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PÓS – GRADUAÇÃO
-EDUCAÇÃO PSICOMOTORA-
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EDUCAÇÃO-REEDUCAÇÃO E TERAPIA PSICOMOTORA
I-Introdução:
Abordar o tema da psicomotricidade e de sua prática é tratar de um assunto novo,
sobretudo no Brasil, onde essa prática data de poucos anos.
Muitas divergências e dúvidas existem quanto à dominação mais adequada que
dever-se-ia dar ao nosso trabalho e quanto à forma mais adequada de atuar do
psicomotricista.
Educação, Reeducação, Terapia? Qual dos termos usar? Como distingui-los?
Como atuar nas diferentes formas de abordagem?
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Colocar-se em posição de escuta, de disponibilidade, sem preocupação com uma
programação anterior é sem dúvida uma excelente postura, para o educador.
Compreender a criança na sua tonalidade, as razões pelas quais ela age, ela investe em
determinados materiais, ela busca determinadas situações é compreender que toda ação,
que toda vivência corporal tem um sentido, no caminho do desenvolvimento.
Na prática da psicomotricidade, o educador poderá provocar situações com ou sem
material, ou partir da própria atividade espontânea da criança. Provocar situações não
significa dirigi-las, mas colocar à sua disposição ou dispor-se a viver com elas momentos,
nos quais, a partir de uma situação dada muito vai ser dado pela criança.
Materiais os mais variados: terra, areia, água, fogo, pedras, tecidos, caixas,
pedaços de madeira), além de todo o material dinâmico (bolas, arcos, cordas, etc.),
permitem à criança criar situações nas quais um grande número de experiências pode ser
vivido.
Sem material, nos jogos corporais, a criança e o adulto vão se deslocar no solo e
no espaço, vão rolar, pular, criar movimentos, viver momentos onde o imaginário da
criança vem à tona (brincar de lobo, de bebê, de cavalo, de guerra).
Partindo da atividade espontânea da criança, o educador em psicomotricidade,
descobrirá uma fonte riquíssima de observação de trabalho.
Segundo Lapierre, “a atividade espontânea é uma porta aberta à criatividade sem
fronteiras, à expressão livre das pulsões, ao imaginário e simbólico, ao desenvolvimento
livre da comunicação”.
No trabalho de educação psicomotora, baseado na atividade espontânea da
criança, desenvolvido em grupos ou em individual, pode-se observar a descoberta de
todas as formas de utilização dos objetos e materiais. Ao movimentar os objetos as
crianças movimentam com eles, no prolongamento do seu próprio Eu (em uma primeira
fase), investindo o espaço e sentindo-se segura nesse espaço.
O espaço é por sua vez integrado progressivamente através dos deslocamentos
do corpo e através do movimento exercido pelos objetos. Investir o espaço significa não
somente compreender intelectualmente as dimensões e integrar as noções espaciais,
mas simbolicamente ser aceito, ter seu próprio espaço, aceitar o espaço do outro.
Nessa atividade dinâmica descobre-se o outro e entra-se relação com ele através
dos jogos.
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Os objetos utilizados de modo simbólico e regressivo são também abandonado
quando a criança busca outras formas de mediação (comunicação gestual, criação de
movimentos, corpo a corpo).
Os objetos utilizados de forma estática, colocados no solo para que a criança
salte, passe por cima, por baixo, etc. dão a ela a dimensão do seu Eu (processo de
reversibilidade: eu com relação ao objeto, o objeto com relação a mim).
Tenho esgotado todas essas vivências, a criança passa a interessar-se pelo objeto
em si, independente do movimento que se exerça sobre ele da sua utilização. Ele passa a
adquirir autonomia e a ter sua significação separado do corpo (construções, formação de
conjuntos, etc.).
Noção de fechamento, de abertura de pertencer ou não, de conjunto e simetria
decorrem dessa manipulação.
Podemos até observar que a criança passa experiência motora para chegar ao
simbólico e mais tarde ao abstrato. Ela vive situações onde a expressão racional pode ser
mais relevantes e outras onde é a expressão afetiva que domina. Não há corte entre duas
esferas, mas evolução contínua.
É importante salientar também que a atividade espontânea da criança está em
contato direto com o inconsciente.
Assim “fazer qualquer coisa” toma sentido. Através da vivência corporal pulsões e
fantasias são expressas, através do corpo desejos, prazeres se manifestam. Não se trata
simplesmente de pura descarga de tensões, mas da necessidade de exteriorizar
fantasias,a te esgota-las.
Nesse sentido poder permitir à criança a vivência de todas as etapas do
desenvolvimento cognitivo e afetivo é uma tarefa bastante difícil e que exige não somente
conhecimentos mas capacidade de aceitação e auto-conhecimento.
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Em geral, organismo e corpo são tratados conjuntamente. Mas para nós,
educadores, na ordem da aprendizagem, é muito importante separá-los. Tudo que nos
permite conservar a temperatura, a oxigenação ou a irrigação, controlar a entrada de luz
pupilar, todos os reflexos, o funcionamento dos sentidos, a contração muscular ou tônus,
a estabilidade do tônus muscular, tudo quilo que nos permite funcionar equilibradamente,
faz parte do organismo e só temos consciência do organismo quando ele falha. Isto é,
quando aparece como dor, quando asfixiamos, enfim, quando falha a relação do
organismo com o exterior. Nesse momento nosso organismo é capaz de emitir certos
sinais que são recuperados na consciência. Mas, em estado normal, nosso organismo
funciona sozinho. Se tivéssemos de pensar em respirar, em espirrar, na luz que entra pela
retina, a vida seria espantosamente complicada.
É importante separar essa função orgânica e o corpo. O organismo tem – dentro
do que possa ser a aprendizagem – a possibilidade de inscrever os esquemas
perceptivos-motores. O organismo é capaz de inscrever certo tipo de conhecimento de
maneira que tenha o mesmo valor dos instintos, das respostas instintivas. Quer dizer que,
no homem, coisas tão elaboradas como a escrita ou a palavra podem ser realizadas, num
certo momento, como se fossem instintivas , tal como o canto dos pássaros. Isto é porque
a inscrição se faz no nível do organismo.
O mesmo ocorre por exemplo com a linguagem.
Ao falar, não pensamos na linguagem. Falamos. Quer dizer que, num dado
momento, isto fica inscrito organicamente. A prova é que se alguém sofre um traumatismo
craniano em certas zonas, perde a possibilidade de relacionar a palavra com o
significado. Portanto, isso está materialmente registrado, no nível orgânico. Se alguém
tem um problema de saúde – irrigação sanguínea, ou metabólico – pode perder algumas
inscrições. Certos sintomas são claramente orgânicos. Se uma pessoa tem um dispraxia
– ela aprendeu e, de repente, não pode coordenar seus movimentos-. Pensamos logo em
fazer um exame neurológico, porque pode haver alguma lesão. Certos sintomas estão na
ordem do orgânico, pois é o organismo que inscreve os automatismos.
Existem condições para que o organismo aceite um automatismo. E preciso estar
suficientemente treinado, não somente pela repetição, mas também pela maneira
econômica de realização sensório-motriz. Quando se chega a uma possibilidade de
economia sensório-motriz suficiente, se produz então uma automatização. Quando a
criança alcança um nível de escrita suficientemente fluente, de tal modo que não precisa
de pensar no traço, ela automatiza a escrita. A escrita se automatiza quando se chega a
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um nível de plasticidade nas mudanças de direção. A automatização é fundamental para
a aprendizagem. Se ficássemos pensando que temos de respirar, ou de abrir a pupila
para entrar mais ou menos luz no olho, não poderíamos aprender, pois precisaríamos
pensar só nisso. A automatização permite que uma parte já não seja pensada – que
esteja inscrita -, para que o pensamento possa se preocupar em adquirir novos
conhecimentos.
É como quando aprendemos a tocar um piano. No início temos de nos concentrar
em colocar o dedo na nota correspondente, e então, nem podemos nos preocupar com a
melodia, com o ritmo. Mas, quando já sabemos mais ou menos onde colocar os dedos,
então podemos nos preocupar com a melodia. Só depois, quando automatizamos isso,
poderemos pensar na interpretação, dar mais cor a uma nota, prolongá-la etc. Uma parte
deve se automatizar para que outra parte venha a aperfeiçoar a anterior. Sobre o
automatismo, sobre a parte já automatizada, é que se constróem novos conhecimentos.
Como recomendação aos educadores: agregar conhecimento quando o anterior
não foi automatizado só complica o processo de aprendizagem. O automatismo depende
em parte do corpo, mas depende também da integridade orgânica. Diversos problemas
neurológicos e metabólicos, e ainda, diversos problemas circunstanciais do organismo –
dor de cabeça, de estômago, ou febre – podemos perturbar a aprendizagem de maneira
situacional.
Se o organismo pode ser comparado a um aparelho de gravação, o corpo pode
ser comparado a um instrumento musical. Não confundimos a orquestra com o disco. O
corpo é o centro em que ocorrem todas as coordenações percepto-motoras. O corpo vai
se preocupar em coordenar a percepção, em seus diversos níveis, com o movimento, seja
no nível tônico, seja no nível da mão, do pé, etc.
Ele é puro presente. O organismo é a memória. O corpo é esse presente que
aprende, isto é, que está relacionando, que está coordenando. Como com um instrumento
musical, apertamos uma corda e passamos o arco, de modo que soe. Mas tudo tem de
estar coordenado ao mesmo tempo.
Esse corpo que aprende não é só a sede das coordenações, mas é também a
sede das ressonâncias afetivas. Sentimos com o corpo. Todos os afetos (sentimentos,
emoções) são sentidos com o corpo. Todos os afetos que, em cada movimento, ao
mesmo tempo ressoa corporalmente um sentimento.
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Este corpo é o lugar do eu, do ego corporal. Aí, se unificam, na mesma
experiência, os afetos, as coordenações e o eu, o ego, que dá a esse conjunto uma
unidade de ego que aprende, do ego fazendo.
O primeiro ego é corporal, não tanto pela forma – que também é importante, que
vai vir depois, no estágio do espelho -, mas sim pela eficácia desse corpo. Vimos, a
respeito da circularidade e da inibição, como o corpo é capaz de ir definindo qual parte do
sujeito que provoca um efeito de uma ação do outro, ou se é efeito e como, através da
inibição, o bebê vai discriminar se uma coisa é efeito de uma ação do outro, ou se é efeito
de sua própria atividade. É inibindo distintas partes de seu corpo, e pondo outras em
ação, que ele vai se dar conta de qual é o movimento eficaz e de como é ele que o
produz.
Entretanto, não é um ego que é eficaz, é algo em que é agente de uma ação que
produz certo efeito. Ao refletir sobre a atividade, então o ego começa a se constituir.
Com certo domínio das coisas, o bebê que já pode pegar algumas coisas se olha
no espelho e encontra uma figura que, ao que parece, lhe dá alegria. Essa figura no
espelho não lhe é indiferente. As experiências de Zazzo e Wallon demonstram que, se
pusermos diante dela um vidro, com outra criança através dele, a resposta é a mesma. A
criança fica sempre muito contente quando encontra um ser de seu tamanho. Nunca
saberemos, mas experiências posteriores nos permitem dizer que, nesse momento, ele
acredita que há um só. È ele e é o outro. O fato de se ver fora não faz a criança
desconfiar que seja ela mesma. Supõe-se que, nessa idade existe o dom da ubiqüidade.
O mesmo ser pode estar em muitas partes. A lei da ubiqüidade é genética. A criança
demora a perceber que, se alguém está aqui não pode estar em outro lugar. Então, o fato
de se ver fora, através de outro bebê ou de sua imagem no reflexo do espelho – que ela
não considera imagem e sim, um bebê – não quer dizer que tenha de ser outro. Veremos
que mais tarde, quando ela procura do outro lado do espelho, ela não considera uma
imagem, e sim outro bebê. Nesse primeiro momento, entretanto, é outro e é ela ao
mesmo tempo. Quando ela se vê frente a frente com um bebê quem vem num carrinho,
vendo-o bem de frente, terá a mesma alegria. Mas não é porque encontrou um
semelhante. Encontrou um semelhante, mas um semelhante que considera ser ela
mesma.
Vemos que o bebê não se dá conta de que o outro é uma imagem, quando ele se
procura do outro lado do espelho. Um bebê que começa a andar, quando se vê diante de
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um, dá a volta trás do espelho, para ver onde está o bebê. Crê que na realidade é um
vidro.
Então, como ele vai se apropriar dessa imagem? Da imagem do seu corpo? Vai se
apropriar da mesma maneira que se apropriou de seu corpo: pelo movimento, pela
eficiência que tem essa imagem para reproduzir tudo o que ele faz. Se tivéssemos uma
imagem – o que é um chiste muito comum dos palhaços – que fizesse outro movimento,
seria loucura. Os fantasmas, dos contos de terror, não têm imagem no espelho. Assim se
reconhece que o fantasma não é como os outros, ele não tem existência porque não é
visto no espelho. Não se reflete. Isto dá um sentido muito importante à noção de imagem.
É a imagem que dá realidade ao ser, e não o ser à imagem. Nós existimos e adquirimos
existência pelo fato de nos refletirmos. Em Martín Fierro – épico argentino – há um verso
que diz que até o cabelo mais fino faz sua sombra no sono. Quer dizer que é da sombra –
um reflexo, um imponderável, que não tem matéria – que o cabelo adquire realidade. Não
ao contrário, porque um cabelo passa despercebido, mas, se fizer sombra, aí encontra
sua realidade. É preciso dar imagem. Isto o sabem todos os publicitários!
Um sabão não existe se não há imagem que o venda! A imagem tem uma força de
existência, um poder igual ao nome e mais poder e força de existência que o próprio
sujeito a essa imagem.
Para que serve essa imagem? Nós, em nosso pensamento, nos vemos inteiros,
nos vemos completos. Ter uma imagem de nós mesmos nos permite pensar a nós
mesmos. Permite entrar em nosso pensamento com uma imagem, ter corpo no
pensamento. Senão, não poderíamos nos pensar em nós mesmos; não poderíamos
sonhar conosco. Porque nós não vemos nosso rosto. Podemos, por inferência através do
tato, saber sua forma, mas não podemos vê-lo.
Certos povos que tem dificuldade para encontrar imagens claras tem rituais de
referencia mútua que não chegam a ser imagens individuais (nesses grupos sociais o
individualismo não conta), mas têm um certo tipo de dança frente a frente, na qual o outro
tem função de espelho. As culturas individualistas em geral têm espelho, ou procuram
superfícies, de água ou outros substitutos. Entretanto, na água não se pode ver o corpo
inteiro e é necessária uma reconstrução.
Um dos sintomas da psicose é o sujeito não chegar a usar a primeira pessoa. Ele
é sempre um outro, se toma como se fosse um outro, fora de si mesmo, desligado de si
próprio e essa síntese aparece no discurso. Essas síntese é responsável pela maneira
pela qual me vejo e pela que me vê um outro. Ao contrário, quando digo “eu”, ninguém
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pode dizer “eu” por mim. É um lugar que ninguém pode ocupar por mim. É o único lugar
inalienável. Aqui, saímos da imagem, para que esse corpo se torne símbolo do ego.
Símbolo, em sua deformação e em sua transformação, do “eu” da linguagem. Já não é
um ego, é um “eu”. Mas esse “eu”, se quero sonha-lo, vou usar o corpo, mas um corpo
em transformação e não um corpo fixo como no espelho. Um corpo que, quando saio do
espelho, continuo atribuindo ao “eu”, um corpo que envelhece, um corpo que é mais fraco,
mais gordo, etc. e que ingressou no “eu”. Não digo ‘Meu corpo é gordo”. Digo “Eu sou
gorda”.
Portanto, a passagem da imagem ao símbolo é o que arranca a criança da
psicose. Isto é, a possibilidade de se conservar no tempo e no espaço.
Agora, sem chegar aos termos da psicose, há o que se chama de ego fraco e ego
forte. Quando se fala de ego e ego forte fala-se de uma imagem, de uma categoria do
“eu”, fala-se de um produto do pensamento. Não é o inconsciente que é forte ou fraco,
mas é o inconsciente que constrói uma imagem forte ou fraca do “eu”. Há crianças que
progridem bastante na linguagem, mas são psicóticas e não usam “eu”. Dizem “nenê”, ou
o próprio nome e prolongam esse tipo de linguagem. Contudo, é preciso sempre observar
como o outro fala com a criança. Alguns discursos parentais são “notáveis”. Às vezes, a
mãe diz ”Hoje não temos vontade de ir à escola”, falando por ela e pela criança. Ou,
então, dão alguma coisa à criança e a mãe diz “obrigada”, fala em lugar dela. Há muitos
tipos de atitudes que desfocam o lugar do sujeito, a ponto de não sabermos quem fala. A
mãe se põe um pouco no lugar do inconsciente e fabrica a resposta da criança. Muitas
vezes presenciamos um jogo de papéis que atenta contra a situação de um sujeito
estável. A criança não vai ser psicótica só por isso, mas quero dizer que pode debilitar
sua posição egóica, o que é importante para o pensamento.
ESQUEMA CORPORAL
IMPORTÂNCIA DO CORPO E CONCEITO DE ESQUEMA CORPORAL
O corpo é uma forma de expressão da individualidade. A criança percebe-se e
percebe as coisas que a cercam em função de seu próprio corpo. Isto significa que,
conhecendo-o, terá maior habilidade para se diferenciar, para sentir diferenças. Ela passa
a distingui-lo em relação aos objetos circundantes, observando-os, manejando-os.
O desenvolvimento de uma criança é o resultado da interação de seu corpo com
os objetos de seu meio, com as pessoas com quem convive e com o mundo onde
estabelece ligações afetivas e emocionais.
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O corpo, portanto, é sua maneira de ser. É através dele que estabelece contato
com as entidades do mundo, que se engaja no mundo, que compreende os outros.
Todo ser tem seu mundo construído a partir de suas próprias experiências
corporais. Morizot, em palestra proferida no 1º Congresso Brasileiro de Psicomotricidade,
afirma:
“Toda relação corporal implica uma relação psicológica,
pois o movimento não é um processo isolado e está em
estreita relação com a conduta e a personalidade.”
O corpo deve ser entendido não somente como algo biológico e orgânico que
possibilita a visão, a audição, o movimento, mas é também um lugar que permite
expressar emoções e estados interiores. A este respeito Vayer (1984, p. 30) afirma
“Todas as experiências da criança (o prazer e a dor, o
sucesso ou o fracasso) são sempre vividos corporalmente.
Se acrescentarmos valores sociais que o meio dá ao corpo e
a certas de suas partes, este corpo termina por ser investido
de significações, de sentimentos e de valores muito
particulares e absolutamente pessoais”.
Para uma criança agir através de seus aspectos psicológicos, psicomotores,
emocionais, cognitivos e sociais, precisa ter um corpo “organizado”. Esta organização de
si mesma é o ponto de partida para que descubra suas diversas possibilidades de ação e,
portanto, precisa levar em consideração os aspectos neurofisiológicos, mecânicos,
anatômicos, locomotores.
A expressão esquema corporal nasceu em 1911 com o neurologista Henry Head,
tendo um cunho essencialmente neurológico. Segundo ele (Head, in Quiros e Della Cella,
1973), o córtex cerebral recebe informações das vísceras, das sensações e percepções
táteis, térmicas, visuais, auditivas e de imagens motrizes, o que facilitaria a obtenção de
uma noção, um modelo e um esquema de seu corpo e de suas posturas. Head ainda
afirma que o esquema corporal armazena não só as impressões presentes como também
as passadas.
Já Schilder (1958, p.15) parte das idéias de Head para desenvolver as suas.
Ultrapassando a realidade neurológica, chega ao conceito de imagem corporal que seria
uma representação mental de nosso corpo e não constitui uma mera percepção mas uma
“interação de diferentes gestalten”. Schilder também supôs “a existência de uma gestalten
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biológica e uma gestalten em contínua modificação como participante da imagem
corporal”. O esquema corporal é a imagem tridimensional que todo mundo tem de si.
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espontânea (dos brinquedos) para uma atividade integrada. De Meur afirma que ela
passa pela fase do conhecimento das partes de seu corpo sentindo interiormente cada
segmento dela em um espelho, em uma outra criança e em uma figura.
Adquire também noções temporais como a duração dos intervalos de tempo, de
ordem e sucessão, isto é, o que vem, antes, depois, primeiro último.
No final desta fase, diz Le Boulch citando Ajuriaguerra, o nível do comportamento
motor bem como o nível intelectual pode ser caracterizado como pré-operatório, porque
está submetido à percepção num espaço em parte representado, mas ainda centralizado
sobre o próprio corpo.
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Nesta etapa observa-se a estruturação do esquema corporal. Até este momento, a
criança já adquiriu as noções do todo e das partes do seu corpo (que é percebido através
da verbalização e do desenho da figura humana), já conhece as posições e consegue
movimentar-se corretamente no meio ambiente com um controle e domínio corporal
maior. A partir daí, ela amplia e organiza seu esquema corporal.
No início desta fase a representação mental da imagem do corpo consiste numa
simples imagem reprodutora. É uma imagem de corpo estática e é feita da associação
estreita entre os dados visuais e cinestésicos. A criança só dispõe de uma imagem mental
do corpo em movimento a partir de 10/12 anos, significando que atingiu “uma
representação mental de uma sucessão motora!”, com a introdução do fator temporal (Le
Boulch, 1984, p. 20).
Sua imagem de corpo passa a ser antecipatória, e não mais somente reprodutora,
revelando um verdadeiro trabalho mental devido à evolução das funções cognitivas
correspondentes ao estágio preconizado por Piaget de “operações concretas”.
Outro fator que Le Boulch apresenta, como correspondente ao estágio das
operações concretas, é a passagem da centralização do corpo, isto é, da percepção de
um estágio orientado em torno do corpo próprio à descentralização, à representação
mental de um espaço orientado “ no qual o corpo está situado como objeto”.
Isto quer dizer que os pontos de referencia não estão mais centrados no corpo
próprio mas são exteriores ao sujeito, podendo ele mesmo criar os pontos de referencia
que irão orientá-lo.
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Le Bon Depart – Talvez um dos mais antigos e tradicionais, tendo surgido entre 1945 e
1950 na Holanda. Nasceu da experiência com crianças em período pré escolar e classes
primárias. É basicamente um método educativo, tendo sido posteriormente utilizado na
reeducação. Tem como características a utilização simultânea do ritmo, da motricidade e
da percepção visual. Trabalha a partir de movimentos amplos, associados a música, que
correspondem a uma série de 26 gráficos. Alguns gráficos são seguidos de aprendizagem
de letras. Pode ser considerado um método de educação de base, visando a preparação
para a escrita.
Le Boulch- A psicogenética do Dr. Le Boulch é um método geral de educação que utiliza
como material pedagógico o movimento geral em todas as suas formas. Se apoiando na
psicologia unitária da pessoas, tem por principal objetivo o desenvolvimento de
capacidades fundamentais. Como principal eixo de trabalho, o desenvolvimento da
estruturação perceptiva e das coordenações. Método preventivo para crianças de 6 a 12
anos.
Pic et Vayer- Dirigido às crianças de idade escolar, com diferentes tipos de inadaptação –
debilidade mental, deficiências sensoriais; inadaptações motoras, sensoriais e psico –
afetivas. Dá ênfase ao trabalho com:
• Percepção e controle do próprio corpo;
• Regulação de condutas motoras;
• Adaptações perceptivo-motoras.
Orlic- Linha reeducativa, mais adequada à adultos. É uma educação gestual associada à
respiração e tem por objetivos uma tornada de consciência de sim mesmo, expressão,
estruturação e integração de si mesmo. Método diretivo e programado numa seqüência
de exercícios.
Hughette Bucher- Método criado dentro da linha de trabalho de Ajuriaguerra, dirigido aos
quadros clássicos de distúrbios psicomotores.
Ramain- Método que se utiliza da psicomotricidade como subtrato para que a pessoa viva
relações consigo, com os outros e com os objetos, buscando o desenvolvimento da
conscientização de si. Pode, por sua abrangência, ser utilizado como método educativo
na preparação da alfabetização, como método de base dos distúrbios psicomotores,
psicopedagógicos e fonoaudiológicos ou como psicoterapia, variando para isto com a pré-
formação do profissional que se especializa em Ramain.
Desobeau/ Lapierre- Tônico – emocional, não diretivo, valorizando as atividades
espontâneas e o jogo. A criança programa a sessão e o terapeuta parte das propostas
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apresentadas. O diálogo é corporal ou um duplo diálogo – corporal e verbal. A
verbalização parte da necessidade de exteriorizar emoções e sentimentos. A via de
acesso é a relação, porém, o objeto de relação não é o aumento da eficiência. Através
das atividades livres e do jogo surgem elementos simbólicos, imaginários e afetivos.
Psicomotricidade Relacional- Terapia corporal, utilizando uma dinâmica de grupo
vivenciando afetos, sentimentos, emoções, impulsos, fantasias e projeções.
Psicomotricidade
(extraído de Oliveira, Gislene de Campos. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque
psicopedagógico. Petrópolis, Vozes, 1997).
ORIGENS E DEFINIÇÃO
“La Psychomotricité est te désir de faire, du vouloir”.
faire; le savoir faire et te pouvoir faire. ““.
Defontaine
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completa e a análise do movimento próprio deve permitir-nos compreendê-la melhor
Harrow (1972) faz uma análise sobre o homem primitivo ressaltando como o desafio
de sua sobrevivência estava ligado ao desenvolvimento psicomotor. As atividades básicas
consistiam em caça, pesca e colheita de alimentos e, para isto, os objetivos psicomotores
eram essenciais para a continuação da existência em grupo.
Movement is the key to itfe and exists in ali areas ofíife. When man performs
purposeful movement he is coordinating the cognitive, the psychomotor and the
affective domains. Internally, movement is continuously occurring and externally
man ‘s movement is modified by past yearnings, environmental surroundings and
the situation at hand.
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É claro que o desenvolvimento da inteligência não se esgota nesses aspectos e não é
nossa intenção estudá-la mais a fundo, mas é importante lembrar que ela se relaciona
com a psicomotricidade.
Quando uma criança percebe os estímulos do meio através de seus sentidos, suas
sensações e seus sentimentos e quando age sobre o mundo e sobre os objetos que o
compõem através do movimento de seu corpo, está “experienciando”, ampliando e
desenvolvendo suas funções intelectivas. Por outro lado, para que a psicomotricidade se
desenvolva, também é necessário que a criança tenha um nível de inteligência suficiente
para fazê-la desejar “experienciar”, comparar, classificar, distinguir os objetos. Brandão
(1984, p. 61) a este respeito afirma:
Mesmo após o início da prática dos movimentos voluntários, é somente após a criança
ser capaz de representar mentalmente os objetos, de simbolizar, de poder fazer
abstrações e generalizações, que poderá fazer a “invenção” de novos meios de ação. As
manifestações da inteligência prática aparecem pelos 8 ou 9 meses, quando as condutas
da criança demonstram que ela já é capaz de combinar duas ou mais ações usando-as
como meios para vencer as situações que a impedem de executar um ato desejado como,
por exemplo, afastar primeiro um obstáculo interposto entre a sua mão e o brinquedo que
quer manipular e só então aproximar a mão do objeto e segurá-lo.
Para conseguir o nível de inteligência que permita assim proceder, uma longa
preparação, através das experiências vividas pela criança, deve ter acontecido.
Wallon (1979, p. 17-33), um dos pioneiros no estudo da psicomotricidade, salienta a
importância do aspecto afetivo como anterior a qualquer tipo de comportamento. Existe,
para ele, uma evolução tônica e corporal chamada diálogo corporal e que constitui “o
prelúdio da comunicação verbal”. Este diálogo corporal é fundamental na gênese
psicomotora, pois a ação desempenha o papel fundamental de estruturação cortical e
está na base da representação.
O movimento, portanto, assume uma, grande significação. Inicialmente a criança
apresenta uma “agitação orgânica e uma hipertonicidade global”, ocasionando uma
relação com o meio ambiente de forma difusa e desorganizada. Pouco a pouco, começa a
se expressar através dos gestos que estão ligados à esfera afetiva e que são, portanto, o
escape das emoções vividas. Este mundo das emoções mais tarde dará origem ao
mundo da representação. O movimento, como um elemento básico de reflexão humana,
aparece depois, como um fundamento sócio-cultural e dependente de um “contexto
histórico e dialético”.
Wallon afirma que é “sempre a ação motriz que regula o aparecimento e o
desenvolvimento das formações mentais” (op. cit., p. 17). Na evolução da criança,
portanto, estão relacionadas à motricidade, a afetividade e a inteligência.
A criança exprime-se por gestos e por palavras. Estas aquisições, por sua vez,
encaminham-na para sua autonomia. A este respeito, Fonseca (1987, p. 32) afirma que a
significação da palavra evolui com a maturidade motora e com a corticalização
progressiva. É pelo movimento que a criança integra a relação significativa das primeiras
formas da linguagem (simbolismo).
Finalizaremos a citação de Wallon com duas frases que traduzem seu pensamento
sobre o movimento (in Fonseca, op. cit., p. 30):
Movimento (ação), pensamento e linguagem são uma unidade inseparável.O
movimento é o pensamento em ato, e o pensamento é o movimento sem ato.
A educação psicomotora, no entender de Lagrange (op. cit., p. 47), opinião esta com
que concordamos plenamente, “não é um treino destinado à automatização, à
‘robotização’ da criança”. Ele cita Vayer para reforçar sua opinião:trata-se de uma
educação global que, associando os potenciais intelectuais, afetivos, sociais, motores e
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psicomotores da criança, lhe dá segurança, equilíbrio, e permite o seu desenvolvimento,
organizando corretamente as suas relações com os diferentes meios nos quais tem de
evoluir.
A este respeito, Ajuriaguerra (1980, p. 211) afirma ser um erro estudar a
psicomotricidade apenas sob o plano motor, dedicando-se (...) exclusivamente ao estudo
de um “homem motor”. Isto conduziria a considerar a motricidade como uma simples
função instrumental de valor puramente efetuador e dependente da mobilização de
sistemas por uma força estranha a eles, quer seja exterior ou interior ao indivíduo,
despersonalizando, assim, completamente a função motora.
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todos os aprendizados pré-escolares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da
lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habilmente a
coordenação de seus gestos e movimentos. A educação psicomotora deve ser praticada
desde a mais tenra idade; conduzida com perseverança, permite prevenir inadaptações
difíceis de corrigir quando já estruturadas...
Lapierre (1986) e Le Boulch (op. cit.) têm a mesma posição quando afirmam que a
educação psicomotora deve ser urna formação de base indispensável a toda criança.
A nosso ver, a psicomotricidade se propõe a permitir ao homem “sentir-se bem na sua
pele”, permitir que se assuma como realidade corporal, possibilitando-lhe a livre
expressão de seu ser. Não se pretende aqui considerá-la como uma “panacéia” que vá
resolver todos os problemas encontrados em sala de aula. Ela é apenas um meio de
auxiliar a criança a superar suas dificuldades e prevenir possíveis inadaptações.
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e linguagem estejam interligadas.
O aluno sentir-se-á bem na medida em que se desenvolver integralmente através de
suas próprias experiências, da manipulação adequada e constante dos materiais que o
cercam e também das oportunidades de descobrir-se. E isto será mais fácil de se
conseguir se estiverem satisfeitas suas necessidades afetivas, sem bloqueios e sem
desequilíbrios tônico-emocionais. Neste sentido pode-se afirmar o cuidado especial que
se deve tomar com as crianças em seus primeiros anos de escolaridade.
Observando muitos educadores, principalmente os de pré-escola e 1ª série, podemos
notar como esta preocupação citada anteriormente sobre o desenvolvimento da criança é
deixada de lado em prol de um treinamento funcional intensificado.
Com efeito, para muitos professores, a repetição constante de exercícios é essencial
para que a criança se desenvolva. Neste sentido, uma crítica faz-se necessária: numa
tentativa de desenvolver a motricidade de seus alunos, os mandam preencher folhas e
mais folhas mimeografadas de riscos à direita, à esquerda, verticais, horizontais, bolinhas,
ondas.
Esses mesmos professores, quando querem ensinar conceitos dentro-fora, por
exemplo, pedem a seus alunos para colarem papéis coloridos, fazerem cruzes ou
desenharem dentro ou fora de um quadrado ou de qualquer desenho. Ao final, acham que
as crianças assimilaram corretamente estes termos e passam para outros itens que serão
“treinados” da mesma maneira.
Acreditam, com isto, que estão usando de todos os recursos da psicomotricidade para
preparar os alunos para a escrita. São, entretanto, exercícios totalmente desprovidos de
significado para as crianças e não são nem precedidos de um trabalho mais amplo de
conscientização dos movimentos, de posturas, visando a um desenvolvimento mental
maior.
Na realidade, estão desenvolvendo a aquisição de gestos automáticos e técnicas sem
se preocupar com as percepções que lhe dão o conhecimento de seu corpo e, através
deste, o conhecimento do mundo que o rodeia. Os exercícios psicomotores, através do
movimento e dos gestos, não devem ser realizados de forma mecânica, devem ser
associados com as estruturas cognitivas e afetivas.
Muitas dificuldades podem surgir com uma aprendizagem falha na escola. Está certo
que algumas habilidades motoras começam a ser desenvolvidas na família, mas não se
pode negar a importância dos primeiros anos de escolaridade. Por outro lado, também há
alunos que já vêm para a escola com problemas motores que prejudicam seu
aprendizado e que não são sanados em nenhum momento, acarretando uma maior
desadaptação escolar.
Existem alguns pré-requisitos, do ponto de vista psicomotor, para que uma criança
tenha uma aprendizagem significativa em sala de aula. E necessário que, como condição
mínima, ela possua um bom domínio do gesto e do instrumento. Isto significa que
precisará usar as mãos para escrever e, portanto, deverá ter uma boa coordenação fina.
Ela terá mais habilidade para manipular os objetos de sala de aula, como lápis, borracha,
régua, se estiver ciente de suas mãos como parte de seu corpo e tiver desenvolvido
padrões específicos de movimentos. Deverá aprender a controlar seu tônus muscular de
forma, a saber, dominar seus gestos.
É importante, também, que ela tenha uma boa coordenação global, saindo-se bem ao
se deslocar, transportar objetos e se movimentar em sala de aula e no recreio. Muitos dos
jogos e brincadeiras, realizados nos pátios das escolas, são, na verdade, uma preparação
para uma aprendizagem posterior. Com eles, a criança pode adquirir noções de
localização, lateralidade, dominância, e conseqüentemente orientação espaço-temporal.
20
Um fator importante para a educação escolar é o desenvolvimento do sentido de espaço
e tempo. Isto significa que a criança se movimenta em um determinado espaço e tempo.
Uma boa orientação espacial poderá capacitá-la a orientar-se no meio com desenvoltura.
Do movimento que transcorre surgem às noções de tempo, duração de intervalos,
seqüência, ordenação, ritmo. Não podemos deixar de citar, também como pré-requisito
para uma boa aprendizagem, a acuidade auditiva e visual, mas só podemos propiciar
estes estímulos se eles estiverem integrados e bem orientados.
PSICOMOTRICIDADE
CONCEITOS DA PSICOMOTRICIDADE
Definições:
Esteban Levin – “A psicomotricidade se ocupa de um sujeito que fala através de seu
corpo, suas posturas, seus movimentos, seus gestos, seu tônus muscular, seu eixo
corporal.”... “Não é o corpo que sofre ou que fala, mas sim um Sujeito que fala através de
seu corpo, de seus movimentos, de suas relações tônicas, de seus gestos”.“Tornar-se
psicomotricista é um trabalho que não tem fim, pois, a cada vez, com cada paciente,
começa o trajeto cheio de particularidades que só culmina com um recomeçar de novo”.O
compromisso e a responsabilidade do psicomotricista é “não retroceder frente ao sujeito
que fala e sofre através de seu corpo”.(A especificidade da prática Psicomotora-Anais VI
Congresso Brasileiro de Psicomotricidade, 1995).
Beatriz Saboya – “um meio que utiliza o corpo em movimento, visando à harmonização
do indivíduo com o seu mundo interno e o seu mundo externo”. (Bases Psicomotoras –
Saboya, 1995).
J. Claude Coste – “É uma técnica em que se cruzam múltiplos pontos de vista e que
utiliza as aquisições de numerosas ciências constituídas (biologia, psicologia, psicanálise,
sociologia e lingüística)”... “A reeducação psicomotora tem por objetivo desenvolver esse
aspecto comunicativo do corpo, o que equivale a dar ao indivíduo a possibilidade de
dominar seu corpo, de economizar sua energia, de aperfeiçoar o seu equilíbrio.” (A
Psicomotricidade – Coste,1977)
Lapierre – A noção de psicomotricidade é muito vasta para se prestar a uma definição
precisa e definitiva. O pensamento motor é todo movimento indissociável do psiquismo
que o produz e implica desse fato a personalidade total e, inversamente, o psiquismo, nos
seus diferentes aspectos (intelectual, afetivo, de relacionamento etc.), é indissociável dos
movimentos que condicionaram ainda seu desenvolvimento.” (Simbologia do Movimento-
Lapierre,1982).
Vayer – “cada criança busca no outro a sua própria identidade, sua própria necessidade
de segurança.”( VAYER - Linguagem Corporal, 1985)
Picq e Vayer – “A educação psicomotora é uma ação pedagógica e psicológica,
utilizando meios da educação física, com o objetivo de normalizar ou melhorar o
comportamento da criança”. ( Picq e Vayer – Educação Psicomotora e Retardo Mental,
1984)
Le Boulch – “A educação psicomotora concerne uma formação de base indispensável a
toda criança que seja normal ou com problemas. Responde a uma dupla finalidade:
assegurar o desenvolvimento funcional tendo em conta a possibilidades da criança e
ajudar sua afetividade a expandir-se e a equilibrar-se através do intercâmbio com o
ambiente humano”.
A terapia psicomotora refere-se particularmente a todos os casos-problemas nos quais a
dimensão afetiva ou relacional parece dominante na instalação inicial do transtorno. Pode
estar associada à educação psicomotora ou se continuar sem ela...
21
Ao contrário, a reeducação psicomotora impõe-se nos casos onde o déficit instrumental
predomina, ou corre o risco de acarretar secundariamente problemas de relacionamento.”
( Le Boulch – O Desenvolvimento Psicomotor, 1981
Embasamento Teórico:
O embasamento teórico da psicomotricidade está alicerçado nos conhecimentos da
Ontogênese (evolução da espécie).
Wallon, Winnicott, Gesell, Piaget, Spitz, Freud, Binet-Simon e outros estudiosos
pesquisaram as fases e os processos de evolução motora, perceptiva relacional,
cognitiva.
Desenvolvimentista é uma linha de trabalho no qual se procura estar atento,
inicialmente, à compreensão da história do indivíduo, levando-se em conta o
desenvolvimento considerado desejável, verificando desarmonias e procurando
estabelecer, dentro do possível, em que ponto ou pontos ocorreram bloqueios.
Ao psicomotricista interessa o corpo e a motricidade de um sujeito em suas
diferentes variáveis: privilegia o olhar. Já a psicanálise ocupa-se de escutar o
discurso de um sujeito fundamentalmente em seus atos falhos, sonhos,
esquecimentos, lapsos, etc.
DESENVOLVIMENTO MOTOR
Desenvolver: Crescer aumentar, progredir. Fazer crescer, medrar, prosperar.
Desenvolvimento: Ato de desenvolver-(se).Crescimento progresso, incremento.
Motor: Tudo que se da movimento a um maquinismo. Pessoa ou coisa que faz mover ou
dá impulso. ( Dicionários Aurélio e Ruth Rocha).
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Desenvolvimento Motor: Área subdisciplinar de Estudo que se trata da mudança e
estabilidade no comportamento motor com o avançar da idéia, desde a concepção até a
morte (Dicionário da Educação Física e do Esporte).
O desenvolvimento motor é o resultado da maturação de certos tecidos nervosos,
aumento em tamanho e complexidade do sistema nervoso central, crescimento dos ossos
e músculos. São, portanto comportamentos não aprendidos que surgem
espontaneamente desde que a criança tenha condições adequadas para exercitar-se. Um
processo contínuo na vida da pessoa envolvendo vários aspectos: físico, mental, e sócio-
social.De acordo com a maioria dos teóricos, o desenvolvimento motor acontece de forma
contínua e seqüencial segundo a direção:
• Maturação - modificações físicas e comportamentais
• Desenvolvimento individual
O processo do desenvolvimento motor revela-se primeiramente, através das
mudanças no comportamento motor. As partes do corpo crescem em proporções diversas
em diferentes épocas, desde a primeira infância até a maturidade.Primeira infância vai do
nascimento até os três anos de vida da criança juntamente com ela desenvolve a fase
sensorial, fase motora e fase glóssica dos três anos aos seis anos forma-se a segunda
infância da criança e dos seis aos dez anos a terceira infância; temos também a fase
pubertária e adolescência.
Segundo GALLAHURE (1982) define-se desenvolvimento motor como conhecimento
das capacidades físicas da criança e sua aplicação da performance de varia habilidades
motoras, de acordo com a idade, sexo e classe social.
As atividades motoras são um dos fatores de suma importância para desenvolvimento
da criança em seus primeiros anos de vida, onde a criança explora o mundo que a rodeia
com os olhos e as mãos. A criança nos seus primeiro anos de vida adquire um sistema
mental maravilho que fornece aos meios para realizações de coisas inesperadas bem
como calcular perigo defender-se e supera-los.
Podemos notar que o desenvolvimento motor é um processo desde o nascimento até
a fase adulta da pessoa nunca terminando e sempre renovando. Sendo que não podemos
acelerar o andamento desse processo, pois cada instante depende de outro instante para
que ele tenha uma vida mais harmoniosa junto do movimento.
Lembrando sempre que vivemos em constante movimento.
23
FASE DE COMBINAÇÃO DE MOVIMENTOS FUNDAMENTAIS = Dos 7 aos 12 anos, há
um aumento da capacidade de combinação dos movimentos como uma melhora NA
EXECUÇÃO DOS MESMOS. NESTA FASE ELA TAMBÉM SELECIONA AS FORMAS DE
COMBINAÇÕES MAIS EFICIENTES, para execução de movimentos mais complexos e
específicos.
FASE DOS MOVIMENTOS CULTURALMENTE DETERMINADOS = Após o atingir ao
nível da fase anterior, nesta fase haverá uma melhora considerável no domínio das
habilidades e um contínuo refinamento das habilidades especificas, com melhor controle
motor.
= É IMPORTANTE SABER, QUE O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO, DESDE A
CONCEPÇÃO ATÉ A MORTE, DEVE REPRESENTAR PARA A CRIANÇA A
POSSIBILIDADE DE DESEMPENHAR, COMPREENDER E ACEITAR SEU PRÓPRIO
RÍTMO DE VIDA.
24
específico;Organização seqüencial – é a colocação dos componentes do plano
motor para as demandas do meio ambiente e os objetivos sejam alcançados.
DESENVOLVIMENTO INTRA-UTERINO
1o mês:
Até a segunda semana o óvulo não é apenas um acúmulo de células
desordenadas, é um ser com força e capacidade de formação individual, que trás consigo
uma individualidade própria.
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A cada mais ou menos 20 horas, as células se dividem e se subdividem
adquirindo, ao final de 14 dias pouco mais de 1mm de tamanho.
Entre o 15o e o 21o dia, surgem o esboço o sistema nervoso, do aparelho auditivo e
do sistema circulatório.
Entre o 21o e o 30o dia, ocorre maior desenvolvimento do sistema nervoso, surgem
os primeiros vasos sanguíneos embrionários, esboço dos membros superiores e
inferiores, esboço dos olhos, formação dos pulmões e do pâncreas, as células do cérebro
começam a se definir. Na 4 semana é a vez do coração, que nas próximas semanas
estará batendo num ritmo de 120 a 140 batimentos por minuto. São eles, cérebro e
coração que comandam, ao mesmo tempo, a formação de todos os órgãos. O embrião
mede cerca de 4 a 5 mm.
2o mês:
No início do segundo mês já se pode observar através do ultra-som uma estrutura
pouco visível, além da placenta (responsável pelo fornecimento de oxigênio e nutrientes)
e da bolsa amniótica. Entre o 30o e o 45o dia surge um esboço da região olfativa, maior
desenvolvimento do cérebro e formação da mão.
Do 45o ao 60o dia, o coração já está com quatro cavidades e dedos dos pés e das
mãos já estão separados.
Aparecem os vasos sanguíneos que unem o cordão umbilical com a placenta,
aumentando seu vínculo com a mãe.
Os olhos estão formados, porém ainda não há pálpebras (se fecharão aos 4 meses e se
abrirão aos 6 meses).
A partir daí, dependendo do sexo, desenvolvem-se os testículos ou ovários. Na 6a/
7a semana o médico, através do ultra-som pode identificar alguns movimentos, ainda
amplos e generalizados, que não são, por enquanto, sentidos pela mãe.
Em torno da oitava semana brotam os músculos, as articulações e receptores
periféricos da sensibilidade proprioceptiva ou profunda.
O embrião que será, já no mês seguinte, chamado de feto mede cerca de 22 a 24
mm na oitava semana.
Configuram-se mãos e pés, percebe-se a formação da boca, e dá-se início a
formação dos aparelhos respiratórios, circulatórios e digestivos do bebê; é uma fase de
extrema importância. Seu coração já bate cerca de 140 a 150 vezes por minuto, duas
vezes o de sua mãe. A língua está em formação e os corpúsculos gustativos surgirão por
volta do qüinquagésimo quarto dia.
3 meses:
Agora o feto mede mais ou menos de 7 a 9 cm. Já é uma verdadeira miniatura de
uma ser humano. O nariz, a boca e o ouvido externo já estão formados. Os dedos dos
pés e das mãos já estão nítidos e separados.
Durante a 9a semana se formam as partes internas dos ouvidos e dos olhos, assim
como os orifícios que darão origem às fossas nasais. Os intestinos e os pulmões já estão
praticamente formados.
Na 10a semana, o feto já consegue movimentar a cabeça, os braços e o tronco. Os
órgãos internos já estão devidamente em seus lugares, as principais articulações já são
visíveis: ombros, cotovelos, bacia e joelhos. A coluna vertebral ganha movimento discreto
e a língua e o laringe e a tireóide começam a se formar.
O feto aprende a fazer xixi, seus órgãos genitais já estão praticamente formados,
mas ainda não dá para saber o sexo do futuro bebê.
26
Ossos mais rígidos ocupam o lugar das cartilagens, as glândulas salivares já estão
trabalhando e os dedos já estão completos.
O bebê começa a engolir o líquido amniótico, que complementa sua nutrição e
desenvolve o aparelho digestivo.
O feto já dá cambalhotas que são percebidas pela mãe.
Ao final do 4o mês já alcançou 10 cm e pesa cerca de 150gr.
5 meses:
O feto já possui cabelos e começam a aparecer os cílios e as sobrancelhas.
Já é capaz de ouvir barulhos externos. No útero a propagação das ondas sonoras
se dá por meio líquido. Os estímulos são provenientes do meio externo: fora do corpo da
mãe; do meio materno; e do próprio corpo do bebê e sons oriundos de seus movimentos
no útero.
6 meses:
O feto está com cerca de 25cm de comprimento e pesa em torno de 700 gr. Seu
corpo se apresenta coberto de finíssimos pêlos, sua pele tem tom avermelhada, mas é
muito enrugada, pois não existe ainda gordura sob ela. Já comanda alguns movimentos.
Suga o polegar e chuta o ventre da mãe. Os órgãos responsáveis pelo equilíbrio, situados
dentro dos ouvidos já estão formados. Apesar de poder abrir os olhos, ainda não enxerga,
percebe no máximo o caro e o escuro. O recém nascido nasce com 0,05% de visão, se
comparado com um adulto comum. Pés e mãos já apresentam impressões digitais, as
unhas já estão formadas.
7 meses:
A gordura que surge sob a pele mantém a temperatura do corpo e serve como
reserva de energia. Mede por volta de 30cm e pesa por volta de 1.300gr. Quase não se
mexe mais, porque lhe falta espaço no útero. Aos poucos vai adquirindo a posição do
parto, de cabeça para baixo. Com os sentidos bem aguçados, ele ouve, suga o polegar,
soluça, e pode sentir o doce e o amargo.
8 meses:
Está medindo cerca de quase 30cm pesando em torno de 2 quilos, 2 quilos e meio
e quase pronto para nascer. Alguns órgãos como rins, pulmões, fígados e baço estão
formados, mais só amadurecerão nos primeiros meses de vida. Apesar de “pronto” ainda
desenvolve o sistema imunológico, aumenta o crescimento do cérebro. Sua retina está
pronta para “ver o mundo”.
9 meses:
O feto mede aproximadamente 50cm, pesa aproximadamente 3 quilos e meio,
entre a 38 e a 40ª semana de gestação. Suas estruturas estão completamente formadas.
Ele está pronto para nascer, (a partir da 37a semana, se nascer antes desse prazo é
considerado pré maturo) e tem início o trabalho de parto. No dia do nascimento seu
coração chega a bater até 170 vezes por minuto, com o passar do tempo cairá para
130b/m.
AS SENSAÇÕES
Já foi visto que a Psicomotricidade “é uma ciência que tem por objeto de estudo o
homem, através do seu corpo em movimento, nas suas relações com seu mundo interno e
seu mundo externo”.(definição da S.B.P.).Assim, não se pode esquecer de estudar as
formas, os mecanismos através dos quais este corpo se comunica com esses meios
(externo e interno).
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É através das sensações, dos nossos sentidos que recebemos os estímulos do
meio externo.
“A sensação gera movimento e vice/versa”, O sentimento gera emoção e vice/versa,
E o pensamento gera a palavra e vice/versa.”Beatriz Saboya
Sensação vem do latim (sentio, um) e quer dizer: ter ou experimentar pelos
sentidos.
Percepção vem do latim “percepiere”: apoderar-se, “percep” = colher e “ação” =
movimento, ou seja, movimento de colher.
As Exteroceptivas - que nos dão os sinais vindos do mundo exterior, criando a base do
nosso comportamento consciente “. (Saboya, 1995) olfato, visão, audição, tato, paladar. O
tato e o gosto percebemos por um contato direto, já a visão o olfato e a audição se dão à
distância, com um certo intervalo de espaço. Durante a vida intra-uterina o bebê recebe
vários estímulos (internos e externos), que lhe provocam diferentes sensações, seus
receptores sensoriais estão sendo formados desde muito cedo durante a embriogênese.
A partir de mais ou menos 4 meses, a mãe já pode sentir o bebê se mexer, ficando
ainda mais perceptível às variações sensoriais a que ele está exposto.”
Acreditava-se que por seu sistema nervos ainda não estar inteiramente
mielinizado (mielina é a substância que envolve a célula nervosa), a criança era incapaz
de se lembrar de acontecimentos e sensações ocorridas antes de seus dois anos.
Atualmente já se sabe que isso não é correto, e apesar da ausência de mielina
atrasar a condução dos impulsos nervosos, isso não impede que eles passem.
Psiquiatras, psicólogos e psicanalistas têm se confrontado constantemente com relatos
que só podem corresponder à memória pré-natal.
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Aos poucos se pode constatar que o feto não só tem sensações, agradáveis e
desagradáveis, que sente através da mãe como também reage a elas. Com três/quatro
meses ele já participa a seu modo, dos momentos de prazer e alegria de sua mãe.
Uma situação nova, desagradável ou prazerosa, desperta a atenção do feto para
um fato ainda desconhecido no seu universo e isso não deixa de ser enriquecedor para
sua memória.
Reflexos
de Moro Visão
• Preensão palmar Audição
• De sucção Contato social e emocional
• De marcha automática “Diálogo Tônico”
• RTCA...
Tônus predominantemente flexor
Postura Assimétrica
Do segundo ao terceiro mês
Tônus: diminuição do tônus flexor
Simetria Corporal: encontro das mãos na linha média
Reações Posturais:
Rolar,
Controle de cabeça 45º
Trás a cabeça quando puxado para sentar;
Reage ao peso de pé, sem sustentá-lo.
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senta com apoio
eleva a cabeça 90º (visão 180º)
Atitudes sociais: dorme menos e sorri mais, reconhece a mãe, emite sons guturais,
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DESENVOLVIMENTO SEGUNDO H. WALLON.
MOVIMENTO
31
e gestos
CONSIDERAÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS:
3O ESTÁGIO - SENSÓRIO-MOTOR
4/5 meses – marco importante – mãos ao centro
10 meses – começa a utilizar mais uma mão do que a outra
Movimento mundo
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Para Wallon a atividade simbólica é a capacidade de se dar a um objeto uma
representação (imaginada) e a esta representação, um sinal (verbal); isto se estabelece a
partir dos 1 ano e meio 2 anos.
4o ESTÁGIO - PROJETIVO
PASSAGEM DO ATO AOS PENSAMENTOS
Duas aquisições capitais: o andar e a linguagem.
A criança conhece o objeto, nesta fase, apenas a partir da sua ação sobre ele.
A ação é estruturante, estimuladora da atividade mental (que ele chama de consciência),
mais tarde esta ação será apenas executante.
O pensamento subsiste pela projeção do gesto, ou seja, ele(pensamento) é projetado no
exterior pelos movimentos que o exprimem, assim sem esta projeção em gestos ou em
palavras o pensamento não existe.
Imitação – 1o sensório motora – 2O com níveis de representação
Brinca de imitação - + ou – com 6 meses aparecem as mais simples
Maior independência, maior participação – relação com o meio.
5o ESTÁGIO - PERSONALISMO
Três períodos na evolução do EU:
• Conscientização de sua própria pessoa (personalidade polivalente), “consciência
do EU”, passa a Ter uma imagem de si mesma. – ainda relativamente débil.
• Afirmação sedutora da personalidade (com choques de sentimentos)
• Período de imitação-troca de amizades com facilidade, idade dos grupinhos, das
exclusões, “Maria vai com as outras”.
Começa com a Fase do negativismo, crise da oposição por volta dos 2 anos e meio 3
anos. Termina com a fase da gratidão. Inicialmente ela se afirma pela oposição e aos
poucos percebe que é capaz de se fazer admirar, amar e se mostrar de uma forma
positiva as que a cercam.
Personalidade Polivalente – pode participar da vida de diferentes grupos sociais (escolas
clubes), e nem sempre ocupa o mesmo papel.
Importante nessa fase os intercâmbios sociais.
6o ESTÁGIO - ADOLESCÊNCIA
Afetividade – engloba o indivíduo – grandes transformações
“A inteligência e a afetividade do adolescente, do jovem adulto, devem estar mobilizadas
para proporcionar uma vida nova, na qual será muito importante o espírito de
responsabilidade, tão fundamental a uma vida adulta plenamente realizada”.
(Ajuriaguerra_ “Manual de Psiquiatria Infantil”, Ed. Masson.
EMOÇÃO
Ponte entre
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Mãe = satisfação das necessidades básicas e das vontades
HIPERTONIA DO DESEJO
DIÁLOGO TÔNICO
HIPOTONIA DA SATISFAÇÃO
DISTURBIOS PSICOMOTORES
Não correspondem a uma lesão central como síndrome das lesões neurológicas
clássicas. São mais ou menos automáticos, motivados, sentidos, desejados, unidos ao
afeto. Porém, também unidos ao somático para fluir através de uma conduta final e por
isso não possuem as características próprias de perturbação de um sistema concreto.
São persistentes ou lábeis em sua forma, porém variáveis em sua expressão. Em
um mesmo indivíduo estão estreitamente ligados a experiências e situações. Podem
expressar—se em forma característica e conservam caracteres primitivos.
“Eles oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico, entre as vivências mais ou
menos queridas e as aceita passivamente; entre a personalidade total mais ou menos
presente e a vida mais ou menos ativa” – (AJURIAGUERRA).
A HIPOTONIA DA CRIANÇA:
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TRANSTORNO DO RITMO E MANIFESTAÇOES TÔNICO-MOTORAS
AS DESCARGAS
— as instabilidades;
— a inibição psicomotora
— os tiques
— as imperícias
— a debilidade motora de Dupré e os retardos motores
— as dispraxias
AS INSTABILIDADES PSICOMOTORAS:
Estas manifestações dos transtornos psicomotores são sem dúvida as mais
freqüentemente encontradas na clínica:
Definição: movimento excessivo e acelerado no seu aspecto quantitativo,
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improdutivo, sem finalidade em seu aspecto qualitativo e que expressa um “não
fazer".Quando a interação de uma criança não tem propósito nem significado, não se
pode considerá-a exploração perceptiva, nem aprendizagem.
Síndrome — a síndrome da criança hiperativa ou hipercinética compreende uma
atividade exagerada precoce, transtornos da atenção, impulsividade, variações de humor,
transtornos de aprendizagem e ansiedade.
A hiperatividade não é apenas um excesso de atividade, ela implica em erros de
movimentos da criança em direção aos objetos e ao próprio corpo; ela apresenta
descontrole motor, acarretando posturas e locomoções inadequadas, fala rápida,
desequilíbrio afetivo e labilidade de humor — crise de cólera pode se transformar em
carinhos, risos excessivos em crises de choro —elas tem atitudes imprevisíveis. Não se
detêm muito tempo na mesma atividade — necessidade de contínuo movimento. A
imposição da ordem é muito cansativa.
Apesar de aspecto vivo e dinâmico são lentas na execução de tarefas motoras
dirigidas; não se fixam nos exercícios.
As respostas estão em desacordo com estímulos ou são superficiais e apressadas.
Atenção de curta duração faz com que sua observação seja incompleta. Suportam mal a
punição.
Temem o insucesso e evitam desagradar por isso fogem ao risco das tarefas se não
estiverem familiarizados.
O instável opõe—se a tudo que é estável e organizado e é influenciável por tudo que
e móvel e irregular.
A criança com estas características é rejeitada freqüentemente, tem baixa
resistência à frustração, dificuldade para aceitar normas; respondem ao contato corporal
com aumento de tônus; movimentam—se sem finalidade, desconhecem o perigo. Os
contatos corporais também são agressivos. A voz é cambiante, com forte participação da
mímica. Este quadro torna-se mais evidente com o início da escolaridade.
Diz Bergés — a intolerância à instabilidade, verdadeiro pivô desta Síndrome,
acentua o que ela tem de relacional “a instabilidade é contagiosa”, “Ela perturba a classe”,
“ela me deixa fora de mim”, “ela me enerva” ou “eu estou perto de uma estafa”, são
expressões apropriadas para nos situarmos o mais próximo do fato, visto que a
instabilidade não é solitária — ela agride o olhar, ela provoca.
É interessante, que numa situação de exame, a hiperatividade pode inaugurar a
primeira parte, seguida de uma fase de contenção e controle; no entanto a “atenção ou
concentração” começam a flutuar no sentido inverso da instabilidade.
O hiperativo parece muito ligado a uma busca identificatória à potência do adulto —
as atitudes, a voz, a agressão, a “falta de tato”, os ruídos, a maneira de bater porta ou
deslocar objetos são caricaturas de traços reparáveis nos adultos. O olhar da mãe é
sempre um olhar antecipatório, persecutório.
A síndrome da criança hiperativa ou hipercinética compreende, pois uma atividade
exagerada precoce, transtornos da atenção, impulsividade, variações de humor,
transtornos de aprendizagem, ansiedade e uma resposta positiva aos tratamentos
realizados com anfetaminas.
A etiologia parece ser ligada a uma “disfunção cerebral mínima”.
Quando aparece:
__desde bebê;
__no inicio da marcha;
—no inicio da escolaridade;
—com o nascimento do um irmão que coincide com o Ingresso na escola;
—mudanças, perdas;
—sempre nos primeiros anos de vida;
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Podemos perceber, portanto a importância de dados ligados ao relacional e
emocional.
Segundo Winnicot pode ser que haja um fator muito primitivo (que date dos
primeiros dias e horas de vida) na origem, na etiologia do desassossego, e da
hipercinesia e da falta de atenção.
A partir desta hipótese relacionada à falhas ambientais é questionada a relação
das mães e seus filhos hiperativos:
— Pouco afeto, criticas excessivas e alto padrão de exigência.
— Excesso de condescendência, proteção exagerada e ausência de
autoridade.
Qualquer que seja a etiologia da hiperatividade, traduz uma relação alterada com
o meio, já que uma relação supõe o encontro entre duas pessoas — uma sintonia.
Ajuriaguerra diz — O mundo dos adultos não foi feito para o instável
Terapia:
• Viver sua hiperatividade sem censura, sem repressão, mas introduzindo limites
seguros de proteção.
• Dar lugar à atividade, valorizando-a de um modo prazeiroso, transformando o
excesso de movimento em prazer pelo movimento.
• Dar segurança - almofadas como proteção. A sala é um espaço transicional entre
a criança e o meio.Quando o excesso de movimento se transforma em jogo não
há retorno-a atividade sem sentido transforma-se em atividade prazerosa e
significativa, levando ao investimento do espaço, objetos e outras atividades.
Retardo Motor:
O conceito de “retardo motor” recupera a ação de um retardo maturativo em
relação a uma escala genética estatisticamente válida nos componentes precisos da
tônico—motricidade.
O retardo motor é compreendido numa perspectiva evolutiva, na medida em que
a motricidade contribui estritamente para a formação da personalidade.
Imperícia
Após Dupré — 1925 — se chega a diferentes conclusões para entender a criança
desajeitada. Surge a causa da lateralidade — é necessário haver um diagnostico preciso
da lateralização, distinguindo a lateralidade gestual espontânea da organização tônica
lateralizada do eixo do corpo.
Tiques
Foi em data recente que os tiques passaram a fazer parte dos distúrbios
psicomotores
Definição — movimentos involuntários bruscos e subtos, rápidos e repetidos;
eles envolvem um ou mais grupos de músculos ligados funcionalmente;
—são intempestivos surgindo nos momentos mais inoportunos
—são escandalosos, dão na vista.
—são sistemáticos — é uma caricatura do ato natural
—eles podem envolver todo o corpo.
Seja qual for a topografia da manifestação, o tique apresenta determinadas
características no seu aparecimento:
O estado de tensão vai aumentando e passa a ser sentido no corpo; nas vísceras, nos
músculos, chegando a modificar o curso do pensamento, alterando a atenção e
interferindo na comunicação.
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INIBIÇÃO PSICOMOTORA
DEBILIDADE PSICOMOTORA
DISPRAXIAS
Formas clinicas:
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2-Construtivas__pode ser uma forma isolada: cópia de figuras geométrica, bicicleta
relógio, etc... Em geral a lateralidade está mal estabelecida, há dificuldade de
conhecimento dos dedos (agnosia digital), com alterações do conhecimento do corpo,
sem que a atividade gestual esteja desorganizada.
ESQUEMA CORPORAL
Refere-se ao conhecimento que temos de nosso corpo
• Provêm de informações proprioceptivas, interoceptivas e exteroceptivas.
• É de ordem evolutiva, porque o corpo muda de tamanho, peso, medidas e, em
conseqüência, mudam as possibilidades e coordenações funcionais.
• Implica numa representação: pode-se falar das partes do corpo, das funções, das
relações espaciais e da dimensão temporal do corpo.
• Pode ser medido, comparado, pesado.
• É pré-consciente e consciente.
• É um conceito intuitivo e sintético do corpo e possui quatro aspectos que o constituem:
1. Nomeação das partes do corpo
2. Localização das partes do corpo
3. Conscientização das partes do corpo
4. Utilização das partes do corpo
Os dois primeiros possuem um caráter objetivo, pois, são idênticos para toda a espécie
humana.
Os dois últimos, no entanto, vão estar diretamente ligados à experiência individual e a
aprendizagem, tendo um caráter mais subjetivo.
O Esquema Corporal é o canal por onde circula a imagem do corpo, é nosso equipamento neuromotor,
tradutor do que sentimos e vivemos como sendo nós mesmos. É o que damos a ver ao outro, é uma
representação.
IMAGEM CORPORAL
• Sua construção está relacionada com a história individual de cada um e as relações
que este estabelece com os afetos que recebe nas relações com o mundo
• É construída com base nos contatos sociais, nas relações com o outro, sendo
resultado de um processo de co-construção.
• É elaborada de acordo com as experiências que obtemos através dos atos e atitudes
com os outros.
• É um conceito subjetivo, logo, sendo singular, é constitutiva do sujeito.
• Não é um fenômeno estático, pois sofre as mutações a cada afeto recebido, podendo
se resignificar a cada instante, até o fim de nossos dias.
• É estruturante para a identidade do sujeito.
• Não pode ser medida ou quantificada.
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• É inconsciente.
TEMPO E ESPAÇO
Orientação Espacial e Temporal
Organização Espacial e Temporal
A estruturação espaço-temporal é importantíssima no processo de adaptação do
indivíduo ao meio, visto que, todos e tudo ocupam um determinado lugar no espaço em
um dado momento.
A orientação espacial e temporal corresponde à organização intelectual do meio, e
está ligada à consciência, a memória, às experiências vivenciadas pelo indivíduo.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO
De que forma se dá essa construção?
Desde a vida intra-uterina através das sensações corporais:
- Mudanças na posição do bebê
- Mudanças na posição da mãe
- Pressão intra-uterina (crescimento do bebê)
- Contato com o próprio corpo dentro do útero (sugar o dedo, contato com o
espaço que o cerca “barriga da mãe”).
A partir do nascimento:
- Posição que o bebê fica no berço, no colo da mãe...
- O peito da mãe – objeto de desejo
- Olhar para a mãe durante a mamada, troca de fralda... – relação com o outro
- rolar
- Arrastar-se
- O bebê começa a perceber os objetos e a tocar-lhes com as mãos
(coordenação óculo-manual)
- Preensão dos objetos – lançar os objetos longe, “pedir” objetos que não
estejam presentes.
- Levar objetos à boca
- Engatinhar, subir/descer; passar por baixo/passar por cima; ir atrás dos objetos
e móveis, desviar...
- andar
Nomeando os espaços:
40
. Antes dos 3 anos: Espaço Topológico vivido, cujos pontos de referência são o
próprio corpo. O Espaço Topológico se caracteriza por relações de vizinhança, de
separação, de ordem, de continuidade... É quando os conceitos espaciais têm relação ao
próprio corpo.
. Entre 3/ 7 anos: Espaço Representativo Euclidiano - a criança é capaz de
reconhecer as formas geométricas, é um espaço caracterizado pela integração das
estruturas espaciais, aparece o “vocabulário espacial”: Alto/baixo; longe/perto... É quando
os conceitos espaciais têm o corpo como referência.
. A partir de 9/10 anos a criança dá ao espaço uma dimensão homogênea e é
capaz de projetar no espaço as formas (geométricas) que o organizam: Espaço Projetivo
intelectualizado. Neste momento os pontos de referência são exteriores ao corpo da
criança. (objeto x objeto).
A CONSTRUÇÃO DO TEMPO
A linguagem é um pré-requisito fundamental na estruturação do tempo.
À medida que a criança vai adquirindo noções de “tempo” ela vai aprendendo a
utilizar e compreender, cada vez de forma mais adequada, os verbos auxiliares (ser, ter) e
os tempos verbais.
A noção de tempo envolve simultaneamente, noções de duração, ordem,
sucessão e permite que o indivíduo se situe, se organize e coordene suas atividades e
sua vida cotidiana, dando seqüência a seus pensamentos, gestos, movimentos sem se
“atropelar”.
As noções temporais são muito abstratas e por isso são, muitas vezes, difíceis de
serem assimiladas pelas crianças. Elas requerem também uma maturidade que só a
vivência e a experimentação poderão desenvolver.
A criança pequena vive no “tempo presente“, aos poucos vai adquirindo noções
de:
● sucessão de acontecimentos: antes/depois,
Durante/depois,
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Em primeiro/por último...
● duração de intervalos (aqui encontramos o ritmo, que veremos mais tarde em
outro item) : tempo longo/tempo curto;
1 hora/1 minuto, ritmo regular/ritmo irregular (constância e inconstância,
aceleração e freada), ritmo lento/ ritmo rápido (diferença entre correr e andar).
● ordem: - renovação cíclica de períodos: (dias da semana, meses, estações..)
- caráter irreversível do tempo: (“já passou”), noção de envelhecimento,
idade, crescimento...
Sabemos que a criança está inserida num tempo e num espaço mesmo antes de nascer.
A partir do nascimento, a noção de tempo vai se tornando muito presente na vida
do bebê. Existe o intervalo das mamadas, a preparação para as atividades do cotidiano
(ex: a criança percebe que está chegando a “hora” do banho, da alimentação, de dormir,
de acordo com a movimentação de sua mãe).
Aos poucos ela vai aprendendo a “esperar”: “eu já vou!”, “Depois mamãe te dá”...
“primeiro tira o sapato, depois entra no banho.” Etc.
A criança, inserida nesta “linguagem temporal” desde que é “desejada” (ex: “você
vai ser muito amada”, pensa a mãe ainda grávida.), começa a utilizá-la, mais ainda troca à
concordância verbal e a ordem dos acontecimentos. (“mãe, ontem eu vou na vovó?”)
Podemos perceber o tempo de 2 formas:
. tempo subjetivo: varia conforme o momento (momento prazeroso parece que
dura menos do que o momento de dor, medo ou angústia).
. tempo objetivo: este é sempre idêntico, é matemático, contado, e controlado: e 5
minutos é sempre 5 minutos!
Durante o dia a dia, trabalhamos com o tempo objetivo, existe a hora do banho, do
almoço, os dias de aula e os finais de semana, os meses de férias, as datas
comemorativas etc.
A rotina de uma escola, por exemplo, auxilia a criança na percepção e
estruturação do tempo objetivo.
A professora verbaliza o que vão fazer depois de determinada aquela tarefa. A
criança mesmo pequena já sabe que vai ter a “hora” do recreio, do lanche, e a “hora” da
mamãe chegar.
De que forma se dá essa construção?
A aquisição da temporalidade pela criança:
1o vive de forma intensa o tempo presente - antes de 1 ano.
2o percebe o que acontecerá de imediato, o bebê faz a besteira e olha para a mãe
esperando a “bronca” ou faz uma gracinha para agradar – após 1 ano.
3o é capaz de esperar alguns minutos por algo que deseja – 2 anos.
4o começa a entender o que quer dizer “agora chega” , “não dá mais tempo”,
“acabou” mesmo que ainda não aceite muito bem – 2/3 anos.
5o percebe a periodicidade de alguns ciclos: um dia após o outro, manhã, tarde,
noite etc. – 3 /4anos.
6o é capaz de compreender a renovação cíclica de períodos mais abstratos:
dias da semana - + ou- 6 anos
meses do ano - + ou- 7 anos
os anos: + ou- 8 anos
dia do mês: + ou- 8 anos
7o começa a compreender o tempo objetivo e o subjetivo através de vivências: a
criança sabe que 5 minutos de brincadeira é pouco e 5 minutos esperando é muito,
apesar de saber serem os mesmos 5 minutos. Passa a ser capaz de avaliar a duração de
uma conversa, de um programa: a partir de 9 anos.
8o indica hora com aproximação de 20 minutos: a partir de 11 / 12 anos
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9o nesta fase o indivíduo já possui um conjunto de lembranças pessoais e uma
visão mais realista do futuro com todos os sentimentos, bons e ruins, que o futuro e o
passado comportam.
À medida que as crianças vão adquirindo a noção de tempo, duração e ordem elas
passam a, não só, organizarem melhor seus pensamentos e suas atividades do dia a dia,
como a compreender melhor o mundo que as cerca.
Com as noções de tempo, ordem e duração surgem também às noções de
alternância e cadência, elas desenvolvem juntas o que chamamos de ritmo.
A orientação temporal seria, então, o conhecimento de todos estes conceitos
temporais que vimos até aqui.
A organização temporal vai referir-se à utilização de tais conceitos pelo sujeito em
questão.
Em Psicomotricidade verificamos a inter-relação entre os conceitos espaciais e
temporais naquilo que chamamos de ESTRUTURAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL.
LATERALIDADE
ETIMOLOGIA:
Qualidade ou estado lateral (lateral do latim laterale – relativo a lado).
O termo “direita” tem, nas diversas línguas, o significado de justo, franco, certo,
honesto, habilidoso, caracterizando boas qualidades.
O termo “esquerda” refere-se a torto, torcido, desajeitado, e na Itália significa
canhoto, mas também ladrão.
A lateralização é a tradução de uma assimetria funcional.
para Le Boulch (1982:92) “a instalação e a qualidade lateral está na dependência da
dominância hemisférica”.No entanto, segundo Fonseca (1988:130) “as funções mais
importantes não são desempenhadas por um só hemisfério; trata-se de uma ação
recíproca e mutuamente inter-relacionada, não existindo uma autoridade exclusiva de
qualquer dos dois hemisférios”.
Essa desigualdade vai se tornar mais precisa durante o desenvolvimento, graças a
fatores inatos e sociais.
Existem várias classificações de lateralidade, uma delas nos é fornecida por Jean
Bergès que propõe:
1 - lateralidade espontânea ou inata – ligada às atividades gestuais, não aprendidas:
visão (mira); atitude, orientação cefálica, etc. Esta seria reflexo de uma lateralidade
neurológica, como função de uma dominância hemisférica constitucional, que pode ser
observada no aumento da tonicidade de um dos lados do eixo corporal, desde bebê.
2 - lateralidade de utilização – adquirida em função dos aspectos sociais, escolares,
familiares, etc, que se reflete num predomínio manual (e pedal) nas atividades cotidianas.
Segundo Gesell, a partir dos primeiros meses de vida já podemos notar a
dominância lateral inata , através da observação do rtc (reflexo tônico cervical), e
inclusive prevê-la em 75% dos casos.
O esboço de prevalência manual poder ser observado por volta dos quatro meses
através da capacidade que a criança adquire de seguir com os olhos sua mão, graças à
organização telecinética, que implica na atividade dos tubérculos quadrigêmeos que
coordenam o jogo de três pares dos músculos oculares.
Porém, apesar de todos estes dados, a estabilização lateral se faz entre os seis e oito anos de idade.
Durante este período evolutivo a criança encontra-se sujeita às pressões sociais.
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Na análise da lateralidade, devem ser investigadas não somente a predominância
manual, mas também a ocular, a auditiva, a pedal e a expressiva.
1 – ocular: prova de sighting – solicita-se que o sujeito olhe por uma luneta ou canudo;
2 – auditiva: solicita-se que o sujeito fique de costas, realizamos um sinal sonoro e
observa-se para que lado o sujeito gira o corpo. pede-se que o sujeito simule atender ao
telefone;
3 – manual: solicita-se ao sujeito que realize alguns arremessos, com uma das mãos.
caso ele venha a alternar o uso das mãos, pede-se que dramatize funções uni-manuais
do cotidiano (escovar os dentes, bater um prego, etc)
4 – pedal: solicita-se ao sujeito que chute um objeto, depois que, com um pé só, conduza
um objeto, e ainda que salte num só pé*.
5 – expressiva: observação de atividades espontâneas e da gestualidade do sujeito.
*no caso de, somente neste exercício, o sujeito alterar o uso da perna de apoio, verificar o equilíbrio.
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A dominância estável dos termos “esquerda", “direita” no próprio corpo, só é
possível se verificar por meio da experiência da diferenciação motora, e seu
reconhecimento se dará por volta dos 5/6 anos.
Já a noção de reversibilidade, capacidade da criança de reconhecer esquerda- direita fora
do próprio corpo, numa pessoa ou objeto à sua frente, só poderá ser abordada depois dos
7 anos 7 anos e meio.
O RITMO
O ritmo, então, também abrange as noções de ordem, duração e sucessão e está
ligado à estruturação espaço - temporal.
O ritmo integra o espaço e o tempo e estrutura as ações externas, através da
alternância e da cadência.
Há dois tipos de ritmo: os externos e os internos
Os externos organizam a sucessão de eventos naturais: ritmo do dia, das horas,
da germinação, floração, migração de animais etc.
Os internos estão ligados ao próprio corpo do indivíduo.
Todos nós temos o que chamamos de “ritmo próprio” que tem a ver com nossas
experiências de vida, com nossa personalidade e com nossa condição emocional. É
preciso respeitarmos o ritmo de cada indivíduo, auxiliando-o caso esse ritmo esteja
prejudicando ou retardando seu desenvolvimento.
EQUILÍBRIO
• O Aparelho labiríntico, órgão central do equilíbrio, mieliniza-se precocemente, muito
antes que todos os núcleos dos nervos cranianos.
• As modificações de postura durante a gestação deixam marcas no sistema neuro-
labiríntico do feto, no entanto o recém nascido manifesta poucos indícios de postura
antigravitária eficiente
• Algumas reações de equilíbrio, passo a passo:
- Os reflexos labirínticos só se registram francamente a partir do 2º mês, com a
busca da verticalização da cabeça.
“todas as reações têm por efeito suscitar, forçosamente, aferências proprioceptivas que são recolhidas
pelos centros e, em particular, pelo córtex cerebral onde se associam as aferências exteroceptivas
sensitivas e sensoriais... é provável que as relações anatômicas e funcionais entre o córtex e os outros
centros, em particular com o cerebelo, necessitem de um tempo bastante longo e variável, antes de se
estabelecerem definitivamente no que diz respeito à marcha".
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- A reação de bloqueio da queda (paraquedismo) – sinergia labiríntica básica é um
reflexo de maturação, resultado da integração neurológica entre o aparelho
labiríntico e o sentido da visão, onde as mãos vêm a participar das reações do
equilíbrio. esta reação postural surge a partir dos 6 meses e persistirá para toda a
vida.
“... o equilíbrio não é mais que um sistema incessantemente modificável de reações compensadoras que
parecem, em todo momento, modelar o organismo frente às forças opostas do mundo exterior...”.
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Proprioceptores:
- músculos-tendinosos (fusos)
- articulares (corpúsculos de golgi)
- labirínticos
Nome: ......................................................................................................................................
Idade:.......................................................................................................................................
Escolaridade:............................................................................................................................
Sessão nº: .................................................................................................................................
Data: ___/___/___
ÍTENS A OBSERVAR
Observação:...............................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
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02= Modalidades de brincadeiras
A. Plasticidade:
a) Expressa-se de diferentes maneiras, com diferentes brinquedos (objetos),
seus sentimentos e conflitos no brincar.
b) Modifica a função dos brinquedos (objetos), adequando-os às
necessidades de expressão.
B. Rigidez:
a) Utiliza brinquedos, verbalizações, gestos, seqüências, de forma
exclusiva (predominante) para expressar seus sentimentos e conflitos.
C. Estereotipia e perseverança:
a) Repete uma e outras vezes o mesmo comportamento, brinca sempre
com o mesmo brinquedo.
b) Não há comunicação (verbal, gestos, etc) durante a brincadeira.
Observação: ..............................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
3= Personificação
a) Que tipo de papel atribui aos brinquedos (objetos) enquanto
brinca: ...........................................................................................................................
.......................................................................................................................................
............
b) Papel que
assume: ........................................................................................................................
..............
c) Papel que atribui a
si ...................................................................................................................................
..
d) Alterna sucessivos papéis a si
.......................................................................................................................................
e) Alterna sucessivos papéis aos brinquedos
.......................................................................................................................................
f) Papel atribuído é próximo a realidade
.......................................................................................................................................
g) Papel atribuído é próximo a fantasia
.......................................................................................................................................
h) Solicita do observador atribuir-se algum papel
.......................................................................................................................................
i) Solicita do observador assumir algum papel
.......................................................................................................................................
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Observação: .............................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
4= Motricidade
a) Manipulação do brinquedos (objetos).
b) Uso do corpo, de4 acordo com o solicitado no momento (deslocamento, estático,
equilíbrio, etc).
c) Gestos e posturas compatíveis com a expressão.
d) Ritmo dos movimentos (rápido, lento, estável, etc).
e) Capacidade de preensão.
f) Exploração do espaço no uso dos brinquedos (objetos) entre si.
g) Exploração do espaço da sala.
h) Lateralidade
i) Tonicidade (força, leveza nos movimentos ao brincar).
j) Seqüência dos movimentos.
k) Seqüência ao brincar (começo, meio, fim).
l) Compreensão da função de cada brinquedo.
Observação: ..............................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
5= Criatividade
a) Usa os brinquedos de várias formas
b) É criativa na utilização dos materiais disponíveis na sala.
c) Abertura para novas experiências.
d) Fica satisfeita com suas descobertas e criações.
e) Divide com os outros suas descobertas.
Observações: ............................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
6= Emocional
a) Tolerante à frustração
b) Intolerante à frustração
c) Reação diante dos limites colocados pelo observador – outras crianças (se for de
grupo)
d) Comportamentos ao iniciar qualquer atividade na sala.
e) Reações diante de atividade que se propões a realizar.
f) Suportes materiais que utiliza para expressar suas fantasias e conflitos.
g) Resolve as situações de conflito que surgem.
h) Possui capacidade de adequação à realidade.
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i) Aceita seu papel na sala.
j) Aceita o papel do(s) outro(s).
k) Auto-conceito positivo – negativo.
Observação: ..............................................................................................................................
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7= Intelectual
a) Utiliza-se de raciocínio lógico.
b) Estrutura a brincadeira com coerência.
c) Compreensão a ordens, limites, instruções.
d) Linguagem adequada e compreensiva.
e) Sabe se sair com desenvoltura de situação – problema.
f) Capacidade de concentração/atenção/memória/interpretação.
g) Curiosidade.
h) Abertura a novas aprendizagens.
Observação: ..............................................................................................................................
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8= Social
a) Interação com observador.
b) Interação com as outras crianças (se for em grupo).
c) Liderança
d) Iniciativa/dependência/passividade
e) Brinca sozinha – busca companhia
f) Demonstração de afeto ao observador/outras crianças.
Observação: ..............................................................................................................................
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...................................................................................................................................................
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Conclusão
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REFERÊNCIAS:
GARCIA, Regina Leite (org.). O Corpo que Fala Dentro e Fora da Escola. Rio de Janeiro.
DP&A. 2002.
GESELL, A. - El Ninõ de Uno a Cinco Años - Editorial Paidós, Buenos Aires, 1956.
NETO, Francisco Rosa. Manual de Avaliação Motora. Porto Alegre, Artes Médicas, 2002.
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FERREIRA, Carlos Alberto de Mattos & RAMOS, Maria Inês Barbosa. Psicomotricidade,
educação especial e inclusão social. Rio de Janeiro: WAK, 2007.
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