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Sacrifício, os Indo-Europeus, e ADF

Vários estudiosos já jogaram fora muita tinta para decidir qual é o sentido do
sacrifício. Seus esforços estavam condenados desde o início. Eles tentavam encontrar A
única coisa por trás de todos os sacrifícios. Simplesmente não há uma. O sacrifício pode ter
diferentes significados em diferentes culturas, e até mais de um na mesma cultura. Vou
concentrar no sacrifício comum à cultura Indo-Européia.

Eu vejo três significados no sacrifício Indo-Europeu: a refeição compartilhada, a


relação-ghosti, e a relação com o Caos. Vamos ver um de cada vez.

A refeição compartilhada é o mais simples e mais óbvio dos três. A pessoa mediana,
pensando em sacrifício, pensa no grande holocausto da antiga Israel, quando animais
inteiros eram destruídos pelo fogo. Este tipo de sacrifício não existe na religião Indo-
Européia (os sacrifícios humanos druídicos vêm à mente), mas eles eram excepcionais e eu
não tentarei abordá-los aqui. O sacrifício usual é um tanto diferente. Em vez de destruir o
animal inteiro, certas partes (normalmente não comestíveis) são ofertadas aos deuses
através do fogo, porém a maior parte é cozida e comida pelos participantes humanos. Dessa
forma, o sacrifício é uma refeição compartilhada – os deuses comem sua parte e nós
comemos a nossa, reunidos em volta da mesma mesa. É uma festa para a qual convidamos
os deuses, um churrasco sagrado. É comunhão no seu sentido mais literal.

Isto nos leva ao próximo significado – a relação-ghosti. *Ghosti- é uma palavra em


Proto-Indo-Europeu que se traduz como “alguém cuja relação com o outro tem uma
obrigação recíproca de hospitalidade”. No inglês, os termos "guest" (convidado) e "host"
(anfitrião) pertencem a essa raiz. Isto descreve bem a relação-ghosti. Somos ao mesmo
tempo convidados e anfitriões daqueles com quem temos uma relação-ghosti; convidados
em uma ocasião, e anfitriões em outra.

A relação-ghosti é encontrada na própria natureza do universo. Isto é verdadeiro na medida


em que identifiquei o princípio organizador do universo como o princípio-ghosti. Esta é a
doação recíproca que estabelece e mantém tudo. É demonstrada na cosmologia Indo-
Européia. A árvore (o axis mundi) é alimentada pela água do Poço. A árvore deita frutos
dentro do Poço. De um lado e de outro eles permutam seus dons, e desta maneira o Cosmos
é mantido. (A cultura que mais manteve a cosmologia Proto-Indo-Européia foi a nórdica.
Eu recomendo Bauschatz ou os Eddas para uma descrição dela. Tratei da evidência vindo
das diferentes culturas Indo-Européias e na cosmologia que derivou delas em Serith
(1995).)

As relações humanas operam dessa maneira também. Na sociedade Indo-Européia,


relacionamentos são estabelecidos e mantidos através da troca de dádivas. De fato, um dos
motivos pelo qual o dragão Germânico foi considerado malévolo era porque ocultava seu
tesouro em vez de mantê-lo em circulação. Indo-Europeus não admiram um avarento.
E a relação-ghosti opera no relacionamento entre humano e divino. Nós ofertamos
presentes aos deuses, e eles nos dão presentes também. Oferecemos uma parte do sacrifício,
e eles nos concedem bênçãos. Somos os anfitriões hoje, e eles são os anfitriões amanhã.
Algumas vezes isto é chamado de relação "do ut des" -- "Eu dou para que você possa dar."
Ela é vista como uma compra cósmica – pagamos os deuses para conseguir o que
queremos.

Contudo, há um tanto mais sobre isso. Não é uma mera transação comercial. A troca
é a base das amizades Indo-Européias. Ao nos comprometermos em relações-ghosti com os
deuses, nos tornamos amigos deles. E como na sociedade Indo-Européia o rei deve dar mais
que o plebeu em tal relação, os Grandes e Iluminados concedem maravilhosas bênçãos em
troca dos nossos mais modestos presentes. "Ghostiye:s dos Deuses" é o título mais honroso
que podemos ter. É através do sacrifício que se merece este título.

O significado final que vejo é o mais sutil. O sacrifício é uma batidinha nas costas
do nosso relacionamento com os „Forasteiros‟, uma forma de permitir, de maneira
controlada, a entrada de sua vida e poder em nosso Cosmos, animando sem destruir.
Sacrifício é o Caos controlado.

Mas primeiro é preciso mais algo de cosmologia. A relação-ghosti entre a Árvore e


o Poço já foi discutida. Gostaria de expandir o assunto. As Águas do Poço vêm das águas
profundas que, na cosmologia Indo-Européia, sustentam e circundam a terra. Mas "há
dragões ali." É lá que habitam os Forasteiros, além e abaixo de nosso Cosmos, de nosso
bem-ordenado mundo. Lá é o Caos, o poder da entropia que danificaria nossa ordem, que
destruiria nosso Cosmos caso lhe fosse permitido entrar em sua forma pura.

Contudo, lembre da relação entre a Árvore e o Poço. A Árvore é o Cosmos, o Poço


atrai as águas do Caos. Porém a Árvore é alimentada pelas águas do Poço. Como pode isso?
Como pode o Caos alimentar o Cosmos?

O Cosmos pode crescer rígido e quebradiço. A ordem pode sufocar. Formas


estabelecidas podem envelhecer e morrer. Há vida selvagem naquilo que vem do Poço, e é
isso que as águas dão para a Árvore – uma bebida vivificante para ser sua seiva, para
conservar seus ramos de forma a não se tornarem galhos secos. E em troca, a Árvore, numa
relação-ghosti real, dá seus frutos para o Poço.

Receio ter me deixado levar pelo entusiasmo. Espero não ter deixado meus leitores
por fora, perguntando que diabos isso tem a ver com sacrifício. Aguarde só mais um
momento, e tentarei fazer a conexão.

O relacionamento com os Forasteiros, como naquele descrito entre Caos e Cosmos,


entre Poço e Árvore, é o significado do sacrifício no qual a morte do animal é relevante. A
morte é um instrumento do Caos: um ser vivo vai de um estado ordenado de vida para o
putrefante estado de morte. O processo está completo, e a entropia reina. Uma morte é uma
dádiva para o Caos, e com o presente o Caos é trazido ao Cosmos para dar seu presente em
troca. Um buraco é aberto e o Caos flui para dentro dele, as águas do Poço ameaçam
submergir o Cosmos, desenraizar a Árvore, dispersando e quebrando seus galhos. Sem
mediação, o Caos traz disastre, e é justamente isso que a matança do animal ameaça fazer.

Em primeiro lugar, por que convidá-lo? Por que arriscar nosso mundo? Dois
motivos. Primeiro, como expliquei, o Cosmos precisa do Caos para continuar vivo. Tudo
precisa de um pequeno espaço de manobra. A única alternativa é a morte.

Segundo, o Caos entrará quer queira, quer não. A entropia afeta a todos nós, não
importa o que façamos. Nossa única esperança é mediar o Caos de tal forma que ele apenas
seja animado em vez de nos dominar.

Bruce Lincoln (1986) demonstrou que o mito de criação Indo-Europeu envolve um


sacrifício. Através deste sacrifício a ordem é estabelecida, e através de sua repetição ela é
mantida. Quando sacrificamos estamos presentes Naquele Tempo, no princípio do Cosmos.
Em termos cosmológicos, somos o ponto no qual o Poço e a Árvore se unem.

Através do sacrifício nos encontramos no local onde o Cosmos irrompe no Cosmos.


A morte do animal nos leva a esse ponto pela destruição da ordem da vida. O Caos vaza
para dentro.

Porém o ritual do sacrifício é ordenado e ordenante. A ordem sacrificial toma o


Caos e o conforma num fluxo não-destrutivo, ainda que vivificante. Na criação sacrificial
do Cosmos, cada coisa é posta em seu devido lugar. A ordem do ritual toma o disforme e
lhe dá forma definida. Através do ritual o Caos alimenta a Árvore sem destruí-la. A
resposta para a pergunta, "o que está no ponto de junção entre a Árvore e o Poço?" é "a
ordem sacrificial."

Isto é, portanto, o significado final do sacrifício. Ele proporciona uma maneira de


mediar e atenuar o Caos. Ele mantém o andamento do Cosmos.

A refeição sagrada, a relação-ghosti, o ordenamento do Caos – o sacrifício coloca-


nos na relação adequada com o sagrado e assim nos mantém.

Palavras magníficas, e espero que elas tenham ajudado a dissipar um pouco do


desagrado e mal-entendido que rodeia o sacrifício. Não estamos aqui lidando com os
poderes místicos do sangue jorrante. Em vez disso estamos lidando com uma coisa muito
mais bela e sutil.

Mas o que tem a ver o sacrifício com os tempos modernos e com a ADF em
particular? Vamos começar a sacrificar animais?
Quando a ADF começou, sacrifício animal era proibido. Há uma razão para tal.
Simplesmente não temos pessoal treinado, não existe um victimarii. Qualquer tentativa de
sacrifício possivelmente resultará numa bagunça sangrenta. É como ser o Caos sem
mediação, dará aos deuses um presente insatisfatório, nos dará comida impura para
compartilhar em nossa mesa. Não satisfará nenhuma das razões para o sacrifício.

Só as relações públicas já seriam motivo suficiente para banir o sacrifício. Judeus


podem realizar sua matança kosher, Muçulmanos podem matar de acordo com suas regras,
mas o tempo para que a sociedade aceite nossa própria matança sagrada ainda não chegou.
Um sacrifício adequado é mais humano do que a forma de matar usada nos abatedouros.
Mas o tempo da sociedade perceber isso ainda não é agora.

Isso não significa, no entanto, que não haja lugar para outros tipos de sacrifício na
ADF. No mundo clássico, a troca do animal pelo pão era perfeitamente aceitável, se fosse
impossível sacrificar o animal. No Zoroastrismo e Hinduísmo, a preocupação com a não-
violência levou a substituição do sacrifício por pão e bolas de arroz, respectivamente.
Portanto, há precedentes suficientes para que troquemos o sacrifício animal pelo sacrifício
de um grão, ainda seguindo os modos antigos.

No ritual tradicional da ADF, o sacrifício foi substituído por ofertas de orações. A


comida advinda do animal foi substituída pelas Águas da Vida. Isto pode ser preservado
enquanto seguimos as maneiras antigas, atraindo com isso alguns dos antigos significados.
Mas uma coisa fica manifestamente faltando. O formato da ADF não permite a mediação
do Caos. As Águas irrompem no mundo, mas não formamos um canal para elas. Elas
entram, mas não são totalmente mediadas. O Caos adentra, mas a ordem não é imposta
sobre ele. Em vez disso, as Águas são consumidas sem terem sido ordenadas.

Este problema pode ser resolvido sem oferecer violência ao formato ritual da ADF,
e sem ofender as sensibilidades modernas. A antiga prática da substituição ritual nos mostra
de que modo. Podemos substituir o animal pelo pão. Pela essência da realidade ritual,
simbólica quando vista de fora, é atual quando dentro do contexto. Um pedaço de pão
nomeado e tratado como um sacrifício animal é, para os propósitos do ritual, o animal em
si, e seu sacrifício é ritualisticamente tão efetivo quanto seria o do próprio animal.

Pessoalmente já participei de um sacrifício deste tipo. Em um caso, um corte de


animal de pão ázimo foi usado, e em outro foi usado pão pita. (Eu recomendo o pão pita; é
mais prático e não menos simbólico.) O pão foi tratado como um animal. Uma prece foi
dita sobre ele, identificando-o com o animal apropriado. Por exemplo, "Nós oferecemos
este boi, como assim o nomeamos, para Aryamen." O "animal" foi salpicado com água e
com grãos, e então “morto” pelo toque de um machado. Uma fatia foi cortada de seu lado
esquerdo. Esta fatia foi cortada em duas, e a porção de cima foi posta no fogo, como a parte
do deus. A metade de baixo foi reservada. Após as oferendas de preces, foi tomado o
augúrio. Quando o bom presságio foi recebido, a porção principal do pão foi dividida entre
os participantes juntamente com as Águas. Metade da porção reservada foi comida pelos
celebrantes principais, e a outra metade oferecida aos Forasteiros. Desta forma, foi
permitida aos Forasteiros uma pequena entrada em nosso Cosmos.

As próprias Águas foram identificadas com o sacrifício. Isto foi feito vertendo-as
em uma tigela enquanto o “animal” era sacrificado. Desta forma, as Águas foram sacrifício
tanto quanto o pão.

A adição desta forma de sacrifício possibilita para o ritual da ADF todos os três
significados. A força e profundidade do ritual é grandemente reforçada desta maneira. E o
melhor de tudo, coloca-nos firmemente na tradição antiga. Permite que fiquemos mais perto
do lugar dos ancestrais, e aborda os deuses da forma como eles costumam ser tratados.

Referências:

Bauschatz, Paul C. Urth's Well. Journal of Indo-European Studies 3:1 (Spring, 1975), pp.
53 - 86.

Burkert, Walter. Homo Necans: The Anthropology of Ancient Greek Sacrificial Ritual and
Myth. tr. Peter Bing. Berkeley, CA: University of California Press, 1983.

Boyce, Mary. Mihragan Among the Irani Zoroastrians. Mithraic Studies: Proceedings of the
First International Congress of Mithraic Studies. ed. John R. Hinnells. Manchester, UK:
Manchester University Press, 1975.

Eliade, Mircea. The Sacred and the Profane: The Nature of Religion. tr. Willard R. Trask.
New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1959.

Gamkrelidze, Thomas V., and Ivanov, Vjacelslav V. Indo-European and the Indo-
Europeans. tr. Johanna Nichols. New York: Mouton de Gruyter, 1995.

Homer. Homeric Hymns. Hesiod, Homeric Hymns, Epic Cycle, Homerica. tr. Hugh G.
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Jamasp-asa, Kakhusroo M. On the Dron in Zoroastrianism. Acta Iranica 24 (Papers in


Honour of Professor Mary Boyce), (1965), pp. 335 - 356.

Lincoln, Bruce. Myth, Cosmos, and Society: Indo-European Themes of Creation and
Destruction. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1986. The Poetic Edda. tr. Lee M.
Hollander. Austin, TX: University of Texas Press, 1962.

Serith, Ceisiwr. Proto-Indo-European Cosmology. The Druid's Progress 15 (1995), pp. 19-
24.
Sturluson, Snorri. Edda. tr. Anthony Faulkes. Rutland, VT: Charles E. Tuttle, 1987.

Watkins, Calvert. How to Kill a Dragon: Aspects of Indo-European Poetics. New York:
Oxford University Press, 1995.

Original em inglês, por Ceisiwr Serith:


http://ceisiwrserith.com/ritual/theory/sacrificeindoeuropeansadf.htm

Tradução: Renata Gueiros

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