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Resumo: O intento deste texto é esclarecer como o tema da mística aparece na filosofia
heideggeriana e, especificamente, como a natureza é compreendida nessa interface de seu
pensamento. Martin Heidegger, o Filósofo da Floresta Negra, absorvendo a mística de Eckhart,
místico renano que entendeu que os âmbitos sensível/supra-sensível estão sob a mesma
ordem, argumento para a chamada desconstrução da metafísica, situa a mística como vida
fática. O trânsito livre entre noetón e aístheton e unidade com o todo na acepção eckhartiana,
surge em Heidegger no Dasein que se abriga dentro do ser, impingindo-lhe consciência de
finitude, percepção da totalidade e copertença a ela. Correlacionando o mundo como espelho
do divino de Eckhart, a natureza é concebida como onipresente, poderosa, objeto de
admiração, maravilhamento e veneração. Através da exposição principalmente dos escritos de
Heidegger e diálogo com outros autores o tema será abordado. Em um contexto de
necessidade de compreensão do que seja o religioso e o gradativo esvanecimento das
mediações religiosas, a mística que se abre para um diálogo franco com o todo, com a
totalidade, com a natureza é objeto de profunda reflexão. Abre-se uma clareira no
entrecruzamento desses caminhos para uma ampliação do conceito de religião através da
experiência religiosa. Pontua-se e se traz ao lume um apelo ético, bioético, embalado pela
compreensão do todo, do próximo, do outro indivíduo e do que se está à volta, não por acaso a
partir de então, mas como parte integrante do que se é. Põe-se de lado o conhecimento
aparente, apofântico, mediado, cerceado, limitado, e se funda e vive a intimidade da experiência
direta com o divino, que aparece em meio a muitas trilhas e caminhos, como natureza.
Heidegger situa a mística dentro da vida, vida fática. Para Heidegger, todos os
fenômenos, pois, que analisados fora da vida e circunscritos asperamente um após o
outro, subdivididos, correlacionados por categorias a priori, dispostos em gêneros e
modos, constituir-se-á essa análise em deformação (Werustaltung) e deslize
(Abgeleiten) (HEIDEGGER, 2010. p.15, 16). Para aclarar a admiração e respeito que o
filósofo tem pelo tema basta citar grande parte de sua filosofia têm como nascedouro
uma Fenomenologia da Vida, onde dedica espaço para analisar a mística na prática de
Agostinho e no neoplatonismo e, mais precisamente, discorre sobre Os fundamentos
filosóficos da mística medieval. A escolha de Heidegger pela mística não é em vão.
Como Heidegger vê esse entrelace entre filosofia, mística e natureza?
2. CAMINHOS NA FLORESTA
O peculiar cognome Filósofo da Floresta Negra não foi dado a Martin Heidegger
por acaso. Ele parece expressar muito mais possibilidades do que se apresenta em um
apelido carinhoso. Desde o fato de o mesmo ter tão grande apreço pelo lugar, a ponto
de morar e escrever boa parte de suas obras no mesmo, até as marcas inconfundíveis
que este cenário deixa em sua vida e filosofia. Christian Dubois o descreve bem quando
O mundo seria, então, como um livro de palavras mágicas escritas pela mão
invisível de Deus ou uma espécie de espelho em que a infinidade de imagens
(multiplicidade), presente no seu interior, não fosse senão o reflexo da face
oculta de Deus (unidade). (Cf. p.274)
Heidegger, tal qual o místico que “foi favorecido por uma experiência imediata”,
que “opera dentro do contexto de tais instituições e autoridades tradicionais”, que está
“sempre procurando encher odres velhos com vinho novo”, e que “precisamente porque
o místico é o que é, precisamente porque se acha em relacionamento direto, produtivo,
com o objeto de sua experiência, ele transforma o conteúdo da tradição na qual vive”
(SCHOLEM, 2002. p. 12-14, 16). Heidegger quer, de dentro da filosofia, romper com a
metafísica, onde o teórico como apriorístico, estruturante do sistema de pensamento,
predomina. Então, ele diz que “Como um contramovimento elementar, pode-se
conceber uma manifestação como a mística” e que “o revolvimento e disponibilização
dentro da esfera do sujeito leva a uma vivência específica do significado e da estrutura
do sujeito da mística” (HEIDEGGER, 2010. p. 299).
Não pode ser confundida com um (a) deus (a) ou Deus, pois está presente nos
deuses e se fosse um deus deixaria de ser na natureza na assertiva de Hölderlin, pois a
divindade não lhe é atributo, a onipresença a caracteriza mais (Ibid.). O mundo “como
um livro de palavras mágicas” ou “espelho” que reflete a multiplicidade de imagens da
face oculta de Deus (MICHELAZZO, p. 274) é, a partir da perspectiva de Hölderlim,
transposto para a natureza como aquela que contém em si todos os elementos reais,
mesmo os antitéticos, mas que, ressalvadas as diferenças, assegura-se sua
particularidade e identidade. A natureza os preserva assim: contraditórios, mas não
contrários, em muito semelhantes, mas não iguais, pertencendo à mesma unidade
(SOUSA, 2009. p.71).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS