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º, 671-686 671
1. Introdução
Com a eclosão dos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001,
pela sua gravidade sem precedentes, documentada pelo número de mor-
tos e importância dos alvos atingidos, o terrorismo voltou a inscrever-se
na primeira linha da agenda política de Portugal1, suscitando imediata-
mente uma pergunta ao Governo português: que medidas eficazes, quer
políticas, quer legislativas deverão ser adoptadas para que ele seja evitado?
Através do presente artigo, procuramos analisar, em traços largos, as
medidas legislativas já adoptadas por Portugal no sentido do combate ao
terrorismo, especialmente a resposta da Constituição e da lei penal ao
fenómeno do terrorismo.
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volucionário do Proletariado — Brigadas Revolucionárias — e a LUAR — Liga de
Unidade e Acção Revolucionária.
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CODECO — Comandos Operacionais para a Defesa da Civilização Ocidental, e ELP/
/MDLP — Exército de Libertação de Portugal/Movimento Democrático de Libertação
de Portugal.
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Obtiveram resultados que lhes garantiram representação na Assembleia Constituinte o
PS, com 38% dos votos, o PPD, com 26,4%, o PCP, com 12,5%, o CDS — Centro
Democrático Social —, com 7,6%, o MDP/CDE — Movimento Democrático Portu-
guês/Comissão Democrática Eleitoral — , com 4%, e a UDP, com 0,7%. Estes resulta-
dos levaram o PS a abandonar o IV Governo Provisório, presidido pelo então Brigadei-
ro Vasco Gonçalves e em que estavam também representados o PCP e o PPD.
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A primeira revisão constitucional, firmada pela Lei n.º 1/82, de 30 de Setembro, elimi-
nou as referências ideológicas mais marcantes da Constituição (a começar pela indicação
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Cfr. o artigo 13.º do Código de Processo Penal. A intervenção do tribunal do júri
apenas pode ser requerida para o julgamento de crimes especialmente graves — crimes
contra a paz e a humanidade, crimes contra a segurança do Estado e crimes abstracta-
mente puníveis com pena de prisão superior a oito anos. Sobre a competência do tribu-
nal do júri, cfr. Germano Marques da Silva, Curso de Processo Penal, I, 1996, p. 158 e ss.
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No plano da cooperação internacional, foi edificada uma Ordem Internacional que
contempla uma imposição de sanções aos Estados que apoiem o terrorismo, eficazes e
graduáveis de acordo com a própria gravidade das suas actividades. Nestas circunstâncias,
procede-se à qualificação de actos terroristas como actos de guerra e proclama-se, em
contraposição, a necessidade de guerras preventivas (ou de defesa preventiva
internacional). A qualificação de actos terroristas como actos de guerra permite reagir a
esses actos militarmente. Assim, os Estados que porventura inspiraram, financiaram ou
apoiaram com meios materiais ou humanos os referidos actos, podem ser objecto de
uma resposta militar dos Estados atingidos (ou da Comunidade Internacional). No
entanto, os autores dos actos terroristas — bem como os participantes nesses actos,
trata-se de instigadores ou cúmplices — não podem, naturalmente, invocar a qualidade
de “soldados” para se eximirem à aplicação das regras gerais de direito penal substantivo
e processual. Por seu lado, a figura da defesa preventiva é já conhecida do direito penal,
sendo identificada como uma “causa de justificação supra-legal”. A defesa preventiva é
concebida como uma figura intermédia entre a legítima defesa propriamente dita ( que
pressupõe uma agressão ilícita e actual e admite a defesa, pelo defendente, de bens
jurídicos superiores — cfr. artigos 32.º do Código Penal e 337.º do Código Civil) e o
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direito de necessidade (instituto “solidarista” que pressupõe apenas uma situação de peri-
go e permite ao “necessitado”, limitadamente, sacrificar bens jurídicos alheios sensível ou
manifestamente inferiores — cfr. artigos 34.º do Código Penal e 339.º do Código Civil).
Contudo, em defesa preventiva o critério de ponderação é mais estreito do que na legí-
tima defesa (embora seja mais generoso do que no estado de necessidade): o agente pode
sacrificar bens jurídicos de valor igual ou inferior ao dos que pretender preservar.
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A legítima defesa está consagrada nos artigos 32.º do Código Penal e 337.º do Código
Civil, o direito de necessidade nos artigos 34.º do Código Penal e 339.º do Código
Civil e o consentimento presumido nos artigos 39.º do Código Penal e 340.º, n.º 3, do
Código Civil. Ao abrigo destas normas, era possível a um agente da autoridade entrar
no domicílio de uma pessoa, sem o seu consentimento, durante a noite, ainda antes da
revisão constitucional de 2001, para evitar a prática de um crime, afastar um perigo
para interesses juridicamente protegidos ou até defender um interesse do próprio pro-
prietário ou possuidor do domicílio. Em todos estes casos estaria justificado o facto
típico previsto no artigo 190.º (e 378.º) do Código Penal (podendo aliás duvidar-se da
existência de conduta típica em relação ao crime do artigo 378.º, que exige abuso de
poder às funções dos funcionários).
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Cfr. o artigo 256.º, n.os 1 e 2, do Código de Processo Penal. A primeira norma consagra
o conceito de flagrante delito propriamente dito ao referir o crime “que se está come-
tendo” e o conceito de quase flagrante delito quando se reporta ao crime que se “aca-
bou de cometer”. A segunda norma estabelece a presunção (inilidível) de flagrante
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Assembleia da República (ou, se esta não estiver reunida nem for possível
a sua reunião imediata, da respectiva Comissão Permanente, sendo exigível,
ainda assim, a confirmação pelo Plenário logo que seja possível reuni-lo
— artigo 138.º). O Presidente da República jamais recorreu a este poder,
nunca se tendo verificado, visivelmente, os pressupostos para o efeito
desde a entrada em vigor da Constituição de 197614.
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Neste sentido, se pronuncia, entre outros, o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
de 4 de Maio de 1994. Para uma visão geral sobre a jurisprudência quanto a este ponto,
cfr. Manuel Leal-Henriques e Maunel Simas Santos, Código Penal, 2.º vol., 1996, que
apresentam uma resenha jurisprudencial nos comentários aos artigos 300.º e 301.º.
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