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SIMÓN RODRÍGUEZ
2 Joseph Lancaster (1778-1838) tinha interesse na educação para os pobres e organizou uma
escola em Londres em 1798. Devido à sobrecarga pelo grande número de estudantes, ele desenvolveu
um sistema de monitoria (ou, de acordo com algumas versões, pegou emprestado as ideias de Andrew
Bell, que havia desenvolvido um sistema similar em Madras, na Índia, em 1796). George III deu cem
libras para a escola e em troca solicitou que o foco seria os estudos bíblicos. Lancaster usou medalhas
como recompensa e palmatória como punição. Após uma série de problemas ele foi “persuadido” a
deixar sua escola devido a acusação de “punir ao seu bel prazer”. Tal fato levou-o a emigrar para Nova
York em 1817, onde morreu após ser atingido por uma carruagem. As mudanças de nome da sua
organização na Inglaterra refletem uma conexão interessante entre política e educação. Depois da
fundação real, em 1808, tornou-se “The Society for Promoting the Royal British or Lancaster System for
the Education of the Poor” (A Sociedade para Promoção da Realeza Britânica ou Sistema Lancaster de
Educação dos Pobres). Em 1813, o nome mudou para “Lancasterian Institution for Promoting the
Education of the Labouring and Manufacturing Classes of Society of Every Religious Persuasion”
(Instituição Lancasteriana para Promoção da Educação das Classes Trabalhadora e Operária de Todas as
Crenças Religiosas). Em 1814, após a saída de Lancaster da instituição, ela tornou-se “The British and
Foreign School Society” (Escola da Sociedade Britânica e dos Estrangeiros).
período em que estudou em Londres, convidando-o para ir a Caracas implantar
seu sistema.3 Lancaster era uma figura desagradável que acabou sendo
obrigado a deixar sua própria escola por conta de suas tendências sádicas.
Entretanto, o aspecto interessante do método de Lancaster era a ênfase no
ensino mútuo por meio de um sistema de monitoria. Interessado em uma
educação voltada aos “pobres”, construiu classes que acomodavam trezentos
estudantes. Trinta monitores eram treinados para auxiliar, escolhidos entre os
“raros estudantes inteligentes”. Junto a estes estudantes havia um mestre.
Rodríguez não gostava de Lancaster, em parte porque havia concebido seu
sistema em torno de estudos bíblicos e Rodríguez era totalmente anticlerical.
Ele acusava Lancaster de usar o ensino mútuo somente para forçar os
estudantes a memorizarem a Bíblia (“Ordenando-os a recitar de cor o que não
compreendiam feito papagaios, de modo a tornarem-se charlatões pelo resto
da vida”).4 As coisas provavelmente pioraram por causa da inveja profissional
gerada pela importância atribuída por Bolívar a Lancaster. De qualquer forma,
o anticlericalismo de Rodríguez era tão forte que ele chegou ao ponto de
chamar seus dois filhos e sua filha (nascidos durante sua estadia no Equador)
de Choclo, Zapallo e Zanahoria (Milho, Abóbora e Cenoura). Esta foi a forma
que encontrou para protestar contra a expectativa da Igreja de que as crianças
seriam cristianizadas ao serem registradas com nomes de santos.5
3 Bolívar também tinha suas próprias concepções pedagógicas como, por exemplo: “O estudo da
história, de modo similar ao das linguagens, deve ser feito começando pela atualidade para então
retornar, por etapas, aos tempos obscuros das fábulas” (citado por Rojas, Ideas educativas de Simón
Bolívar, 96).
6 Johann H. Pestalozzi (1746-1827) desenvolveu seu sistema na Suíça e, assim como Lancaster,
iniciou com uma escola para pobres.
crianças. Ele acreditava que a “natureza humana” deveria seguir seu curso,
auxiliada pelo estudo e a prática.
Ainda assim, o que restou é suficiente para preencher dois volumes que
mostraram a parte de Rodríguez que o transformou em um paradigma para
mim. A maior parte desses textos foi escrita em um formato fragmentado. As
frases raramente fluem de modo linear como nos textos comuns, mas são
subdivididas em grandes colchetes que apresentam ideias paralelas ou
subcategorias. A mudança frequente de fonte, as vezes na mesma linha, para
dar ênfase, enquanto o texto poderia seguir formas geométricas ou ser
organizado por um eixo central. Resultaram em páginas similares a caligramas,
uma forma popular durante os séculos dezoito e dezenove, em que uma
imagem é composta e descrita por meio da diagramação das palavras. Mas
enquanto os caligramas eram um jogo formalista, a única preocupação de
Rodríguez quando utilizava sua própria diagramação era de esclarecer as
ideias. Suas composições poderiam ser descritas como mapas conceituais que
proporcionavam a velocidade da compreensão. Eles eram tanto visuais quanto
aforismos, providos de uma beleza desinteressada. Assim, Rodríguez tratou do
processo de perda de informação de uma maneira peculiar e tentou transmitir
seus pensamentos em um formato conciso.
10 Ibid., 151, 155. Este parágrafo parece atual ainda hoje e, entre outras coisas, também sintetiza
os trabalhos do artista argentino León Ferrari (1920-2013) criados entre 1962 e 1964, nos quais ele
explora as relações de sentido com a distorção da escrita. O trabalho de Ferrari neste período tornou-se
uma grande influência para as gerações subsequentes de artistas conceituais latino-americanos. Os
desenhos desta fase foram exibidos com o título de Politiscripts no Drawing Center, Nova York, em
2004.
Após discutir a condição necessária para uma boa leitura, Rodríguez
põe em prática suas descobertas ao escrever:
12 Rodríguez, Tratado, 2:157. A palavra “abstração” obviamente está sendo utilizada aqui em um
sentido literal, não como uma forma artística.
Mallarmé, ao contrário disso, introduz seu Um lance de dados... com um
prefácio em prosa convencional explicando as razões para sua transgressão
formal:
13 Mallarmé, Selected Poetry an Prose, 105-106; traduzido por Mary Ann Caws.
A INSERÇÃO DA PEDAGOGIA
O ensino nas universidades foi revisto mais uma vez neste período, mas
agora a revisão influenciou também os meios de comunicação usados pela
esquerda. O desenvolvimento de uma nova política de ensino se tornou clara
em todo continente graças à divulgação por meio de diversas publicações.
Uma dessas foi uma série de “cartas” aos campesinos brasileiros, escritas
entre 1960 e 1961 por Francisco Julião, líder das Ligas Campesinas do
nordeste do Brasil. Julião conseguiu descrever o direito ao voto em termos
simples, sem qualquer traço de condescendência. Seus escritos contrariaram o
rebuscamento barroco e o discurso partidário cuja retórica política digressora
tinha se espalhado por toda América Latina:
19 Citação de Austin em “Popular History and Popular Education”, 47, por Cendales, Educación
popular.
AQUI SE ENSINA
22 Dois anos depois, surgiu uma contrapartida dinamarquesa para o livro de Freire. Bo Dan
Andersen Soren Hansen e Jasper Jensen escreveram Den Lille Rode Bog for Skoolelever, o qual se tornou
famoso internacionalmente logo que apareceu uma tradução em francês de 1971, intitulada Le petit
livre rouge des écoliers & des lycéens. Este livro foi uma cartilha para os jovens estudantes
compreenderem as estruturas de poder de suas escolas e tornarem-se aptos a resistir a estas quando
não se desejava compartilhar o poder com eles.
23 Freire, Extensión o comunicación, 77. Freire prosseguiu em atividade como consultor de outros
países e se concentrou no impacto da colonização na educação dos países africanos que conquistaram a
independência recentemente. Em seu Cartas a Guiné Bissau, ele assinala como a história local inicia logo
após a saída dos colonizadores e “é evidente que, a libertação de um povo não começa, em termos reais
e autênticos, até que o povo reconquiste o uso da palavra, o direito de dizê-la, de ‘pronunciar’ e de
‘nomear’ o mundo” (168).
um objeto para ser observado e registrado pelo público. Arte é comunicação
estabelecida entre artista e público em busca de sentidos”.
24 Posteriormente, Freire iria reformular esta frase ao dizer “ler uma palavra e aprender a
escrevê-la para então lê-la é uma consequência do aprendizado da escrita da realidade, de ter
experimentado o sentido da realidade e modifica-la” (Freire e Macedo, Alfabetización, 67).
As teorias críticas geraram uma ampla gama de medidas corretivas.
Propositores tanto do ensino progressista quanto do conceitualismo, mais
aqueles da elite do que os da periferia, tinham a ambição de destruir o que eles
viam como fortalezas do poder,25 mas nas regiões periféricas tais projetos
envolviam um alto nível de consciência de classe. Já nas regiões centrais,
estes pensamentos em torno da pedagogia e dos direitos estudantis tiveram
uma influência modesta, porém por pouco tempo.
25 Um membro do conselho da faculdade em que estava lecionando em 1969 abria com um chute
todas as portas trancadas que aparecessem em seu caminho, ao invés de pedir para um zelador abri-las.
Ele fracassou em sua reeleição a despeito da sua popularidade entre os estudantes e hoje é um
respeitável intelectual neoconservador. Muitas dessas concepções pedagógicas estavam presentes no
pensamento de alguns movimentos estudantis e sociais dos Estados Unidos (que envolviam latinos,
negros e descendentes de asiáticos, em particular) mas contrariando o que muitos neoconservadores
estadunidenses continuam reclamando até hoje, os professores que restaram dos anos sessenta não
fizeram isso dentro da estrutura educacional. O primeiro livro de Freire em inglês foi publicado em 1970.
26 Em algumas poucas instâncias, esta crítica ganha forma, como na criação do grupo de militância
nomeado de Art Workers Coalition (Coalisão dos Trabalhadores da Arte) em 1969. O Art Workers
Coalition surgiu de uma discussão a respeito dos direitos que os artistas possuem sobre seu próprio
trabalho. O Museu de Arte Moderna de Nova York tinha decidido (contrariando um combinado anterior)
usar uma pequena e antiga obra do artista grego Vassilakis Takis em uma exposição. Em uma ação
pública, eles removeram a peça da sala de exposição e a colocaram no jardim. O grupo de artistas e
críticos que deram apoio ao artista se organizaram então em um coletivo bem orientado politicamente,
que se mobilizou por causas que iam da defesa dos direitos aos empregados de museus até protestos
contra a invasão do Vietnã. Nas demandas relacionadas aos museus eles propuseram um sistema
administrativo similar ao das universidades da América Latina na época: o conselho deveria ser
composto por uma representação equivalente entre funcionários, patronos e artistas. Lippard, “Biting
the Hand”, 79-120.
do ensino tradicional”. 27 Era como se a autoridade da instituição escolar fosse
desafiada agora principalmente em suas bases estéticas.
27 Esta frase estava nas instruções dadas pelo Board of Trustees of State University of New York
(Conselho Administrativo da Universidade Estadual de Nova York) para a criação da faculdade em Old
Westbury em 1968.
28 De acordo com esta abordagem, cada vez mais os estudantes eram vistos como consumidores e
as universidades, como corporações que tentavam satisfazer o mercado. Em dezembro de 1991, a
Comissão Europeia publicou um memorandum com recomendações para que as universidades se
comportassem como empresas, atuando a partir das regras de competição do mercado e os estudantes
fossem tratados como clientes. Em 1993, a mesma Comissão deliberou a criação de “recursos humanos
destinados exclusivamente às demandas da indústria” (Vaneigem, Aviso a escolares, 37).
Geralmente a identificação entre “estudantes” como “os
oprimidos” pelos discípulos de Freire [nos Estados Unidos],
defendida por uma ingênua pedagogia do empoderamento, a
qual evitava enfrentar um dos problemas mais difíceis de lidar
frente ao desenvolvimento de pedagogias socialistas dentro de
instituições burguesas, que era o fato de que os estudantes
das nações de primeiro mundo representavam, em geral, o
eleitorado mais empoderado do planeta e cujo
desempoderamento é um pressuposto necessário para uma
transformação global.29
30 A exposição era The Artist Out of Work: ART & LANGUAGE, 1972-1981, PS.1, Museu de Nova
York, setembro de 1999.
A instalação intenta combater uma historicização simplista (ou
tendenciosa) do Art & Language. Esta variedade de produções
suspensas em um mosaico promove um deslocamento
cronológico e parodia uma causalidade linear.31
31 Corris e Powel, “Na Attempt at a Textual Analogue”, 3, um artigo impresso em uma edição do
jornal publicada em conjunto com a exposição.
32 O GRAV foi fundado em 1960, os assinantes do primeiro manifesto do grupo eram: Hugo
Demarco, Héctor García Miranda, Horacio García Rossi, Julio Le Parc, François Molnar, Françoi Morellet,
Moyano, Servanes, Francisco Sobrino, Joël Stein e Jean-Pierre Yvaral, o filho do artista Victor Vasarely. O
grupo foi criado por conta de discordâncias em relação ao trabalho de Vassarely.
da categoria “obra de arte” e desejavam criar uma “nova situação visual
baseada na visão periférica e na instabilidade”.33 Ao tentar criar uma arte
participativa, eles demandavam a interação com o público e a obra de arte só
era considerada completa quando ocorria tal interação. Embora os artistas
predeterminassem de forma rígida os parâmetros de atuação nos processos
decisórios por parte do público (não era permitido ao público introduzir
alterações radicais nos trabalhos, nem destruí-los, por exemplo), ainda havia
uma grande oportunidade de compartilhar com o público os meios de produção
das esculturas do grupo e de seus environments ao mover partes e ao colocar
obras em movimento.34
33 Manifesto de 25 de outubro de 1961, Paris. Reimpresso em Marchán Fiz, Del art objetual, 371-
372.
34 O próprio Le Parc também fez algumas peças políticas no final dos anos de 1960, mas não se
enquadravam nos parâmetros conceituais. Suas peças envolviam o público por meio de atividades como
atirar no alvo representado por um símbolo capitalista, as quais enfatizavam a participação e não a
criação.