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EDITORIAL
CENTRO HISTÓRICO
Muito dinheiro público rolou nos últimos sete anos para movimentar um notável esquema publicitário
do governo federal sobre as supostas realizações do programa de reforma agrária. Como resultado,
pelo menos até recentemente os brasileiros influenciados pela televisão poderiam acreditar estar em
curso no Brasil um processo revolucionário da estrutura de posse e uso da terra do país. Latifúndio
parecia ser coisa do século XVI. Concentração da propriedade da terra? ''Não passava de fraude
estatística'', justificava o ministro papagaio. Já o presidente FH teve a petulância de anunciar na
Espanha: ''Não temos mais sem-terra, o nosso problema é apenas cuidar para que os três milhões
de trabalhadores assentados se transformem rapidamente em eficientes agricultores
familiares.'' Toda essa ''revolução'' seria graças à generosidade do governo e às forças do
mercado, apoiados pelos sábios conselhos do Banco Mundial, que aplicara os mesmos métodos na
África do Sul, na Guatemala, na Colômbia...Enfim, pelos quatro cantos do mundo se ouviu que o
Brasil experimentava a maior reforma agrária já realizada na face da Terra. Até o Sumo Pontífice foi
visitado algumas vezes para abençoar os responsáveis por essa façanha pacífica, sem
precedentes. Infelizmente, tudo não passava de ficção, que por longos anos tripudiou sobre a
miséria e o abandono a que estão relegados milhões de famílias de trabalhadores rurais deste
país. Agora, há algumas semanas, finalmente a dura realidade veio à tona.
A grande imprensa brasileira resolveu conferir, e acabou confirmando as denúncias das organizações
de trabalhadores e dos próprios funcionários do Incra, mostrando que o tal programa de reforma
agrária não passa de uma fraude política do governo FH.Não vamos reproduzir os dados específicos
da fraude, pois a imprensa já o fez à exaustão. Apenas a título de comprovação cabal da realidade
social dantesca nas áreas rurais, discrepante no todo, do quadro até então pintado pelo governo,
gostaríamos de destacar alguns dados revelados também agora pelo Censo 2000, do IBGE. O censo
mostra que há no meio rural brasileiro 7.460.235 domicílios, dos quais 58,6% apresentam
rendimento mensal de zero até um salário-mínimo, isto é, sobrevivem com renda mensal menor que
US$ 100! E seguramente a maioria deles recebe renda da Previdência Social e não do trabalho
agrícola. Em relação ao analfabetismo, 32,6% dos 28 milhões de crianças da zona rural com idade
acima de 5 anos de idade são ainda analfabetos. Entre as crianças de 5 a 9 anos, a taxa de
analfabetismo é de 65%. Na população rural com 10 anos ou mais de idade, a taxa de analfabetismo
é aproximadamente 27%. Entre 45 e 49 anos, é de 37%; entre 55 e 59 anos, 49%; e, na faixa de
65 a 69 anos, o índice de analfabetos é de 56%. No que se refere às condições de infra-estrutura
básica, o Censo 2000 revela que dos 7,4 milhões de domicílios das áreas rurais apenas 18% têm
água encanada; somente 9,5% dispõem de fossa séptica.
Na questão agrária, os dados revelam que entre o último Censo Agropecuário, de 1985, e o de
1996, desapareceram nada menos do que 920 mil estabelecimentos agrícolas com menos de cem
hectares. Já os dados do Incra são ainda mais reveladores do brutal processo de concentração da
propriedade da terra no Brasil. Entre 1992 e 1998, o cadastro registrou que os imóveis acima de dois
mil hectares eram 19.077 em 1992, passaram a ser 27.556, ou seja, aumentou o número de grandes
fazendeiros, e esses no mesmo período acumularam terras, passando o controle total de 121
milhões de hectares para 178 milhões de hectares.
Ou seja: em apenas sete anos, acumularam-se nada menos do que 57 milhões de novos hectares
nas mãos de apenas 27 mil fazendeiros. O que é muito mais concentrador do que os 11 milhões de
hectares distribuídos pelo Incra entre prováveis 350 mil famílias de sem-terra.A realidade do meio
rural revela que na última década continuou a ocorrer uma forte concentração da propriedade da
terra, e não distribuição, como deveria ser numa reforma agrária. E a pobreza e a desigualdade
social aumentaram ainda mais no campo. Já na televisão, tudo continua colorido...
Neste texto destacaremos o papel que a América Latina desempenhou como fonte de
acumulação originária para o desenvolvimento do capitalismo na Europa e como as
políticas neoliberais adotadas atualmente aprofundam ainda mais a sua situação de
dependência frente aos capitais internacionais.
A indústria açucareira, implantada na América Latina no período colonial, foi uma das
primeiras indústrias globalizadas. Ela sintetizava elementos produtivos e experiências de três
continentes diversos: a tecnologia e meios de produção advindos da Europa, a terra
americana e a mão de obra africana. As mercadorias produzidas na América Latina
destinavam-se aos mercados europeus. Embora não se tratasse de uma indústria
tipicamente capitalista, pois valia-se da mão de obra escrava, já nascia, contudo,
globalizada.O fato de as economias latino-americanas surgirem voltadas à exportação
impediu a constituição de um significativo mercado interno, de uma economia mercantil
manufatureira e do desenvolvimento pleno de relações capitalistas de produção. Quando se
rompeu a estrutura colonial, efetivou-se um capitalismo dependente, que se apoiava no
setor exportador já existente, o qual gravitava em torno dos centros externos
economicamente dominantes. Até aquele momento, a América Latina havia sido fonte de
excedentes que impulsionaram o desenvolvimento das economias centrais e possuía
estruturas econômico-sociais dependentes, dominadas pelas oligarquias nacionais. Após a
abolição da escravatura e das independências políticas, as economias latino-americanas são
integradas às economias metropolitanas sob a forma de um neocolonialismo. Em outras
palavras o desenvolvimento das nações avançadas é a contraface histórica da dependência
das nações subdesenvolvidas, tanto no período colonial quanto neocolonial. Mesmo com a
adoção de políticas desenvolvimentistas pelos países latino-americanos no século XX,
permaneceu, contudo, esta dependência frente aos países de capitalismo avançado, em
particular, dos Estados Unidos no período do pós-guerra. Tal modelo desenvolvimentista,
equivocadamente, compreendia de modo linear a evolução das sociedades capitalistas,
desconsiderando o binômio dependência-desenvolvimento. A crise deste modelo está
associada ao momento histórico de estagnação econômica verificado na América Latina na
década de 60, quando as propostas desenvolvimentistas eram plenamente implementadas.
Em sua contraposição surgem algumas teorias sobre a dependência, apontando estratégias
distintas para o crescimento econômico periférico (1). Algumas propunham revoluções
políticas que pusessem fim às estruturas seculares de dependência que continuam
beneficiando aos países de capitalismo avançado. Outras defendiam a coordenação, pelo
Estado, da solidariedade entre o capital nacional e internacional que, transformando a
dependência em interdependência, traria progresso ao país, uma vez que o capital
internacional - em razão da internacionalização do mercado interno - passaria a assumir
responsabilidades pelo sucesso econômico de investimentos realizados na periferia. Na
primeira perspectiva alimentou-se o sonho de revoluções armadas ou por vias eleitorais
como condição necessária à emancipação latino-americana. No segundo viés, criticando-se a
própria noção de dependência, alguns teóricos - como Fernando Henrique Cardoso -
argumentaram que "... a 'internacionalização do mercado' solidariza os interesses entre
classes que no momento anterior apareciam como adversas (a burguesia nacional e a
burguesia imperialista e mesmo setores das classes trabalhistas e os monopólios
internacionais, por exemplo).". Por este caminho poder-se-ia promover o desenvolvimento
acentuando-se a interdependência econômica através de uma abertura coordenada pelo
Estado, sem reservas, ao movimento da globalização.
Por Mefisto