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INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA NOS


TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO. O INUSITADO SOB A
LEI N. 13.015/14 E SEU REGULAMENTOi.

Sumário: I - Compreensão do problema: A Babel


jurisprudencial. II - A solução legal, o erro regulamentar e
suas inconstitucionalidades. III - A interpretação válida. IV
- Uma experiência histórica parecida. V – Conclusões e
advertências.

I – Compreensão do problema. A Babel


jurisprudencial.

A Justiça do Trabalho, todos sabemos, agigantou-se. A


judicialização dos contratos de trabalho no direito brasileiro passou ao ordinário
e previsível, ensejando um número googol de causas das mais variadas
espécies. Com isso, o Tribunal Superior do Trabalho, sua instância
extraordinária, cuja missão precípua é a de garantir efetividade à ordem
jurídico-trabalhista através de sua jurisprudência, mantendo-a uniforme e
estável em todo o território nacional, não tem conseguido cumprir com esse
desiderato, a ver pela avalanche de recursos de revista que aportam naquele
Tribunal Superior todos os dias.

Para além das questões próprias do direito substantivo do


trabalho, incluindo as questões propriamente regionais, notabilizadas pelo
expressivo aumento do número de normas coletivas, está claro que a
sobrecarga deve-se em sua maior parte ao procedimento das instâncias de
decisões regionais ou locais da Justiça do Trabalho, que nem sempre julgam
observando o farol da jurisprudência firmada pelo TST, suas súmulas e
orientações jurisprudenciais. Decisão local destoante da súmula do TST não
somente fundamenta, sobretudo estimula o recurso de revista que quase
sempre poderia ser evitado, se o Tribunal Regional a quo ou sua turma
julgadora tivesse decidido em harmonia com o Tribunal Superior.

Rápido como um nado de lambari, eis apresentada a


motivação da Lei n. 13.015/14, cujo projeto foi elaborado pelo próprio TST,
aprovada, sancionada no dia 21 de julho de 2014 e publicada um dia depois,
com vacatio legis de sessenta dias, portanto, vigente desde o dia 20 de
setembro de 2014. Para alcançar seus objetivos, a referida Lei fez expressiva
mudança nos Incidentes de Uniformização de Jurisprudência dos Tribunais
Regionais do Trabalho, dando nova redação à CLT, em seu art. 894 e
especialmente ao art. 896, que foi desdobrado em três: 896, 896-B e 896-C.
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É dessas mudanças que cuida o presente estudo, com o


fim de alertar os operadores do direito do trabalho para algumas graves
distorções que foram implementadas a reboque da Lei, nada obstante a melhor
das intenções, como se viu acima. Direto aos tópicos que interessam nos
novos arts. 896, B e C, CLT:

Art. 896. … (in omissis) ...

§ 3º Os Tribunais Regionais do Trabalho


procederão, obrigatoriamente, à uniformização de sua
jurisprudência e aplicarão, nas causas da competência da
Justiça do Trabalho, no que couber, o incidente de
uniformização de jurisprudência previsto nos termos do
Capítulo I do Título IX do Livro I da Lei nº 5.869, de 11 de
janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).

§ 4º Ao constatar, de ofício ou mediante provocação


de qualquer das partes ou do Ministério Público do
Trabalho, a existência de decisões atuais e conflitantes no
âmbito do mesmo Tribunal Regional do Trabalho sobre o
tema objeto de recurso de revista, o Tribunal Superior do
Trabalho determinará o retorno dos autos à Corte de
origem, a fim de que proceda à uniformização da
jurisprudência.

§ 5º A providência a que se refere o § 4º deverá ser


determinada pelo Presidente do Tribunal Regional do
Trabalho, ao emitir juízo de admissibilidade sobre o
recurso de revista, ou pelo Ministro Relator, mediante
decisões irrecorríveis.

§ 6º Após o julgamento do incidente a que se refere


o § 3º, unicamente a súmula regional ou a tese jurídica
prevalecente no Tribunal Regional do Trabalho e não
conflitante com súmula ou orientação jurisprudencial do
Tribunal Superior do Trabalho servirá como paradigma
para viabilizar o conhecimento do recurso de revista,
por divergência.

Observem com acuidade os destaques acima. É da leitura


deles que se chegou à primeira distorção, causada por um açodamento que
gerou peculiar interpretação, bastante equivocada. Atentem-se também para o
que diz o seguinte art. 896-B – que cria o incidente de recursos repetitivos no
TST.

Art. 896-B. Aplicam-se ao recurso de revista, no


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que couber, as normas da Lei no 5.869, de 11 de janeiro


de 1973 (Código de Processo Civil), relativas ao
julgamento dos recursos extraordinário e especial
repetitivos.

A dinâmica dos incidentes de recursos repetitivos no TST


está dirigida pelo seguinte e último artigo novo, o 896 C. Para o que nos
interessa, isto é, para entender o que estamos vivenciando nos Incidentes de
Uniformização de Jurisprudência nos Tribunais Regionais do Trabalho,
especialmente em nosso TRT, lanço foco sobre o seu parágrafo 11, que ficou
assim redigido:

Art. 896 C:

….

§ 11. Publicado o acórdão do Tribunal Superior do


Trabalho, os recursos de revista sobrestados na origem:

I - terão seguimento denegado na hipótese de o


acórdão recorrido coincidir com a orientação a respeito da
matéria no Tribunal Superior do Trabalho; ou

II - serão novamente examinados pelo Tribunal de


origem na hipótese de o acórdão recorrido divergir da
orientação do Tribunal Superior do Trabalho a respeito da
matéria.

II - A solução legal, o erro regulamentar e suas


inconstitucionalidades.

O incidente de uniformização de jurisprudência pode se


dar por divergência local entre turmas, uma ou outra acompanhando ou
divergindo do TST, sendo um fenômeno exclusivamente no Tribunal Regional.
Visto porém que é o TST que fixa a jurisprudência diretiva, o problema fica
melhor exposto partindo dele: Considere pois que o TST formou o incidente de
recurso repetitivo e fixou tese em súmula a respeito. Duas situações podem se
apresentar:

1. O TRT não tinha tese fixada ou tinha tese que se


posicionou contrária àquela que adotou o TST.

Neste caso, para dar cumprimento ao disposto no item II,


acima, o Regional, a essas alturas com recursos ordinários afetados,
sobrestados no aguardo da definição do TST, em consequência do art. 896, §
3º e 6º terá necessariamente que definir sua posição a respeito, o que somente
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será possível pela suscitação de Incidente de Uniformização de sua


Jurisprudência, com o fim de ajustá-la preferivelmente à posição adotada pelo
TST.

2. O TRT posiciona-se em sede de IUJ, porém,


mantendo tese contrária ao TST.

Esta situação pode ocorrer em Tribunal Regional mesmo


em face de súmula ou orientação jurisprudencial do TST preexistente,
especialmente neste começo de implementação. Mas em regra se verificará na
fixação de questões jurídicas novas, novas teses. E é aqui que a porca torce o
rabo, pois várias questões se levantam.

Primeiro, porque se entendido – com efetivamente está,


friso – que a jurisprudência do TST tem efeito vinculante, deve ser explicado o
que foi feito do art. 102, § 2º, da Constituição da República. Cabe lembrar que
em sua proposta original, a Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro
de 2004, intentava permitir também aos demais Tribunais Superiores a
possibilidade de estabelecer súmulas com efeito vinculante. Tal proposta,
destaco, não foi acolhida, restringindo-se a exceção exclusivamente para o
STF e, ainda assim, nas questões originárias de controle de constitucionalidade
concentrado. Eis o dispositivo constitucional originário da referida emenda:

Art.102, § 2º As decisões definitivas de mérito,


proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações
diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias
de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e
efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do
Poder Judiciário e à administração pública direta e
indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.

Evidentemente, a interpretação noticiada que se dá ao


item II do § 11, da versão C do art. 896, não tem respaldo constitucional algum.
Por agravante, tal juízo de retratação vinculado é ilegal ao retirar eficácia ao
art. 471, do vigente Código de Processo Civil (CPC/73), e com o art. 494, do
novo CPC (Lei 13.105, de 16 de março de 2015), com vacatio legis por um ano
(art. 1045). Eis o que dispõem ambas, começando pelo vigorante CPC, de
1973:

Art. 471. Nenhum juiz decidirá novamente as


questões já decididas, relativas à mesma lide, salvo:

I - se, tratando-se de relação jurídica continuativa,


sobreveio modificação no estado de fato ou de direito;
caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi
estatuído na sentença;

II - nos demais casos prescritos em lei.


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O novo Código de Processo Civil, Lei 13.115 (quisera


fosse só um número a diferença entre os dois diplomas legais), igualmente
restringe à atividade jurisdicional:

Art. 494.- Publicada a sentença, o juiz só poderá


alterá-la:

I - para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte,


inexatidões materiais ou erros de cálculo;

II - por meio de embargos de declaração.

A interpretação literal das duas normas regulamentares à


Lei 13.017/14 é, portanto, ultra legem e marcadamente inconstitucional. Se é
assim, bastaria refazer a leitura da norma para encontrar a interpretação
cabível, que atenda à sua importante e urgente necessidade. E, afirmo, ela
existe, como se verá até o fim deste rápido artigo. Porém não foi o que se fez.

Sobre o procedimento nos tribunais regionais do trabalho


para o incidente de uniformização de jurisprudência, regulamentar à Lei n.
13.015/14, a presidência do TST entendeu por bem baixar o Ato n. 491/TST,
como uma espécie de modelo a ser seguido nos normativos regionais. Eis o
que diz tal Ato, no que tange à resultante dos IUJs, desde já advertindo para a
necessidade de atenção redobrada para a complexa redação do art. 3º, que
encerra multiplicidade de comandos:

Art. 3º Para efeito de aplicação dos §§ 4º e 5º do


artigo 896 da CLT, persistindo decisão conflitante com a
jurisprudência já uniformizada do Tribunal Regional do
Trabalho de origem, deverão os autos retornar à instância
a quo para sua adequação à súmula regional ou à tese
jurídica prevalecente no Tribunal Regional do Trabalho,
desde que não conflitante com súmula ou orientação
jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho.

Art. 4º A comprovação da existência da súmula


regional ou da tese jurídica prevalecente no Tribunal
Regional do Trabalho e não conflitante com súmula ou
orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do
Trabalho servirá para os efeitos do artigo 896, a, da
CLT, desde que regularmente demonstrada sua fonte de
publicação.

O Tribunal Regional do Trabalho de Goiás – 18ª Região,


através da RA 19/2015, aprovou a reforma do seu Regimento Interno, de modo
a ajustá-lo ao aludido Ato 491/TST, quanto ao efeito da adoção de tese
resultante do IUJ assim prescrevendo:
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Art. 89. …

...

§9º Publicada a súmula ou o precedente de


uniformização da jurisprudência:

I – os processos suspensos retomarão o curso para


julgamento e aplicação da tese jurídica firmada pelo
Tribunal;

II – os processos com decisões conflitantes


retornarão ao órgão competente para adequação à
súmula regional ou à tese jurídica prevalecente.

Vê-se que a norma regulamentar vai além da norma legal


que lhe empresta razão de existir (efeito regulamentar ultra legem). No caso,
do art. 896, § 6º, que como se viu determina não mais que a adoção de tese no
Regional, para uniformizar sua jurisprudência, sendo que unicamente a tese
conforme jurisprudência do TST servirá de paradigma para a admissibilidade
do recurso de revista. E também mais que o item II, do art. 896 C, que
determina o reexame dos casos julgados em face da tese adotada pelo TST;

Ora, só há uma possibilidade de ser admitido o recurso de


revista, que é exatamente a existência de um julgamento de órgão fracionário
em contrariedade com a tese adotada no IUJ e mantido em reexame. Portanto,
em face da lei poderia existir o julgamento contrário à súmula ou tese jurídica
prevalecente.

O Ato n. 491/TST porém diz que deverá existir


adequação, intentando estabelecer efetivo juízo de retratação cogente ou
vinculado, inconstitucionalmente pegando emprestado o efeito da súmula
vinculante do STF para a súmula ou precedente do TST em relação direta para
os TRTs.

Porém, o equívoco da norma regulamentar é evidente. A


questão está na extensão ilegal do efeito da lei, precisamente, no uso abusivo -
nas duas normas regulamentares, tanto no Ato 491/TST quanto na RA/TRT18
19/2015 – da expressão adequação (Aurélio: adequação [Do lat.
adaequatione.] Substantivo feminino. 1.Ato de adequar(-se).
2.Correspondência exata; conformidade, identidade. 3.Filos. Conformidade
ou correspondência exata entre os termos de uma relação.)

Sob o eufemismo do vocábulo adequação, o Ato 491/TST


e a RA /TRT18 atribui, como dito, efetivo juízo de retratação cogente – típico de
ato administrativo vinculado. Cabe a digressão curta para relembrar o didático
ensino de MEIRELLES segundo o qual atos vinculados ou regrados são
aqueles para os quais a lei estabelece os requisitos e condições de sua
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realizaçãoii. Não há margem de ação para o agente administrativo a quem a lei


comete a prática do ato administrativo vinculado.

Visto que o juiz, no exercício de sua atividade de Estado,


não pratica ato administrativo, mas sim ato político-judicial, fundado em sua
independência de ação e livre convencimento formado nos autos, tem-se a
toda evidência que a norma administrativa que resultou da Lei 13.015/14 é
mais de uma vez inconstitucional, pois ademais é pilar de garantia da ordem
jurídica a independência do juiz e o princípio do seu livre convencimento
motivado, excedido exclusivamente nos casos de súmula vinculante do STF.

Qual a razão a essas alturas desse imbróglio? Noutras


palavras, o que levou à regulamentação da Lei em foco, por duas vezes, com
insistência no equívoco? A explicação é dada pela versão B do art. 896, a
única que ficou em um caput exclusivamente e para a qual requeri atenção ao
começo. Tal disposição toma por empréstimo ao incidente de recursos
repetitivos no TST, no que couber, as normas do CPC aplicáveis ao recurso
extraordinário e ao recurso especial.

Ora, na dinâmica procedimental do processo civil vigente,


o juízo de retratação em face de decisão superior tomada somente existe nos
incidentes de repercussão geral com origem no Supremo Tribunal Federal,
conforme se vê no § 3º do art. 543-B, do CPC de 1973:

Art. 543-B. … (in omissis) ...

§ 3º Julgado o mérito do recurso extraordinário, os


recursos sobrestados serão apreciados pelos Tribunais,
Turmas de Uniformização ou Turmas Recursais, que
poderão declará-los prejudicados ou retratar-se.iii

Harmônico com a Constituição, o novo CPC não


estabelece tal juízo coativo ou obrigatório de retratação para os seus vários
incidentes de uniformização de jurisprudência. A vinculação que nele decorre
das súmulas e precedentes é prospectiva – perdão pela redundância: para os
casos futuros – com exceção exclusiva para os julgamentos dos recursos
extraordinário e especial repetitivos. Ainda assim, facultativa – art. 1041iv.

Portanto, o art. 896-B não oferece respaldo legal à


interpretação ora questionada, consumada na diretriz expressa no Ato
491/TST, art. 3º, copiada no art. 89 do RI/TRT18.

III - A interpretação válida.

Mas então, qual a alternativa, qual a saída válida em face


da Lei n. 13.015/14 para uniformizar e estabilizar a jurisprudência trabalhista
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brasileira e evitar a avalanche recursal diuturna que hoje temos?

Vamos convidar Colombo a novamente nos ensinar a pôr


um ovo em pé: A alternativa, aliás já mencionada, é dada por uma disposição
sobremodo importante que tem aparentemente passado despercebida; ou não,
sabe-se lá. Refiro-me ao § 12, do art. 896 C,, que diz:

§ 12. Na hipótese prevista no inciso II do § 11 deste artigo,


mantida a decisão divergente pelo Tribunal de origem,
far-se-á o exame de admissibilidade do recurso de
revista.

Reparem que tal alternativa não está inserida na versão


sem letras do art. 896, que cuida do incidente de uniformização de
jurisprudência nos Tribunais Regionais do Trabalho. Mas é norma direta para
eles e potencial para os recursos de revista sobrestados no TST em face do
Incidente de Repercussão Geral.

Logo, do conjunto das normas até aqui citadas, entre a


súmula ou tese prevalecente adotada e a decisão tomada no processo
sobrestado, entendo que resultam duas hipóteses ao magistrado, órgão
fracionário ou pleno do Tribunal:

1. Se a decisão é convergente: O recurso perde objeto


naquele pedido específico. Pode subir quanto aos demais, se superada a
admissibilidade.

2. Se for mantida decisão contrária à súmula ou tese


jurídica prevalecente, faz-se a admissibilidade do recurso de revista (parágrafo
6º; e parágrafo 12, art. 896-C).

Nesta última hipótese – registra-se, em princípio nada


desejável, já que o ideal é mesmo a uniformização e estabilização da
jurisprudência especializada, de modo a trazer segurança e certeza para a
sociedade – far-se-á a admissibilidade dos recursos de revista pendentes. É o
que expressamente estabelece o seguinte parágrafo 12 do art. 896-C.

Mas não há vinculação, isto é, embora desejável não é a


única possibilidade a conformação da decisão recorrenda à tese jurisprudencial
adotada. Convencendo-se de que o melhor a fazer é manter a decisão
divergente, pela letra da lei pode o órgão julgador fazê-lo, a única hipótese
geradora do recurso de revista.

A razão óbvia é que a ordem jurídica brasileira continua a


ser de precedência da lei, inspirada no sistema civil law, romano. A Lei
13.015/14 tinha que conter e contém, portanto, um procedimento adequado à
sistema jurídico-positivo brasileiro, sob pena de inconstitucionalidade.
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De sorte que o processo do trabalho continua a não ter


súmula vinculante, nem indiretamente, originária de outro Tribunal que não o
STF – EC n. 45. Neste erro os juízes do trabalho não devem incorrer.

Mas, e o Ato n. 491/TST, seria ilegal? Diria que não é


ilegal interpretação sistemática do seu art. 4º, que admite o recurso de revista
por divergência com a súmula ou tese majoritária regional. Sob a melhor
técnica, da interpretação, a sistemática, o eufemismo adequação deve ser ter o
sentido de sujeição do julgamento ao texto da súmula ou tese jurídica
convergente. Deve enfrentá-la, como pressuposto de validade, idealmente
convergindo; ou não.

Afastada a vinculação judicante, reduz-se o problema


exclusivamente ao julgamento por duas vezes da mesma causa em instâncias
ordinárias. Por ora, será muito se conseguirmos retomar ao menos em potência
a independência para firmar teses divergentes, quando as circunstâncias
apontarem que essa é a melhor alternativa para os nossos jurisdicionados.
Afasta-se, pela mesma razão, o enrijecimento da jurisprudência. De resto tudo
de ruim que se apontou.

Porém destaco, esta é uma possibilidade, um caminho


que parece o mais coerente. Atualmente não é, e pode não ser, o adotado.
Mas se for, os fins da Lei 13.015/14 terão sido alcançados sem maiores
traumas, pois o TST poderá se ocupar efetivamente da sua missão
institucional.

IV - Uma experiência histórica parecida.

O direito processual do trabalho já vivenciou uma


experiência parecida, a dos prejulgados que conviviam ao lado da súmula de
jurisprudência do TST, desta se distanciando por ser de aplicação coativa pelos
magistrados de então a coleção daqueles. Os prejulgados foram extintos
curiosamente, visto que não foram declarados inconstitucionais, mas sem
eficácia, pelo Supremo Tribunal Federal (Representação por
Inconstitucionalidade 946/DF. Decisão publicada no DJ de 27 de maio 1977). In
verbis:

Ementa: PREJULGADOS DO TRIBUNAL


SUPERIOR DO TRABALHO. NÃO POSSUEM FORÇA
VINCULATIVA OU NORMATIVIDADE, UMA VEZ QUE
PERDEU A VIGENCIA, POR INCOMPATIBILIDADE
COM A ORDEM CONSTITUCIONAL, O ARTIGO 902.
PAR.1, DA C.L.T. , QUE LHES ATRIBUIAM CARÁTER
OBRIGATORIO. PRINCÍPIO ESTABELECIDO NO
JULGAMENTO DA REPRESENTAÇÃO N 946-DF.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.STF -
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AG.REG.NO AGRAVO DE INSTRUMENTO AI 70541 RS


(STF) - Data de publicação: 12/12/1977 -

Estamos repetindo a história de um erro tão recente? Não


somente, mas estamos repetindo-a com esquecimento ou esvaziamento da
experimentação legada pela tentativa anterior, para agora repeti-la de modo
ainda mais deletério, pois se os prejulgados eram forçosamente aplicáveis
prospectivamente, aos casos por julgar, agora as súmulas e precedentes do
TST são aplicáveis também retroativamente e pelo mesmo órgão judicante.

V – Conclusões e advertências.

Em suma:

1. Como foi regulamentada a Lei n. 13.015/14, a


jurisprudência do TST passa a ser vinculante e geradora de um procedimento
inusitado, que obriga o órgão julgador a julgar de novo, se julgou contrário a
ela. Reitero que estamos cuidando de instância ordinária e jurisdição ampla.
Nesse nível não há nada parecido no procedimento civil brasileiro.

2. Há alternativa de interpretação válida para a Lei n.


13.015/14, que importa em resgatar a jurisdição da justiça ordinária do
trabalho.

No campo das advertências, sem querer ser mais


dramático do que a situação analisada, atentando-se porém ao fato de que um
abismo chama outro abismo (Salmos) convém prestar atenção na sequência
de problemas que em se insistindo em manter o erro que já está
institucionalizado pode causar:

1. Insegurança jurídica. Nulidades em massa. Afetar


julgamentos prontos sob autorização normativa ilegítima. Nulidades em cascata
e, revés, mais e piores recursos. Bons advogados saberão bem explorar para
eles esse filão. E não há de demorar a começar. Portanto, quanto mais rápido
corrigirmos o procedimento, melhor. Nenhuma outra primeira instância do
judiciário Brasileiro, todas sujeitas ao regramento fundamental do processo
civil, têm coisa parecida.

2. Fim da Instância Ordinária da Justiça do Trabalho?


Interna corporis, abaixo do TST a Justiça do Trabalho deixa de ser composta
por órgãos judiciais, com competência para dizer o direito. Passamos a ser
meros fiscais e aplicadores da jurisprudência do TST. Pareceristas a dizer o
que nela prevalece. Independência judicante da Instância Ordinária Trabalhista
acaba aqui.

Muito, demais? Em um estudo que li há muito tempo


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sobre a inquietante obra de Proudhon, dizia este que o povo ria do filósofo, pois
este falava de coisas que ninguém estava vendo. Ainda. Gerações seguintes é
que entenderiam o que o filósofo estava tentando dizer. Lembro que a inserção
desta Especializada no Judiciário não é a sua origem. Antes disso, nascemos
órgãos de contencioso administrativo.

Pode ser uma visão pessimista, mas na crise sistêmica


atual e do que dela se antecipa, esse novo processo do trabalho é um primeiro
passo para sermos alijados do Judiciário. Por que não? Gigantismo desta
Justiça, necessidade de racionalização do judiciário brasileiro, o
estabelecimento de outras instâncias para solução de conflitos, a transferência
do processo de execução para mera ação administrativa, … Cabe lembrar que
na última crise geral do estado brasileiro, a Justiça do Trabalho esteve na
berlinda. Depois, o TST, exclusivamente, esteve. Agora, não estaria o nosso
órgão de cúpula antecipando-se?

Pode não ser esta a intenção, mas muitas “boas ideias”


não são pretendidas. Por exemplo, num incidente ocorrido em 1928, Alexander
Fleming descobriu ou inventou o antibiótico e isso revolucionou a humanidade.
Cristóvão Colombo pretendia descobrir um novo caminho para as Índias. Por
um incidente de percurso, descobriu as Américas e alterou para sempre a
conformação do mundo conhecido. Por um incidente parecido ou alegado, a
falta da energia do vento na rota a ser empreendida, Cabral desviou-se e
“descobriu” oficialmente o Brasil.

Seja por acidente ou por incidente, fato é que –


mantendo-se o status quo dado açodadamente ao problema – a Lei 13.015/14
e o Ato 491/TST inauguram uma nova fase da Justiça do Trabalho, na qual
somente o TST mantém-se como órgão judicial. Os atos de toda a sua
instância ordinária estão relegados à natureza de atos aplicativos – de mera
execução, atos administrativos – a mera aplicadora ou fiscalizadora da
jurisprudência do TST. Isto é atividade administrativa e não, judicial.

Tudo isso – o conjunto da obra e seu contexto – me faz


crer que, no mínimo, estamos tendo uma atitude ingênua, despreocupada, com
as novidades que se apresentam sob o manto da Lei n. 13.015/14 e seus
regulamentos.

Oxalá fique só no equívoco o lamento de descortinar a


realidade que se esconde tridimensionalmente na imagem que aqui temos, de
uma Justiça operosa, feita por pessoas satisfeitas e orgulhosas de onde estão.

Firmem as vistas, senhores! Ainda é tempo.

EUGÊNIO JOSÉ CESÁRIO ROSA


Desembargador – TRT18/Goiás
i
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- Referências normativas: Lei n. 13.015 de 21 de julho de 2014. Ato n. 491


SegJud.GP/TST, de 21 de setembro de 2014. Regimento Interno do TRT18,
art. 89.

ii - (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro.25ª Ed. São


Paulo: Malheiros, 2000. p 156).

iii Para que não se diga que não vi, existe retratação em instância
-
ordinária no processo civil também. Porém, às avessas, isto é, lá o Relator
pode negar seguimento a recurso manifestamente contrário à jurisprudência.
Entretanto, desse ato negativo pode suscitar agravo, ante o qual o relator pode
retratar-se, isto é, reformar a sua decisão de admissibilidade recursal (art. 557,
§ 3º, CPC/73). Feito o registro.

iv -Como é facultada também, no novo CPC, se o juiz julgar liminarmente


extinto o pedido com amparo em súmula ou precedente – art. 332, § 3º. O
mesmo se aplica quando o juiz extingue o processo sem decisão de mérito
– art. 485, § 7º.

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