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Acórdão
VOTO.
11. A peça inicial diz que o recorrido Fernando Furlanetto, delegado de polícia, no dia do evento,
prevalecendo-se de sua autoridade e do adolescente João Carlos Ribeiro, o qual se encontrava
sob sua guarda, teria submetido-o a tortura, desferindo-lhe socos na cabeça e detonando um tiro
com arma de fogo bem próximo ao seu ouvido, objetivando extrair informações sobre um cartão
magnético que teria sido subtraído de Edwin Wujastik, causando sofrimento mental e físico ao
adolescente.
Toda acusação funda-se exclusivamente na palavra do adolescente João Carlos Ribeiro (fls.
118/119). Não foi ele, porém, submetido a qualquer perícia e suas declarações não encontram
apoio em nenhuma prova dos autos. Seu próprio pai para o juiz da instrução disse que, visitando
seu filho na delegacia, ele não lhe contou que tivesse levado algum soco ou se tinham disparado
uma arma de fogo perto do seu ouvido, nem a isso se referindo em outras conversas (fls. 81).
Nenhuma testemunha, da acusação ou defesa, faz qualquer menção ao fato atribuído ao
recorrido, a não ser o outro adolescente Vilmar Martins dos Santos que somente disse ter João
Carlos Ribeiro lhe contado que o delegado tinha disparado um tiro bem perto do seu ouvido (fls.
120), esclarecendo, porém, que quando João retornou à delegacia não aparentava nenhum
ferimento.
Analisando-se as provas, entendo inexistiram suficientes elementos de convicção para condenar
o réu. Na sempre lembrada lição de Camargo Aranha, ... a condenação criminal somente pode
surgir diante de uma certeza quanto à existência do fato punível, da autoria e da culpabilidade do
acusado. Uma prova deficiente, incompleta ou contraditória, gera a dúvida e com ela a
obrigatoriedade da absolvição, pois milita em favor do acionado criminalmente uma presunção
relativa a inocência (in: Da Prova no Processo Penal, pág. 60, Saraiva, 2ª edição).
Nesse sentido a jurisprudência: Em matéria de condenação criminal, não bastam meros indícios.
A prova da autoria deve ser concludente e estreme de dúvida, pois só a certeza autoriza a
condenação no juízo criminal. Não havendo provas suficientes, a absolvição do réu deve
prevalecer (RT. 708/339 - TJMT).
Diante dessas considerações, nego provimento ao recurso ministerial, mantendo a sentença
recorrida, retificando, porém, o fundamento legal da absolvição que passa a ser o do
art. 386, VI, CPP, e não do inciso II como constou.
ACORDAM os Desembargadores integrantes da Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça
do Paraná, à unanimidade de votos, em negar provimento à apelação, nos termos do voto do
Desembargador-relator.
Estiveram presentes: o eminente Desembargador NEWTON LUZ (Presidente, sem voto), e
acompanharam o voto do Relator, o eminente Desembargador TELMO CHEREM e o eminente Juiz
Convocado PAULO HABITH.
Curitiba, 23 de novembro de 2000
CARLOS HOFFMANN - Relator
QUESTÕES:
1- Quais crimes foram imputados aos acusados? Você considera que tal imputação está
juridicamente correta?
2- Transcreva a conduta imputada a cada um dos réus que você consegue identificar na
decisão e relacione com o dispositivo penal em que se enquadra.
3- Identifique os meios de prova existentes no processo, conforme relatado no voto, e faça
uma apreciação crítica sobre a valoração dos mesmos pelo magistrado.
4- Leia a decisão abaixo, exarada pelo Ministro Joaquim Barbosa em sede de julgamento
de habeas corpus impetrado em favor de condenado - mas com decisão ainda não
transitada em julgado - por crime de tortura, e confronte a qualidade das provas
existentes nos autos e sua valoração feita no STJ e ratificada pelo aludido ministro com a
qualidade das provas e sua valoração como constatado no caso primeiro examinado.