Вы находитесь на странице: 1из 6

Os (des)caminhos da educação no Brasil

José Antonio Mangoni – Professor da UEPA

Para onde vai a educação no Brasil? Uma pergunta difícil, abrangente,


desafiadora... Mas vamos apresentar algumas indicações para aproximar-nos de uma
possível resposta.
Antes é necessário apresentar alguns conceitos:

Educação e ensino
Quanto à educação há dois conceitos básicos:
- Educação enquanto formação de caráter, de comportamento: essa é tarefa da
família, é nela que se aprende o respeito para com o próximo e os distantes, o respeito
para com as coisas dos outros, a comportar-se em determinados ambientes, etc.
- Educação escolar: a educação escolar pressupõe os seguintes elementos: o
Ensino, palavra que vem do latim (in + signare) e quer dizer marcar por dentro; é o
aprendizado dos conteúdos ministrados nas diferentes disciplinas no decorrer dos anos.
O segundo elemento é a Educação enquanto sentido original da palavra (do latim e +
ducere), ou seja “conduzir para fora”; a escola deve criar possibilidades de adquirir um
olhar mais amplo que o presente, sonhar com mundos diversos, extrapolar os
conteúdos, ajudar a perceber que o aprendizado é uma tarefa permanente, e assim não
acostumar-se com o que está ao seu redor, é criar o novo.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), no art. 2º aponta as 3
finalidades de educação escolar:
- o pleno desenvolvimento do educando,
- seu preparo para o exercício da cidadania e
- qualificação para o trabalho.
Feitas estas considerações conceituais, voltamos à pergunta inicial: para onde vai
a educação (escolar) no Brasil?
Não é possível fazer essa análise sem levar em conta a globalidade, pois
correríamos o risco de fazer uma análise equivocada. O Brasil vive um período de crise.
Essa atinge a todas as instâncias: política (no legislativo, no executivo e no judiciário),
economia, religião, educação, família, sociedade... As consequências são: instabilidade,
insegurança, incertezas quanto ao amanhã... E se o Brasil está em crise, a educação está
em crise, pois é parte integrante da nação.

Crise
Na crise, geralmente, três atitudes são tomadas:
- a dos medrosos, que se apegam ao passado e demonizam os que os desafiam a
sair das seguranças que não mais existem (volta à ditadura, escola sem partido,
demonização dos professores, moralismo, racismo, xenofobia, intolerância religiosa,
vingança, violência como solução (armas)... são alguns exemplos). Como dizia Gramsci:
"O velho Mundo morreu, o novo Mundo tarda a aparecer, e neste claro-obscuro surgem
os monstros".
- a dos “palha levada pelo vento”: atiram-se de corpo e alma às novidades, sem
questionar, abandonam sua trajetória histórica.
- a dos que sabem ver na crise oportunidades, cientes da era de mudança (ou
mudança de era segundo alguns), discutem os projetos em pauta, rejeitam as atitudes
anacrônicas (apego ao passado que não mais existe), e não abrem mão da essência: a
vida das pessoas, e priorizam a vida dos que estão à margem.

A educação na crise
A educação tem sido eleita no Brasil como bode expiatório dos desmandos do
Brasil. Nunca vi tantas autoridades tendo a educação, os professores e os estudantes
como inimigos: nunca podemos esquecer-nos do que ocorreu no Paraná ou em são
Paulo, ou como os estudantes foram tratados na ocupação das escolas... O velho discurso
de que aumento aos professores vai quebrar o Brasil... Onde estão os 800 bilhões da
sonegação fiscal? Por que não reduzem salários e privilégios do executivo, legislativo e
judiciário, nas 3 esferas: União, Estados e Municípios? Por que tanto ódio e preconceito
da educação? Talvez esse seja oriundo do medo, motivador principal da primeira atitude
diante da crise!
Se olharmos atentamente à reforma do Ensino Médio, esta busca apenas a
questão do trabalho, esquecendo a cidadania e o pleno desenvolvimento. Isso se resume
na pergunta aos professores: “vai cair no Enem?” Ao marginalizar disciplinas como
História, Sociologia, Filosofia, diz-se com todas as letras que não se quer refletir sobre a
sociedade, compreendê-la, mas apenas fazer da educação um caminho para o Vestibular.
Que indivíduos sairão desse modelo? Gandhi, na década de 40, apontava como um
grande erro da sociedade ocidental a “educação sem caráter”, isto é, um diploma sem
relação com cidadania, que tem por centro unicamente seus interesses pessoais, do tipo
“é doutor, mas não tem o mínimo de respeito para com o próximo”. Exemplos abundam
ultimamente dos que se acham acima da lei, e abusam da expressão: “você sabe com
quem está falando?”
E quanto à PEC 241 (ou 55 no Senado): congelar investimentos na saúde e
educação por 20 anos é jogar na lata de lixo sonho de um país com maior dignidade
social. E aí vem o deputado e diz: “Quem não tem dinheiro não deve fazer curso
superior”.
Os “monstros” estão aí. Que bom se todos voltássemos às ruas agora não contra
um partido ou a favor dele, mas contra esse modelo que está sendo implantado e que
compromete o futuro de milhões de brasileiros. Que bom se todos compreendêssemos
que exercício da cidadania é tão (ou mais!) importante que qualificação para o trabalho.
Mas em meio aos monstros, aparecem também as flores resistentes da mudança.
Sempre se desconfiou dos jovens, mas foi deles que nasceu a ocupação de milhares de
escolas pelo Brasil. E isso surpreendeu, e muito! Há os que veem nisso apenas baderna
(convido a buscar a origem da palavra ‘baderna’... você vai se surpreender!), mas quem
esteve próximo verá que aí inicia um movimento de cidadania, daqueles que se
convenceram que democracia é muito mais que votar. E isso nos enche de esperança!
E não poderia concluir sem lembrar de Paulo Freire, de uma frase que está no
livro Pedagogia da Autonomia: “Aprender para não se adaptar, mas para transformar a
realidade, para nela intervir, recriando-a”. Acostumar-se ao presente é deixar de ser
humano.
Que os (des)caminhos da educação no Brasil nos motive a ampliar os horizontes e
acreditar que esse nosso país pode e deve ser diferente. E o será quando cidadania não
for apenas uma finalidade escrita na LDBEN, mas for o pão nosso de cada dia.

Вам также может понравиться