finalidad de
garantizar la protección judicial de los derechos fundamentales reconocidos en la Constitución, en la ley y
en la indicada Convención, contra todo acto violatorio de dichos derechos, cometido por cualquier persona
actuando o no en el ejercicio de funciones públicas, por lo que incluso se admitía contra actuaciones de par-
ticulares. En este aspecto, la Corte Suprema resolvió que: “Contrariamente a como ha sido juzgado en el sen-
tido de que los actos violatorios tendrían que provenir de personas no investidas con funciones judiciales o
que no actúen en el ejercicio de esas funciones, el recurso de amparo, como mecanismo protector de la liber-
tad individual en sus diversos aspectos, no debe ser excluido como remedio procesal específico para solucio-
nar situaciones creadas por personas investidas de funciones judiciales ya que, al expresar el artículo 25.1 de
la Convención, que el recurso de amparo está abierto a favor de toda persona contra actos que violes sus dere-
chos fundamentales, “aún cuando tal violación sea cometida por personas que actúen en ejercicio de sus fun-
ciones oficiales”, evidentemente incluye entre éstas a las funciones judiciales ”. Igualmente, la Corte resol-
vió que la vía del amparo: “Queda abierta contra todo acto u omisión de los particulares o de los órganos o
agentes de la administración pública, incluido la omisión o el acto administrativo, no jurisdiccional. Del
poder judicial, si lleva cualquiera de ellos una lesión, restricción o alteración, a un derecho constitucional-
mente protegido. Véase en Iudicum et Vita, Jurisprudencia nacional de América Latina en Derechos
Humanos, No. 7, Tomo I, Instituto Interamericano de Derechos Humanos, San José, Costa Rica, Diciembre
2000 p. 329 y ss. Véanse los comentarios a dicha sentencia en Allan R. Brewer-Carías, “La admisión jurispru-
dencial de la acción de amparo en ausencia de regulación constitucional o legal en la República Dominicana”,
idem, pp. 334 y ss; y en Revista IIDH, Instituto Interamericano de Derechos Humanos, San José, 2000.
29 Idem, p. 333.
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Allan R. Brewer-Carías
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La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
Ecuador (Artículo 11,7), Guatemala (Artículo 44), Honduras (Artículo 63), Paraguay
(Artículo 45), Perú (Artículo 3), República Dominicana (Artículo 2), Uruguay
(Artículo 72) y Venezuela (Artículo 22); incluso, en algunos casos, con remisión
expresa a los tratados internacionales, como sucede en Colombia (Artículo 44);
Nicaragua (Artículo 46); Brasil (Artículo 5,2) y Venezuela (Artículo 22).
La Constitución de Costa Rica, por su parte, hace mención a que la enunciación
de los derechos y beneficios contenidos en la misma no excluye otros “que se deriven
del principio cristiano de justicia social” (Artículo 74); expresión que entendemos
debe interpretarse en el sentido occidental de la noción de dignidad humana y justi-
cia social; y en otras Constituciones, las cláusulas abiertas se refieren a la soberanía
popular y a la forma republicana de gobierno, haciendo énfasis en relación con los
derechos políticos que con los inherentes a la persona humana, tal como ocurre en
Argentina (Artículo 13), Bolivia (Artículo 35), Uruguay (Artículo 72) y Honduras
(Artículo 63)
Ahora bien, en relación con el significado de estos “derechos inherentes a la per-
sona humana” indicados en estas cláusulas abiertas de derechos, por ejemplo, la anti-
gua Corte Suprema de Justicia de Venezuela, en una sentencia de 31 de enero de 1991,
señaló lo siguiente:
31 Caso: Anselmo Natale. Consultada en original. Véase el texto en Carlos Ayala Corao, “La jerarquía de los
instrumentos internacionales sobre derechos humanos”, en El nuevo derecho constitucional latinoamerica-
no, IV Congreso venezolano de Derecho constitucional, Vol. II, Caracas 1996, y La jerarquía constitucional
de los tratados sobre derechos humanos y sus consecuencias, México, 2003.
681
Allan R. Brewer-Carías
32 En dicha sentencia del 5 de diciembre de 1996, la Corte señaló que:“En el presente caso no se demostró el
cumplimiento cabal de la normativa en cuanto a la participación ciudadana, restándole al acto impugnado la
legitimación originaria conferida por la consulta popular. Alegan los oponentes al recurso intentado que fue-
ron consultados los órganos oficiales, como el Ministerio del Ambiente y de los Recursos Naturales Renovables
y el Servicio Autónomo Ambiental de Amazonas y se recibieron observaciones de diferentes organizaciones
indígenas, asimismo, antes de la promulgación de la Ley, el Gobernador explicó a la Organización
Regional de Pueblo Indígenas las razones de la Ley. Estima la Corte que este procedimiento constituye una
expresión tímida e insignificante del derechos constitucional de participación ciudadana en la formación de
la ley. Tal participación debe manifestarse antes y durante la actividad legislativa y no tan solo en el momen-
to de su promulgación por parte del Gobernador del Estado. Por otra parte, el hecho que se consultaron los
referidos organismos nacionales (actuación idónea) no exime la obligatoriedad de cumplimiento de la consul-
ta popular sobre todo en una materia en la cual está involucrada: el régimen de excepción de las comunidades
indígenas (de rango constitucional) el carácter multiétnico y pluricultural, la biodiversidad, la cultura, religión
y lengua propia de las comunidades indígenas, el derecho a la tierra que respecto a dichas comunidades es de
interés social e inalienable, en definitiva, la organización municipal (como lo es el acto impugnado) constitu-
tivo del marco institucional de tales realidades preexistentes, permanentes y objetivas. La participación es un
fenómeno de la vida democrática, que al manifestarse antes de dictarse la norma, instruye a la autoridad sobre
los intereses legítimos y necesidades de la comunidad y produce, a posteriori, consecuencias positivas, que se
revelan en el respaldo democrático de su aplicación”. Caso: Antonio Guzmán, Lucas Omashi y otros, en
Revista de Derecho Público, No. 67-68, Editorial Jurídica venezolana, Caracas, 1996, pp. 176 ss.
682
La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
ipso jure, Convenciones Internacionales y Tratados, sobre los derechos del hombre, en
la medida en que dichos instrumentos adquieren jerarquía constitucional”.33
Posteriormente, en relación con las dudas que se habían planteado, en 1998, en
varios recursos de interpretación, sobre la posibilidad de que el Presidente electo de la
República convocara un referéndum consultivo para resolver sobre la convocatoria a una
Asamblea Constituyente que no estaba regulada en la Constitución de 1961, como meca-
nismo para la reforma constitucional, la antigua Corte Suprema de Justicia en Sala
Político Administrativa dictó sendas decisiones de 19 de enero de 1999, admitiendo la
posibilidad de que se convocara dicho referéndum consultivo, fundamentando su deci-
sión en el derecho a la participación política de los ciudadanos, para lo cual se fundamen-
tó, de nuevo, en el artículo 50 de la Constitución de 1961, conforme al cual consideró tal
derecho como un derecho implícito y no enumerado, inherente a la persona humana.34
683
Allan R. Brewer-Carías
35 De ello concluyó la Corte señalando que “Prohibir en el territorio nacional se instalen o pongan en funcio-
namiento estaciones terrenas destinadas a la captación y posterior difusión, transmisión o distribución de
señales de satélites, bien que su procedencia sea nacional o internacional, implicaría flagrante vulneración
del derecho a la información, que cobija a toda persona en los términos del artículo 20 de la Constitución.
Véase en Iudicum et Vita, Jurisprudencia nacional de América Latina en Derechos Humanos, No. 5,
Instituto Interamericano de Derechos Humanos, San José, Costa Rica, Diciembre 1997 pp. 34-35.
36 Idem, p. 37.
684
La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
derechos humanos o a los derechos humanos como valor universal. Sabemos que
muchos de los Preámbulos de las Constituciones dictadas después de la Segunda
Guerra Mundial, hacen referencia a los derechos humanos y en particular a las decla-
raciones internacionales, como valores fundamentales de la sociedad. El ejemplo más
clásico es el de la Constitución francesa de 1958 en la cual, sin que en su texto se
hubiera incorporado una declaración de derechos humanos, se estableció la siguiente
declaración general contenida en el Preámbulo:
37 Véase L. Favoreu, «Le principe de constitutionalité. Essai de définition d’après la jurisprudence du Conseil
constitutionnel”, en Recueil d’études en 1’honneur de Charles Eisenmann, Paris 1977, p. 33.
38 Véase Allan R. Brewer-Carías, Judicial Review in Comparative Law, Cambridge University Press, 1989.
39 Véase J. Rivero, «Rapport de Synthèse” en L. Favoreu (ed.), Cours constitutionnelles européennes et droit
fondamentaux, Aix-en-Provence 1982, p. 520.
685
Allan R. Brewer-Carías
rango y valor de los que se han incorporado en el texto de las declaraciones constitu-
cionales.
Otras Constituciones contienen declaraciones de principio similares, aún cuan-
do no el de sus preámbulos, sino en el propio texto constitucional, al regularse aspec-
tos específicos del funcionamiento de los órganos del Estado, imponiéndoseles como
obligación, por ejemplo, el garantizar efectivamente el derecho de todas las personas
para el goce y ejercicio de sus derechos constitucionales. En estos casos, al establecer-
se como obligación estatal el necesario respeto a los derechos humanos o el garanti-
zar que puedan ser efectivamente ejercidos, ello se ha interpretado como reconocien-
do el valor universal de los derechos, y su rango constitucional, aún cuando no estén
en el texto constitucional.
Es el caso de la Constitución de Chile, en la cual, en la reforma de 1989, se incor-
poró una declaración general en la cual se reconoció que el ejercicio de la soberanía
está limitado por “el respeto a los derechos esenciales que emanan de la naturaleza
humana”, prescribiendo además, como un “deber de los órganos del Estado respetar y
promover tales derechos, garantizados por esta Constitución, así como por los trata-
dos internacionales ratificados por Chile y que se encuentren vigentes” (art. 5). En
consecuencia, si es un deber de los órganos del Estado el respetar y promover los dere-
chos humanos que están garantizados en los tratados internacionales, dichos derechos
adquieren igual rango y valor constitucional que el de los derechos constitucionales
enumerados en el texto fundamental. Incluso la referencia constitucional a los “dere-
chos esenciales que emanan de la naturaleza humana” permite y exige que no solo los
declarados en el texto constitucional tengan el carácter de derechos constitucionales,
sino los enumerados en los tratados internacionales, e incluso, por ejemplo, que tam-
bién tengan tal carácter aquellos no enumerados en texto expreso pero que sean esen-
ciales a la naturaleza humana.
La Constitución de Ecuador también prescribe en su artículo 11,9, en el misma
orientación, que “El más alto deber del Estado consiste en respetar y hacer respetar
los derechos humanos garantizados en la Constitución”, disponiendo que “las perso-
nas, comunidades, pueblos, nacionalidades colectivos son titulares y gozarán de los
derechos garantizados en la Constitución y en los instrumentos internacionales”(art
10); obligándose el Estado, además, a garantizar “el efectivo goce de estos derechos
establecidos en la Constitución y en los instrumentos internacionales” (Art. 3).
En consecuencia, en estos casos, las obligaciones del Estado se refieren no solo a
garantizar el ejercicio de los derechos enumerados en la Constitución, sino en los ins-
trumentos internacionales, los cuales por tanto puede considerarse que adquieren el
mismo rango y valor que aquellos.
En este sentido, también debe hacerse especial referencia a la Constitución de
Nicaragua, en la cual se incorporó una declaración general en el artículo 46, confor-
me a la cual, en el territorio nacional, toda persona goza no solo “de la protección esta-
tal y del reconocimiento de los derechos inherentes a la persona humana, del irres-
686
La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
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Allan R. Brewer-Carías
42 En tal sentido decidió la Corte Suprema de Argentina antes de que los tratados internacionales de derechos
humanos fueran constitucionalizados en la reforma constitucional de 1994, en sentencia de 7 de julio de
1992, aplicando la Opinión Consultiva OC-7/86 (Opinión Consultiva OC-7/86 de 29 de agosto de 1986.
Exigibilidad del derecho de rectificación o respuesta (arts. 14.1, 1.1 y 2 de la Convención Americana sobre
Derechos Humanos).Sentencia caso Miguel A. Ekmkdjiam, Gerardo Sofivic y otros, en Ariel E. Dulitzky,
“La aplicación de los tratados sobre derechos humanos por los tribunales locales: un estudio comparado” en
La aplicación de los tratados sobre derechos Humanos por los tribunales locales, Centro de Estudios Legales
y Sociales, Buenos Aires, 1997; y en Carlos Ayala Corao, “Recepción de la jurisprudencia internacional
sobre derechos humanos por la jurisprudencia constitucional” en Revista del Tribunal Constitucional, No.
6, Sucre, Bolivia, Nov. 2004, pp. 275 y ss.
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La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
43 Sentencia caso H Giroldi/ recurso de casación, 17-04-1995. Véase en Jurisprudencia Argentina, Vol. 1995-
III, p. 571; y en Carlos Ayala Corao, “Recepción de la jurisprudencia internacional sobre derechos huma-
nos por la jurisprudencia constitucional” en Revista del Tribunal Constitucional, No. 6, Sucre, Bolivia, Nov.
2004, pp. 275 y ss.
44 Caso Bramajo, September 12, 1996. Véase en Jurisprudencia Argentina, Nov. 20, 1996; y en Carlos Ayala
Corao, “Recepción de la jurisprudencia internacional sobre derechos humanos por la jurisprudencia cons-
titucional” en Revista del Tribunal Constitucional, No. 6, Sucre, Bolivia, Nov. 2004, pp. 275 y ss.
45 Véase en Revista de Derecho Público, No 93-96, Editorial Jurídica Venezolana, Caracas 2003, pp. 136 y ss.
689
Allan R. Brewer-Carías
ción, lo que contrasta con la competencia y funciones del otro órgano: la Corte,
la cual -según el artículo 62 de la Convención- puede emitir interpretaciones
obligatorias sobre la Convención siempre que los Estados partes se la pidan, lo
que significa que se allanan a dicho dictamen.
Si la Corte tiene tal facultad, y no la Comisión, es forzoso concluir que las
recomendaciones de ésta, no tienen el carácter de los dictámenes de aquélla y,
por ello, la Sala, para el derecho interno, declara que las recomendaciones de la
Comisión Interamericana de Derechos Humanos, no son obligatorias.
Ahora bien, a juicio de esta Sala, las recomendaciones de la Comisión como
tales, deben ser ponderadas en lo posible por los Estados miembros. Estos deben
adaptar su legislación a las recomendaciones, siempre que ellas no colidan con
las normas constitucionales, pero para esta adaptación no existe un término
señalado y, mientras ella se practica, las leyes vigentes que no colidan con la
Constitución o, según los tribunales venezolanos, con los derechos humanos
contemplados en las Convenciones Internacionales, siguen siendo aplicables
hasta que sean declaradas inconstitucionales o derogadas por otras leyes”.46
46 Véase en Revista de Derecho Público, No. 93-96, Editorial Jurídica Venezolana, Caracas 2003, p. 141.
47 Sentencia de 4-03-2001, Juzgado Federal No. 4, caso Pobrete Hlaczik, citado en Kathryn Sikkink, “The
transnacional dimension of judicialization of politics in Latin America”, en Rachel Sieder et al (ed), The
Judicalization of Politics in Latin America, Palgrave Macmillan, New York, 2005, pp. 274, 290.
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La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
48 Sentencia No. 1942 de 15 de Julio de 2003, en Revista de Derecho Público, No 93-96, Editorial Jurídica
Venezolana, Caracas 2003, pp. 136 y ss.
49 Caso Verbistky, Informe No. 22/94 de la Comisión de 20-09-1994, caso 11.012 (Argentina). Véase los
comentarios de Antonio Cancado Trindade, “Libertad de expresión y derecho a la información en los pla-
nos internacional y nacional”, en Iudicum et Vita, Jurisprudencia nacional de América Latina en Derechos
Humanos, No. 5, Instituto Interamericano de Derechos Humanos, San José, Costa Rica, Diciembre 1997,
pp.194-195. Véase el “Informe sobre la compatibilidad entre las leyes de desacato y la Convención
Americana sobre Derechos Humanos de 17 de febrero de 1995”, en Estudios Básicos de derechos Humanos,
Vol. X, Instituto Interamericano de Derechos Humanos, San José 2000, pp. 303 y ss.
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Allan R. Brewer-Carías
50 Caso Faitha M. Nahmens L. y Ben Ami Fihman Z. (Revista Exceso), Exp. Nº 00-0216, Sentencia No. 386 de
17-5-2000. Consultada en original. Véase en Carlos Ayala Corao, “Recepción de la jurisprudencia interna-
cional sobre derechos humanos por la jurisprudencia constitucional,” en Revista del Tribunal
Constitucional, No. 6, Sucre, Bolivia, Nov. 2004, pp. 275 y ss.
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La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
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Allan R. Brewer-Carías
“que el poder judicial “es autónomo y en el ejercicio de sus funciones sus miem-
bros no dependen de ninguna autoridad administrativa, lo que demuestra un cla-
moroso desconocimiento de la Legislación Peruana en la materia”; que “preten-
den desconocer la Constitución Política del Perú y sujetarla a la Convención
Americana sobre Derechos Humanos en la interpretación que los jueces de dicha
Corte efectúan ad-libitum en esa sentencia”; que el fallo cuestionado, dictado por
el Tribunal Supremo Militar Especial, adquirió la fuerza de la cosa juzgada, “no
pudiendo por lo tanto ser materia de un nuevo juzgamiento por constituir una
infracción al precepto constitucional”; que “en el hipotético caso que la senten-
cia dictada por la Corte Interamericana fuera ejecutada en los términos y condi-
ciones que contiene, existiría un imposible jurídico para darle cumplimiento
bajo las exigencias impuestas por dicha jurisdicción supranacional”, pues “sería
requisito ineludible que previamente fuera modificada la Constitución” y que “la
aceptación y ejecución de la sentencia de la Corte en este tema, pondría en grave
riesgo la seguridad interna de la República”.53
Fue precisamente frente a esta declaratoria por la Sala Plena del Consejo
Supremo de Justicia Militar del Perú sobre la inejecutabilidad del fallo de 30 de mayo
de 1999 de la Corte Interamericana de Derechos Humanos en el Perú, que la misma
Corte Interamericana dictó el fallo subsiguiente, antes indicado, de 7 de noviembre de
1999, declarando que “el Estado tiene el deber de dar pronto cumplimiento a la sen-
tencia de 30 de mayo de 1999 dictada por la Corte Interamericana en el caso Castillo
Petruzzi y otros”.54 Ello ocurrió durante el régimen autoritario que tuvo el Perú en la
época del Presidente Fujimori, y que condujo a que dos meses después de dictarse la
sentencia de la Corte Interamericana del 30 de mayo de 1999, el Congreso del Perú
aprobase el 8 de julio de 1999 el retiro del reconocimiento de la competencia conten-
ciosa de la Corte, lo que se depositó al día siguiente en la Secretaría General de la
OEA. Este retiro fue declarado inadmisible por la propia Corte Interamericana, en la
sentencia del caso Ivcher Bronstein de 24 de septiembre de 1999, considerando que
un “Estado parte sólo puede sustraerse a la competencia de la Corte mediante la
denuncia del tratado como un todo”.55
En Venezuela, la Sala Constitucional del Tribunal Supremo también ha declara-
do como inejecutable en su sentencia No. 1.939 de 18 de diciembre de 2008 (Caso
53 Esta cita es extraída de la sentencia No. 1.939 de la Sala Constitucional del Tribunal Supremo de Venezuela
de 18 de diciembre de 2008 (Caso Abogados Gustavo Álvarez Arias y otros), en la cual también se declaró
inejecutable una sentencia de la Corte Interamericana de Derechos Humanos. Véase en
http://www.tsj.gov.ve/decisiones/scon/Diciembre/1939-181208-2008-08-1572.html.
54 Sergio García Ramírez (Coord.), La Jurisprudencia de la Corte Interamericana de Derechos Humanos,
Universidad Nacional Autónoma de México, Corte Interamericana de Derechos Humanos, México, 2001,
p. 629.
55 Idem, pp. 769-771. En todo caso, posteriormente en 2001 Perú derogó la Resolución de julio de 1999, res-
tableciéndose a plenitud la competencia de la Corte interamericana para el Estado.
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La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
56 See in www.corteidh.or.cr. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas, Serie C No. 182.
57 Véase en Revista de Derecho Público, No. 93-96, Editorial Jurídica Venezolana, Caracas 2003, pp. 136 ss.
58 En este caso de tribunales creados en el marco de un proceso de integración supranacional, la Sala puntua-
lizó que “Distinto es el caso de los acuerdos sobre integración donde la soberanía estatal ha sido delegada,
total o parcialmente, para construir una soberanía global o de segundo grado, en la cual la de los Estados
miembros se disuelve en aras de una unidad superior. No obstante, incluso mientras subsista un espacio de
soberanía estatal en el curso de un proceso de integración y una Constitución que la garantice, las normas
dictadas por los órganos legislativos y judiciales comunitarios no podrían vulnerar dicha área constitucio-
nal, a menos que se trate de una decisión general aplicable por igual a todos los Estados miembros, como
pieza del proceso mismo de integración”. Idem, p. 140.
695
Allan R. Brewer-Carías
Bolivariana de Venezuela se haría inejecutable en el país. Ello podría dar lugar a una
reclamación internacional contra el Estado, pero la decisión se haría inejecutable en el
país, en este caso, en Venezuela.” La Sala, insistió en esta doctrina señalando que:
59 Idem, p. 139.
60 Idem, p. 138.
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La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
61 Véase Revista de Derecho Público, No. 83, Editorial Jurídica Venezolana, Caracas 2000, pp. 247 ss. Véase
Allan R. Brewer-Carías, “Le recours d’interprétation abstrait de la Constitution au Vénézuéla”, en Le renou-
veau du droit constitutionnel, Mélanges en l’honneur de Louis Favoreu, Dalloz, Paris, 2007, pp. 61-70.
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Allan R. Brewer-Carías
62 La Sala Constitucional consideró que la Corte Interamericana decidió que la omisión de la Asamblea
Nacional de dictar el Código de Ética del Juez o Jueza Venezolano, “ha influido en el presente caso, puesto
que las víctimas fueron juzgadas por un órgano excepcional que no tiene una estabilidad definida y cuyos
miembros pueden ser nombrados o removidos sin procedimientos previamente establecidos y a la sola dis-
creción del TSJ,” pero luego “sorprendentemente, en ese mismo párrafo [147] y de manera contradictoria,
afirma que no se pudo comprobar que la Comisión de Emergencia y Reestructuración del Poder Judicial
haya incurrido en desviación de poder o que fuera presionada directamente por el Ejecutivo Nacional para
destituir a los mencionados ex jueces y luego concluye en el cardinal 6 del Capítulo X que “no ha quedado
establecido que el Poder Judicial en su conjunto carezca de independencia”.
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La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
forma absoluta los derechos de los jueces titulares y los provisorios, lo cual es absolu-
tamente inaceptable y contrario a derecho”. reconociendo que respecto de los últimos
(citando su sentencia Nº 00673-2008), sin estabilidad alguna, están a regidos por la
Comisión de Funcionamiento y Reestructuración del Sistema Judicial,” como un órga-
no creado con carácter transitorio hasta tanto sea creada la jurisdicción disciplinaria”.
Pero ello no impide, de acuerdo con la Sala Constitucional que se pueda “remover
directamente a un funcionario de carácter provisorio o temporal, sin que opere algu-
na causa disciplinaria” por parte de la “Comisión Judicial del Tribunal Supremo de
Justicia,” en forma completamente “discrecional.”
Además, destacó la Sala, la “sentencia cuestionada” de la Corte Interamericana
“pretende desconocer la firmeza de decisiones administrativas y judiciales que han
adquirido la fuerza de la cosa juzgada, al ordenar la reincorporación de los jueces des-
tituidos.” En este punto, la Sala recurrió como precedente para considerar que la sen-
tencia de la Corte Interamericana de Derechos Humanos era inejecutable en
Venezuela, a la decisión antes señalada de 1999 de la Sala Plena del Consejo Supremo
de Justicia Militar del Perú, que consideró inejecutable la sentencia de la Corte
Interamericana de 30 de mayo de 1999, dictada en el caso: Castillo Petruzzi y otro.
En sentido similar, la Sala Constitucional venezolana concluyó que:
699
Allan R. Brewer-Carías
63 Véase Allan R. Brewer-Carias, “La progresiva y sistemática demolición institucional de la autonomía e inde-
pendencia del Poder Judicial en Venezuela 1999-2004,” in XXX Jornadas J.M Domínguez Escovar, Estado
de derecho, Administración de justicia y derechos humanos, Instituto de Estudios Jurídicos del Estado Lara,
Barquisimeto, 2005, pp. 33-174; “La justicia sometida al poder (La ausencia de independencia y autonomía
de los jueces en Venezuela por la interminable emergencia del Poder Judicial (1999-2006)),” in Cuestiones
Internacionales. Anuario Jurídico Villanueva 2007, Centro Universitario Villanueva, Marcial Pons, Madrid,
2007, pp. 25–57; “Quis Custodiet ipsos Custodes: De la interpretación constitucional a la inconstitucionali-
dad de la interpretación”, in VIII Congreso Nacional de derecho Constitucional, Peru, Fondo Editorial
2005, Colegio de Abogados de Arequipa, Arequipa, September 2005, pgs. 463-489.
64 Véase Decreto No. 5138 de 17-01-2007, Gaceta Oficial Nº 38.607 de 18-01-2007.
65 El documento circuló en junio de 2007 con el título Consejo Presidencial para la Reforma de la Constitución
de la República Bolivariana de Venezuela, “Modificaciones propuestas”. El texto completo fue publicado
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La Interrelación Entre los Tribunales Constitucionales de America Latina y la Corte Interamericana
de Derechos Humanos, y la Cuestión de la Inejecutabilidad de sus Decisiones en Venezuela
como Proyecto de Reforma Constitucional. Versión atribuida al Consejo Presidencial para la reforma de la
Constitución de la república Bolivariana de Venezuela, Editorial Atenea, Caracas 01 de julio de 2007, 146 pp.
66 Véase sobre la proyectada reforma constitucional Allan R. Brewer-Carías, Hacia la consolidación de un
Estado Socialista, Centralizado, Policial y Militarista. Comentarios sobre el sentido y alcance de las pro-
puestas de reforma constitucional 2007, Colección Textos Legislativos, No. 42, Editorial Jurídica
Venezolana, Caracas 2007, pp. 122 ss.
67 Véase entre otros, Allan R. Brewer-Carías, Crónica sobre la “In” Justicia Constitucional. La Sala
Constitucional y el autoritarismo en Venezuela, Colección Instituto de Derecho Público, Universidad
Central de Venezuela, No. 2, Caracas 2007.
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