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Políticas educacionais contemporâneas:

tecnologias, imaginários e regimes éticos*

Maria Manuela Alves Garcia


Universidade Federal de Pelotas, Faculdade de Educação

O tema das reformas das políticas educacionais – ter exploratório, sem forte preocupação com análises
que vem alterando, de modo alargado e profundo, exaustivas dos documentos que examino ou mesmo
desde os anos de 1990, a educação brasileira em todos dos contextos históricos que os delimitam. Baseio
os níveis – já é lugar comum, mas sempre importante minhas observações em análises de outros estudos com
na agenda de nossas discussões. Abordar esse tema de a mesma preocupação e em minha própria experiência
uma perspectiva tal que possa articular novas ideias, de pesquisadora relativa às transformações por que vêm
ou outros olhares, sobre as transformações que vimos passando a profissionalização e o trabalho docente no
assistindo, é um desafio. Brasil (Anadon & Garcia, 2005; Garcia, 2008; Garcia
Inspirada em um conjunto de estudos que proble- & Anadon, 2009). Para descrever, a título de ilustração,
matizam o caráter global das reformas educacionais os imaginários sociais e éticos acerca da educação e
das últimas décadas e nos estudos de Michel Foucault da cidadania, propostos pelos discursos das reformas,
acerca do discurso (1995) e da governamentalidade trago ao texto observações e enunciados que percorrem
(1990), examino a racionalidade que tem pautado es- documentos oficiais promovidos tanto por organismos
pecificamente alguns documentos oficiais, destacando internacionais e supranacionais, como nacionais, que se
suas principais tecnologias de governo e relações com dirigem a estabelecer metas para a educação no mundo
a produção de certos imaginários sociais e regimes e no Brasil e transformar os currículos da educação
éticos dos indivíduos. Trata-se de um estudo de cará- básica e da educação de professores.
Meu olhar sobre os documentos aqui analisados
está ocupado pelos modos como os discursos das re-
*
Este texto foi apresentado pela primeira vez em sessão formas interpelam os indivíduos, inscrevendo-os em
especial do GT de Currículo e GT de Políticas Educacionais na posições sociais e em determinadas formas de existên-
31ª Reunião Anual da Associação Nacional da Pós-Graduação em cia, com suas esperanças e temores. A análise desses
Educação (ANPEd), em 2008, Caxambú-MG. discursos deteve-se sobre os enunciados que apontam

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para as formas de identidade e atuação desejadas para Esse não é um fenômeno novo. Desde as re-
o sujeito econômico, político, educacional etc., fixadas formas sociais da Europa e da América do Norte no
e construídas, no próprio discurso, em relação ao seu século XIX, relaciona-se com a construção moderna
outro e às suas diferenças. de Estado como um aparato legal e administrativo
As reformas atuais são práticas globais que para cuidar não somente dos limites territoriais, mas,
visam a mudanças nos padrões de regulação social sobretudo, de suas populações, visando o progresso,
e nos regimes éticos que capacitam os sujeitos para utilidade, desenvolvimento, conquista, alargamento
as relações sociais. As reformas incorporam sistemas de territórios e influências. A escolarização de massas
de razão e conhecimento como práticas de inclusão e tem sido um dispositivo fundamental na construção
exclusão que produzem posições de sujeito, sistemas de regimes éticos do indivíduo, assentados na agên-
de classificações e distinções, que formam o horizonte cia, na autonomia regulada e na responsabilidade.
ético do indivíduo consigo mesmo e com os outros. Sistemas de conhecimento com efeitos de verdade
As reformas, além de serem um conjunto de direções unem as práticas de reforma à administração das po-
e princípios, e políticas, que devem guiar o trabalho pulações. A psicologia da criança, os conhecimentos
escolar e docente, são esforços calculados para inscre- acerca da infância e a pedagogia decretaram princí-
ver certas racionalidades políticas nas sensibilidades, pios para a construção de cidadãos, trabalhadores
nas disposições e na consciência dos indivíduos, autorresponsáveis e automotivados (Popkewitz,
capacitando-os diferentemente para a ação e a parti- 2004).
cipação no mundo (Popkewitz, 1997, 2004). As políticas educacionais instituem e incorpo-
“A reforma é a administração da liberdade per- ram uma economia de poder, um conjunto de tec-
sonificada em sistemas de conhecimento profissionais nologias e práticas, associações, experts, discursos
e especializados”. Isso implica racionalizações espe- “dominantes” e regimes de verdade que formam uma
cíficas que de modo geral estão ligadas à burocracia, rede e um complexo necessário para o alinhamento
seja ela do Estado ou dos organismos internacionais e de decisões e ações que, contemporaneamente,
supranacionais, que desempenham no mundo globa- exercem um “governo à distância” (Rose, 1996). As
lizado funções específicas e outras tradicionalmente políticas educacionais fazem parte dessas estratégias
associadas ao aparelho de Estado. Além disso, essas que tentam tornar o mundo legível e transparente,
racionalizações estão relacionadas a sistemas de co- anular a contingência e o acontecimento, por meio
nhecimento produzidos pelas disciplinas das ciências da manipulação da incerteza e dos cálculos da bu-
sociais (Popkewitz, 2004, p. 111). rocracia moderna, que sonha com a uniformidade e
O problema das reformas, e também das polí- a regularidade de um mundo em ordem (Bauman,
ticas educacionais, é centralmente o problema da 1999).
mudança nas capacidades interiores, cognitivas e Quero situar a seguir o problema das reformas
instrumentais dos indivíduos, de modo que essas e das políticas educacionais atuais no interior do
mudanças coincidam com os objetivos da administra- sistema de razão que as anima, denominado, pela
ção social das populações. As reformas e as políticas maioria dos autores entre nós, neoliberalismo, e por
estão relacionadas com a gestão dos indivíduos e das outros, como Rose (1996), “liberalismo avançado”.
agências encarregadas de educar esses indivíduos. Ambos os termos pretendem uma diferenciação
Para isso, estabelecem uma série de regulamenta- seja do liberalismo clássico do século XIX, seja do
ções, mobilizam discursos e tecnologias (como o liberalismo do Estado de bem-estar, e nomeiam as
currículo, a didática, modalidades de organização e profundas transformações políticas e econômicas que
gestão escolar etc.), tornando a alma e as capacidades têm pautado a gestão do Estado e das populações em
humanas objetos de disputa e governo. tempos de globalização.

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Globalização e governamentalidade neoliberal para um capitalismo cuja produção de valor se dá na


esfera da circulação e no cálculo do risco. O resulta-
O sentimento de estar no centro de largas e pro- do é o enfraquecimento dos movimentos sindicais e
fundas transformações em curso, tanto do ponto de das lutas trabalhistas, em meio a uma conjuntura de
vista econômico, social e político, como cultural e ajustes estruturais e altas taxas de desemprego nos
educacional, é o sentimento de nossa era e aspecto rei- países em desenvolvimento. Juntamente com os flu-
terado insistentemente pelos discursos que justificam xos de derivativos, a revolução tecnológica permitiu
as reformas e as ações dos economistas de plantão nas a compressão do tempo e do espaço na circulação de
burocracias dos aparatos oficiais de governo nacionais ideias, de culturas e modos de vida.
e não nacionais. É ao redor desse mundo “glocalizado”, como
A globalização não é um fenômeno novo. Uma caracteriza Bauman (1999), de efeitos ambivalentes
periodização de longo termo, diz McKeown (2007, entre o global e o local, que os discursos da globali-
p. 220), protege-nos dos profetas da novidade e coloca- zação e as políticas neoliberais viajam, promovidas
nos diante do fato de que os fluxos globais remontam por organismos supranacionais, encarregados da
pelo menos ao início do século XIX, e estiveram his- integração econômica mundial, ajuda e cooperação
toricamente implicados na produção e reconstituição internacional – Fundo Monetário Internacional (FMI),
de fronteiras e em movimentos de homogeneização e Organização para Cooperação e Desenvolvimento
hibridização. As interações globais desde essa época Econômico (OCDE), Organização das Nações Unidas
cresceram lado a lado com a emergência de nações, para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
da racialização, das etnicidades, burocracias, fun- e Banco Mundial. São discursos que nem sempre
damentalismos, tradições reificadas, autenticidades, convergem, mas que têm em comum a promessa de
discursos de civilização e barbarismos, os Terceiros inclusão, progresso e desenvolvimento, riqueza, demo-
Mundos e as áreas de estudo que modelam muito do cracia, igualdade e qualidade de vida para todos que
conhecimento global contemporâneo. se inserirem no mercado e na cultura globais.
A “novidade” e o “esquecimento” que têm acom- Um marco dessa atuação no campo político e
panhado os discursos da globalização e da reforma são econômico é o “Consenso de Washington”, que, em
estratégias discursivas que investem no apagamento 1989, estabelece um conjunto de medidas econômicas
do passado e no desenho do futuro, contribuindo para de cunho neoliberal que passam a ser recomendadas
a fabricação de um novo senso comum que consi- pelo FMI para a aceleração do desenvolvimento eco-
dera o rumo do capitalismo e da história como algo nômico nos países da América Latina. Entre essas
inevitável e inexorável. As promessas e as falhas da medidas: disciplina fiscal, redução de gastos públicos,
modernização e da educação modernas são esquecidas, privatizações das estatais, desregulamentação com o
bem como as desiguais consequências que os fluxos “afrouxamento” das leis econômicas e trabalhistas,
globais têm tomado, evidenciando a capacidade de abertura comercial e eliminação de restrições para os
autorrenovação que a Modernidade e o capitalismo investimentos externos diretos.
têm tido nos últimos séculos. No Brasil, desde o início da década de 1990,
A globalização contemporânea, cujas mudanças em que pesem as diferenças ideológicas, sucessivos
específicas em alguns países da Europa e nos EUA governos avançaram na direção dessa agenda, com
são mais visíveis nos anos pós 1970, diferencia-se por reformas que convergiram para a reforma estrutu-
mudanças nos padrões de acumulação capitalista, nos ral do Estado brasileiro. Em janeiro de 1995, Luiz
fluxos emigratórios e na intensificação das desigual- Carlos Bresser Pereira, ministro da Administração
dades sociais e globais. Passou-se de um capitalismo Federal e da Reforma do Estado (MARE), do go-
cuja produção de valor se dava na esfera da produção verno de Fernando Henrique Cardoso, avaliava nos

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seminários realizados com os partidos políticos sobre trabalho de Foucault, coloca essas problemáticas em
reforma constitucional, promovidos pelo gabinete da termos que me ajudam a caracterizar a racionalidade
Presidência da República, em Brasília, que, desde a política neoliberal, ou o novo gerencialismo, que está
restauração da democracia em 1985 e sua consolidação na base das reformas do Estado e dos princípios mais
com a Constituição de 1988, o Brasil não enfrentava gerais que pautam as reformas educacionais na con-
a causa fundamental das sucessivas crises econômi- temporaneidade. Essas reformas são ao mesmo tempo
cas que a partir de 1979, com o segundo choque do efeitos dos novos arranjos políticos e econômicos
petróleo, assolavam o país. Dizia ele: “Crise que se surgidos no pós-guerra e condições de possibilidade
define pela crise fiscal do Estado, pela crise do modo da articulação, funcionamento e expansão desses
da intervenção na economia e do social, e pela crise mesmos arranjos.
do aparelho do Estado” (Pereira, 1995, p.2). Como racionalidade política, as governamen-
Três anos depois dessa fala do ministro, era talidades devem ser analisadas como práticas, como
encaminhada ao Congresso a emenda constitucional conjunto de tecnologias de governo, “maquinaria” ou
n. 19 que alterou dispositivos da Constituição de 1988 “aparato intelectual” para tornar pensável a realidade,
referentes aos servidores e à administração pública “de tal modo que ela se ajuste ao programa político”.
e possibilitou a reforma do Estado nas bases de um E continua Rose (1996):
novo gerencialismo, implicando outras estratégias de
governo e controle aliadas à intensificação de uma A despeito de toda mesquinhez e corrupção da ativida-
economia de regulação moral dos indivíduos (Peters; de política, as racionalidades políticas possuem uma forma
Marshall & Fitzsimons, 2004). Novos imaginários moral, na medida em que afetam questões como a adequada
sociais e nacionais foram criados como condições de distribuição de tarefas entre as diferentes autoridades e os
possibilidade para a inscrição nos indivíduos de outras ideais ou princípios a que o governo deve dedicar-se. Além
consciências, disposições e capacidades. disso, as racionalidades políticas têm um caráter epistemo-
lógico, visto que incorporam concepções particulares dos
Governamentalidade neoliberal e tecnologias objetos a serem governados – nação, população, economia,
políticas de governo sociedade, comunidade – e dos sujeitos a serem governa-
dos – cidadãos, sujeitos, indivíduos. E desenvolvem um
O termo “governo” remete a uma racionalidade certo estilo de raciocínio: linguagem aqui compreendida
política que centra sua atenção na “conduta da condu- como um conjunto de “técnicas intelectuais” para tornar a
ta” ou, em outros termos, na previsão de um campo de realidade pensável e praticável, e constituir domínios que se
possibilidades para a ação dos outros (Foucault, 1990), ajustem – ou não se ajustem – à intervenção reformadora.
e para a ação do sujeito sobre si próprio. O Estado (idem, p. 42)
na Modernidade tornou-se um Estado de “governo”,
processo histórico que Foucault (1990) chamou de a O termo “racionalidade” está relacionado a uma
governamentalização do Estado moderno. Ou seja, a certa inteligibilidade, ou à introdução de uma ordem
introdução da arte do governo (entendido como a arte na disposição das coisas e dos objetos a governar, a
de bem dispor as “coisas” a fim de alcançar riqueza fim de alcançar resultados e eficiência com custos
e progresso) ao nível do Estado, atando, no dizer de mínimos ou previsíveis. As racionalidades políticas
Popkewitz (1997, p. 38), “o poder que circula através estabelecem laços entre razão, poder político e estru-
da macroestrutura do Estado ao poder que circula na tura de Estado, considerando que hoje é necessário
microestrutura do indivíduo”. lidar com uma noção de Estado “ampliado”, na qual
Rose (1996), comentando o sentido político que a clássica distinção entre sociedade civil e Estado é
os termos “governo” e “governamentalidade” têm no problemática. As racionalidades políticas modernas

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Políticas educacionais contemporâneas

são formas de poder político referidas ao “Estado” e Todos, realizada em Jomtiem, na Tailândia, em 1990,
implicam tecnologias de poder individualizador, que e, posteriormente, os firmados pelos participantes no
passam por regimes de verdade e conhecimento. Fórum Mundial de Educação, realizado em Dakar,
A implantação de programas de governo depende dez anos depois, são parâmetros para a orientação das
“da complexa agregação de diversas forças (legal, reformas educacionais no Brasil. Não foi uma “feliz
arquitetural, profissional, administrativa, financeira, coincidência”, como assinalam Efrem Maranhão,
judiciária), técnicas (notação, computação, cálculo, Sérgio Haddad e Jorge Werthein na apresentação do
exame, avaliação), instrumentos (levantamentos e grá- documento “Educação para todos: o compromisso
ficos, sistemas de treinamento, formas de construção)” de Dakar”, quando do seu lançamento no Brasil, em
(idem, ibidem), com o objetivo de ordenar decisões e 2001, que a discussão do “Marco de Ação de Dakar”
ações de indivíduos, grupos, organizações, em relação no país coincidiu com a aprovação do Plano Nacional
a critérios oficiais. Podem ser programas exógenos, de Educação (PNE). Também o Plano de Desenvol-
elaborados fora das fronteiras do Estado-Nação, ou vimento Educacional (PDE), lançado pelo ministro
no interior dessas, quando os definimos como elabo- Sérgio Haddad em 2007, é uma expressão desses
rados no interior da Nação. De qualquer modo, esses compromissos e metas.
programas dependem da translação (movimento de “O neoliberalismo não renuncia à vontade de
um lado para o outro) de pensamento e ação, de uma governar” (Rose, 1996). Simplesmente inventa, ou
“central de cálculo” para diferentes sítios dispersos reestrutura, novas estratégias, que vão no sentido da
em um território que guardam sua autonomia formal. “desgovernamentalização do Estado” e da “desesta-
Por isso mesmo, esses programas necessitam ser reas- tização das práticas de governo”, utilizando como
sentados a cada vez. É o alinhamento desses diversos estratégias a marketização e o empresariamento
pontos da rede que permite uma ação calculada sobre dos serviços sociais, a descentralização, a plurali-
a conduta através do espaço e do tempo, possibilitando zação, a autonomização e a autogestão induzidas
um “governo à distância” (Rose, 1996). pelo Estado, dentro de um mercado governado pela
Por exemplo, no campo educacional, organismos competição, pela responsabilidade e demanda do
como a UNESCO, desde as duas últimas décadas do consumidor.
século XX, têm tido uma importância capital na pro- Nas palavras de Peters, Marshall e Fitzsimons
moção de reformas e metas educacionais para os países (2004), o novo gerencialismo, como tecnologia po-
em desenvolvimento, contando com representações lítica de governo para a organização institucional no
regionais – no nosso caso a Oficina Regional de Edu- campo educacional, aposta na descentralização do
cação para a América Latina e o Caribe (OREALC) – e controle da gestão para a instituição individual, por
escritórios locais, para desenvolver, instrumentalizar meio do estabelecimento de novas formas de finan-
e avaliar os programas em curso nos países da re- ciamento e responsabilização.
gião. Nessa direção, esses organismos mobilizam um Há uma aparente “devolução” dos poderes re-
conjunto de experts, centros estatísticos, bancos de guladores do Estado para “baixo”, no caso, para as
dados, seminários mundiais e regionais, documentos, instituições educacionais e seus agentes, ou para as
programas de metas regionais, revistas etc., que, de instâncias intermediárias do sistema, no sentido de
modo refletido, fazem uma representação da realidade responsabilização pela gestão dos recursos e currículos
educacional desses países e o alinhamento de diretrizes e do estímulo ao planejamento, ainda que as metas e
e metas que efetivamente vêm direcionando as políti- diretrizes mais gerais sejam estabelecidas nos “centros
cas educacionais de cada país, entre eles o Brasil. de cálculo” e pelos seus documentos oficiais, sejam
Os compromissos e as metas assumidos pelos esses centros os gabinetes do Ministério da Educação,
governos na Conferência Mundial de Educação para ou a UNESCO, a OREALC, a OCDE etc.

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Como sugere Rose (1996), o problema agora é nomeiam esse fluxo de ideias e políticas ao redor do
colocado em termos da “moldagem de vontades de en- globo e sua apropriação em contextos nacionais. O
tidades autônomas”, sejam empresas, escolas, organi- caso de J. Dewey é paradigmático desse movimento.
zações, comunidades, profissionais, indivíduos, dentro Suas ideias, no início do século XX, atravessaram
de uma lógica de competição, qualidade e demanda fronteiras e extrapolaram o seu contexto de emergência
dos “clientes”. Atividades e responsabilidades que nos Estados Unidos, sendo incorporadas por discursos
estavam anteriormente dentro do aparelho político do e políticas em lugares tão diferentes no mundo, para
Estado são reconfiguradas como responsabilidades de divulgar as virtudes da ciência e da agência humana
uma variedade de organizações não governamentais, no controle do mundo natural e no progresso da socie-
voluntários, fundações, empresas, por meio de parce- dade. Um discurso estrangeiro que se tornou indígena,
rias, colaborações, “amigos”, privatizações, terceiriza- quer dizer, aliou-se a outros e fez amálgamas e híbridos
ção etc. Contratos, metas, indicadores (como o Índice suficientemente diferentes conforme as realidades
de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB) e locais, lançando as bases sobre as quais foram edifi-
os bancos de dados que resultam dos exames nacio- cadas as reformas da escolarização e a modernização
nais, por exemplo), currículos prescritos, políticas de de países tão diferentes como o Brasil, a Colômbia, a
avaliação e auditoria garantem o governo à distância Bélgica, Portugal, Suécia, a Turquia, a China, o Japão,
e a responsabilização individualizada dentro de metas o México etc. (Popkewitz, 2005).
e estratégias definidas centralmente. Também conceitos como “recontextualização”,
Desde essa perspectiva, emerge o regime do eu, “ressignificação”, “hibridização” dão nome a proces-
que tem na autonomia, no autoempreendedorismo, sos em que estão em jogo as relações entre o global e
na autorresponsabilização e na performatividade o local, o geral e o particular, o texto e o contexto, na
características fundamentais. A descentralização e a construção das políticas educacionais e curriculares.
parceria, como tecnologias políticas de gestão ins- Mesmo considerando as diferenças entre os
titucional, impõem novas categorias e novos termos contextos nacionais na apropriação das tendências
para pensar o mundo, a sociedade, os indivíduos, res- “exógenas” das políticas de reforma ou os hibridis-
significando termos como qualidade, sucesso escolar, mos que resultam desses confrontos e negociações,
autonomia, cidadania, público, gestão democrática, uma questão impõe a unidade na diferença: o au-
participação. mento da “colonização das políticas educativas pelos
imperativos das políticas econômicas”, a revolução
As reformas educacionais no Brasil: tecnológica, e a obsessão com a performatividade dos
imaginários sociais e regimes éticos sistemas (Ball, 2001, p. 100). A presença constante
nos textos oficiais de termos como “sociedade do co-
Os fluxos de capitais e mercadorias ao redor do nhecimento”, aprendizagem para a vida toda (lifelong
mundo têm sido acompanhados de fluxos globais de learner), educação para a competitividade são indícios
ideias e culturas, que incorporam modos de vida e do enfraquecimento de uma ética da esfera pública no
determinadas formas de ser e existir. Esperanças e campo educacional.
medos são parte desses mesmos fluxos, funcionando Se tomarmos, por exemplo, o documento “Edu-
ora como perigos a serem evitados e combatidos, ora cação para todos: o compromisso de Dakar”, do qual
como promessas e seduções que estimulam modos o Brasil foi um dos signatários em 2001, observa-se
particulares de pensamento e vida. uma retórica de caráter salvacionista que coloca a
Termos como traveling libraries (livrarias que educação, a equidade e a elevação da qualidade da
viajam), traveling policies (políticas que viajam) ou aprendizagem, como a condição do desenvolvimento,
ainda indigenous foreigner (estrangeiro indígena) da redução da pobreza, da empregabilidade, da in-

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serção na sociedade do conhecimento e na economia a comunidade de gênero, étnica, racial, o entorno da


global, da paz e da estabilidade, de melhor qualidade escola e da cidade etc.), acentuando responsabilidades
de vida. O analfabetismo, os diferenciais na distri- locais e autogestão dos indivíduos. Cada um deve estar
buição da riqueza, as desigualdades, especialmente preparado para “melhorar suas vidas e transformar sua
de gênero, a marginalidade, a AIDS, os conflitos e as sociedade”, e a educação deve oferecer a jovens e adul-
guerras, são as ansiedades, os perigos e as ameaças a tos “o acesso às técnicas e conhecimentos necessários
serem confrontados e resgatados pela educação e pela para encontrar emprego remunerado e participar da
inserção na economia global e na sociedade tecnológi- sociedade” (World..., 2001, p. 8-9).
ca (World..., 2001). Ainda no século XXI, permanece Em contrapartida, se tomarmos um documento
o ideal da educação moderna nas virtudes da ciência curricular direcionado à educação brasileira, como são
e do conhecimento humano. os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), vamos
As noções de cidadania presentes nesse documen- encontrar uma cidadania de matizes psicológicos e
to, marcado pelo seu caráter global, pouco se referem a atenta a demandas mais locais, ainda que permaneçam
termos como coesão e solidariedade social construídas alguns dos traços comentados anteriormente para o
nas fronteiras do Estado-Nação, interdependência dos documento do Fórum de Dakar.
indivíduos, solidariedades assentadas em uma lin- A cidadania, conforme é definida no primeiro
guagem ou cultura comum. Tampouco a identidade é volume que introduz os Parâmetros, alia a consciência
construída pela exaltação e o estímulo a uma memória crítica e a agência ao desenvolvimento de habilidades
histórica e a um conjunto de símbolos partilhados aos que “possibilitem adaptações às complexas condi-
quais se deve lealdade, como já foi característico dos ções e alternativas de trabalho que temos hoje e a
discursos educacionais oficiais de outros tempos. O lidar com rapidez na produção e circulação de novos
bem comum, a construção da identidade nacional, o conhecimentos e informações [...]” (Brasil, MEC,
compromisso com projetos sociais coletivos como a 2001, p. 47).
Nação e a classe social, a preocupação com a ordem Os padrões de uma identidade coletiva passam
e a segurança territorial e ideológica são aspectos pela construção de uma identidade pessoal e cognitiva
pouco enfatizados na ordem do discurso das políticas definida em termos preponderantemente psicológicos:
educacionais de nossos tempos. “aprender a aprender”, para desenvolver “competên-
As reformas educacionais ao redor do globo, cias” necessárias à provisoriedade de um mundo em
sugere Popkewitz (2004), incorporam noções de cida- constante transformação. Aprender a aprender, para
dania baseada em subjetividades “cosmopolitas”, sem desenvolver a autonomia. Atender e considerar as
pátria e sentimentos nacionalistas. As identidades são necessidades das comunidades próximas, “as expec-
definidas preponderantemente em termos de traços e tativas e as necessidades dos alunos, dos pais, dos
disposições de ordem cultural: tolerância, atenção e membros da comunidade, dos professores, enfim,
diálogo com os diferentes, aceitação das diversidades dos envolvidos diretamente no processo educativo”
de gênero, étnicas, sexuais e dos grupos com neces- (idem, p. 46-47), a fim de possibilitar a aprendizagem
sidades especiais. A cidadania é definida em termos e o diálogo significativo da cultura local com a cultura
de habilidades necessárias a uma economia global e a escolar.
uma sociedade do conhecimento, que se fundamenta A autonomia é o princípio fundamental que os
na produção flexível, no uso da tecnologia, e sujeita PCNs definem em termos de “iniciativa”, “automoti-
a contratempos como o desemprego e a instabilidade vação”, “autoempreendimento”, “autoenvolvimento
do mercado de trabalho. São novas formas de comu- e empenho pessoal”. Inclui ainda “governar-se”,
nitarismos e solidariedades que emergem em torno “segurança” (qualidade psicológica), “autonomia
de e entre microcomunidades (a comunidade escolar, intelectual” e moral (respeito mútuo e integração

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comunitária), discernimento, capacidade de “resolver tir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e


problemas”, “cuidado de si”, “respeito a regras estabe- a marginalização”, “promover o bem de todos” etc.
lecidas” e respeito à diversidade. As condutas abjetas (Brasil, MEC, s.d., p. 5-6).
são definidas em termos de: ansiedade diante dos de- São assim discursos híbridos e contraditórios
safios, medo do fracasso, sentimento de incapacidade, quando comparamos seus enunciados e as tecno-
insegurança, isolamento e incapacidade de cooperar, logias políticas de governo que vêm sendo imple-
bloqueio para aprender, autoconceito negativo que mentadas: híbridos nas proposições da organização
desencadeia indisciplina e comportamentos “proble- curricular e didática (construtivismo, pedagogia das
máticos” (idem, p. 97-99). O pânico acerca da “baixa competências, disciplinas, temas transversais etc.),
autoestima” e dos constantes fracassos dos aprendizes, como muitos já apontaram (Lopes, 2005; Popkewitz,
que têm como consequência a ausência de autonomia 2004; Ball, 2001); e híbridos também do ponto de
dos indivíduos e de capacidade de iniciativa, merece vista dos imaginários nacionais e regimes éticos que
um capítulo à parte no contexto dos Parâmetros. propõem.
Os discursos das reformas e das políticas edu- Isso se explica, em parte, pelo fato de que países
cacionais no Brasil aliam enunciados relacionados como o Brasil apresentam grandes contrastes e desi-
com uma racionalidade eminentemente instrumental, gualdades sociais e regionais, em que o tradicional
que está no coração da tradição cultural e científica e o moderno se superpõem e convivem lado a lado,
norte-americana, ou mesmo com os totalitarismos da não sem conflitos e negociações constantes. Muitas
performatividade denunciados por Ball (2001), a preo- promessas da modernidade estão ainda longe de
cupações que produzem no imaginário a associação da serem cumpridas amplamente, como, por exemplo, a
educação e das reformas com a solução de questões universalização da escola elementar. Demandas locais
relacionadas à conquista de igualdade e justiça social. e a pressão dos movimentos sociais – aqui ainda mais
É um tanto precipitado concluirmos que os discursos vivos que no norte do globo – disputam espaço e re-
das reformas contemporâneas no Brasil estão postos presentação na arena econômica, política e cultural,
estritamente em termos economicistas e isentos de com as demandas, nem sempre conciliáveis, relativas à
preocupações de ordem social. inserção do Brasil em uma economia interdependente
No Brasil, e mesmo nos documentos “exógenos” e altamente competitiva.
dirigidos aos países em desenvolvimento, o discurso No Brasil, as racionalidades neoliberais na esfera
educacional, por vezes, escapa a identidades definidas educacional são objeto de intensas contestações, tendo
estritamente em termos “cosmopolitas” e econômicos. os governos que recuar diante das dificuldades e dos
Nessas ocasiões, emergem formas de solidariedade embates que as medidas oficiais na maioria das vezes
que apostam em coletividades mais amplas, como a suscitam, seja pelo ativismo de esquerda da comunida-
Nação, e no combate da exclusão de amplos setores de científica e dos sindicatos de professores, e/ou pelas
marginalizados das virtudes da globalização. dificuldades que essas políticas enfrentam no momento
Há um investimento em formas de subjetividade de serem recontextualizadas nas instituições educacio-
que privilegiam uma agência com consciência crítica nais. No entanto, os mecanismos de regulação e gestão
e sensibilidade diante de questões nacionais como a e os regimes éticos aqui descritos têm avançado pelas
“promoção do desenvolvimento sustentável” do país reformas e governos das últimas décadas.
e a “superação das desigualdades sociais” (Brasil, Como outros já disseram (Ball, 2001), governos
Conselho Nacional de Educação, 2001). Falam sobre de diferentes posições do espectro ideológico e polí-
a vontade da política nacional de se “harmonizar com tico têm atualmente muito pouca diferença em suas
os objetivos fundamentais da própria república”, como políticas econômicas, sociais e culturais. A cultura da
construir uma sociedade livre, justa e solidária; garan- performatividade seduz uns e outros, homogeneizan-

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Políticas educacionais contemporâneas

do, na maior parte das vezes, a linguagem da reforma agentes num campo de hierarquias e visibilidades,
ao redor do globo. objetos de ações e programas gestados no MEC para
As políticas impulsionadas pela UNESCO e pelo a elevação dos índices de seu desempenho.
Banco Mundial nos anos de 1980, em que pesem as Os exames nacionais instituem uma política do
diferenças de orientação entre esses organismos, tive- conhecimento que tende a expulsar dos currículos
ram por foco a expansão do número de matrículas na escolares conteúdos e conhecimentos mais locais, cuja
educação fundamental, em meio a uma crise mundial significação está diretamente relacionada às experiên-
e desinvestimentos no campo social. Nos anos da cias culturais e modos de vida de comunidades locais
década de 1990, o foco foi a reforma da escola e do e regionais. Ao mesmo tempo, legitimam a ideia de
sistema em bases gerenciais e o controle da qualidade conhecimentos universalmente válidos e de uma cul-
da aprendizagem por meio da medição e elevação do tura comum que privilegia o letramento, a matemática
desempenho escolar, controle instituído pelo monito- e “habilidades essenciais à vida” (World..., 2001, p. 9).
ramento dos desempenhos das instituições escolares Nessa fórmula estão conteúdos e habilidades relacio-
e dos alunos, tendo como base políticas de exames nados a uma sociedade pós-industrial, baseada em uma
nacionais e índices como o IDEB. Atualmente essas razão tecnocrática, no individualismo, no consumismo
políticas fazem já parte da rotina das escolas em todos e em uma ética hedonista.
os níveis de ensino. As tecnologias políticas das atuais reformas na
A qualidade da educação resumiu-se ao rendi- fabricação de regimes éticos baseados na autonomia,
mento escolar, ou à performatividade, estimulando na automotivação e no autoempreendedorismo são a
ansiedades e a competição entre as escolas e os pro- descentralização da gestão financeira e administrativa,
fessores. Além disso, as políticas de avaliação nacional a (auto)responsabilização e a corresponsabilização.
vêm intensificando o controle sobre o trabalho escolar Responsabilização que implica a desresponsabilização
e docente, desencadeando uma série de expedientes crescente do aparelho de Estado com o aporte dos
e casuísmos para atingir as médias de desempenho recursos e condições para a melhoria da qualidade do
necessárias: o treinamento dos alunos para os exames, trabalho educacional. Essas tecnologias parecem fun-
as classes de “aceleração”, ou simplesmente a exclusão cionar de modo pleno e eficiente no caso das políticas
de alunos das classes populares, cujos desempenhos de avaliação nacional, porque elas unem as possibili-
possam comprometer a imagem e os índices de de- dades dadas por uma visibilidade individualizadora e
sempenho da escola. Freitas (2007) caracteriza os as “sanções” e ações necessárias à normalização dos
efeitos de poder dessas políticas como “a ocultação seus desempenhos e à conduta de seus agentes. O
da má qualidade de ensino” e a “exclusão adiada” próprio PDE reconhece que as políticas de avaliação
das classes populares, pela assepsia dos números e a nacional são a “base da regulação” (Brasil, MEC,
sedução das estatísticas. Ou seja, essas políticas, que s.d., p. 30-31).
pretensamente visam a elevar a qualidade da apren- Carnoy (2004), em artigo publicado pela revista
dizagem, estimulando a competição e uma lógica Prelac, fórum de debate e divulgação das políticas
produtivista, contribuem para a instituição de novas de reforma educacional na América Latina e Caribe,
formas de exclusão (a partir do interior das institui- publicada pela OREALC, avalia que os investimen-
ções) que naturalizam não só a lógica empresarial e tos das políticas de reforma na descentralização do
economicista na escola, como atribuem aos próprios financiamento e da gestão escolar, na privatização e
indivíduos e instituições escolares a responsabilidade nas mudanças curriculares, adotadas pela região nos
pelos fracassos ou pelos sucessos, vistos como (falta últimos vinte anos (décadas de 1980-1990), não apre-
de) empenhos e esforços individuais. Os exames na- sentaram evidências de que tenham dado resultados
cionais colocam as instituições educacionais e seus em termos da melhoria do acesso e da aprendizagem

Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 45  set./dez. 2010 453


Maria Manuela Alves Garcia

para a grande maioria dos jovens da América Latina. FOUCAULT, M. A governamentalidade. In: ________. Mícrofísica
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capital econômico e cultural diferentes. FREITAS, L. C. de. Eliminação adiada: o ocaso das classes popula-
Nesses termos, pode-se pensar que os discursos res no interior da escola e a ocultação da (má) qualidade do ensino.
da reforma e da qualidade da educação tenham sido Educação & Sociedade, Campinas, vol. 28, n. 100 – Especial,
tomados de empréstimo para justificar o avanço das p. 965-987, out. 2007.
práticas de governo neoliberais e dos imaginários so- GARCIA, Maria Manuela Alves. Texto e contexto: a reforma em
ciais e formas de subjetividade que as acompanham. cursos de Licenciatura na Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Quero dizer, são vinte anos de investimentos em políti- In: REUNIÃO ANUAL DA ANPEd, 31., 2008, Caxambú-MG.
cas, cujas “lições” mais significativas em nossos países Anais... Caxambú-MG: Rio de Janeiro: ANPEd, 2008. Constituição
parecem ter sido a reestruturação de nossas formas de Brasileira, Direitos Humanos e Educação, v. 1. p. 1-16.
pensamento sobre o social e das formas de governo e GARCIA, Maria Manuela Alves; ANADON, Simone Barreto.
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compromisso de Dakar. 2. ed. Brasília: UNESCO;CONSED;Ação Curriculares e das Reformas Educacionais em suas relações com os
Educativa, 2001. processos de trabalho docente e a formação de professores.
Nos últimos anos publicou, entre outros: Hypolito, A. M. ;
MARIA MANUELA ALVES GARCIA possui graduação Vieira, J. S.; Garcia, M.M.A. (Orgs.). Trabalho docente: formação
em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal de e identidades (Pelotas, Seiva, 2002); Garcia, M.M.A.; Hypolito, A.
Pelotas (1986), Mestrado em Educação pela Universidade Federal de M.; Vieira, J.S. As identidades docentes como fabricação da docên-
Minas Gerais (1994) e Doutorado em Educação pela Universidade cia (Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 1, p. 45-56, jan./abr.
Federal do Rio Grande do Sul (2000). Realizou estágio de pós- 2005); Garcia, Maria Manuela Alves. Didática e trabalho ético na
doutorado de outubro de 2006 a dezembro de 2007 na University formação docente (Cadernos de Pesquisa, v. 39, n. 136, p. 225-242,
of Wisconsin (UW), Madison (WI), E.U. A. , junto ao “Curriculum jan./abr. 2009). E-mail: garciamariamanuela@gmail.com
& Instruction Department”, no grupo de pesquisa do Prof. Thomas
Popkewitz. É professora da Faculdade de Educação, Universidade Recebido em fevereiro de 2009
Federal de Pelotas, atuando no Programa de Pós-Graduação em Aprovado em abril de 2010

Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 45  set./dez. 2010 455


Resumos/Abstracts/Resumens

ser compreendidos, portanto, como de la observación, en términos


resultantes de uma multiplicidade de heurísticos y críticos. Esboza un
determinações, projetos, obrigações, modelo analítico que nos lleva a
estratégias e táticas individuais e pensar que es en todos los niveles,
coletivas. desde el más local hasta el más
Palavras-chave: teorias da história; global, que los procesos socios
micro-história; globalização históricos son grabados. Sólo pueden
ser comprendidos, por lo tanto, como
Micro history, macro history: what
resultados de una multiplicidad
the variations in scale help to think
de determinaciones, proyectos,
in a globalized world
obligaciones, estrategias y tácticas
Nowadays, social scientists oppose
individuales y colectivas.
micro and macro analysis in terms
Palabras clave: teorías de la historia;
of topics, challenges and research
micro historia; globalización
strategies. In past decades, historians
also debated and compared the
advantages of micro history, with Maria Manuela Alves Garcia
different versions of the history of the Políticas educacionais
macro, transnational or global. This contemporâneas: tecnologias,
essay suggests, as an alternative, imaginários e regimes éticos
paying attention to the importance of
Inspirado em um conjunto de estudos
the variation principle in the scales of
que problematizam o caráter global
observation, in critical and heuristic
das reformas educacionais desde
terms. It sketches an analytic model
os anos de 1990 e nos estudos
that leads one to think that it is on
de Michel Foucault acerca do
every level, from the most local to
discurso e da governamentalidade,
the most global, that socio-historical
o artigo examina a racionalidade
processes are preserved. Therefore,
que tem pautado as atuais reformas
they can only be understood as the
educacionais, destacando suas
result of a multiplicity of individual
principais tecnologias de governo
and collective determinations,
e relações com a produção de
projects, obligations, strategies and
imaginários sociais e regimes éticos
tactics.
dos indivíduos. A título de ilustração,
Key words: theories of history; micro
apresenta enunciados dispersos em
history; globalization.
documentos oficiais produzidos no
Micro historia, macro historia: lo Brasil ou que apontam, de modo
que las variaciones de escala ayudan exógeno, para as formas de identidade
a pensar en un mundo globalizado e atuação desejadas para o sujeito
Los científicos sociales actualmente econômico, político e educacional.
oponen el micro y el macro análisis Argumenta que os imaginários e os
en términos de tópicos, desafíos y regimes do eu promovidos pelos
estrategias de datos. En las décadas discursos educacionais oficiais,
pasadas, historiadores también no Brasil, têm um caráter híbrido,
discutieron y compararon las ventajas aliando preocupações economicistas
de la micro historia con diferentes e “cosmopolitas” a demandas locais,
versiones de la historia del macro, la marcadas pela necessidade de
transnacional o la global. Este ensayo justiça e igualdade social. Conclui
sugiere como alternativa colocar la que o discurso das reformas e de
atención sobre la importancia del promoção da qualidade da educação
principio de variación de las escalas vem sendo tomado de empréstimo

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Resumos/Abstracts/Resumens

para justificar o movimento de Políticas de la educación políticas de avaliação à avaliação


reorganização do Estado brasileiro em contemporáneas: tecnologías, como política
bases gerencialistas, não modificando imaginarios y regímenes éticos Nas duas últimas décadas, os
substancialmente as condições de Inspirado en un conjunto de dispositivos e instrumentos de
desigualdade educacional entre jovens estudios que torna problemático avaliação adquiriram uma importância
oriundos de diferentes classes sociais. el carácter global de las reformas crescente no campo da administração
Palavras-chave: reformas e de la educación desde los años em educação. Não podendo ser
educacionais; políticas educacionais; de 1990 y los estudios de Michel dissociados do processo de erosão
imaginários sociais; regimes éticos Foucault a respecto del discurso y del do Estado educador, os actuais
carácter gubernamental, el artículo dispositivos de avaliação não se
Contemporary educational policies:
examina la racionalidad que ha insinuam, apenas, como dispositivos
technologies, imaginaries and
relacionado las actuales reformas mais eficazes de regulação dado
ethical regimes
de la educación, destacando sus serem sustentados num conhecimento
Based on a set of studies that question
principales tecnologías de gobierno mais detalhado do campo. Neste
the global character of educational
y relaciones con la producción de artigo admite-se que a avaliação
reforms since the 1990’s, and on
imaginarios sociales y regímenes produz o campo que avalia e se
Michel Foucault’s studies on discourse
éticos de los individuos Como título propõe uma análise das principais
and on governmentality, the article
de ilustración, presenta enunciados tendências de constituição do
examines the rationality that has
dispersos en documentos oficiales campo, situadas nos níveis político,
ruled the present educational reforms, cognitivo e institucional. Na esfera
producidos en Brasil o que apuntan,
emphasising their main technologies política, comenta-se o processo de
de modo exógeno, para las reformas
of government and their relations with desqualificação do debate político
de identidad y actuación deseadas
the production of social imaginaries contextualizado e da afirmação
para el sujeto económico, político
and ethical regimes of individuals. sem precedentes de uma definição
y de la educación. Argumenta que
It introduces, by way of illustration, contabilística de educação, na qual
los imaginarios y los regímenes del
enunciations scattered in official se enfatiza sobretudo o trabalho de
yo promovidos por los discursos
documents produced in Brazil or descontextualização e a reflexão sobre a
oficiales de la educación, en Brasil,
which, in an exogenous way, point eficácia dos meios. No plano cognitivo,
tienen un carácter híbrido, aliando
to the desired forms of identity and são debatidos os conhecimentos e
preocupaciones economicistas y
performance for the economic, desconhecimentos produzidos pela
“cosmopolitas” a demandas locales,
political and educational individual. avaliação, para realçar o trabalho de
marcadas por la necesidad de
It argues that the imaginaries and the coisificação dos entes educativos e
justicia e igualdad social. Concluye
regimes of self, promoted by the official das suas relações que, deste modo, são
que el discurso de las reformas y
educational discourse in Brazil, have a desapropriados das suas qualidades
de promoción de la calidad de la
hybrid character, allying economicistic especificamente educativas. No plano
educación, viene siendo tomado
and “cosmopolitan” concerns with institucional, são realçados tanto os
como préstamo para justificar el
local demands characterized by the processos de produção de novas figuras
movimiento de reorganización del
need for justice and social equality. institucionais como os processos de
Estado brasileño en bases gerenciales,
It concludes that the discourse on redistribuição das responsabilidades
no modificando sustancialmente
the reforms and on the promotion sociais pelos fracassos da
las condiciones de desigualdad de
of the quality of education has been escolarização. Conclui-se explicitando
educación entre los jóvenes oriundos
borrowed to justify the movement to de diferentes clases sociales. alguns referenciais susceptíveis
reorganize the Brazilian State on a Palabras clave: reformas y educación; de configurarem um paradigma
managerialistic basis, and does not políticas de la educación; imaginarios alternativo que, não sendo normativo,
modify substantially the conditions of sociales; regímenes éticos se preocupa com a reabilitação
educational inequality among youths dos desconhecimentos produzidos
from different social classes. pelo paradigma da avaliação,
José Alberto Correia
Key words: educational reforms; valorizando sobretudo as mediações
educational policies; social Paradigmas e cognições no campo epistemológicas, institucionais e
imaginaries; ethical regimes da administração educacional: das cognitivas.

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