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1. INTRODUÇÃO

A Indisciplina é um problema que tem se agravado a cada dia no contexto escolar


e isto tem contribuído para dificultar o processo de aprendizagem.

É necessário analisar profundamente a questão para que se possam detectar


fatores intra ou extra-escolares que possam estar contribuindo para a indisciplina. Sabe-se que
este problema não pode ser encarado, minimizado ou resolvido apenas em nível de escola,
sendo necessário o envolvimento da família, dos governantes e de toda sociedade que, em
conjunto, devem procurar e detectar as causas e buscar as soluções.

O problema da indisciplina por não ser gerado somente na escola, envolve uma
série de fatores provenientes de problemas familiares, financeiros, distúrbios neurológicos e
outros. A escola, muitas vezes, tem também contribuído para o surgimento da indisciplina,
através de seus métodos tradicionais, desmotivadores, com currículos dissociados da realidade
do aluno, um sistema de avaliação falho e outros.

Portanto, a indisciplina, é um assunto a ser debatido e investigado amplamente


para que se possam identificar os aspectos que influenciam o aluno a ser indisciplinado na
escola, levando em consideração a questão social e da família por transferir suas
responsabilidades para a escola, ressaltando-se que o esforço isolado dos educadores não é
suficiente para coibir tal problema, devendo, assim, haver um esforço conjunto da família e
sociedade para que, juntamente com a escola, possam buscar meios que levem a redução deste
problema e conseqüentemente, de outros que dele decorrem.

Como educadora e conhecedora dos problemas da indisciplina na sala de aula e na


escola, como um todo, resolveu-se partir para um aprofundamento teórico, que viesse auxiliar
a desvendar os fatores que têm levado crianças e jovens a tomar, não só atos impensados e
que prejudicam seu desempenho escolar, mas também, atos de vandalismo, podendo chegar
até mesmo a prejudicar outras pessoas.
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Para embasar o estudo, procurou-se ler alguns autores que estão diretamente
envolvidos com problemas relacionados à educação e alguns que tratam especificamente do
problema da indisciplina, dentre os quais se destacam: VASCONCELOS, TIBA, GARCIA,
AQUINO, FURLANI, ROUCEK e outros, como fontes principais, em busca de respostas
para o tema em questão.

Espera-se que este trabalho possa dar sua contribuição aos colegas educadores,
combatendo um dos fatores que mais geram conflitos, evasões e, principalmente, reprovação.
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2. INDISCIPLINA – ALGUNS APORTES TEÓRICOS

A indisciplina é preocupação constante não somente na escola, mas em toda a


sociedade, porém, é necessário conceituá-la para que se possa saber o que pode ser
considerado como tal e as forma de combatê-la.

O conceito de indisciplina apresenta uma complexidade que precisa ser


considerada. Um entendimento suficientemente amplo do conceito de indisciplina escolar
precisa integrar diversos aspectos. É preciso, por exemplo, superar a noção arcaica de
indisciplina como algo restrito à dimensão comportamental.

A palavra indisciplina provém da palavra disciplina, ou seja, é a ausência da


disciplina.

Procura-se refletir aqui acerca do que pode ser considerado como indisciplina, que
pessoas podem ser consideradas como indisciplinadas e que atos as tornam indisciplinadas.
Existem professores que não tomam conhecimento do problema e, sob qualquer “clima
disciplinar”, vão “dando a sua aula” ... para as moscas ... Outros há, porém, que tomam o caso
da indisciplina tão sério, que até moscas esvoaçando se percebem em classe.

O que há, nestes dois extremos, é a falência da disciplina. Há, realmente,


disciplina quando encontramos os alunos satisfeitos, trabalhando, como se o professor não
estivesse em classe.

É necessário que se saiba o que é disciplina para entendermos o que é considerado


indisciplina.

Buscou-se, inicialmente, o conceito mais básico de disciplina e encontrou-se no


dicionário que é:

Regime de ordem imposta ou livremente consentida. Ordem que


convém ao funcionamento regular duma organização (militar,
escolar, etc). Relações de subordinação do aluno ao mestre ou ao
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instrutor. Observância de preceitos ou normas. Submissão a um


regulamento (AURÉLIO, 1988: 224).

Assim, vê-se que disciplina esta diretamente relacionada ao acatamento das


normas ou regulamentos. Esta ação de acatar ordens no contexto da escola, não deve ser
seguida rigorosamente para não pôr em risco a criatividade do aluno e o seu poder de tornar-
se um ser independente e crítico.

Atualmente, a metodologia utilizada em sala de aula é muito questionada e


métodos ativos são indicados como os mais eficazes e que levam o aluno a descobrir, a
questionar e não apenas a memorizar. Porém para que se ponham em prática tais métodos é
necessária a participação dos alunos e esta deverá ser orientada pelo professor para que não se
torne desordenada e motivadora de conversa paralelas ou atos de indisciplina.

A disciplina, significa a capacidade de comandar a si mesmo aos


caprichos individuais, às veleidades desordenadas, significa, enfim,
uma regra de vida. Além disso, significa a consciência da necessidade
livremente aceita, na medida em que é reconhecida como necessária
para que um organismo social qualquer atinja o fim proposto
(VASCONCELOS, 1995: 40).

Mas que atos são considerados dentro da sala de aula como “atos de indisciplina?”
Obviamente são os que prejudicam a construção do conhecimento ou a formação do indivíduo
como cidadão. “A disciplina escolar é conjunto de regras que devem ser obedecidas para
êxito do aprendizado escolar. Portanto, ela é uma qualidade de relacionamento humano
entre o corpo docente e os alunos em uma sala de aula e consequentemente, na escola”.
(TIBA, 1996: 99).

O aluno que mantém conversas paralelas encontra-se disperso e sem material, que
se levanta a todo instante para pegar material emprestado ou para brincar, que se nega a
participar das aulas, que pede a todo instante para sair da sala para ir ao banheiro ou para
beber água, que fica nos corredores, que destrói os bens da escola ou seu próprio material
escolar, que não respeita os professores e outras coisas mais, certamente está prejudicando a
sua aprendizagem e a de outros alunos.
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A maioria das crianças e jovens, demonstra claramente sua ojeriza e rejeição às


regras e vê-se que fazem questão de ir de encontro às ordens estabelecidas, pois a disciplina
está associada a um limite que não é bem recebido pelos alunos.

Muitos professores, coordenadores e diretores de escolas querem que seus alunos


estejam sempre atentos, calados, sentados e obedecendo ordens, mas este não é um conceito
correto de disciplina, pois a apatia do aluno não significa que ele seja disciplinado e para o
bom desempenho e aprendizado dos alunos é necessário que sejam questionadores, críticos,
acerca dos acontecimentos, analisando os problemas, sugerindo respostas ou soluções, numa
atitude de participação que, para alguns, pode ser tachada como indisciplina, mas que no atual
sistema de educação deve ser encarado como um fator positivo.

Sabendo-se que a questão da indisciplina é bastante complexa, uma vez que um


grande número de variáveis influenciam o processo de ensino-aprendizagem. Apesar dessa
complexidade, a verdade é que há um consenso sobre o fato de que sem disciplina não se
pode fazer nenhum trabalho pedagógico significativo. “A disciplina pode ser entendida
diferentemente. Segundo a tarefa do mestre é considerada como de puro ensino ou de
educação e segundo o aluno é considerada como uma simples inteligência a guarnecer de
conhecimentos ou como um ser a formar para a vida”. (Walleon, apud Vasconcelos. 1986:
37).

Segundo Vasconcelos (1986: 37), na visão idealista, disciplina


significa participar do esforço civilizatório e a escola nada mais faria
que colaborar com este esforço geral, uma vez que, na verdade, não
existe civilização em geral, mas formas históricas de civilização, que
no nosso caso corresponde ao modo capitalista da produção, com sua
divisão em classe sociais antagônicas; portanto, na nossa realidade
no sentido geral, disciplina corresponde a adequação à sociedade
existente; significa, pois, inculcação, domesticação, resignignação à
exploração, etc.

A disciplina, freqüentemente é trabalhada de forma restrita, em que é dada muita


ênfase aos limites, ao que “não pode”, em detrimento das possibilidades do que é esperado;
sendo assim, chamá-la de “não, não e não”.

Esta é a moral que consagra o que não se deve fazer. Chamo a isto de
disciplina da abstenção ou da inibição. Considero que a disciplina na
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coletividade infantil deve ter um caráter: o impulso de avançar. Esta


é a disciplina da superação (...) Podemos nos orgulhar da disciplina
que chama adiante, que exige algo do homem, algo maior que a
inibição. (Makarenko apud Vasconcelos. 1986: 41).

A disciplina implica o reconhecimento da função de cada um na consecução de


um objetivo. É a garantia da ordem através da responsabilidade de cada qual na execução de
uma tarefa, em termos de coletividade: que uns não perturbem o trabalho de outros. Mas,
pode ser um pouco mais. Pode ser a disposição de um aluno em enfrentar uma dificuldade, a
maneira de encará-la e tentá-la resolver, sem ser prejudicial ao colega.

O comportamento de dois alunos pode ser o mesmo, todavia, a atitude disciplinar


de ambos pode ser bem diferente, isto porque a verdadeira medida da disciplina é por dentro e
não por fora. Estamos acostumados, infelizmente, a julgar a disciplina por fora, não tomando
mesmo conhecimento da atitude interior do aluno.

É preciso ter em mente que um aluno chega à indisciplina devido a um desamparo


da família ou da própria escola. O trabalho do professor é amparar para recuperar o aluno. Dar
notas zero, expulsar de classe, ameaçar, são formas de abandono ainda maiores.

Conforme já mencionamos, as idéias acerca da indisciplina estão longe de serem


consensuais e as definições conceituais podem ser interpretadas de diversas formas.

Partindo dos conceitos citados por alguns autores é possível, por exemplo,
entender que indisciplinável é aquele que se deixa submeter, sujeita-se de modo passivo ao
conjunto de prescrições de normas geralmente estabelecidas por outras pessoas e que estão
relacionadas a necessidades externas a estas. A pessoa disciplinada obedece, cede, sem
questionar as regras e preceitos vigentes em determinada organização. Já o indisciplinado é o
que se rebela, que não acata, não se submete e nem se acomoda.

A noção de indisciplina deve ser considerada através de seus principais planos de


expressão na escola. É possível situá-la no contexto das condutas dos alunos nas diversas
atividades pedagógicas, seja dentro ou fora da sala de aula sob a dimensão dos processos de
socialização e relacionamento que exercem na escola. É preciso pensar a indisciplina no
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contexto do desenvolvimento cognitivo dos estudantes e sob esta perspectiva, define-se como
incongruência entre os critérios e expectativas assumidas pela escola em termos de
comportamento, atitudes, socialização, relacionamentos e desenvolvimento moral dos
estudantes.

No contexto escolar, a disciplina é vista através de regras impostas e que devem


ser obedecidas para o êxito da aprendizagem.

A disciplina em uma das suas dimensões está relacionada à imposição de limites e


normas ligadas ao estilo da prática docente, ou seja, à autoridade profissional, moral e técnica
do professor. A rigor, a disciplina em sala de aula pode equivaler a simples boa educação.

Compreende-se por indisciplina como um comportamento inadequado, um sinal


de rebeldia, intransigência, desacato, traduzida na falta de educação ou respeito pelas
autoridades na bagunça ou agitação motora. Já a disciplina parece ser vista como obediência
cega a um conjunto de prescrições, e principalmente como um pré-requisito para o bom
aproveitamento do que é oferecido na escola.

Sabe-se, porém, que existem limites que não podem ser ultrapassados e momentos
em que a criança ou o adolescente precisa compreender que não pode ferir o direito e a
liberdade dos outros.

Afinal de contas, o que realmente é indisciplina? De que ela fala? De uma real
necessidade de colocar freios a comportamentos inaceitáveis dos alunos que não conseguem
se auto-regular? De aulas que são realmente desinteressantes, dadas por professores cansados,
irritados ou revoltados com o valor que governos e sociedade têm dado a função do educador?
Ou de muitas famílias desestruturadas, desorientadas, com valores totalmente invertidos em
relação à educação e que transferem todas as responsabilidades para a escola, não cumprindo
com a tarefa de dar educação básica aos filhos?

Desse modo, a compreensão da disciplina como normas, regras, submissão,


acatamento é culturalmente imposta pela sociedade. A escola reproduz totalmente esta
concepção e exige que o aluno assuma uma postura acomodada. Reforçando esta ideologia de
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organização o professor; em nome desta disciplina, apresenta uma postura autoritária e de


mando. Trabalhar a questão disciplinar em sua origem, investigar as causas/conseqüências
não são preocupações docentes. Em outro sentido como por exemplo: A educação e a
formação recebida em casa, as condições sociais impostas, os exemplos vistos e assimilados
pelo aluno na comunidade.

Torna-se um desafio definir conceitos sobre disciplina ou indisciplina, estabelecer


regras ou dar liberdade, adestramento ou rebeldia, enfim tornam-se relativos as interpretações
postas, cada contexto exige tratamentos específicos sobre o tema. Ao educador cabe definir o
seu espaço disciplinar e trabalhar as questões indisciplinares de acordo com a sua realidade e
do seu aluno.
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3. A INDISCIPLINA E O CONTEXTO ESCOLAR

A indisciplina tem sido um problema muito discutido pelos educadores no


contexto das escolas desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. Não é um fenômeno
estático que tem mantido as mesmas características ao longo das últimas décadas. Ao
contrário, está em “evolução” nas escolas. Tem sido intensamente vivenciada nas escolas,
apresentando-se como uma fonte de estresse nas relações interpessoais, particularmente
quando associada a situações de conflito em sala de aula. Além de constituir um “problema”,
reflete, também, sobre o ambiente escolar e sobre a própria necessidade de avanço pedagógico
e institucional. Trata-se de uma questão que deve ser debatida e investigada amplamente.

As crianças e jovens de hoje têm se tornado cada vez mais problemáticas e


desenfreadas, não conseguem controlar seus impulsos, não tendo limites e chegando, muitas
vezes, a prejudicar a vida de outros e a sua própria.

As causas da indisciplina provêm de vários fatores internos e externos. Um deles


que mais influencia esta geração de crianças agressivas e indisciplinadas, é a falta de
imposição de limites por parte da família que pode ser um ponto importante para esta situação
em que hoje se encontram as novas gerações. Não se pode julgar que os pais sejam os únicos
responsáveis, pois educar tornou-se uma tarefa muito difícil e árdua para as pessoas que não
têm tempo para se dedicarem aos filhos e que vivem em uma sociedade de conflitos, drogas,
álcool, fumo, homossexualidade, desemprego e tantos outros problemas que afligem as
famílias de um modo geral.

Quando estas crianças ingressam na escola, levam consigo as marcas da


agressividade e da auto-suficiência que as impulsionam a querer ir de encontro às normas
educacionais.

A maioria dos alunos pode encontrar, na escola, certa sensação de segurança e


conforto. Existem os que, de certo modo, se vêem prejudicados em relação aos outros e não
encontram segurança interior. A má conduta pode ser um meio de manifestar a ansiedade. O
aluno internamente perturbado não tem capacidade para explicar por que se conduz mal. Não
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se pode afirmar que este tipo de expressão seja em si mesmo “errado” e, neste sentido,
represente “indisciplina”.

Vale salientar que a escola ainda está mal aparelhada para lidar com casos
isolados, com “alunos indisciplinados”, e está tendo de lidar com expressões coletivas de
indisciplina. Os métodos tradicionais que podem ser caracterizados pela intenção comum de
exercer controle comportamental sobre a conduta dos estudantes, embora utilizados pela
maioria das escolas, mostram-se inefetivos quando utilizados com alunos que, através do
próprio currículo da escola, particularmente no ensino médio, estão aprendendo a pensar
criticamente e a contestar.

Não é meu objetivo valorizar esteticamente a violência, nem defender


uma escola sem regras, mas apontar a existência de uma lógica
interna de fatos que ofereça uma pista para encontrarmos
alternativas pedagógicas de negociação com os conflitos. A escola,
como qualquer outra instituição está planificada para que as pessoas
sejam todas iguais. Há quem afirme que quanto mais igual, mais fácil
de dirigir. (AQUINO, 1996: 78).

A homogeneização é exercida através de mecanismos disciplinares, ou seja, de


atividades que esquadrinham o tempo, o espaço, o movimento, gestos e atividades dos alunos,
dos professores, dos diretores, impondo aos seus corpos uma atitude de submissão e
docilidade.

A instituição escolar não pode ser vista apenas como reprodutora da experiência
de opressão, de violência e de conflito, é importante argumentar que, apesar dos mecanismos
de reprodução social e cultural, as escolas também produzem sua própria violência e sua
própria indisciplina.

A indisciplina escolar apresenta atualmente expressões diferentes, e mais


complexa e “criativa”, e parece aos professores mais difícil de resolver de um modo efetivo.
Em cada caso é sempre necessário questionar qual o grau de participação da própria escola na
geração de indisciplina, e não apenas assumir a posição simplista e autoritária que sugere, sem
a devida fundamentação, que o problema sempre reside ou se origina na atitude dos
estudantes.
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A escola, ao se deparar com a indisciplina, necessita detectar as causas destas


atitudes e, em trabalho conjunto de professores, coordenação, supervisão, psicólogos,
psicopedagogos, direção e família, buscar soluções para estes problemas.

Não se pode negar a necessidade de disciplina na sala de aula, para que se possa
desenvolver satisfatoriamente a aprendizagem. Esta disciplina, porém, não deve ultrapassar os
limites que levam à não-criatividade e à não-participação, pois dentro da sala de aula, o
autoritarismo e a libertinagem são igualmente prejudiciais. O autoritarismo deixa o aluno sem
oportunidade de se expressar e a libertinagem deixa o professor sem condições de evoluir no
processo de ensino-aprendizagem.

3.1 Professor/aluno e o espaço sala de aula

O professor é o principal responsável pela sala de aula, sendo considerado


elemento fundamental para o controle da disciplina, porém, este não pode trabalhar sozinho,
pois já possui uma grande responsabilidade e um extenso programa a cumprir e, por vezes,
não pode prender-se muito tempo a alunos que têm atitudes de indisciplina, o que o conduz a
uma sensação de impotência e estresse.

Quando o professor espera um aluno submisso, que respeite a


“autoridade”, ele privilegia como valores do disciplinamento a
aceitação, a obediência, o respeito e a dependência do aluno,
assumindo a concepção de controlador da expressão dos alunos.
(FURLANI, 1997: 45).

O grande problema talvez esteja no fato de o professor se concentrar apenas na


sua posição normalizadora achando que, com isso, ele conseguirá eliminar os conflitos. As
efervescências da sala de aula marcadas pela diferença, pela instabilidade, pela precariedade,
apontam para a inutilidade de um controle totalitário, de uma planificação racional, pois os
alunos buscam de modo espontâneo e não planejado o “querer-viver” que, por ser
irreprimível, impede a instalação de qualquer tipo de autoritarismo.
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O professor imagina que a garantia da disciplina se dá pela manutenção da ordem,


mas a diversidade dos elementos que compõem a sala de aula impede a tranqüilidade da
permanência neste lugar.

Dentro das salas de aulas observam-se professores que tomam uma atitude
repressora, outros que dão liberdade total e os que buscam um meio termo entre os dois
extremos.

O autoritarismo é gerador, em grande parte, dos atos de indisciplina, pois os


alunos tendem a se rebelar diante da ausência do diálogo, de discussões e de oportunidades
para falar e poderem expressar seus pensamentos, utilizando-se, ainda, dos conhecimentos.

O que se tem observado através de estudos sobre a indisciplina é que


freqüentemente os professores que optam pela repressão, exigindo que o aluno permaneça
calado, sentado e atento, utilizando-se de ameaças, punições, testes relâmpagos, ou
mandando-os à coordenação da escola para que sejam punidos, confundem disciplina com
medo e geralmente causam nos alunos um bloqueio de suas idéias e a relação professor-aluno
torna-se artificial, sem afetividade e, em muitos casos, gerando revolta nos alunos.

Por outro lado, o professor que dá liberdade total também comete um erro grave,
pois torna-se descompromissado com a educação e, em conseqüência disso, recebe
geralmente como resposta o descompromisso do aluno. Neste caso, a relação professor-aluno
se estabelece através de uma falsa afetividade. Este tipo de comportamento do professor é
gerador de grande tumulto e indisciplina. “Quanto maior o número de ‘fios invisíveis’ tecidos
entre o professor e os alunos, maior a integração dele com a classe”. (TIBA, 1996: 103).

Os “fios invisíveis” podem ser formados através dos aspectos pessoais (simpatia,
higiene pessoal, elegância, educação, costumes etc), capacidade de comunicação e
conhecimento da matéria e existem também os “fios invisíveis” gerados com base na antipatia
e que só são acionados quando algo de ruim está para acontecer.

No espaço da sala de aula é indispensável que haja disciplina para que possa ser
desenvolvido um trabalho satisfatório, o que exige do professor uma postura que não castre a
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participação do aluno, mas que por outro lado não o deixe expandir-se demais, ao ponto de
prejudicar a aula.

A falta de interesse está muito grande. Os alunos estão dispersos, não


respeitam professores, estão vivendo em outro mundo. A tecnologia
avançou demais e o professor infelizmente não acompanhou. Eles
estão acostumados a apertar botão de vídeo game, de computador, a
ver televisão e aí aparece o professor com apagador e giz... O
professor não está conseguindo ter domínio, as aulas estão muito no
passado, muito antigas. As crianças de hoje são mais espertas do que
as de antigamente.. (VASCONCELOS, 1995:05)

A sala de aula precisa ser um local estimulante onde o aluno sinta vontade de
aprender e de participar. Os conteúdos devem estar relacionados com a realidade e devem
existir os recursos necessários para que o aluno sinta prazer em assistir aula.

Ressaltando o grande número de atrativos que existem ao redor dos alunos de


hoje, tais como vídeo games, tv, computadores, brinquedos eletrônicos, que tornam a sala de
aula um ambiente sem atrativos e que, em muitos casos, serve somente como ponto de
encontro para que possam trocar idéias sobre novos jogos, novas marcas de roupas, últimos
passeios, internet, novos amigos e namorados. Assim, torna-se difícil o professor competir
com tamanha quantidade de atrativos.

Como se pode exigir um comportamento disciplinado do aluno diante da falta de


atrativos da escola ou dentro da sala de aula? É necessário que a escola e os professores
acompanhem este avanço tecnológico e busque atrativos que motivem suas aulas.

A escola, enquanto responsável pelo desenvolvimento cognitivo do aluno, é


também responsável pela formação do indivíduo como um todo. Se o aluno, em seu ambiente
escolar não aprende a respeitar os professores, coordenadores, diretores, colegas e demais
funcionários da escola, conseqüentemente não saberá respeitar as pessoas com as quais
convive e com quem deparará no convívio social e para este convívio, ele deverá cumprir
regras e leis e o não cumprimento destas pode acarretar sérias conseqüências.
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Além dos problemas de adaptação na sociedade, a indisciplina implica perdas de


aquisição de conhecimentos, tanto por parte dos indisciplinados como pelos que estão
interessados em aprender. Perde- se muito tempo resolvendo problemas de indisciplina,
pedindo o silêncio necessário à concentração e ao raciocínio e isto causa um insatisfatório
aproveitamento das aulas.

O aluno indisciplinado, que conversa e que faz barulho prejudica a si mesmo e aos
alunos que estão ao seu redor, podendo chegar a prejudicar a sala inteira, o que não é justo
para os que estão empenhados em aprender.

Em casos extremos, em que o professor, utilizando-se erroneamente da avaliação,


resolve aplicar testes como medida de reprimir a indisciplina, acaba trazendo prejuízos para
os alunos que estavam comprometidos em aprender, o que poderá gerar revolta e transformá-
los também em indisciplinados.

Um dos pontos que o professor deve ter claro é que seu objetivo na sala de aula
não é apenas o repasse de conteúdos, isto é, a formação científica, mas que, principalmente,
os alunos estão formando sua personalidade, seu caráter e se preparando para serem cidadãos.
Para isso, deverá preocupar-se em dar-lhes exemplo de como devem se portar diante do
convívio em sociedade, diante dos problemas encontrados, dando- lhes oportunidade de
formarem sua consciência, sua criatividade e sua criticidade.

O professor precisa ter consciência do que é disciplina, pois na concepção de


muitos educadores, aluno disciplinado é aquele que permanece em seu lugar e calado. Este
aluno pode ser comparado a um depósito onde o professor joga conteúdos que serão cobrados
posteriormente, tornando o aluno incapaz de pensar, criticar e opinar. “Para desenvolver a
ética relacional e a cidadania do aluno, a escola precisa educa-lo para arcar com os custos e
as responsabilidades de seus atos, pois, uma vez na sociedade , sua transgressão será
simplesmente punida”. (TIBA, 1998: 129).

A indisciplina quando reprimida através da coerção e da punição, traz como


conseqüência alunos passivos e imaturos.
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Sabe-se, também, que os alunos não valorizam o tipo de professor que não faz
exigências ou que abusa de sua autoridade, sendo necessário que se busque uma postura
intermediária entre esses extremos.

3.2 Causas/conseqüências ou questões metodológicas

A indisciplina escolar não apresenta uma causa única, ou mesmo principal.


Eventos de indisciplina, mesmo envolvendo um sujeito único, costumam ter origem de um
conjunto de causas diversas, e muito comumente a indisciplina reflete uma combinação
complexa de causas. Esta complexidade é parte do perfil da indisciplina e deve ser
considerada, se desejamos compreendê-la e estabelecer soluções efetivas.

Deve- se levar em consideração que cada ato de indisciplina ou cada aluno que se
põe contra as normas exigidas é um caso diferente que deve ser estudado isoladamente para
que se possam detectar as causas que deverão ser analisadas e tratadas, na tentativa de operar
uma mudança de comportamento no aluno. Por outro lado, pode- se chegar à constatação de
que está se exigindo do aluno algo que ele não pode cumprir ou coagindo- o a aprender algo
que não lhe interessa ou que não é necessário para a vida.

O que se pode constatar é que a indisciplina vem aumentando e questiona-se, a


cada momento, quem são os responsáveis por tal crescimento.

Para fins de sistematização, as diversas causas da indisciplina escolar (Segundo


Joe Garcia 1999:95) podem ser reunidas em dois grupos gerais: As causas externas à escola e
as causas internas. Entre as primeiras vamos encontrar, por exemplo, a influência hoje
exercida pelos meios de comunicação, a violência social, o ambiente familiar. (a criança leva
o ambiente familiar para dentro da escola). As causas encontradas no interior da escola, por
sua vez, incluem o ambiente escolar e as condições de ensino-aprendizagem, os modos de
relacionamento humano, o perfil dos alunos e sua capacidade de se adaptar aos esquemas da
escola. Assim, na própria relação entre professores e alunos habitam motivos para a
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indisciplina, e as formas de intervenção disciplinar que os professores praticam podem


reforçar ou mesmo gerar modos de indisciplina.

O ambiente também interfere na disciplina. Classes muito


barulhentas, onde ninguém ouve ninguém, salas em que faça calor
intenso, alagadas ou sem condições de acomodar todos os estudantes
são locais pouco prováveis para se conseguir boa disciplina.(TIBA,
1996: 101).

No entanto, o fator que mais prejudica é o estado psicológico. Uma escola em


crise, as greves e os conseqüentes conflitos são condições que dificultam o aprendizado.

Os aspectos sócio-emocionais têm também sua grande importância na disciplina.


Estes aspectos referem-se aos vínculos afetivos e às normas e exigências que o aluno precisa
seguir. O professor, dentro da sala de aula, deve manter uma certa autoridade para poder
desenvolver as atividades e manter a disciplina. Porém, esta autoridade não deve tolher a
liberdade e autonomia dos alunos.

A disciplina na sala de aula depende da atuação do profissional, de sua dedicação,


segurança em relação aos conteúdos, sensibilidade e senso de justiça. Através da motivação
dos alunos, induzida pelo professor, a indisciplina será amenizada e a aprendizagem terá
melhores resultados.

Seria interessante que o professor se convencesse de que toda indisciplina tem


uma causa. É mais eficiente e humano pesquisar as causas a fim de removê-las. Compete ao
professor, em atitude científica, tentar localizá-la e trabalhar o problema para obter a
modificação do comportamento do aluno.

Sob diversos aspectos, a indisciplina escolar, hoje, se diferencia daquela


observada em décadas anteriores. As expressões e o caráter da indisciplina, por exemplo,
apresentam mudanças. Não se trata apenas de uma ampliação quanto à intensidade de
manifestação. A indisciplina escolar apresenta, atualmente, expressões diferentes; é mais
complexa e “criativa”, e parece aos professores mais difícil de equacionar e resolver de um
modo efetivo.
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Segundo o professor Joe Garcia (1999: 95) um dos aspectos mais interessantes
residem na alteração da natureza dominante das expressões de indisciplina na escola. Os anos
90 estão afirmando, ampliando e refinando o que poderíamos denominar de “bagunça
engajada”. Isso ocorre, por exemplo, quando os alunos de uma turma de ensino médio,
mesmo formada por grupos divergentes entre si, são capazes de se organizar e estabelecem
atitude indisciplinadas coletivas que vão desde a prática de um mesmo tipo de tratamento
evasivo durante as aulas de determinado professor, passando por estratégias para intimidá-lo a
ponto de forçá-lo a abandonar a escola, até processos complexos de contestação da orientação
pedagógica dos professores e da escola. Não se pode afirmar, livre de um julgamento moral
parcial, que este tipo de expressão seja em si mesmo “errado” e, neste sentido, represente
“indisciplina”. Em cada caso é sempre necessário questionar qual o grau de participação da
própria escola na geração de indisciplina, e não apenas assumir a posição simplista e
autoritária que sugere, sem a devida fundamentação, que o problema sempre reside ou se
origina na atitude dos estudantes.

No contato diário com os educadores, pode- se perceber sua angústia e o grande


questionamento que fazem a respeito da indisciplina. Será que, caso se tenha mais rigidez,
consegue- se uma disciplina melhor? Como reprimir atitudes inaceitáveis sem desencadear
uma crise entre professor e aluno? O que vem a ser mesmo indisciplina? Como usar a
disciplina sem provocar conflito? Como resolver os casos de indisciplina em sala de aula?
Que atitudes devem ser tomadas com os alunos indisciplinados?

Muitas vezes os profissionais da educação se queixam de ter que recorrer à


tradicional imposição de autoridade, mas não gostam desse modo de agir para conseguir
disciplina. Muitos dizem que são mandões, mas também carinhosos. O trabalho do professor,
mesmo sendo crítico e criativo, mas com limites rígidos, deixa o aluno meio perdido. Estas
revelações vêm mostrar uma dessas facetas da crise em que passa a formação do professor e,
em conseqüência, a sua total dúvida, falta de orientação sobre o que fazer em sala de aula.

Alguns professores, geralmente, fazem a opção de impor uma disciplina,


recorrendo a instrumentos de coersão como penalidades e principalmente, notas baixas.
Outros, entretanto, “deixam como está para ver como é que fica”, numa verdadeira demissão
de sua tarefa de educadores e, às vezes, até com justificativas. “A indisciplina parece ser mais
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freqüentemente gerada em duas situações: como último recurso contra a autoridade


autoritária ou autoritarismo do professor ou como expressão de sua falta de autoridade”.
(LUNA, apud Vasconcelos 1986:40).

Existem, entretanto, os educadores que estão em polo contrário. Acreditam que os


alunos devem ter responsabilidade e, por isso, precisam ter liberdade total de escolha. Pensam
que, forçarem o aluno a uma situação que não desejam viver, é reprimir, é entrar na prática
tradicional.

O professor tem medo de ser repressor, de ter atitudes de um pai ou mãe, ou de


um educador que utiliza tais práticas. Desejam ser “legais” para os alunos, para a família e a
escola. Sentem- se culpados, confusos e temerosos, com as questões e até mesmo com as
palavras que tragam sentido de autoridade, disciplina, limite, poder e outras coisas mais.

Ressalta-se bastante a figura do professor, pois este está em contato direto com os
alunos e é o principal veículo da educação, portanto, o que mais conhece os alunos e que pode
mais facilmente identificar atitudes de indisciplina e as causas de tais atos.

Deve-se salientar que o aluno não se forma sozinho, mas que deve tomar lugar de
destaque no processo de aprendizagem sendo sujeito de sua própria educação, porém sob a
orientação do professor.

A maioria dos educadores entende que a disciplina é a adequação do


comportamento do aluno àquilo que ele deseja. De acordo com esse conceito, só é
considerado disciplinado o aluno que assim se comporta. Assim, está muito presente no
cotidiano da escola o conceito de disciplina associado à obediência.

Por ter um trabalho estafante, o professor espera encontrar um aluno dócil,


passivo, para que ele possa esperar e ter um pouco de paz. Dentro desse desejo alienado ele
não busca a interação, o encontro, a comunicação, mas o isolamento, o fechamento, a
obediência e a submissão. Ele se isola, não se comunica com seus alunos e passa a rejeitar a
postura deles. Este posicionamento desumano nega a existência do outro, reduzindo- o a
objeto. Nega o outro como sujeito.
27

O modo como o educador vê sua ação pedagógica é fundamental para a


construção da relação educacional, visão esta muito discutida pela contradição: liberdade-
repressão que tem, de um lado, os professores da escola liberal que afrouxando essa relação,
permitem ao educando uma liberdade total e do outro lado, o educador tradicional que busca
enfatizar o aspecto puramente repressivo ao controle do aluno. Nesse contexto discrepante,
um lado vê o outro como inimigo a ser dominado.

Contudo, esses professores- tradicionais e liberais- não vêem que estão no mesmo
lado, aumentando o descompromisso e o ódio mútuo, transformando o movimento
educacional num processo destrutivo.

O que angustia é ver que justamente o tipo de professor que se


desejaria ter- aberto, crítico, consciente, com uma proposta
pedagógica significativa- não querendo reproduzir a prática
autoritária, mas não tendo clareza da nova postura, perde-se no meio
do caminho na busca de uma postura liberal- espontaneísta.
(VASCONCELOS, 1995: 32)

A escola tradicional consegue a disciplina através da coação e a libertadora


através da convicção. Na aparência, os resultados são os mesmos, mas no real cada forma
utilizada deixa marcas profundas no indivíduo.

A disciplina por coação é obtida com punições e ameaças. Isso leva o indivíduo a
não questionar, a acreditar em tudo que lhe é dito, ao invés de torná-lo um ser autônomo.

O desafio é que o professor exija esforço, dedicação, disciplina dos educandos e,


por conseguinte, deva ordenar de forma a construir uma adequada postura de trabalho. Por
tanto, para haver disciplina, o professor deve ter liderança e uma proposta de trabalho, tanto
do ponto de vista do conteúdo como da metodologia.
28

4. O PAPEL DA FAMÍLIA NA CONSTRUÇÃO DA BASE DISCIPLINAR


DO HOMEM

Ao educar, é bom que não nos esqueçamos de que tanto as crianças como os
jovens têm necessidade de sentir uma mão forte que os guie. Por mais que eles mostrem
traços de independência e rebeldia, a verdade é que desejam sentir que são “protegidos”.
Assim, os pais, embora sempre agindo como amigos compreensivos, não podem abdicar de
sua posição de “pais”, isto é, de educadores, protetores, guias, disciplinadores.

Os filhos, para sua própria segurança, precisam de regras. Mas regras devem ser
impostas, quando os pais acreditam nelas e nelas vêem um significado. Além disso, ao impô-
las, os pais necessitam de uniformidade, serenidade e firmeza em sua ação.

Ao tratar com os filhos, a atitude dos pais deve sempre ser de justiça, respeito,
lealdade e sinceridade. Uma criança não deve jamais ser iludida e suas peculiaridades devem
ser aceitas e respeitadas. A ela deve ser dada a oportunidade de escolher e traçar os seus
rumos, mesmo em coisas que pareçam sem importância. Pai não é carrasco, tirano ou ditador,
mas amigo e conselheiro.

A união dos pais, o seu exemplo, a sua vivência, a sua atitude diante de valores
básicos da vida, eis a maior escola da criança e do jovem.

Considera-se que a desestruturação familiar tem contribuído bastante, pois a


maioria das famílias passou a não cumprir seu papel na educação dos filhos, aos quais não são
apontados os limites, o respeito que se devem ter aos direitos dos outros, as obrigações que
devem cumprir, não desenvolvendo neles os atos básicos para uma convivência harmônica no
ambiente escolar ou na sociedade, como um todo.

Observa-se que a família vem passando por mudanças muito grandes e que já não
se pode mais contar com o convívio familiar, como acontecia anteriormente. Muitos
29

problemas familiares vêm ocorrendo e esta destruturação tem sido um fator de incentivo para
a indisciplina.

Por passar muito tempo longe dos filhos, os pais tendem a dar-lhes sempre sim ao
que pedem como forma de recompensar-lhes pela falta de assistência, porém, essa atitude é
ainda mais prejudicial do que a sua ausência. Os valores não podem mudar o sabor das
circunstâncias, isso desorienta as crianças e os jovens e os leva a atitudes de oposição, crítica,
sarcasmo e desconfiança.

Os pais não têm mais tempo para orientar os filhos e até mesmo os problemas
destes são resolvidos fora da família, seja com amigos, professores ou em serviços
especializados.

A falta da família ou a “coisificação” dela é um dos fatores que mais dificultam a


tarefa de educar, no sentido de desenvolver um relacionamento maior e mais eficaz para
atingir as suas pretensões intelectuais. O perdedor nessa situação toda é o aluno, que entrará
na escola desprovido de uma de suas “faculdades” mais importantes em toda a sua vida que é
sentir, como forma de amor, para aprender e criticar. “Quando falha o grande controlador,
que é a família representada na figura do pai, os abusos começam a acontecer. E, quando um
abuso é bem sucedido, ele se estende para o social, na delinqüência, na compulsão pelas
drogas”. (TIBA, 1996:43).

É a partir de uma família estruturada, que a personalidade começa a ser formada e


preparada para a educação formal da escola. Eis o motivo de sua importância nesse processo.

Desde bem cedo os pais devem se acostumar a conversar com os filhos. Por que
só fala com o filho para dar ordens, reprovar, fazer acusações e pregar sermões, jamais terá
nele um amigo e poderá viver, um dia, a triste experiência de perceber que a comunicação
com o filho é impossível, pois o contato se perdeu ou jamais existiu.

Todos os costumes domésticos desenvolvidos pela família serão fortes aliados na


aprendizagem, como também o inimigo mais cruel dentre os outros. É sabido que, uma
criança vinda de uma família ajustada, que lê, conversa e se reúne com freqüência, tem uma
30

facilidade maior na aprendizagem sistematizada da escola, porque, inconscientemente, já está


preparada para tal.

Percebe-se que cada vez mais os alunos vêm para a escola com menos limites
trabalhados pela família. Muitos pais chegam mesmos a passar toda responsabilidade para a
escola. Tendo em vista as suas experiências como estudantes, os pais tendem a exigir da
escola uma postura autoritária. É preciso, pois, ajudá-los a compreender que há um limite
entre autoritarismo e liberalismo e que a família tem obrigação de minimizar a distância entre
a disciplina domiciliar e escolar.

É comum os pais jogarem toda a responsabilidade da educação para a escola e


ainda cobrar quando alguma coisa esta errada no comportamento dos filhos, uma espécie de
terceirização da culpa.

Comenta-se a necessidade de uma união entre a escola e a família, porém o que


presenciamos atualmente é que essa relação anda longe de ser harmônica.

Muitos professores reclamam da incompreensão dos pais e, por sua vez, muitos
pais não estão satisfeitos com o relacionamento dos professores com os seus filhos. Observa-
se que no contexto há uma transferência de culpa, onde o professor culpa a família, a família
culpa a escola, a escola culpa o professor e nada se consegue com relação à minimização do
problema da indisciplina. Não adianta essa transferência de responsabilidade, pois não atinge
o âmago da questão e não busca soluções para os problemas.

Desta forma, sugere-se que cada setor cumpra bem o seu papel, sem transferências
de culpas ou omissões, pois a falta de cumprimento das regras dentro da escola, certamente se
estenderão pela vida.

Assim cabe à escola aliada à família, buscar as causas da indisciplina, da falta de


aproveitamento nos estudos, da agressividade e procurar conversar com os que se encontram
com algum problema. É preciso notar que a escola, sozinha, é insuficiente para educar, e
necessita da ajuda decidida da família. Caso contrário, são poucas as probabilidades de bons
31

resultados da escola. Mas muitos pais teimam em se dar por desincumbidos dos seus deveres
de educação... com o fato de pagarem a escola ou mandarem os filhos à mesma...
32

5. A FORMAÇÃO DISCIPLINAR MEDIATIZADA PELA SOCIEDADE

É necessário também clarificar as relações e distinções entre a indisciplina escolar


e outros fenômenos sociais que perpassam a escola, tais como a violência. Assumir que
violência social e indisciplina sejam sinônimos implica estreitar demasiadamente a
compreensão das especificidades destes dois fenômenos. Se de um lado a violência está entre
as causas da indisciplina, ela não é capaz de explicá-la totalmente. Se focalizarmos nossa
atenção apenas no problema da violência social, estaremos perdendo de vista um fenômeno
complexo, que apresenta uma singularidade própria dentro da escola.

A atual sociedade, palco de injustiças sociais, fome, miséria, altos índices de


mortalidade, drogas, corrupção, desemprego e tantas outras coisas, não pode julgar ou
condenar as atitudes dos alunos, visto que os atos dos adultos são, na maioria das vezes,
bastante inescrupulosos, constituindo- se em maus exemplos para as crianças e jovens. Porém,
não se pode deixar que estes alunos continuem seu caminho para a fase adulta, cometendo
atos que prejudiquem os outros ou a si mesmo, pois isso gerará mais problemas futuros, mais
delinqüentes e mais falta de humanidade.

O aluno não tem boas referências do que seja disciplina, devido ao tipo de
sociedade em que está inserido, geradora de grandes injustiças sociais, e ainda as crises
existentes nas instituições que deveriam dar base para a formação do cidadão, tais como
família, igreja, partidos políticos, comprometendo, assim, a concepção de disciplina e
indisciplina por parte dos alunos.

A disciplina é fundamental para o convívio em sociedade e, por isso, deve ser


dado a ela o devido valor. As conseqüências da indisciplina na escola vão desde os pequenos
chamamentos dos professores até expulsões, porém, na vida, estas conseqüências vão bem
além e o que se vêem são crianças e adolescentes se drogando, prostituindo, agredindo-se e
até matando.

É notório que para o convívio em sociedade o ser humano sempre depara com leis
e regras a serem cumpridas e o não-cumprimento destas pode acarretar sérias conseqüências,
33

assim, a escola, enquanto responsável pelo desenvolvimento cognitivo do aluno é também


responsável pela formação do indivíduo como um todo, preparando- o para a cidadania que
exige obediência às leis e respeito aos outros, tornando a convivência mais agradável.

A sociedade está em crise e não se pode julgar as atitudes dos alunos e condená-
los sem que se leve em consideração seus motivos. É importante que o educador tenha
consciência das dificuldades por que passam as crianças e jovens que estão nas escolas.

O pai e a mãe da sociedade moderna possuem pouco tempo para conviver com os
filhos. Essa desculpa é comum, mas não justifica o erro: importa a qualidade e não o tempo
disponível.

Há muitos vilões, nessa desagregação familiar, que atingem todas as classes


sociais, de acordo com a versão dos psicólogos contemporâneos: a crise econômica, o
consumismo, a competição feroz no mercado de trabalho e os valores investidos de nossa
atual sociedade individualista, ajudando a fomentar a semente da agressividade em uma
nova geração.

Nas famílias de menor poder aquisitivo, o desemprego e o custo de vida


propiciam conflitos e atos de violência doméstica quando os pais não possuem uma sólida
estrutura moral.

No outro extremo, abundância de dinheiro, sem a contrapartida adequada


formação cultural e moral, torna-se uma talho para o ócio, agressividade e violência por puro
prazer.

Segundo Vasconcelos (1999: 25)

Há uma desorientação geral hoje na sociedade: quer se superar o


velho, mas não se sabe bem como é o novo. Há crise da
nacionalidade, crise dos projetos sociais, das utopias, do sentido para
viver, crise da autoridade em nível mundial, mudança no sistema de
valores. Constata-se que as agências produtoras (partidos, igrejas,
famílias, escola e ciência) estão em crise. É a crise da Disciplina no
contexto da Pós-Modernidade.
34

Portanto, podemos dizer que a sociedade praticamente não ensina, somente


sinaliza as regras a serem obedecidas na esperança de que cada cidadão tenha suficiente
preparo para viver nelas.
35

6. ALTERNATIVAS/PREVENÇÃO: ALGUMAS PROPOSIÇÕES

Partindo-se do conhecimento da sociedade em que se vive, em seu modo de


produção capitalista, gerador de injustiças sociais e de grande parte dos problemas familiares
e econômicos, e conhecendo os problemas enfrentados com a indisciplina das escolas, busca-
se a seguir, dar algumas sugestões que venham a minimizar este problema.

Como se pode observar, a culpa da indisciplina não pode ser atribuída a um


determinado segmento, ou a uma pessoa isoladamente, pois cada caso de indisciplina dos
alunos é um caso particular e tem origens diferentes.

Não adianta, como foi citado anteriormente, que a família culpe a escola, e esta
culpe o professor e este culpe a família, pois essa transferência de responsabilidades apenas
constituirá um círculo vicioso.

Desta forma, sugere- se que cada setor cumpra bem o seu papel, sem
transferências de culpas ou omissões, tomando consciência da responsabilidade que tem na
formação de um ser humano. Sabe- se que a falta de cumprimento de regras que existem
dentro da escola, poderá se estender pela vida e tornar o indisciplinado da sala de aula um
futuro ser humano rebelde, marginalizado, irresponsável.

Assim, cabe à escola, aliada à família, ao primeiro indício de indisciplina, buscar


suas causas e procurar conversar e orientar aquele que se encontra com algum problema que
está interferindo em sua vida escolar.

Este trabalho não pode ser feito isoladamente, deverá resultar de uma ação
conjunta, onde são envolvidos professores, coordenadores, supervisores, direção, família e
aluno.

Um dos pontos a serem destacados refere- se a necessidade de as escolas


desenvolvem uma diretriz disciplinar de base pedagógica ampla, legitimada pela comunidade
escolar, consonante com seu projeto político- pedagógico. Tal diretriz deve incluir o
36

desenvolvimento de orientações (regras e procedimentos) disciplinares claras e de base ampla,


as quais ganham em legitimidade as medidas que são desenvolvidas com a participação dos
estudantes, tornadas claras e conhecidas de toda a comunidade envolvida com a escola. A
participação dos alunos é um elemento importante, pois favorece o sentimento dos envolvidos
e implica o exercício de um senso de responsabilidade comum e um elemento de motivação.
É necessária, ainda, uma disseminação ampla destas orientações comuns, que assegure que
todos os estudantes, pais e profissionais da escola tenham claras as expetativas sociais e
pedagógicas que estarão sendo praticadas pela escola. Em oposição ao enfoque autocrático, a
abordagem democrática tende a oferecer melhores resultados não apenas em termos das
atitudes, mas também do envolvimento e participação dos estudantes na escola.

Cabe à escola e ao educador, assumir seu papel social, buscar compreender a


realidade do aluno, para que possa pautar seu trabalho no que realmente tem e no que vai
viabilizar o desenvolvimento do educando.

A escola precisa fazer um trabalho junto à comunidade de maneira organizada e


articulada, com a intenção de aumentar o interesse dos alunos pelos estudos e, somente a
partir daí e da vontade de aprender, é que se conseguirão alunos participativos e que tenham
consciência da necessidade da imposição de limites para que possam aproveitar ao máximo o
tempo em sala de aula.

Não se pode ficar esperando milagres ou atitudes governamentais que venham em


“socorro” desta situação, é necessário que cada educador assuma seu papel e juntos possam
transformar este sonho em realidade. “O professor tem que ser sujeito da história pedagógica
de sua classe, de sua escola; não pode ficar sonhando com alunos ideais (...) Só se pode
transformar a realidade a partir do momento em que se assume a existente”.
(VASCONCELOS,1995: 68).

Para que se possa ter melhorias na escola e na sala de aula é preciso que os
educadores se engajem na luta em benefício da clientela que atende e, dentro de suas
possibilidades, seja um agente de transformações sociais, um conscientizador.
37

O professor deve atacar a indisciplina através de uma orientação para a tomada de


consciência da necessidade de se ter limites para que possam aproveitar ao máximo a aula.

Um elemento preventivo relevante está no ambiente da escola, que deve ser


verdadeiramente humano, no sentido de constituir um espaço democrático onde se cultiva o
diálogo e a afetividade, em que se pratica a observação e garantia dos direitos às diferenças
individuais. Este clima caloroso deve refletir um conhecimento e preocupação quanto aos
estudantes enquanto pessoas, tendo em vista suas condições concretas. Na prática, se
desejamos que a educação escolar represente mudança, deve- se cultivar uma postura,
sobretudo entre os professores, de interesse e compromisso pelas metas, realizações e
problemas dos estudantes, bem como de apoio às suas atividades curriculares e
extracurriculares.

Quanto ao papel da direção da escola, parece particularmente importante que esta


seja “visível” e atue de modo a oferecer encorajamento e suporte aos professores e alunos. A
visibilidade aqui considerada diz respeito à presença da direção nos diversos espaços da
escola, onde deve exercer, de modo informal, relacionamentos com professores e estudantes,
em nível pessoal e que expresse interesse pelas suas atividades. Também é importante a
relação formal entre direção e corpo docente. Aos professores deve ser delegada
responsabilidade para lidar com as questões disciplinares de rotina; as questões mais sérias
devem ser tratadas em parceria com as pessoas ou grupos responsáveis pela orientação
disciplinar. É necessário, portanto, que os professores desenvolvam e conquistem maior
autonomia para lidar com a indisciplina de sala de aula. Isso não significa deixá-los a sós com
a indisciplina de sala de aula, mas fomentar um trabalho em parceria, baseado em
responsabilidades claramente definidas e no auxílio estratégico em situações de intervenção
da equipe de apoio pedagógico.

No pensamento de LIBÂNEO (1994:252) há uma associação entre disciplina e


prática docente.

A disciplina da classe está diretamente ligada ao estilo da prática


docente, ou seja, à autoridade profissional, moral e técnica do
professor. Quanto maior a autoridade do professor, mais os alunos
darão valor às suas exigências.
38

Os educadores, com a ajuda de toda a escola, devem procurar esquecer certas


práticas erradas de se tentar conquistar a disciplina, tal como a avaliação e que acabam
contribuindo para a geração de atos de indisciplina.

A escola não pode mais ser o local onde só se aprende o saber sistematizado, pois
é incumbida pela sociedade para formar o cidadão.

A escola deve procurar exercer sua função social e, conquistar o aluno para a
mudança que precisa acontecer neste sistema. É necessário dar um novo sentido ao
conhecimento e vê-lo como um instrumento capaz de auxiliar para a mudança estrutural da
sociedade.

O professor poderá também atacar a indisciplina através de uma orientação dos


alunos para a tomada de consciência da necessidade de observarem os limites e de
respeitarem os outros, cumprindo com seus deveres conscientemente, para que possam
aproveitar, ao máximo, os momentos em sala de aula, não trazendo prejuízos para si e para os
colegas.

A escola deve estabelecer parâmetros comuns de disciplina para que sejam


seguidos, em conjunto, pelos educadores e demais envolvidos na escola, analisando os
problemas de indisciplina sem a utilização do autoritarismo, porém de forma firme para que
os limites estabelecidos sejam respeitados.

Verifica-se que o papel do professor é de fundamental importância e que este


influencia fortemente o ambiente escolar e o desempenho dos alunos, não apenas no que se
refere aos conteúdos, mas também na preparação para o futuro.

É necessário que o educador tenha distinção clara entre disciplina e autoritarismo,


pois a disciplina é necessária para que se possam desenvolver as atividades do dia a dia da
sala de aula, porém não deverá ser conquistada pelo autoritarismo, pois privará os alunos de
requisitos que lhes são necessários para a formação de sua consciência crítica e de sua
personalidade.
39

Outro ponto importante que o educador deve ter como compromisso é a não
utilização da avaliação como meio de punição ou de repressão da indisciplina.

O professor deve despertar nos alunos a consciência de que precisam participar


das aulas de forma a não trazer seus problemas pessoais para a sala de aula e de empenhar-se
em desenvolver-se intelectualmente e socialmente.

É aconselhável, todavia, como medida geral para todos os tipos de


comportamento inconvenientes, manter com o aluno uma conversa particular, conversa
amigável, franca, em que a situação seja analisada com toda a realidade. Nesta conversa que
será encaminhada conforme o caso particular, o professor não deve procurar humilhar o
aluno. Deve, sim, incita-lo a uma recuperação, abrindo-lhe crédito de confiança. Durante essa
conversa o professor ou alguém da equipe pedagógica poderá procurar saber, por exemplo, os
seguintes itens:

 O que lhe está acontecendo e se há alguma coisa na escola e no professor que


o vem aborrecendo ou perturbando.
 O que aconteceria, na classe e na escola, se todos os alunos procedessem como
ele.
 Que faria ele, se fosse professor, com alunos que procedessem daquela
maneira.
 Que professor é amigo dele e quer cooperar na solução de seus problemas.

Vejamos, também, algumas normas que podem auxiliar a manter a disciplina


necessária para que os trabalhos escolares tenham normal andamento; para que se forme um
ambiente de seriedade, espontaneidade e confiança, tão necessário, em uma sala de aula. Estas
normas são simples sugestões, pois os casos concretos, sempre inéditos, requerem, por parte
do professor, constante esforço de compreensão e adaptação, para que a sua ação seja ajustada
à realidade que tem diante de si. São elas:

 Planejar os trabalhos. Não confiar muito na improvisação.


 Procurar manter a classe ocupada, pois nada provoca tanta indisciplina como o
“não ter o que fazer”.
40

 Evitar dedicar-se a um aluno, separadamente, portanto o resto da classe ficará


às soltas.
 Evitar os privilégios em classe. Estes desmoralizam o professor perante a
classe . Aliás, a escola deve ser um centro de combate aos privilégios...
 Evitar que se formem grupos rivais de alunos; e, se isto acontecer, nunca
demonstre preferências por um ou outro.
 Procurar acompanhar os problemas particulares dos alunos, a fim de poder
auxiliá-los ou orientá-los, quando necessário.
 Respeitar a maneira de ser de cada um, encaminhando-o quando for o caso ,
para uma forma de aceitação social.
 No caso de advertências, que sejam firmes, mas nunca ultrapassem a linha do
“amor próprio”, e sejam, sempre que possível, em particular.
 Distribua, algumas vezes, trabalhos segundo as preferências, possibilidades e
habilidades de seus alunos. Todos gostam de “brilhar”.
 Procurar manter um ambiente de festa em suas aulas.
 Procurar ser coerente e não tentar justificar uma incoerência. O melhor é
honestamente retificá-la.
 Se chegar a aplicar uma penalidade, esta deve ser mantida e cumprida, a não
ser que haja “erro grave” de sua parte, que justifique a mudança de atitude.
 Não se deve punir sem explicar clara e explicitamente o porquê da punição.
 Não agir em momentos de descontrole ou de ira.

Esta luta contra a indisciplina não é um problema que se resolve apenas em nível
de sala de aula, mas é neste ambiente que ela prejudica o desenvolvimento da aprendizagem
do aluno e o desempenho e, por isso, deve ser analisada com cautela.

Cada aluno possui suas próprias crenças, valores e idéias, e as diferenças


individuais devem ser levadas em consideração pelo professor.

A sala de aula deve ser um espaço onde o aluno adquire conhecimentos e valores,
um local que precisa ser estimulante para que sinta interesse em participar e aprender.
41

É necessário que os conteúdos estejam, na medida do possível, associados à


realidade para que lhe faça sentido a aquisição destes conhecimentos e que possa utilizá-los,
posteriormente, no dia-a-dia.

Observa-se que no método tradicional de aulas expositivas, o professor quer que o


educando fique quieto, para que possa dar sua aula tornando a relação prejudicial para o
desenvolvimento dos seus discípulos. Verifica-se, portanto, que este tipo de atitude não deve
continuar a acontecer na sala de aula, devendo haver uma modificação na relação professor-
aluno, visando resgatar os valores humanos e retirar os alunos da passividade e alienação
levando-os a uma participação interativa e consciente.

Até a própria disciplina deve ser ativa. Não é disciplinado um


indivíduo que alguém torna artificialmente silencioso e imóvel como
um paralítico. É um indivíduo aniquilado, não disciplinado.
Consideramos disciplinado um indivíduo que é senhor de si e que
pode, por conseguinte, dispor de si próprio ou seguir uma regra de
vida. (Montessori, apud Vasconcelos 1996;78).
42

CONCLUSÃO

No decorrer deste estudo, vemos que o problema da indisciplina tem sérias


implicações para o rendimento escolar que é entravado, não apenas para os alunos
indisciplinados, mas principalmente para aqueles que se esforçam para construir
eficientemente o seu conhecimento.

Apesar da intensidade com que os problemas de indisciplina têm sido vivenciados


nas escolas, o levantamento dos trabalhos publicados revela uma produção abaixo do que nos
parece necessário, considerando o quadro a ser confrontado no cotidiano das instituições de
ensino.

Verificou-se isso através da leitura de publicações e obras de alguns autores


comprometidos com a educação e que têm discorrido sobre a indisciplina no contexto da
escola, com entrave para a aprendizagem e que tem como causa alguns fatores originários do
lar e da sociedade.

Não existe um único responsável pela indisciplina dos alunos. Não se pode
atribuir a uma pessoa isolada a responsabilidade pelos problemas apresentados, porém
existem fontes que estão, muitas vezes, associadas à postura do professor e aos problemas
familiares.

É necessário que cada um cumpra com seu papel, sem transferências de culpas,
através da tomada de consciência acerca do compromisso e da responsabilidade de se formar
um ser humano.

O professor é peça fundamental para o desenvolvimento do saber e necessita


induzir os seus alunos ao questionamento, à crítica, à pesquisa, à troca de opiniões, para que
tomem consciência da necessidade de participar e não ultrapassar os limites que separam uma
discussão orientada e as conversas paralelas.
43

A sala de aula precisa ser um local estimulante para que o aluno sinta vontade de
aprender e participar, além disso, os conteúdos devem estar relacionados com a realidade e
devem existir os recursos necessários. Ressalta-se a importância do abandono do método
tradicional de ensino e que o educador passe a procurar orientar seus alunos para uma
consciência da necessidade de limites para que estes possam adquirir conhecimento.

A escola deve procurar trazer a família para mais perto de si e fazer,


principalmente, a aproximação dos pais com os educadores, para que, desta forma, possam
responsabilizar-se juntos e buscarem as soluções para os problemas que forem detectados.

Ao educador cabe a responsabilidade de seu trabalho, seu planejamento, sua busca


de aproximação dos conteúdos com a vivência do aluno, a tomada de posição diante das
injustiças sociais sofridas pela clientela a que atende, não podendo omitir, em seus conteúdos,
a realidade, as críticas que pode fazer, a idéia de que exista a possibilidade de unidos
reverterem a situação e que, ao invés de se revoltarem e se tornarem os famosos
indisciplinados, sejam os agentes que poderão mudar o rumo da situação.

O educador não é aquele que vai mudar o mundo ou a sociedade, mas pode mudar
a realidade de sua sala de aula e, com isso, conseguir diminuir a indisciplina aumentando a
vontade de aprender, de lutar e vencer dos seus alunos.

Muito se falou do educador porque este está muito próximo do aluno, mas isso
não quer dizer que tudo dependa dele ou que ele seja o responsável pelas atitudes
indisciplinares de seus alunos. É indispensável para o trabalho do professor o apoio de todos
os profissionais de educação, para que todos sigam a mesma linha de trabalho no combate a
indisciplina e que sejam traçadas as normas indispensáveis para que os objetivos propostos
sejam atingidos e o cidadão que se deseja formar possa realmente ser formado.

Conclui-se portanto, que a família, a escola e a sociedade, devem fortalecer o


processo pedagógico para que se tenha êxito na educação da criança, na transformação do
homem dentro da escola e dessa sociedade nova e complexa.
44

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_____________. O desafio da (in) disciplina em sala de aula e na escola. São Paulo:


Libertad, 1996. (Libertad Centro de Formação e Assessoria Pedagógica).

______________. (In) disciplina: enfrentando o desafio. Mundo Jovem. Ano XXXXIII,


março 2000, 16.

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