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e Ciências Forenses
Módulo I: Criminalística
Docente Responsável: Prof. Dr. Jesus Antonio Velho
Santarém, 2014
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FORENSES – IPOG SANTARÉM/PA 2
(Uso autorizado somente aos alunos, no interesse específico do mencionado Curso)
1- Introdução
É inegável que a primeira ciência a emprestar seus serviços à Justiça foi a Medicina.
Segundo FRANÇA (1998), já no Império Romano havia relatos de médicos chamados pelos
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Esse conhecimento científico gerado ultrapassa as barreiras da Justiça Criminal e pode auxiliar na
análise de elementos materiais de interesse da Justiça de forma geral, incluindo as áreas cível e
trabalhista. O resultado acumulado dos conhecimentos científicos e tecnologias gerados pelas
Ciências Forenses são agrupados em um sistema, a Criminalística, que estrutura e impõe regras de
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como bem aplicar esses conhecimentos, de uma forma precisa e segura, para responder aos
preceitos legais
Gilberto Porto, em seu “Manual de Criminalística”, de 1959, coloca a criminalística como um
sistema, de acordo com o que também apresentou o fundador do conceito, Hans Gross, em seu
livro System der Kriminalistik, de 1893. Isso porque, segundo este autor, a criminalística apenas
sistematiza o uso de técnicas e metodologias de diversas ciências (Química, Física, Biologia) com
de regras precisas, de forma a servir ao interesse da Justiça.
Já segundo o ilustre Professor Eraldo Rabello, profissional que dedicou sua vida ao ensino de
criminalística e ao exercício da perícia criminal, Criminalística se conceitua por:
Verifica-se nos principais dicionários que o termo “disciplina” geralmente é ligado ao esforço
didático de transmissão de um conjunto de conhecimentos. “Sistema” é um conjunto de elementos
interconectados, de modo a formar um todo organizado, com determinado objetivo. Considerando
que a criminalística é a organização de conhecimentos oriundos de diversas ciências, cabe, sem
dúvida, classificá-la como sistema. Lembrando, porém, que sua finalidade última é a geração de
respostas às questões técnicas formuladas pela Justiça e transmissão destas para instruir um
processo, insere-se também no conceito de disciplina por ter como fim último a transmissão de
informações, seguindo determinado método e estrutura ( exame e laudo pericial, respectivamente).
O diagrama a seguir ilustra essa questão, com os diversos ramos da ciência contribuindo para as
Ciências Forenses, que, por sua vez, alimentam o sistema de Criminalística, com suas técnicas e
metodologias específicas para cada demanda.
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Figura 01- Inter-relação entre os diversos ramos da ciência, as Ciências Forenses, e a Criminalística
E o que é a Perícia Criminal? Segundo o dicionário “Aurélio”, perícia tanto quer dizer
habilidade, destreza, conhecimento quanto vistoria ou exame de caráter técnico e especializado. A
partir das conceituações iniciais, podemos, portanto, definir a perícia como sendo expressão
genérica que abriga a realização de diversos tipos de exames de natureza especializada, visando a
esclarecer determinado fato sob a ótica científica.
Se formos nos valer também da definição vernacular, encontraremos que perito é o profissional
“experimentado, experiente, prático, sabedor ou especialista em determinado assunto”. Se
analisarmos a partir dos regulamentos vigentes, porém, em especial os previstos no CPP, só podem
realizar exames periciais profissionais que tenham formação acadêmica em nível de graduação,
dentre outras regras ali estabelecidas.
É a partir dessa exigência de escolaridade (donde o legislador pressupõe, em tese, que tal
profissional é especialista) que somente os profissionais de nível superior podem realizar perícia,
tanto na área criminal quanto na cível e trabalhista. Todavia, esses são parâmetros mínimos para o
cumprimento da legislação, já que do perito muito mais é exigido no campo da especialização e
prática profissional.
O perfil esperado do perito deve incluir boa cultura científica sobre os mais variados campos do
conhecimento, de maneira que possa identificar possibilidades de exames, mesmo em áreas fora de
seu ramo de especialização, buscando auxílio de outros especialistas em assuntos que não são de
seu domínio específico. Deve conhecer também a legislação, de forma a saber o que se espera dele,
e quais as regras a que ele se submete. E, claro, o perfil do perito exige que tenha como principal
atributo profissional a especialização em determinada área das ciências e tecnologias.
4. Criminalística e Ciência
A utilização do método científico é a base da criminalística, visto que tudo que é por ela analisado,
com o apoio das diversas ciências, só se presta ao laudo pericial se preencher os requisitos
científicos básicos, ou seja, se utilizar métodos comprovados, possíveis de serem testados, e que
outros possam, fazendo os mesmos exames, chegar aos mesmos resultados. Diferencia-se assim do
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trabalho de investigação, que pode ser empírico e, muitas vezes, depende do talento e feeling do
investigador. Assim, dois investigadores, ainda que baseados em um método, certamente tomariam
rumos distintos na mesma investigação, o que não pode ocorrer na perícia, que deve se valer de
metodologias claras e precisas, de forma a chegar a resultados igualmente claros e precisos.
Só se considera parte da criminalística, portanto, os fatos que podem ser analisados por
técnicas consideradas “científicas”. Surge, portanto, a pergunta: o que pode e o que não pode ser
considerado “científico”?
No início, a relação do homem com a natureza era de assombro. Ele via os fenômenos
como manifestações divinas e sobrenaturais. Aos poucos foi percebendo que alguns fenômenos
obedeciam a leis, ou seja, a princípios que sempre se repetiam. Passou a compreender, por
exemplo, que os materiais tinham determinada resistência, sempre de acordo com sua natureza e
condição. Surge assim a separação entre o que é conhecimento e o que é crença ou opinião, sendo
o conhecimento o que se refere a fenômenos sistematizados de forma clara, possível de ser
compreendido e aplicado da mesma forma por quem quer que seja, construindo o que hoje
entende-se por ciência.
Atualmente, o método científico é baseado no teste de hipóteses. A partir de uma dada
teoria, realizam-se experimentos e, verificando-se corretas as hipóteses, a teoria é aceita e passa a
ser utilizada. Caso surjam novos questionamentos, são feitos novos ensaios e a teoria pode resistir
aos novos questionamentos ou ser derrubada. Não há, portanto, nenhuma teoria permanente na
ciência, todas estão continuamente sendo colocadas à prova.
Ainda assim, em alguns casos, o método de análise não permite que se chegue a uma
resposta categórica sobre determinado assunto. Porém, se tal imprecisão for conhecida, e constar,
no corpo do laudo, os limites dessa análise e de seu resultado, o resultado pode ainda servir aos
interesses da criminalística, visto que instrui o processo, ainda que parcialmente, quanto às
características do objeto de perícia e às limitações para obter maiores informações sobre o mesmo.
É o caso, por exemplo, dos exames preliminares de constatação de drogas, que serão
estudados no módulo de Química Forense. Sabe-se de antemão que a metodologia utilizada
apresenta resultado positivo para determinadas substâncias diversas daquela que se busca, o
chamado “falso positivo”. Conhecendo tais limitações e atendendo ao interesse da Justiça de ter
uma resposta rápida para decidir quanto a um possível flagrante, optou-se por adotar esse
procedimento, reservando, porém, a exames mais complexos, realizados em laboratório, a resposta
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definitiva quanto à substância em questão e, com ela, a decisão final quanto ao suposto crime
relacionado à substância.
Como já foi dito, a criminalística utiliza todo o conjunto da ciência para oferecer as
respostas demandadas pela Justiça. A ciência avança e hoje é capaz de dar respostas precisas sequer
imaginadas há 50 anos, como a definição inequívoca de paternidade, por meio dos exames de
DNA.
Parte dos exames realizados no âmbito da Perícia Criminal vale-se de uma ciência já
bastante desenvolvida em diversas áreas de aplicação, como a Química, com inúmeros institutos de
pesquisa nas mais diversas áreas e aplicações. Outros, como os relacionados à papiloscopia, estão
restritos a poucos campos de aplicação além dos relacionados à Criminalística, como a identificação
civil.
Em alguns casos, a metodologia para abordar determinados assuntos (exames) ainda não está
consolidada. Nesses casos, cabe ao perito optar por um método e deixar claro no laudo sua opção
por uma determinada metodologia em detrimento das demais. Isso é natural no campo da pesquisa
científica, mas pode soar inadequado ao jurista, que espera uma resposta sólida aos seus quesitos.
Assuntos como valoração de danos ambientais, por exemplo, possuem diversas metodologias, e,
com elas, diversos resultados para um mesmo caso. Cabe ao perito deixar claro no laudo sua opção
por uma determinada metodologia em detrimento das demais, e aos operadores do Direito o debate
sobre a mais adequada para o caso em tela.
Surge então a pergunta: até que ponto podem as ciências forenses valerem-se de métodos ainda em
fase de testes e desenvolvimento? Não é o laudo pericial apenas a afirmação indubitável de algo
concluído com base em exames sólidos sobre os vestígios do crime? A resposta é não. Além do fato
de que, no sistema judiciário brasileiro, o juiz conclui pela livre apreciação da prova, pode o perito
se valer de qualquer metodologia tida como científica, desde que indique ser a mais adequada para
o caso e possa explicitar suas limitações no corpo do laudo.
Cada vez mais a revisão ou simples discussão de laudos torna-se comum no processo penal
brasileiro. Dada a rápida evolução das ciências em geral e das ciências forenses, especificamente,
bem como da legislação acerca de assistentes técnicos das partes, que acompanham e verificam os
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exames dos peritos, a revisão pode vir a ser ainda mais comum, sendo a perícia novamente
realizada, à luz de novas técnicas, possibilitando novas respostas e garantindo o direito à defesa.
O desenvolvimento (ou aumento de complexidade) de nossa sociedade levou também à
maior complexidade dos tipos penais e dos conflitos patrimoniais e pecuniários. Assim, aumenta
também a demanda por análises técnicas de fatos anteriormente tidos como menos relevantes. A
História nos mostra que os primeiros técnicos chamados aos tribunais foram os médicos, para
ajudar a estabelecer a causa mortis nas suspeitas de assassinato. Isso porque o assassinato é um dos
primeiros crimes definidos como tal. Com isso, a ciência desenvolveu, desde há muito tempo,
ferramentas para atender a essas demandas. As mesmas já foram testadas e discutidas, estando hoje
relativamente consolidadas, ainda que sempre surjam novos conhecimentos que permitem agregar
mais informações ao laudo pericial.
Já no mundo moderno, onde novas demandas vêm surgindo numa velocidade espantosa,
vemo-nos obrigados a cada dia inventar novas metodologias para a criminalística. Assim, a
fonética forense, por exemplo, que visa entre outras coisas à individualização da voz humana, é um
ramo novo da ciência. O que hoje escrevemos a seu respeito pode, em um futuro próximo, não ser
mais considerado verdadeiro, pois ainda há muito a desenvolver e a discussão, e principalmente a
contestação técnica e validação, tem um longo caminho pela frente.
As técnicas utilizadas na criminalística, portanto, como quaisquer outras técnicas
científicas, devem ser colocadas à prova constantemente, desde que a contestação também siga o
rigor científico. O que então era considerado correto, caso não sobreviva à contestação, deve ser
abandonado ou suplantado, caso surja outra metodologia mais eficiente. Assim, todo laudo é
passível de contestação. Um bom exemplo é o chamado “teste do nitrito”, descrito no capítulo de
Química Forense. Esse teste foi utilizado pela perícia durante muitos anos para verificar quanto à
recentidade de disparo de uma arma de fogo. Hoje, após inúmeros testes e experimentos para
validação, é tido como não confiável e não mais é aceito pela Associação Brasileira de
Criminalística.
A perícia cível trata dos conflitos judiciais na área patrimonial e/ou pecuniária. O tipo de exame ou
conhecimento científico a ser aplicado dependerá da necessidade específica de cada exame que for
realizado. Para fazer uma perícia cível, o profissional precisa ter formação universitária,
preferencialmente na área em que o exame é solicitado, e ser devidamente registrado no respectivo
Conselho Regional de fiscalização da categoria (quando houver). Como podemos observar, a
execução da perícia cível é atividade liberal exercida por profissionais de nível superior, escolhidos
– pelo juiz ou pelas partes – de acordo com formação acadêmica específica para o exame a ser
feito. Evidentemente, se não houver profissional com formação específica para determinado
exame, a lei não impede que seja nomeado outro profissional, desde que tenha curso superior.
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os
vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
Estes dispositivos determinam que os vestígios de um crime sejam analisados pelo Perito
Oficial e a penalidade para a ausência destes exames é a NULIDADE como podemos verificar no
artigo 564 do CPP:
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no
Art. 167;
c) ...
No âmbito do direito penal, a Criminalística, bem como a investigação, busca estabelecer ou provar
três questões fundamentais:
(1) A existência de um crime (O que aconteceu?): por meio dos conhecimentos científicos e das
técnicas criminalísticas aplicadas a cada caso específico do tipo de perícia a ser feito, estaremos
esclarecendo o que aconteceu. Ampliando a aplicação deste objetivo, claramente pode ser válida
para todo tipo de perícia, inclusive a perícia civil e trabalhista. Referindo-nos a pergunta geral “o
que aconteceu”, além do crime também estaremos buscando caracterizar o fato periciado,
independente de ser crime ou não – no último caso, o fato cível ou trabalhista periciado.
(2) A identidade do criminoso (quem?): Este objetivo é muito claro no seu próprio enunciado. Por
meio das técnicas e conhecimentos científicos a perícia deverá estabelecer a individualização do
autor do crime. Ou, no caso da perícia cível em geral, quem deu causa ao fato periciado. De certa
forma este tópico na perícia cível não toma grande importância, uma vez que na maioria dos casos
esta resposta está automaticamente respondida nos autos do processo.
(3) Seu modus operandi (como?): Parte importante dentro de todo o universo da investigação para
esclarecer determinado fato e, principalmente, chegarmos à identificação do seu autor.
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Suponha que alguém fraude um registro contábil para encobrir saída indevida de dinheiro, em um
caso hipotético de crime que demande perícia contábil. A pessoa que praticar tal ilícito o fará da
forma que julga mais fácil e que não seja descoberta. Utilizará, por exemplo, alguma máquina para
autenticar o pagamento fictício de alguma guia de imposto. Nesse ato, teremos como elementos
principais da caracterização a própria máquina utilizada e o local/forma no suporte (guia) onde foi
“autenticado” o pagamento.
Quando o perito analisar tal documento, vai começar seu exame exatamente pelas características da
autenticação naquela guia. Certamente, todos os aspectos relacionados à forma como tal documento
foi produzido e autenticado serão minuciosamente analisados, propiciando ao perito – pela análise
do modus operandi – chegar a outros elementos para o esclarecimento total daquela situação. Pela
observação criteriosa do modo como alguém realiza alguma coisa, portanto, poderemos chegar a
outras informações importantes que completarão o conjunto das ações que envolveram tal fato.
Num local de crime podem ser obtidas diversas informações a respeito do que ocorreu ali e
da autoria da conduta questionada. Essas informações apresentam variados graus de
disponibilidade, podendo se apresentar de maneira explícita ou não.
Geralmente, os operadores do Direito: juízes, promotores e advogados, vinculados a
determinada ação penal não tiveram acesso à cena de crime. Suas convicções serão construídas
com os elementos que a investigação e a perícia elaborarem.
Essa é a principal razão pela qual numa análise de uma cena de crime deve-se procurar
obter a maior quantidade de informações possível. São essas informações que lastrearão o
conhecimento dos fatos ocorridos, sua dinâmica e configuração.
A recenticidade dos fatos e a oportunidade, por vezes única, do adequado tratamento do
local demandam um imperioso cuidado e planejamento da abordagem de uma cena de crime.
Frequentemente, a análise de informações contraditórias demanda, por parte dos
investigadores envolvidos, o uso do bom senso e de sua discricionariedade enquanto agentes
públicos.
Basicamente, existem dois tipos de informações disponíveis em uma cena de crime: as
subjetivas representadas pelo conhecimento de alguém sobre o fato e aquelas denominadas
objetivas que são oriundas da análise dos vestígios materiais.
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I n f o rm a ç õ e s s u b j e t i v a s
Denominam-se informações subjetivas aquelas decorrentes do conhecimento dos fatos por
parte de pessoas que viram ou, de alguma maneira, tomaram conhecimento do acontecido. Esse
tipo de informação é de ordem interpretativa e de cunho pessoal, podendo até mesmo não refletir a
verdade. Frequentemente, essas informações são incompletas, abarcando apenas uma parte do fato.
Pesquisas comprovarão que nem sempre vemos corretamente o ocorrido, vemos uma parte
da realidade, ou seja, vemos nossa interpretação da realidade. Nossa percepção e nosso julgamento
dos fatos são construídos com base na nossa experiência anterior com fatos similares e se um fato
“novo” diferente se apresenta a mente busca encaixá-lo na matriz de conhecimentos anteriores e
quando não encontra procura construir um aproveitando elementos similares disponíveis. Essa é a
principal razão pela qual julgamos erroneamente e com base em estereótipos.
Na prática, esse tipo de informação pode vir a contribuir no sentido de formar uma
adequada reconstrução mental do ocorrido, facilitando as diversas etapas de investigação do local.
No entanto, muita cautela deve ser exercida, pois não são informações calcadas em dados
concretos e absolutos. São informações que representam como determinada pessoa interpretou o
fato ocorrido.
Se adicionarmos a essa cautela as razões de desconfiança necessárias quando suspeitamos
que as informações são mentirosas, de maneira proposital, teremos avançado na ponderação das
informações subjetivas.
De forma alguma queremos ser interpretados como contrários às informações subjetivas,
acreditamos muito em seu valor e indicamos a todos os investigadores a procurá-las
exaustivamente em um local de crime, o que fazemos é alertar para o fato de que podem ser
ilusórias ou forjadas, ou seja, ilusórias nos fazendo perder um tempo precioso seguindo uma
história mirabolante que não levará a nada ou ainda forjada, aquela criada para nos desviar do
caminho correto.
Indicamos a todos os investigadores que busquem validar as informações subjetivas com a
existência de elementos materiais que comprovem a história ou versão. Essa será a garantia de não
sermos enganados ou iludidos.
I n f o rm a ç õ e s o r iu n d a s d e v e s t í g i o s - Ob j e t i v a s
Como toda conduta humana deixará atrás de si um rastro material, só o que se precisa fazer
é encontrá-lo. Essa afirmação é clara, porém atingi-la não é simples. O rastro material da conduta
nem sempre é claro, tangível e, muitas vezes, necessita de tecnologia e procedimentos nem sempre
disponíveis. Neste aspecto o principal trabalho do perito é encontrar o rastro, analisá-lo e por fim
contextualizá-lo com o fato gerando as provas materiais necessárias.
Como testemunhas mudas de um crime, os vestígios materiais são a fonte objetiva de
informações, pois sua análise é mais precisa e mais segura, pois é baseada em princípios técnico-
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científicos consagrados e não em interpretações subjetivas. Em muitos casos, parte dos vestígios
pode ser guardada como contraprova visando a dirimir questionamentos futuros. Aliás, este é o
procedimento padrão de se preservar, sempre que possível, vestígios para análises futuras.
Este conhecimento de locais de crime não é novo, já em 1934 o cientista forense Edmond
Locard, ao elaborar o princípio da transferência, nos trouxe a informação de que existe sempre a
troca de vestígios entre os agentes delituosos e o ambiente. O criminoso deixa algo seu no local, ou
leva algo do local consigo. Tal conceito é ilustrado pelo texto abaixo:
“Onde quer pise, onde quer que toque ou o que deixe, mesmo que inconscientemente, irá
servir como testemunha silenciosa. Não somente suas digitais ou suas pegadas, mas seus
fios de cabelo, as fibras de suas roupas, as partículas de vidro que quebrou, as marcas de
ferramenta que deixou, a tinta que arranhou, o sangue ou o sêmen que depositou, todos
estes materiais serão testemunhas silenciosas contra ele. Isto é uma evidência que não
falha. Isto é uma evidência que não é duvidosa, como o depoimento nervoso de uma
testemunha ou a própria ausência desta. Estas são evidências concretas e factuais.
Evidencias deste tipo não se confundem. Elas não mentem e também nunca estão
ausentes. Somente sua interpretação pode gerar erros. Somente a falha humana em achá-
las, em estudá-las,e em entendê-las poderá diminuir o seu valor probatório”. Paul L. Kirk,
1953.
UM POUCO DE HISTÓRIA
Edmond Locard (1877 – 1966) foi um dos pioneiros no desenvolvimento
das Ciências Forenses. Ele formulou o princípio básico da criminalística:
"Todo contato deixa uma marca", que ficou conhecido como o princípio
de Troca de Locard. Locard estudou Medicina e Direito em Lyon,
tornando-se o assistente de Alexandre Lacassagne, criminologista e
professor. Em 1910 ele começou fundar seu próprio laboratório criminal.
Ele produziu um monumental trabalho de sete volumes, chamado Traité
de Criminalistique e, em 1918, descreveu doze pontos característicos para
a identificação de impressões digitais. Edmond Locard continuou com a
sua pesquisa até a sua morte, em 1966.
Fonte: http://fdaf.org/jtissot/jt_locard.htm
CURIOSIDADE
Edmond Locard esteve no Brasil em 1921 para atuar como perito no caso Bernardes
(caso envolvendo Arthur Bernardes, o então candidato a presidência da República do
Brasil, em relação à autoria de carta com texto ofensivo ao Exército Nacional). No
entanto, Edmond Locard concluiu equivocadamente pela autoria das cartas anônimas
atribuídas ao ex-presidente, em decorrência de aceitar como legítimos os padrões do
anonimógrafo Oldemar Lacerda, posteriormente desmascarado pelos laudos dos peritos
cariocas Serpa Pinto e Simões Corrêa.
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Teoria do s vestígio s
Para entender mais sobre vestígios e locais de crime faz-se necessário uma breve revisão
sobre a teoria dos vestígios.
Vestígios, em sentido amplo, são marcas, rastros, sinais, manchas, etc, conforme exemplos
mostrados na figura 4. Segundo Demercian e Maluly, 2001:
(...) são sinais, dados materiais, resquícios percebíveis pelos sentidos, manifestações
físicas que se ligam a um ato ou fato ocorrido ou cometido, isto é, à infração penal. A
apreciação pelos sentidos, desses dados materiais é que constitui o exame de corpo de
delito.
R e l a ç ã o d o s v e s t í g i o s c om o s f a t o s
Em investigações sempre existem muitos vestígios, muitos detalhes que atraem a atenção
dos investigadores e dos peritos. Um grande problema em cenas de crime é determinar o vínculo
entre os diversos elementos materiais presentes na cena e sua relação com os fatos. Essa é uma
questão crucial. Imagine um perito chegando a uma cena de crime, e todos os elementos ali
presentes, quais são vinculados ao fato que se investiga? Todos? Esta é uma questão crucial, e por
isso nos deteremos um pouco classificando os vestígios. Ressalta-se que é possível, diante de um
fato criminoso, a investigação seguir pistas falsas, que pareciam verdadeiras no início, perdendo
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muito tempo e, às vezes, inviabilizando os trabalhos, porque nem sempre os vestígios encontrados
têm relação com os fatos.
Assim a Criminalística estabelece a seguinte classificação dos vestígios com relação ao
fato, conforme explicado a seguir sintetizado na figura 5:
Vestígios Ilusórios: aqueles que são encontrados numa cena de crime e parecem
relacionados ao fato. Alguns deles podem ser considerados importantes e receberão a atenção dos
peritos. Como se está no início dos exames ainda não poderão ser descartados, pois parecem
relacionados ao fato. Receberão o tratamento adequado, serão coletados de acordo com a cadeia de
custódia, serão encaminhados para outras análises. Enfim tomarão um tempo considerável da
perícia até a definição de que não tem relação com o fato e estavam no local de crime como fruto
do acaso, mas no início era impossível perceber. A advertência sobre a presença de vestígios
ilusórios é feita para que se saiba de sua existência e não para que se descarte “coisas” ainda no
início dos exames. Se o vestígio não tem claramente um sinal de exclusão, a boa técnica determina
sua coleta e análises. Poderia se perguntar o que é um sinal claro de exclusão de um vestígio e no
momento não existe resposta para isso, pois dependerá de tantos fatores que não cabem no escopo
de uma obra como esta, apenas ressaltamos que isso é construído pela experiência do perito e sua
capacitação.
Vestígios Forjados: sua configuração é muito parecida com o vestígio ilusório, diferindo
daquele no seguinte aspecto: não estava na cena de crime por acaso, foi “plantado lá” seja pelo
autor ou por qualquer indivíduo que queira mudar o rumo de uma investigação. São vestígios
preparados para desviar a atenção da investigação e conduzi-la a uma direção contrária aos fatos
em apuração. Apesar dessa condição de forjados, devem ser investigados, primeiro porque não se
deve desprezar nada no local, segundo, porque podem evidenciar alguma pista do verdadeiro autor.
Vestígios Verdadeiros: são aqueles que, após depuração da equipe pericial, conclui-se ter
relação com os fatos em investigação, por serem resultado da ação ou omissão do autor e cuja
interpretação correta pode levar à elucidação do crime.
IMPORTANTE:
É quase sempre muito difícil para o perito diferenciar vestígios verdadeiros, ilusórios e
forjados, no início dos trabalhos. Por isso, nenhum detalhe pode ser desprezado; tudo deve
ser investigado e analisado cuidadosamente, não se deve seguir uma pista só.
R e l a ç ã o d o s v e s t í g i o s c om o a u t o r
Antes de se falar da relação dos vestígios com seu autor, é preciso esclarecer que o agente
de vestígios, ou o autor de vestígios, nem sempre é o ser humano, embora ele esteja, de certa
forma, por trás de todos os acontecimentos de interesse da Criminalística, e possa deixar vestígios
por meio de marcas de seu corpo, como a impressão digital, pegada, ou substâncias como esperma,
sangue, saliva, pele, pelos, etc. Tecnicamente, são chamados de agentes de vestígios, além dos
homens, os animais, objetos, instrumentos que, natural ou artificialmente, provocam vestígios
materiais.
De acordo com sua relação com o autor, os vestígios são classificados em:
Absolutos: aqueles que permitem que se estabeleça relação absoluta, direta com o seu autor
ou com a vítima, como, por exemplo, impressão digital e material genético contido em vestígios
biológicos. Nesse caso, quem deixou impressão digital ou sangue no local, deixou uma parte
identificável de si mesmo.
Relativos: aqueles que não guardam relação absoluta, identificável de pronto com o seu
autor. Sua relação com o autor é por meio da identificação da classe a que pertence. O sangue
contendo material genético identificável por meio de DNA é um vestígio absoluto, entretanto se
não puder ser obtido o DNA, mas apenas a tipagem sanguínea do sangue (A, B, AB ou O), o
vestígio será relativo, pois direcionará a busca do autor a uma classe de indivíduos portadores
daquele tipo sanguíneo.
Fica claro, na primeira leitura, que preferimos os vestígios absolutos, mas esses não são os
mais frequentes. O perito deve estar atento ao fato de que a segurança de um vestígio relativo
somado a outros elementos podem levar com segurança ao autor do fato.
A relação pode ser estabelecida de forma indireta. Imagine a seguinte situação:
encontramos vestígios biológicos de manchas de sangue que por alguma razão não conseguimos
extrair DNA de forma segura para uma comparação, temos apenas a possibilidade da tipagem
sanguínea e o resultado foi para sangue O+. O de maior probabilidade de ocorrência na população
brasileira, Isso não prova nada não é mesmo? Mas imagine que no curso da investigação se
descubra dentre todos os possíveis suspeitos que apenas dois deles tem o sangue tipo O+. A
amostragem diminui consideravelmente não é? Pois de todos os indivíduos com sangue tipo O+
apenas estes dois poderiam ser os suspeitos. Um indivíduo com sangue AB já poderia ser
descartado como suspeito.
Os vestígios relativos podem chegar a identificar um único suspeito dependendo da
quantidade de informações às quais ele se soma. Dizemos que se temos vestígios relativos
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suficientes e vamos cruzando os dados, iremos reduzindo sempre o número de suspeitos, até
chegar a individualizá-lo.
Ainda com relação a relacionar vestígios com seu autor, pode se utilizar o mesmo
raciocínio para elementos materiais e um bom exemplo disso é a Balística Forense. Se a única
coisa possível a se determinar de uma arma utilizada é seu calibre (todos os demais elementos
identificadores encontram-se prejudicados) podemos dizer que temos um vestígio relativo que
exclui todas as demais armas de calibres diferentes e podemos concentrar nossa atenção na busca
por aquela arma de determinado calibre, o que deixa a procura mais seletiva e, portanto, mais
efetiva. O mesmo raciocínio vale para marcas de impacto e ferramentas, veja maiores detalhes no
capítulo 6.
Vestígios e Indícios
Conforme visto anteriormente, vestígio é o objeto do exame pericial que pode ou não estar
relacionado com o evento que deflagrou a solicitação da análise pericial.
Já indício é uma palavra que o Código de Processo Penal define, em seu art. 239, da
seguinte forma: “considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com
o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias”.
Da interpretação desse dispositivo legal, pode-se concluir que indício é uma suspeita
fundamentada que pode muitas vezes não ser representada por meio de vestígios materiais. O
indício é, portanto, uma hipótese sobre determinado fato, cujo valor é diretamente proporcional ao
número de provas encontradas para provar a sua existência.
Os indícios de um crime podem ser representados por meio de vestígios materiais ou
circunstanciais.
Alguns autores trazem ainda para o corpo da criminalística o conceito de evidência. Para
esses autores, evidência é o vestígio, que após as devidas análises, tem constatada técnica e
cientificamente, a sua relação com o crime. Assim, no momento em que os peritos chegam à
conclusão que tal vestígio está – de fato – relacionado com o evento periciado, ele deixará de ser
um vestígio e passará a denominar-se evidência. De maneira resumida, há autores que consideram
que vestígio é o material bruto constatado e/ou recolhido no local do crime, enquanto que
evidência é o vestígio analisado e depurado, tornando-se uma prova por si só ou em conjunto, para
ser utilizada no esclarecimento dos fatos.
Uma vez que tal expressão não está reproduzida no Código de Processo Penal, optou-se
nesta obra, por adotar apenas os conceitos relacionados a vestígios e indícios.
Apesar das diferenças conceituais, é comum nos depararmos com o uso, por leigos e até
mesmo por técnicos, das três expressões como se fossem sinônimos.
Cadeia d e custód ia
O termo “cadeia de custódia” refere-se a uma sucessão de eventos seguros e confiáveis que
deverão ter início de forma legal no primeiro contato da polícia com o vestígio. Este é um termo
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que deve ser considerado com muita cautela, pois é de importância fundamental para a persecussão
penal. Imagine a seguinte situação: existe no setor de Criminalística de determinada região um dos
melhores laboratórios de genética forense, capaz de extrair amostras de DNA de vestígios
complexos (por exemplo: cadáveres em elevado estado de decomposição) e ainda elaborar
resultados com a velocidade adequada. Suas análises possuem uma confiança e credibilidades
inigualáveis. Este laboratório recebeu uma camiseta contendo sangue e também a amostra do
suspeito. O resultado foi concludente e positivo. No curso do julgamento da ação penal a defesa
apresentou à corte a fotografia de um policial manuseando a veste questionada no local de crime
sem luvas. Isso diminuiu a credibilidade da prova? Diminuiu o valor probatório do resultado do
DNA? Independente da resposta que você está elaborando em sua mente, saiba que a fotografia em
questão acrescentou sobre a camiseta o seguinte questionamento: será que a polícia manuseou
corretamente o vestígio em questão a ponto de garantir sua idoneidade? Será que a camiseta que a
perícia recebeu foi a mesma coletada no local de crime? Será que outros manipularam o vestígio?
No nosso caso fictício concluímos que a dúvida surgida anulou o exame de DNA e a defesa
conseguiu excluir uma importante prova da acusação e que era a única que individualizava o
suspeito. Não houve condenação apesar do pleno conhecimento dos fatos. Neste exemplo,
considera-se que houve quebra da cadeia de custódia.
UM POUCO DE HISTÓRIA
Consideramos então que o cuidado com os vestígios desde sua origem até sua destinação
final é um dos elementos garantidores das informações extraídas dos mesmos. A isso chamamos
cadeia de custódia.
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São duas as formas mais importantes para se iniciar a cadeia de custódia: a perícia em
locais de crime e a execução de mandados de busca e apreensão. Em ambos instrumentos os
cuidados devem ser tomados tanto no âmbito técnico quanto no âmbito legal.
Como nossa análise é direcionada a locais de crime, nosso enfoque será este, mas o
raciocínio é válido para qualquer outra forma em que vestígios materiais sejam trazidos ao escopo
de uma investigação.
De nada adiantará possuirmos a melhor estrutura de análise se o vestígio tiver sua origem
questionada. O principal cuidado é garantir sua segurança e idoneidade. Este cuidado é função de
toda a polícia, senão de nada adiantarão as mais modernas tecnologias criminalísticas se o vestígio
apresentar pontos questionados (técnicos ou jurídicos) em sua obtenção e coleta. Se um vestígio
material com valor probatório tiver sua origem questionada, o processo como um todo poderá ser
ineficiente no que tange à aplicação da Justiça. Indivíduos culpados podem ser postos em liberdade
por quebra da cadeia de custódia.
Concluímos, então, que cadeia de custódia é uma sucessão de eventos seguros e confiáveis
que, tendo origem na cena de crime, mantém a idoneidade legal e a preservação técnica necessárias
para que esses vestígios não venham nunca a ter sua origem e manuseios questionados até sua
utilização pela Justiça como elemento probatório.
Para isso é necessário que cada vestígio coletado seja devidamente documentado, como
veremos no capítulo sobre documentação de vestígios.
A figura abaixo apresenta, de forma suscinta, um modelo de formulário que pode ser usado
desde a cena de crime até a guarda definitiva do vestígio material.
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O laudo pericial que se destina à Justiça Criminal tem como suporte uma série de formalidades e de
regulamentos emanados, principalmente, do Código de Processo Penal, que o diferencia em vários
aspectos daqueles destinados à Justiça Cível.
A principal característica do laudo pericial criminal é que todas as partes integrantes do processo
dele se utilizam, pois é peça técnica-pericial única, determinada a partir do artigo 159 do CPP.
Como vemos, qualquer necessidade de perícia no âmbito da Justiça Criminal deve ser atendida por
peritos oficiais – aqueles profissionais de nível superior ingressos no serviço público mediante
concurso, com a função específica de fazer perícias.
Em razão de ser prestação jurisdicional emanada do Estado, reveste-se da oficialidade e
publicidade, sendo o laudo oficial parte do inquérito policial e, posteriormente, do processo
criminal, seu destinatário final.
Para que a perícia seja válida e eficiente é fundamental que o laudo pericial seja compreendido e
assimilado. Dentro do contexto de investigação, portanto, tão importante quanto esclarecer um fato
é conseguir transmiti-lo com precisão, permitindo sua compreensão também por aqueles que não
são especialistas no assunto. A credibilidade de um laudo está diretamente ligada ao seu
desenvolvimento, clareza, precisão e coerência.
Um laudo vai muito além de um documento pessoal. Por esse motivo, devem-se utilizar
formas convencionadas de descrição, palavras simples e eficientes, também se valendo de termos
técnicos que possam indicar com precisão o fato descrito. A riqueza de detalhes da descritiva é
importante, porém sem tornar o relato rebuscado, prolixo ou cansativo. Para a maioria dos
doutrinadores, o laudo pericial deve ser elaborado com a seguinte estrutura básica:
I- Preâmbulo: discrimina título e subtítulo do laudo; hora, data e local em que foi
elaborado o laudo pericial; o nome do instituto ou órgão de perícia do qual é
originário; a data da requisição e ou solicitação; nome da autoridade que requisitou;
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II- Histórico: relata pequeno histórico da requisição, bem como síntese do fato que
originou a requisição.
Foi apresentada a estrutura básica da maioria dos laudos periciais. Quando se analisa cada área da
Criminalística (química forense, documentoscopia, balística forense, por exemplo), no entanto, bem
como os laudos emitidos pelos diferentes centros de perícias criminais do Brasil, observa-se que
alguns desses itens são diferentes entre os laudos. Eles não reproduzem exatamente a estrutura
apresentada acima Isso porque o perito não precisa ficar restrito aos itens apresentados
anteriormente, podendo, a seu critério e conforme o caso específico, criar outros itens no laudo, tais
como EXAMES COMPLEMENTARES, DA REMOÇÃO DO CADÁVER, entre outros.
Além das características mencionadas, é importante frisar que o Laudo é um documento técnico-
científico e, como tal, deve apresentar termos exatos, breves e claros. Deve-se evitar a adjetivação
em excesso, por exemplo: “ trata-se de uma corda forte e bonita”. Em criminalística, deve-se
conceituar um objeto buscando sempre a definição real, sua natureza e sua propriedade essencial,
tal como: “trata-se de um cabo trançado por tantos feixes de fibra X, com cerca de Y de diâmetro,
de tal comprimento, com resistência a tração de não menos que W Kg, de cor tal, popularmente
denominada corda, tal que pode ser utilizada como instrumento para tal finalidade”.
Outro ponto importante na construção de um laudo pericial diz respeito a ilustrações, fotografias,
croquis e esquemas que facilitam a compreensão daquilo que se quer transmitir, devendo ser
utilizados sempre que possível. Como dizem no jargão da criminalística: “Uma foto vale por mil
palavras”.
A conclusão pericial é o desfecho final de todo um trabalho que os peritos venham a desenvolver
durante a realização dos exames de uma determinada perícia. Para cada área de atuação, vamos
encontrar as nuanças e abordagens características na formulação da respectiva conclusão. Dessa
forma, para qualquer tipo de perícia, existem regras básicas que devem ser seguidas para a
formulação de uma conclusão pericial coerente com os elementos materiais analisados. Devemos
considerar também as peculiaridades de cada uma dessas regras para possibilitar a interpretação
final e completa sobre aquele tipo de perícia de que estejamos tratando.
O perito tem fé pública naquilo que afirma em seu laudo, porém não podemos partir do
pressuposto que, por isso, não precisa dar maiores explicações sobre os fatos periciados. Na
realidade não se trata de explicações, mas de fundamentação técnico-científica. Ao chegarmos ao
item do laudo destinado à conclusão, o leitor/usuário já deverá ter quase a certeza do que irá
encontrar sobre a conclusão daquela perícia, em razão da correta descrição de todos os exames
realizados e das respectivas análises e interpretações que tenha encontrado no corpo do laudo.
Também é salutar esclarecer que o perito nem sempre conseguirá reunir os elementos necessários
para uma conclusão pericial, seja por exigüidade de vestígios ou até por destruição deles em razão
de preservação inadequada. Por isso, existem conclusões enfáticas, excludentes e de probabilidade,
além das situações onde não há elementos que permitam se chegar a uma conclusão. Tais tipos são
mais bem descritos a seguir.
Para estabelecer uma conclusão pericial devemos partir do campo das possibilidades. Observem
que esse universo de possibilidades é muito amplo, todavia, para que seja estabelecida uma
conclusão pericial enfática. Dentro do que a técnica criminalística exige, somente poderá restar
uma possibilidade para aquele evento que o perito esteja analisando.
Inicialmente, se formos devanear pela dimensão da ciência, poderemos achar que será muito difícil
estabelecer uma conclusão dentro dessa regra tão rígida. De fato, a regra é rígida, mas a ciência
tem condições de subsidiar o perito com as ferramentas necessárias. Assim, para chegarmos a essa
única possibilidade, temos apenas duas situações capazes para tal.
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A primeira situação será quando, no conjunto das evidências (ou vestígios, como é mais usado no
universo da Criminalística) constatadas e examinadas, tivermos uma que, por si só, seja
determinante. Obviamente a evidência determinante, nesse caso, deve estar caracterizada por sua
condição autônoma associada ao seu significado no evento periciado, conforme já comentamos em
tópico anterior.
A segunda será quando os peritos reunirem duas ou mais evidências, não determinantes
individualmente, mas que, no seu conjunto de informações técnico-científicas, levem a uma única
possibilidade. Nesse caso, terão informações suficientes para respaldar as suas afirmações quanto
à conclusão pericial categórica, a exemplo da primeira situação.
Fora dessas duas situações, não há que se falar em chegar a uma possibilidade, pois não existe. Os
peritos só podem concluir um fato periciado, portanto, se reunirem essas condições de forma
irrefutável e comprovável cientificamente.
Na perícia criminal, analisando a morte de uma pessoa, por exemplo, poderemos encontrar quatro
situações: morte natural, acidente, suicídio ou homicídio. Se os peritos, ao analisarem a situação,
eliminarem totalmente as possibilidades de morte natural e de acidente, chegarão à conclusão de
que aquela morte não ocorreu por morte natural ou acidente. Foram excluídas, portanto, essas duas
possibilidades. E, logicamente, os peritos devem utilizar a mesma regra da “única possibilidade”
para chegar a tal resultado.
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Dessa forma, será muito comum nos exames periciais encontrarmos casos em que, mesmo não
havendo conclusão enfática do caso, os peritos poderão excluir hipóteses possíveis. Certamente
essas conclusões, que forem excluídas do conjunto de possibilidades, vão facilitar a continuidade
das análises (objetivas ou subjetivas) para o esclarecimento total da situação em questão.
As duas situações que vamos discutir a seguir dizem respeito àqueles casos em que os elementos
materiais disponíveis à perícia são extremamente exíguos. Chamamos a atenção, entretanto, para a
importância de o perito analisar com toda a minúcia possível e carrear para o seu laudo todo tipo de
informação que seja aproveitável no contexto de utilização de outros meios para o esclarecimento
daquele caso.
Existirão casos onde os vestígios serão insuficientes para que os peritos cheguem a possíveis
diagnósticos e, portanto, se limitarão a indicar mera probabilidade para um dos possíveis
diagnósticos. Encontraremos situações em que os vestígios encontrados não serão capazes de
embasar sequer a eliminação de alguma das possibilidades levantadas na investigação, restando –
de acordo com os dados técnico-científicos reunidos e analisados – apenas maior probabilidade
para uma dessas possibilidades focalizadas.
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Então os peritos devem analisar profundamente todos os fatos e discutirem em seus laudos todo
esse universo dos exames, onde deverão levantar essas probabilidades de diagnóstico (conclusão).
Devem sempre deixar muito claro que não se trata de uma conclusão e sim de mera probabilidade
de resultado possível, o que, obrigatoriamente, deverá ser complementado por outros meios de
esclarecimento daquele caso, visando ao resultado enfático, que não estará mais na alçada da
perícia. Outro fato para o qual chamamos a atenção é a necessidade de que o perito seja um pouco
mais prolixo em suas argumentações para explicar tal probabilidade, tendo sempre o cuidado de
ser muito claro em seu texto para não causar dúvidas de interpretação pelos usuários do laudo.
De forma mais rara, mas possível, podemos dizer que haveria ainda uma situação em que a pouca
quantidade de elementos a serem examinados (vestígios) é tamanha que os peritos se limitarão a
informar no laudo a impossibilidade de concluir o evento periciado face a exigüidade de vestígios.
Apesar de não haver conclusão nesse caso, muitos laudos são expedidos dessa forma. Alertamos
os peritos que essa situação pura e direta somente deverá ser utilizada quando – de fato – os
vestígios forem insuficientes. Como vimos até aqui, para que os peritos realizem um exame
satisfatório do ponto de vista técnico-pericial, deverão observar uma série de requisitos e
procedimentos técnicos, a fim de que possam - ao final - chegar à plenitude de um resultado
possível.
A perícia, independente de sua aplicação criminal, cível ou trabalhista e aplicável a qualquer área
do conhecimento científico, deve se pautar rigorosamente por um limite muito claro: o limite da
materialidade.
Quando os peritos realizam uma perícia, é fundamental que tenham em mente que o processo de
esclarecimento sobre os fatos analisados pode vir de outras fontes que não aquelas por meio da
perícia, uma vez que esta deve realizar seu trabalho exclusivamente a partir de elementos materiais
que possam ser analisados objetivamente. O perito pode, evidentemente, valer-se de informações
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subjetivas (testemunhos, entrevistas, etc.) dentro de seu trabalho, desde que essas sirvam apenas
para chegar à materialidade. Essa regra é importantíssima como forma de preservar a realização de
exames periciais baseados exclusivamente em elementos objetivos e que possam ser trabalhados e
analisados a partir da aplicação de conhecimentos científicos compatíveis para cada caso.
Lembrando que a regra básica para a realização de perícia é o limite da materialidade de seus
elementos, mais recentemente observamos alguns estudos e pesquisas sobre a extensão do trabalho
pericial a partir da consideração de elementos subjetivos (não materiais) para a interpretação de
situações diversas.
Na verdade, não se trata de incorporar elementos subjetivos à perícia, mas de utilizar o contexto
pericial para ir além desta perícia e fazermos considerações e interpretações subjetivas para buscar
um resultado adicional que possa auxiliar a investigação e o processo judicial. Todavia, essas
interpretações devem estar inseridas em uma razoabilidade científica que assegure um resultado de
convicção técnica, mesmo que seja subjetivo. Para melhor entendimento, vejamos o exemplo de
uma reprodução simulada. Ao tomarmos a versão de uma pessoa no local dos fatos, essa ação é
subjetiva (a versão), mas a interpretação de coerência e veracidade será verificada a partir dos
elementos materiais encontrados durante os exames periciais.
7. Referências
VELHO, J.A e colaboradores. Ciências Forenses. 2ª Edição. Campinas: Millennium Editora, 2013.
VELHO, J.A e colaboradores. Locais de Crime. 1ª Edição. Campinas: Millennium Editora, 2013.
PÔRTO, G. Manual de Criminalística. São Paulo, Escola de Polícia de São Paulo – Coletânea
Acácio Nogueira, 1960.
FRANÇA, G.V. – Medicina Legal, 8ª Edição. Editora Guanabara-Koogan, Rio de Janeiro, 2008.
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 12ª ed.rev. e atu.,São Paulo: Saraiva, 2005. ISBN 85-
02-05002-8.
ESPINDULA, Alberi. Perícia Criminal e Cível. 3ª Edição. Campinas: Millennium Editora, 2009,
432p.