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DIÁLOGO

NEWSLETTER
2.4

GLOBAL
Aonde vai a Sociologia
Chinesa? Liping Sun

Sociologia e
celebridade Robert Van Krieken
Vedat Milor

Violência e protesto Johanna Parra

na América Latina Nadia Rodríguez


Milton Vidal VOLUME 2 / EDIÇÃO 4 / MAIO 2012

> Reunião do Comitê Executivo em Beirute


> Laboratório de PhD em Johanesburgo
> Jornadas pela sociologia
> As insurreições árabes
> Uma ou várias sociologias?
> Nossos editores iranianos
> O lugar global da sociologia francófona
> Esquina da História: Mais sobre AISLF
direto dos arquivos
> Os desafios enfrentados pela Sociedade
DGN

Indiana de Sociologia
> Sociologia Pública na Universidade de Ankara
> Futuros Democratizantes
> Editorial
ISA-online – O futuro da sociologia

O
Diálogo Global tem sido publicados há dois anos. Nós o
aumentamos de 8 para 30 páginas, de 5 para 13 línguas,
a partir de um modelo padrão para um projeto especial,
a partir de um boletim informativo para uma revista. Ele
está disponível eletronicamente - embora onde quer
que eu vá minhas malas estão sobrecarregadas com cópias em papel,
impressas nas línguas mais relevantes. Ele oferece uma lente sociológica
sobre os acontecimentos mundiais, bem como um repositório sobre
os acontecimentos na ISA, conferências, debates sociológicos, colunas Aonde vai a sociologia chinesa? Nesta
especiais, atualizações sobre as sociologias nacionais e assim por diante. entrevista, o renomado intelectual chinês
e sociólogo Liping Sun descreve o lugar da
O mais importante é o diálogo que ele cria, dentro e entre as equipes de sociologia na vida pública chinesa e explica
tradutores. Por exemplo, nesta edição os membros jovens e entusiastas por que a China está caminhando para a
do Laboratório de Sociologia Pública em Varsóvia relatam a conferência estagnação.
que eles organizaram para lançar a versão polonesa do Diálogo Global -
uma conferência estendendo debate do Diálogo Global sobre o caráter
global e universal da sociologia. Um dos resultados, portanto, é uma rede
de equipes de jovens sociólogos interligados - cultivando diversas visões
da sociologia mundial.

Um princípio similar rege o curso global: Public Sociology, Live! Aqui


uma série de sociólogos brilhantes, profundamente enraizados nos países
onde vivem e pesquisam, conversam com estudantes de Berkeley curiosos 2
sobre suas experiências de engajamento. Usando o Skype, esses sociólogos Sobre a Celebrização da Academia.
Robert Van Krieken escreve sobre a forma
públicos mais comprometidos não tem que deixar seus estudos. As conversas como as celebridades invadiram a academia,
são gravadas e publicadas no site do ISA, onde podem ser vistos por criando um sistema de estrelas de Hollywood
qualquer pessoa com acesso à Internet em http://www.isa-sociology.org/ como em que “o vencedor leva tudo”, e
levando a uma característica corrosiva de
public-sociology-live/. http://www.isa-sociology.org/public-sociology-live/. trabalhos acadêmicos.
Em particular, ele é assistido por grupos de estudantes e seus professores
em Barcelona, Teerã, Joanesburgo, São Paulo, Kyiv, e Oslo, que, em seguida,
publicam resumos de suas discussões no facebook que, por sua vez, gera mais
discussões e debate. Nós, assim, criamos centros, laboratórios e institutos
que aprendem sobre si mesmos conectando-se aos outros, cultivando uma
comunidade de sociólogos globais, ligados por sua diversidade.

A mídia social pode intensificar e enriquecer a interação face a face, ao


mesmo tempo em que traz a interação para audiências globais. Assim, a série
de vídeos Jornadas pela Sociologia, descrita por Laleh Behbehanian nesta De Professor de Sociologia à Guru
edição, pergunta aos membros distantes da Comissão Executiva ISA o que Culinário. Looking for another career? O
sociólogo turco Vedat Milor nos diz como ele
os trouxe para a sociologia, e quais os desafios que enfrentaram no caminho. se tornou uma personalidade da televisão e
A maioria dos membros do ISA nunca teria a oportunidade de ouvir ou ver com um culto de seguidores - tudo baseado
os seus líderes, mas agora eles estão disponíveis a um clique de um mouse. em seu programa de gastronomia exibido na
TV em horário nobre.
Aqui, então, estão exemplos do que, em princípio, pode ser feito de qualquer
lugar do mundo, modelos que outras pessoas possam copiar, modificar e
melhorar. A Internet pode significar a degradação da educação, mas também
pode melhorar a educação, pode diluir a comunicação, mas também pode
enriquecê-la. Enquanto nós controlarmos a Internet podemos decidir como
usá-la.

O Diálogo Global é publicado cinco vezes ao ano em 13 idiomas. Ele pode ser acessado no website
da ISA. Submissões podem ser enviadas a Michael Burawoy: burawoy@berkeley.edu

DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012


> Corpo Editorial > Nesta Edição

Editor: Editorial: ISA – online – O futuro da sociologia 2


Michael Burawoy.
Aonde vai a sociologia chinesa?
Editores Executivos: Entrevista com Liping Sun, China 4
Lola Busuttil, August Bagà.
Editores Associados: > CELEBRIDADE
Margaret Abraham, Tina Uys, Raquel Sosa, Sobre a celebrização da academia
Jennifer Platt, Robert Van Krieken. por Robert Van Krieken, Austrália 6
Conselho Editorial:
Izabela Barlinska, Louis Chauvel, Dilek Cindoğlu,
De Professor de Sociologia à Guru Culinário
Tom Dwyer, Jan Fritz, Sari Hanafi, Jaime Jiménez, por Vedat Milor, Turquia 8
Habibul Khondker, Simon Mapadimeng, Ishwar Modi,
Nikita Pokrovsky, Emma Porio, Yoshimichi Sato, > VIOLÊNCIA E PROTESTO NA AMÉRICA LATINA
Vineeta Sinha, Benjamin Tejerina, Chin-Chun Yi, A violência das esmeraldas
Elena Zdravomyslova.
por Johanna Parra, Colômbia 11
Editores Regionais Restituição de terras na Colômbia
Mundo Árabe: por Nadia Rodríguez, Colômbia 13
Sari Hanafi, Mounir Saidani.
O movimento estudantil no Chile
Brasil: por Milton Vidal, Chile 15
Gustavo Taniguti, Juliana Tonche, Pedro Mancini,
Fabio Silva Tsunoda, Célia da Graça Arribas,
Andreza Galli, Renata Barreto Preturlan.
> O QUE ACONTECE NA ISA?
Colômbia:
Reunião do Comitê Executivo em Beirute, 2012
María José Álvarez Rivadulla, Sebastián por Michael Burawoy, EUA 17
Villamizar Santamaría, Andrés Castro Araújo. Laboratório de PhD, novembro de 2011
Índia: por Tina Uys, África do Sul 20
Ishwar Modi, Rajiv Gupta, Rashmi Jain, Uday Singh.
Jornadas pela sociologia
Irã: 3
Reyhaneh Javadi, Shahrad Shahvand,
por Laleh Behbehanian 21
Fatemeh Moghaddasi, Saghar Bozorgi,
Nastaran Mahmoudzadeh, Najmeh Taheri, > CONFERÊNCIAS
Tara Asgari Laleh, Milad Rostami. As insurreições árabes
Japão: por Amina Arabi e Julian Jürgenmeyer, Líbano 23
Kazuhisa Nishihara, Mari Shiba, Kousuke Himeno,
Tomohiro Takami, Yutaka Iwadate, Kazuhiro Ikeda,
Uma ou várias sociologias? Um diálogo polonês
Yu Fukuda, Michiko Sambe, Takako Sato, Shohei por Mikołaj Mierzejewski, Karolina Mikołajewska,
Ogawa, Tomoyuki Ide, Yuko Hotta, Yusuke Kosaka. e Jakub Rozenbaum, Polônia 25
Polônia:
Mikołaj Mierzejewski, Karolina Mikołajewska, > COLUNAS ESPECIAIS
Jakub Rozenbaum, Michał Chełmiński, Emilia Hudzińska, Apresentando os editores: A equipe iraniana
Julia Legat, Adam Muller, Wojciech Perchuć, por Reyhaneh Javadi, Iran
Anna Piekutowska, Anna Rzeźnik, Konrad Siemaszko,
27
Zofia Włodarczyk. O lugar global da sociologia francófona
Rússia: por André Petitat, Suíça 28
Elena Zdravomyslova, Anna Kadnikova, Esquina da História: Mais sobre a AISLF direto dos arquivos
Elena Nikiforova, Asja Voronkova.
por Jennifer Platt, Reino Unido 30
Taiwan:
Jing-Mao Ho. > DAS REGIÕES
Turquia: Os desafios enfrentados pela Sociedade Indiana de Sociologia
Aytül Kasapoğlu, Nilay Çabuk Kaya, Günnur Ertong,
Yonca Odabaş, Mustafa Aykut Attar.
por Ishwar Modi, Índia 31
Sociologia Pública na Universidade de Ankara
Consultores de Mídia: por Günnur Ertong e Yonca Odabaş, Turquia 32
Annie Lin, José Reguera.
Futuros democratizantes
por Markus S. Schulz, EUA 33

DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012


> Aonde vai a
Sociologia Chinesa?
Uma entrevista com
Liping Sun
Esta entrevista foi conduzida por Michael Burawoy para Diálogo Global, com a mediação
dos professores Yuan Shen, Lina Hu e Xiuying Cheng. Liping Su é um dos mais importantes
intelectuais públicos na China hoje. Ele é professor de Sociologia da Universidade de
Tsinghua, em Pequim.

desenvolvimento socioeconômico e à acumulação de


problemas econômicos e sociais. Comparada com a União
Soviética e o Leste Europeu, a transição chinesa é vista
como um modelo passo a passo, e é nisso que se encontra
o problema: o sucesso inicial deste processo de reforma
colocou agora suas próprias barreiras. 4

MB: O que o senhor quer dizer exatamente com isso?

LS: O sucesso econômico da China foi garantido pelo mono-


pólio estatal de todos os tipos de recursos e sua forte capacida-
de administrativa. Este modelo particular de desenvolvimento
econômico foi fundado na atuação de burocratas corruptos
em um Estado rentista. A expansão desta burocracia pode-
rosa, contudo, obstruiu o avanço da transição em direção
a uma verdadeira economia de mercado, que opere sob o
“império da lei”.

MB: O senhor é um intelectual público bastante


conhecido na China. O que isso significa para o senhor?
Na realidade, como o senhor dissemina a sociologia para
O renomado sociólogo chinês Liping Sun, fazendo diferentes públicos? Como o senhor é influenciado por
apontamentos sobre a armadilha da transição
sua sociologia pública?

MB: Recentemente, o senhor escreveu sobre o impasse LS: A diferença entre a sociologia “tradicional” e a “pública”
ou a estagnação do desenvolvimento chinês, ou o que pode ser vista da seguinte maneira. O interesse primordial
você denominou como a “armadilha da transição”. O que da sociologia tradicional é produzir conhecimento sobre a
o senhor quer dizer com “armadilha da transição”? vida social. Embora este conhecimento também influencie
a sociedade, isso ocorre apenas “indiretamente”, como
LS: A armadilha da transição se refere à mascaração de uma consequência não intencional. Por sua vez, embora a
interesses no processo de reformas que impede que outras sociologia pública também produza conhecimento sobre
aconteçam. Aqueles que se beneficiaram das reformas a sociedade, seu interesse primordial é influenciar a socie-
querem manter o status quo; desejam congelar as formas dade. Nas palavras de Robert Merton, a função manifesta da
institucionais em suas características de transição, e querem sociologia tradicional é produzir conhecimento e a função
estabelecer “instituições mistas” que vão maximizar seu latente é influenciar a sociedade. A sociologia pública é o
lucro. Tudo isso leva à distorção do desenvolvimento exato oposto.
>>
DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012
devo acrescentar que a objetividade da sociologia e seu
As diferenças entre os dois tipos de sociologia se expressam foco em fatos, ou seja, seu caráter científico, também ajuda
na escolha do tópico de pesquisa e na maneira pela qual a expandir o espaço para lidar abertamente com questões
se chega às conclusões. Quando escolhemos um tópico públicas.
de pesquisa na China, a prioridade é dada aos problemas
sociais mais importantes que precisam de respostas. Por MB: Como o senhor chegou na sociologia? Sei que o
exemplo, nossa pesquisa sobre a mudança na estrutura social senhor passou muito tempo fazendo projetos de história
durante o processo de transição, sobre contradições sociais e oral com os camponeses. O que o senhor aprendeu a
conflitos, sobre a armadilha da transição, e assim por diante. partir dessa pesquisa sociológica?
Nosso objetivo é claro: chegar a conclusões que influencia-
rão o entendimento público da questão, e até influenciar as LS: Eu era um estudante de comunicação e depois passei
políticas implementadas pelo governo. para a sociologia no último ano de faculdade. Essa era
uma época em que a sociologia estava sendo reconstruída
Existem três principais canais de influência: publicar traba- na China, depois de quase 30 anos de abandono. Na
lhos em revistas acadêmicas para influenciar o andamento década de 1980, meu principal interesse de pesquisa era a
da disciplina; proferir discursos em meio de comunicação modernização porque, na época, era o principal tópico na
social (incluindo redes sociais como o Twitter) para influenciar sociedade Chinesa. Meu estudo de áreas rurais por meio
o entendimento público; e escrever relatórios de pesquisa da história oral começou em 1996. O objetivo era coletar
sobre tópicos específicos, influenciando o governo por meio informação sobre a sociedade rural para entender a vida
de sua publicação nos meios jornalísticos e nas redes sociais. cotidiana de camponeses e a “lógica comunista da prática”
Contudo, de forma geral, não nos engajamos diretamente em implícita em suas vidas cotidianas. Queríamos analisar
ações sociais. as reformas de mercado chinesas como um processo de
“transição civilizacional”, ou seja, um processo que orga-
MB: Como o senhor vê o papel ou a função da sociologia nizou a vida social, incorporado nas práticas cotidianas. É
na China contemporânea? por isso que fui para as áreas rurais para entrevistar campo-
neses sobre suas experiências no período revolucionário.
LS: Como a China é uma sociedade em transição que está
passando por dramáticas mudanças sociais, a sociologia tem MB: Quais mudanças na sociologia o senhor viu
um impacto maior na vida pública. Nesta era, a sociologia nos últimos 30 anos? Qual é a sua visão do futuro da
pode influenciar o pensamento público, assim como as sociologia chinesa? 5
políticas governamentais. Assim, os diferentes modelos
de industrialização desenvolvidos por sociólogos, como as LS: A academia americana está preocupada com a
Township and Village Enterprises (TVEs – Empresas Coletivas acumulação de conhecimento, a academia europeia, com
de Vilas e Municípios) e as recomendações a respeito da valores, e a academia chinesa está preocupada com a
integração do desenvolvimento rural e urbano se tornaram realidade. Isto é, a academia chinesa tem uma tradição de
políticas patrocinadas pelo Estado no nível local. Conceitos se importar com a realidade. Contudo, devido à influência
teóricos introduzidos por sociólogos, como “comunidade”, da sociologia americana, assim como outros fatores, existe
se tornaram os slogans de documentos oficiais de polí- agora um interesse declinante pela realidade na sociolo-
ticas públicas e informaram práticas na vida pública após o gia chinesa. A sociologia parece ter se tornado o estudo da
desmonte do sistema de unidades de trabalho. própria sociologia, ao invés da sociedade. Mesmo quando
a pesquisa é sobre a sociedade, ela tende a produzir
MB: Quais são os dilemas dos intelectuais públicos conhecimento muito fragmentado.
chineses hoje? Existe algo sobre o qual o senhor não
possa escrever ou falar? Ou o senhor tem maneiras Sempre acreditei na importância de se estudar transições
especiais de contornar questões sensíveis? Como o sociais, especialmente por meio de um exame de seus
senhor sobrevive como um crítico do Estado? processos e eventos. Isso é importante mesmo se estamos
preocupados com o desenvolvimento da própria sociolo-
LS: Na situação atual da China, há de fato muitas limitações gia. Com relação à sociologia, os fundadores de nossa
a encarar quando se fala sobre assuntos públicos. Contudo, moderna disciplina estavam todos preocupados em expli-
ao mesmo tempo, deve-se ressaltar que o espaço para car a civilização capitalista. Por outro lado, o comunismo
intelectuais públicos é maior do que se pode imaginar. sem dúvida representa outra grande civilização na histó-
Podem-se tratar muitas questões públicas diretamente. ria humana. Ele tem um conjunto de instituições, valores e
Alguns tópicos sensíveis também podem ser mencionados lógicas que são muito diferentes do capitalismo ocidental,
por meio de “desvios cuidadosos”. Por exemplo, é possível e passou um por uma transformação histórica nos anos
falar sobre a realidade falando sobre a história, ou falar so- recentes. Acredito que o estudo das características, lógicas
bre a China a partir da União Soviética ou do Leste Europeu, e processos de transição desta civilização comunista deve-
e assim por diante. Desde o surgimento da internet, blogs ria se tornar a nova inspiração e motivação para a sociologia
e Twitter, o espaço para discutir diretamente algumas contemporânea e, de fato, para as ciências sociais em geral.
questões sensíveis aumentou consideravelmente, porque o
controle sobre essas novas mídias é mais frouxo. Eu ainda

DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012


> Sobre a Celebrização
da Academia
por Robert van Krieken, Universidade de Sydney, Australia, e Vice-Presidente da ISA de
Finanças e Filiação, 2010-2014

mas eu gostaria de oferecer aqui algumas reflexões sobre


como um tipo específico de “racionalidade de celebridade”
também opera. Existe uma conexão entre os mecanismos
sociais e econômicos que dão suporte às figuras sociais
que normalmente identificamos como celebridades –
atores, atrizes, personalidades de TV, estrelas do esporte –
e as transformações que afetam as universidades ao redor
do mundo. Meu projeto mais amplo tem sido resgatar a
análise da celebridade para problematizar preocupações
conceituais centrais na sociologia, como desigualdade,
identidade, poder e governança, e há uma série de maneiras
pelas quais a academia é um exemplo central dos processos
e dinâmicos da “sociedade da celebridade”.

Pierre Bourdieu – uma celebridade contra a celebrização


Há discussões mais antigas sobre celebridade nos escritos 6
de Robert Michels e outros, mas C. Wright Mills fez uma

N
importante contribuição quando observou os modos
as universidades de hoje, é possível ver uma pelos quais as dinâmicas de todos os tipos de competição
série de fissuras que estão se tornando mais subjazem à produção de indivíduos específicos como
longas e largas, dividindo a comunidade celebridades – ou seja, “intérpretes” altamente visíveis que
acadêmica em aproximadamente três funcionam como ponto de referência cognitiva e prática
classes: para o resto do campo competitivo. Em A Elite do Poder
(Power Elite, Oxford, 1957: 74), Mills escreveu:
• uma elite de pesquisadores prestigiados com pouca ou
“Nos Estados Unidos, este sistema é levado a tal ponto que um homem
nenhuma responsabilidade administrativa ou de ensino; que consegue bater uma pequena bola branca para dentro de uma série
de buracos no chão com mais eficiência e habilidade que qualquer outro
• uma “classe média” de professores e pesquisadores, ganha acesso social ao presidente dos Estados Unidos. É levado a tal ponto
que um apresentador tagarela de rádio e televisão se torna o companheiro
pressionada por demandas em constante crescimento
de caçadas de grandes executivos industriais, membros do alto escalão do
para que façam mais e melhores pesquisas além de ensinar governo e das forças armadas. Não parece importar em que o homem é o
números cada vez maiores de alunos. A performance da melhor: desde que ele tenha vencido em competições todos os outros, ele
elite que somente faz pesquisa é usada como o padrão, mas é celebrado.”

é inatingível; assim, essa classe está condenada ao fracas-


so e frustração, e à busca do Santo Graal das posições de Isto não estava exatamente certo; é mais comum que a
dedicação exclusiva à pesquisa; estrela de rock tenha acesso ao presidente, mas o homem
com a bolinha branca também se dá bem. A questão é que
• um exército proletário em expansão de professores o maior alcance possível de visibilidade e reconhecimento
e pesquisadores eventuais e em meio período, que se torna um recurso ou valor em si; independentemente do
experimentam extrema insegurança e más condições de que gerou o reconhecimento em primeiro lugar.
trabalho, na esperança de que, com o tempo, irão alcançar
uma posição em tempo integral no quadro permanente. Robert Merton caracteriza o problema como o “Efeito
Mateus” no trabalho científico, referindo-se ao Evangelho
Há uma série de maneiras de analisar essas tendências, segundo Mateus 25:29: “Porque a todo o que tem se lhe
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DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012
dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que patronos, doadores e governos. É também por isso que
tem lhe será tirado.” Ele notou que cientistas que recebe- as universidades investem tanto tempo e dinheiro no
ram um Prêmio Nobel recebiam muito mais atenção que desenvolvimento de suas “marcas”.
seus colegas, independentemente dos méritos relativos
de suas pesquisas. A abundância de atenção com relação Que lições podem ser aprendidas da análise sociológica
ao desempenho acadêmico tendia a ser autocumulativa, da celebridade para responder a essas transformações da
desde que se permanecesse no campo. Isto foi elaborado universidade? Não há espaço para analisar isto em detalhe
por Herbert Simon em 1971, quando ele apontou que aqui, mas posso sugerir algumas possibilidades para
quando há um excesso de informação e conhecimento, começar. Primeiro, reconhecer que estamos olhando para
o recurso que se torna escasso – e, consequentemente, uma máquina para a produção e distribuição de atenção,
uma mercadoria importante – é a atenção, a capacidade e que é a atenção muitas vezes o recurso em questão, não
de orientar a cognição em uma direção ou para um objeto o valor acadêmico do que está sendo produzido, torna
em vez de outro. Atenção é o recurso escasso ou “bem possível adotar uma percepção muito mais cética dos
posicional” em circulação no que Richard Sennett chamou jogos de status sendo jogados nas universidades. Entender
o “sistema de estrelas” com relação à música: a maneira pela que o que é apresentado como meritocracia é em alguns
qual certos músicos, capazes de ir além do fato de serem aspectos na verdade uma “celebritocracia” nos ajuda a ver
somente bons músicos ao incluir características adicionais que muitas das tendências de crise são de fato uma “luta
que capturam a atenção, terminam por ofuscar o resto do por atenção”.
campo musical.
Segundo, se o jogo em que estamos é o da celebridade,
A orientação crescente segundo os rankings globais e então podemos observar o que está acontecendo no campo
o constante refinamento de métodos de mensuração e mais amplo da celebridade e adotar estratégias semelhan-
avaliação de desempenho geram dinâmicas competitivas tes em nossa atividade acadêmica. Todos nós sabemos que
semelhantes entre acadêmicos, universidades e países – e Andy Warhol disse que “no futuro, todos serão famosos por
onde há competição, há produção de celebridades: grandes 15 minutos”, mas depois ele disse que estava cansado dessa
acadêmicos, pesquisadores, universidades. Seria possível frase, e que queria mudá-la para “em 15 minutos, todos serão
dizer que a mensuração de citações é uma medida de quão famosos”. Podemos ver esse mecanismo em funcionamen- 7
influente uma pesquisa é, mas também é uma medida da to na proliferação massiva de diferentes tipos de indivíduos
celebridade acadêmica de seu autor. Citamos Bourdieu ou altamente visíveis e mais amplamente reconhecíveís (ou
quem quer que seja não somente ou mesmo principal- seja, celebridades) em mais e mais campos de atividade.
mente porque faz muita diferença para a análise, mas para
indicar que conhecemos Bourdieu.
Ao invés de aceitar a hierarquia de status acadêmico que
atualmente está sendo instalada, que lembra o antigo
O sistema atual de celebridade acadêmica opera em três
sistema de estrelas de Hollywood, é possível gerar nossos
níveis: individual (em geral pesquisadores, raramente
próprios sistemas de reconhecimento “de baixo”, com
professores), institucional (universidades) e nacional
diferentes tipos de academia de “filmes de arte”, para
ou regional (países ou blocos de países). Pode ser uma
permanecer com essa analogia, incluindo uma diversi-
metáfora exagerada, mas em muitos aspectos todos
dade de redes de pesquisa que podem ou não atingir
querem – ou estão sendo forçados a querer – ser a Kim
o estrelato, mas das quais gostamos e que acredita-
Kardashian de sua disciplina ou do sistema universitário
mos fazerem um trabalho bom e útil. É possível rejeitar
global. Assim como a visibilidade de Kardashian afeta sua
a lógica de que “o vencedor leva tudo” que parece estar
capacidade de ganhar dinheiro por meio de patrocínios
percorrendo as universidades hoje em dia; orientar-nos
e venda de sua imagem e marca, os rankings impor-
uns pelos outros, ao invés de nos permitir que sejamos
tam para as universidades porque afetam as inscrições
seduzidos pelo “olhar centrípeto” focado no estrelato
de estudantes, seu status social e a generosidade de
acadêmico.

DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012


> Tornando-se
uma Celebridade:
De Professor de
Sociologia a Guru
Culinário
por Vedat Milor, Istanbul, Turquia

Vedat Milor, guru culinário – não tão feliz


assim com a sua comida.

P
ode-se pensar que avental de chefe de cozinha. Ele está único programa gastronômico na TV
aquele rapaz na tela gritando para os garçons recuperarem que sei que é transmitido em horário
da televisão na minha o celular. Estranhamente, nosso ca- nobre e nos finais de semana por uma
frente está observando marada não tem consciência do infeliz emissora de importância na Turquia,
uma reunião espiritual, e encontra-se acidente. Ao invés disso, ele se vira a NTV. Sou a estrela do show; visito
em uma reza profunda. Ele segura sua para o esbelto chefe e questiona: “Por restaurantes, experimento uma va-
cabeça com suas duas mãos, e seus que você usou vinagre de cidra nesse riedade de pratos, julgo a qualidade
olhos semicerrados estão focados prato, ao invés de vinagre de xerez?” dos ingredientes e as combinações
em um ponto fixo. Subitamente, seu de sabores, expresso críticas e de-
celular cai de seu bolso para o mar. Não pude ajudar, apenas rir. Vejo- mando explicações aos chefes. Caso
Há alguma comoção. Agora, a câmera me com uma mistura de descrença o restaurante possua uma carta de
foca um homem esbelto, sem dois e divertimento. Não se trata de um vinhos, peço igualmente que me sir-
de seus dentes frontais, vestindo um “reality show”, contudo. Esse é o vam um copo por cada prato e emito
>>
DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012
minha opinião sobre a qualidade franceses. Mas em Berkeley esse e refinada, em comparação com o
do vinho e o relativo sucesso da aluno “descobriu” o método etno- puritanismo cultural estupidificante
harmonização. gráfico e interessou-se por “estudos dos anos Reagan na América e do
de caso em profundidade” para regime militar do General Kenan
Viajo com dois câmeras e um compreender as dinâmicas da mu- Evren na Turquia.
produtor do canal. Visitamos restau- dança social. Seu conselheiro PhD,
rantes localizados majoritariamente Michael Burawoy, convenceu-o de “Mas por que você está
na Turquia, mas já estivemos em que uma metodologia comparativa comparando a França com a
Roma, Catalunha, Geórgia, Síria e torna mais fácil desenvolver um mo- Turquia?”, perguntou-me a senho-
Líbano. No final de cada visita a um delo teórico para se compreender ra que veio ao campus para me
restaurante, concedo uma avaliação e desenvolver questões sobre a entrevistar para a irmandade de
geral de dois ou três minutos e então “autonomia” do Estado em uma dissertação de Fulbright. Ainda
classifico o restaurante conferindo- economia capitalista dependente me recordo da expressão de
lhe estrelas. Essas estrelas variam como a Turquia. Consequentemente, choque em sua face quando ela
de uma a cinco. Os restaurantes que após alguma deliberação analítico- ouviu minha resposta: “vinho e
eu ranqueio com quatro ou cinco metodológica, escolheu comparar comida”! Ela deve ter concordado
estrelas tornam-se usualmente mui- os planejamentos econômicos turco comigo, já que conquistei minha
to sofisticados e acabam afastando e francês posteriores à Segunda filiação na irmandade. Também
muitos clientes, mesmo se eles esta- Guerra Mundial, com o fim de elu- fui sincero em minha afirmação.
vam quase vazios antes de minha cidar diferenças estruturais na auto- Malcolm Gladwell, em seu popular
visita. nomia de Estado e nas relações de livro Discrepantes: A História
classe em países “centrais” e “pe- do Sucesso , formula uma regra
Sou um chefe? Não. Mal posso riféricos”. de 10mil horas de certo modo
quebrar um ovo. Sou uma cele- arbitrária, mas plausível. Muitas
bridade? Sim. As pessoas me re- A essa altura, fico tentado a plei- pessoas nascem com talentos
conhecem nas ruas e solicitam tear a “inocência” e dizer que a des- inatos, mas para fazê-los florescer
uma foto comigo o tempo todo. coberta do e o fascínio pelo vinho é preciso ser um workhaholic e 9
Escrevem sobre mim em muitos francês foram “consequências não haver despendido 10mil horas
fóruns da internet. Especulam in- intencionais” de minha escolha da em sua vocação. Bem. E quanto à
findavelmente sobre minhas moti- França como o modelo típico-ideal regra de 10mil garrafas de vinho?
vações, sobre o meu caráter, e são de uma economia dirigista. Mas não. Eu certamente cheguei perto dis-
muito curiosos a respeito de minha Não se tratou disso. Eu já havia sido so entre 1985 e 1990, uma vez
vida privada. Continuo a receber picado pelo inseto do ótimo vinho que ingressei em vários clubes e
cartas de colegas estudantes per- de Borgonha após pagar dez dólares grupos de degustação enquanto
guntando-me “como podemos nos por um Henri Jayer Bourgogne no estive na pós-graduação.
tornar como você”, e dos pais de Mercador de Vinhos Kermit Lynch,
estudantes do ensino médio re- em Berkeley. Eu não podia arcar Os anos que se seguiram passaram
quisitando-me a escrever algo para com os gastos de um rádio em meu em uma velocidade relâmpago.
seus filhos, uma vez que sou seu quarto na Casa Internacional, mas Ingressei no Banco Mundial como
“ídolo” e que eles almejam se tornar estava bebendo um bom vinho. um economista político, mas quando
“Vedar Milor” quando crescerem! Beber um bom vinho de Borgonha, minha dissertação conquistou o
para mim, era uma experiência “prêmio de melhor dissertação” na
Mas quem sou eu? Como tudo profunda e assombrosa. Um bom Associação Sociológica Americana,
isso aconteceu? Quando olho 30 vinho de Borgonha vermelho possui em 1990, fui novamente levado à vida
anos para trás, vejo um impaciente um aroma multifacetado, uma acadêmica. Lecionei na Universida-
estudante de graduação de primei- natureza inconstante que cintila e de Brown e na Tecnológica da
ro ano, ingressando na casa do desafia as papilas gustativas e uma Geórgia, obtive uma Licenciatura em
departamento de Sociologia de Ber- textura feminina elegante com um Direito por Stanford e me elegi para
keley após seu curso de graduação retrogosto surpreendentemente a Ordem da Touca. Cheguei a passar
em Economia pela Universidade de temperado e robusto. É tão um ano acadêmico no Instituto
Bósforo, Turquia. Estava fascinado complexo e sensual que incorpora para Estudos Avançados e tive o
por Sraffa, o neo-keynesianismo, Al- tudo que prezo na civilização privilégio de me situar próximo de
thusser e por marxistas estruturais ocidental democrático-burguesa uma das maiores mentes do século

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XX, Albert Hirschman. Também burguesia perdeu seu controle sobre contra os prazeres sensuais é unido
passei um tempo no Vale do Silício, a política e a economia. Auxiliada à feroz repressão política atual
em empresas iniciantes. e instigada pela violenta corrupção contra oponentes, os jovens, em
política e por uma severa crise particular, voltam-se para dentro
Ainda assim, especialmente após econômica, a versão da AKP para de si e se refugiam em suas ricas
a experiência no Vale do Silício, eu o populismo islâmico prometeu imaginações. A intolerância a formas
nunca mais me senti atraído pela equidade e transparência. O partido coletivas de protesto e a censura
vida acadêmica. Minha participação beneficiou-se dos rachas ocorridos severa dos meios de comunicação
em um projeto no Departamento no bloco dominante e encontrou gera medo, mas também estimula
de Políticas Públicas na Tecnológica apoiadores entre fragmentos a imaginação. Pessoas jovens per-
da Geórgia sobre “como incrementar monopolísticos do capital. Tam- cebem a política como “suja” e a
a eficiência no uso de consultores bém mobilizou segmentos margi- vida econômica como “imunda”.
externos pelo Departamento de nalizados da burguesia anatoliana, Estão bem cientes dos sacrifícios
Transportes da Geórgia” foi “a palha comerciantes urbanos, empreiteiros, exigidos sobre sua integridade para
que quebrou as costas do camelo”. membros educados da juventude serem “bem sucedidos” na vida. Uma
Não estava interessado em me tornar conservadora e as dilatadas massas pessoa aparentemente relapsa a
um tecnocrata. Não compartilhava pobres urbanas. respeito da idade de seu pai, que
interesses similares com meus co- parece deter um amor glorioso pela
legas. Tive que buscar alternativas. Fico espantado quando noto o comida e pelo vinho, é um alter
quão popular é meu programa na ego fascinante. Contra o pano de
Um amigo de meus anos no Banco Anatólia e entre os pobres urbanos. fundo de uma existência desoladora
Mundial em Washington D.C. tornou- Evidentemente, pessoas educadas e aspirações extraordinárias, uma
se o editor geral de um jornal diário que podem gastar comendo fora de aventura perpétua na busca pelo
de reputação, o Milliyet, na Turquia. casa estão entre meus seguidores, “sabor” é a coisa mais gratificante
Ele procurava alguém com um bom mas como se explica a popularidade que a vida tem a oferecer.
conhecimento em vinho e comida entre massas urbanas marginais e,
e uma reputação de integridade. especialmente, entre a juventude? Talvez eu seja seu “Jayer de 10
Perguntou-me se eu poderia redigir Eu fui certamente auxiliado pelo Borgonha”, permitindo-os redobrar
uma coluna bissemanal em seu meu status de “outsider”. Não era suas energias psíquicas e liberar su-
periódico. Desde então, estive em parte das conexões old boys1 da as sensualidades reprimidas em um
uma montanha russa. indústria de comida e bebida, e ambiente sociocultural e econômico
me coibi de alianças próximas com hostil. Esse “idealismo retorcido” da
Existe uma explicação teórica para grandes restauranteurs e com a juventude marginal de classes trans-
a minha popularidade? Acre-dito indústria alimentícia. versais é o outro lado da “cultura
que sim. As dinâmicas que trou- de celebridades” e do status da ce-
xeram fama e popularidade para Mas creio que exista mais um fator lebridade como um “ídolo”. Não
mim são similares àquelas que le- de importância explicando minha se pode compreender esse fenô-
varam o Partido da Justiça e do De- popularidade entre a juventude. O meno sem ecoar Marx: “a morte da
senvolvimento (AKP) ao poder em elemento repressivo puritano, sem- cultura de celebridade deve ser a
2002. A aliança secular dominante pre presente na cultura islâmica, foi emancipação das celebridades”.
entre a elite burocrático-militar e realçado desde a ascensão do AKP ao
1 NT: Conexão de negócios entre estudantes, formada apenas por homens
o fragmento monipolístico da alta poder. Quando esse viés repressor de escolas privadas.

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> A violência das
Esmeraldas
por Johanna Parra, Universidade de Icesi, Cali, Colômbia

Nenhum país tem mais esmeraldas do que a


Colômbia. Famílias em conflito fizeram da
mineração um negócio violento exercido
sob as condições mais perigosas. Aqui, um
homem conta as suas bênçãos. Foto por Jan
Sochor.

11

A
violência entre facções do Partido Liberal, em 9 de abril independência até o presente. Entre
na Colômbia se tor-nou de 1948- transformou a constante 1863 e 1886 ocorreram nove grandes
um objeto de análise violência que era presente no guerras civis que estabeleceram
sociológica, particular- imaginário social e político em algo as bases das lutas entre facções
mente entre a especialidade co- bem real. Mas a causa subjacente e as raízes da violência no século
nhecida como violentologia . Este da dissolução do “corpo social” XX, transmitidas de geração para
ramo da sociologia colombiana foi reside na ausência de uma unidade geração até os dias atuais, como
inicialmente de-dicado ao estudo simbólica Estado-Nação. Daniel Pécaut claramente explicou
do período his-tórico colombiano em Order and Violence.
chamado La Violencia (1945- Diversos poderes políticos, militares
1965), baseado no livro seminal La e religiosos instigaram as massas a A violentologia estendeu seus estudos
Violencia en Colombia, Estudio de pegarem em armas e enfrentarem para toda violência através do tempo
un Proceso Social (1962) de Germán seus oponentes partidários nu- e espaço, fazendo-se central para as
Guzmán Campos, Orlando Fals ma batalha até a morte. Os parti- ciências sociais na Colômbia e para a
Borda e Eduardo Umaña. Esta obra, dos Liberal e Conservador são as compreensão da sociedade e história
construída sobre o conceito de “po- formações políticas colombianas his- colombianas. Na realidade, ainda
breza estrutural”, consiste numa toricamente tradicionais, herdadas há muito a ser feito: nós precisamos
explicação sociológica da agitação das Forças da Independência (1810- produzir trabalhos historiográficos e
que causou a violência civil. Um 1830) que deram origem à nação. A etnográficos que tornarão possível
evento particular –o assassinato violência tem estado enraizada no entender a violência incorporada na
de Jorge Eliécer Gaitán, caudilho cotidiano do Estado-Nação, desde a vida cotidiana. Meu trabalho pretende
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ser uma contribuição para esta tarefa. oriental, onde cerca de 80.000 No período entre 1960 e 1991 houve
habitantes vivem a cerca de 40 duas “Guerras das Esmeraldas” em
Não só os confrontos militares km de Chiquinquirá, a capital da que os patrões lutaram pelo controle
gerados por La Violencia transfor- província do Departamento de da exploração mineral. Como
maram o país em sangue e fogo, Boyacá. Em apenas dez anos, esta resultado, ao menos 5.000 pessoas
mas a extrema barbaridade das região experimentou a passagem morreram na região. Em 1991, as
atrocidades normalizou a violência de uma economia campesina para guerras terminaram com um tratado
como parte da vida cotidiana. No final uma economia de mineração. Ela de paz acordado pelos Dons que
de La Violencia, durante a Guerra Fria produziu riqueza excessiva para sobreviveram. Os conflitos entre os
dos anos de 1960 e 1970, diferentes poucos habitantes que se aven- comerciantes de esmeraldas não
grupos pegaram em armas para turaram nas minas em busca de desapareceram, entretanto, e temos
fundar movimentos guerrilheiros esmeraldas valiosas. A transformação que acrescentar a isto o surgimento
marxistas. Um deles, FARC (Forças da economia regional fraturou do tráfico de drogas e de grupos
Armadas Revolucionárias da Co- os grupos familiares campesinos, paramilitares. Estes novos elementos
lômbia) proveniente das facções trazendo novas alianças de paren- que apareceram na região colocaram
armadas do Partido Liberal, está tesco. Estas novas associações essas famílias controladoras em
ativo ainda hoje. Por outro lado, entre as famílias mais ativas no contato com as economias ilegais
as forças paramilitares derivam da negócio da esmeralda têm exigido e os exércitos privados, o que in-
reativação das milícias do Partido a colaboração de empresários e tensificou a cultura endógama da
Conservador e da privatização das guardas de segurança, no interior violência.
forças armadas e de segurança destes mesmos negócios familiares.
estabelecidos por traficantes de Isto consolidou as famílias da máfia Características semelhantes podem
drogas. Os conflitos armados sem dentro de uma tradição camponesa ser encontradas em outras regiões
fim, e a própria natureza da ação em que os valores de família, honra, da Colômbia. A violência entrou
militar e de confronto, implantando sangue e lealdade são fundamentais para os domínios mais privados, nas
terror e atrocidades sistemáticas, para a gestão da economia, assim relações domésticas e na educação
criaram um grande número de como Anton Blok descreveu em The dos filhos; tudo isso é resultado 12
pessoas deslocadas. A violência está Mafia of a Sicilian Village, A Study do boom econômico e da falta da
tão arraigada na vida cotidiana que of Violent Peasant Entrepreneurs regulação estatal. Embora isto seja
invade as relações íntimas e provoca (1860-1960). moralmente e politicamente desen-
divisões irreconciliáveis entre – e corajador, também dá uma nova
mesmo dentro – das famílias, crian- Como o Estado colombiano falhou urgência à necessidade de trabalhos
do silêncios dolorosos que são trans- em administrar e proteger as minas de campo nas ciências sociais para
mitidos através de gerações. contra habitantes violentos em entender e divulgar os padrões de
busca de esmeraldas, na década de conflito, sublinhando a necessidade
Deixe-me voltar à minha pesquisa 1970 as minas foram capturadas de intervenção estatal.
na região das Esmeraldas, localizada pelos patrões e padrinhos, ou Dons,
em um território isolado nos Andes como são chamados na língua local.

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> Restituição de terras
na Colômbia
Por Nadia Margarita Rodríguez, Universidade de Rosário, Bogotá, Colômbia

13

A
Mais de 4 milhões de camponeses controvérsia sobre a conflito armado em curso que tem
colombianos, como este homem de idade, restituição de terras afetado a Colômbia nos últimos
foram forçados a abandonar suas terras nos
na Colômbia começou 50 anos. O capítulo é controverso
últimos quinze anos. Foto por Vasques Julián.
com a promulgação da porque o governo o apóia forte-
Lei 1448, também conhecida como mente, o que pode ser lido como
Lei das Vítimas, em 10 de junho de uma tentativa de compensar 50
2011. Foi um marco histórico dado anos de negligência à questão.
os enormes desafios políticos, eco- Apesar de todos os esforços, tem
nômicos, sociais e legais colocados havido inúmeros obstáculos para a
pela restituição de terras e dado implementação da lei.
o reconhecimento explícito do
estado de conflitos armados. O A questão da restituição de terras
capítulo três, em particular, esta- na Colômbia deve ser entendida
belece a restituição de terras para à luz da alta concentração de
os camponeses que foram ex-pro- propriedade fundiária, um dos
priados de suas terras nas duas
principais problemas enfrentado
últimas décadas, como parte do
pelo desenvolvimento rural. Muitos
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analistas afirmam que isto não é só continuam nas zonas destinadas e institucionais a serem enfrentados,
a base de profundas desigualdades à restituição de terras, o que torna como a formação de funcionários pú-
econômicas, políticas e sociais, mas difícil para o estado garantir que blicos para realizarem a restituição,
é também uma das principais fontes camponeses não serão destituídos a formação de juízes agrários (ine-
de sangrentos conflitos na Colômbia de suas terras novamente. O desafio xistentes na Colômbia). O estado
(Fajardo 2002, Machado 2009, PNUD para o estado colombiano é garantir a vai ter que provar que a usurpação
2011). A concentração de terras leva segurança dos camponeses dando fim realmente aconteceu. Isto levanta im-
a uma estrutura agrária bimodal ao conflito armado. portantes questões: como o estado
com a maioria das terras produtivas vai obter a terra que pretende restituir,
pertencendo a uma pequena minoria • Em segundo, de acordo com a lei, uma vez que a maioria delas está em
de elites econômicas e políticas 1 . Esta a restituição é definida como dar outras mãos e que a lei exonera os
tem sido a estrutura dominante desde títulos ou compensações, o que não compradores?
os tempos coloniais e só piorou ao significa compensação por qualquer
longo do tempo. Depois de tentativas dano causado à terra ou indivíduos Finalmente, há um problema
fracassadas de reforma agrária ao e não restaura o status quo anterior. estrutural político mais amplo: o
longo do último século, especialmente Conseqüentemente, esta política não conflito entre as elites nacionais e
em 1936 e 1961 (Molina, 2000: 36), pode se limitar a devolver os direitos regionais pelo o controle do território,
grupos armados emergiram na década sobre a terra, mas deve fazer o possível que envolve um choque de interesses
de 1960 exigindo a redistribuição para que as vítimas possam viver com econômicos na exploração de seus
de terras. Assim, grande parte da dignidade nessas terras. Além disso, recursos naturais sobre e abaixo
Colômbia rural está em estado de a desapropriação envolveu inúmeras do solo. Casos emblemáticos de
crise semi-permanente em que os violações de direitos humanos, dei- restituição de terras, como Curbaradó,
atores legais e ilegais travam uma xando vítimas com traumas profundos Jiguamindó ou Hacienda Las Pa-vas,
guerra pelo controle do território, o e, portanto, tornando mais difícil para mostram que, mesmo se os de-safios
que levou ao sistemático, violento elas retornarem às terras. Em suma, as legais forem resolvidos, as con-
e maciço deslocamento de quatro vítimas precisam de apoio para além figurações de poder no nível local
milhões de camponeses. Assim, o da esfera legal. podem impedir a restituição de terras
desafio enfrentado pelas instituições que está sendo levada a cabo.
responsáveis pela restituição de terras • Em terceiro, camponeses expro- 14
é de proporções titânicas. priados de suas terras e atualmente 1
O índice Gini de terras mede o grau de concentração da
propriedade rural. Quanto mais próximo do número 1,
vivendo em áreas urbanas são maior é a concentração. Em 0,87 o índice colombiano está
A situação é complexa, tanto menos suscetíveis a quererem voltar entre os mais altos do mundo.
por conta das limitações legais para as áreas rurais, dada a extrema 2
Esta é a Instituição criada por lei para realizar
quanto devido ao contexto social desigualdade no desenvolvimento, a restituição de terras. Ela existia anteriormente
em que a restituição de terras de- educação e saúde. A expropriação de como Programa para a Proteção de Terras e de
Pessoas Espoliadas (PPTP), teve, contudo, diferentes
ve ocorrer. O Centro de Estudos terras rasgou o tecido social e será dinâmicas, objetivos e não tinha nenhum suporte
de Desenvolvimento Social da difícil para essas comunidades se político ou jurídico que a Unidade tem hoje.

Universidade de Rosário faz uma reconstituírem.


Referências
abordagem interdisciplinar (combi- • Em quarto lugar, os apoios eco-
nando Direito e Ciências Sociais) nômicos, técnicos e produtivos serão Fajardo, D. (2002) Para sembrar la paz hay que aflojar
la tierra. Bogotá: Universidad Nacional de Colombia.
para entender os desafios da im- necessários se os proprietários de Machado, A. (2009) La reforma rural, una deuda
plementação da lei. Uma parte deste terra vivem de suas terras, em vez de social y política. Bogotá: Universidad Nacional de Co-
lombia, CID.
projeto realiza uma pesquisa para serem forçados a alugar ou vendê-
Molina, P. (2000) “Reforma agraria? No es tan claro
a Unidade de Restituição Legal2 – las àqueles que, atualmente estão lá, para qué el país la necesita.” Economía Colombiana
pesquisa que gira em torno de cinco em sua maioria companhias agro- 278: 34-7.
PNUD (2011) Colombia Rural: Razones para la espe-
complexas questões: industriais. ranza. Informe de desarrollo humano 2011. Bogotá:
INDH PNUD.

• Primeiro, os conflitos armados • Em quinto, existem desafios legais

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> O movimento
estudantil no Chile
por Milton L. Vidal, Universidade Acadêmica do Humanismo Cristão, Santiago, Chile

15

O movimento estudantil chileno contra o


neoliberalismo: “Nosso futuro não está à
venda” respeito por seus direitos fundamentais, por crédito. Em termos sociológicos, em
exigir que seus governantes cumpram um país onde a distribuição de renda é

O
suas promessas e tomem decisões brutalmente desigual, é especialmente
Chile é um pequeno
que favoreçam o bem comum. Isto, importante que nós concebemos a
país no extremo sul. De
certamente, também é verdade no Chile. educação superior enquanto um bem
acordo com a visão de
Há muitas fontes de insatisfações que público e um fato decisivo de mobilida-
mundo dominante na
teriam forçado os latino-americanos a de social.
cartografia, você pode nos encontrar
tomar as ruas às quais de que muitos
na ponta da América do Sul. É um
são mais óbvios que os direitos sociais O investimento dessas famílias no
lugar que atrai notícias internacionais
dos estudantes secundaristas ou uni- ensino superior privado está entre
ao longo do tempo. Em 2011, um
versitários. os maiores da América Latina e as
movimento liderado por estudantes
taxas universitárias ainda estão em
de faculdades e colégios se tornou
Por que, então, esses protestos co- ascensão. Os limites desse crescimento
cada vez mais proeminente na cena
meçam no Chile? Por que eles são per- serão definidos pelo poder aquisitivo
internacional já repleta de protestos
cebidos como legítimos por muitos das famílias. Em suma, aqueles rela-
sociais.
países? Simples, a promessa neoliberal já tivamente ricos pagam pela melhor
havia estourado. De fato, a promessa de educação básica (ensino fundamental
Nós somos parte da região mais desi-
disponibilizar a educação superior para e médio) e se beneficiam das melhores
gual do mundo. Um terço da população
todos tomou a pior virada possível? Um universidades (admitidos com base
vive na pobreza, sofrendo de velhas
aumento nas matrículas só foi possível na pontuação nos exames e/ou poder
e novas formas de violência, abuso,
na medida em que os estudantes e suas aquisitivo), enquanto aqueles com
corrupção e desperdício de recursos
famílias entraram em débito. As taxas recursos mais baixos e uma educação
escassos. Nesse contexto, homens e
universitárias estão dentre as mais altas básica medíocre precisam fazer
mulheres se organizam de diferentes
do mundo e a maioria delas são pagas sacrifícios substanciais para atender
formas para lutar por seus sonhos, exigir
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DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012
instituições duvidosas e de alto custo. us níveis, mas particularmente no nível da liberdade que possuem dos seus
Assim, o protesto por uma melhor universitário, não pode ser submetido professores. No entanto, essa liberdade
educação é uma afirmação contra a a uma tensão polarizada entre Estado acadêmica está erodida pela economia
desigualdade social. e mercado. Humboldt estava certo do mercado. Se professores são
quando argumentou a muito tempo considerados fornecedores de serviços,
Surpreendendo muitos, o movimento atrás que as intervenções estatais que são funcionários e dependentes
social em defesa da educação pública entram no caminho da educação. que possuem a instituição da educação
liderado por estudantes decolou e Latino-americanos sabem que o Estado superior, eles, em contrapartida, usarão
ganhou força semana a semana. O sempre o incorpora que se expressa seus estudantes para avançar em seus
conteúdo das demandas, a força social sob a forma da burocracia. Sociólogos interesses limitados.
que estava mobilizada e legitimada e a da educação sabem que a parte mais
solidariedade internacional não estão onerosa das reformas está realizando- Finalmente, nós precisamos dizer
confinados no Chile. Ao contrário, as. Não obstante, até mesmo Humboldt que os protestos estudantis são boas
movimentos em defesa da educação argumentou que nós não podemos notícias para sociedades, universidades
pública também têm sido bem fazer sem o Estado por completo. Nós e sociólogos. A universidade é um lugar
sucedidos no Uruguai, Bolívia, Brasil, precisamos exigir que o Estado assegure onde a sociedade se transforma em
Porto Rico, Equador e Colômbia. Não as condições institucionais para a um tópico de pesquisa e, no processo,
obstante, é útil para uma discussão e educação. Nós também precisamos se reafirma. Sempre houve interesses e
reflexão internacional pontuar algumas disto para manter a Universidade de lutas por poder nessa autoconsciência
características do caso chileno. se tornar um campo de batalha de que tem ameaçado a liberdade aca-
interesses individuais. Nesse sentido, dêmica. Contudo, tais forças não tem
Primeiro, as universidade ainda são a educação é um bem público e sido capazes de destruir a universidade.
um barômetro da vida social. Insistir universidades são instituições públicas, É assim como devemos olhar para
nessa constante histórica pode ser mesmo que elas sejam financiadas de o movimento estudantil no Chile,
ingênuo, mas é com frequência forma privada. Suas funções de ensino, através do Chile na América Latina e no
esquecido. Políticos que deveriam estar pesquisa e alcance são essencialmen- mundo. Eu penso que a persistência do
levando adiante reformas profundas te públicas. Suas prerrogativas de dar movimento beneficia uma sociedade
na universidade se atrasam porque diplomas são baseadas na fé que a democrática. Sociedade e universidade
pensam o ensino superior enquanto sociedade possui nelas. estão, mais uma vez, fortemente 16
uma questão marginal, enquanto as ligadas por esse movimento estudantil,
lideranças econômicas pensam que o Terceiro, o movimento estudantil no fornecendo um estimulante contexto
déficit educacional pode ser resolvido Chile e de forma mais geral na América para a sociologia. Aqueles que dizem
injetando recursos do setor público, Latina, rejeitam a mercantilização da que a narrativa sociológica está em
dos bancos, famílias ou tudo junto. educação. A lógica organizacional de uma declínio estão errados. A sociologia está
Grande engano! Universidades têm eco-nomia do mercado é incompatível com boa saúde na parte sul do mun-
sido sempre muito mais do que uma com aquele do treinamento científico. do e eu espero que estas notícias irão
política pública. Todas as maiores Deixe-nos observar a colaboração en- animá-los, leitores pacientes.
mudanças sociais são, de alguma forma, tre estudantes e professores de forma
ligados às universidades. Enquanto mais detida. Educação é sempre o
1
O Chile é um país emergente da OCDE. Segundo esta
organização, o Chile tem uma pontuação de Gini de 0,50,
estamos pensando no exílio judaico resultado de esforços coletivos. Isto não que representa a maior desigualdade entre os países
do império Persa de Nebuchadnezzar, pode ser comprado e por isso não pode nesta categoria (Society at a Glance, Indicadores Sociais,
OCDE, 2011). Este ponto pode ser ilustrado ainda mais: a
os debates políticos da Academia de ser mercantilizado. Estudantes podem renda média dos 10% mais ricos dos chilenos é superior
Platão, os debates a respeito da reforma apenas se tornar instruídos através de ao da Noruega, enquanto a dos 10% mais pobres é
semelhante ao da população da Costa do Marfim. A
protestante com as teses luteranas e suas participações ativas em ativida- maioria dos chilenos (60%) tem, em média, uma renda
traduções da bíblia para o alemão, o des científicas. É por isto que nós os menor do que angolanos.
calvinismo Universidade de Genebra, incentivamos a se tornarem envolvidos
o Irã pré e pós Khomeini, a China antes em seminários de discussão para
da República Popular da China, a estudantes. A ideia de que professores
revolução cultural ou a Praça Celestial, e estudantes são compradores e
o México antes e depois do massacre vendedores não é apenas enganosa
de Tlatolco, as universidades são e (e precisa ser desafiada para além de
continuarão sendo instituições globais razões ideológicas), é um obstáculo para
de grande poder social e político. Assim, atingir a meta da educação. Eu conside-
elas precisam sempre ser um objeto de ro apavorante que colegas na academia
atenção sociológica. aceitam a visão que seus estudantes
são clientes. Estudantes requerem
Segundo, a educação em todos os se- liberdade acadêmica, que depende

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> Reunião do
Comitê Executivo
em Beirute,
19 a 23 de março de 2012
por Michael Burawoy, Universidade da Califórnia, Berkeley, e Presidente da ISA

17

E
Membros do Comitê Executivo da ISA
m seu encontro anual, de Publicações, presidido pelo Vice- msiturando sociologia com iguarias
libanesas. Foto por Markus Schulz.
o Comitê Executivo da Presidente Robert Van Krieken, o Co-
ISA reuniu-se por cinco mitê de Coordenação de Pesquisa,
dias na Universidade presidido pela Vice-Presidente Marga-
Americana de Beirute (AUB), ge- ret Abraham, e o Comitê de Relacio- Internacional para a Ciência (ICSU).
nerosamente hospedado pelo Pro- namento Nacional, presidido pela Com base no relatório de um
fessor Sari Hanafi e seus colegas Vice-Presidente Tina Uys. subcomitê, discutimos a possibilidade
do Departamento de Sociologia. de inaugurar prêmios e recompensas
Dois de nossos dias de encontro O Comitê Executivo encontrou-se de da ISA e decidimos investigar os
coincidiram com um maravilhoso forma unificada por dois dias, no final detalhes de um prêmio internacional,
simpósio internacional sobre “As da semana. Relatei minhas diversas reconhecendo a pesquisa e prática
Insurreições Árabes” (relatado viagens por diferentes partes do da sociologia. Seguem relatórios dos
nessa edição da Diálogo Global), mundo e o progresso obtido durante vice-presidentes individuais.
patrocinado pela AUB, pela As- o ano com relação à ISA-online
sociação Sociológica Libanesa e (conferir o editorial). Uma de nossas > Margaret Abraham,
Friedrich-Ebert-Stiftung, e estrutu- tarefas mais urgentes foi decidir Vice- Presidente de Pesquisas
rado por oradores de todo o Mundo onde sediar o Congresso Mundial
Árabe, apresentando pers-pectivas da ISA de 2018. Recebemos cinco O Comitê Coordenador de Pesquisas
comparativas com outras regiões. excelentes propostas de Budapeste, (RCC) teve um encontro extremamente
Copenhague, Melbourne, Saragoça e produtivo em Beirute. Discutimos as
A maratona de cinco dias começou Toronto. Nós pré-selecionamos duas seguintes questões: a situação das
com reuniões separadas do Comitê – Toronto e Saragoça – e tomaremos revisões de estatuto dos Comitês
de Programa para o Congresso de uma decisão final durante uma de Pesquisa e Grupos Temáticos e
Yokohama em 2014, presidido pela visita no último local mencionado. de Trabalho; as atividades de todos
Vice-Presidente Raquel Sosa, o Comitê Iniciamos nossa filiação ao Conselho
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os Comitês de Pesquisa, Grupos e essas foram disponibilizados online: principais conferências de cada ano
Temáticos e Grupos de Trabalho entre http://www.isa-sociology.org/about/ para divulgar nossos periódicos,
2006 e 2010; e o segundo Fórum de rc_aims.htm. observar novos desenvolvimentos, e
Sociologia da ISA em Buenos Aires, recrutar novos autores, julgadores e
que ocorrerá em agosto de 2012. Por fim, os relatórios de atividades revisores de livros.
submetidos por Comitês e Grupos
Uma parte importante do encontro entre os períodos de 2006-2008 e > Raquel Sosa,
foi dedicada à discussão das pre- 2008-2010 foram revisados e discu- Vice-Presidente de Programa
parações em andamento para o tidos. A maioria dos Grupos e Co-
Fórum. Recebemos 6.019 resumos mitês esteve ativo, organizando É um prazer informar aos colegas
de 7.928 autores para um total de conferências, publicando boletins e que o recente encontro do Comitê
693 sessões (sendo 51 em espanhol). realizando outras atividades profis- de Programa para o Congresso de
Recebemos submissões de todo o sionais. Um formulário revisado de Yokohama (2014), em Beirute, foi
mundo, incluindo uma forte repre- Atividades Grupos e Comitês foi de- um grande sucesso. O tema para tal
sentação (3.528 ou 45% do total) da signado para apreender os dados de Congresso é Encarando o Mundo
América Latina. modo mais eficiente e consistente Desigual: Desafios para a Sociologia.
entre Comitês de Pesquisa, Grupos de Nós já divulgamos uma chamada de
Embora esperássemos uma elevada Trabalho e Grupos Temáticos. artigos e organizadores de sessões
participação, os números serão redu- com um prazo até 15 de janeiro de
zidos devido ao clima econômico de > Jennifer Platt, 2013. Isso pode ser verificado no sítio
dificuldades. Trabalho com o Sage Vice-Presidente de Publicações da ISA: http://www.isa-sociology.org/
para criar um espaço virtual de acesso congress2014/. Estamos ansiosos
livre com o fim de disseminar e trocar Sujata Patel, editora dos Estudos para receber propostas para sessões
conhecimento e pesquisa sobre as- Sage em Sociologia Internacional ad hoc e integrativas, tal como para
suntos ligados à temática do Fórum – (SISS), concordou com os editores sessões de autores encarando os
Justiça Social e Democratização. Mais da Sage em produzir livros na Índia, críticos. Gostaríamos que os membros
informações serão disponibilizadas a serem vendidos a preços indianos considerassem essa uma excelente
em breve! para membros da ISA e compradores oportunidade para participar da-
do mundo em desenvolvimento, en- quilo que se tornou o debate in- 18
O informe e as discussões sobre as quanto os grandes livros de mão de ternacional sobre questões sociais
revisões dos estatutos dos Comitês capa dura ainda estarão disponíveis mais transcendental de nossa época!
de Pesquisa, Grupos Temáticos e em livrarias ocidentais a preços Uma vez que muitos membros da ISA
Grupos de Trabalho apontaram ocidentais. Essa resolução foi aprovada desenvolveram a maior parte de suas
que alguns Comitês e Grupos ainda calorosamente. vidas profissionais para se debruçar
precisam submeter seus estatutos sobre questões relacionadas à pobreza,
revisados. Tais revisões precisam estar Concordou-se em se oferecer desigualdade e injustiça, esperamos
bem completas antes das próximas às associações nacionais a opor- que nosso Congresso de Yokohama
eleições. Discutimos igualmente a tunidade de reeditar em sua lín- traga uma contribuição significativa
necessidade de os conselhos dos gua (com seu auxílio) quaisquer tanto para o conhecimento quanto
Comitês e Grupos revisarem sua artigos da Sociologia Atual (CS) para a prática social.
composição, especialmente no que ou da Sociologia Internacional de
tange ao tempo de cargo. Alguns especial interesse para elas, sem O Comitê de Programa concordou em
conselhos precisam dar passos ativos o pagamento da usual taxa de preparar dez sessões de semiplenárias
para encontrar novos membros permissão. A CS deverá produzir sobre os seguintes tópicos: confi-
que ocuparão os cargos na próxima um tema adicional por ano, que gurações de desigualdades estru-
eleição. consistirá em artigos revisados ex- turais; desigualdades e estruturas
traídos da Sociopédia. de poder; produção e prática da
O Comitê Coordenador de Pesquisas desigualdade; feridas sociais das de-
revisou a concessão de requerimentos. Foi adotada a política de que os sigualdades; concepções de justiça
Um total de US$ 16.900,00 foi alocado editores de periódicos e o Vice-Pre- de diferentes tradições históricas e
para dezoito Comitês de Pesquisa e sidente devem providenciar algumas culturais; justiça e sistemas sociais;
Grupos Temáticos e de Trabalho em atividades relacionadas às publicações superação de desigualdades; atores
2011, e 8.660,00 euros para treze em todos os eventos da ISA; talvez e experiências; justiça ambiental e
desses Grupos e Comitês em 2012. uma sessão de “conheça os editores”, um futuro sustentável; e sociologia
Jennifer Platt, Vice-Presidente de Pu- uma oficina sobre a redação de ar- e desigualdades. Participantes virão
blicações, agregou as diretrizes para tigos, ou uma reunião com editores de diversas tradições e de todas as
os periódicos do Comitê de Pesquisa, locais. Também irão comparecer às partes do mundo. Esperamos que

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essas semiplenárias, em conjunto com requerimento da Associação Socio- Providenciamos um resumo de
as sessões dos Comitês Presidencial lógica e Antropológica de Uganda demonstrativo financeiro para
e de Organização Local, encantem foi aprovado durante a reunião. A ISA 2010 e 2011, a ser disponibilizado à
nossos colegas e contribuam para a conta atualmente com 60 membros associação, assim como um relatório
renovação das ciências sociais mun- regulares coletivos, mas nem todos sobre os detalhes orçamentários
diais no século XXI. pagaram as taxas de filiação e por- do período compreendido entre
tanto, lamentavelmente, não se en- 2010 e 2014 para discussão em
> Tina Uys, Vice-Presidente de contram em uma boa situação. relação a requerimentos para
Associações Nacionais financiamentos adicionais. De forma
Com base nos critérios estabe- geral, nossa situação financeira é
Discutimos e clarificamos os critérios lecidos na reunião do Comitê de saudável. Registramos aumentos
para filiação coletiva regular da ISA. Relacionamento com Associações significativos na equipe e nas
De acordo com os procedimentos Nacionais ocorrida no México, em despesas administrativas graças ao
da Instituição, membros coletivos 2011, concessões para oficinas re- crescimento das atividades da ISA,
regulares são admitidos graças a gionais foram concedidas a asso- mas esses foram compensados por
uma decisão do Comitê Executivo em ciações sociológicas de Bangladesh, uma contribuição mais significativa
consequência de uma recomendação Bulgária, Moçambique e das Filipinas. da Sage no contrato renovado
do Comitê de Relacionamento com Bangladesh e Moçambique também negociado em 2011. Fundos adi-
Associações Nacionais e do Comitê de receberam concessões para o desen- cionais foram aprovados para a
Finanças e Filiações. Os estatutos de volvimento de websites. Diálogo Global, Jornadas pela So-
membros coletivos regulares devem ciologia e para despesas com viagens
estar alinhados com os artigos 1 e 2 Os planos para a conferência do dos editores.
dos Estatutos da ISA: Conselho de Associações Nacionais
estão tomando forma. A conferência > Outros itens
• Membros coletivos regulares pre- ocorrerá em Ancara, Turquia, em maio
cisam estar em associações sem fins de 2013. O tema da conferência será Recebemos um inforne encorajador
lucrativos e serem direcionadas a Sociologia em Tempos de Desordem: de Koichi Hasegawa, encarregado
fins científicos que representem so- Abordagens Comparativas. Será do Comitê Organizador Local para
ciólogos, independentemente de sua organizado em conjunto com o De- o Congresso Mundial da ISA em 19
escola de pensamento, aproximação partamento de Sociologia da Uni- Yokohama (2014). Discutimos infor-
científica ou opinião ideológica. versidade Técnica do Oriente Médio, a mações de nossos representantes
Associação Turca de Ciências Sociais e na ONU (Jan Fritz, Rudolf Richter,
• O objetivo dos membros coletivos a Associação Sociológica da Turquia. Rosemary Barberet, e Hilde Jakobsen),
regulares deve ser o avanço do co- no Instituto Internacional para a So-
nhecimento sociológico. Sua estrutura > Robert Van Krieken, ciologia do Direito (Ramon Flecha) e
deve reconhecer as aspirações dos Vice-Presidente de Finanças e na Rede Global de Desenvolvimento
sociólogos e empenhar-se no apoio Filiação (Emma Porio). Ouvimos Chin-chun
e fortalecimento do desenvolvimento Yi a respeito do progresso sobre o
livre da sociologia por atividades O Comitê de Finanças e Filiação Laboratório para Estudantes PhD
variadas, como a hospedagem de reportou um sólido aumento da de 2012, em Taipei. Redigimos e as-
conferências e a promoção de publi- filiação individual, que atualmente sinamos uma carta coletiva do Comitê
cações. se encontra em um pouco mais de Executivo defendendo a importância
5.000 membros. A taxa de Filiação da pesquisa das ciências sociais na
• Os oficiais de membros coletivos Vitalícia está atualmente em 300 União Europeia.
regulares devem ser eleitos por meio euros, e o comitê propõe agora uma
de um processo democrático regular. diferenciação da taxa de acordo com Concluímos com uma nota de
as categorias do país: Categoria A – agradecimento aos nossos anfitriões,
Conferimos o novo processo de- 300 euros, Categoria B – 200 euros, que não mediram esforços para tornar
senvolvido para considerar os re- Categoria C – 100 euros, alteração esta a mais proveitosa e interessante
querimentos para Filiação Coletiva que só poderá ocorrer no Congresso aglomeração em Beirute, e em especial
Regular recebidos entre as reuniões Mundial de Yokohama, em 2014. à Sari Hanafi, Oubada Kassar, e Chebib
anuais do Comitê Executivo. A As- Recomendamos a facilitação de Diab, da AUB, e à incansável equipe do
sociação Eslovena de Ciência Social doações de membros para a ISA Secretariado da ISA por facilitar, uma
solicitou a filiação regular coletiva via website, e a investigação de vez mais, nossa complexa reunião e
na segunda metade de 2011. Tal formas de atrair mais donativos e supervisionar a ISA enquanto ela ruma
solicitação foi avaliada por um pro- contribuições. a passos largos para o futuro.
cesso online, tendo sido aprovada. O

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> Explorando a
África do Sul
enquanto
discute-se sua tese
por Tina Uys, Universidade de Joanesburgo, África do Sul e vice-presidente da ISA para
Associações Nacionais, 2010-2014

mais de quatro milhões de anos, ao nascimento da


humanidade. O mais importante e mais famoso desses
fósseis é o “Sr. Ples”, um crânio de Australopithecus de
2.1 milhões de anos, e “Little Foot”, um esqueleto quase
completo de Australopithecus que tem mais de três
milhões de anos. Após a visita os alunos e professores
foram transferidos para a Ilha, primeiro de microônibus
e depois de barco.ed to the Island first by minibus and 20
then by boat.

O laboratório em si durou quatro dias com sessões


durante o dia onde os alunos de doutorado e docentes
apresentaram seus trabalhos. Isto possibilitou a
emergência de vivas discussões na medida em que
o público multicultural promoveu debates sólidos e
Estudantes do Laboratório de PhD da ISA em Soweto espirituosos. As atividades durante as noites quentes
de verão incluíram um safári e um passeio de barco

O
ao redor da Ilha, o que proporcionou um ambiente
décimo Laboratório Doutoral da ISA oportuno para que todos pudessem conhecer melhor
aconteceu no isolado ambiente da ilha uns aos outros. As atividades na Ilha foram concluídas
da Universidade de Joanesburgo, na com um tradicional braai, (churrasco) sul-africano, e uma
represa Vaal, perto de Vereeniging, na fogueira de acampamento. No sábado os estudantes e
África do Sul, de 8 a 11 de novembro de 2011. Um professores foram conhecer um pouco da história mais
grupo diversificado de doze estudantes de lugares tão recente da África do Sul com uma excursão pelo Soweto,
distantes quanto China, Irã, Europa, EUA, México e Brasil onde foram entretidos com um típico almoço shebeen.
foram selecionados entre 50 candidatos. Eles se reuniram O laboratório terminou com jantar de despedida na
a dois estudantes sul-africanos. Seus orientadores eram noite de sábado no hotel The View , que tem uma vista
também nomeadamente diversos: Jan Marie Fritz dos espetacular da reserva natural Melville Koppies em
EUA, Chin Chun Yu de Taiwan, Yoshimichi Sato do Japão. Johanesburgo.
O tema deste ano do laboratório de doutorado foi
Exclusão Social, Cidadania e Capital Social. Para concluir, gostaria de agradecer ao reitor da
Faculdade de Humanidades, professor Rory Ryan,
As atividades começaram com “boas-vindas aos alunos que forneceu a maior parte do financiamento para
de volta à África”, através de uma visita às cavernas a hospitalidade local do Laboratório. Estou certo de
de Sterkfontein, um Patrimônio Mundial no berço da que os participantes deste Laboratório de Doutorado
humanidade, onde cientistas descobriram muitos fósseis terão boas lembranças de sua estadia na Ilha e em
de hominídeos e de outros animais que remontam a Joanesburgo.

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> Jornadas
pela
Sociologia
por Laleh Behbehanian, Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA

Laleh Behbehanian apresenta o programa “Jornadas através da Sociologia”. O Diálogo Global pediu que ela
avaliasse o que aprendeu em suas entrevistas com o Comitê Executivo da ISA

J
ornadas através da como uma forma de dar sentido a possibilidades de interpretação do
Sociologia é uma “quebra-cabeças sociais”, enquanto mundo.
série de entrevistas Jennifer Platt descreve a emoção
gravadas com o Co- de trabalhar com diferentes ti-pos Não é nenhuma surpresa que
mitê Executivo da de dados empíricos. Para muitos muitos desses estudiosos foram ini- 21
Associação Internacional de Socio- desses estudiosos, sua curiosi- cialmente atraídos para a disciplina
logia. Conduzidas via skype, com dade sociológica foi acesa pelas por professores inspiradores, uma
membros do comitê localizados experiências de viagens ou de mi- inspiração que eles pretendem
em todo o mundo, as entrevistas gração. A imaginação sociológica transmitir aos seus próprios alu-
fornecem um raro vislumbre das de Michael Burawoy foi alimentada nos. Tina Uys relata a opinião de
jornadas pessoais desses estudiosos por suas viagens para os EUA, para seus próprios professores, e co-
pela sociologia. As entrevistas foram a Índia e para a Zâmbia. Enquanto mo ela utiliza a sociologia para
focalizadas na exploração de duas que as experiências de Habibul compreender e enfrentar os desafios
questões princiais: Como eles foram Khonder de migrar de Bangladesh que se apresentam atualmente aos
atraídos para a sociologia, e Os para o Canadá, para Cingapura e estudantes na África do Sul. Simon
desafios que enfrentaram. Todas as para os Emirados Árabes moldaram Mapadimeng, também da África
entrevistas podem ser encontradas sua perspectiva de um “sociólogo do Sul, foi introduzido à disciplina
na página da ISA http://www.isa- itinerante”, engajado em pesquisas por professores que estiveram pro-
sociology.org/journeys-through- comparativas. Tom Dwyer descre- fundamente envolvidos nas lutas
sociology/. ve suas experiências iniciais de anti-apartheid, levando-o a seu pró-
“estranhamento” de quem cresceu prio compromisso em consolidar
Enquanto as entrevistas estão em uma família de imigrantes ir- uma nova geração de sociólogos
cheias de relatos pessoais fasci- landeses na Nova Zelândia, bem negros sul-africanos.
nantes, coletivamente, elas também como de suas viagens ao longo
destacam as muitas experiências de sua juventude, e como esse Um tema, no entanto, surgiu re-
compartilhadas pelos sociólogos estranhamento levou-o a pensar correntemente nas entrevistas: o
no espaço e no tempo. Mais fun- sociologicamente sobre o mundo. de perseguir a sociologia como
damentalmente, elas apontam Vineeta Sinha também discute um um meio de mudança social, com
para um profundo senso de curio- tema semelhante ao descrever a praticamente todas as discussões
sidade sobre o mundo social. As- sensação de “desconforto” inculcada se voltando para o potencial da
sim, Yoshimichi Sato explica que por seus professores de sociologia sociologia em responder às questões
ele foi atraído para a sociologia e como isso apresentou novas sociais, políticas e econômicas
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DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012
urgentes. Jaime Jiménez recorda desafios sociológicos em todo o da realidade social”. Robert van
trabalhar no primeiro computador mundo. Alguns desses desafios são Krieken afirma que a sociologia
do México quando ainda era um dificuldades impostas pelo sexo, pode desempenhar um papel de
estudante universitário, em 1958, e pela raça ou pela nacionalidade, liderança no sentido de incentivar o
como aquilo parecia ser a promessa enquanto outros são mais univer- pensamento interdisciplinar, e des-
de resolver todos os problemas salmente compartilhados. Muitos creve como ele foi sempre inclinado
da nação, levando-o a prosseguir estudiosos do sul do globo enfa- para o campo devido às maneiras
trabalhando em pesquisas quan- tizam a luta para expandir a teoria com que este lhe permitiu tomar
titativas voltadas para os problemas sociológica além de suas fron- partido e se envolver com outros
sócio-econômicos. Dilek Cindoglu teiras tradicionais eurocêntricas tipos de conhecimento. Muitas das
descreve como a instabilidade po- e a necessidade de abordar as entrevistas também se focaram no
lítica na Turquia na década de 1970 desigualdades globais contínuas desafio de equilibrar os diferentes
levou-o à sociologia: “Eu queria en- na produção do conhecimento papéis do sociólogo (ensino, pes-
tender o que estava acontecendo sociológico (em termos de idio- quisa, administração, ativismo, etc),
na Turquia. E ainda quero”. mas, periódicos e publicações, e negociar os diferentes momentos
prioridades de pesquisa, etc). Muitos da investigação sociológica (profis-
Muitas das entrevistas prestam desses estudiosos lidam com o de- sional, crítico, político e público).
contas do cruzamento fascinante safio de realização de pesquisas que Margaret Abraham reflete sobre
da biografia com a história, que são, ao mesmo tempo, localmente esse ato de equilíbrio através de
levaram os estudiosos ao caminho enraizadas e globalmente relevan- uma discussão sobre a intersecção
da sociologia. Ishwar Modi fala do tes. Sari Hanafi capta essa tensão de sua pesquisa, seu ensino e seu
período após a independência da em relação às publicações eloquen- ativismo contra a violência do-
Índia e como a atenção de cientistas temente, descrevendo-a como uma méstica dentro de comunidades
sociais se voltou para a reconstrução escolha entre “publicar globalmente sul-asiáticas nos EUA.
e para o desenvolvimento. Chin- e perecer localmente” e “publicar
Chun Yi foi levado à sociologia pela localmente e perecer globalmente”. Essas entrevistas demonstram o
transformação social dramática de fascínio diversificado que a sociologia 22
Taiwan, em 1970. Enquanto que a
jornada de Emma Porio através da “cruzamento exerce em gerações distintas em
lugares diferentes do mundo. Elas
sociologia foi impulsionada por um
desejo de compreender as rápidas
fascinante da mostram o quão interessantes e di-
vertidos são os líderes da ISA. Se você
mudanças sociais experimentadas biografia com a duvidar de mim, vá para o final de


pelas Filipinas sob a Lei Marcial. cada entrevista na qual o entrevistado
Elena Zdravomyslova oferece um história nos conta o que teria feito se não
relato cativante da influência do seu tivesse se tornado um sociólogo
pai e seus colegas, que lançaram a Há também uma série de desafios – advogados, médicos, jornalistas,
sociologia soviética, e depois, como que aparecem mais universalmente arquitetos, mas também dançarinas
se desiludiu com a disciplina no ao longo das entrevistas, incluindo do ventre, bailarinas, donos de bares,
final dos anos 1970, contudo, com aqueles relacionados às limitações carpinteiros ou apresentadores de
a abertura criada pela Perestroika, a das fronteiras disciplinares. Raquel programa de culinária chamado
sociologia, mais uma vez, começou Sosa descreve seus esforços pa-ra “Mexendo-se”. Temos sorte, de fato,
a florescer. desenvolver uma pesquisa interdis- de termos um grupo humano tão
ciplinar e a importante colaboração diverso servindo à nossa associação.
As entrevistas também propor- da América Latina em “olhar para
cionam uma visão da gama de diferentes tipos de explicações

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> As Insurreições Árabes:
Perspectivas Sociológicas e
Comparações Geográficas
por Amina Arabi e Julian Jürgenmeyer, Friedrich-Ebert-Stiftung, Líbano

23

O
Arte Revolucionária na rua Mohamed
Mahmoud, Cairo. Foto por Mona Abaza.
destino das insur- de comparações históricas, transna-
reições populares cionais e intercontinentais.
no Mundo Árabe
permanece incerto. Em sua apresentação no movimento
A presença de uma ânsia genuína por
Ainda assim, já Occupy Wall Street, Markus Schulz
democracia nas insurreições foi, repe-
está claro que o panorama político (Universidade de Ilinois em Urbana-
tidamente, sujeito a debates. Apesar
na região foi transformado em uma Champaign) possibilitou uma pers-
de os participantes concordarem sobre
extensão jamais vista desde o término pectiva dessa espécie ao elaborar
a notável importância dos agravos
formal do colonialismo, e que a ideia um modelo teórico para pesquisa
econômicos, eles menosprezaram uma
essencialista aparentemente inex- sobre movimentos sociais. Muitos
interpretação puramente materia-
tirpável do “excepcionalismo árabe” paralelos surpreendentes entre as
lista, considerando-a reducionista e
foi finalmente desacreditada. Nos insurreições árabes e o movimento
inapropriada para dar conta das tran-
dias 20 e 21 de março de 2012, uma Occupy tornaram-se aparentes, como
sformações profundas pelas quais as
conferência sediada na Universidade sua natureza dialógica, desprovida
sociedades árabes estão passando.
Americana do Beirute reuniu aca- de liderança que, no caso árabe,
O caso de Bahrein, analisado por
dêmicos de todo o Mundo Árabe, mas Mohammed Bamyeh (Universidade de
Abdulhadi Khalaf (Universidade de
também da Índia, as Américas Latina Pittsburgh) identificou com uma longa
Lund) serviu como exemplo de uma
e do Norte, assim como da Europa tradição de moral anarquista. Para
revolta genuinamente política, com
e da África para discutir uma ampla ele, o movimento popular por todo o
seus protagonistas protestando
matriz de tópicos relacionados às Mundo Árabe pode ser considerado a
contra a política do “Pão e Circo”
insurreições e revoluções. A Confe- expressão de uma memória histórica
adotada pelo Rei e demandando
rência visou, particularmente, trazer que é profundamente suspeitosa do
serem “cidadãos, e não sujeitos”. Sari
à tona perspectivas sociológicas autoritarismo e que luta pela colocação
Hanafi (Universidade Americana
frequentemente negligenciadas e do povo não meramente como sobera-
de Beirute) argumentou que uma
desenvolver cenários para a trajetó- no representado, mas como soberano
nova forma de subjetividade política
ria futura das insurreições por meio de fato.
surgiu na esteira das insurreições,
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DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012
que, em claro contraste com o assim pós-revolucionários – a perturbação sociedade civil é, primeiramente e
chamado individualismo neoliberal, necessária de interesses sociais es- de forma principal, uma esfera onde
não propaga uma emancipação tabelecidos há tempos, argumenta interesses particulares, e não valores
completa das entidades coletivas, Sayigh, pode se tornar um sério genuinamente democráticos, estão
mas incita seus atores a refletirem obstáculo para restringir o poder representados.
ativamente sobre seus laços sociais militar na sociedade. Refletindo so-
e, se necessário, não apenas alterar bre o papel do espaço público nos Em sua fala de encerramento, Michael
esses laços, mas também as entidades confrontos entre revolucionários e Burawoy (Universidade da Califórnia,
coletivas em si mesmas. Para Hanafi, o exército em curso, Mona Abaza Berkeley) elogiou o organizador,
esse “individualismo reflexivo” possui (Universidade Americana do Cairo) Hanafi, por seu “golpe de gênio” na
o poder de transcender as clivagens mostrou, em seu “Reflexões sobre pavimentação da estrada para uma
étnicas e sectárias e, então, pavimentar a Pós-Revolução”, que os militares perspectiva comparativa sistemática
a estrada para um “novo patriotismo”. egípcios ainda estão distantes de das insurreições. Essa conferência deu
Como se tornou evidente na discussão um controle democrático e almejam um passo importante na direção de
subsequente, a concretização desse tomar o poder por conta própria. uma abordagem verdadeiramente
fato ainda não está clara - considerando comparativa, mesmo que ainda não
que até mesmo na Tunísia e no Egito, As relações entre civis e militares tenha fornecido uma síntese das ex-
as alegadas fortalezas da reflexividade, na Turquia foram frequentemente periências de democratização de
o comportamento pós-revolucionário evocadas como um modelo possí- diferentes países e regiões. Apenas
de voto ainda foi amplamente de- vel para o Mundo Árabe. Isso foi uns poucos participantes estavam
terminado por lealdades étnicas e colocado em dúvida por Dilek Cin- preocupados primariamente com a
sectárias. doglu (Universidade de Bilkent, questão de quais conclusões tirar para as
Ancara), que indicou algumas defi- insurreições árabes de experiências em
Inspirando-se na experiência latino- ciências da democracia turca e ad- outros lugares, enquanto a maioria das
americana, Raquel Sosa Elízaga vertiu, particularmente, contra a apresentações e discussões trataram
(Universidade Nacional Autônoma “democratização cega para a ques- principalmente das especificidades
do México) e Edgardo Lander tão de gênero”. Fatima Kubaissi de nações ou regiões, focando em
(Universidade Central Venezuelana, (Universidade do Catar) e Jan Marie estudos de caso detalhados, mas ainda
Caracas) ainda enfatizaram a Fritz (Universidade de Cincinnati, assim isolados, ao invés de sistematizar 24
necessidade de uma revolução social, EUA) analisaram, ainda, o papel da nosso conhecimento empírico sobre
no lugar de uma mera mudança mulher nos processos de transição, revoluções e democratização. Por con-
de regime. Apenas desse modo com Fritz destacando a contingência seguinte, um quadro mais geral para
seria possível superar estruturas fundamental inerente aos momentos a análise comparativa das mudanças
de exploração e opressão que, na de mudança política que proveem, de regime, que não caia na armadilha
maior parte dos países da América consequentemente, uma “janela de de transformar tudo em afirmações
Latina, persistiram após as “transições oportunidade” para a transformação causais muito simples, ainda precisa
negociadas” para a democracia social e o empoderamento da mulher. ser desenvolvido. Precisa-se lembrar
(liberal). Tina Uys (Universidade de que a espontaneidade definidora
Joanesburgo) apresentou uma crítica Com respeito à questão sobre das revoluções árabes não pode
similar da “revolução negociada” na quem empoderar para promover a ser capturada por modelos (semi-)
África do Sul, caracterizando-a como mudança democrática, Justin Gengler determinísticos, mas sim atribuída à
inerentemente conservadora. (Universidade do Catar) contestou “imprevisibilidade da ação humana”,
a sabedoria popular que prega que como Goran Therborn afirmou. Por is
Como visto na América Latina, as for- o engajamento cívico se traduz so, como Nahla Chahal (jornal al-Safeer)
ças armadas devem ser consideradas em uma apreciação mais ampla nos lembrou em sua fala engajada,
um dos atores-chave nas transições pelos valores democráticos. Com aqueles que argumentam a favor da
de regime. Yezid Sayigh (Centro base nos dados da Pesquisa sobre mudança política devem aproveitar a
Carnegie do Oriente Médio, Beirute) Valores Mundiais, Gengler apresenta oportunidade desse momento verda-
destacou a penetração de quase to- a hipótese controversa de que, ao deiramente histórico e traduzir suas
das as esferas sociais pelos militares, menos no Catar, a sociedade civil reflexões teóricas para uma prática
em consequência do papel crucial enquanto tal não é um canal para a revolucionária.
que as forces armadas exerceram democratização, mas que na verdade
na construção do poder autoritário facilita o surgimento de estruturas
no Mundo Árabe. A reconfiguração clientelistas. Goran Therborn (Univer-
das relações entre civis e militares sidade de Cambridge) estende o
é, portanto, um dos mais urgentes argumento de Gengler e alega que
e arriscados desafios para governos mesmo nas nações democráticas a

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> Uma ou várias sociologias?
Um diálogo polonês
por Mikołaj Mierzejewski, Karolina Mikołajewska, e Jakub Rozenbaum, Laboratório de
Sociologia Pública, Universidade de Varsóvia, Polônia1

25

Simpósio do Diálogo Global em Varsóvia

C
sobre o Futuro da Sociologia.
om o seu animado para dar palestras introdutórias. A
debate sobre o estado professora Anna Giza-Poleszczuk
da sociologia em um é uma conhecida especialista em abordar a questão de saber se uma
mundo desigual, o Diá- sociologia da família e dos laços sociologia universal é possível (ou
logo Global 2.2 foi a primeira edição sociais, e é também ativa em ONGs desejável) ou se devemos incentivar
publicada em polonês. A equipe polonesas. O professor Antoni Sułek é “sociologias locais” para tratar dos
editorial local, trabalhando em conjun- ex-presidente da Associação Polonesa problemas locais - em outras palavras,
to no Laboratório de Sociologia Públi- de Sociologia (PTS). Ele é especialista procuramos responder à questão
ca organizado pelos estudantes, em metodologia, teorias da opinião colocada no título do seminário : Uma
decidiu levar a discussão global para pública, e da história da sociologia ou várias sociologias?
um contexto mais local. Nós orga- polonesa. A área principal de estudo
nizamos um seminário voltado para da Drª Izabela é a carreira profissional A Drª Izabela Wagner começou
os problemas levantados por Piotr dos cientistas e músicos. Ela realizou mostrando as múltiplas dimensões
Sztompka e seus oponentes, visto a uma pesquisa na França, na Polônia das divisões e desigualdades entre
partir de uma perspectiva polonesa. e nos EUA, colaborando com a EHESS os sociólogos. Não há apenas
em Paris e com a Universidade de conflitos entre Norte e Sul, Leste e
A reunião foi realizada em 19 de Harvard. Oeste, ou sociólogos de elite e não
janeiro (2012) e atraiu estudantes, elite, mas também entre os teóricos
doutorandos e professores de várias A discussão no seminário abrangeu e “etnógrafos” que começam a
faculdades da Universidade, bem um vasto leque de temas, dos conflitos partir do trabalho de campo e, em
como de outras escolas. Todo mundo no campo da sociologia para a reforma seguida, avançam para a teoria.
no seminário era livre para expressar da ciência polonesa e do ensino Para o Dr. Wagner, Piotr Sztompka
a sua opinião, mas para definir o superior, introduzida em 2011. De uma e Michael Burawoy - cujas opiniões
debate três pessoas foram convidadas forma geral, no entanto, procuramos refletem em grande parte das suas
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DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012
carreiras acadêmicas e origens so- fundamental da sociologia. Segundo acadêmicas em relação a problemas
ciais - são exemplos desses dois o professor Sułek, a melhor maneira da própria sociedade. A sociologia
pontos de vista. Ela comparou a de realizar isso é “escrita sociológica” pública, afinal, não está à procura
situação da sociologia com a da ― textos que não se destinam a outros de reconhecimento no sistema de
biologia molecular, que costumava estudiosos, mas para um público de publicação internacional, mas visa a
ser dominada por cientistas que tra- massa. Isto não deve, no entanto, construção de laços entre diversos
balham em condições artificiais de ser confundido com o papel de atores sociais em contextos locais.
laboratório, utilizando o método “sociólogos de mídia” que aparecem
in vitro, o que acabou por produzir na TV, que se assemelham mais a A dependência acadêmica e uma
principalmente artefatos. Assim, celebridades do que a estudiosos. reflexão crítica sobre a sociologia
o método in vitro foi recuperado. fornecem outro quadro analítico
Embora seja muito mais custoso A professora Anna Giza-Poleszczuk fecundo para se estudar a situação
e 95% das experiências terminam também apresentou visões dife- das instituições acadêmicas polo-
em falhas, ele gera conhecimento e rentes da sociologia. Ela levantou nesas. No entanto, o seminário
teoria que são bastante baseadas na três questões importantes que não poderia ser concluído com a
realidade empírica. Embora o in vitro devemos ter em mente na busca resposta inequívoca à questão colo-
se assemelhe à abordagem teórica da de uma sociologia universal. Em cada no título. É porque - como
sociologia, esse método está perto primeiro lugar, todos possuem Jeffrey C. Alexander afirmou na
da etnografia, pois há hipóteses as mesmas oportunidades pa- última edição do Diálogo Global
menos enquadradas a priori, e as ra apresentar a sua visão do co- (2.3) - a disputa entre universalis-
teorias são extraídas do campo. O Dr. nhecimento universal? Pensamos mo e particularismo não poderia
Wagner expressou a sua esperança em mecanismos que nos protegem ser resolvido de uma vez por todas,
de que a sociologia pode tomar um de “usurpadores” que monopolizam mas deve ser periodicamente revi-
rumo paralelo ao da biologia. esta ciência? Em segundo lugar, sitada em diferentes contextos. Nós
quem define a agenda sociológica? só podemos tentar encontrar um
O professor Antoni Sułek apresentou Quem decide quais problemas são terreno comum, que é o Professor
uma outra abordagem para a nossa importantes dentro da “base comum Sułek fez nas palavras finais do
questão, ao definir a sociologia como de conhecimento”? Em terceiro seminário. Ele sugeriu que o mais im-
“uma ciência que fala da sociedade”, lugar, estamos falando sempre sobre portante é fazer uma boa sociologia. 26
e não “uma ciência da sociedade”. as mesmas coisas? Diferenças entre Somos livres para definir os nossos
Assim, segundo ele, podemos dis- as sociedades não operam apenas próprios padrões de excelência
cutir a diversidade de linguagens no nível de suas “manifestações” acadêmica. O que conta é estar em
que usamos em nosso trabalho de lógicas universais. As teorias conformidade com estas normas.
sociológico, bem como a diversidade também desempenham um papel
das sociedades. Este último é um na determinação de como vemos o Esta conclusão é extremamente im-
problema teórico provavelmente in- mundo. Na verdade, algumas teorias portante: a sociologia não tem de ser
solúvel (como as sociedades profun- são simplesmente inadequadas, co- adaptada para uma versão do que
damente se diferem). Pelo contrário, mo a economia neoclássica em um é definido como “boa ciência”. No
se considerarmos a linguagem socio- país onde não há mercado livre. entanto, mesmo se nós escolhermos o
lógica que usamos, podemos ver caminho da sociologia pública, mesmo
que a oposição universal-particular, A professora Anna Giza-Poleszczuk que desenvolvamos uma “sociologia
é um falso dilema. O professor Sułek também se referiu ao debate sobre a local” abordando os problemas locais,
sugeriu que existem dois “circuitos recente reforma do ensino superior nós devemos desenvolver e aplicar
sociológicos” paralelos. Um é pura- na Polônia no âmbito da sociologia critérios para avaliar o nosso trabalho
mente acadêmico, em que os soció- pública. Em uma discussão que se como ciência.
logos falam uns com os outros. Aqui, seguiu, Dr. Maciej Gdula, mentor do
publicar em Inglês não é apenas Laboratório de Sociologia Pública, 1
Koło Naukowe Socjologii Publicznej (Laboratório
aceitável, mas desejável - aqui “os argumentou que a reforma altera de Sociologia Pública) é uma organização escolar
sociólogos falam com o mundo, e profundamente as circunstâncias da dos estudantes fundada no Instituto de Sociologia,
Universidade de Varsóvia. Para entrar em contato, escreva
você fala com o mundo em línguas vida acadêmica polonesa. Ela tenta para public.sociology.kn@uw.edu.pl ou visite http://
do mundo”. O objetivo é comunicar as transformar estudiosos poloneses em www.facebook.com/socjologiapubliczna.

experiências locais em uma linguagem estudiosos norte-americanos através 2


Para saber mais sobre a Reforma Polonesa, veja artigos
da teoria sociológica, sem referências de grandes recompensas por artigos de Izabela Wagner e Anna Szołucha no blog da ISA (http://
www.isa-sociology.org/universities-in-crisis/).
contextuais. No entanto, há um outro publicados na lista de periódicos
circuito, aquele em que os sociólogos reconhecidos pelo Índice Internacional
falam para a sua própria sociedade. de Ciência, em vez de ensinar os alunos
Neste circuito encontra-se o papel ou mesmo realizar atividades extra-

DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012


> Um grupo de crianças
É o que somos!
por Reyhaneh Javadi, Universidade do Teerã, Irã

D
urante a tradução da introdução da equipe exceto dois que são estudantes de mestrado. E todas nós
japonesa (GD 2.3), quando eu estava lendo os somos mulheres!
níveis e as áreas de Pesquisa – relembrando a
Equipe Paulista – tudo o que estava pensando Nossa associação focou inicialmente em criar grupos
era em “Céus! O que estamos fazendo entre todos esse de estudo para ler os trabalhos de sociólogos clássicos e
doutores e professores? Nós somos apenas um grupo de modernos; organizando workshops como, por exemplo,
crianças”. sobre a sociologia da religião no Irã; coordenou uma
exibição de fotografia social; e aproveitou as ideias de
Isto é o que nós realmente somos! Um grupo de jovens palestrantes, como Michael Burawoy (Sociologia Pública)
sociólogos interessados (muito) que pensa e acredita que e Jennifer Platt (História da Sociologia). Por último, mas
merecemos melhores condições de estudo. Assim, nós não menos importante, nós estamos publicando uma
temos nos organizado dentro da Associação Sociológica revista de estudantes de sociologia chamada Sareh
de Estudantes da Universidade de Teerã. Nós estamos (“puro”) com duas partes em cada número. A primeira
tentando determinar e desafiar as deficiências na educação parte é uma abordagem crítica à situação do ensino
formal e criar alternativas. Nosso quadro é eleito pelo voto em sociologia na nossa faculdade e a segunda parte é a
de estudantes de sociologia em nossa universidade. O tradução de um artigo ou parte de um livro de sociologia.
mandato é de um ano acadêmico.
Traduzir o Diálogo Global é uma das tarefas de nossa 27
No ano passado, nossa associação retomou o seu associação. Diferentemente de outras equipes, nós
comprometimento depois de anos de inatividade. Na escolhemos uma forma colaborativa de eleger nossos
ocasião, a chapa eleita incluiu: Saghar Bozorgi, Najmeh tradutores. De fato, esta atividade foi uma grande forma
Taheri, Elahe Noori, Mitra Daneshvar, Faezeh Khajezade, de gerar estímulo e entusiasmo. Assim, nós fazemos um
Somaieh Rostampour, and Reyhaneh Javadi. O time atual anúncio em nossa faculdade para todo número, e pedimos
iniciou seus trabalhos a um mês atrás. As caras na equipe, a todos os estudantes interessados que traduzam uma
assumindo as posições daqueles que tenham se graduado, página do conjunto de textos. Para cada número nós
são Nastaran Mahmoudzadeh, Tara Asgari Laleh, e Zahra escolhemos quatro dos melhores tradutores. Aqui está uma
Babaei. Todos os membros da equipe são graduandos, breve introdução à equipe de tradução.

Reyhaneh Javadi Estudante


Jalal Karimian Mestrando em
de mestrado em sociologia na
filosofia na Uniiversidade Shahid
Universidade de Teerã (UT). Ela obteve
Beheshti (SBU). Ele recebeu seu
seu bacharelado em sociologia na UT.
bacharelado em ciências sociais pela
Seu campo de estudos é sociologia
UT. Recentemente, ele tem estudado
histórica focando nas reformas do
filosofia existencial e fenomenologia
século XIX e começo do século XX
da religião. Ele também se interessa
no Irã.
por sociologia pública.

Shahrad Shahvand Mestre em


relações internacionais pela UT, com
bacharelado na Persian GulfUniversity
(PGU) em engenharia química. Saghar Bozorgi Bacharelanda em
Atualmente seu foco é religião, sociologia na UT. Se interessa por
cultura e política no Sul da Ásia, sociologia histórica focando no Irã
especialmente no Paquistão.t Moderno.
>>
DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012
Najmeh Taheri Bacharelanda em Tara Asgari Laleh Bacharelanda em
sociologia na UT. sociologia na UT.

Fatemeh Moghaddasi Mestranda


em sociologia na Universidade
Allameh Tabataba’I (ATU). Ela obteve
seu bacharelado em sociologia pela
UT. Seu principal interesse de Pesquisa
é sociologia da educação e sociologia
pública, focando na história da Zeinab Nesar Mestranda em
sociologia pública no Irã e a expansão sociologia pela UT. Ela recebeu seu
da sociologia pública dentro do bacharelado pela UT. Atualmente está
sistema educacional. trabalhando com estudos de gênero.

Faezeh Esmaeili Mestranda em Mitra Daneshvar Bacharelanda em


sociologia pela UT. Ela recebeu seu sociologia pela UT. Ela está analisando
bacharelado em sociologia pela SBU. jovens desviantes, concentrando
Ela está analisando as políticas sociais principalmente nas punições capitais
durante a era Pahlavi. no Irã.
28
É, de fato, um prazer e uma honra para todas nós colaborar com essa grande experiência que é o Diálogo Global.

> O Lugar Global da


Sociologia francófona
por André Petitat, Universidade de Lausanne, Suíça, e presidente AISLF

Georges Gurvitch (1894-1965) – Intelectual de hegemonia militar, econômica,


francês nascido na Rússia sociólogo
renomada em sua época – foi um líder da
tecnológica e científica dos EUA. Des-
AISLF. de a década de 1950, estudantes de
graduação e pós-graduação busca-

O
vam oportunidades para visitar as
O 19 º Congresso da universidades dos Estados Unidos.
Associação Internacional Isso não era do agrado de todos, pois
dos Sociólogos de Lín-gua as correntes do funcionalismo con-
Francesa (AISLF) sobre formista e do empirismo estatístico,
“Incerteza” (Penser l’incertain) será então dominantes nos EUA, estavam
entre os dias 2 e 7 de julho de 2012, em contraste com as abordagens
em Rabat. AISLF, membro da ISA, foi europeias sensíveis ao conflito e
fundada em 1958 em um contexto à transformação social. Georges

>>
DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012
Gurvitch, figura de destaque na AISLF, sumariadas a cada seis meses na linguísticas com relações de de-
desenvolveu a crítica de Sorokin à Lettre de l’AISLF . Para mais detalhes, sigualdade correspondentes.
dostestomania e à quantophrenia dos ver aislf.org.
EUA à sua própria maneira. Ainda que a O contexto no quala AISLF foi funda-
loucura McCarthyte tivesse terminado A AISLF tem servido também da mudou. A Sociologia nos Estados
em 1954, deixou seus vestígios na como um site internacional para Unidos está mais diversificada. Suas
sociologia dos EUA. debates entre as várias “escolas” exportações de maior sucesso, o ator
de sociologia de língua francesa, racional e o interacionismo, são dois
A distância teórica e ideológica sem se posicionar diretamente. aspectos importantes da sociologia
da sociologia dos EUA, para não Tem, portanto, cumprido com seu de língua francesa hoje. Seu sucesso
mencionar sua unilateralidade lin- objetivo original – que permanece provavelmente está relacionado
guística, foi um grande influxo so- o mesmo até hoje – de defender à fragmentação dos subcampos
bre a decisão de criar um espaço o pluralismo na sociologia e de sociológicos.
internacional de uma sociologia de incentivar o debate no seio dos gru-
língua francesa. Assim, a AISLF é um pos de pesquisa. As associações O mundo bipolar que conhecemos
ato explícito de política científica, linguístico-regionais oferecem (1950-1970) desapareceu para
bem como um ato de política lin- oportunidades para a incubação ser substituído por um mundo
guística: o objetivo era proteger a internacional e enraizamento es- multipolar. Nós habitamos um
diversidade da produção sociológica pontâneo de novos conceitos e mundo oficialmente reconhecido
e a diversidade linguística, combi- paradigmas que emergem em por seu pluralismo cultural, carac-
nando uma com a outra. contextos nacionais muitas ve- terizado pela interdependência
zes demasiado estreitos para pro- global de proporções até então
Com o tempo, AISLF cresceu de um porcionar espaço suficiente para o desconhecidas e ancorado na cres-
encontro acadêmico amigável para seu crescimento. Para prosperar, a cente mobilidade de pessoas, capital,
uma associação de mais de 1.800 diversidade sociológica exige tais informação e produtos. Vivemos
membros em mais de 50 países. zonas de proximidade linguística. em uma época em que os nossos
Não é uma associação regional ou Uma das tarefas da ISA é favorecer poderes tecnológicos e científicos 29
nacional, mas uma associação de o diálogo entre as áreas que são ultrapassam tudo aquilo que poderia
espaços linguístico-culturais, tanto mais ou menos porosas, tarefa que ter sido imaginado pelos fundadores
real quanto virtual, composta de o Presidente Burawoy está tentando da nossa disciplina. O programa
países, regiões nacionais, programas realizar concernente aos grandes liberal do laissez-faire, associado
educacionais e centros de pesquisa problemas mundiais. ao sonho técnico-científico de
que estão parcial ou totalmente Descartes (“senhores e mestres da
em língua francesa. Alguns deles É evidente queas zonas linguísticas natureza”), deu à luza essas incer-
estão localizados em países que são desiguais e hierárquicas. Hoje, tezas do mundo da economia e da
não são de língua francesa, outras a zona de língua inglesa está no ecologia de que há novas demandas
são simplesmente sociólogos topo. Essa hegemonia, resultante de de regulação global depois de cada
franco-afins isolados em ambientes múltiplas circunstâncias e processos, crise, simplesmente para evitar
não-francófonos. Essa associação não deve nos cegar para o fato de afogamentos em nossas próprias
“linguístico-regional” tem mais de 50 que zonas linguísticas, incluindo contradições e fragmentações. Ao
grupos temáticos muito ativos. Ela a de língua francesa, têm suas organizar o nosso 19 º Congresso
produz o jornal online Sociologies próprias hierarquias internas e suas em Rabat sobre o tema da “in-
e dá especial atenção à formação desigualdades. Pensar e escrever certeza”acreditamos que os soció-
de jovens pesquisadores através em francês não é o mesmo para um logos têm um papel especial a
da Rédoc (Rede Internacional de senegalês, ou um marroquino, como desempenhar na busca de uma
Escolas de Doutorado) que organiza o é para alguém daFrança ou do saída da passagem estreita em que
uma escola de verão todos os anos. Quebec. Na verdade, estamos diante estamos atualmente presos.
As atividades da Associação são de uma hierarquia de hegemonias

DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012


HISTORY CORNER

> Mais sobre AISLF,


direto dos Arquivos
por Jennifer Platt, da Universidade de Sussex, Reino Unido, e Vice-Presidente de
Publicações da ISA, 2010-14

E
sta nota complementa o artigo de enquanto um dos vice-presidentes foi o francês
André Petitat com mais alguns dados e Georges Davy. Georges Friedmann, em seguida,
informações sobre o longo relacionamento tornou-se presidente de 1956-9. Houve então um
da AISLF com a ISA – uma relação que longo hiato até o seguinte presidente francófono,
refletiu em dados momentosalguns atritos internos. Michel Wieviorka, 2006-10, mas ao longo dos anos
A fundação em 1949 da ISA foi iniciada pela UNESCO, sempre houve pelo menos um membro francófono no
cuja sede sempre foi em Paris, de modo que a língua executivo, e em sete dos onze mandatos, a ISA teve
francesa teve uma importância prática bem como um um vice-presidente francófono.
estatuto formal; historicamente, também, o francês
foia língua da diplomacia internacional, embora este Em cenários francófonos (geralmente localizados
status especial mudasse com a dominância inter- em países bilíngues) houve três Congressos Mundiais
nacional dos EUA após a Segunda Guerra Mundial. (Liège em 1953, Evianem 1966 e Montréal em 1998) ese
A duas línguas oficiais da ISA foram o francês e o estabeleceram três Secretarias antes de sua fixação
inglês –sem falardas línguas de outros países com atual em Madrid (Louvain, 1959- 62; Genève,1962-7;
uma sociologia nascente significativa que estavam do Montréal, 1974-82). É interessante notar também
lado fascista na guerra. Como a ISA se tornou mais que alguns membros muito proeminentes da ISA de
independente da UNESCO, a importância prática da origem nacional não-francófona, como Anouar Abdel- 30
língua francesa em seus assuntos diminuiu, e, como Malek, ou realizaram trabalhos em Paris durante
reação a isso, os arquivos mostram que em 1954 o muitos anos,ou tiveram fortes e duradouras ligações
sociólogo francês Georges Gurvitch propunha uma intelectuais por lá. Da mesma forma, os imigrantes
secção francófona na ISA; esta proposta foi vista como francófonos, como Jacques Dofny, que foi da Bélgica 1,
um enfraquecimento do ethos internacionalista e não para o Québec, criaram ligações importantes. Assim,
foi aceita. Em 1958, a AISLF independente foi, então, podemos ver como os laços linguísticos têm ajudado
fundada por iniciativa de Gurvitch e do sociólogo a criar vinculações, bem como expressam identidades
belga Henri Janne. No entanto, em 1963 ela se filiou à independentes.
ISA como membro coletivo; mas provavelmente nisto
ajudou Girod, o então Secretário de Filiação da ISA,
que era também um membro Executivo da AISLF! 1
Para um relato muito interessante de seu papel, ver « Entrevue avec Jacques Dofny,
professeur et bâtisseur », Sociologie et sociétés 23 (1991): 61-77.

As cifras regulares da ISA sobre suas atividades


sempre foram mantidas em termos de contribuições
nacionais, mas faz uma diferença para o cenário se a
língua, mais do que a localização geográfica, é levada
em conta. Como Petitat apontou, a França não é a
única contribuinte francófona da ISA; França, Canadá,
Bélgica e Suíça têm sido bastante proeminentes. De
1949 a 1956 a ISA teve um presidente americano,

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> Os desafios enfrentados pela
Sociedade Indiana
de Sociologia
por IshwarModi, Presidente da Sociedade Indiana de Sociologia e Membro do Comitê
Executivo do ISA, 2010-2014

Ishwar Modi acendendo a lâmpada sagrada


ana conferência anual da ISS em Jaipur. O
excelentíssimo governador de Rajastão,
Hon’ble S. K. Singh (ao centro), observa.

classes médias, a desigualdade social,


a mudança dos contornos da divisão
rural-urbana etc. A Sociologia do Povo
precisa ser a nossa divisa no século XXI.

Para realizar as novas metas,


temos de aprender muito com
países como Brasil, Rússia, China
e África do Sul. Os países do Leste 31

A
sociologia indiana atingiu Europeu também podem oferecer
um nível admirável em A indianização racional precisa se uma grande contribuição baseada
termos de ensino e pes- tornar uma realidade se quisermos nas suas experiências da era pós-
quisa. Nessa empreitada a So- entender as complexas questões com socialista. Nós também precisamos
ciedade Indiana de Sociologia empatia e interesse. Temos de desen- olhar para as tradições intelectuais
(ISS) tem desempenhado um pa- das sociedades orientais, do Oriente
volver uma sociologia relevante. Sob
pel significativo ao longo das Médio e da África para desenvolver
a minha presidência, novas iniciativas
seis décadas de sua existência. sociologias alternativas. Ou seja, a
para ampliar os horizontes da socio-
Estou extremamente feliz por
logia indianaforam discutidas. Ao nossa tarefa não é apenas manter
ser o seu Presidente a partir de
mesmo tempo, a sociologia in-diana os aspectos positivos da sociologia
janeiro de 2012, em um mandato
de dois anos. O ISS tem cerca não pode ficar afastada da cena global. ocidental, mas também tirar lições
de 3.500 membros vitalícios na O porta-voz do ISS é a sua revista de países em desenvolvimento.
Índia e alguns no exterior. A – Sociological Bulletin. Precisamos Precisamos estabelecer ligações entre
sociologia na Índia está hoje em ampliar a sua frequência, alargar a a sociologia indiana dominante e as
uma interseção. Vários desafios sua cobertura, torná-la multilíngue e culturas e sociedades provincianas da
têm surgido nos últimos anos em torná-la, em um sentido verdadeiro, Índia. Para conseguir isto, a ISS terá
nossa secular profissão acadêmi- uma publicação internacional. Precisa- que construir relações estreitas com
ca da sociologia. O passado associações regionais / provincianas
mos trazer temas especiais. Estudiosos
colonial da sociedade indiana para englobar a rica diversidade social
sêniores poderiam ser solicitados para
ainda assombra a pedagogia e a e cultural da Índia. Estou bastante
metodologia, e a supremacia aca- contribuir com artigos. Um e-Journal
também está na nossa agenda. otimista de que a ISS fará grandes
dêmica americana reina sobre
avanços em todas essas direções.
nossos projetos acadêmicos, in-
cluindo conceitos, quadros de Além da reformulação do Sociologi- Referências
referência e construções teóricas. cal Bulletin, há uma necessidade de Modi, I. (2010) “Indian Sociology Faces the World.”
A sociologia indiana ainda não iniciar novas discussões sobre questões Pp.316-325 in Michael Burawoy, Chang Mau-kuei, and
conseguiu produzir as suas pró- relacionadas com o desenvolvimento, Michelle Fei-yu Hsieh (eds.) Facing an Unequal World:
Challenges for a Global Sociology (Volume II). Institute
prias contribuições para a teoria as bases sociais da política, as novas of Sociology, Academia Sinica, Taiwan, and Council of
social e para o desenvol-vimento dimensões das reivindicações culturais National Associations of the International Sociological
conceitual (Modi, 2010). e de identidade, a rápida expansão das
Association.

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> Sociologia Pública na
Universidade de Ankara
por Günner Ertong e Yonca Odabas, Universidade de Ankara, Turquia

A emergência das privatizações nos anos de 1990 e o


aumento dos custos trabalhistas no setor publico resultaram
no uso generalizado de trabalhadores contratados por
empresas subsidiárias e, como resultado, a percentagem
de trabalhadores com a estabilidade do trabalho deu um
mergulho.

A resistência dos trabalhadores a essas estratégias de


Trabalhadores amontoados na cidade de tendas construídas no “flexibilização” começou em Ankara, no dia 14 de dezembro
protesto contra a política de trabalho da TEKEL Corporation. de 2009, e desencadearam táticas opressivas das forças de
segurança. Devido ao tempo frio e a espera prolongada

N
ós somos um grupo de sociólogos trabalhando por uma resposta do governo, os trabalhadores de TEKEL
com o professor Aytül Kasapoğlu no Depar- construíram uma cidade de tendas nas ruas onde eles
tamento de Sociologia da Universidade de estavam protestando. Estas tendas se tornaram foco de
Ankara. O nosso grupo inclui alunos de graduação, pós- atenção pública. A despeito da hegemonia do governo,
graduados e jovens acadêmicos em tempo integral. os trabalhadores de TEKEL receberam bastante suporte
no local de cientistas, artistas e estudantes. O nosso grupo
O nosso grupo é dinâmico; pessoas juntam-se a nós para estava presente, auxiliando os trabalhadores com modelo
estudar, contribuem com nossas publicações prosseguem de pesquisa de campo aplicando o modelo multidão-
com suas vidas acadêmicas com essas experiências. mobilização de Herbert Blumer à greve de TEKEL. Os
Em sua maioria, são estudantes que estão escrevendo resultados desse trabalho se tornaram um artigo que
seus doutorados ou mestrados em direção do professor foi apresentado no encontro da Associação Europeia de
Kasapoğlu. Nós estamos conectados por nossa rede de Sociologia (ESA) em Genebra, em setembro de 2011. 32
pesquisa até mesmo quando saímos do departamento para
assumir outros trabalhos. No que se segue, eu introduzirei Yurt ve Dünya – Terra natal e o mundo – é uma
os leitores brevemente aos livros que publicamos como revista online que tem sido publicada desde 2010 em
parte da nossa pesquisa, os seminários do professor www.yurtvedunya.net. Contudo, ela tem uma história bas-
Kasapoğlu onde desenvolvemos nossa pesquisa de campo, tante longa. Yurt ve Dünya foi inicialmente publicada em
e uma revista onde nós frequentemente reportamos nossos 1941 sob a liderança de Behice Boran, um sociólogo público
achados de pesquisa. que trabalhava na Faculdade de Humanidades. Dessa vez,
nossa inspiração foi o movimento pela sociologia pública de
Os livros que publicamos se concentram no conteúdo dos Michael Burawoy e decidimos reviver a Yurt ve Dünya em
cursos ministrados por Aytül Kasapoğlu. Eles são construídos 2010 trazendo para ela a energia de alguns estudantes de
através do trabalho de estudantes e acadêmicos, integrando graduação e professores do Departamento de Sociologia.
teoria e prática. O primeiro desses livros, O Caráter em uma O objetivo da revista é compartilhar a Pesquisa conduzida
Estrutura Social em Mudança, é sobre a erosão do caráter na academia com diferentes públicos que estão fora da
devido às exigências da estrutura social. O Segundo, Novos academia. O primeiro público-alvo da revista são estu-
Traumas Sociais, examina as narrativas dos traumas sociais. dantes de diferentes departamentos de sociologia na
O terceiro, Vida Social e Conflito: Diferentes Panoramas lida Turquia.
com a vida social e o conflito, enquanto o último, Dois Lados
da Moeda: Saúde e Doença, foca-se na área da sociologia Nós estamos planejando estender nossos esforços na
da saúde e da doença. A série de seminários, organizada sociologia pública para a área internacional. Nós somos todos
pelo Professor Kasapoğlu, direciona estudantes à literatura membros da ISA e da ESA. Uma vez que nós acreditamos
relevante e gera novas ideias que são discutidas com colegas. fortemente na importância da colaboração entre sociólogos
Mesmo depois de se graduarem, os estudantes formados tanto a nível nacional quanto regional e internacional, nós
continuam a participar dos cursos, inspirando novos também estamos ativos na nossa associação nacional.
recrutados.
Nós estamos animados em desenvolver uma cultura de
Um projeto de pesquisa de campo que completamos Pesquisa colaborativa e produzir a sociologia pública.
muito recentemente focou-se na greve de TEKEL em Se você está interessado nos nossos trabalhos ou em se
dezembro de 2009. TEKEL é uma grande empresa estatal comunicar com nosso grupo, pode nos contatar em:
do setor de tabaco e bebidas alcoólicas. A greve durou 78 Aytül Kasapoğlu: kasap@humanity.ankara.edu.tr
dias em Ankara, a capital da Turquia. O motivo da greve Yonca Odabaş: yoncaodabas@yahoo.com
foi uma mudança do status dos trabalhadores da TEKEL. Günnur Ertong: gertong07@gmail.com

DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012


> Futuros democratizantes:
Buscando por Igualdade
e Participação
by Markus S. Schulz, Universidade de Illinois, Urbana-Champign, EUA, e membro do Comitê
de Programa da ISA para o Congresso Mundial de Yokohama, 2014

33

O
Mães da Plaza de Mayo, Buenos Aires. Foto
Comitê de Pesquisa da refere à tarefa de democratizar o por Markus Schulz.
ISA sobre Pesquisas sobre próprio processo de visualizar e
Futuros (RC07) reúne seu realizar futuros. Futuros democra-
programa para o Fórum em Buenos tizantes, portanto, se vincula à bus- transversais parecem ser mais
Aires que se aproxima sob o lema ca social por justiça e participa- adequados a realidades turvas e
“Democratizar Futuros”. Este le-ma ção. “Futuros” é intencionalmente frequentemente conflitivas. Fu-
foi pensado para conectar o tema usado em sua forma plural pou- turos democratizantes implica em
geral do Fórum, “Justiça Social co comum. Como demandam diálogo sobre visões alternativas.
e Democratização” com o foco acadêmicos pós-coloniais como
específico do comitê de pes-quisa. Arturo Escobar, Aníbal Quijano, O futuro parecia encerrado durante
O lema contém (em sua versão em Walter Mignolo ou Boaventura de a década de 1990, quando o chamado
inglês – Democratizing Futures ) Sousa Santos, precisamos de uma consenso de Washington prescreveu
um sentido duplo: lido como adje- epistemologia plural de diversos receitas neoliberais para ajustes
tivo, democratizing expressa a conhecimentos. Apesar de sua estruturais em direção a rígidos
esperança de que alguns futuros parcimônia atraente, modelos uni-
modelos de mercado em países ao
trarão mais democratização; lido lineares não descrevem a história
redor do mundo. As contestações
como verbo, democratizing se como a conhecemos. Conceitos
>>
DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012
Occupy Wall Street em Zuccotti Park, Nova
Iorque. Foto por Markus Schulz.

futuros mais democráticos? Como as


assunções e aspirações sobre o futuro
influenciam as rotinas diárias e as
vidas coletivas no longo prazo? O que
define o horizonte de imaginá-rios
sociais? Como precisamos repensar
a democracia na era da globalização
avançada? Como problemas urgen-
tes como a mudança climática global,
degradação ambiental, fome ou
partiram da selva remota de Chiapas da Liberty Square, em Nova Iorque, violência podem ser atacados de ma-
para cidades como Seattle, Praga, assim como a ocupação de muitas neiras sustentáveis? O que deve ser
Gênova ou Davos, que as elites globais outras praças no país, tinha o objetivo feito para democratizar a governança,
haviam escolhido para reuniões de de criar espaço para o diálogo. Ela infraestrutura, produção, mídia e
cúpula a portas fechadas. A política transformou o árido Parque Zuccotti tecnologia? Como a distribuição de
do medo em nome do uma “guerra – “semi-público”, mas de propriedade bens, riscos e oportunidades pode
ao terror” global parecia estender de uma corporação – em uma esfera se tornar mais equitável? Como di-
ainda mais o reinado neoliberal até pública de sucesso, com artes, música, ferentes forças estão posicionadas
que a especulação excessiva em comida compartilhada, biblioteca e para moldar futuros? O que pode ser
mercados financeiros estourou e até um vibrante debate político sobre aprendido ao se comparar lutas sociais
os principais meios de comunicação como criar futuros melhores, não em diferentes países e contextos?
passaram a falar sobre um “colapso do somente para os 1% mais ricos, Como movimentos emancipatórios e
capitalismo”. Tais manchetes foram, mas também para os outros 99%. práticas cotidianas nas bases resistem
é claro, prematuras, uma vez que um Como se pode ver pelo conjunto de à disciplina, exploração e ausência de
34
resgate de vários trilhões de dólares foi anúncios feitos em papelão, muitas reconhecimento? Que visões para
organizado da noite para o dia, mas elas das demandas e propostas que es- futuros alternativos são imagináveis,
indicam quão instável é a legitimidade avam sendo debatidas eram muito desejáveis e alcançáveis? Quais são
do regime econômico. O poder dos específicas, indo desde uma economia os guias para a transformação social?
EUA diminuiu na trilha da invasão no mais justa até um meio ambiente mais Como a pesquisa social orientada
Iraque e frente à ascensão da China limpo e reformas do sistema tributá- para o futuro pode se vincular a
e de outros países emergentes. Sul- rio e legislação sobre financiamento debates públicos mais amplos?
americanos da Argentina à Venezuela de campanhas. A organização hori-
e do Brasil ao Equador encontraram zontal do movimento por si própria Meus agradecimentos a Alberto
nova margem de manobra para já encarnava o objetivo de resgatar Bialakowsky, Alicia Palermo, Margaret
rejeitar as “condicionalidades” do FMI a democracia. O movimento Occupy Abraham, Michael Burawoy e Ra-
ou do Banco Mundial e perseguir desafiou a crescente desigualdade quel Sosa por seu trabalho duro e
novos caminhos. Os levantes no social e o aumento da influência entusiasmo intelectual para tornar
mundo árabe tiraram do poder tiranos corporativa na política. A repressão possível o Fórum na Argentina.
de longa data, abriram novos espaços policial conseguiu encerrar os Vamos aguardar muitos debates en-
para a democratização da região, e espaços ocupados na maioria das tusiasmantes e encontros inspirado-
deram exemplos que repercutiram até centenas de cidades dos EUA, mas res em Buenos Aires.
mesmo nos EUA. uma nova geração de ativistas teve
uma experiência formativa em ação
Um pequeno protesto em Wall Street coletiva e está pronta para continuar
se tornou um movimento nacional a luta por futuros mais democráticos.
com vínculos com equivalentes na
Europa e outros lugares. Embora A sociologia pode aprender com
o movimento Occupy tenha sido esses movimentos sobre a ma-
ridicularizado pela mídia corporativa leabilidade dos futuros. As questões
por não ter uma lista clara de de- que estão sendo formuladas em um
mandas, esta falta de uma ideologia espectro amplo de sessões orga-
fixa contribui enormemente para seu nizadas pelo RC07 no Fórum de Buenos
apelo. Acima de tudo, a ocupação Aires incluem: como podemos criar

DGN VOL.2/ # 4 / MAIO 2012

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