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IMEDIAÇÕES:

PRAIA DE IRACEMA: INTERVENÇÃO, PROCESSO, PROCEDIMENTO



Cláudia Marinho1
César Baio2
Cecília Andrade3
RESUMO

Imediações: Praia de Iracema é uma intervenção urbana que utiliza mídias móveis para
produção de um diálogo transversal entre artistas, habitantes e frequentadores da Praia de
Iracema. Parte de uma reflexão sobre o fazer arte como estratégia de intervenção a partir da
modelização da cidade pelo viés de poéticas e praticas cotidianas que descrevem as
intevenáos urbanas como forma DE VINCULAÇAO entre Concepóes de cidade e procedimentos
artistios . Seu processo iniciou com a coleta de narrativas dos moradores deste bairro visado
pela especulação imobiliária e obras turísticas. Esses áudios foram enviados para uma rede de
artistas, que traduziram as histórias em desenhos, posteriormente animados por profissionais
e alunos de audiovisual. As histórias e animações retornaram ao bairro por meio de stickers e
Realidade Aumentada. Este artigo vai abordar o processo de produção desse trabalho e sua
potência como procedimento de criação de redes e de engajamento.

PALAVRAS-CHAVE
“realidade aumentada”; “mídias móveis”; “cidade”; “narrativas”;



1. APRESENTAÇÃO

Imediações é um projeto modular de intervenção urbana, que pode ser aplicado em diferentes
cidades e contextos. Seu objetivo é produzir redes capazes de ocupar territórios físicos e
informacionais da cidade colocando em discussão temas importantes sobre as recentes
transformações do espaço urbano. A proposta é caracterizada por conjunto de ações e
procedimentos que visam confrontar as atuais configurações simbólicas e espaciais de um
local específico da cidade com as diferentes histórias, memórias e imaginários ligados a este.
O projeto parte de breves entrevistas sonoras, em que os habitantes fixos e transitórios de
uma determinada região da cidade são estimulados a narrar as histórias que viveram naquela
vizinhança, para a constituição de um “arquivo” que as misturam às memórias de antigos
moradores e episódios vividos recentemente por passantes frequentes, ambulantes e
residentes recém chegados; de modo que a única característica comum seja que diversas
narrativas estejam ancoradas em um local físico específico.
Em uma etapa seguinte, os áudios captados são enviados para uma rede de artistas visuais e
ilustradores criada na cidade/região que recebe o projeto, para que estes traduzam as
histórias em desenhos, ilustracões e ensaios visuais. Estas produções visuais são animadas por

1
Cláudia Marinho, Doutora em Comunicação e Semiótica, Universidade Federal do Ceará,
marinhoclufc@gmail.com. Telefone: (85) 99732 0045
2
César Baio, Doutor em Comunicação e Semiótica, Universidade Federal do Ceará,
baio.cesar@gmail.com. Telefone: (85) 98704 4008
3
Cecília Andrade, mestranda em Artes pelo Programa de Pós Graduação em Artes da
Universidade Federal do Ceará, cecilicaloi@gmail.com. Telefone: (85)99124 0212
uma segunda rede de artistas locais, esta composta por pessoas ligadas à animação e ao
audiovisual. Uma vez editadas, as histórias são “devolvidas” para o espaço específico que as
deram origem por meio de stickers (adesivos) que funcionam como marcadores da realidade
aumentada (RA) e revelam parcialmente a ilustração da história. Para acessar o restante da
imagem e a narrativa sonora, as pessoas devem utilizar o aplicativo disponibilizado pelo
projeto em seus smartphones e tablets.
Como intervenção urbana, o projeto imediações dialoga com artistas, que ao longo destas
ultimas décadas pensou intervçao urbana a partir de um mesmo interesse de relacionar
obra e o meio (espaço e público) e vincular diferentes tempos e lugares da cidade - seja para
subverter ou questionar algumas normas sociais, provocar reações e transformações de
comportamento, deslocar concepções e percepções da cidade.
Uma aplicação de linguagens, técnicas e táticas bastante heterogêneas e a aproximação de
procedimentos produtivos relacionados á instalação, land art, site specific, performance e
arte postal.


Katie Urban / Processional
Walkway


Neli Oliveira, Melting men


• alexandre orion


Neste sentido O Projeto Imediações se alinha a uma abordagem da intervenção urbana a partir
da idéia modularização das ações, pelo viés hibridização de procedimentos da escritura, da
urbanidade e das mídias locativas, para a elaboração de táticas intervencionista.
A modularização , como metodologia de construção, tem uma longa história nos campos da
arquitetura e do design, mas foi a partir do pensamento formalista do construtivismo russo
e alemão que começou ser sistematizada também no campo das artes (Paul Klee4, El Lissitzky
). Ao longo do século XX, esta estratégia foi amplamente empregada a partir de diferentes
estratégias que contribuíram para a sua legitimação como procedimento artístico e mote
para abordar questões próprias da arte.


4
A Teoria da Forma de Paul Klee é um exemplo de estudo que pressupõe o uso de
modelos para a elaboração artística. Klee’s Personal Notebooks
Artistas como Calder e de Jean Tinguely , por exemplo, adotam a modularização para
refletir sobre a natureza predominantemente estática do objeto artístico . Victor Vasarely,
postula, em seu manifesto Jaune5, o uso do modulo para propor uma arte repetível e
multiplicável.


Alexander Calder, escultura
cinetiva, 1960

Jean Tinguely and The Machine



that Destroys Itself



Ou ainda podemos falar das produções de artistas como Tony Smith, Sol LeWitt, Dan Flavin e
Donald Judd, representantes do movimento de arte minimalista, foram fundamentais para
transformar a modularização, de uma ferramenta de composição e produção, para um dos
temas centrais da arte na década de 1960.
Para o projeto Imediações parte de uma poética da modularização - como descrito – pelo viés
da estratégia do encapsulamento. Sendo assim a idéia de módulo (capsula) permite relacionar
um conjunto complexo de ações empregadas, como um elemento de tamanho controlado.
Modo como são eles coordenados- como se encaixam em um arranjo lógico previsto, mas não
controlado – descreve propostas de estratégias de intevençao urbana nas cidades hibridas .
(gráfico)

Modos de fazer (módulorizaçao )
1. Coleta de relatos - realização de entrevistas sonoras
2. Tradução das histórias - desenhos, ilustracões e ensaios visuais.
3. Produção de ensaios áudio visuais.
4. Produção APP de Realidade Aumentada.
5. Aplicação dos stickers (adesivos) - marcadores (RA)

1.3 Recomendações (Ontologia )


A poética modular empregada pelo Projeto Imediações parte da mistura de escrituras e
urbanidades, no entanto toma como referencia as recomendações de Gui Debord e Italo

5
In the “yellow manifesto”, Vasarely announced its “unités plastiques” which would subsequently be
used for much of his work. “Form can exist only if called attention to by some color quality, and color is
a quality only when defined by form”. He also proclaims the advent of the Multiple, and the end of easel
painting “The myth of the single piece … must give way to the conception of a possibility of RE-
CREATION, MULTIPLICATION AND EXPANSION.” (http://www.lemanifestejaune.com/en/#manifeste)
Calvino para nortear as ações – sobretudo para nortear nossas ações –e sua variação em
situações similares. Dessa forma, o modo como estes autores abordam a cidade,
respectivamente , pela (i) afirmação de um espaço urbano lúdico e pela (ii) subtração do peso
da escritura, apresentam-se como parâmetro para intervir na cidade, pelo viés dos parâmetros
propostos por nos.
1.3.1 Parametro 1 JOGO - Afirmação de um espaço urbano lúdico

Como intervir nos espaços urbanos das cidades hibridas (programadas ) ?


Para levar adiante esta questão recorremos á noção de jogo, como prática social, da forma
como é descrito pelos artistas da Internacional Situacionistas, pelo vies de Huizinga quando
diz que o jogo realiza, na imperfeiçao do mundo e na confusão da vida, uma perfeiçao
temporária e limitada” (2004,60). Ou seja falamos de um jogo destituido de todo elemento
de competiçao.
Pelo vies do Urbanismo Unitário (UU) estes artistas questionam as cidades estáticas – como
aquelas projetadas por LeCorbusier – pelo vies de uma compreensão do meio urbano como
território de um jogo - que tramado a partir da construção de situações – coloca as práticas
cotidianas (DeCerteau) como parâmetro e medida para a construção das cidades.)

Dentre as muitas formas de intervenção previstas previstas pelo UU, destacamos aquela
voltadas para a conexão de diferentes partes da cidade, para unificar aquilo que tinha uma
certa correspondência, mas que foi perdida ou encoberta pela espetaculariação da cidade6 .

Tal e qual
Movemo-nos no interior de uma paisagem fechada cujos fatos nos empurram
constantemente para o passado. Alguns ângulos instáveis, algumas perspectivas em
fuga nos permitem entrever concepções originais do espaço, mas essa visão se mostra
fragmentária. É preciso buscá-la nos lugares mágicos dos contos populares e dos
escritos surrealistas: castelos, muros intermináveis, pequenos bares esquecidos,
cavernas de mamutes, espelhos de cassinos. ( I.S., 1959, apud JACQUES, 2003, 100)

Mesmo no contexto das cidades conectadas, ainda parece vigorar uma compreensão dos
espaços públicos como cenários, espaços desencarnados, fachadas sem corpo – como
podemos constatar pela padronização do mobiliário urbano, dos abrigos de ônibus, ou ainda
pela imagens que vendem a cidade – que mostram como semelhantes cidades com culturas
distintas. Haja visto os cartões postais e as imagens que voltam quando buscamos na internet
as cidades a partir de rubricas que a traduzem como mercadoria.

No Projeto Imediações, a noção de jogo esta potencializado pelo poder poético catalisador
das escrituras (desenhos, animações, caminhadas), para propor novas maneiras de pensar as a
cidade. Neste sentido, investir nas dinâmicas do jogo – como proposto pelo UU - oferece como
vantagem a incorporação das narrativas (e forma de escrituras) , para o desvelamento de
paisagens da cidade - pelo vies da articulaçao da tecnologias pervaivas - para promover o
aparecimento de outras tantas inéditas. Mas sobretudo para salvar as imagens que emergem
das memórias, dos afetos e das açoes , dos riscos trazidos pelas narrativa (imagens) históricas
e nostálgicas da cidade.

Os pressupostos da UU trazem como principal medida pra pensar a cidade , as ações e sua
codificação pelo viés de uma ludicidade (subjetividade) passível de descrição.

6
Espetáculo, espetacularização , cidade-espetáculo, são termos empregados pelos artistas da IA para
descrever as cidades programadas para o consumo. (JACQUES, 2003)

1.3.2 LEVEZA - Subtração do peso da escritura
- Como evitar que o peso da cidade-museu, da cidade-maquina, da cidade-parque-temático7
esmaguem as escrituras urbanas?

Para levar adiante esta questão recorremos a Calvino em dois momentos. Um primeiro , Seis
propostas para o próximo milênio (1998), quando reflete sobre a leveza como estratégia para
salvar a escritura do pesadume, da inércia e da opacidade do mundo. Um Segundo , quando
em as Cidades invisiveis (1990), constrói cidades partir de escrituras que deixam transparecer,
mais do que lugares, personagens e estruturas narrativas, as imagens e os imaginários que nos
(as) definem.

Como complementar as ações do UU, tendo em vista uma compreensão da urbanidade como
dinâmica que continuamente se faz, se desfaz e se refaz , pelo viés do jogo- Calvino oferece a
leveza (Calvino, 1998). Estratégia de abstração, que descrita pelo autor, protege as escrituras
.Ou seja, evita q que certas qualidades do mundo (pesadume, inercia e opacidade) adira ás
escrituras .

Calvino, parte recorre ás abstrações literárias, recorre a maneira de Perceu para dizer que a
melhor forma de abordar o mundo pela forma indireta .

Às vezes, o mundo inteiro me parecia transformado em pedra: mais ou menos avançada


segundo as pessoas e os lugares, essa lenta petrificação não poupava nenhum aspecto da vida.
Como se ninguém pudesse escapar ao olhar inexorável da Medusa (Calvino, 1998, 16)

Ou ainda

Eis que Perseu vem ao meu socorro até mesmo agora, quando já me sentia capturado pela
mordaça de pedra — como acontece toda vez que tento uma evocação histórico-
autobiográfica. (Calvino, 1998, 17)

Em tempos em que as densas qualidades do mundo parecem cada vez mais invadir as
escrituras, não podemos responder com subjetividades. A mobilidade, a circulaçao das
imagens nas telas dos smatphones e devinculaçao entre objetos e lugares, quem sab epode
ser aproveitado como recursos para fazer persistir as narrativas, como açoes contudentes de
interveçao urbana.

Mais que os espelhos – que tranquilamentepodemos relacionar as tela dos smatfphne, a


nocAo de leveza não se traduz apenas por uma captura indireta cidade concreta. REIVIDICA
novos pontos de observação da cidade.

O QUE significa relativizar o peso da cidade nas narrativas - personagens e ocorrências. A


estratégia da leveza – como proposto por Calvino – podem interessar como possibilidade para
pensar a fragmentação computacional como possibilidade de pulverização das narrativas
(escrituras), para além das suas viculaçoes com os espaços conretos.


7
Termos que descrevem a cidade pela lógica espetacular de criação de imagens para a construção de
consensos.
Neste cenário investimos em escrituras que espalham as narrativas através de textos em
pedaços, fragmentos espalhados nos tempo-espacos das cidades – registos de praticas
cotidianas vividas e virtualizadas - assim como funciona a memória.
A ideia de leveza procura oferecer caminhos para pensar intervenção urbana como um acordo
entre arte e cidade, uma espécie de metáfora dos lugares, ou ainda, a metaforizaçao de
alguns protocolos de uso da cidade, para fazê-los funcionar em registros desafiam a cidade
como forma de escritura .


1.2. A CIDADE HÍBRIDA
Os espaços urbanos contemporâneos são atravessados e preenchidos por “novas redes
telemáticas” de acordo com André Lemos (2007). Além das mais conhecidas ondas de rádio e
TV, existem também as dos satélites, das diferentes faixas de telefonia celular (GSM, 3G, 4G
etc), wi-fi, e vários outros, modificando potencialmente o local mesmo que não se possa
acessá-las. Independente da possibilidade de acesso às redes constantes em um lugar,
inúmeras camadas de informação estão presentes ao mesmo tempo.

A relação entre espaço físico e o espaço eletrônico criam o que Lemos chama de Território
Informacional: uma sobreposição de vários espaços em um só (urbano e eletrônico) em
pequenas parcelas de tempo cumulativas.

Santaella(2008)chama de “espaços intersticiais” as bordas entre espaços físicos e digitais que
compõem espaços conectados, nos quais se rompe a distinção tradicional entre espaços
físicos, de um lado, e digitais, de outro. A autora usa a noção de “espaços intersticiais” para
apreender e caracterizar tal convergência espacial.

Peter Anders, definindo o espaço a partir do ponto de vista da cognição, esclarece que nós
estamos envolvidos na criação do mundo percebido imediatamente ou por meio de
extensões dos nossos sentidos:

But if we were to argue that there is this world that is beyond our senses,
we can have access to that world through direct sensory perception, but we
can also have it through another, what I call extended set of senses, which
include telescopes, microscopes and all those tools that we use to project
ourselves out into the world and reciprocally sense something that is
beyond normal perception. And when I say mediated entities, I could also
say that that might be digital information that's passed over the Internet as
an extended form of sense and then interpreted by my computer on a
screen so that my eyes can understand, or my eyes can take in the
information and process it from there. (ANDERS, 2001)

Anders chama de “espaço cíbrido” a combinação entre espaços físicos e o cyberspace,
símbolos ou imagens digitais eletrônicas, buscando com isso, superar a antinomia entre
sensação e pensamento, corpo e mente.

Para Giselle Beiguelman (2013) definição de Peter Anders de cibridismo é uma projeção do
virtual no real. A autora desloca o conceito de cíbrido de Anders para o contexto da
interconexão entre redes on-line e off-line, buscando superar a oposição entre real e virtual,
entendendo "que o processo de digitalização é tão inequívoco, que as redes são tão ubíquas,
que se tornou anacronismo falar em real e virtual. Então, esse estado de emergência cíbrida é
a emergência dessa interpenetração de campos." (Beiguelman, 2013) É na interseção dessas
redes on-line e off-line que Imediações: Praia de Iracema busca atuar.


2. DESENVOLVIMENTO


2.1. O Projeto Imediações
2.2 Contexto de desenvolvimento
Fortaleza é uma cidade litorânea, capital do Ceará. Ao longo de sua história passou por
diversas reformas, dentre as quais destacamos aquela pautada pelas demandas da crescente
globalização da economia e da cultura, a partir do final de 1980.
Para UZZO (2014 ), o modelo de planejamento urbano adotado nas cidades brasileiras, neste
período, partia do proposito de construir atributos para qualificarem a inserção das cidades no
cenário competitivo internacional e regional, marcado por uma politica neolibeal.

O início da aplicação deste plano esteve pautado com tensões entre diferentes movimentos
engajados com os processos de reforma urbana no período, pela contraposição entre uma
concepção de reforma urbana pautada em uma ética social e uma abordagem da cidade como
fonte de lucros para poucos. (TRINDADE, 2014). As críticas feitas às reformas denunciavam os
seus efeitos na definição de um quadro de desigualdade social promovido pela exclusão da
maior parte dos habitantes da cidade por conta de uma lógica da segregação espacial – pela
mercantilização do solo urbano e da valorização imobiliária; pela apropriação privada dos
investimentos públicos em moradia, em transportes públicos, em equipamentos urbanos e em
serviços públicos em geral.

Segundo UZZO (2009), os programas de formulação das cidades urbanas, iniciadas neste
período, não só não foram realizados, como resultaram em uma Anti-Reforma, ou numa
privatização/mercantilização crescente das cidades, que passou a ser tratada como mais um
ramo dos negócios. O planejamento estratégico, expressão usada nas ações de guerra e pelas
empresas, passou a ser aplicada na administração publica neste período, segundo Harvey
(1996, p. 53 apud Silva), propunha “muito mais o investimento e o desenvolvimento
econômico através de empreendimentos imobiliários pontuais e especulativos do que a
melhoria das condições em um âmbito específico.
No Ceará estes ajustes foram patrocinados por ações de políticos e empresários - liderados
pelo então governador do Estado Tasso Jereissati - a partir de uma política de atração de
investimentos, mediante incentivos fiscais, para estabelecer a cidade de Fortaleza como um
polo do turismo Céu e Mar.

Para PAIVA (2011), a atividade turística, como um dos indutores da urbanização de Fortaleza,
parecia realizar parte das demandas de metropolização da cidade no período.

“o turismo se enquadra no conjunto de transformações gerais ocorridas nas práticas


econômicas contemporâneas [...] que se apresenta como um dos principais produtos de
consumo resultante da globalização, que entre outros processos aumenta a atratividade e a
visibilidade dos lugares.” (Paiva, 2011, 65)

No entanto constata que as políticas públicas de inclusão do turismo como instrumento de


reestruturação social reproduziram sobretudo os interesses hegemônicos, os quais
repercutiram em novos padrões de desigualdade social - visto que a atividade terciária de
prestação de serviços não resolveu o problema da informalidade e da baixa qualificação. Antes
disso, como afirma Cavalcanti, a falta de investimento no trabalho formal gerou uma expansão
do mercado informal levando muitos trabalhadores a atuarem como vendedores ambulantes,
instalando-se nos espaços públicos da cidade tais como ruas, praças e calçadas, inicialmente
no centro comercial, e atualmente em bairros e na orla marítima.

2.2.1 A Praia de Iracema


O bairro Praia de Iracema pode ser visto como exemplo paradigmático das disputas simbólicas
- em função de concepções e usos do espaço urbano - que aconteceram a partir das reformas
sobre as quais falamos. São muitos os grupos que hoje se mobilizam em protesto e
rememoração da história do local, sobretudo para conter os efeitos da a <<alteração
desordenada» promovidas pela requalificação do bairro a partir de 2011 (aquário, poco da
draga)

Conhecida no passado como Praia do Peixe, a Praia de Iracema na década de 1920 como
balneário de classes média e alta da cidade, inaugurando uma alternativa de lazer e moradia.
Posteriormente, as obras do porto do Mucuripe e a destruição de casas, pelo avanço do mar,
provocaram mudanças nas funções do bairro, cada vez menos caracterizado como zona
de moradia.

Obras reconstruídas e tombadas na década de 1990, a exemplo da reformado Cassino Estoril,
edificação erguida à época da segunda guerra e alçada à categoria de patrimônio, a criação do
calçadão que margeia a orla, alargando a visibilidade do mar, e a reforma da Ponte dos
Ingleses, deram perfil estético ao bairro.

Paralelamente ao surgimento de bares e restaurantes, seguem-se investimentos mais
arrojados que se conjugam com a idéia de consolidar o bairro como local turístico,
apresentando-o como parte da história da cidade com opções diversificadas de lazer.
(fortaleza nobre) Praia de Iracema



Localização da Praia de Iracema


Fonte: Arquivo do ACTlab



3. RESULTADOS

I. Logotipo do Imediações Praia de Fortaleza


Desenhado com a gravação de dados de GPS de
um percurso pelas imediações da região que
recebe o projeto


II. desenhos que compõem a edição Imediações Praia de Iracema, realizado por um dos
artistas participantes do projeto.


Ilustração de Matheus Costa
III. stikers produzidos, apenas com uma vista parcial do desenho. O desenho se completa ao
usar o aplicativo. Juntamente com a animação, ouve-se a história que inspirou aquele desenho












Fonte: Arquivo do ACTlab
3.4 Este é o momento da intervenção, que consiste em recortar as figuras, colar os stickers e
mediar a interação das pessoas com a interface em Realidade Aumentada.
Figura 4 – Intervenção do Largo do Mincharia

Fonte: Arquivo do ACTlab
Quando o conteúdo audiovisual é acessado, é criado um curto-circuito temporal. São
contrapostos o momento em que o participante acessa o vídeo e a história do passado recente
ou distante daquele mesmo espaço.
Figura 4 – Intervenção do Largo do Micharia.


Fonte: Arquivo do ACTlab. Foto de Mariana Gomes.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda que tenha como matéria a memória, o projeto Imediações não propões uma abordagem
memorialista, conservadora ou passadista do espaço urbano; antes disso investe em uma
poética que explora a potência de criação de redes e de engajamento coletivo, ao mesmo
tempo em que instaura uma discussão sobre formas produção de imagens da cidade. Busca-se,
sobretudo, colocar em debate o modelo de desenvolvimento em vigor na transformação do
espaço urbano, bem como questionar as formas de uso da cidade a partir de uma perspectiva
de quem efetivamente a ocupa.


5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ANDERS, Peter. Toward an architecture of mind. In: CAiiA-STAR Symposium: 'Extreme parameters. New
dimensions of interactivity'. 11-12 de julho de 2001. Disponível em:
http://www.uoc.edu/artnodes/eng/art/anders0302/anders0302.html

BEZERRA, Roselane Gomes. Praia de Iracema: requalificação e ocupação do espaço em um bairro


turístico do Nordeste do Brasil. XII Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
Planejamento Urbano e Regional, Belém - PA, 2007.
BEIGUELMAN, Giselle. Uma pensadora da contemporaneidade. Comunicação & educação, Ano XVIII, n.
2, jul/dez 2013, p. 83-88. Entrevista concedida à Cláudia Nonato, p. 85
CALVINO, Italo. Seis propostas para o novo milênio: lições americanas. São Paulo: Companhia das Letras,
1998.
____________. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
CAVALCANTE Márcia Gadelha Cavalcante . A URBANIZAÇÃO “TURISTIFICADA” DA ORLA MARÍTIMA DE
FORTALEZA: O CASO DA FEIRA DA BEIRA-MAR. Anais do III Seminário Internacional RII e VI Taller de
Editores RIER. 2014.
JACQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva , escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de Janeiro:
Casa da Palavra,2003.
GONDIM, Linda Maria de Pontes. O Dragão do Mar e a Fortaleza pós-moderna: cultura, patrimônio e
imagem da cidade. São Paulo: Annablume, 2006.
HUIZINGA, Johan. Homo Ludens (1938). São Paulo: Perspectiva, 2004.
LEMOS, André. Mídia Locativa e Territórios Informacionais. In Santaella, L., Arantes, P. (ed), Estéticas
Tecnológicas: Novos modos de sentir., SP:EDUC., 2007
MEGGS, Philip B. Type and Image: The Language of Graphic Design

PAIVA, Ricardo. A metrópole híbrida: o papel do turismo no processo de urbanização da região
metropolitana de Fortaleza. Doutorado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, USP, 2011.
SANTAELLA, Lucia. A estética política das mídias locativas. Nómadas. Universidad Central – Colombia,
nº.28, Abril 2008, p. 130
TRINDADE, Thiago Aparecido. Ampliando o debate sobre a participação política e a construção
democrática : o movimento de moradia e as ocupações de imóveis ociosos no centro da cidade de São
Paulo. Tese (doutorado) Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas,
2014.
UZZO, Karina. Saule,Jr. Nelson. A trajetória da reforma urbana no Brasil, 2009. Ciudades para tod@s-
disponível em http://base.d-p-h.info/pt/fiches/dph/fiche-dph-8583.html, acesso 5 -10-016

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