A - Lilian Gonçalves viu no medo uma ameaça também para
seus negócios e assumiu aquilo que caberia ao Estado. "No
nosso bairro, o de Santa Cecília, nós esquecemos a segurança pública. Eu pago seguranças. Há 32 anos nunca houve um assalto na minha rua. Tive que fazer por mim e por meus clientes. Quando saio fora do meu quarteirão, vou de segurança e carro blindado."
B - Construir fossos e muralhas em torno da cidade, como na
Idade Média. Controlar suas entradas, vigiar estranhos, responder à violência com mais homens armados. "A resposta não virá daí", diz Eleonora Caldeira. Para ela, cada um poderia aproveitar o aniversário da cidade para assumir pequenos gestos, "ser mais delicado no trânsito, respeitar a lei do silêncio, pensar na lei de edificações, para que a cidade fique mais bonita."
C - Quando São Paulo vira medo, cada um tem seu relato.
"Meu estômago trava a cada sinal fechado", diz Palomino. Seu filho adolescente está estudando na Inglaterra. "É triste saber que estou mais tranquilo com ele assim tão longe. Quando ele está aqui, vivo assustada enquanto não chega."
D - A São Paulo, como "uma grande boca de mil dentes"
--como disse Erika Palomino citando Mário de Andrade (1893- 1945)-- vai se transformando da mescla cultural à cidade quase sitiada, onde seus habitantes se sentem mais reféns que moradores. Alguém na platéia quis saber de Olivetto se ele mudou sua relação com a cidade de dois anos para cá. Em dezembro de 2001, Olivetto foi sequestrado e passou 53 dias no cativeiro. Desde então, não caminha mais só pelas ruas nem transita com os vidros abertos."Eram gestos que eu valorizava, caminhar, ir a pé ao Pacaembu, entrar em lojas, observar as pessoas, até como dever de profissão. Não é normal, é sanatorial, uma estrutura de segurança como a que tenho de ter hoje." E - Brasileiro acredita que violência sucumbe criminalidade Quais são as melhores soluções para o combater a criminalidade? Com medo do atuais índices violência, mais da metade da população brasileira (51%) defende a pena de morte (51%), a prisão perpétua (72%) e a convocação dos Exército para combater a violência (84%). Isso prova que a sensação de desamparo leva os indivíduos à agressividade, num perigoso círculo vicioso que alimenta a mesma violência que os preocupa. Os dados fazem parte da pesquisa sobre percepção da violência divulgada pelo instituto Datafolha. Segundo o estudo, a recente repercussão desses casos, aliada à descrença na capacidade de reação do poder público e a uma sensação de abandono, corroem a percepção de segurança e alavancam a violência na lista das inquietações. A reação emocional soma-se, continuam especialistas, a um questionamento objetivo da eficácia do sistema em vigor. Por isso, muitos acabam se armando. O Datafolha indica que 12% das pessoas moram em casas onde há armas de fogo -em meados de 99, o índice era de 8%. Muitas delas são irregulares, já que há no país apenas 2,91 milhões de armas cadastradas.